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A Consciência

pelo
Movimento de
Moshe
Feldenkrais
Camila Cristina Bortolozzo
Ximenes de Souza
Quem é Moshe Feldenkrais?
• Físico e engenheiro Ucraniano-israelense
6 de maio de 1904 (Ucrânia)

1 de julho de 1984 (Israel)

• Praticava Futebol e Judô → lesões graves nos joelhos


• Insatisfeito com os tratamentos disponíveis, começou a
experimentar novos tratamentos, a estudar e desenvolveu seu
método. → curou seu joelho
(Gomes e Vieira, 2013)
(Feldenkrais, 1977)
Contexto
• Método foi criado numa época onde diversas práticas corporais, culturais e
pedagógicas se desenvolviam e modificavam profundamente os modos de
pensar o ser humano:
Novas concepções de aprendizagem
• Nova ginástica/ Ginástica Rítmica Novas concepções de arte
• Dança Moderna/ Dança expressionista Novas Concepções de corpo
• Método Laban Resignificação do gesto
• Improvisação livre (música e dança) Corpo-alma-espírito juntos e inseparáveis
• Jazz (maior espaço)
Método Feldenkrais é produto de seu tempo
• Método Stanislavski (teatro – sentir real)
• Maria Montessori (Liberdade)
• Feud e Reich
• Movimento das Cidades Jardins (cidades utópicas, centro de produção de arte e cultura, onde
as pessoas podiam vivem em harmonia com a natureza, e perto do trabalho)
• Naturismo/ movimento pela libertação do corpo
• Medicina Antroposófica/ Práticas orientais ganhando força no ocidente.
• Elza Gindler/Gerda Alexander (Eutonia) → o mecânico não pode produzir mudanças profundas
e duradouras → encontro com Feldenkrais
(Huberty, 2013)
O que é o método?
Clínica Afetiva
Tendo o corpo como ponto de partida

Como viver melhor?


“Yoga Ocidental” (p.1)
Como ser generoso com meu corpo?

“Feldenkrais nos ensina a amar o corpo – na maneira de trata-lo. E depois de aprender


a tratar o corpo com atenção, delicadeza e cuidado, e deve-lo responder fácil e
claramente ao que se fez por ele, descobrimos – circularmente – que aprendemos a
amar o que está “dentro dele”: nós mesmos.” (p.15)

“O legado de um físico que se apaixonou pelo corpo humano” (p.15)

Gaiarsa, 1977.
O que é o método?

• Não é um método fechado em si mesmo → propõe na introdução,


que ele elaborou os primeiros passos para capacitar o leitor a
melhorar a si mesmo e a seguir futuramente sobre seu próprio
domínio.
• Movimento = melhor meio para a melhora do Self. Apesar de usar a
palavra “melhora”, ele é contra ações corretivas e mecânicas.

“Tal abordagem, estática, transforma a correção em um processo longo e


complicado. Eu acredito que ela se baseie em suposições erradas, porque é
impossível reparar tijolos defeituosos na estrutura do homem, ou recolocar
aqueles que estão faltando. A vida do homem é um processo contínuo e a
melhora necessária está na qualidade do processo, e não nas propriedades ou
disposições” (p.52)
Feldenkrais, 1977
Por que começar pelo movimento?

1. O Sistema Nervoso Central ocupa-se principalmente com movimentos → não


podemos perceber, sentir e pensar sem ações complexas do cérebro que nos
mantenham contra a gravidade, precisamos saber onde estamos e em que posição
→ para isso usamos nossos sentidos, sentimentos e força do pensamento;
2. É mais fácil distinguir a qualidade do movimento do que dos sentimentos (raiva,
amor, inveja, pensamento) → pelo movimento, via de mais fácil acesso, chega-se
aos sentimentos
3. Temos uma experiência de movimento mais rica → não sabemos/podemos ter
liberdade de pensamento → tolhidos por nós mesmos, pela religião, pelo outro,
moral.

Feldenkrais, 1977
Por que começar pelo movimento?

4. A habilidade do movimento é importante para a autovalorização;


5. Toda atividade muscular é movimento → temos alterações do tônus muscular quando ficamos doentes.
Ver, falar, ouvir, respirar requerem músculos;
6. Os movimentos refletem o estado do sistema nervoso → Nossa mímica facial e todo nosso corpo se
alteram com a alteração de nossos sentimentos. Todo o trabalho do SNC se reflete no nosso corpo a todo
momento;
7. O movimento é a base da consciência e integra a personalidade → antecipa a teoria do Damásio (marcador
somático), de que os sentimentos são parte dos mecanismos de regulação da vida, mas não tem elementos
neurológicos pra provar isso. Afirma que se mudarmos nosso corpo, de modo a adotar uma determinada
expressão de sentimento, podemos vir a senti-lo da mesma forma como quando sentimos algo e nosso corpo
se modifica → paralelo com Damásio e com Stanislavsky.
8. Força do Hábito → Todos os sentimentos experimentados se relacionam com processos associativos,
estão gravados no nosso corpo e na nossa mente. Para mudar isso, precisa mudar o corpo.
Feldenkrais, 1977
Por que começar pelo movimento?

Sentimento e a consciência encarnados no corpo

Corpo relacional, que carrega em si a história de quem somos e o que vivemos → rompe a
ideia de um corpo cartesiano

Método que Maneja os afetos pelo movimento

Feldenkrais, 1977
Outras informações importantes

• Há a nossa herança genética e há as mudanças provocadas em nosso corpo pela educação e


pela auto-educação → isso vai determinar tanto as dores e sofrimentos, quanto possibilidades
de transformação e saída dessas situações;
• Não é um método que trabalhe especificamente com a respiração, mas considera que ela se
ajusta com a realização dos exercícios → parece com a Eutonia (Gerda);
• Exercícios envolvem todo o corpo → porque nada afeta uma única parte do corpo (pensando
corpo e mente juntos!);
• Portanto, exercícios melhoram todas as funções essenciais da vida;
• Movimentos limitados, repetitivos, uso de força em excesso causam deformidades,
assimetrias, dores → Mas, “a compreensão de um movimento intelectualmente não garante sua
alteração” (p.140) → âmbito do sensível e do experiencial
• Trabalha com visualizações → se parece com o Self Healling;
• Propõe descansos de um exercício ao outro para que se possa estudar as mudanças do corpo
→ Não é dormir, é estar presente! Feldenkrais, 1977
Outras informações importantes
• Proposta de desautomatização dos movimentos para se
descobrir e descobrir suas potências.
• Exercícios visam reduzir os esforços do movimento;
• Exercícios fáceis e simples – que ganham complexidade
conforme vai se conhecendo as possibilidades do corpo.
• Grupo/ individual
• Sozinho ou com terapeuta
• Feldenkrais sugere que os exercícios sejam feitos todos os dias -
exercícios repetidos, mas não robóticos!
A prática regular dos exercícios do Feldenkrais
Pitadas da Literatura promoveu melhoras funcionais, melhoras no
equilíbrio, na mobilidade e na confiança (para
andar e realizar as atividades) em pessoas em
processo de envelhecimento e idosas
2017

Por que o Feldenkrais é diferente para a autora?

Por quê ele ensina a “aprender como aprender”.

Usuário aprende como investigar os movimentos, experimentar variações e discernir qual o melhor movimento a qualquer circunstância vivida → aprende a se
adaptar ao inesperado # não é treinamento numa situação específica e protegida, num ambiente de laboratório/terapia
Provam pela primeira vez, medindo a pressão do

Pitadas da Literatura corpo sobre o chão e a área da superfície de


contato, que o método Feldenkrais promove
alterações de tônus

2018
Do corpo cartesiano
2008

Constantemente citadas nas legislações governamentais do


Canadá (há uma aprovação por parte dos profissionais e da
população mesmo sem a existência de estudos)

Só para doenças crônicas e psico-somáticas


Que não se resolvem com as tecnologias biomédicas
Hoje...
• Estamos mais apartados do corpo do que na época que Feldenkrais criou seu
método;
• Somos cada vez mais alienados e apartados dos nossos processos saúde-doença;
• Corpo estatístico/saberes livrescos sobre si e sob a égide das evidências
científicas(Courtine, 2007) → não ajuda em nada no cotidiano!
• Ovo é bom, ovo é mal... Evidências determinam comportamentos, transformam
momentos de troca, prazer e rememoração de tradições (alimentação) em uma
ação técnica de saúde;
• Maquiamos nossos sentimentos com o condicionamento a determinadas situações,
com o uso de medicamentos e drogas ilícitas (Damásio, 2003);
• Cada vez usamos menos o corpo (eletrodomésticos, meios de transporte, telas);
• Cada vez menos há espaço para a criatividade e a inventividade no cotidiano. “Já
vem pronto e tabelado. É somente requentar. E usar.” (Tom Zé)
Hoje...

• O trabalho, as classes sociais e o neoliberalismo ainda influenciam e modelam


os corpos, ainda determinam doenças e expectativa de vida, mas agora temos
menos recursos para compreender essas mudanças no nosso corpo
→Não percebemos conscientemente os impactos desses modos de viver no
corpo, e nos acostumamos com dores, desconfortos, tristezas, vivemos nos
decompondo → chegamos a duvidar da nossa humanidade
→ faz com que percamos a noção de direito e de sermos generosos conosco
→Imobiliza e cerceia, sem grades nem vigias, como era necessário no passado.
Se queremos romper com os modos cartesianos de
entender e trabalhar com o corpo, e de perpetuação
de injustiças, enquanto TOs...

• Temos de nos fundamentar em métodos e teorias que pensem o corpo de outro jeito → métodos não-
mecânicos, criativos, avessos aos treinamentos e amigos das descobertas e experimentações.
• Se queremos resignificar a criatividade no cotidiano, trazendo autonomia para as pessoas (não apenas
no âmbito das AVDs e AVPs, mas para poderem se pensar autonomamente no mundo), não podemos
nos valer de treinamentos e condicionamentos comportamentais. Precisamos de recursos terapêuticos
que permitam que a criatividade de usuários e terapeutas exista.
• Porque produzir cuidado é produzir outros afetos, é romper com a dor(não é só física) e a tristeza
modificando a sua causa, e não maquiando com remédios, drogas ou condicionamento de
comportamentos.
• É (re)encontrar a humanidade das pessoas atendidas, produzindo resistências alegres – numa clínica
dos afetos como a de Feldenkrais – reencontrando o corpo, e com ele flexibilizar os pensamentos,
desnaturalizar o conhecido, criar outras relações humanas, inventando outras legitimidades, outros
cotidianos, com fazeres menos mecanizados, que por sua vez, mudarão os corpos.
Referências Bibliográficas
Brummer, M.; Walach, H.; Schmidt, S. Feldenkrais ‘Functional Integration’ Increases Body Contact Surface in the
Supine Position: A Randomized-Controlled Experimental Study. Frontiers in Psychology, V.9, 2018.
Connors, K.A.; Galea, M.P.; Said, C.M. FeldenkraisMethod Balance Classes Improve Balance in Older Adults: A
Controlled Trial. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, Volume 2011.
COURTINE, J.J.; CORBIN, A.; VIGARELLO, G. História do Corpo. Petrópolis: Vozes. 2007.
DAMASIO, A. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. São Paulo: Cia das Letras. 2003.
FELDENKRAIS, M. Consciência pelo Movimento. São Paulo: Summus, 1977. 9ª ed.
FRIES, C.J. Classification of complementary and alternative medicine practices. Canadian Family Physician,
54(november), 2008.
GOMES, L.H.; VIEIRA, A. Método Feldenkrais e o equilíbrio de idosos: uma revisão sistemática. Rev. Educ.
Fis/UEM, v. 24, n. 3, p. 465-473, 3. trim. 2013.
Hernández, G.A.; Salas, J.D.Z. Ejercicio físico como tratamiento en el manejo de lumbalgia. Rev. Salud Pública.
19 (1): 123-128, 2017.
Hillier, S.; Worley, A. The Effectiveness of the Feldenkrais Method: A Systematic Review of the Evidence.
Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine. Evidence-Based Complementary and Alternative
Medicine, v. 2015.
Referências Bibliográficas

HUBERTY, J.M. A Eutonia Gerda Alexander: das fontes europeias à sua divulgação na América
Latina. In: CAMPOS, M.R.B. Eutonia: Experiência Clínica e pedagógica. São Paulo:
Zagadoni, 2013.
Palmer, C. Feldenkrais Movement Lessons Improve Older Adults’ Awareness, Comfort, and
Function. Gerontology & Geriatric Medicine, Volume 3: 1–9
Verrel, J.; et al. Changes in neural resting state activity in primary and higher-order motor
áreas induced by a short sensorimotor intervention based on the Feldenkrais method.
Frontiers in Human Neuroscience, v.9, 2015.
Webb,R.; Cofré Lizama, L.E.; Galea, M.P. Moving with Ease: Feldenkrais Method Classes for
People with Osteoarthritis. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine,
Volume 2013.
Wu, E. et al. Preventing Loss of Independence through Exercise (PLIÉ): qualitative analysis
of a clinical trial in older adults with dementia. Aging & Mental Health. Aging & Mental
Health, 2014.
Vamos nos
experimentar?

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