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PÚBLICO
AULA 6
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Nos anos 1930, os estados receberam autorização para elaborar tributos
sobre vendas. Os estados perderam a atribuição de impostos interestaduais
sobre exportações acima de 10%. Os municípios ganharam mais liberdade
também para elaborar novos impostos (Toni, 2008).
Uma alteração feita pela Constituição de 1937 no sistema tributário
brasileiro foi a retirada da alçada dos estados do imposto sobre propriedades
rurais. A Constituição de 1946 implementou mudanças substanciais sobre a
carga tributária, com expansão do número de tributos a nível municipal, como o
sobre profissões e indústria. Aumentou, também, a participação dos municípios
sobre o imposto de renda (15%) e sobre o consumo (10%) (Toni, 2008).
De acordo com Riani (2014), o sistema tributário orquestrado em 1966
buscava oferecer ao governo recursos suficientes para coordenar o processo
de expansão do produto nacional bruto. Para tanto, esse sistema teve como
características o aumento substancial da carga tributária e a priorização do
capital, que seria a fonte de investimentos para o país, em contraposição ao
interesse do trabalhador, que sofria com mais impostos.
Segundo Machado e Balthazar (2017, p. 233), a reforma tributária de
1966 “é considerada por muitos juristas a mais ampla e profunda reforma
tributária já realizada na história do constitucionalismo pátrio, descortinando um
sistema tributário moderno, enxuto e eficiente”.
Um dos aspectos mais notáveis do sistema tributário de 1966 foi a
expansão substancial do número de contribuintes ao imposto de renda, que até
então não assegurava uma arrecadação suficiente. Entre 1965 e 1969 o
número de pessoas que contribuíam com o imposto de renda passou de 400
mil para 1,5 milhão. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM) foi
alterado e passou a ser adotado sobre o valor adicionado na produção, sendo
que todas as mercadorias pagariam a mesma taxa. Até 1966 cada estado
cobrava taxas diferentes, que variavam de 1,25% a 10%, provocando
diferenças regionais consideráveis.
Um dos elementos mais criticados do sistema tributário de 1966 foi a
mudança da distribuição dos tributos entre as esferas do governo. Ocorreu uma
centralização dos recursos na esfera federal, o que expandiu a dependência de
transferência do nível federal para os níveis estaduais e municipais, reduzindo
a margem de atuação a nível regional e local (Riani, 2014).
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A Constituição que entrou em vigor em 1967 (Brasil, 1967) definiu os
tributos para cada nível governamental. Para o governo federal ficaram os
tributos sobre: i) importação; ii) exportação; iiii) propriedade territorial urbana;
iv) renda e proventos de naturezas variadas; v) produtos industrializados; vi)
operações de crédito, seguros, câmbio, valores imobiliários e títulos; vii)
serviços de comunicações e transportes; viii) lubrificantes e combustíveis; ix)
energia elétrica e x) minerais.
Aos estados foram destinados apenas os impostos sobre transmissão de
bens imóveis e sobre operações relativas à circulação de mercadorias. Já para
os municípios foram destinados somente os tributos sobre a propriedade
predial e territorial urbana (IPTU) e os serviços variados (ISS). Esses dados
evidenciam a centralização das fontes de receita na União (Riani, 2014, p.
191).
Uma consequência central do sistema tributário de 1966 foi a diminuição
da arrecadação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Esse
fenômeno foi consequência das crises pelas quais o Brasil passou desde os
anos 1980. Na década de 1980 o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)
também teve sua participação reduzida no total de impostos, tendo
representado 5% do total da carga tributária em 1989, sendo que, antes de
1966, era o terceiro principal imposto do governo (Riani, 2014).
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câmbio, valores imobiliários e títulos e vii) grandes fortunas. A União ficou
encarregada também das seguintes contribuições sociais:
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para financiar a saúde e extinta em 2007 e a Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (Cofins) (Riani, 2014, p. 219).
Concluímos que, embora tenha havido um aumento da carga tributária
após 1988, este não foi consequência de mudanças nos tributos, sendo que
houve alterações na distribuição desses impostos entre os níveis de governo.
Ou seja, a reforma não alterou as características do sistema tributário e nem
promoveu sua simplificação, que seria necessária. Surge um debate sobre a
necessidade de uma nova reforma no sistema tributário vigente, que pudesse
combater a alta regressividade do sistema de tributação brasileiro, isto é, a
situação em que as pessoas de classes mais baixas pagam mais impostos em
proporção a sua renda do que as de classes mais altas.
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adotados “programas de transferência de renda, os quais são financiados
basicamente pela tributação indireta que afeta os mais pobres” (Brami-
Celentano; Carvalho, 2007, p. 47).
A reforma tributária realizada em 2003 não expandiu a equidade e a
justiça social do sistema e não tocou em dois pontos centrais, que são a
reforma do ICMS e do federalismo fiscal.
Não houve outro debate importante, que costuma emergir na agenda
dos governos mais à esquerda, como a tributação sobre grandes fortunas
(renda e patrimônio), a diminuição dos tributos sobre consumo de bens
essenciais à população e a redução dos impostos sobre a folha de pagamento
(salários). Desse modo, a reforma realizada por Lula reafirmou a ideia
neoliberal de neutralidade e não combateu a lógica de onerar as classes mais
baixas e as médias com tributação indireta e sobre salários (Brami-Celentano;
Carvalho, 2007).
Conforme indicam Machado e Balthazar (2017, p. 223), apesar da
utilização da expressão reforma tributária não ser nova, “a reforma tributária
tem sido frequentemente invocada e simbolizada como a solução de muitas
das mazelas da sociedade brasileira na atualidade”. Conforme Carvalho (2010
citado por Machado; Balthazar, 2017), o sistema tributário brasileiro não é
falho, pois o recolhimento de impostos ocorre corretamente e é eficiente, porém
isso não significa que ele esteja baseado nos princípios adequados.
Por outro lado, há analistas, como Bernard Appy, que defendem que o
sistema tributário precisa ser reformado de forma urgente, pois o sistema atual
impede o crescimento do produto interno bruto (PIB), por sua complexidade e
carga tributária elevada.
Rezende (2016, citado por Machado; Balthazar, 2017) também sustenta
a necessidade de uma reforma no sistema tributário nacional, que deveria ser
baseado nos seguintes princípios: a simplicidade, a flexibilidade e a eficiência.
Para o autor, além da arrecadação exagerada no Brasil, existem outras
fragilidades ainda mais graves no sistema, como o número excessivo de
impostos, a falta de transparência, a insegurança jurídica e o não respeito aos
direitos do contribuinte (Resende, 2016, citado por Machado; Balthazar, 2017).
Embora não haja um consenso sobre a necessidade ou não de uma
reforma ampla no sistema de tributação brasileiro, é unânime o pensamento de
que é preciso adequar alguns elementos desse sistema, a fim de auxiliar no
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processo de redução da desigualdade socioeconômica no Brasil (Machado;
Balthazar, 2017).
Machado e Balthazar (2017) pontuam que reformar representaria
reestruturar, demandando uma emenda constitucional para promover as
mudanças necessárias na tributação. Podemos destacar que “o problema mais
alardeado quando se fala em reforma fiscal no Brasil é, sem sombra de
dúvidas, o da tributação sobre os bens e serviços” (Machado; Balthazar, 2017,
p. 241).
De acordo com Machado e Balthazar (2017), há muitas alternativas para
a reforma do sistema tributário brasileiro, mas com pouca vontade política para
realizá-la. Uma das propostas mais discutidas na atualidade sobre a reforma
tributária é a apresenta pelo deputado Luís Carlos Hauly, que se baseia em um
parâmetro europeu, estabelecendo um tributo federal, outro sobre valor
agregado e um tributo seletivo por estado e, por fim, impostos municipais sobre
o patrimônio. Essa proposta afetaria os poderes do governo federal.
Sempre haverá grupos que irão ser prejudicados com a reforma. É
preciso pensar em um sistema tributário mais eficiente e igualitário, porém há
muitos interesses em jogo e normalmente os dos mais poderosos predominam.
Embora haja dificuldade em promover uma reforma profunda e ampla no
sistema de tributação, conforme Machado e Balthazar (2017, p. 244), é
imprescindível promover mudanças pontuais, como reduzir a regressividade do
sistema. Temos um dos sistemas tributários que mais penaliza os mais pobres
e privilegia os mais ricos. Esse é um ponto pouco tocado no debate, o do
aumento da progressividade, pois se fala muito de “redução do tamanho da
carga, e não da melhor distribuição entre as suas bases de incidência”
(Machado; Balthazar, 2017, p. 245). De acordo com esses autores, o Brasil “é o
paraíso fiscal dos super-ricos”, devido à “isenção de tributos sobre os lucros e
dividendos, concedida no ano 1995, durante o Governo do ex-Presidente
Fernando Henrique Cardoso” (Machado; Balthazar, 2017, p. 245).
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incentivos, isto é, para que eles sejam autorizados, o Estado precisa provar
que essas isenções não irão afetar os recursos disponíveis para fornecer os
demais serviços à sociedade.
As políticas de incentivos fiscais “praticadas pelos Estados são uma
característica do sistema federativo, a qual tem como forma de organização
territorial de poder a dupla soberania, em um único Estado. Os incentivos
ocorrem independentemente da existência de mecanismos que presumem sua
regulamentação” (Goularti, 2014, p. 12).
Existe uma série de conceitos na lógica de incentivos fiscais, que são:
“isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira,
tributária e creditícia” (Silva, 2007, p. 126). Segundo Silva (2007, p. 126), o
primeiro deles e mais conhecido são as isenções, que são “estímulos
concedidos pelo governo com intuito de assegurar regularidade na cobrança
dos tributos e/ou viabilizar o desenvolvimento do setor econômico”.
Na primeira reforma tributária brasileira, em 1966, foram desenvolvidos
incentivos fiscais relacionados ao imposto de renda e ao imposto sobre
produtos industrializados, que eram bastante abrangentes. Para compensar
essa situação de excesso de incentivos fiscais, a partir da segunda reforma
tributária, em 1988, foram criadas contribuições como o Programa de
Integração Social (PIS), que é recolhido das empresas.
Em 1988, como visto nesta aula, o sistema tributário se tornou mais
descentralizado, aumentando a autonomia dos municípios e estados em
relação às políticas de incentivos fiscais. Isso gerou uma competição entre
estados para atrair empresas, que é a denominada guerra fiscal (Goularti,
2014).
Na década de 1990, com a política neoliberal e de abertura de mercado,
houve uma expansão das competições entre os estados para atrair empresas,
sobretudo multinacionais do mercado automobilístico, a exemplo de Peugeot,
Renault, Volkswagen e BMW (Goularti, 2014).
Em 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal (Brasil, 2000) teve como um
de seus objetivos evitar a guerra fiscal entre as unidades da federação, que só
poderiam fazer incentivos, ou seja, abrir mão de parte da arrecadação, se
criassem mecanismos para compensar a perda da receita com esses impostos
isentos. Lembramos que uma política de incentivo fiscal é uma forma de
transferir receita do setor público para o privado e, por isso, deve ser
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compensada de alguma forma, para que o governo não se endivide para pagar
o incentivo. Contudo, a maioria dos estados não deu importância a essa
decisão, não estabelecendo compensação mediante aumento de alíquotas
(Goularti, 2014).
Assim, as políticas de incentivos fiscais, sobretudo as isenções, fazem
parte de todo regime federativo, assim como as guerras fiscais entre estados
federados, que servem, entre outros motivos, para aumentar a renda de certa
região, mediante atração de empresas ao território do estado (Goularti, 2014).
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adotado em 2008 e chama-se Nota Legal, enquanto no Tocantins chama-se Tô
Legal e foi iniciado em 2017. Os programas implementados depois foram
inspirados no primeiro, o Nota Paulista, com base em sua experiência bem-
sucedida.
O contribuinte concorre também a prêmios e sorteios em dinheiro, o que
é mais um incentivo ao controle por parte do cidadão. Assim, esse tipo de
programa “corresponde a um mecanismo de incentivo para que os
consumidores peçam ao estabelecimento comercial o documento fiscal no
momento em que realizam as compras” (Mattos; Rocha; Toporcov, 2013, p.
101).
O que podemos verificar com os programas já implementados até o
momento é que, à medida que o consumidor se sente beneficiado, ao receber
um valor financeiro de retorno do imposto e até prêmios, ele se engaja mais na
solicitação de notas, tornando o sistema tributário e de declaração de impostos
mais transparente e coibindo a evasão fiscal.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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de 1967 (Brasil, 1967). Esse novo sistema tributário buscou suprir o Estado de
mais recursos para o financiamento de suas atividades. Foi considerado
exitoso nesse objetivo, ao expandir a arrecadação e formular um sistema
tributário eficiente. Contudo, provocou a centralização da arrecadação a nível
federal.
Na segunda parte da aula analisamos as mudanças geradas pela
reforma tributária de 1988, que se concentraram em combater os erros do
sistema anterior. Foram reduzidos os impostos da União e distribuídos entre as
outras esferas de governo, o que contribuiu para uma maior descentralização
tributária. Verificou-se que a reforma de 1988 não expandiu o número de
impostos, mas também não contribuiu para simplificar o sistema ou torná-lo
menos regressivo.
No Tema 3 da aula foi discutido o debate atual sobre a necessidade de
uma nova reforma no sistema tributário. A reforma feita nos anos 2000 não
combateu os erros da carga tributária, mantendo a regressividade e onerando
os mais pobres. Os temas que continuam aparecendo de modo central no
debate pela reforma do sistema tributário são: a busca por uma maior
progressividade e a questão da tributação sobre bens e serviços. Verificamos
que, embora haja alternativas para a reforma sendo discutidas no Legislativo,
há baixa vontade política para realizá-la.
Na quarta seção foi investigada a política de incentivos fiscais
implementada pelos governos, especialmente a nível estadual, por meio da
adoção de isenções fiscais e subsídios com vistas a atrair empresas para suas
regiões. O principal impacto dessas iniciativas é a redução dos recursos do
governo, que poderiam ser usados para oferecer melhores serviços públicos.
Por fim, no Tema 5, apresentamos a discussão sobre os inovadores
programas de incentivo à cidadania fiscal, que buscam engajar o cidadão na
fiscalização do pagamento de impostos, com o objetivo de diminuir a evasão
fiscal. Pudemos verificar que a iniciativa pioneira foi a Nota Paulista, que, aos
poucos foi sendo copiada por outros estados e teve bons resultados, ao
devolver uma parte do imposto ao cidadão, fazendo-o concorrer a prêmios
quando inclui seu CPF nas notas fiscais.
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REFERÊNCIAS
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TONI, J. de. Economia do setor público: texto de apoio. Maio 2009.
Disponível em: <https://jacksondetoni.files.wordpress.com/2012/04/detoni-
econ-set-publico-20083.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2018.
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