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A música como agente terapêutico na doença de Alzheimer

● Doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência neurodegenerativa


em pessoas de idade.
● A doença instala-se quando o processamento de certas proteínas do sistema
nervoso central começa a dar errado. Surgem, então, fragmentos de proteínas
mal cortadas, tóxicas, dentro dos neurônios e nos espaços que existem entre
eles. Como consequência dessa toxicidade, ocorre perda progressiva de
neurônios em certas regiões do cérebro, como o hipocampo, que controla a
memória, e o córtex cerebral, essencial para a linguagem e o raciocínio,
memória, reconhecimento de estímulos sensoriais e pensamento abstrato.
Causas
● As causas do Alzheimer ainda não são completamente conhecidas. Atualmente, os
cientistas acreditam que, nas pessoas com Alzheimer precoce, uma mutação genética
pode ser responsável pelo início da deterioração cerebral.
● Já para pacientes que começam a ter sintomas após os 65 anos, as causas
provavelmente incluem uma combinação de fatores genéticos e de estilo de vida,
além de transformações naturais do cérebro que ocorrem com o passar do tempo.
● Mesmo para quem já tem a doença, a combinação de uma dieta saudável com
exercício físico e atividades mentalmente estimulantes pode ajudar a reduzir a
velocidade de declínio cognitivo.
● Não à toa, neurologistas e geriatras recomendam que familiares estimulem os
pacientes com Alzheimer a manter um estilo de vida saudável.
SINTOMAS:

1) falta de memória para acontecimentos recentes;


2) repetição da mesma pergunta várias vezes;
3) dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos;
4) incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas;
5) dificuldade para dirigir automóvel e encontrar caminhos conhecidos;
6) dificuldade para encontrar palavras que exprimam ideias ou sentimentos pessoais;
7) irritabilidade, desconfiança injustificada, agressividade, passividade,
interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento.
EVOLUÇÃO:
A doença de Alzheimer costuma evoluir de forma lenta. A partir do diagnóstico, a
sobrevida média oscila entre 8 e 10 anos. O quadro clínico costuma ser dividido em
quatro estágios:
– Estágio 1 (forma inicial): alterações na memória, na personalidade e nas habilidades
visuais e espaciais;
– Estágio 2 (forma moderada): dificuldade para falar, realizar tarefas simples e
coordenar movimentos. Agitação e insônia;
– Estágio 3 (forma grave): resistência à execução de tarefas diárias. Incontinência
urinária e fecal. Dificuldade para comer. Deficiência motora progressiva;
– Estágio 4 (terminal): restrição ao leito. Mutismo. Dor ao engolir. Infecções
intercorrentes.
TRATAMENTO:
● Antes de falarmos do tratamento, vamos fazer uma reflexão!!!
● Você sabe o que é ETARISMO?
ETARISMO:

Quem nunca ouviu a frase:


“Você não tem mais idade para isso!”?
Esse tipo de opinião pode ser classificada
como etarismo ou ageísmo, que consiste
no preconceito, na intolerância, na
discriminação contra pessoas com idade
avançada.
ETARISMO:
● O etarismo ou ageísmo, é derivado do termo aging, do inglês, é o
preconceito por idade.
● O preconceito contra pessoas mais velhas interfere em todas as idades –
como uma pessoa vista como jovem demais para ocupar um cargo de
liderança, por exemplo.
● É mais acentuado para os mais velhos, devido a estereótipos, de que eles são
desatualizados, desconectados da tecnologia e não acompanharam as
mudanças. Mas isso não está ligado à idade, mas às oportunidades de cada um.
Estudo de caso:
● Dona Elza, 70 anos foi ● Dona Neusa, 76 anos não tem
diagnosticada com Alzheimer, após Alzheimer. Trabalhou até os 70
meses do falecimento do marido. anos quando foi convidada a se
Começou a ficar esquecida e fazia aposentar, contra sua vontade.
muitas perguntas repetitivas durante Trabalhava dando aulas de piano no
o dia. Trabalha desde os 9 anos, tem conservatório. É viúva e tem 2
4 filhos que dividem os seus filhos. Mora com a filha desde que
cuidados. É formada em música, ficou viúva e ainda dá algumas
licenciada em regência. É minha aulas particulares em casa. É minha
aluna no conservatório. professora de piano.
Estudo de caso:
● Porque dona Elza pode ser aluna após os 70 anos e dona Neusa não pode
trabalhar, mesmo estando apta para o cargo?
● Dona Neusa sofreu ETARISMO?
● Você como aluno, se pudesse escolher, gostaria de ter aula com dona Neusa
que tem grande experiência ou com um professor recém-formado?
● Você como professor, está preparado para dar aula para uma aluna portadora
de Alzheimer?
● Você já parou para pensar, como o mercado de trabalho da sua área de
atuação estará daqui 20 – 30 anos? Você estará nele ou ele terá te
substituído?
Voltando ao tratamento do Alzheimer
● A doença é incurável. O objetivo do tratamento é retardar a evolução e
preservar por mais tempo possível as funções intelectuais. Os melhores
resultados são obtidos quando o tratamento é iniciado nas fases mais
precoces.
● Numa doença que é progressiva nem sempre é fácil avaliar resultados. Por
essa razão, é fundamental que os familiares utilizem um diário para anotar a
evolução dos sintomas. A memória está melhor? Os afazeres diários são
cumpridos com mais facilidade? O quadro está estável? O declínio ocorre de
forma mais lenta do que antes da medicação? Sem essas anotações fica
impossível avaliar a eficácia do tratamento.
Tratamento – medicamentos:

● Uma vez iniciado, o tratamento precisa ser reavaliado pelo médico ao


completar um mês, mas deve ser mantido obrigatoriamente por um período
mínimo de 3 a 6 meses, para que se possa ter ideia da eficácia. Enquanto a
resposta for favorável, o medicamento não deve ser suspenso, sendo
fundamental a tomada diária nas doses e observar os intervalos prescritos. A
administração irregular compromete o resultado.
● Os medicamento mais usados são: Donepezila 5 ou 10 mg, Galantamina 8,
16 ou 24 mg, Rivastigmina 1,5 ou 3 mg e Memantina 10 mg (que é o mais
usado e o mais barato).
Tratamento – medicamentos:

● Estes medicamentos buscam reduzir a velocidade do declínio, e


não agir nos mecanismos que causam a deterioração no cérebro.
Já a nova geração — Aducanumabe e Lecanemabe — busca
romper com essa lógica. Eles focam na capacidade de agir contra
um dos principais mecanismos do Alzheimer, que é o acúmulo de
proteínas beta-amiloides no cérebro, porém ainda apresentam
graves efeitos colaterais.
Outras opções de tratamento:
• Musicoterapia: a musicoterapia melhora o foco do paciente, sua capacidade de se
comunicar com as pessoas próximas e os sintomas ligados à depressão e ansiedade, o
que leva a uma diminuição da dependência da pessoa por medicamentos relacionados
a essas condições. Além disso, em alguns casos, a musicoterapia colabora até mesmo
no recordar de memórias “perdidas” e na melhora da alimentação.
• Psicoterapia: Este é certamente um dos tratamentos mais significativos para o
paciente com Alzheimer, pois a terapia o auxilia a lidar com sintomas de depressão,
agitação e ansiedade — problemas que muitas vezes são causados pela doença.
• Terapia Ocupacional: podem auxiliar na adaptação do ambiente e a encontrar
formas de incluir o paciente nas atividades do dia a dia de forma segura e eficiente.
• Fisioterapia: tem o papel surpreendente de melhorar os sintomas da doença, bem
como retardar a sua progressão.
Então vamos falar da Musicoterapia!!!

A musicoterapia certamente se
destaca entre os tratamentos para
Alzheimer por seu incrível potencial
de melhorar a qualidade de vida do
paciente. Esse tipo de terapia oferece
uma série de benefícios, e isso vale até
mesmo para os estágios mais
avançados da doença.
Entenda como isso acontece na prática:
• A musicoterapia pode ser individual, em grupo, ou ainda ser aplicada das duas formas.
Os profissionais capacitados para esse tipo de tratamento são aqueles com formação
acadêmica em musicoterapia ou profissionais de saúde como psicólogos, médicos e
enfermeiros que tenham feito pós-graduação na área.
• O musicoterapeuta pode utilizar diversas abordagens durante o tratamento. A escolha
dessas abordagens depende muito do grau de comprometimento cognitivo e motor
do paciente. Em algumas práticas terapêuticas, o paciente participa ativamente da
atividade musical, interagindo através do canto ou do tocar de instrumentos. Mas não
se engane: até mesmo pacientes que se encontram em graus mais avançados da
doença e que muitas vezes se mostram indiferentes ao ambiente ao seu redor podem
responder positivamente às práticas musicoterapêuticas.
Entenda como isso acontece na prática:
• Tocar músicas que foram marcantes na vida da pessoa são técnicas especialmente
utilizadas no tratamento do Alzheimer. Esse tipo de estímulo é, sem dúvida, capaz de
despertar memórias, o que ajuda o paciente no sentido de possibilitar uma reconexão
com entes queridos e até mesmo com sua própria identidade. Em pacientes
terminais, voltar às canções de ninar e aquelas geralmente aprendidas na infância
pode proporcionar momentos e sentimentos reconfortantes.
• A musicoterapia em grupo é especialmente interessante para estimular a interação
social entre pacientes. A prática musical pode envolver atividades como passos de
dança, sempre que isso estiver dentro das possibilidades físicas do paciente. A
atividade física somada a interação e outros benefícios fisiológicos e
cognitivos proporcionados pela musicoterapia podem então promover o bem-estar
e, consequentemente, a diminuição do estresse, ansiedade e depressão dos pacientes.
Tipos de abordagens na Musicoterapia:

● Musicoterapia analítica: incentiva você a usar um “Diálogo” Musical


improvisado, cantando ou tocando um instrumento para expressar seus
pensamentos inconscientes, sobre os quais você pode refletir e discutir com
seu terapeuta posteriormente.
● Musicoterapia Benenzon: combina alguns conceitos da psicanálise com o
processo de fazer música. A musicoterapia Benenzon incluiu a busca de sua
“identidade sonora musical”, que descreve os sons externos que mais se
aproximam do seu estado psicológico interno.
Tipos de abordagens na Musicoterapia:

• Musicoterapia Cognitivo – Comportamental:


combina terapia cognitivo-
comportamental com música que é
usada para reforçar alguns
comportamentos e modificar outros.
Essa abordagem é estruturada, não
improvisada, e pode incluir ouvir
música, dançar, cantar ou tocar um
instrumento.
Voltando a falar da dona Elza
● Ela é minha aluna há 5 meses e como já disse ela é formada em
música, toca alguns instrumentos, mas gosta mais de teclado e de
cantar.
● Ela é mãe de um professor do conservatório que me pediu para dar
aula para ela afim de preencher o seu tempo(esse foi nosso primeiro
contato).
● Eu já a conhecia por sermos da mesma igreja e também por
acompanhar seu tratamento medicamentoso (pois sou farmacêutico
também).
O que eu aprendi com a dona Elza:
1. Entendi que ela não está ali para aprender, ela está ali como parte do tratamento dela
(quando o filho quis preencher o tempo dela ele não tinha ciência que isso seria
terapêutico) e que se ela não toca bem, ou não está conseguindo tocar muito bem, não é
motivo para frustração;
2. Compreendi que cada aula será de um jeito, não é no meu ritmo, mas no ritmo dela e
que vai depender de como ela está (tem dias que conseguimos tocar e cantar, mas tem dias
que ela só quer conversar);
3. Refleti no meu papel como professor de música e estudante de musicoterapia e percebi
que não devo ter medo de receber estes alunos, pois é um prazer enorme servi-los e fazer
parte do tratamento;
4. Aprendi a elogiar cada pequena conquista e a perceber que quando alguma coisa está
lhe deixando nervosa ou desconfortável é hora de mudar o foco.
CONCLUSÃO

● Em 2019, o número de idosos no Brasil chegou a 32,9 milhões. Dados do


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a tendência de
envelhecimento da população vem se mantendo e o número de pessoas com mais
de 60 anos no país já é superior ao de crianças com até 9 anos de idade.
● A expectativa é de que o número de pessoas com 65 anos ou mais praticamente
triplique, chegando a 58,2 milhões em 2060 – o equivalente a 25,5% da
população.
● Diante dessas informações, não resta a menor dúvida de que o envelhecimento
populacional deve estar no topo das prioridades dos gestores de saúde no Brasil.
CONCLUSÃO

● O etarismo ocorre de maneira geral no mercado de trabalho. Uma pesquisa


realizada no Brasil, pela consultoria Hype50 revela que 39% dos profissionais
brasileiros acima de 55 anos se sente excluído ou descartado do mercado de
trabalho.
● Em muitos processos seletivos, o etarismo não é anunciado, mas ocultado. Como
assim? Nos anúncios das vagas, não há nada que indique a rejeição de
profissionais acima dos 40 ou 50 anos. Quando são chamados para as
entrevistas, normalmente perdem a vaga para um profissional jovem que tem as
mesmas qualificações, competências e habilidades. Esse tipo de recrutamento e
seleção não é, nem de longe, diversa e inclusiva.
CONCLUSÃO
● A inclusão nada mais é do que uma empresa que dá oportunidade para
todas as pessoas, desde a idade, gênero, etnia, religião, orientação
sexual e condição física.
● Somos únicos em um mundo diverso e a nossa luta deve ser que a
diversidade e a inclusão aconteça de forma justa nas
organizações.
● Hoje pode acontecer com nossos avós e pais, mas em breve pode ser
conosco (se já não aconteceu).
OBRIGADO!
Se quiser conversar mais me escreva:
@marchettiheder
heder.pereira@professor.unis.edu.br

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