Você está na página 1de 16

Docência em EaD:

Formação
Introdutória em
Tutoria

Ana Paula Rodrigues da Silva

São Carlos, 2023.


Docência em EaD: Formação Introdutória em Tutoria

1. Introdução

A figura do tutor de Educação a Distância (EaD) tem se tornado cada vez mais presente
no cenário educacional brasileiro, acompanhando a acelerada expansão desta modalidade de
ensino nas últimas décadas. Embora ainda haja uma carência grande de regulamentação sobre
a identidade profissional do tutor de EaD, já existe consenso na literatura sobre a importância
da tutoria na proposta pedagógica de cursos a distância.

No entanto, você sabe o que é tutoria? E o que faz um tutor de EaD? Que papel ele
desempenha na relação com professores e estudantes? Quais competências deve desenvolver
para realizar adequadamente esta função? Quais são boas práticas na tutoria?

Este material abordará tais questões, na tentativa de contribuir para uma formação
introdutória aos interessados em atuar na tutoria de cursos da modalidade EaD. Vamos lá?

2. Breve conceituação sobre tutoria

A palavra “tutor” tem origem latina (tütor, tutõris) e relaciona-se às ideias de guarda,
protetor. Dessa forma, “o tutor pode ser entendido como o indivíduo encarregado legalmente
de tutelar ou acompanhar e proteger alguém” (MILL; CESÁRIO, 2018, p. 662). Analisando os
significados do termo, Carneiro e Turchielo (2013, p. 37) afirmam que “A ideia de ‘guia’ parece
ser a que tem mais força ao se definir a tarefa do tutor”.

Historicamente, a figura do tutor Figura 1 - Professor e estudantes na universidade


aparece com a institucionalização do ensino medieval. Imagem extraída da obra “Les Grandes
superior nas universidades europeias, por Chroniques de France”.
volta do século XI. Segundo Lázaro (1997, p.
7), o tutor era o professor que exercia uma
função de tutela educativa, incumbido de
orientar o estudante em sua formação
intelectual e moral e de assegurar o
desenvolvimento de sua personalidade, com
zelosa dedicação.

Fonte: https://flic.kr/p/xvpHAS
Seguindo essa tradição, Arredondo, González e González (2012, p. 28) afirmam que

O conceito de tutoria circunscreve-se aos modelos de educação


personalizada como resposta à necessidade de apoiar os processos
educacionais, não somente como atividades do tipo didático-convencional,
mas também abordando o conjunto da pessoa, do indivíduo, em suas
diversas facetas (grifo dos autores).

Os autores compreendem, assim, a tutoria como uma forma de acompanhamento


educacional que contribui para a formação integral dos estudantes, orienta seu processo de
tomada de decisões nos diversos itinerários de formação, favorece a relação e a interação
entre os atores da comunidade educacional, propicia a autonomia e a autorrealização
(ARREDONDO; GONZÁLEZ; GONZÁLEZ, 2012, p. 30).

Preti (2003, p. 3) considera que esse modelo bem-sucedido de apoio à aprendizagem


dos estudantes existente no ensino presencial teria influenciado, já no século XX, a
configuração do sistema de tutoria implementado pela primeira universidade a distância, a
Open University, servindo de modelo para as grandes universidades a distância que surgiram
depois dela em todo o mundo.

Buscando uma definição sobre o termo “tutoria na educação a distância”, Mill (2018,
p. 656) afirma que,

No âmbito da EaD, a ideia de guia prevalece nas definições de tutor, aquele


que organiza e facilita a participação dos estudantes, usando um conjunto
de estratégias pedagógicas preestabelecidas para uma aprendizagem
enriquecedora. Assim, o tutor na EaD pode ser entendido como aquele que
apoia a construção do conhecimento e dos processos reflexivos de
estudantes. A tutoria é, assim, vista como a atividade do tutor, podendo ser
uma tutoria virtual ou presencial.

Enquanto a tutoria virtual, ou a distância, é realizada por meio de Tecnologias Digitais


de Informação e Comunicação (TDIC), a tutoria presencial é realizada in loco, no polo de apoio
presencial1.

Apesar dos sistemas de tutoria de cada contexto apresentarem especificidades,


atribuindo ênfases diferentes ao papel do tutor, as pesquisas sobre o tema apontam para o
importante papel que a tutoria desempenha no sucesso dos cursos da modalidade EaD e na

1
“O polo de apoio presencial refere-se à unidade acadêmico-operacional instalada para o
desenvolvimento descentralizado de atividades pedagógicas e administrativas, concernentes a cursos
ofertados na modalidade a distância” (VELOSO; MILL, 2018, p. 513).
redução das taxas de evasão dos estudantes (PRETI, 2003). Entenderemos melhor porque isso
acontece na próxima seção, ao discutirmos as atribuições do tutor de EaD e seu papel docente.

3. Atribuições da tutoria de EaD na polidocência

Podemos afirmar que já existe consenso na literatura e nas regulamentações nacionais


sobre o papel eminentemente docente desempenhado pelo tutor de Educação a Distância.

Os “Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância”, do Ministério da


Educação, consideram os tutores como membros da equipe multidisciplinar e participantes
ativos da prática pedagógica, cujas atividades “devem contribuir para o desenvolvimento dos
processos de ensino e de aprendizagem e para o acompanhamento e avaliação do projeto
pedagógico” (BRASIL, 2007, p. 21).

Já o Conselho Nacional de Educação, ao estabelecer as diretrizes para a oferta de


cursos de educação superior na modalidade EaD (BRASIL, 2016), considera como tutor o
profissional de nível superior “que atue na área de conhecimento de sua formação, como
suporte às atividades dos docentes e mediação pedagógica, junto a estudantes” (Art. 8º, § 2º).

O tutor assume, dessa forma, funções pedagógicas importantes, devendo trabalhar de


forma articulada ao professor de EaD. Observe que tutor e professor desempenham aqui
atribuições didáticas diferentes, num contexto em que o papel do docente de EaD sofreu,
devido às peculiaridades da modalidade, um importante processo de fragmentação. Conforme
explica Mill (2010, p. 25),

Na EaD, normalmente cabem a diferentes profissionais as tarefas de


produzir o conteúdo do curso, de organizar didaticamente o material, de
converter o material para a linguagem da mídia (impressa, audiovisual,
virtual, etc.), de coordenar todas as atividades de um curso e
manejar/gerenciar a turma, entre outras. [...] Por isso, considera-se difícil,
senão impossível, um único profissional dar conta de todas as atividades
envolvidas – mesmo quando detém os saberes de todos os membros da
equipe. A essa unidade, formada pelo trabalho de uma equipe de
profissionais da EaD, denomina-se de polidocência (grifos do autor).

Em geral, na equipe polidocente o professor de EaD é responsável pelo planejamento


pedagógico da disciplina, realizando a seleção de conteúdos, a curadoria e produção de
materiais didáticos, a definição das estratégias metodológicas e dos instrumentos de avaliação,
o gerenciamento da oferta da disciplina. Já o tutor desempenha atividades relacionadas ao
acompanhamento, orientação e avaliação dos estudantes, mediando os processos de
aprendizagem. Mill (2018, p. 657) descreve as atividades do tutor da seguinte forma:
O trabalho de tutoria é composto por atividades didático-pedagógicas
circunscritas ao atendimento aos alunos: estudar os materiais do curso e
estimular os estudantes em seus estudos, orientar na realização das
atividades da disciplina, auxiliar os estudantes em suas dúvidas e
dificuldades com o conteúdo ou com questões técnicas, desenvolver e
empregar estratégias de estímulo à reflexão sobre os temas discutidos na
disciplina, gerenciar o ambiente virtual de aprendizagem (AVA) da disciplina,
dar feedback sobre as atividades dos alunos, promover e mediar interações
do estudante com seus colegas e com os docentes, atender às demandas
administrativas da instituição formadora que ocorrem no processo de
formação.

Pode-se observar que é ampla a gama de atividades esperadas do tutor de EaD. A


partir de uma revisão da literatura, Carneiro e Turchielo (2013) propuseram a divisão das
atribuições dos tutores em quatro categorias principais. São elas:

Figura 2 - Atribuições da tutoria de EaD em categorias.

Fonte: Elaborada pela autora, com base em Carneiro e Turchielo (2013).


As atribuições predominantemente pedagógicas (tais como orientar o processo de
aprendizagem dos estudantes, apoiá-los na realização das atividades, avaliar seu progresso
etc.) demandam que os tutores dominem não apenas os conteúdos que estão sendo
trabalhados, como também tenham formação pedagógica, isto é, conhecimentos de didática e
sobre a forma como as pessoas aprendem, especialmente como aprendem a distância
(CARNEIRO; TURCHIELO, 2013, p. 44). De forma complementar, na categoria comunicacional
tem destaque a interlocução do tutor com seu grupo de estudantes, buscando promover a
aprendizagem colaborativa. O envio de feedbacks formativos aos estudantes a partir das
tarefas realizadas, visando potencializar sua aprendizagem e motivar os estudantes em seu
percurso, também é um ponto crucial na atividade da tutoria. Mill et al. (2008, p. 115)
destacam que “a comunicação entre tutor e alunos é a chave da EaD, pois deve ser clara e
objetiva e ao mesmo tempo possibilitar aproximação, calor humano e compartilhamento".

A categoria organizacional “dá ênfase ao papel do tutor como uma interface entre os
alunos e a instituição” (CARNEIRO; TURCHIELO, 2013, p. 45). Dessa forma, para apoiar
adequadamente os estudantes, o tutor precisa conhecer a forma de funcionamento da
instituição, a equipe do curso e as atribuições de cada um, os canais de comunicação
institucionais etc. Também é importante que o tutor consiga organizar adequadamente seu
trabalho, por meio de múltiplas ferramentas, e que saiba orientar os estudantes para seu
planejamento pessoal de estudos. O domínio das diversas tecnologias necessárias para a
realização do curso na modalidade a distância, inclusive do ambiente virtual de aprendizagem,
faz parte da categoria técnica e é essencial para o suporte adequado aos estudantes da EaD.

4. Competências relacionadas à tutoria na EaD

Para o desempenho adequado de todas as atribuições indicadas na seção anterior, os


profissionais da tutoria precisam desenvolver uma série de competências. Com base no perfil
dos atores da EaD (professores, tutores e estudantes), Schneider, Silva e Behar (2013)
realizaram um amplo mapeamento das competências necessárias para cada perfil. Nesse
estudo, as autoras partem da compreensão de que "uma competência pressupõe a existência
de elementos (Conhecimentos, Habilidades e Atitudes, ou CHA) que a compõem e que
precisam ser mobilizados para atender a necessidade que emerge em determinada situação e
contexto" (BEHAR et al., 2013, p. 25-26).

No Quadro 1, apresentamos a lista das Para saber mais sobre as


competências necessárias ao tutor de EaD, de acordo com competências da tutoria em EaD,
as autoras. Uma descrição mais detalhada de cada consulte o objeto de aprendizagem
competência, com indicação dos conhecimentos, CompEAD, desenvolvido pelo Núcleo
de Tecnologia Digital aplicada à
habilidades e atitudes de cada uma, pode ser conferida no Educação da UFRGS -
material “Competências relacionadas à tutoria na EaD”. http://nuted.ufrgs.br/oa/compead/
Quadro 1 - Competências relacionadas à tutoria na EaD, segundo Schneider, Silva e Behar (2013).

Competência Descrição

Está ligada à utilização da tecnologia de modo que o sujeito se sinta


digitalmente ativo/participante dos avanços tecnológicos. A fluência
FLUÊNCIA DIGITAL
possibilita não só o uso, mas também a criação e produção de
conteúdos/materiais.

Para Piaget, autonomia significa ser governado por si mesmo. É o oposto de


AUTONOMIA
heteronomia, que significa que uma pessoa é governada por outra.

Está baseada na abstração para refletir e analisar criticamente situações,


REFLEXÃO
atividades e modos de agir.

Relaciona-se com a ordenação, estruturação e sistematização de


ORGANIZAÇÃO
atividades, materiais e grupos.

Está fundamentada na clareza e na objetividade da expressão oral, gestual


COMUNICAÇÃO
e escrita.

É pautada no cumprimento da agenda, conciliar atividades de


ADMINISTRAÇÃO
compromissos para a gestão das atividades, atingindo as prioridades, metas
DO TEMPO
e objetivos.

O trabalho em equipe contempla as relações intra e interpessoal, as quais


permitem ao sujeito expressar e comunicar, de modo adequado, seus
sentimentos, desejos, opiniões e expectativas. Além disso, evidencia
condutas interpessoais, destreza para interagir com outras pessoas de
TRABALHO EM forma socialmente aceitável e valorizada, podendo, assim, trazer benefícios
EQUIPE aos participantes nos momentos de interação. Esses elementos podem,
ainda, ser complementados sob a ótica afetiva, isso porque a complexidade
das relações sociais também requer a capacidade de perceber e fazer
distinções no humor, nas intenções, nas motivações e nos sentimentos de
outras pessoas.

Estabelece as condições para manter a motivação entre pares e consigo


mesmo, sendo um facilitador dos processos. Da mesma forma, ser capaz de
MOTIVAÇÃO acolher as dificuldades do outro, incentivando-o a permanecer e concluir
uma atividade, sendo ativo e participativo. Ser capaz de lidar com as
próprias dificuldades.

Baseado no estabelecimento de prioridades, metas e objetivos. Em


PLANEJAMENTO educação, consideram-se também as condições necessárias para criar
situações e aplicar estratégias de aprendizagem.

É fundamentada na empatia, na mediação pedagógica, na facilitação nos


RELACIONAMENTO processos de ensino e de aprendizagem, na cooperação, na transparência,
INTERPESSOAL no foco ao ser humano, além de adequado relacionamento com os
parceiros.
Condições para incentivar e mobilizar as trocas entre os alunos, organizar
grupos, orientar ações, problematizar posicionamentos e entendimentos
MEDIAÇÃO
sobre o conteúdo em questão, administrar conflitos, realizar negociações,
PEDAGÓGICA
tendo por objetivo aproximar os alunos do conteúdo de forma ativa e
coletiva, visando a construção de conhecimentos.

Leitura e compreensão da(s) ação(ões) ou da(s) mensagem(ns) emitida(s)


por outro, dando retorno ao emissor de forma respeitosa e adequada ao
contexto da ação ou mensagem, como também compreender e aceitar o
retorno de outro sobre sua(s) ação(ões) ou mensagem(ns). No caso do
contexto educacional, trata-se da leitura e compreensão do trabalho do
DAR E RECEBER
aluno apresentado presencialmente ou a distância, de postagens de
FEEDBACK
mensagens nas ferramentas de interação dos recursos digitais, entre outras
possibilidades, dando retorno de forma acolhedora e respeitosa diante do
processo de aprendizagem, bem como alunos, monitores/tutores e
professores, recebendo o feedback de modo a compreender e a aceitar o
retorno do outro sobre sua atuação.

Revela-se na ação dos professores. Considera-se como a reflexão


sistemática da prática pedagógica. Pressupõe a ação educativa em uma
DIDÁTICA sociedade historicamente determinada; capacidade de seleção e aplicação
de procedimentos, métodos, técnicas e recursos aos conteúdos, por meio
da determinação de objetivos e finalidades pedagógicas.

Refere-se ao planejamento, adequação, organização de várias etapas do


processo de desenvolvimento do curso:
a) pensar a transposição didática do projeto do curso,
disciplina/módulo e estratégias pedagógicas, conforme o modelo
didático;
b) produção do material didático e organização do ambiente virtual
GESTÃO
de aprendizagem;
ACADÊMICA
c) desenvolvimento da disciplina/módulo, acompanhamento e
avaliação do aluno;
d) elaboração de relatórios e realização de registros acadêmicos.
Paralelamente, envolve a parte logística como a realização de
aulas presenciais e webconferências, prazos e envio de materiais
aos polos de apoio presencial.
Fonte: SCHNEIDER; SILVA; BEHAR, 2013.

Em pesquisa realizada no contexto europeu, Langesee (2022) elencou nove


competências necessárias ao tutor que atua em contextos de aprendizagem on-line. Além de
definir as competências, estas foram organizadas numa escala de importância: “muito
importante”, “importante” e “bom ter” (tradução livre). No Quadro 2 as competências são
apresentadas, em ordem de importância.
Quadro 2 - Competências necessárias para os e-tutores, adaptado de Langesee (2022).

Grau de
importância Competência Definição Exemplos de atributos Exemplos de atividades
para o tutor
Muito Competência A competência comunicacional pode ser definida Habilidades de expressão oral e Responder a perguntas relacionadas ao
importante comunicacional como a habilidade e vontade de um indivíduo de escrita, atitude acolhedora, conteúdo, explicar tarefas, auxiliar no
participar responsavelmente em uma transação de reação a contribuições. tratamento de conflitos.
forma a maximizar o resultado do significado
compartilhado.
Muito Competência Em geral, esta competência descreve o conhecimento Conhecimento sobre ensino on- Responder a perguntas relacionadas com o
importante pedagógica da metodologia de ensino, psicologia pedagógica e line, educação a distância, conteúdo, apoiar a organização de
conhecimentos pedagógicos básicos. didática básica e princípios atividades de aprendizagem e dar feedback
pedagógicos. sobre o comportamento de aprendizagem
do indivíduo/grupo.
Muito Competência A competência social pode ser descrita como “eficácia Humanização do ambiente de Auxiliar em caso de problemas de
importante social na interação social”. É a capacidade de alcançar aprendizagem on-line, motivação compreensão/ambiguidades, dar feedback
objetivos pessoais na interação social enquanto e animação dos estudantes, sobre o progresso do trabalho e resultados
mantém simultaneamente relacionamentos positivos intervenção adequada. atuais, auxiliar no tratamento de conflitos.
com os outros ao longo do tempo e em diversas
situações.
Importante Competência A competência profissional pode ser descrita como o Conhecimento aprofundado da Responder a perguntas relacionadas ao
profissional grau em que o indivíduo pode usar o conhecimento, as matéria e do conteúdo, conteúdo, auxiliar em caso de problemas
habilidades e o julgamento associados à profissão para racionalidade pedagógica, com compreensão/ambiguidades, apoiar o
atuar efetivamente no domínio de sua prática conhecimento sobre recursos uso direcionado de diferentes ferramentas
profissional. adequados para ensino e para comunicação e colaboração
aprendizagem on-line. (funcionalidade, seleção, apoio a questões
técnicas).
Importante Competência Competência tecnológica refere-se à capacidade de Habilidades básicas de Apoiar a utilização orientada de diferentes
tecnológica acessar a tecnologia; entender e abordar criticamente informática, uso de software ferramentas de comunicação e colaboração
diferentes aspectos dos conteúdos e instituições específico, conhecimento sobre (funcionalidade, seleção, apoio a problemas
tecnológicas; criar comunicação em uma variedade de uma variedade de multimídias, técnicos), monitorar o cumprimento dos
contextos. vídeos, conferências de áudio, e prazos das tarefas, dar suporte a avaliações
habilidades de análise de dados. com base em instrumento especial.
Importante Competência A competência organizacional ou gerencial em um Capacidade de planejamento e Dar dicas de literatura, materiais extras,
organizacional contexto educacional pode ser definida como o desejo organização estratégica, técnicas de trabalho, métodos, apoiar a
e a vontade de gerenciar as atividades educacionais e estabelecimento de diretrizes, organização das atividades de
cognitivas dos estudantes profissionalmente, habilidades de gerenciamento de aprendizagem, monitorar o cumprimento
assegurando a conquista de resultados pedagógicos projetos e mudanças. dos prazos das tarefas.
pessoal e socialmente significativos.
Bom ter Competência Esta competência refere-se a traços profundamente Entusiasmado, amigável, Dar dicas de literatura, materiais extras,
individual pessoais. Por exemplo, um estilo de aprendizagem ou comprometido com um assunto. técnicas de trabalho, métodos, cuidar dos
o caráter mental pode ser considerado uma problemas de aprendizagem de
competência individual. indivíduos/grupos, dar feedback sobre o
progresso do trabalho e resultados atuais.
Bom ter Competência A competência intercultural é a capacidade de se Conhecimentos sobre Auxiliar no tratamento de conflitos.
intercultural comunicar de forma eficaz e apropriada em situações gerenciamento eficiente de
interculturais com base nos conhecimentos, grupos diversos.
habilidades e atitudes interculturais do outro.
Bom ter Competência Esta competência inclui o desenvolvimento, seleção e Monitorar o desempenho dos Apoiar a avaliação com base em um
avaliativa aplicação de métodos de coleta, análise e estudantes, corrigir, enviar notas. instrumento especial, dar feedback sobre o
interpretação de dados sobre as características dos comportamento de aprendizagem do
estudantes, como testes, entrevistas e observação. indivíduo/grupo.
Fonte: LANGESEE, 2022 (tradução livre).
5. Boas práticas de tutoria na EaD

Nesta seção, apresentamos resultados do artigo de Vlachopoulos e Makri (2019) que, a


partir de uma revisão da literatura, discutem elementos de boas práticas de EaD no contexto
do ensino superior. No artigo, os autores têm como foco estratégias para aprimorar a
comunicação e interação em ambientes virtuais de aprendizagem, considerados aspectos
cruciais para a qualidade desta modalidade de ensino.

Para Vlachopoulos e Makri (2019, p. 616), “interações significativas entre tutor e


estudantes devem ser uma prioridade para os tutores, de maneira a criar uma atmosfera
tranquila para os estudantes e cultivar relacionamentos saudáveis” (tradução livre).
Destacamos a seguir três práticas que, segundo os autores, visam melhorar essa interação:
feedback oportuno e imediato, participação e condução das discussões, e incentivo e apoio
contínuos.

Feedback oportuno e imediato

Vlachopoulos e Makri (2019) defendem que a chave para se estabelecerem interações


significativas e de qualidade entre tutor e estudantes está no feedback oportuno e imediato do
tutor. O feedback imediato em salas de aula on-line tem o potencial de reduzir a distância
social e psicológica típicas da EaD2. Mensagens instantâneas também podem melhorar a
qualidade das interações, tornando os tutores disponíveis para feedback imediato e
permitindo que os alunos façam perguntas adicionais com facilidade.

Resultados positivos têm sido alcançados quando os tutores dão respostas rápidas às
dúvidas dos estudantes, realizam esforços para se aproximar deles, fazem perguntas sobre seu
bem-estar e utilizam linguagem mais informal. Boas estratégias incluem acolher os estudantes,
encorajar e envolver aqueles com baixa participação.

É preciso destacar também que “o feedback fornecido pelos tutores deve se


concentrar em melhorar o desempenho do estudante e em aumentar suas habilidades
cognitivas, direcionando seus esforços de aprendizagem,
oferecendo suporte contínuo e discutindo seu progresso” Para saber mais
sobre este assunto,
(VLACHOPOULOS; MAKRI, 2019, p. 616, tradução livre). Assim, o
acesse o curso:
feedback pode ajudar os estudantes a identificarem lacunas no “Feedback formativo:
seu conhecimento e estimular novas estratégias de aspectos teóricos e boas
aprendizagem. práticas”.

2
Para mais informações sobre a teoria da distância transacional, consulte:
http://www.abed.org.br/revistacientifica/Revista_PDF_Doc/2002_Teoria_Distancia_Transacional_Micha
el_Moore.pdf.
Participação e condução das discussões

Considerando que a EaD pode levar os estudantes, por vezes, a sentimentos de solidão
e isolamento, Vlachopoulos e Makri (2019) destacam a importância da interação por meio dos
fóruns de discussão para ajudar os estudantes a se sentirem mais conectados. Discussões on-
line oferecem oportunidades para os estudantes compartilharem perguntas ou mensagens
relacionadas a atividades, compararem estratégias de aprendizagem ou até mesmo apoiarem
uns aos outros na realização de tarefas definidas. Também podem compartilhar mensagens de
natureza social não relacionadas às suas atividades de
aprendizagem. A participação e a condução do tutor nessas Para saber mais
discussões são consideradas fatores críticos para melhorar a sobre este assunto,
acesse o curso:
interação social dos estudantes com seus colegas e promover
“Estratégias de mediação
o fortalecimento de comunidades virtuais de aprendizagem. em fóruns de discussão on-
line”.

Incentivo e apoio contínuos

É tema recorrente na literatura a ideia de que “os tutores devem atuar como
facilitadores e mentores e trabalhar ativamente para criar um senso de comunidade em cursos
on-line” (VLACHOPOULOS; MAKRI, 2019, p. 617, tradução livre). Para isso, é importante que os
tutores construam conexões fortes com seus estudantes, por meio de diálogos frequentes,
feedback atencioso e oportuno, horário de atendimento virtual e moderação das discussões.
Também devem facilitar o trabalho em grupo, ajudando os estudantes a se conhecerem,
explicando funções e promovendo habilidades de equipe. A criação de um ambiente de
aprendizagem positivo e de apoio surge, assim, como tarefa essencial da tutoria.

6. Dicas dos tutores de EaD

Para finalizar este material, trazemos aqui algumas dicas de tutores experientes
direcionadas a educadores que pretendem atuar na tutoria de EaD, publicadas em Mill et al.
(2008). São elas:

• Convencer-se: antes de qualquer coisa, é extremamente importante


verificar se é exatamente esse tipo de trabalho que você deseja e saiba
que a grande dedicação precisa ser contínua no processo.
• Organizar-se: a EaD demanda muita organização pessoal, do tempo e
do trabalho a ser executado. É importante ter muita disciplina,
organização e responsabilidade, inclusive para respeitar os seus
próprios tempos e espaços de trabalho e descanso. A disciplina, o
planejamento e a execução do trabalho são processos obrigatórios
para você vencer as intenções pedagógicas propostas.
• Disciplinar-se: ritmo e periodicidade são as chaves para não acumular
trabalho. Não adie suas tarefas, divulgue seus horários de trabalho e
acesse o curso regularmente (uma vez por dia, se possível) — isso vai
fazer a diferença, pois, embora estranho, assim trabalhará menos: não
acumulará nada e seus alunos serão bem atendidos...
• Expressar-se: clareza na exposição de ideias é imprescindível. Busque
melhorar a redação (correção gramatical, ortográfica, estrutura do
texto etc.; revisite a gramática e livros de redação) e aprenda a ter
objetividade nas suas explicações e/ou orientações.
• Compartilhar-se: tenha paciência com alunos e colegas e cultive o
movimento de empatia (para entender o outro) e simpatia também. A
sinergia e a inteligência coletiva são pontos-chave: a partilha do
conhecimento, o trabalho em equipe e a pesquisa são condutas
necessárias para alcançar bons resultados.
• Dedicar-se: aperfeiçoamento profissional constante e disponibilidade.
Para além de teorias, repense sua formação didático-pedagógica... O
aluno do curso a distância (...) precisa de muita atenção. Dedicação e
rapidez nas respostas ao aluno evita evasão.
• Responsabilizar-se: não confundir EaD com trabalho fácil, pois não é: o
trabalho na EaD demanda muito tempo e, por isso, organização e
planejamento são importantes. Também importante é despir-se do
preconceito de que EaD não funciona... qualidade e seriedade
precisam estar sempre em alta.
• Cuidar-se: preparem os olhos, as mãos, pulsos e dedos, a coluna, o
espírito da esposa/marido e as alterações de humor. Reservar um
tempo para o lazer, não deixar que o trabalho tome todo seu tempo.
• Desafiar-se: aceitem o desafio! Trabalhem com dedicação e empenho.
Façam tudo que for possível para que os alunos não desistam do curso
nas primeiras duas semanas. Se conseguir mantê-los ativos nas duas
primeiras semanas, a probabilidade deste aluno concluir o curso com
êxito é muito maior (...) (MILL et al., 2008, p. 116-117).

7. Considerações finais

Foi objetivo deste material apresentar a origem da figura do tutor, desde seu
surgimento nas universidades europeias da Idade Média até chegar à modalidade de Educação
a Distância nos dias atuais. Nesse percurso, nota-se a importância da tutoria no processo de
acompanhamento personalizado dos estudantes ao longo do seu percurso formativo, com
destaque para sua função docente. As atribuições da tutoria de EaD passam por questões de
cunho pedagógico, comunicacional, organizacional e técnico, demandando deste profissional o
desenvolvimento de uma série de competências que o habilitam a bem desempenhar a função
de tutor. Após apresentar alguns elementos de boas práticas de tutoria na EaD, finalizamos
trazendo dicas de tutores experientes para quem deseja iniciar-se profissionalmente na
função.
Outros cursos abertos aqui do PoCA podem contribuir para sua formação em tutoria
na EaD. Confira!

✓ Feedback Formativo: aspectos teóricos e boas práticas


✓ Estratégias de mediação em fóruns de discussão on-line
✓ O sucesso acadêmico do estudante de EaD: autorregulação da aprendizagem em foco
✓ Docência em EaD: Introdução ao Moodle
✓ Docência em EaD: Desafios da avaliação

Referências

ARREDONDO, S. C.; GONZÁLEZ, J. A. T.; GONZÁLEZ, L. P. Formação de tutores: fundamentos


teóricos e práticos. Tradução de Sandra M. Dolinsky. Curitiba: Intersaberes, 2012.

BEHAR, P. A. et al. Competências: conceito, elementos e recursos de suporte, mobilização e


evolução. In: BEHAR, P. A. (Org.). Competências em educação a distância. Porto Alegre: Penso,
2013. p. 20-41.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação


Superior. Resolução nº 1, de 11 de março de 2016. Estabelece Diretrizes e Normas Nacionais
para a Oferta de Programas e Cursos de Educação Superior na Modalidade a Distância. Brasília,
2016. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=35541-res-
cne-ces-001-14032016-pdf&category_slug=marco-2016-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 01
ago. 2022.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Referenciais de qualidade


para educação superior a distância. Brasília, 2007. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf>. Acesso em: 01 ago.
2022.

CARNEIRO, M. L. F.; TURCHIELO, L. B. Quem é o tutor a distância? In: ________ (Org.).


Educação a distância e tutoria: considerações pedagógicas e práticas. Porto Alegre: Evangraf,
2013. p. 36-51.

LANGESEE, L. M. Future competencies and e-tutor competencies: a chance for higher


education institutions to support their student staff. International Journal of Management,
Knowledge and Learning, Celje (Eslovênia), v. 11, 297-314, 2022. Disponível em:
<https://toknowpress.net/submission/index.php/ijmkl/article/view/92>. Acesso em: 30 nov.
2022.
LÁZARO, A. M. La función tutorial en la formación docente. Revista Interuniversitária de
Formación del Profesorado. Zaragoza (Espanha), n. 28, p. 93-108, 1997. Disponível em:
<https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=117933>. Acesso em: 24 out. 2022.

MILL, D.; CESÁRIO, P. M. 2018. Tutoria virtual (verbete). In: MILL, D. (Org.). Dicionário crítico
de Educação e Tecnologias e de Educação a Distância. Campinas: Papirus, 2018. p. 662-665.

MILL, D. et al. O desafio de uma interação de qualidade na educação a distância: o tutor e sua
importância nesse processo. Cadernos da pedagogia, São Carlos, v. 2, n. 4, p. 112-127, 2008.
Disponível em:
<https://www.cadernosdapedagogia.ufscar.br/index.php/cp/article/view/106/63>. Acesso
em: 01 ago. 2022.

MILL, D. Sobre o conceito de polidocência ou sobre a natureza do processo de trabalho


pedagógico na Educação a Distância. In: MILL, D.; RIBEIRO, L. R. de C.; OLIVEIRA, M. R. G. de
(Org). Polidocência na educação a distância: múltiplos enfoques. São Carlos: EDUFSCar, 2010.
p. 23-40.

MILL, D. Tutoria na educação a distância (verbete). In: ________ (Org.). Dicionário crítico de
Educação e Tecnologias e de Educação a Distância. Campinas: Papirus, 2018. p. 656-659.

PRETI, O. O estado da arte sobre “tutoria”: modelos e teorias em construção. Cuiabá: UAB-
UFMT, 2003. Disponível em:
<https://setec.ufmt.br/uploads/files/pcientifica/tutoria_estado_arte.pdf>. Acesso em: 01 ago.
2022.

SCHNEIDER, D.; SILVA, K. K. A. de; BEHAR, P. A. Competências dos atores da educação a


distância. In: BEHAR, P. A. (Org.). Competências em educação a distância. Porto Alegre: Penso,
2013. p. 152-173.

VELOSO, B; MILL, D. Polo de apoio presencial (verbete). In: MILL, D. (Org.). Dicionário crítico de
Educação e Tecnologias e de Educação a Distância. Campinas: Papirus, 2018. p. 513-516.

VLACHOPOULOS, D.; MAKRI. A. Online communication and interaction in distance higher


education: a framework study of good practice. International Review of Education, Heidelberg
(Alemanha), n. 65, p. 605-632, 2019. Disponível em:
<https://link.springer.com/article/10.1007/s11159-019-09792-3>. Acesso em: 07 dez. 2022.
O material Docência em EaD: Formação introdutória
em tutoria de Ana Paula Rodrigues da Silva está
licenciado com uma Licença Creative Commons -
Atribuição-Compartilha Igual 4.0 Internacional.

Você também pode gostar