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A Vez do Gordo?

Desfazendo o Mito da Dieta


Jane Ogden
Tradução Laura Rumchinsky

Sumário

Agradecimentos
Introdução
1 Modelando a forma feminina: a dieta colocada em
perspectiva
2 Quem faz dieta?
3 Por que tantas mulheres fazem dieta?
4 O que faz quem está de dieta?
5 A indústria do emagrecimento
6 As dietas dão resultado?
7 Por que falham as dietas?
8 Os homens e as dietas
9 Por que continuar a fazer dieta?
10 Desistindo da dieta
Agradecimentos

Meus agradecimentos a Bernadette Duffy, Jackie Ganley,


David Marks, Andrew Lownie e a minha família por seus
valiosos comentários, críticas e sugestões sobre os primeiros
esboços deste trabalho. Também me sinto grata ao Dr. Tim
Roper, da Sussex University, por ter me incentivado a seguir
uma carreira de pesquisas, e à Dra. Jane Wardle, orientadora
de meu doutorado que levou à elaboração deste livro.
Agradeço igualmente a todos que se mostraram dispostos a
conversar longamente sobre comida, mulheres e dietas,
sempre que foi necessário. Registro também minha gratidão a
Robert por ter me apoiado financeira e emocionalmente
durante a feitura deste livro.
A todos os homens e mulheres que participaram de meus
vários estudos e que se prontificaram a falar de forma aberta e
honesta, meu reconhecimento.

Introdução

Com doze anos, eu e minhas amiguinhas nos divertíamos


brincando de "bloqueio", pique alto, pega-pega, queimado e
outros jogos próprios da idade; eu vestia as roupas que já não
serviam para minha irmã, comia tudo o que era colocado à
minha frente e sempre que sentia fome. Aos quatorze anos,
descobri os garotos! Eu costumava rodar pela loja de discos da
vizinhança na esperança de ver o mais recente objeto de
minha afeição, e obrigava minhas amigas a intermináveis
caminhadas em torno da escola, à caça de novidades.
De repente, todo mundo estava fazendo dieta. No café da
manhã, a habitual rosquinha dava lugar a uma maçã, o peixe
com ervilhas e batatas fritas do almoço eram substituídos por
um sanduíche de salada, parcimoniosamente untado com
margarina de baixo teor de calorias e nenhum sabor. Algumas
faziam dieta para imitar as irmãs mais velhas, outras se viam
forçadas pelo medo dos abusos da puberdade, e outras
simplesmente acompanhavam o grupo.
A comida passou a ter uma importância especial. Deixou de
ser algo para aplacar a fome, transformando-se em assunto
central, interesse e prazer.
Em casa, minha mãe sempre tinha as mais recentes revistas
sobre dietas e a última palavra em substitutos para refeições.
As revistas femininas traziam páginas e mais páginas com
dietas e listas de bons e maus alimentos. Lembro ainda de um
artigo que calculava quantos cogumelos crus ou cozidos
seriam necessários para chegar a 1000 calorias— quase 10
quilos!— com fotografias de montes de verduras e legumes
crus. Todo mundo parecia estar fazendo dieta; todo mundo
fazia contagem de calorias, controlava a balança e lia tudo o
que se publicava sobre o assunto.
E, no entanto, ninguém conseguia emagrecer. Apesar de
todo o empenho, ninguém na verdade perdia peso. Minhas
amigas passaram pela adolescência vendo quadris, coxas e
nádegas adquirindo formas femininas, e minha mãe
continuava com o mesmo peso de sempre.
O que na realidade estava acontecendo? O que estava errado?
Os livros de dietas dizem "coma menos e você perderá peso".
Todas elas pareciam estar comendo pouco, pelo menos
falavam e liam um bocado a respeito, porém sem nenhuma
diminuição no peso.
No curso de minha atividade como psicóloga de campo, tive
oportunidade de travar interessante conversa com uma
mulher de 40 anos, casada, com dois filhos, bastante atraente,
jovial e eternamente em dieta:
— Há quanto tempo você está em dieta?
— Acho que desde que tinha uns 20 anos, provavelmente...
então são vinte anos.
— Qual é o seu peso atual?
— Pouco mais que 66 quilos e meio.
— E quanto você gostaria de pesar?
— Uns 60 quilos.
— Quanto você pesava quando começou a dieta?
— Uns 60 quilos. — Ela mesma começou a rir. — Que me
importa?
Esta mulher passara os últimos vinte anos pensando em
dietas, tentando comer menos, comprando alimentos
especiais, deixando de sair para jantar e gastando uma fortuna
nas últimas novidades para emagrecer. Era uma mulher
normal; não obesa, nem mesmo muito acima do peso, apenas
um pouco mais gorda do que gostaria de ser. E era adepta de
dietas. Mas nunca na verdade conseguiu perder peso, pelo
contrário, havia até engordado mais de 6 quilos.
Perto de 90 por cento da população feminina faz dieta em
alguma época da vida. Muito poucas perdem peso e menos
ainda conseguem se manter magras. O que está acontecendo?
Por que tantas mulheres fazem dieta e, no entanto, não
emagrecem? Por que começam uma dieta e por que
continuam? O que há de tão especial em ser magra, e por que
tantas mulheres se sentem gordas?
É o que pretendo responder aqui.
Uma enorme quantidade de mitos envolve as pessoas que
fazem dieta e o seu comportamento. Nós acreditamos que as
pessoas gordas se alimentam diferentemente das magras, que
só os gordos fazem dieta e que esta é a única solução para a
gordura. Nós acreditamos que se alguém não consegue
resultado com uma dieta é porque não tem força de vontade,
e que tudo o que se tem a fazer é comer menos.
Estes são os mitos que me proponho desfazer.
As mulheres, na maioria, fazem dieta porque se sentem
gordas, e não por estarem com excesso de peso prejudicial à
saúde. É verdade que a gordura excessiva pode ter efeitos
negativos sobre a saúde. Mas a constatação de excesso de peso
também pode agir negativamente sobre a saúde, pois leva à
compulsão pela dieta. Tentar viver numa dieta constante pode
provocar depressão e sentimentos de rejeição, além de
diminuir a taxa metabólica. O problema está na dieta, e não
no peso.
É preciso avaliar bem o porquê da dieta.
A magreza está associada ao sucesso, à atração pessoal, à
sexualidade e ao auto-controle. Você faz dieta visando estes
objetivos? Neste caso, trate de encará-los diretamente, e não
tentando perder peso. Os magros não são mais felizes do que
seus semelhantes mais cheinhos, e nem têm maior controle
sobre suas vidas. Institutos e clínicas de emagrecimento
lucram com os sentimentos de inadaptação das mulheres e
promovem a noção de que a dieta as tornará mais magras e
mais satisfeitas com a vida.
Para a grande maioria das mulheres a dieta não dá resultados;
ela cria mais problemas do que os que resolve; a dieta e a
alimentação excessiva transformam-se num círculo vicioso.
Os adeptos da dieta nunca se livram dela, e se tornam
dependentes da indústria do emagrecimento.
Este livro se destina à mulher de compleição média, que é
levada a crer que está acima de seu peso. Ele não apresenta
nenhuma nova maneira de emagrecer, nem uma receita
mágica para se manter magra, mas questiona por que certas
mulheres, que todo mundo considera magras, querem
emagrecer ainda mais. O mundo das dietas é uma poderosa e
lucrativa indústria, e a maioria dos autores se exime de
questionar a verdadeira raiz de seu sucesso: a crença de que é
melhor ser magra e que, para isso, a única maneira é fazer
dieta. Este livro visa a desafiar estas crenças e demonstra que
elas são baseadas em mitos criados e perpetuados por essa
indústria que lhes tira proveito.
A compreensão da dieta nos libera dos sentimentos de culpa e
de auto-desaprovação que sempre estão presentes no mundo
dos que vivem tentando emagrecer. A análise psicológica
proporciona uma explicação compreensível para o fracasso
das dietas e exime de responsabilidade a fraqueza pessoal. Este
livro apresenta a quebra da dieta à luz dos muitos fatores
intrínsecos ao processo de emagrecimento. Se você não perde
peso, não é porque não tenha força de vontade, mas está
reagindo às muitas alterações que ocorrem em você ao tentar
emagrecer.
Abandonar a dieta é uma experiência gratificante, que abre as
portas para a renovação da autoconfiança, da auto-estima e da
aceitação, e nos libera da necessidade de nos censurarmos o
tempo todo pelo que somos, em comparação ao que
poderíamos ser num futuro ilusório.

Capítulo 1
Modelando a forma feminina

A dieta colocada em perspectiva

De acordo com antigos registros de que se tem notícia, e


desde que a história vem sendo escrita, o corpo feminino tem
sido visto como algo a ser controlado e dominado. Seja no
costume chinês de enfaixar os pés, na circuncisão feminina,
no uso de anquinhas e espartilhos, sempre se procurava uma
maneira de alterar o corpo feminino. Pés, busto, cintura,
coxas e nádegas já foram maiores ou menores, conforme a
moda de cada época. Recheios e enchimentos serviam para
aumentar, e faixas apertadas reduziam as formas. Nenhuma
parte do corpo feminino jamais foi aceita exatamente como
era.
As dietas de emagrecimento são o equivalente de nosso
tempo. Nós, mulheres, encaramos nosso corpo com olho
crítico, examinamos cada centímetro dele, desde o tamanho
do nariz até os pelos dos dedos dos pés, para julgar se ele é
aceitável. E hoje em dia a ordem é ser magra. Para se
entender essa obsessão com dietas que marca o final do século
XX, é preciso entender a história por trás da poderosa
necessidade de se modelar a forma feminina.
Temos uma compreensão básica dos termos masculino e
feminino. Homens e mulheres foram mudando ao longo dos
anos, as modas variaram e as condições econômicas se
alteraram, porém certos aspectos permanecem os mesmos: os
homens são maiores que as mulheres, são mais altos e mais
fortes, têm os pés maiores e a cintura mais larga. A
modelagem do corpo feminino freqüentemente se destinava a
acentuar essas diferenças.

O ENFAIXAMENTO DOS PÉS DAS CHINESAS

Um antigo provérbio chinês diz:

Se te importas com um filho, não descuides de seus estudos;


Se te importas com uma filha, não descuides de enfaixar seus
pés. (Tsai-fei lu)

As mulheres costumam ter os pés menores do que os homens.


E a tradição chinesa de enfaixar os pés acentuava essa
diferença. Aspecto importante da vida na China durante cerca
de mil anos, começou a desaparecer apenas no princípio deste
século, quando o Kuomintang promoveu a "liberação dos pés".
O processo

As meninas começavam a ter seus pés enfaixados em torno


dos sete anos de idade. O processo de mutilação era executado
pela própria mãe e por outras parentas próximas, que
enfaixavam cada pé de modo que o dedo maior ficasse virado
para cima e os outros dedos ficassem firmemente presos sob a
planta do pé. A menina era então posta para andar, apoiando
seu peso sobre o pé assim enfaixado; os ossos se quebravam e
o pé era reestruturado até assumir a forma da "curva do lótus".

O resultado

Depois de um processo sem dúvida torturante, a jovem


acabava com tocos recurvos e doloridos de cerca de oito
centímetros, ficando impossibilitada de correr, e tendo de
andar mancando ou até mesmo ser carregada.
Por que enfaixar os pés?
Na China, a mulher com os pés assim modelados tinha mais
facilidade para casar. As "curvas do lótus" eram encaradas
como objetos de desejo e sedução pelos homens, conforme um
deles se expressou:

O lótus tem características sedutoras especiais e constitui uma


forma de despertar o desejo. Quem poderia resistir à
fascinação e ao encantamento de ter nas mãos e acariciar algo
assim tão suave e delicado como o jade?
As curvas do lótus também simbolizavam obediência e a
certeza de que a esposa não teria condições de fugir. Os pés
transformados em tocos impediam que a mulher tivesse uma
vida independente sozinha, e representavam seu total
desamparo e sujeição ao poder masculino. Talvez o aspecto
mais interessante do costume seja que o trabalho era feito
pelas próprias mulheres. Tratava-se de uma tradição para
mulheres, executada por mulheres. Contudo, embora elas
próprias fossem as mutiladoras, o objetivo de tornar as outras
aceitáveis aos homens era um elemento essencial de
segurança econômica e posição social. As mulheres eram
preparadas para sofrer e para transmitir esse sofrimento
através de sua família como um sinal de que compreendiam e
respeitavam os ideais de beleza dos homens, sem falar do
próprio temor de não conseguir casamento.
No mundo ocidental, encaramos esse tipo de mutilação como
algo terrível e incompreensível para nossos padrões culturais.
Contudo, será ela tão diferente de nossas próprias tradições?

ESPARTILHOS

Mulheres têm a cintura mais fina que os homens. O espartilho


serve para enfatizar essa diferença.
O espartilho representou um papel muito importante no
mundo da moda feminina. Apesar de ser na aparência um
artigo familiar e inofensivo, possivelmente foi o responsável
por mais desmaios, mais costelas partidas e mais músculos
atrofiados do qualquer outra forma de controle do corpo.
A necessidade do espartilho se originou na idéia de que as
mulheres não eram suficientemente fortes para suportar seu
próprio peso. Acreditava-se que a cintura e a espinha dorsal
das mulheres eram fracas demais para agüentar os seios e o
estômago. Naturalmente, o espartilho tinha muitos outros
usos. Criava uma postura ereta, "régia", além de realçar a
cinturinha feminina. Com as variações da moda, o espartilho
servia também para aumentar ou diminuir o estômago, e para
arredondar ou achatar as nádegas. Com o espartilho, as
mulheres não tinham condições de se curvar e, portanto,
tinham que ser servidas e, constantemente sem fôlego,
necessitavam de um braço masculino para ampará-las. Na
realidade, o espartilho se destacava mais por provocar a
própria fraqueza a que se destinava compensar.
Eis a principal mensagem do espartilho: "Eu estou preparada
para mudar meu corpo e sofrer para me tornar
'matrimoniável'." Moldar o próprio corpo para criar a forma
ideal indica a aceitação do papel da mulher na sociedade e a
compreensão dos meios necessários para se tornar desejável.
Indica o reconhecimento da objetificação das mulheres e do
papel importante representado pela atração física na
determinação de sua identidade. Naturalmente, os homens
também podem usar artifícios equivalentes, porém homens
com espartilhos, sapatos de salto alto ou perucas são
ridicularizados. Conforme diz Susan Brownmiller em seu
livro Femininity (Feminilidade), eles:

Têm sido o assunto preferido dos humoristas, sob a teoria


masculina de que o homem de verdade não usa artifícios para
se tornar mais agradável (eles têm outros meios para provar
seu valor). Por outro lado, espera-se que a mulher dependa de
certos truques e sacrifícios para provar sua natureza feminina.

O espartilho representava a necessidade da mulher de ser o


objeto do desejo dos homens, que poderiam lhes proporcionar
a almejada aceitabilidade social.

A QUESTÃO DOS SEIOS

Os seios também foram sempre um assunto problemático.


Grandes, pequenos, caídos ou firmes, sua forma dependia dos
caprichos inconstantes do mundo da moda e dos apreciadores
masculinos. Não creio que qualquer outra parte do corpo
tenha merecido tanta atenção, tanta crítica e tanta fixação
obsessiva como o seio feminino.
O simbolismo dos seios é óbvio: eles representam a
sexualidade, a fertilidade e a maternidade. São também uma
lembrança sempre presente de que somos animais e
possuímos "úberes" como as vacas e glândulas mamárias como
todos os outros mamíferos. No entanto, a associação entre os
seios e sua função biológica é constantemente negada. Seios
grandes podem ser suspensos, ter os bicos realçados ou ser
achatados, ao passo que mulheres com pouco busto usam
enchimentos para aumentá-lo. Mas todas nós tememos o
destino biológico de nosso seios. Como diz Susan Brownmiller
em Femininity:
Todos já vimos na Revista Geográfica Nacional muitas fotos
de velhas encarquilhadas com tetas caídas e murchas, ou com
seios em forma de úbere pendendo tristemente até a cintura.
Nada sexy, nada agradável ou atraente. Apenas uma aguda
recordação da função da fêmea.
Desligamos nossos seios de sua função biológica e os elevamos
à condição de um acessório da moda. É ela que dita sua
aceitabilidade.
Na década de vinte, as mulheres apertavam seios com faixas
para criar o estilo melindrosa, pueril e de peito achatado Já
nos anos cinqüenta, Marilyn Monroe e Jane Russell
decretaram que seios pequenos não eram atraentes, e as
mulheres passaram a usar sutiãs acolchoados, com armações
de arame e que levantavam o busto, para tirar o máximo
daquilo que tivessem. Os anos setenta baniram os sutiãs, mas
apenas seios pequenos poderiam sobreviver sem eles, e a
década de oitenta trouxe de volta a moda dos seios fartos.
As mulheres ocidentais vêm cingindo suas cinturas e bustos
da mesma forma que as jovens chinesas tinham seus pés
enfaixados. As mulheres se submetem às idéias vigentes de
feminilidade para aumentar sua condição "matrimoniável" e
assim conseguir estabilidade econômica e social. Existem
diferenças físicas entre homens e mulheres, e estas aprendem
uma variedade de truques, mutilações e torturas para
enfatizar essas diferenças e, conseqüentemente, a sua
feminilidade. Se a feminilidade é definida como o oposto da
masculinidade, então ser mais diferente dos homens é ser
mais feminina.
LIBERDADE

Enfim chegou a liberdade. As mulheres trocaram seus


espartilhos por cintas elásticas e estas pela liberdade. Os sutiãs
tipo armadura foram substituídos por modelos mais leves e
confortáveis, que por sua vez deram lugar ao luxo de não se
usar sutiã. Permitia-se, e até se esperava, que as mulheres
liberassem seus corpos para voltar à sustentação natural de
carne e músculos. Maravilha! Afinal as mulheres podiam
aceitar seus corpos como eram.
E então surgiu o biquíni e, ao mesmo tempo, Twiggy foi
entusiasticamente lançada no cenário da moda. De repente,
ao se inaugurar uma era de controle e sustentação mais
naturais, somos avisadas de que não devemos ter nada para
controlar ou sustentar. Os biquínis não davam proteção ao
corpo; representavam uma liberdade somente acessível
àquelas sem nenhum centímetro de excesso. Twiggy não
tinha necessidade de usar sutiã ou espartilho; não havia nada
em seu corpo que precisasse ser apertado de um lado, só para
"sobrar" em outro ponto. Mas essa ausência de necessidade
não provinha de um desejo de liberação do corpo feminino,
mas tão somente do fato de ela não ter mesmo nada para
liberar. As mulheres poderiam dispensar o sutiã, quando e
enquanto seus seios assim o permitissem; e espartilhos ou
cintas estavam em desuso, contanto que não existisse nada
que precisasse ser disfarçado ou contido.
Durante séculos, barbatanas, látex, nylon e algodão foram
usados para transformar e corrigir qualquer aspecto do corpo
que estivesse fora do padrão. Mesmo no tempo das esguias
"melindrosas" da década de vinte, sutiãs e espartilhos eram
aceitos como forma de controlar a forma feminina. Hoje,
porém, estamos livres desses artifícios.
Agora só ternos nossa própria carne para controlar.
As mensagens são as mesmas. As formas de seios, nádegas,
coxas e barrigas devem se amoldar aos caprichos do mundo da
moda. Mas, para estar dentro do padrão, temos que mudar
nossos corpos.
Foi nesse ponto que a obsessão pelo emagrecimento colocou
sua ameaçadora cabeça de fora.
Os Vigilantes do Peso apareceram nos Estados Unidos em
1963 e chegaram à Inglaterra em 1967. O primeiro número da
revista Slimming (Emagrecer) saiu em 1969. A década de
sessenta representou o início da onda das dietas.

Capítulo 2
Quem faz dieta?

Os gordos comem de maneira diferente dos magros. Quem faz


dieta são os gordos, exatamente para tentar perder peso.
É isto o que sempre ouvimos dizer.

OS GORDOS COMEM DE MANEIRA DIFERENTE?

Quando vemos uma pessoa magra comendo uma barra de


chocolate, isto quase não nos chama a atenção, pois quem é
magro pode ingerir alimentos de alto teor calórico sem que os
outros realmente notem ou tirem conclusões quanto a seus
hábitos alimentares. Mas, se vemos um gordo fazendo a
mesma coisa, o fato muda totalmente de figura.
"Provavelmente não é o primeiro de hoje", "não é à toa que
está tão gordo" e "certas pessoas não conseguem se controlar"
são comentários que nos ocorrem. Presume-se que os gordos
são gordos porque se alimentam diferentemente dos magros,
que não controlam os alimentos que ingerem e que comem
em excesso.
Diversos estudos foram efetuados nas décadas de sessenta e
setenta para avaliar a força desses preconceitos contra os
gordos. Em 1969 Maddox e Liederman pediram a um grupo
de médicos e estudantes de medicina que classificassem seus
pacientes gordos segundo um conjunto de características
pessoais. Verificaram então que os gordos eram considerados
estúpidos por 97 por cento, malsucedidos por 90 por cento,
fracos por 90 por cento, preguiçosos por 86 por cento, pouco
agradáveis por 69 por cento, infelizes por 65 por cento, sem
força de vontade por 60 por cento, feios por 54 por cento e
desajeitados por 55 por cento. Em outro estudo em 1979,
Larkin e Pines concluíram que homens e mulheres gordos
tinham menos probabilidade de serem recomendados para um
emprego por colegas, mesmo que estes vissem que
executavam suas tarefas em igualdade de condições com os
magros.
Uma pesquisa também determinou a idade em que
começamos a ter tais preconceitos. Em 1969, o Dr. Lerner
mostrou desenhos de adultos de diferentes tamanhos a grupos
de crianças de 5 e 10 anos de idade; os adultos representados
eram magros, médios ou gordos. Solicitou-se então às crianças
que descrevessem que tipo de pessoa cada adulto seria. Os
adultos de tamanho médio foram associados a todas as
qualidades positivas, enquanto as negativas foram atribuídas
aos magros e aos gordos. Em outra experiência, pesquisadores
apresentaram às crianças cinco desenhos: uma criança
aleijada, uma criança com a face desfigurada, uma criança
com aparelho ortopédico e muletas, uma criança com o ante-
braço esquerdo amputado e uma criança obesa. Em seguida,
perguntou-se ao grupo "de qual menino(a) você gosta mais?"
Todos consideraram a criança obesa como a de que gostavam
menos. Os pesquisadores concluíram que essa opinião se
devia ao fato de a obesidade ser vista como culpa da própria
criança, e não como algo que causasse comiseração. Para as
crianças pesquisadas, a obesidade era o resultado de gula,
fraqueza e preguiça. Os adultos são bastante preconceituosos
com relação aos gordos, mas, ao que parece, as crianças não
lhes ficam atrás. Até que ponto estas crenças são baseadas em
fatos?
Em vista da crença de que pessoas com excesso de peso são de
certa forma diferentes das magras, a pesquisa tentou detectar
diferenças de personalidade entre os dois grupos. Os estudos
se voltaram para variações em depressão, neurose,
autocontrole e muitos outros traços da personalidade. Os
resultados indicam que, embora alguns gordos sejam
depressivos, outros sejam neuróticos ou possuam pouco
autocontrole, o mesmo acontece com os magros, não havendo
grandes diferenças entre cheinhos e fininhos. Normalmente
se acredita que o gordo tem uma personalidade "jovial", mas
também se diz que uma pessoa de peso tem que ser "jovial"
para compensar. A pesquisa indica que esse mito não tem
fundamento.
E o que mais acreditamos sobre os gordos?
Talvez o maior mito que cerca o assunto seja o de que os
gordos comem demais. A idéia da gordura suscita questões
sobre o que a provoca. A gordura se deve a fatores ambientais
ou é resultado da constituição genética de cada um?
Gordura vem de família. A probabilidade de uma criança ser
gorda tem relação direta com o peso de seus pais. Pais gordos
têm 40 por cento de probabilidade de ter filhos gordos,
enquanto a probabilidade de pais magros terem filhos gordos
é muito baixa, cerca de 7 por cento. Porém, pais e filhos
compartilham tanto o ambiente como a constituição genética
e a semelhança, portanto, poderia ser devida a qualquer um
desses fatores.
Casais que vivem juntos muito tempo tendem a engordar ou
emagrecer juntos. Seu ambiente, é semelhante, portanto seu
tamanho também passa a ser semelhante, sugerindo que os
fatores genéticos são secundários. No entanto, nos últimos
anos começaram a se avolumar as provas que apresentam a
genética como principal determinante do peso. Pesquisas
sobre gêmeos incluem a comparação dos pesos de gêmeos
idênticos, porém criados separados, portanto com os mesmos
genes mas em ambientes diversos. Os estudos também se
ocupam dos pesos de gêmeos fraternos criados juntos, com
genes diferentes, mas ambiente semelhante. Os resultados
indicam que gêmeos idênticos criados separados são mais
parecidos quanto ao peso do que os gêmeos fraternos criados
juntos. A genética parece ter um papel vital na determinação
do peso.
Mais convincentes ainda são os estudos feitos com crianças
adotadas, comparando seus pesos com os dos pais adotivos e
também os dos pais naturais. Stunkard, em 1986, detectou
uma clara relação entre o peso de crianças adotadas e o de
seus pais biológicos, e nenhuma conexão com o peso dos pais
adotivos.
Portanto, se a genética é um fator determinante, algumas
pessoas nascem para ser gordas e outras, para ser magras.
Contudo, o ambiente em que se vive também deve ter sua
influência. Qualquer que seja a constituição genética, é
preciso, para começar, que exista o alimento que permite o
ganho de peso, o que levanta a questão vital se os gordos são
gordos porque comem mais do que os magros.
A ingestão de alimentos pode ser medida ou em laboratório
ou com o emprego de métodos mais naturais. Uma das formas
de se fazer essa medida é usar um local de experiências
controlado. A pessoa é orientada a almoçar ou a tomar parte
numa experiência que, supostamente, não tem nada a ver com
alimentação, como, por exemplo, assistir a um filme, após o
que o pesquisador mede o que foi comido. O alimento pode
ser casualmente colocado perto da pessoa, ou então pode-se
pedir-lhe que classifique alguns petiscos com relação a sabor e
qualidade. Tais métodos demonstraram que não se justifica a
pressuposição de que os gordos comem mais que os magros.
Alguns gordos comem muito, mas há magros que também o
fazem. A quantidade ingerida parece ser determinada pelo
indivíduo, e não por seu peso.
Estes tipos de estudos envolvem numerosos problemas. Os
participantes são afetados pela esterilidade do ambiente e têm
consciência de estarem sob observação, o tempo todo. Testes
realizados de forma mais natural tentam superar tais
problemas.
Pesquisadores trataram de avaliar as quantidades ingeridas
tanto por gordos como por magros, empregando a técnica da
observação em bares, restaurantes e refeitórios, notando
quanto comem e verificando que tipo de alimento é preferido
por cada um. Pelo menos vinte estudos já foram publicados a
partir desse tipo de observação, revelando que não existem
diferenças nítidas entre os hábitos alimentares de gordos e
magros, nem qualquer distinção quanto ao tipo de comida que
preferem. Ao que parece, tanto os magrelos como os
gordinhos gostam de doces, de alimentos ricos em calorias, e
ambos comem nas mesmas quantidades.
Pode-se argumentar, porém, que na privacidade de suas casas
os gordos comem mais que os magros. Em 1978, Coates e
colaboradores efetuaram um teste que consistiu em visitas às
casas de sessenta famílias de classe média, para examinar o
que havia em suas despensas. Todos os membros das famílias
foram pesados e chegou-se à conclusão de que não havia
relação entre o tipo físico dos moradores e a quantidade de
comida comprada. O fato de alguém ser mais gordo não
significa que coma mais em casa.
E comum esperar-se que o carrinho de compras de um gordo
esteja cheio de doces, guloseimas e biscoitos. Acredita-se que
o gordo sempre pedirá um prato de alto teor calórico num
restaurante e que é assim gordo porque se entope de
chocolate. Os estudos indicam que estes são apenas alguns dos
muitos mitos que cercam os gordos. É claro que eles comem
chocolate, mas os magros também comem. Todos nós
conhecemos alguém do tipo "saco sem fundo", que come até
mais não poder. Pessoas gordas não comem mais, ou
diferentemente, do que as magras; apenas, têm uma
predisposição para assimilar a comida de forma diferente,
acumulando-a como gordura.
Então, de onde vem esse mito?
No início de nosso século, gordura era sinal de saúde e
magreza era indício de desnutrição. Ser gordo significava ter
dinheiro suficiente para comprar comida, enquanto a magreza
revelava falta de dinheiro. Hoje em dia, no mundo ocidental
[ao menos nos países mais ricos], é de se supor que todos
tenham acesso à alimentação em quantidades adequadas.
Portanto, para explicar os diferentes tipos físicos, cada um é
visto como diretamente relacionado à quantidade de alimento
que ingere.
Esta crença é que faz prosperar a indústria das dietas. O livro
Complete Hip and Thigh Diet (Dieta completa para quadris
e coxas), de Rosemary Conley, já vendeu um milhão de
exemplares até agora. Ele propõe uma forma de acabar com as
"gordurinhas que as outras dietas deixam ficar". E associa a
gordura ao excesso de comida; na página 25, por exemplo, a
autora diz: "Creio que comer demais é a maior causa do
excesso de peso". As indicações que temos mostram que não é
bem assim. Comer demais não é exclusividade dos gordos,
alguns magros também o fazem. O excesso de peso parece ser
provocado pela constituição genética de cada um, e não pela
superalimentação. Naturalmente, para engordar é preciso
comer, mas não é preciso comer demais.
Rosemary Conley também descreve com detalhes o tipo de
alimentos que, em sua opinião, as pessoas com excesso de peso
devem ter comido:

Muitos alimentos gordurosos e doces, que são positivamente


recheados de calorias — pão com uma grossa camada de
manteiga, frituras em abundância, tortas de creme, biscoitos,
chocolates, batatas fritas e assim por diante. O tipo de comida
que os gordinhos adoram (p. 65).

Será que as pessoas com excesso de peso adoram mesmo tudo


isso? Algumas provavelmente sim, mas também há magros
que apreciam esse tipo de alimentação. Presume-se que os
gordos comem mais e de forma diferente que os magros, e que
esta é a razão de serem gordos.
Judy Mazel, em seu livro A dieta de Beverly Hills (1980),
diz:

É essencial que você exerça controle ao comer certas


combinações. Não se deixe levar pelo coração. Coma como
um ser humano, não como uma pessoa gorda.

Ela acredita que as pessoas gordas comem de forma diferente


das magras, sugere que elas não têm controle, e que comem
por motivos emocionais e não por fome.
O livro Fat is a Feminist Issue (A gordura é uma questão
feminista), de Susie Orbach, causou uma revolução na atitude
das mulheres a respeito de alimentação e peso. Ele trouxe à
tona certos problemas alimentares e estabeleceu uma base
para discussão. Contudo, Susie Orbach também associa o peso
diretamente a algum problema psicológico subjacente, ao
afirmar:

A gordura não se deve a falta de auto-controle ou de força de


vontade. A gordura tem a ver com proteção, educação sexual,
carinho materno, força e afirmação. A gordura é uma doença
social (p. 28).

Também ela acredita que a gordura é sinal de algum problema


relacionado a comida. A autora diz que a gordura é uma
doença, pois crê que as pessoas engordam como resposta às
pressões sociais e pela necessidade de se protegerem do
mundo exterior. Rosemary Conley julga que a gordura se
deve a comida em excesso, enquanto que Susie Orbach
considera que comemos demais para criar uma barreira entre
nós e o mundo.
Por que a gordura tem que estar ligada a algo além do simples
fato de se ser gordo? Por que tem que ser indicativo de algum
problema psicológico? E o que há de errado em pensar que
alguém é gordo porque nasceu com essa predisposição?
Algumas pessoas gordas têm problemas alimentares, algumas
têm outros problemas psicológicos, mas não todas, e não mais
do que ocorre com as magras. Ser gordo é estar acima do peso
médio. Se sua altura está acima da média, isto também
constitui um problema? E se o tamanho de seus pés é acima da
média (uma questão pessoal), será que existem razões
psicológicas ocultas?
Conforme declarou em 1987 o especialista em obesidade, Dr.
Kelly Brownell:

O reconhecimento da importância da genética ampliou a


visão da sociedade com relação à obesidade, de modo que não
se pode mais invocar problemas psicológicos simplesmente
porque um indivíduo tem excesso de peso.

Segundo ele, chegamos ao ponto em que o tamanho e o tipo


são entendidos em termos de predisposição genética, e não em
termos de problema alimentar. Todavia, essa visão otimista
ainda é um tanto prematura. A noção de que o biotipo é
determinado pela genética vem ganhando terreno, porém
ainda é mais forte a idéia de que a gordura é sinal de algum
problema latente. A questão do peso passou a ter um
significado especial, que lhe foi atribuído e vem sendo
perpetuado por uma indústria crescente.
Por que, então, a indústria do emagrecimento promove este
mito? Se o seu peso não significa nada, a não ser que você está
com alguns quilos a mais, então você não precisa de ajuda.
Mas se o seu peso é sinal de que você tem um problema de
alimentação, neste caso você se coloca automaticamente
numa posição que requer uma assistência; você passa a ser
definido como inadaptado ou sem controle e, portanto, cria-se
uma brecha para que alguém lhe preste essa ajuda. E onde
entra a indústria do emagrecimento; ela oferece ajuda aos
"gordos que não conseguem se ajudar a si próprios". A
indústria do emagrecimento precisa vender a idéia de que
gordura é sinal de algum problema, para que ela possa se
ocupar de sua solução. Um problema, por sinal, que ela
própria inventou.

POR QUE CERTAS PESSOAS SÃO GORDAS?

Qual o motivo de certas pessoas serem gordas? Se elas não


comem mais do que as magras, ou de forma diferente delas, e
se a obesidade pode ser explicada por sua constituição
genética, como se manifesta essa tendência genética? Os
estudos sobre os efeitos da predisposição genética para
obesidade analisaram a taxa metabólica assim como o número
de células adiposas de cada indivíduo. Essas duas perspectivas
lançam alguma luz sobre o problema, porém nenhuma delas
traz qualquer conclusão bem definida.

A teoria da taxa metabólica

Nosso corpo utiliza energia para exercícios e atividades físicas,


mas também para executar todos os processos químicos e
biológicos essenciais à vida. O consumo dessa energia é
conhecido como taxa metabólica; esta, na opinião de alguns,
seria menor nos obesos do que em indivíduos com peso
normal. Pessoas com taxas metabólicas menores queimam
menos calorias quando em repouso e, portanto, necessitam de
menor quantidade de alimento para sua subsistência.
Uma pesquisa recente nos Estados Unidos estudou a ligação
entre a taxa metabólica e o aumento de peso. Um grupo de
cientistas em Phoenix efetuou testes metabólicos com 126
índios Pima, que constituíam um campo interessante por
apresentarem uma excepcional incidência de obesidade —
cerca de 80 a 85 por cento. Durante quarenta minutos os 126
índios permaneceram em repouso e tiveram sua respiração
monitorada, sendo medidos os níveis de oxigênio consumido
e de dióxido de carbono produzido. Nos quatro anos
seguintes, os pesquisadores acompanharam qualquer alteração
no peso e na taxa metabólica desses indivíduos, e descobriram
que aqueles que tiveram um substancial aumento de peso
eram exatamente os que apresentaram as menores taxas
metabólicas no início do estudo. Em outro estudo, noventa e
cinco pessoas foram colocadas numa câmara respiratória
durante vinte e quatro horas, tendo sido medida a quantidade
de energia consumida; este grupo foi avaliado dois anos
depois, e os pesquisadores verificaram que os que
originalmente haviam apresentado um baixo nível de
consumo de energia, tinham quatro vezes mais probabilidade
de apresentar também um substancial aumento de peso.
Os resultados acima parecem sugerir que existe uma ligação
entre a taxa metabólica e a tendência para engordar. Neste
caso, é possível que certos indivíduos sejam predispostos à
obesidade pelo fato de dependerem de menos calorias para
sua sobrevivência do que os mais magros. No entanto, bem ao
contrário do que se possa supor, não existe nenhuma prova a
indicar que os obesos em geral tenham taxas metabólicas mais
baixas do que os magros. Na verdade, as pesquisas sugerem
que os gordos tendem a apresentar taxas metabólicas
ligeiramente mais altas do que os magros de altura
equivalente. Qual é o significado dessas conclusões
contraditórias? Um fato interessante, que talvez sirva de
explicação para esses resultados, é que o aumento de peso
pode na realidade causar uma elevação da taxa metabólica.
Com efeito, no estudo descrito acima, os índios Pima que
engordaram também apresentaram um aumento em sua taxa
metabólica, a ponto de esta se igualar à dos outros índios do
grupo de teste, cujas taxas já se mostravam mais altas no
início. É possível que indivíduos com metabolismo mais lento
tenham tendência para engordar, mas que, ao ganhar peso,
tenham a taxa metabólica aumentada, de modo a alcançar a
de outros não propensos à obesidade. Portanto, a explicação
para essa equivalência nas taxas metabólicas de gordos e
magros talvez seja que o aumento de peso provoque um
aumento correspondente no metabolismo. Contudo, este fato
ainda não foi demonstrado pelas pesquisas.

Teoria das células adiposas

Outra teoria proposta para explicar as diferenças na


constituição das pessoas sugeria que os obesos teriam maior
quantidade de células de gordura do que os outros. O número
dessas células é, em grande parte, determinado por fatores
genéticos. Porém, quando o número existente já foi ocupado,
formam-se novas células adiposas a partir de "pré-adipócitos"
preexistentes. A maior parte desse crescimento da quantidade
de células ocorre durante a gestação e na primeira infância,
permanecendo estável ao se alcançar a idade adulta. Seria o
caso de se supor que um bebê superalimentado venha a se
tornar obeso quando crescer, mas as pesquisas parecem
indicar que isto não ocorre. Os resultados dos estudos nesse
campo não são ainda muito claros, mas, ao que parece, se um
indivíduo nasce com maior número de células adiposas, então
elas se encontram imediatamente disponíveis para serem
ocupadas. É possível que a tendência genética à obesidade se
manifeste num maior número de células adiposas, que são
facilmente ocupadas pela gordura. Um ponto, contudo, já está
definido pelas pesquisas nessa área: uma vez formadas, as
células adiposas não desaparecerão nunca. Uma pessoa obesa,
com um grande número de células adiposas, pode conseguir
esvaziá-las, mas nunca se verá livre delas.
Ouvimos dizer, e acreditamos, que os gordos têm um
problema e comem mais que os magros e de forma diferente
deles. A indústria do emagrecimento faz a promoção desse
problema, para depois oferecer-se para solucioná-lo. As
pesquisas indicam que os obesos são geneticamente
predispostos a engordar e que seu peso não é o resultado de
excesso de comida. No entanto, ainda não está bem claro
como esta tendência genética se manifesta.

QUEM FAZ DIETA É GORDO?

Suponha que você tem um jantar na casa de um amigo. Você


chega e a esposa dele ainda está terminando de se arrumar.
Passando os olhos pela biblioteca, você nota uma variedade de
livros de dietas. Não conhecendo a mulher de seu amigo, fica
a imaginar seu tipo e, provavelmente, espera que apareça uma
gordinha.
Nós acreditamos que "as pessoas fazem dieta porque estão
gordas". Será que isto é verdade? Os que fazem dieta serão
mais gordos do que os que não fazem?
Para começar, é difícil definir o que é ser gordo.
Considerando os dados que temos no momento (ver Capítulo
3), as pesquisas indicam que pessoas de todos os tipos e
tamanhos fazem dieta. Algumas são gordas, outras magras.
Alguns gordos são perfeitamente felizes com seu peso e não
fazem dieta, ao passo que outras pessoas, que ninguém
julgaria terem problema de peso, se consideram gordas e
querem emagrecer. Os adeptos das dietas têm um ponto em
comum: pensam que são gordos e tentam perder peso. Vêem a
si próprios como mais gordos do que gostariam de ser. Seu
tamanho real não vem ao caso; o que os leva a fazer dieta é o
seu tamanho percebido.
Qual seria a origem desse mito?
"Se você se sente gordo, seu corpo está tentando lhe dar um
aviso: emagreça", são as primeiras palavras do Dr. Barry
Lynch em seu livro The BBC Diet (A dieta BBC). Ele
presume que se você acha que está acima do peso, então deve
estar mesmo. As mulheres, em sua maioria, se sentem gordas,
mas não o são na verdade. As que sofrem de anorexia com
toda certeza se sentem gordas, mas seguramente não são. O
Dr. Lynch comete o erro característico da indústria do
emagrecimento.
Imagine-se acordando pela manhã já se sentindo farta. É um
dia especial e você quer estar com a melhor aparência
possível; no entanto, nada do que você experimenta parece
cair bem. Você então desabafa com quem esteja à seu lado:
"Estou me sentindo horrível hoje", e recebe como resposta:
"Você está horrível; já pensou em fazer uma plástica?" É isto o
que autores como o Dr. Lynch fazem; captam os sentimentos
de autocensura e autocrítica das pessoas e os tratam como
fatos reais. Você se acha feia, então é feia, você se acha gorda,
então é gorda.
O que há de errado em perguntar-se "por que estou me
sentindo gorda? Talvez possa me livrar desse sentimento."
No capítulo "Um país de gordinhos" de seu livro, o Dr. Barry
Lynch escreve: "Um terço da população faz uso regular de um
ou mais produtos para emagrecer. Parece que a norma neste
país é o excesso de peso." Por que os consumidores de
produtos para emagrecer estão acima do peso? Por que todas
as mulheres que compram alimentos pobres em calorias e
revistas que trazem dietas têm que ser gordas? Algumas delas
provavelmente o são, mas muitas outras provavelmente
apenas se sentem gordas e não estão satisfeitas com seus
corpos. Talvez algumas comprem as revistas por causa das
receitas ou pelos casos interessantes que relatam. Quem faz
dieta não está necessariamente acima do peso, e a análise da
clientela que sustenta a indústria do emagrecimento não dá
uma idéia de quem realmente precisa perder alguns quilos. Os
anoréxicos costumam comprar todos os emagrecedores que
aparecem no mercado, lêem todas as revistas especializadas,
mas não são um ilustrativo de que todos os que gastam seu
dinheiro nessa indústria são gordos.
A indústria das dietas oferece seus serviços para os que
querem emagrecer. Ela é usada por mulheres que se acham
gordas, mas age como se essas mulheres realmente fossem
gordas. As revistas não tentam "fazer com que você não se
sinta gorda", elas oferecem várias formas para "fazer com que
você deixe de ser gorda". Mulheres de todos os tipos e formas
compram produtos para emagrecer que se propõem "fazê-las
mais magras" e não "fazê-las se sentirem mais magras". O
problema da maioria dos que fazem dieta é que eles se sentem
gordos, e não que são gordos, mas a indústria das dietas não
faz essa distinção. Portanto, acreditamos que os que fazem
dieta são gordos, e estes vêem reforçada a idéia que fazem de
si mesmos.
Somos brindados com uma enorme quantidade de mitos sobre
dietas, que são aceitos como fatos. É só olhar em torno e
examinar nossas reações com relação aos diversos tipos de
pessoas, para ficar claro que acreditamos que os gordos
comem de maneira diferente dos magros e que os que fazem
dieta são gordos.
Ao que parece, a coisa não é bem assim.

Capítulo 3
Por que tantas mulheres fazem dieta?

Quase 90 por cento das mulheres tentam perder peso por


meio de dietas. Por que tantas mulheres desejam ficar magras?
O que há de tão bom em ser magra? E por que as dietas foram
apresentadas como a solução para o problema da gordura?
A magreza nos faz mais saudáveis e mais atraentes. É o que
sempre ouvimos dizer. Será isso verdade e será que o esforço
para emagrecer é algo tão simples?
SAÚDE E MAGREZA

As mulheres fazem dieta porque ouvem dizer e acreditam que


o excesso de peso não é saudável. O que de fato constitui
excesso de peso e quanto de excesso é preciso para representar
risco à saúde são perguntas que não têm respostas tão simples
como somos levados a crer.
A medicina tem investido muito tempo e energia na
investigação dos efeitos negativos do excesso de peso e da
obesidade sobre a saúde. A motivação supostamente vem da
sua preocupação com o bem-estar dos indivíduos afetados,
contudo muitas vezes parece refletir as noções da sociedade
sobre estética e boa aparência.
Considera-se excesso de peso quando o indivíduo está acima
do peso ideal para sua altura e tipo físico. Tais ideais são
medidos de acordo com tabelas de peso-altura desenvolvidas
por companhias de seguros de vida e suas estimativas de
expectativa de vida. As tabelas mais comumente utilizadas são
as projetadas pela Metropolitan Life Insurance Company
dos Estados Unidos, que analisou a longevidade e o peso dos
portadores de suas apólices. Embora apresentem uma idéia
aproximada do que possa ser considerado saudável, são
baseadas nas médias de um grande grupo de pessoas, e não
levam em conta o tipo de vida de cada um, as porcentagens de
gordura versus músculos, a época em que se deu o aumento
de peso, história familiar e constituição. As tabelas não
determinam exatamente quanto cada indivíduo deve pesar,
contudo são freqüentemente consultadas por médicos e
usadas para apoiar suas próprias preferências pessoais quanto
ao peso corporal.
Para dar uma idéia mais aproximada da relação entre saúde e
peso, em 1985 um painel de especialistas do Instituto
Nacional de Saúde nos Estados Unidos decidiu que um peso
de 20 por cento acima da média constitui risco para a saúde, e
que um excesso de 40 por cento passa a ser um grave risco. No
entanto, a massa corporal não é a única indicação de excesso
de peso. Uma pessoa obesa acumula muita gordura em seu
corpo; já um cultor da forma física pode ter o mesmo peso
com muito menos gordura.
Pelo que se vê, a gordura é difícil de ser medida, e a relação
entre peso e saúde é complexa; e, considerando-se que já é
bastante difícil determinar a quantidade de gordura que seria
aceitável, avaliar os riscos à .saúde é ainda mais problemático.
Aceitando-se estes problemas por enquanto, quais são os
riscos previstos? As pesquisas sugerem uma associação entre o
excesso de peso ou a obesidade e uma série de problemas de
saúde.

Hipertensão

As pesquisas indicam que pessoas com excesso de peso têm 2,9


mais probabilidades de ter pressão alta. A hipertensão não
tratada aumenta os riscos de ataques cardíacos, derrames e
problemas renais.
Diabetes

Pessoas com excesso de peso têm mais probabilidades de


desenvolver diabetes do que as com peso normal.

Moléstias nas artérias coronárias

A obesidade pode causar o estreitamento das artérias,


provocando ataques cardíacos e outros problemas correlatos.

Existem vários outros problemas que costumam ser associados


à obesidade, como problemas nas articulações, complicações
na gravidez, e até morte!
É preciso assinalar que não é tão simples assim identificar as
associações entre peso e saúde. Em primeiro lugar, o excesso
de peso não provoca necessariamente tais problemas e pode
estar simplesmente refletindo outros problemas subjacentes,
como falta de exercícios e alimentação pobre. Em segundo
lugar, pessoas magras também estão sujeitas a tais distúrbios e,
finalmente, mas talvez mais importante, algumas pessoas com
excesso de peso fazem dieta e, como veremos com detalhes
mais adiante, esta talvez seja, dentre todas, a ameaça mais
perigosa à saúde e ao bem-estar.
No entanto, já tendo provavelmente conseguido atemorizá-
los com os horrores do excesso de peso e da obesidade, há
uma estatística final que é muito importante apresentar neste
ponto. Cerca de 16 por cento da população feminina é obesa.
Mas, aproximadamente 90 por cento das mulheres britânicas
fazem dieta em alguma fase de suas vidas. Por que todas essas
mulheres estão tentando perder peso? Obviamente, algumas
delas o fazem por motivos de saúde, algumas pelo que
acreditam ser motivos de saúde, mas o restante se inspira em
algo diferente. O que será?

MAGREZA E ATRAÇÃO

Uma das mais óbvias motivações para se fazer dieta é a


vontade de emagrecer e ser atraente. Judy Mazel, em seu livro
A dieta de Beverly Hills, sugere que se alguém comentar
"Você está emagrecendo demais", você deve agradecer. A
ordem é emagrecer, e quanto mais, melhor.
Qualquer um que já tenha visitado grandes museus
internacionais, e que tenha admirado os tetos de catedrais e
capelas, conhece o tipo de mulheres grandes e roliças
preferidas pelos homens dos séculos XVII, XVIII e XIX. A
gordura era encarada como sinal de prosperidade, de
alimentação farta, e era também o estado ideal da sexualidade
feminina. As mulheres nascem para ter coxas, quadris, seios, e
as formas roliças eram indicação de fertilidade e beleza. Hoje
em dia, num contraste total, a sociedade nos apresenta um
modelo cada vez mais magro e cada vez menos feminino.
Revistas, televisão, filmes e publicidade estão sempre a repetir
que nós, mulheres, devemos ser magras, e que quando
conseguirmos isso nos tornaremos atraentes para o sexo
oposto. Os meios de comunicação não nos dizem apenas que
devemos ser magras, mas o próprio conceito de magreza
parece estar diminuindo com o tempo. Um estudo efetuado
no Canadá analisou os pesos das concorrentes ao concurso de
Miss América entre os anos de 1959 e 1978, chegando à
conclusão de que, enquanto o peso médio da mulher
americana de até 30 anos de idade aumentou em cerca de 140
gramas por ano, o peso das concorrentes diminuiu quase que
exatamente na mesma medida. Na Inglaterra, uma pesquisa
publicada em 1989 examinou as características físicas da
equipe feminina de uma agência londrina que indicava
modelos para revistas como Vogue, Cosmopolitan e
Woman's Own. Os pesquisadores verificaram as variações
nas medidas de altura, busto, cintura e quadris das modelos, e
concluíram que no período de 1967 a 1987 elas foram ficando
progressivamente mais altas, sendo que as medidas de busto e
quadris foram diminuindo com relação à cintura, produzindo
uma forma mais andrógina.
Se as formas e tamanhos apresentados pelos meios de
comunicação ilustram o que se entende por magreza, então,
por definição, quase todas as mulheres estão acima do peso. A
motivação para emagrecer não é exclusiva das que têm
excesso de peso, mas é comum entre as que se imaginam com
alguns quilos a mais. Não podemos ter sempre 16 anos, nem
ter o corpo de uma modelo de 16 anos, portanto, se
aceitarmos as mensagens que nos são enviadas, todas
deveríamos querer emagrecer e, ao que parece, 90 por cento
de nós estão nesse caso.
Em vista da discrepância entre nossos corpos e o corpo ideal,
as mulheres apresentam uma considerável dose de
insatisfação com suas formas. Elas tendem a transmitir uma
espécie de repulsa por certas partes de seu corpo, mais
freqüentemente as coxas, os quadris e as nádegas. No curso de
meu trabalho de pesquisa sobre a questão das dietas, muitas
vezes ouvi mulheres com peso normal dizendo "se ao menos
eu pudesse cortar um pouquinho só das minhas coxas" ou
"seria maravilhoso tirar uma fatia de minhas nádegas".
Esta auto-depreciação é reforçada pela linguagem empregada
na indústria do emagrecimento. Expressões como "pneus",
"culotes", "coxas de elefante" e "traseiro enorme" são usadas
para descrever o que não deveria existir no corpo. As palavras
demonstram a revolta e o ódio dirigidos ao corpo feminino e
como vemos nosso próprio corpo como inimigo e algo
repelente. Este ódio nos leva a desenvolver nossa auto-
depreciação e perpetua a necessidade de nos vermos livres de
tais aberrações. A indústria do emagrecimento não entende
que, quando alguém diz "coxas de elefante", está refletindo
como vê as próprias coxas, e não o seu tamanho real. A
autocrítica reflete nosso estado de espírito e nossa auto-
estima. Contudo, a indústria do emagrecimento encara a
autocrítica como um fato, o amplia e depois oferece meios de
nos livrarmos do excesso das coxas, e não da nossa percepção
das mesmas.
E, afinal de contas, o que há de errado no fato de as mulheres
terem coxas, quadris e nádegas? Nada, exceto que ninguém
mais quer tê-los.
Além da discrepância entre o tipo de corpo desejado e o real,
também se concluiu que as mulheres têm uma visão
distorcida de seu tamanho. A técnica original empregada para
verificar essa distorção consistia em duas lâmpadas montadas
sobre uma barra. A pessoa deveria ficar a uma determinada
distância da barra, e o examinador acionava um mecanismo
que ou aproximava ou afastava as lâmpadas uma da outra. Ela
então era solicitada a dizer quando sentisse que a distância
entre as lâmpadas correspondia à largura de certas partes de
seu corpo. Em 1973, descobriu-se que pacientes anoréxicas
superestimavam o tamanho de seu corpo de forma
significativa e acreditavam que seus quadris, ombros e cintura
eram maiores do que na realidade. Estudos mais recentes
demonstraram que todas as mulheres, independentemente do
seu peso real, superestimam o tamanho de seu corpo em até
10 por cento, isto é, elas vêem seu corpo maior do que ele é na
realidade.
A sociedade não só dita que, como mulheres, devemos ser
mais magras do que somos, mas, além disso, nós mesmas nos
imaginamos mais gordas do que em verdade somos.
Coloca-se diante de nós o problema de estarmos com excesso
de peso, mas, além disso, o que existe realmente nessas
mensagens?
A mensagem óbvia que vem de toda essa pressão é que ser
esbelta é ser atraente, e que "as magras conquistarão seu
homem". As imagens nos dizem que a magreza é atraente e,
em especial, atraente para o objeto de nossos desejos.
Em estudo realizado em 1988, a imagem do próprio corpo,
atitudes diante do peso e a percepção de preferências de
formas com relação ao sexo oposto foram analisadas pelos
pesquisadores, num grupo de homens e mulheres de duas
gerações. Uma série de silhuetas de corpos progressivamente
maiores foi apresentada aos participantes para que estes
indicassem sua forma ideal, sua forma na ocasião, a forma
mais atraente e a que consideravam a mais atraente para o
sexo oposto. As mulheres foram divididas em mães e filhas e
os homens, em pais e filhos. Os resultados demonstraram que
todos, com exceção dos filhos, julgavam que sua forma real
era maior do que a ideal, confirmando a idéia de que as
mulheres de qualquer idade sempre se julgam acima do peso,
e que os jovens do sexo masculino tendem a achar seus corpos
aceitáveis. É interessante notar que os resultados também
mostraram que as mulheres, tanto "mães" como "filhas",
acreditavam que os homens de suas próprias gerações
preferiam mulheres mais esbeltas do que eles mesmos haviam
escolhido em suas respostas. Esta conclusão indica que as
mulheres tendem a pensar que os homens as preferem mais
magras do que na opinião deles mesmos. Talvez os meios de
comunicação estejam apresentando imagens que representam
a idéia que as mulheres fazem da preferência masculina, e não
exatamente essa preferência.

SER MAGRA SIGNIFICA APENAS SER ATRAENTE?

Superficialmente, magreza significa poder usar a última moda


do ano. A venda de produtos dietéticos e a procura de clínicas
de emagrecimento aumentam com a aproximação do verão,
quando as mulheres já se vêem usando maiôs e shorts na
praia. Nós, mulheres, numa sociedade em que nosso valor é
em grande parte determinado por nossos atributos físicos,
somos a princípio algo para ser visto e, só em segundo lugar,
uma pessoa. Aprendemos a nos avaliar da maneira com que os
outros nos avaliam. Aprendemos a tirar um sentimento de
auto-apreciação e auto-estima da forma como os outros
avaliam nossa capacidade de atração. Uma crítica à nossa
aparência pode destruir nossa crença em nós mesmas como
seres humanos úteis. Conforme diz John Berger em Ways of
Seeing (Maneiras de Ver): "Homens agem. Mulheres se
mostram. Os homens olham para as mulheres. As mulheres
ficam observando como são observadas". Nós nos vemos como
um reflexo de como os outros nos vêem.
O empenho em emagrecer em parte tem origem no desejo de
ser fisicamente atraente, mas talvez a magreza exerça essa
poderosa influência sobre a sociedade pelo fato de oferecer
um meio possível para se alcançar todas as outras qualidades
que passaram a ser associadas a ela.
O que há de tão irresistível na magreza?
Magreza quer dizer sucesso. Se você for magra, você
conseguirá um bom emprego, subirá na escala social e terá
poder econômico. A mulher apresentada dirigindo-se para o
trabalho ao volante de um carro de luxo, organizando
reuniões e colhendo os louros do sucesso é sempre magra. O
sucesso mostra a capacidade de moldar o futuro. As mulheres
ainda vivem num mundo onde os outros decidem por elas, e
onde suas opções são limitadas. Elas se vêem numa situação
em que a sociedade primeiro constata seu sexo e lhes nega as
oportunidades abertas aos homens, e a magreza é oferecida
como forma de alcançar o sucesso.
Magreza quer dizer controle: controle sobre a alimentação,
controle sobre o trabalho, controle sobre a vida. Sugere a
capacidade de resistir às tentações e de controlar impulsos
indesejáveis. As mulheres são educadas para viver para os
outros; são estimuladas a proporcionar alimento e cuidados, a
ouvir os problemas e dar amor aos outros. A auto-indulgência
é apresentada como fraqueza, e a autonegação, como objetivo.
A magreza é oferecida como uma forma de retomar o
controle.
Magreza quer dizer amor. Se você for magra, será amada e
protegida. Será amada porque é atraente e será protegida
porque a magreza lhe dá uma aparência infantil e, quanto
menor o espaço que você ocupar, maiores serão o cuidado e a
proteção que receberá.
Magreza quer dizer estabilidade psicológica. Se você é gorda,
necessita ser protegida do mundo exterior. A gordura
proporciona uma barreira e um lugar para você se esconder de
seus problemas. Ser magra significa não precisar afastar-se dos
outros. O livro de Susie Orbach, Fat is a Feminist Issue (A
gordura é uma questão feminista), chamou a atenção de todos
para a associação entre peso e sexo. No entanto, o livro tem
como subtítulo "Como emagrecer permanentemente sem
fazer dieta", e o objetivo apresentado ainda é perder peso e
manter-se magra. A autora considera a gordura como "doença
social" e acredita que, uma vez tendo descoberto como sua
gordura age sobre você, e tendo conseguido perder o medo de
ser magra, você perderá peso. O livro principia dizendo "não
fazer dieta e aceitar-se a si própria talvez seja o segredo para
emagrecer" (p. 12). A magreza continua sendo o objetivo e a
gordura, o problema. Embora Susie Orbach não apóie a
indústria do emagrecimento, a finalidade subjacente é a
mesma — perder peso. E a mensagem é a mesma — magreza
significa estabilidade.
Magreza, atração, controle, sucesso e estabilidade, tudo está
ligado entre si. Para ter sucesso você precisa ser magra, e para
ter o controle você tem que ser estável. Trata-se de uma
forma de generalizar e estereotipar; as imagens nos são
apresentadas sob forma de estereótipos, e nós nos
compreendemos e também aos outros de acordo com essas
imagens. Características independentes se tornam
intimamente associadas e passam a ser uma parte apreciável
do conjunto de expectativas que alimentamos sobre nós
mesmos e sobre os outros.
Mas por que nos servimos desses estereótipos? E por que é tão
importante ser magra e atraente?
Vamos supor que você esteja numa condução e, à falta do que
fazer, fica observando as outras pessoas. À sua frente está uma
jovem lendo um livro; em cinco minutos, provavelmente você
já imaginou o que ela faz, como é, se é feliz ou infeliz, se é
casada, se você gostaria dela e até detalhes que chegam ao tipo
de casa em que mora e a cor de seu papel de parede! Nós
temos essa capacidade de criar uma caracterização detalhada e
complexa de alguém, somente com um mínimo de
informações. Tudo o que sabemos são fatos como sexo, altura,
peso e maneira de vestir, mas a partir daí extrapolamos para
traçar um quadro completo para nós mesmos.
Para explicar como e por que isto ocorre, psicólogos sociais
desenvolveram uma teoria, conhecida como a teoria da
personalidade implícita, segundo a qual todos nós temos uma
Idéia dos fatores que se encaixam ou não. Ela sustenta que
mesmo um mínimo de informação pode dar origem a um
quadro sobre uma pessoa, pela associação das características
conhecidas com outras desconhecidas. Em 1974, Landy e
Sigall efetuaram uma série de experiências para comprovar
essa teoria. Um dos estudos consistia em pedir a um grupo de
homens que dessem notas a alguns artigos, cada um deles
acompanhado da fotografia da suposta autora, que
anteriormente já havia sido classificada como atraente ou não.
Eles deveriam avaliar a qualidade dos trabalhos, tendo sido
constatado que as notas atribuídas foram fortemente
influenciadas pela aparência das supostas "autoras" — as mais
atraentes receberam melhores avaliações, independentemente
do nível do trabalho. Os pesquisadores concluíram que os
participantes do estudo possuíam uma teoria da personalidade
implícita c acreditavam que a boa aparência estava ligada à
capacidade intelectual. A qualidade conhecida era a atração e
eles a associaram com a qualidade desconhecida: a
inteligência.
Em que essa teoria se relaciona com a questão da magreza?
A magreza está associada com a atração e esta, por sua vez, é
associada a inúmeras outras qualidades positivas — eis uma
das razões porque a magreza é considerada tão importante.
Sempre que somos apresentados a alguém ou cruzamos com
uma pessoa, não temos tempo nem capacidade de descobrir
exatamente como são essas pessoas, mas nos sentimos curiosos
por elaborar algum tipo de caracterização. Para tanto, usamos
nossos estereótipos e nossa teoria da personalidade implícita.
Generalizamos a partir de dados específicos para chegar à
informação global. Associamos atributos físicos e visíveis com
qualidades psicológicas não aparentes, pois a informação física
é mais facilmente acessível. Podemos ver que uma pessoa é
magra, portanto atraente, e a partir daí associamos este fator a
uma série de outras qualidades. E aplicamos este raciocínio a
nós mesmos. Queremos ser magras para que os outros
associem este aspecto com todas as demais qualidades
positivas.
As injunções sociais apresentam a magreza como a forma de
nos tornarmos atraentes, mas esta mensagem traz consigo um
pacote completo de outras qualidades associadas e atributos
desejáveis. O problema é o excesso de peso, o objetivo é
emagrecer, e a solução que nos é ditada é fazer dieta.

O IMPULSO PARA EMAGRECER E AS DIETAS

Fazer dieta tornou-se algo indissoluvelmente ligado à


magreza. A indústria do emagrecimento monopolizou a
motivação pela perda de peso. Vigilantes do Peso, revistas e
produtos para emagrecer nos fornecem os meios de perder
peso, ao mesmo tempo em que nos ditam que devemos ser
magras. Criou-se um mercado usado em seu próprio
benefício. A indústria prospera com a obsessão e a motivação
que ela mesma eterniza.
De que forma fazer dieta passou a ser sinônimo de emagrecer?
A indústria do emagrecimento sobrevive da noção de que, se
você está com excesso de peso é porque come em excesso, não
apenas com relação às necessidades de seu próprio corpo, mas
também em comparação com os outros. Ela sustenta que
pessoas acima do peso normal não têm autocontrole e são
incapazes de se privar do prazer de comer. A estrutura das
clínicas de emagrecimento consiste em elogiar os que
conseguem perder peso e repreender os que não conseguem.
Uma dessas clínicas costumava punir os que não perdiam peso
colocando-os numa espécie de gaiola, usando uma máscara de
porco! Trata-se, evidentemente, de um exemplo extremo, mas
não tão diferente da humilhação de entrar em fila para subir
na balança, ter o peso anunciado em voz alta diante de um
grupo de estranhos, receber o conselho de se esforçar mais e
aparecer como alguém que obviamente não tem força de
vontade.
A dieta vem sendo vendida como a solução para a necessidade
de emagrecer. Sempre ouvimos dizer que se fizermos dieta,
perderemos peso. Se você não consegue, é porque não está
seguindo a dieta corretamente, não tem autocontrole e é
incapaz. Coma menos e você pesará menos. Mas, será tão fácil
assim?
As mulheres desejam ser magras. A gordura é associada à má
saúde, mas as que fazem dieta não são necessariamente gordas
— apenas se vêem assim. A silhueta ideal que nos é
apresentada é tão mais esbelta do que a forma mediana, que
deixa a maioria das mulheres se sentindo gorda e com vontade
de emagrecer. A magreza não só faz com que sejamos
atraentes, mas traz consigo implicações de sucesso, domínio e
amor. O poder da magreza deriva do estilo de vida a ela
associado. E a solução oferecida é fazer dieta.
Capítulo 4
O que faz quem está de dieta?

Fazer dieta implica comer menos, seguir uma tabela de


alimentação e, é claro, perder peso. Se você não diminui sua
alimentação, não está fazendo dieta — é o que se acredita. Se
você vai jantar com uma amiga que vive fazendo dieta e a
observa "traçar" a entrada, o prato principal e sobremesa,
terminando tudo com bombons de chocolate e menta, logo
pensará: "Ela parou com a dieta. Decidiu aceitar-se como é."
Nós presumimos que fazer dieta significa comer menos, mas o
que fazem exatamente os adeptos das dietas? Será que eles
comem menos do que os que não fazem dieta?

O QUE FAZ QUEM ESTÁ DE DIETA?

O objetivo da dieta é reduzir a ingestão de alimentos. Contu-


do, é discutível se quem faz dieta come menos do que os que
não fazem. Pesquisadores desenvolveram diversos métodos
para medir a quantidade de alimentos ingeridos, o que
obviamente é uma questão complexa. Em estudos de
laboratório, a técnica é apresentar aos participantes uma
variedade de alimentos e oferecer uma refeição; na
abordagem mais natural, as pessoas ficam em seu ambiente
normal, mas são instruídas a completar tabelas de dieta todos
os dias, para se ter o registro de quanto comeram. Ambos os
métodos têm seus problemas, mas mesmo assim
proporcionam algumas conclusões quanto ao comportamento
alimentar.
Vários estudos indicam que, em testes de laboratório, quem
faz dieta consome menos calorias do que os outros. Em 1988,
Thompson e colaboradores, trabalhando num ambiente
totalmente controlado, mediram a quantidade ingerida numa
refeição constituída de uma variedade de sanduíches e
biscoitos. Os resultados demonstraram que o consumo de
calorias era menor entre os que faziam dieta. Em outro
estudo, no mesmo ano, Kirkley, Burge e Ammerman
analisaram os hábitos alimentares de cinqüenta mulheres,
através de questionários de auto-avaliação dietética; durante
quatro dias, elas preencheram dados relativos ao horário das
refeições, descrição e quantidade dos alimentos ingeridos.
Mesmo com esse método mais natural, os resultados
indicaram que as que faziam dieta consumiram menos
calorias do que as demais. Pesquisas mais recentes vêm
tentando determinar com mais detalhes a ingestão de
alimentos por parte de quem faz dieta. Em 1989, Laessle e
colaboradores avaliaram a ingestão de alimentos, com o
emprego de um diário alimentar durante sete dias, e
concluíram que a tendência era de os que faziam dieta
consumirem cerca de 400 kcal a menos que os outros,
evitando especificamente alimentos ricos em carboidratos e
gorduras.
Embora tais estudos sugiram que, sob certas condições, as
pessoas que fazem dieta comem menos, vários problemas
envolvem o uso de experiências para entender seu
comportamento alimentar em geral. Por exemplo, é possível
que em laboratório as mulheres comam de maneira diferente
do que fazem em seu ambiente familiar, e é muito provável
que a necessidade de preencher questionários sobre o almoço
e o jantar prejudique a espontaneidade e o prazer de comer,
podendo afetar a quantidade consumida.
Por outro lado, em certas situações, as pessoas que fazem dieta
parecem comer mais do que as que não fazem. Em 1988,
Wardle e Beale avaliaram em laboratório o comportamento
alimentar de pessoas que faziam dieta. Durante um certo
tempo, elas perderam peso, indicando que sua ingestão diária
total de calorias era menor do que a dos que não faziam dieta.
Porém, no laboratório, os que faziam dieta tendiam a comer
mais.
Portanto, parece difícil determinar quanto realmente comem
os que fazem dieta. Em algumas situações eles parecem comer
menos do que os que não fazem dieta e, em outras, parecem
comer mais, oscilando entre períodos de sub e
superalimentação.
Embora seja interessante a comparação entre quem faz e
quem não faz dieta, o objetivo é reduzir sua ingestão de
alimentos e, portanto, é mais importante saber se, fazendo
dieta, você come menos do que comeria se estivesse se
alimentando normalmente. Ou seja, será que as pessoas
comem menos quando em dieta?
É muito difícil avaliar se a dieta faz seus adeptos comerem
menos. Para tanto, seria necessário examinar um grupo de
mulheres antes que entrassem em dieta, e em seguida
acompanhá-las quando algumas delas começassem. Isto nunca
foi feito. Alternativamente, poderia ser solicitado a um grupo
de mulheres, das que estão eternamente em dieta, que
parassem por algumas semanas. Eu tentei isto e concluí que a
maioria das que faziam dieta na realidade nem sabiam o que
significava "não fazer dieta". Elas haviam estado em dieta por
tantos anos, que contar calorias e controlar a quantidade de
comida já se tornara parte de suas vidas — ao ponto de elas
nem se darem conta do que estavam fazendo. Quando
solicitadas a pararem com a dieta, descobriram que
continuavam com ela, mesmo sem perceber.
Uma outra forma de verificar se os que fazem dieta estão
comendo menos do que se não a fizessem, é acompanhar as
alterações de peso. Levando-se em conta as mudanças na taxa
metabólica (conforme análise no Capítulo 6), a maioria dos
que fazem dieta na realidade nunca apresentam qualquer
redução de peso.
O fato de não perderem peso, ao lado de sua incapacidade de
"não fazer dieta", parece sugerir que a dieta é, principalmente,
um estado de espírito. Indica que eles pensam em comer
menos e têm a intenção de comer menos, mas que tais
propósitos não se manifestam necessariamente numa
mudança de comportamento. Alguns dos que fazem dieta
podem perder peso e outros talvez comam menos em geral,
mas a maioria não faz mais do que pensar no assunto.
Fazer dieta é um estado de espírito.
A dieta é algo em que você pensa assim que acorda, planeja
fazer durante todo o dia, para recomeçar amanhã. Faz parte
de sua vida. Os que fazem dieta possuem uma identidade e
um desafio e, ao desafiar seu peso, sentem estar mudando suas
vidas. A dieta proporciona a estrutura para a organização de
seu dia, e os centros de emagrecimento proporcionam o apoio
e a vida social que, de outra forma, não existiriam.
Os que simplesmente pensam na dieta constituem uma
grande porcentagem dos adeptos. Porém, há aqueles que
utilizam estratégias mais arriscadas para perder peso. Tais
métodos são exemplos extremos do desejo de emagrecer, e
sinais de implicações mais perigosas de insatisfação com o
próprio corpo.

FUMO

Pesquisas e estatísticas indicam que o fumo é uma das maiores


causas de mortalidade e invalidez; no entanto, as pessoas
continuam a fumar. Já está documentado que os fumantes que
largam o vício engordam, e um grande estudo realizado em
1975 indicou que os fumantes tendem a pesar menos que não-
fumantes, mesmo que estes últimos nunca tenham fumado. O
fumo pode atuar como supressor do apetite e também dá a
quem fuma algo a fazer com as mãos, além de comer. É difícil
(embora provavelmente não impossível!) fumar e comer ao
mesmo tempo. Já se sugeriu que uma das razões do hábito de
fumar, especialmente entre as mulheres, talvez tenha relação
com seu temor de engordar. Elas talvez prefiram os riscos a
longo prazo do fumo aos efeitos a curto prazo do aumento de
peso.
Para verificar essa noção, em 1988 foi realizado um estudo em
que 1076 pessoas responderam a um questionário; constatou-
se então que 39 por cento das mulheres fumantes
consideravam o fumo como forma de perder peso; cinco por
cento das mulheres declararam ter começado a fumar para
emagrecer; e os resultados demonstraram que as mulheres,
em maior número que os homens, declararam que o medo de
engordar as impedia de largar o fumo.
Essas mulheres não estavam, necessariamente, acima do peso,
nem se viam ameaçadas pelos problemas causados pelo
excesso de peso. No entanto, preferiam arriscar sua saúde a
longo prazo, a ganhar alguns quilos. O desejo de ser magra
sobrepujava o desejo de viver muito.

VÔMITO

Provocar o vômito para perder peso não se limita


especificamente a mulheres com distúrbios alimentares. Um
número alarmante de pessoas que fazem dieta se valem desse
recurso vez por outra, em seu empenho para emagrecer. Um
estudo recente realizado nos Estados Unidos revelou que 12
por cento das mulheres que fazem dieta provocaram o vômito
alguma vez. Em outro estudo, verificou-se que 11,6 por cento
de um grupo de adolescentes em dieta vomitavam após comer
em excesso. Não se poderia classificar essas mulheres num
quadro de distúrbio alimentar; no entanto, elas apresentam
sintomas de distúrbio alimentar em seu desejo de emagrecer.
Provocar o vômito não é moda recente. Os romanos já
costumavam tomar um "vomitorium" para comer o máximo
que agüentassem, vomitar e voltar a comer. Quem faz dieta
costuma provocar o vômito para não engordar. Mas esse
hábito pode ter efeitos colaterais muito graves: provoca
problemas dentários, pela ação dos ácidos digestivos
diretamente sobre os dentes; também ocorrem deficiências
em certos minerais, causando cansaço e fraqueza.
Os que têm o hábito de vomitar não são necessariamente mais
gordos do que os que não o fazem. Apenas, ao que parece, sua
vontade de emagrecer é maior.

USO DE LAXATIVOS

O uso de laxativos também não é exclusivo de mulheres com


distúrbios alimentares. Em estudo recente nos Estados Unidos
verificou-se que 6 por cento de mulheres e 6 por cento de
adolescentes que faziam dieta usavam laxativos como forma
de controlar o peso. Os laxativos parecem fazer a pessoa se
sentir mais leve, por provocarem desidratação e reduzirem a
retenção de líquido, mas, ao que tudo indica, têm pouca
influência sobre o peso, pois quando seu efeito se faz sentir, a
maioria das calorias já terá sido absorvida.

DIETAS DE MÍNIMO TEOR DE CALORIAS

As dietas de proteínas líquidas começaram a aparecer no


mercado em 1976 e 1977, e a dieta de Cambridge foi
introduzida no início dos anos 80. Infelizmente, a agitação
que envolveu esses lançamentos representou sua aplicação
sem o devido controle, e pelo menos cinqüenta e oito mortes
foram registradas entre consumidores de produtos de
proteínas líquidas, e seis mortes entre os seguidores da dieta
de Cambridge. Mais recentemente, um artigo publicado num
jornal da Escócia, em 1990, dava conta que ainda há setenta e
cinco ações pendentes contra a "Nutri/System" nos Estados
Unidos, todas impetradas por pessoas que se queixam dos
efeitos nocivos da dieta de baixa caloria sobre sua saúde. O
artigo explica que "todos os queixosos alegam que a dieta está
diretamente associada aos sérios problemas da vesícula biliar
que vieram a sofrer". Ao que parece, setenta e três desses
indivíduos tiveram suas vesículas biliares removidas, segundo
acreditam, como resultado direto daquela dieta.
A maioria das dietas de mínimo teor de calorias existentes no
momento são mais seguras do que suas primeiras similares,
mas ainda podem representar perigo, se usadas por pessoas às
quais não são indicadas, e sem a necessária supervisão. O Dr.
Wadden, da Universidade da Pennsylvania, reexaminou o uso
dessas dietas e sugere que existe uma aplicação para elas, nos
casos mais sérios de obesidade (indivíduos com 50 por cento a
mais do que o peso normal). Usadas com orientação adequada
e nas pessoas certas, pode-se conseguir uma considerável
perda de peso. No entanto, sem supervisão apropriada, "a
maioria dos pacientes submetidos apenas à dieta de baixas
calorias voltam a engordar quase tão rapidamente quanto
emagreceram" (1990).
Mas, serão tais dietas seguidas apenas pelos muito obesos?
Um relatório elaborado em 1989 pelo Dr. Pope sugere que
não. Ele revela que os programas de emagrecimento
ofereciam dietas de mínimo teor de calorias a pessoas que
poderiam ser consideradas apenas ligeiramente acima do peso
normal. Com efeito, se examinarmos as campanhas
publicitárias de algumas dessas dietas, fica evidente que seu
público alvo é a mulher média. As modelos usadas nessas
campanhas são jovens de 16 anos, manequim 38 — como
todas as que posam para outras campanhas desse tipo. Se uma
mulher com peso somente um pouco acima do normal se
submeter a tais dietas, os resultados podem ser desastrosos,
com efeitos nocivos sobre o coração e outros órgãos. E para
aquelas mulheres que apenas pensam que estão gordas, os
danos seriam ainda maiores.
E por que essas dietas visam o público médio e não apenas os
seriamente obesos? É uma boa pergunta. Ocorre que os
gravemente obesos são tão poucos, que uma amostra tão
pequena não resultaria em lucro; já o número de mulheres
medianas que querem emagrecer é muito grande,
constituindo-se numa clientela bem maior.
Numa de minhas entrevistas, conversei com uma mulher a
quem o médico havia prescrito uma dieta de baixo teor de
calorias. Ela tinha 50 anos de idade, cerca de um metro e
sessenta de altura, e pesava perto de 67 quilos.
Evidentemente, não poderia ser considerada obesa. Mas ela
pretendia perder alguns quilos e não queria se preocupar com
dietas prolongadas, portanto, pensou que um tratamento de
choque, rápido e enérgico seria o ideal. Ela não foi advertida
sobre os perigos de uma dieta de baixas calorias e se entregou
ao seu objetivo de emagrecer. Na primeira semana, perdeu
três quilos e meio. Um resultado impressionante! Na segunda,
perdeu pouco mais de dois quilos. De novo, muito bom. Na
terceira semana, ela já estava tão cansada de só tomar líquidos
e tão farta de não poder comer nada, que acabou desistindo.
Nas três semanas seguintes, recuperou tudo o que tinha
emagrecido.
Ao que parece, esse tipo de dieta está sendo recomendado a
pessoas não muito obesas, o que pode ser perigoso. No
entanto, é bem possível que, por suas próprias características,
o perigo não chegue a ser assim tão grande. É que a dieta é tão
enfadonha, que se torna difícil segui-la por um tempo
suficiente para causar qualquer dano real!

PÍLULAS E REMÉDIOS PARA EMAGRECER

Em 1987, estimava-se em 4 milhões de libras o gasto anual do


Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra em remédios
inibidores de apetite. Tais remédios supostamente evitam a
sensação de fome e ajudam a emagrecer. No início, os médicos
costumavam receitar anfetaminas, mas como estas poderiam
vir a causar dependência, esta prática foi deixada de lado.
Hoje em dia, usam-se remédios menos fortes; no entanto,
estes também têm efeitos colaterais desagradáveis, como
insônia, boca seca, letargia, vômitos e dores de cabeça. Sua
eficácia é duvidosa, mas algumas pesquisas indicam que, a
curto prazo, é possível perder mais peso usando remédios do
que apenas fazendo dieta. O que não é de surpreender —
sentir-se mal provavelmente é uma das melhores e mais
óbvias formas que se conhecem para deixar de comer. Porém,
não há provas que sugiram que funcionem a longo prazo.
Quem usa pílulas?
Se você é obesa e sua saúde sofre as conseqüências do excesso
de peso, então talvez os riscos das pílulas para emagrecer
possam valer a pena a curto prazo. Porém, tais pílulas são
acessíveis a pessoas de todos os tipos e tamanhos.
Uma pesquisa da revista Which? indicou que quase a metade
das mulheres que consultaram seus médicos com relação ao
seu peso receberam a indicação de remédios para emagrecer.
Será que essas mulheres eram todas obesas? Um estudo
efetuado pelo Observer revela que provavelmente não. Em
1988, três jornalistas se dirigiram a centros de
emagrecimento, procurando orientação para perder peso;
nenhum deles era obeso e nem mesmo estava acima do peso,
mas a todos foram oferecidas diversas formas de "pílulas para
emagrecer". Não receberam nenhum aconselhamento e nem
sequer lhes foi perguntado por que desejavam emagrecer. Os
remédios prescritos iam desde placebos até anfetaminas, e
foram entregues sem qualquer recomendação médica.
Os médicos do Serviço Nacional de Saúde não obtêm
nenhuma vantagem financeira ao administrar pílulas para
emagrecer a suas pacientes com peso normal. No entanto, é
mais rápido e emocionalmente menos desgastante passar uma
receita do que discutir por que a paciente quer perder peso e
por que ser magra é tão importante para ela. As clínicas de
emagrecimento, estas sim, lucram com a indicação de pílulas,
pois as pacientes têm que comprá-las, e o tempo gasto em
cada consulta é o menor possível.
Existem poucas evidências que comprovem a eficácia das
pílulas para emagrecer. À curto prazo, elas podem até acelerar
a perda de peso, porém ao custo de efeitos colaterais
perturbadores. À longo prazo, não há nada para comprovar
que tenham alguma utilidade. Para pessoas que precisam
perder peso por motivos médicos, talvez sejam úteis; mas,
para a maioria das mulheres que simplesmente se sentem
gordas, elas não têm qualquer valor.

DIETAS DE MODA

"A dieta de Beverly Hills", desenvolvida por Judy Mazel em


1980, é o exemplo perfeito de dieta de moda. Ela retrata a
necessidade que as mulheres têm de uma receita mágica para
emagrecer, e também mostra como certos distúrbios
alimentares passam a ser invejados, e como os extremos são
considerados muito mais interessantes e vantajosos do que
qualquer meio-termo.
A autora deve ser a única a admirar explicitamente e mesmo
recomendar uma forma de dieta baseada na indução de um
estado de extrema abstinência alimentar, seguida de purgação.
Em artigo recente, Wayne e Susan Wooley, dois especialistas
em obesidade e comportamento alimentar, dizem que "a dieta
de Beverly Hills, pela primeira vez, apresentou um distúrbio
alimentar — anorexia nervosa — como cura para a
obesidade".
A dieta de Beverly Hills revela que Judy Mazel começou a
fazer dieta aos 8 anos de idade e que, já na adolescência, usava
"de tudo: pílulas para a tiróide, pílulas para emagrecer,
laxativos". Ela passou a ter uma obsessão por diuréticos, que
podiam determinar se engordava ou emagrecia até quatro
quilos e meio num só dia. Descobriu, então, que poderia obter
um efeito muito parecido se comesse apenas frutas. Essa dieta
só de frutas é, em essência, a dieta de Beverly Hills. Ela
recomenda períodos de fome, em que só se comem frutas. A
autora aconselha: "Compre bastante...dois quilos de uvas no
dia da uva não é muito" e se vangloria de "conseguir descascar
e comer uma manga dirigindo um carro de embreagem
manual e usando roupa branca". Todavia, tais períodos de
fome existem apenas para compensar as inevitáveis
comilanças. Judy Mazel, sem dúvida, é vítima de um desejo
incontrolável de se empanturrar, que depois exige um período
de fome. Em suas palavras:

Ainda como três porções de panquecas de batata sem


engasgar, um rosbife inteiro num piscar de olho, e uma rica
torta de queijo inteira sem ofegar uma só vez... e você
também pode.

Contudo, para isso, você precisa do efeito diurético de uma


dieta só de frutas no resto do tempo:

Se você tem o intestino solto, alegre-se! Lembre-se que os


quilos deixam o seu corpo de duas maneiras — através dos
intestinos e da urina. Quanto mais tempo você passar no
banheiro, tanto melhor.

A dieta de Beverly Hills recomenda vigorosamente um


distúrbio alimentar como solução para o excesso de peso.
Revela a admiração da autora por quem sofre de anorexia, por
sua esbelteza, e de bulimia, por seus métodos de controlar o
peso. Por outro lado, também revela seu desespero, conforme
as palavras de Wayne e Susan Wooley:
O fato da prática da psicopatologia anoréxica estar sendo tão
bem recebida nos traz uma mensagem.... Os números indicam
que as mulheres têm tanto pavor da gordura, que não querem
mais esperar por um método científico e seguro de controle
do peso. ...A crença predominante é que não há nada pior do
que ser gorda e que, para emagrecer, vale qualquer sacrifício,
inclusive o da saúde.

Dietas de moda, como a de Beverly Hills, são perigosas e se


baseiam na má interpretação dos motivos que levam as
pessoas ao excesso de peso e também da forma como os
alimentos são metabolizados. Contudo, o livro é um
fenômeno de venda. As mulheres seguem essas dietas porque
seu desejo de serem magras suplanta todas as outras
considerações. As dietas já foram descritas como o início da
espiral descendente que leva aos distúrbios alimentares. E a
dieta de Beverly Hills faz uma forte apologia desse caminho.

DIETAS RADICAIS

Para a maioria das pessoas que faz dieta, esta significa pensar
em comer menos, algumas vezes conseguindo, porém
compensando períodos de alimentação reduzida com
episódios de excesso de comida. No entanto, para alguns, a
dieta pode se tornar mais do que um hábito — pode se
transformar numa obsessão que coloca em perigo a própria
vida.
Anorexia nervosa

Anorexia nervosa, ou a "doença do emagrecimento", vem


sendo cada vez mais estudada e documentada nos últimos
anos. A maioria das revistas traz artigos sobre o assunto e
publicações acadêmicas têm seções especiais para atender ao
crescente interesse e preocupação sobre o distúrbio.
A anorexia é descrita como "medo da gordura", "fobia pelo
peso" e "obsessão pela magreza". Parece ocorrer
principalmente em mulheres jovens, e quase sempre tem
origem num episódio de dieta que acaba por fugir ao controle.
Os anoréxicos procuram recusar qualquer alimentação,
ingerindo entre 200 e 300 calorias diárias, e praticam
exercícios vigorosos como forma de evitar aumento de peso.
Demonstram uma intensa aversão por seus corpos e revelam
considerar-se muito mais gordos do que realmente são. A
anorexia ocorre em níveis especialmente altos entre
profissionais como bailarinas, modelos e manequins, que têm
motivos adicionais para se manterem magras. Entre os
anoréxicos, a maioria esmagadora é de mulheres, na
proporção de quinze para cada homem. Contudo, de uns
tempos para cá, já se fala que o número de homens vem
crescendo. Os sintomas da anorexia são muito semelhantes
aos relatados por aqueles que vivem eternamente em dieta
(ver Capítulo 7), mas evidentemente são muito mais graves.
Bulimia nervosa

Quem sofre de bulimia também tem um medo mórbido de


engordar, demonstra grande aversão pelo seu corpo, mas
tende a ser de peso mediano. Costuma ser acometido de
impulsos incontroláveis por comida e do que poderíamos
chamar de "acessos de comilança". Estes podem variar de
curtos episódios de gula, até períodos de várias horas,
representando o consumo de até 55.000 calorias;
freqüentemente são seguidos por períodos de purgação, seja
através de vômitos ou do abuso de laxativos. Como no caso da
anorexia, na bulimia também a maioria é de mulheres, mas a
média de idade parece ser um pouco mais alta. A bulimia é
um distúrbio de caráter íntimo, que costuma crivar o paciente
de sentimentos de culpa e auto-rejeição; por este motivo, ele
evita procurar ajuda médica e pode continuar com seu
problema, sem contar com qualquer assistência ou
intervenção exterior. Várias características comuns à bulimia
também podem ser notadas nos seguidores de dietas, tais
como comida em excesso e auto-aversão, porém em grau
muito mais extremo.
Parecem existir várias razões para a anorexia e a bulimia
terem merecido tanta atenção, não só dos meios de
comunicação, mas também da medicina. A razão mais óbvia é
que ambas podem representar risco de vida e provocar
evidente sofrimento aos pacientes. Também se tornou claro
nos últimos anos que os métodos atuais de tratamento não
parecem ser particularmente bem sucedidos. Mas, além
dessas, ainda existem outras razões mais sutis.
Inveja

O desejo de emagrecer se tornou tão poderoso nestes últimos


anos que os anoréxicos e, em menor proporção, os bulímicos
são admirados e mesmo invejados por certos setores da
sociedade. Em recente filme americano, uma vendedora de
loja de roupas diz o seguinte a uma compradora em potencial:
"Minha filha pode vestir qualquer coisa, ela é feliz, é
anoréxica." Trata-se de uma piada, até engraçada, em parte
pelo seu mau gosto, mas também porque reflete o que muitas
mulheres pensam: que as anoréxicas são as que têm "êxito em
suas dietas" e conseguiram atingir o que a maioria da
população feminina continua a perseguir: a magreza.
As anoréxicas são invejadas por seu autocontrole e auto-
privação. As bulímicas também são invejadas, pois
encontraram uma solução que lhes permite comer à larga,
sem engordar — o equilíbrio perfeito.

O interesse da mídia

Essa inveja se evidencia no interesse público. Qualquer revista


que publique uma nova dieta venderá mais, da mesma forma
como uma com algum artigo sobre desordens alimentares. O
desejo de emagrecer e de conhecer tudo o que existe em
matéria de dieta se traduz no interesse de ler a respeito das
conseqüências das dietas radicais — as desordens alimentares.
Talvez a leitura de casos de anorexia seja semelhante à leitura
de histórias de "campeões de emagrecimento". Ou talvez seja
um consolo pensar "eu posso não conseguir emagrecer, mas ao
menos não sou anoréxica". Embora esta possa ser uma
perspectiva um tanto cínica com relação ao interesse que vem
cercando os problemas alimentares, este interesse parece
refletir o interesse da mídia sobre como perder peso.

Um interesse pelos extremos

A sociedade sempre se interessou pelos extremos. É muito


mais provável você ouvir falar sobre "depressão" do que sobre
pessoas apenas "aborrecidas". Jornais cobrem um caso de
assassinato, mas não se interessam por uma mulher que só
apanhou do marido. São os casos extremos que fazem as
manchetes. Com a anorexia e a bulimia, acontece o mesmo;
trata-se de extremos e, portanto, são mais interessantes. São
dramáticas e representam risco de vida.
Porém, são casos extremos e ainda muito raros. Enquanto
perto de 90 por cento da população feminina faz dieta, apenas
cerca de um por cento das mulheres desenvolve a anorexia, e
cerca de 2 por cento desenvolve a bulimia. Estas estatísticas
parecem ser surpreendentemente baixas em comparação com
as apresentadas em livros como Fat is a Feminist Issue (A
gordura é uma questão feminista) de Susie Orbach e, mais
recentemente, The Beauty Myth (O mito da beleza) de
Naomi Wolf, que sugerem cifras muito mais altas. A
publicidade que cerca os distúrbios alimentares pode nos
levar a crer que quase todas as adolescentes (especialmente
nos Estados Unidos) são ou anoréxicas, ou bulímicas ou
obesas! Contudo, muita pesquisa psicológica foi realizada para
verificar a incidência de distúrbios alimentares, e as
estatísticas nem sempre são tão exatas como se costuma supor.
O principal problema para se avaliar quantos indivíduos
sofrem de algum tipo de desordem alimentar é definir o que
constitui problema clínico. O termo "comilança" criou muitos
problemas de definição; em 1959, Albert Stunkard registrou
seu emprego, com o sentido de comer além do ponto de sentir
fome. Em 1980, a Dra. Jane Wardle avaliou a epidemiologia
da comilança, definindo-a como "devorar montes de comida,
mesmo sem fome". Considerando-se esta definição, os
resultados de seu estudo indicaram que quase todos os
pesquisados se entregavam a uma comilança, pelo menos uma
vez por mês. Susie Orbach também define a compulsão pela
comida, segundo vários critérios: "comer sem estar
fisicamente com fome; não ter controle com relação à comida,
oscilando entre fazer dieta e empanturrar-se; passar boa parte
do tempo pensando e se preocupando sobre comida e gordura;
vasculhar a última novidade em dieta à procura de
informações vitais; sentir-se mal consigo mesmo como
alguém que não consegue se controlar; sentir-se mal com
relação a seu corpo". As definições para comilança podem
variar desde uma conduta alimentar característica da maioria
das pessoas, até um excesso patológico, e a que for usada é que
determina o número dos que podem ser considerados
portadores de algum distúrbio alimentar.
Para esclarecer esse ponto, estabeleceu-se um critério mais
restrito. The Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders 111-DMS 111 (Manual estatístico e de diagnóstico
de distúrbios mentais 111) sugere que para se fazer o
diagnóstico clínico de anorexia ou bulimia, deve existir uma
sintomatologia definida. Indivíduos podem apresentar alguns
desses sintomas, como perda de peso ou crises de comilança,
podendo ser classificados como portadores de algum distúrbio
por certos autores, mas não o seriam sob o aspecto clínico.
Afora os problemas de definição, existe a questão da
interpretação das estatísticas. Para tanto, torna-se necessário
analisar o universo usado para se chegar aos números finais;
por exemplo, idade, sexo e classe social são fatores que devem
ser levados em conta ao se interpretar uma estatística. Para
melhor esclarecer o assunto, façamos uma comparação entre
vários estudos. Em 1981, Halmi e colaboradores realizaram
uma pesquisa entre estudantes pré-universitárias americanas,
concluindo que 13 por cento delas apresentavam todos os
sintomas necessários para um diagnóstico de bulimia. No
entanto, tratava-se de um grupo muito limitado, com
predominância de jovens brancas e de classe social elevada,
atributos comuns a mulheres com distúrbios alimentares. Tal
estatística é preocupante, sem dúvida, mas foi obtida num
segmento da população mais propenso a apresentar tais
distúrbios. Em estudo mais recente, Cooper e Fairburn
trataram de evitar o problema; em 1983, foram distribuídos
questionários entre mulheres atendidas por uma clínica de
planejamento familiar da Inglaterra, que provinham de
ambientes diversos e representavam uma boa amostragem da
sociedade. Vinte por cento revelaram ter passado por "uma
crise de incontrolável excesso de comida" nos dois meses
anteriores; no entanto, apenas 1,9 por cento preenchiam os
critérios necessários para um diagnóstico de bulimia, uma
proporção muito menor do que se costuma apresentar.
Distúrbios alimentares são um sofrimento para os pacientes e
seus familiares, mas não são tão comuns como muitas vezes
somos levados a acreditar. O emprego de definições menos
restritas e a seleção de universos específicos podem dar como
resultado cifras mais altas. Estas, por sua vez, quando
divulgadas, tendem a dar mais sensacionalismo a um
problema já bastante desagradável em si, minando o
sofrimento sentido por indivíduos que realmente sofrem de
distúrbios alimentares.
Um dos efeitos desse interesse pelos extremos é que o
comportamento excessivo obscurece a importância de
problemas mais moderados. O perigo e o drama associados aos
distúrbios mais graves trivializam a importância de
dificuldades mais sutis.
Talvez devêssemos nos interessar mais pelos fatos médios
normais, que afetam mais indivíduos médios normais. O
impacto associado aos distúrbios alimentares tira a
importância dos efeitos das dietas, que podem não ser tão
dramáticos ou ameaçadores, mas que afetam a vida de muito
mais gente. Os efeitos das dietas talvez não sejam tão
empolgantes ou traumáticos, mas ainda assim são importantes
e merecem ser entendidos.
Segundo supomos, fazer dieta significa comer menos e
emagrecer. Para alguns, isto se aplica, mas para a grande
maioria, a dieta se tornou um hábito e uma maneira de viver.
Os seguidores de dietas parecem oscilar entre dias em que
comem menos e dias em que comem mais. Alguns perdem
peso, mas a maioria apenas parece pensar em emagrecer. Eles
pensam em comer menos, mas nem sempre o fazem na
prática. Fazer dieta é um estado de espírito, e não um
comportamento.
Para quem faz dieta, existe uma variedade de meios de perder
peso: fumo, indução ao vômito, uso de laxativos, regimes
inadequados e remédios para emagrecer, aos quais recorrem
as mulheres que se sentem gordas. Dietas de baixos teores de
calorias são mesmo especificamente dirigidas àquelas que
simplesmente se acham gordas.
Todas têm um desejo em comum: ser magras. Algumas se
deixam levar por esse desejo de maneira mais extremada que
as outras.

Capítulo 5
A indústria do emagrecimento

Por diversas vezes empreguei as expressões "nos dizem",


"somos levadas a crer", "aceitamos", como se as mulheres
fossem receptoras passivas da informação vendida pela
indústria do emagrecimento, como se elas não tivessem a
independência e a capacidade de questionar e rejeitar. Mas
não é bem assim. Com freqüência se insinua que as mulheres
são submetidas a forças além de seu controle. Imagina-se que
os homens ditem como as mulheres sentem, pensam e como
se encaram a si mesmas. Nos últimos anos, porém, muita coisa
mudou. Mulheres tomam decisões e têm condições de
determinar seu futuro, dentro de certos limites. Mas elas
ainda optam por fazer dieta e deixar que a sociedade dite a
silhueta que devem ter. Para entendermos por que aceitamos
tanta coisa do que nos dizem, é preciso entender quão
poderosa é esta indústria do emagrecimento.
Livros, revistas, artigos de jornal, programas de televisão,
vídeos com exercícios, academias de ginástica, tudo isto
compõe o mundo da dieta. Uma das maiores dificuldades para
se avaliar o poder da indústria do emagrecimento é saber se
ela está respondendo a uma necessidade, explorando essa
necessidade ou se é ela quem cria a necessidade.
A indústria do emagrecimento visa atingir as pessoas com
excesso de peso ou as que se imaginam com excesso de peso?
Ela se vale dos sentimentos de inadequação das mulheres ou
proporciona uma forma de acabar com essa inadequação?

RESPONDENDO A UMA NECESSIDADE

Slimmer, uma revista especializada em emagrecimento,


vendeu 142.000 cópias entre janeiro e junho de 1990. Os
Vigilantes do Peso na Inglaterra têm uma média de 140.000
membros; clubes de emagrecimento contam com 40.000
freqüentadores em média. Parece óbvio que existe uma
necessidade desses serviços, ou pelo menos as pessoas estão
respondendo à oferta dos mesmos.
Mas o que fazem na realidade esses serviços?
Para que a indústria do emagrecimento esteja "respondendo a
uma necessidade", é preciso que tenha como objetivo tratar de
um problema já existente.
Será que ela trata da obesidade?
Há muito que a obesidade vem sendo definida como um
problema de peso. Um peso muito acima do normal pode
provocar muitos outros problemas como ataques cardíacos,
problemas nas articulações e pressão alta.
Nos últimos Vinte a trinta anos, médicos, psicólogos,
nutricionistas é dietistas desenvolveram uma enorme
quantidade de possíveis métodos para tratar a obesidade,
entre os quais cirurgia, imobilização dos maxilares, remédios
inibidores de apetite e assistência psicológica. Os programas
mais usados para perda de peso compreendem a terapia e
modificação do comportamento, uma tentativa bem
documentada que parece produzir relativamente bons
resultados.

O que é modificação comportamental?

O tratamento comportamental da obesidade se baseia na


mudança de hábitos e costumes diários, até se atingir o
objetivo desejado. A premissa básica da terapia do
comportamento é recompensar as condutas benéficas e
desencorajar as prejudiciais. Contudo, a técnica mais recente
de tratamento comportamental tem uma perspectiva mais
ampla e focaliza a conduta alimentar, o apoio social,
exercícios, atitudes e nutrição. O objetivo é modificar as
situações que levam o indivíduo a comer e avaliar as
conseqüências da conduta alimentar. A terapia do
comportamento inclui processos específicos que se destinam a
modificar o comportamento.
Auto-monitoragem

Pede-se à cliente que faça um controle de quando, quanto e


por que come. Assim, aumenta a consciência que ela tem de si
mesma, de forma que o ato de comer não pode "simplesmente
acontecer", e ela tem a possibilidade de avaliar seu sucesso e
se alguma mudança ocorreu.

Removendo pretextos

A cliente é encorajada a acabar com quaisquer pretextos ou


motivos para comer, por exemplo, guardar os alimentos fora
da vista, só comer num limitado número de locais e em
horários definidos, não comer diante da televisão.

Estímulo (recompensa)

A cliente pode se estimular a si própria ou ser estimulada por


outros. Freqüentemente o auto-controle atua como uma
forma de recompensa, pois ela pode ver a mudança em seu
peso e em sua ingestão de alimentos. Comprar roupas novas
ou receber cumprimentos de amigos também são formas de
estímulo.

Apoio social

As pesquisas indicam que o apoio da família e de amigos é um


fator importante na determinação do grau de sucesso da
cliente.
Mudança cognitiva

Programas comportamentais mais modernos também incluem


componentes que visam mudar as atitudes e opiniões da
cliente sobre os alimentos. Acredita-se que as pessoas obesas
fazem juízos negativos a respeito de si mesmas e se punem por
terem falhado em suas tentativas anteriores de perder peso.
Muitos desses julgamentos refletem as atitudes da sociedade
para com as pessoas com excesso de peso, ou seja, que elas são
preguiçosas, gulosas e não têm controle. Mulheres obesas
parecem assumir tais opiniões, o que tende a minar suas
tentativas de emagrecer. Se elas mesmas se dizem: "eu sou
uma idiota preguiçosa e um fracasso", é pouco provável que
tenham êxito em sua luta contra o excesso de peso. Sua auto-
aversão é que faz com que a previsão se concretize: como
acreditam que não vão conseguir, não conseguem mesmo. Os
programas comportamentais têm por objetivo mudar essas
atitudes e ajudar as pessoas obesas a terem confiança em sua
própria capacidade de transformação.
Um outro conjunto de padrões de julgamento que pode ser
prejudicial é verificado nas reações das pessoas obesas aos
alimentos. Muitas vezes, comer algo com alto teor de calorias
será encarado como uma grande comilança, provocando um
sentimento de autocensura, que pode levá-las a comer mais
ainda. Os programas comportamentais se dispõem a ajudar as
clientes a colocar sua alimentação no contexto e aprender a
dizer: "Eu não sou uma inútil, uma escapulida de vez em
quando acontece, e agora eu volto para minha dieta." Assim,
evita-se o tipo de atitude "tudo ou nada", que em geral acaba
por fazê-las abandonar a dieta.

Nutrição

Além de aconselhar as pessoas obesas a não ultrapassarem as


1.200 calorias, para mulheres, ou 1.500, para os homens, a
maioria dos programas também inclui informações sobre
alimentação sadia e os componentes corretos de uma dieta.

Exercícios

Os métodos comportamentais podem ser usados para mudar


os hábitos alimentares, mas também para promover a
atividade física. Deve-se dar estímulo e recompensas às
mulheres que gradativamente aumentam suas caminhadas,
sobem a pé em lugar de usar escadas rolantes ou elevadores, e
aos poucos vão melhorando sua forma.
Essa modificação comportamental encontra acolhida nos
clubes e revistas especializadas?
Existem vários aspectos desses programas que as organizações
comerciais vêm claramente adotando em sua estrutura.

Auto-monitoragem

Contagem de calorias e tabelas de pesos são formas de auto-


monitoragem, permitindo a quem faz dieta controlar
exatamente o que come e evitar comer fora do esquema. Essa
forma de modificação do comportamento tem um papel
essencial na organização dos clubes de emagrecimento e na
estrutura das revistas. Contudo, a maioria dos clubes e revistas
não recomenda o controle de onde e quando você comeu e o
que sentiu ao fazê-lo, provavelmente por que isso levaria
muito tempo e exigiria maior dedicação. Tais componentes
são importantes, pois permitem a quem está seguindo a dieta
perceber quando está comendo sem ter fome e se, ao comer,
está reagindo a certos fatos ou estados de ânimo.

Removendo pretextos

Clubes e clínicas em geral recomendam que você vá ao


supermercado com o estômago cheio e guarde os alimentos
onde não sejam vistos. Aconselha-se também a quem faz dieta
que não compre alimentos com alto teor de calorias, e que
tenha sempre à mão muitos legumes e frutas para "beliscar".
Estas são formas de se evitarem pretextos para comer, e
servem para ilustrar o uso de um princípio psicológico básico
por parte de empresas comerciais.

Estímulo ou aprovação

O estímulo tem uma grande importância no funcionamento


da maioria dos clubes de emagrecimento. O auto-estímulo
decorre do fato de se ver o próprio peso diminuir; nos clubes
todos são pesados e cumprimentados quando emagrecem, e
aconselhados ou mesmo punidos quando não conseguem.
Concursos do tipo "campeão de emagrecimento" motivam as
pessoas a persistirem com a dieta e recompensam quem o
faz..Alguns clubes oferecem uma seção grátis aos sócios que
conseguem manter a perda de peso e a revista Slimmer
publica casos interessantes de emagrecimento. Mas, existem
também problemas, quais sejam, os efeitos da punição ou a
ausência de recompensa. Teoricamente, quem faz dieta
deveria se sentir inibido de engordar ou de não emagrecer,
como forma de encorajar a redução de peso. Porém, as formas
de inibição também podem ser humilhantes e embaraçosas.
Os tipos e graus de castigo para quem não consegue
emagrecer variam de um clube para outro: alguns não
anunciam em voz alta o aumento de peso, mas aconselham a
cliente a se esforçar mais na semana seguinte; já outros
aplicam formas mais radicais, como vaias, zombarias ou a
exibição do grupo dos que "falharam", diante dos outros. Tais
atitudes são desencorajadoras e muitas vezes podem até fazer
com que a pessoa desista da dieta e não volte mais ao clube.

Apoio social

O apoio dos outros é a principal vantagem de freqüentar um


clube ou instituto de emagrecimento, em lugar de fazer a
dieta sozinho. Ali, todos têm um interesse e um objetivo em
comum, e sempre se encontra alguém com quem conversar
sobre o teor de calorias de um cachorro-quente ou sobre o
que se comeu no dia anterior. Muitos até continuam sócios
depois de terem atingido sua meta de emagrecimento, em
geral pela necessidade de um programa de manutenção do
peso, mas também, acredito, para conservar as amizades e ter
algo a fazer à noite.
Exercícios

Nestes últimos anos, ficou evidente que a indústria do


emagrecimento vem cada vez mais enfatizando os benefícios
da atividade física, como coadjuvante da dieta. Os clubes de
emagrecimento costumam dar uma seção de exercícios
brandos uma vez por semana e, embora não se saiba ainda
como a ginástica pode influir na perda de peso, ela produz a
autoconfiança e eleva o ânimo.

Nutrição

A indústria do emagrecimento vem se mostrando cada vez


mais preocupada com a questão da nutrição. As revistas não se
limitam a publicar artigos sobre calorias, mas também sobre
saúde e estilo de vida.
Contudo, ainda existem vários aspectos dos programas
comportamentais recomendados que a indústria não incluiu
em sua estrutura.

Mudança de mentalidade

A maioria das clínicas de emagrecimento ainda adota a


política de definir certos alimentos como "proibidos" e de
aconselhar seus clientes a evitá-los a qualquer custo.
Chocolate e batatas fritas, por exemplo, são considerados
nocivos, não devendo, portanto, ser incluídos numa dieta, o
que tem como efeito torná-los ainda mais desejáveis; em
conseqüência, quando a pessoa em dieta os consome, perde a
confiança em si mesma e continua a comer.
Os programas de tratamento comportamental para obesidade
são os mais utilizados pelos profissionais do ramo. Seus efeitos
estão bem documentados e os resultados que apresentam têm
um grau de sucesso relativamente alto. Os clubes e revistas de
emagrecimento incorporaram algumas dessas teorias
comportamentais em sua estrutura e funcionamento, e
utilizam essas técnicas para ajudar seus clientes e leitores a
perder peso. Pesquisas nesse campo produziram um conjunto
de dados que podem auxiliar os que se submetem a dietas de
emagrecimento, e as organizações comerciais parecem estar
atentas a essas conclusões. Contudo, é importante saber se tais
organizações estão usando estes métodos para ajudar às
pessoas certas: os obesos e os acima do peso. Não se dispõe de
dados para saber quantas pessoas realmente obesas procuram
a indústria do emagrecimento (isto parece variar de um clube
para outro); os relatórios dizem que existe um certo número
delas, confirmando a idéia de que a indústria está res-
pondendo a uma necessidade.

EXPLORANDO UMA NECESSIDADE

Os que freqüentam os Vigilantes do Peso têm, em média,


cerca de 16 quilos acima do peso normal. Contudo, essa cifra é
assim alta devido aos poucos membros obesos, que puxam a
média para cima. A maioria só tem aproximadamente seis
quilos acima do normal. Será que eles realmente precisam
perder este excesso, ou estarão respondendo à pressão da
mídia?
Há clubes de emagrecimento que aceitam pessoas com uns
poucos quilinhos a mais. Essas mulheres são levadas a verem
esses poucos quilos como um problema do qual têm que se ver
livres. Não se procura saber o motivo delas quererem ser só
aquele pouquinho mais magras.
A dieta de Cambridge é recomendada somente para quem tem
um grande excesso de peso, isto é, 50 por cento além da média
normal para sua altura. No entanto, ela pode ser seguida por
qualquer um que queira emagrecer — mesmo que a gordura
esteja só em sua imaginação.
Mulheres que não são obesas e nem mesmo estão muito acima
do peso também querem emagrecer. Elas acreditam que, se
perdessem alguns quilinhos, teriam uma vida melhor e seriam
mais felizes. Estas mulheres também freqüentam os centros
de emagrecimento e lêem tudo o que se publica sobre dietas.
Somente 16 por cento da população feminina é obesa.
Contudo, a proporção das que fazem dieta é muito maior. Se a
indústria do emagrecimento se dirigisse apenas às que
necessitam fazer dieta por motivos de saúde, sua clientela
seria muito pequena. Mas, ao atrair todas aquelas mulheres
que só querem perder uns quilinhos, a procura passa a ser
enorme. E é exatamente isso o que acontece. As revistas
especializadas não publicam apenas artigos sobre como
emagrecer alguns quilos, mas também os que dizem "como
perder as gordurinhas extras para o verão" e "suas roupas estão
apertadas? Perca o excesso de peso já e rapidamente". Segundo
os Vigilantes do Peso, a média de peso de suas freqüentadoras
vem se tornando cada vez menor nos últimos seis a sete anos,
o que seria uma resposta à tendência da "mulher desejável" ser
mais magra. As pesquisas indicam que o peso da população em
geral está aumentando, porém nos clubes de emagrecimento
as pessoas são cada vez mais leves. Um estudo realizado em
Minneapolis, em 1980, analisou os pesos e alturas das
mulheres que freqüentavam clubes de emagrecimento,
chegando à conclusão de que mais da metade delas não se
enquadrava num critério objetivo de excesso de peso.

Como a indústria explora esta necessidade de emagrecer?

A sociedade exerce pressão sobre as mulheres para que sejam


magras, e a própria idéia de magreza está "emagrecendo". A
maioria se sente gorda, mas objetivamente não está acima do
peso. Elas têm um problema com seu peso percebido, e não
com o peso real, porém a indústria do emagrecimento trata
essa percepção como um fato. "Estou me sentindo gorda" é
traduzido por "estou gorda", e é onde entra a indústria,
oferecendo a solução. A indústria se dirige às mulheres que
não estão satisfeitas com seus corpos.
Rosemary Conley, em seu livro Complete Hip and Tigh
Diet (Dieta completa para quadris e coxas) leva ao extremo
essa extensão do mercado das dietas. Ela relata numerosos
casos de sucesso, muitos dos quais de mulheres que começam
por dizer: "Embora eu nunca tenha estado exatamente além
do peso" (p. 35), "Como, de início, eu não estava realmente
gorda ou com excesso de peso" (p. 31) ou "Dificilmente eu
seria considerada acima do peso" (p. 29), o que evidencia que
elas não eram gordas, nem se sentiam gordas, mas mesmo
assim faziam dieta. Com isso, o mercado das dietas se expande
ainda mais e oferece seus produtos e serviços não apenas às
mulheres que objetivamente têm excesso de peso, ou então às
que se consideram gordas, mas às que nem mesmo se sentem
gordas. Sob esse prisma, qualquer mulher, de todo tipo e
tamanho, pode recorrer à dieta para ficar melhor consigo
mesma.
Em minhas entrevistas com editores de diversas revistas e
coordenadores de clubes de emagrecimento, eu lhes perguntei
se não consideravam exploração acenar com dietas a mulheres
que simplesmente se sentiam gordas ou, em alguns casos, nem
mesmo se achavam acima do peso. Ninguém concordou em
ser citado diretamente, mas todos argumentaram que não era
sua atribuição contestar o desejo de emagrecer de qualquer
pessoa. Acreditavam estar respeitando o direito de cada uma
de tomar sua própria decisão e alegaram que estariam
interferindo se questionassem essa vontade de emagrecer. Em
recente programa de televisão, uma representante da revista
What Diet and Lifestyle disse: "Se você não está feliz com
seu peso, nós lhe oferecemos uma maneira de mudá-lo." Ela
acreditava estar interpretando a decisão do público de "não
estar feliz com seu peso" e respondia à mesma. Ela não
questionou por que tantas mulheres se sentem gordas ou se
haveria uma solução alternativa para esse sentimento, além da
dieta para emagrecer.
Porém, talvez existam outros meios de responder àquela
insatisfação, sem recorrer ao regime. Todos nós fomos
ensinados a respeitar as atitudes e crenças das outras pessoas;
mesmo que não estejamos de acordo; não contestamos ou
criticamos uma convicção, e acreditamos que cada um tem o
direito de tomar suas próprias decisões. Mas tendemos a
esquecer que tais crenças são o produto de pressões e
expectativas da sociedade, e não são necessariamente
intocáveis. Pela contestação, é possível modificar atitudes e
formar novas crenças. Questionar as opiniões de alguém e
sugerir uma outra maneira de ver as coisas não deve ser
interpretado como interferência.
Mas para a indústria do emagrecimento é mais vantajoso não
contestar tais opiniões. Relatórios recentes demonstram como
seus lucros "engordam", tendo sua clientela aumentada por
um grande número de mulheres que simplesmente se acham
gordas.
A indústria não só responde a uma necessidade, mas também
explora essa necessidade. Ao se recusar a orientar as mulheres
que não estão acima do peso, mas se sentem gordas, ela age
como se elas tivessem um problema real de peso. Ela explora a
insatisfação das mulheres com seus corpos para ampliar seu
mercado e lucrar financeiramente.

CRIANDO UMA NECESSIDADE

A indústria do emagrecimento cria a necessidade para si


própria. Ela tem uma grande participação na pressão da mídia
que sugere, e até mesmo dita, que tipo de mulher está na
moda. As revistas usam modelos tamanho 38 para apresentar
as roupas da estação, a publicidade de produtos para
emagrecer, novas dietas e alimentos dietéticos também
mostra sempre mulheres muito magras. Histórias de mulheres
que tiveram êxito em seu objetivo de emagrecer são
publicadas nas revistas, mostrando como elas se sentem mais
felizes e como suas vidas melhoraram. Mas tal êxito é definido
de acordo com as expectativas sociais, e não com o conceito
particular de cada pessoa. Mulheres que conseguiram
emagrecer de cerca de 115 para 90 quilos e resolveram parar
por aí não merecem fotos ou a divulgação de seus casos. A
meta de perda de peso é determinada segundo o que a
indústria acredita ser o seu peso ideal, e não o ponto em que
você passa a se sentir melhor consigo mesma. Quanto aos
outros, que jamais conseguem perder um grama, nada é
publicado; dietas que não dão resultado não são algo que deva
ser encorajado.
A indústria do emagrecimento também apresenta a dieta
como forma de modificar sua vida. As histórias de sucesso, as
promessas de satisfação futura e a constante correlação de
magreza com felicidade promovem a idéia de que para ser
feliz é preciso ser magra, e que fazer dieta é o caminho para a
felicidade. É impossível ler uma revista especializada sem se
sentir gorda e sem fazer planos de passar a comer menos.
Revistas, televisão, filmes, todos nos mostram como devemos
ser magras. Para vestir suas roupas e serem seduzidas pelos
heróis, as modelos usadas devem ser magras para serem
atraentes. A indústria do emagrecimento participa dessa
promoção, participa da criação da necessidade da existência
de tal indústria.
A indústria do emagrecimento responde à uma necessidade,
pois mulheres que precisam perder peso podem encontrar
apoio e uma estrutura na forma de clubes e revistas. No
entanto, a indústria também explora a insatisfação das
mulheres com seus corpos, ao tratar seu problema imaginado
como problema real, e ao se oferecer para solucioná-lo. Para
começar, ela é também responsável pela criação desse
problema. Trata-se da indústria perfeita: ao criar um mercado
para si mesma, ela se certifica de que as mulheres continuarão
a se sentir gordas e continuarão a sustentá-la.

Capítulo 6
As dietas dão resultado?

O mundo das dietas se cerca de um saudável brilho de


otimismo. Todas as dietas são vendidas com a certeza de que
"você pode conseguir" e "desta vez você vai emagrecer". O que
se quer mostrar é que as dietas são um sucesso e que perder
peso é muito mais do que apenas uma vaga possibilidade. Em
Complete Hip and Thigh Diet (Dieta completa para quadris
e coxas) de Rosemary Conley, encontramos muitos casos de
sucesso e cartas de leitoras contando quantos quilos perderam.
Conley tem total confiança e diz "eu estava determinada a
mostrar que minha dieta funcionava mesmo" (p. 28),
relatando que os resultados de seu questionário indicaram que
"ninguém ficou desapontado" (p. 37). O Dr. Lynch fala a
respeito dos princípios traçados em sua dieta da BBC: "se
você os seguir, você vai perder peso" (p. 37). A perda de peso
é apresentada como uma certeza. Todavia, avaliar o sucesso
real de quem faz dieta traz muitos problemas.
ATÉ QUE PONTO QUEM FAZ DIETA CONSEGUE ÊXITO?

Uma pesquisa realizada na Grã-Bretanha indica que só uma


em cada dez freqüentadoras de clubes de emagrecimento,
como Vigilantes do Peso, alcança sua meta de emagrecimento.
Porém, é difícil entender o que tais números realmente
significam. Os clubes não registram qualquer informação dos
pesos iniciais dessas mulheres, de forma que não há meios de
se saber quantos quilos deveriam perder para sua dieta ser
considerada um sucesso. Além disso, os clubes não têm
condições de proporcionar nenhuma informação se nessa
proporção se incluem todas as mulheres que desistem porque
não conseguiram perder nada, e se representa as que saem e
depois retornam para uma nova tentativa. É possível que uma
freqüentadora que saiu e voltou várias vezes seja contada de
cada vez como nova sócia.
Um dos problemas para se avaliar o sucesso de uma dieta para
emagrecer é saber quantos quilos se pretendia perder ao
começar, o que nos traz a questão de se a pessoa era obesa,
com excesso de peso ou simplesmente se via como gorda. A
maior parte das pesquisas sobre o sucesso das dietas tem
estabelecido quanto emagrecem as pessoas obesas e com
excesso de peso; mas fica difícil determinar a eficácia das
dietas em mulheres de peso mediano, pois estas ou costumam
fazer dieta sozinhas, sem assistência médica ou psicológica, ou
suas alterações de peso se perdem entre as das obesas.
Em 1984, o Dr. Feinstein, da Escola de Medicina de Yale
(Estados Unidos), calculou que apenas cerca de 12 por cento
das pacientes que procuram ajuda médica para emagrecer
conseguem realmente perder peso. Estimou ainda que
aproximadamente duas destas doze mantiveram o peso. A
comparação destes números com os daquelas que não passam
por controle médico também suscita vários problemas; este
número poderia ser maior do que na população média que
tenta emagrecer, pois aqui cabe o argumento de que pacientes
que procuram auxílio externo têm maior determinação de
conseguir seu intento e estão diante de um caso de risco de
vida. Inversamente, poder-se-ia argumentar que elas também
têm um problema de peso mais sério e mais difícil de resolver,
sugerindo que tal número é menor do que o que mede a taxa
de sucesso da população em geral.
Talvez seja necessário avaliar separadamente o sucesso das
dietas entre as pessoas obesas e as com peso normal.

Resultados nos casos de obesidade e excesso de peso

Em 1958, Albert Stunkard previu que "95 por cento dos que
fazem dieta recuperam o peso cinco anos após o tratamento".
Em 1989, na Filadélfia, o Dr. Thomas Wadden e
colaboradores realizaram um estudo para verificar aquela
estimativa; foram relatados os resultados de uma pesquisa de
cinco anos, durante os quais acompanharam um grupo de
setenta e seis mulheres obesas que haviam tentado emagrecer.
O grupo foi dividido em três, prescrevendo-se para o primeiro
uma dieta de mínimo teor calórico durante quatro meses, para
o segundo, uma terapia de comportamento incluindo dieta de
baixo teor calórico, incentivos pela perda de peso e assistência
para a mudança de atitudes e conduta com relação à comida,
durante seis meses, e para o terceiro, uma combinação de
ambas, também por seis meses.
A perda de peso inicial foi muito semelhante para todas, que
emagreceram entre 11 e 16 quilos aproximadamente, num
período de seis meses. As mulheres que seguiram a dieta
combinada de mínimo teor calórico e terapia de
comportamento perderam mais peso do que as dos outros
grupos. Porém, após um ano, 95 por cento das mulheres do
primeiro grupo (dieta de mínimo teor calórico) e 64 por cento
das do segundo grupo (terapia de comportamento) haviam
recuperado parte do que haviam emagrecido. O grupo que
recebeu o tratamento combinado apresentou 68 por cento de
recuperação de peso. Após cinco anos, a maioria das mulheres
(64 por cento) havia recuperado tudo o que havia perdido.
Na verdade, algumas das participantes do estudo chegaram a
engordar mais ainda, enquanto três delas conseguiram manter
o novo peso.
Estes resultados sugerem que as coisas não são tão sombrias
conforme as previsões de 1958. Contudo, mesmo quando as
mulheres se submetem a um regime severo, com supervisão e
apoio, a perda de peso e, mais especificamente, a manutenção
do peso são muito difíceis. Outros estudos também
investigaram a perda de peso em pessoas obesas e chegaram a
resultados semelhantes. Em 1986, o Dr. Kramer e
colaboradores concluíram que 70 por cento de suas clientes
obesas recuperaram todo o peso que haviam perdido, e um
outro estudo indica que cerca de 81 por cento das pessoas
obesas voltam ao mesmo peso de antes da dieta.
Os números acima dão a entender que ainda não existe um
conjunto de regras fixas e seguras para a perda de peso, nos
casos de obesidade. A dieta pode resultar em perda de peso no
início, mas a manutenção dessa perda é problemática.
Todavia, isto não quer dizer que as pessoas obesas ou com
excesso de peso devam necessariamente desistir ou deixar de
procurar assistência profissional. Muitas pesquisas estão sendo
realizadas, para se encontrar formas mais eficazes de
promover o emagrecimento daquelas pessoas para quem o
excesso de peso constitui risco à saúde. Nos Estados Unidos
existe o programa LEARN , um projeto complexo e
abrangente para pessoas obesas e com excesso de peso, que dá
ênfase à modificação da maneira de viver e estimula a
compreensão de todos os aspectos que envolvem peso e
alimentação, fixando-se não apenas na comida, mas também
nas atitudes para com os alimentos, estado de espírito e
tamanho. Embora não totalmente testado, esse programa
certamente traz algum otimismo a este campo bastante
desanimador.
A dificuldade das pessoas obesas em perder peso tem suas
implicações para as inúmeras mulheres que tentam
emagrecer, não porque estejam objetivamente acima do peso,
mas porque se imaginam gordas — a grande maioria das que
fazem dietas. Para a mulher obesa, de certa forma é mais fácil
fazer dieta do que para aquela que tem peso mediano. Embora
as obesas tenham mais peso a perder e necessitem de um
período maior de esforço conjugado para alcançarem sua meta
de peso, outros fatores contribuem para tornar sua dieta um
pouco mais fácil. Para começar, essas mulheres muito acima
do peso receberão total apoio externo; as pessoas que lhes são
importantes aceitarão que elas precisam emagrecer e darão o
apoio necessário; elas não se verão rodeadas por amigas que
lhes oferecem comida e dizem que estão ótimas como estão.
As preocupações e problemas de saúde decorrentes da
gordura, como falta de ar, problemas nas articulações,
constituem motivação adicional para emagrecerem. Já as
outras, em sua maioria, não são levadas por essas peocupações
e nem recebem o apoio e incentivo de todos os que as cercam.
Afinal, qual é o grau de sucesso das dietas entre as mulheres
de peso mediano?

Perda de peso entre mulheres de peso mediano.

É muito difícil avaliar quanto perdem as mulheres de peso


mediano quando fazem dieta. Muitas delas seguem a dieta por
sua própria conta e não contam com controle externo,
portanto, não há registros de seu êxito ou fracasso. Também é
difícil avaliar o sucesso de uma dieta em pessoas que
objetivamente não têm necessidade de emagrecer. Pode-se
considerar sucesso uma redução de três quilos, quando em
princípio ninguém além delas mesmas julgou que precisavam
perder esse peso? E se a perda for de seis quilos, o sucesso é
maior? Provavelmente, a melhor forma de se avaliar o sucesso
é comparar o objetivo de emagrecimento com o peso real após
a dieta. Assim, removem-se todas as noções subjetivas sobre a
necessidade de a pessoa fazer dieta, e é possível avaliar a
eficácia de sua disposição de perder peso.
Pesquisadores apresentaram várias estimativas quanto ao
êxito das dietas na perda e manutenção do peso, entre pessoas
de peso mediano. A maioria dessas avaliações dá a entender
que 5 por cento emagrecem e conseguem manter o peso.
Contudo, quaisquer cifras são muito difíceis de serem
interpretadas. Talvez seja igualmente importante levar em
conta alguns casos individuais.
O questionário abaixo se destina a avaliar o grau de sucesso da
pessoa de peso normal em sua tentativa de emagrecer.
Se você responder às perguntas, verá logo o grau de sucesso.
Não se trata de um exercício para causar angústia ou
desapontamento, mas de um instrumento útil para a avaliação
do comportamento.

Sucesso da dieta

1. Quando você começou a fazer dieta?


2. Há quantos anos foi isto?
3. Quanto você pesava quando começou a fazer dieta?
4. Quanto desejava pesar?
5. Quanto pesa hoje?
6. Quanto gostaria de pesar hoje?

Examine a relação entre suas respostas. Qual é a comparação


entre seu peso atual e o peso que você tinha quando começou
a fazer dieta? Qual a comparação entre seu peso ideal, antes e
agora? Quantos anos de sua vida você passou pensando em
emagrecer e tentando comer menos? Até que ponto tudo isso
deu resultado? Valeu a pena?
Se você acha que valeu a pena, está de parabéns! Se não tem
certeza ou se acha que na verdade todo o esforço dispendido
não serviu para nada, você não está sozinha.

QUANDO A DIETA É UM SUCESSO

As informações sobre dietas que não dão resultado e sobre


pessoas de todos os tipos e tamanhos que não parecem perder
peso são bastante desanimadoras. Contudo, algumas pessoas
parecem conseguir emagrecer. As histórias de sucesso
publicadas nas revistas especializadas têm de vir de algum
lugar. Será que essas pessoas são de alguma forma, diferentes?
Existem fatores que distinguem quem faz dieta com sucesso
de quem não consegue emagrecer?
Um dos fatores que serve como bom indicador da perda de
peso é o sexo — não sua prática, mas se você é homem ou
mulher. Os homens conseguem mais êxito que as mulheres,
tanto para emagrecer como para conservar o peso. Segundo o
representante de um clube de emagrecimento, "os homens
começam a freqüentar os clubes pesando mais do que a
maioria das mulheres, fazem dieta, emagrecem e saem em
menos tempo do que um bom número de mulheres que já
estavam lá antes deles." Como se explica isso?
Existem muitos fatores que parecem ter influência sobre a
perda de peso, fatores esses provavelmente mais
característicos dos homens do que das mulheres.
E quais são esses fatores?
O mais evidente é o número de tentativas anteriores de
emagrecer. Os homens costumam fazer dieta só uma vez. Eles
não passam a vida inteira tentando perder peso, o que já é um
bom prognóstico. Quanto menos dietas forem tentadas, tanto
maior sua probabilidade de emagrecer. Se você faz dieta,
perde peso e depois recupera tudo, fica mais difícil voltar a
emagrecer. Isto ocorre em virtude de alterações na taxa
metabólica e na porcentagem de gordura no corpo, e de um
processo chamado ciclo do peso, que é analisado com mais
detalhes no Capítulo 7. Os homens fazem dieta uma vez, têm
uma alta taxa metabólica e maior porcentagem de massa
muscular, e para eles é mais fácil emagrecer.
Dietas repetidas têm outros efeitos danosos. Quando não se
consegue emagrecer ou quando se recupera o que foi perdido,
vem a desilusão. Um dos melhores prenúncios do sucesso de
uma dieta é você acreditar que vai conseguir. Homens que
nunca fizeram dieta antes não passaram pelos sentimentos de
fracasso associados às constantes dietas e, portanto, tendem a
acreditar que emagrecer é fácil e que podem consegui-lo. Esta
crença em seu próprio sucesso aumenta a probabilidade disso
realmente acontecer.
A presença de comida por perto também predetermina o
sucesso ou o fracasso da dieta. Os homens normalmente não
vivem cercados por alimentos, não precisam cozinhar ou
fazer compras para a família, e não são tentados a comer a
toda hora. Quando decidem emagrecer, eles se desligam de
tudo que diz respeito a alimentos, e se concentram
únicamente em comer menos. Já com as mulheres, é
diferente. Quando decidem fazer dieta, precisam continuar a
cozinhar e fazer as compras e proporcionar uma alimentação
de alto teor calórico para todos os outros da família, enquanto
elas tratam de comer menos.
Finalmente, os homens não são pressionados a serem magros
no mesmo grau que as mulheres. Eles decidem fazer dieta
quando estão com excesso de peso muito maior do que elas,
portanto, têm um motivo adicional para emagrecer: a saúde.
Naturalmente, nem todos que obtêm sucesso na dieta são
homens, e os fatores que favorecem a perda de peso também
podem existir no caso das mulheres. Contudo, os homens
personificam muitos dos fatores que determinam o
emagrecimento.
Existem, porém, outras características associadas ao sucesso
das dietas, que não são necessariamente próprias dos homens.
O aumento da atividade física parece ser um fator favorável
para o êxito da dieta. Em recente estudo efetuado nos Estados
Unidos, ficou demonstrado que a dieta aliada aos exercícios
físicos tem maior probabilidade de levar ao emagrecimento do
que apenas uma dieta baseada na redução de calorias.
Inicialmente, acreditava-se que os exercícios provocavam o
emagrecimento pelo desgaste de calorias. É certo que os
exercícios queimam calorias, mas num grau
surpreendentemente baixo em comparação com uma refeição
média. O professor Kelly Browndell elaborou uma tabela para
explicar de que forma as calorias são consumidas na atividade
física. Ele calculou que para uma pessoa pesando cerca de 57
quilos, um sono de dez minutos consome 10 calorias, uma
corrida de dez minutos a uma velocidade de 9 quilômetros
por hora consome 90 calorias, e subir escadas durante dez
minutos, 146 calorias. Um almoço normal leva provavelmente
vinte minutos e consiste de cerca de 400 calorias! Até pouco
tempo atrás também se acreditava que os exercícios faziam
aumentar a taxa metabólica, mas novas constatações indicam
que, embora a taxa possa se elevar temporariamente, isto só
ocorre como resultado de exercícios intensivos e prolongados.
Contudo, a atividade física parece mesmo favorecer a perda
de peso; de que forma?
Os exercícios têm muitos outros efeitos que indiretamente
influenciam a perda de peso. Em princípio, ajudam a manter o
tecido muscular enquanto o corpo perde gorduras. Além
disso, a atividade física pode proporcionar prazer e diversão,
fazendo esquecer por um tempo os problemas do dia-a-dia. O
aumento da autoconfiança também contribui para um
sentimento geral de autocontrole, que é um fator importante
nas tentativas de se perder peso.

MAS PARA A MAIORIA...

Para a maior parte das pessoas, dietas não funcionam. Não


importa se são obesas ou com excesso de peso, ou se apenas se
imaginam gordas, fazer dieta não as ajuda a ficarem mais
magras. No início, pode ocorrer perda de peso, que, no mais
das vezes, é recuperado, tornando mais difíceis novas
tentativas de emagrecer.
A grande maioria dos que fazem dieta não tem problemas de
obesidade ou de excesso de peso; apenas acham que estão
além do peso. E, no entanto, o desejo de emagrecer faz com
que persistam em fazer dieta. Suas próprias experiências de
tentativas anteriores demonstram que não perderão peso, mas
há sempre a esperança de que "desta vez será diferente". Para
a maioria, porém, cada vez é exatamente igual a todas as
outras.
Para os obesos ou com excesso de peso, talvez haja outros
motivos para insistirem, tentando novos programas e pro-
curando as últimas publicações a respeito do assunto, mas
para a maioria das mulheres, por que continuar a fazer algo
que não traz resultados?

Capítulo 7
Por que falham as dietas?

A indústria do emagrecimento, os médicos e o folclore nos


dizem que se comermos menos, perderemos peso. Trata-se de
uma equação muito simples, envolvendo a energia que o
corpo absorve e a que consome. Se a entrada de energia for
maior do que o consumo, ocorrerá aumento de peso, e se ao
contrário o consumo for maior do que o ganho, então o peso
diminuirá.
Por nossa própria observação, sabemos que habitantes de
países onde há carência de alimentos obviamente comem
menos (porque não têm o que comer) e, pelas fotos que vemos
nos jornais, não se pode dizer que tenham excesso de peso
(muito pelo contrário!); os anoréxicos voluntariamente
restringem sua alimentação e conseguem uma considerável
redução de peso. Contudo, quem faz dieta e tenta comer
menos raramente emagrece. O jornal Daily Mail publicou a
seguinte observação a respeito de um grupo de pessoas em
dieta: "Ao que parece, se acabaram gordos e infelizes, o único
motivo é, com certeza, não terem seguido corretamente suas
dietas." Mas, será tão simples assim?
Por que, então, tantas dietas falham?
Como já vimos em capítulo anterior, a maioria dos que fazem
dieta parecem oscilar entre períodos em que comem menos e
outros em que comem mais do que quem não faz dieta.
É difícil determinar exatamente quanto come quem faz dieta,
mas de início gostaria de considerar por que a maioria, mesmo
comendo menos do que quem não faz dieta, e menos do que
comeria se não estivesse em dieta, ainda assim não emagrece.

OS EFEITOS METABÓLICOS DA REDUÇÃO DA


ALIMENTAÇÃO

A dieta afeta a taxa metabólica. Se você passa a comer menos,


seu corpo reduz a taxa com que normalmente funciona.
Só em tempos relativamente recentes a maioria dos povos do
mundo ocidental pode dispor de quantidades suficientes de
alimentos. Mas, em termos de presença humana sobre a terra,
ainda temos que estar preparados para enfrentar secas, falta de
alimentos e períodos de fome extrema. A evolução nos mostra
que a fome é muito mais nociva para o corpo e muito mais
provável de levá-lo à morte do que a superalimentação.
Assim, a evolução nos dotou de um método perfeito para
evitar a inanição durante um período de carência de
alimentos: armazenar o excesso, quando disponível. Tal
excesso é guardado principalmente sob a forma de gordura, a
qual é oxidada para produzir energia, quando necessário.
A taxa metabólica representa a quantidade de energia que é
liberada para uso durante um determinado período de tempo.
Nossas taxas metabólicas também se adaptam perfeitamente à
escassez de alimentos. Se reduzimos nossa ingestão de
alimentos, nosso corpo se prepara para recorrer às reservas
armazenadas. A taxa metabólica se reduz, de forma que o
corpo continue a funcionar tão eficientemente quanto
possível, isto é, usando um mínimo de energia e de gordura
armazenada. Uma dieta por um período de quatorze dias pode
fazer a taxa metabólica declinar em até 20 por cento.
Um estudo recente da Universidade Rockefeller de Nova
York analisou os efeitos da dieta sobre as necessidades diárias
de energia, utilizando um grupo de pessoas obesas; mesmo já
tendo emagrecido consideravelmente, ainda estavam com um
excesso de peso de 39 quilos em média. Constatou-se que à
medida que emagreciam, suas necessidades diárias de energia
se reduziam na mesma proporção. Após terem perdido uma
média de 56 quilos, suas necessidades de calorias diminuíram
28 por cento em média, ficando até menores do que as de
pessoas com peso normal. À medida que perdiam peso, seus
corpos consumiam qualquer alimento disponível com mais
eficiência.
Embora seja irritante para quem deseja perder peso, isso faz
sentido para o corpo, que responde a uma história evolutiva
de como enfrentar a falta de comida. Abundância de comida
ainda é um desenvolvimento relativamente recente, e o
desejo de emagrecer pela rejeição do alimento não faz sentido
para nosso instinto de sobrevivência.
Portanto, mesmo se quem faz dieta consegue comer menos do
que quem não faz, e menos do que comeria se não estivesse
em dieta, esta mesma dieta reduz sua taxa metabólica. Todo
alimento ingerido é usado com mais eficiência, e a
necessidade de metabolizar a gordura é reduzida a um
mínimo. Para emagrecer e manter o peso, quem faz dieta deve
comer menos de forma constante e, para compensar a redução
da taxa metabólica, terá de comer cada vez menos com o
passar do tempo.
Mas, o que acontece nas épocas em que quem faz dieta está
comendo mais do que quem não faz, e talvez até mais do que
comeria se não estivesse em dieta?

QUEBRANDO A DIETA

Costuma-se supor que as dietas não dão resultado porque as


pessoas não estão realmente fazendo dieta. A indústria do
emagrecimento nos diz que quem fracassa em sua dieta não
tem força de vontade ou simplesmente não a está seguindo
direito. A responsabilidade por não conseguir perder peso é
debitada à pessoa que quer emagrecer, sem nenhuma
compreensão do processo que constitui a quebra da dieta.
Trabalhos experimentais demonstram que quem faz dieta
come demais tanto em laboratório como em estudos
naturalistas. Esse comportamento talvez seja um exemplo de
quebra de dieta, sugerindo que não seguir a dieta é um
assunto bem mais complexo do que uma simples falta de
determinação.
Então por que as pessoas não seguem suas dietas? Se tudo o
que têm a fazer é reduzir a quantidade de comida?
Qualquer pessoa que já tenha feito dieta pode fornecer pilhas
de razões para ter parado, e citará centenas de exemplos de
ocasiões em que comeu mais do que pretendia. Os que fazem
dieta se recordam das diferentes causas de seus episódios de
"super-indulgência", mas a maioria continua a assumir a culpa
e se considerar um fracasso.
Ao longo deste capítulo, me reportarei aos resultados de uma
experiência que desenvolvi como parte de minha tese de
doutorado, segundo os quais a quebra da dieta não é culpa da
pessoa que faz a dieta, não reflete inadequação pessoal, mas é
uma conseqüência inevitável da estrutura da dieta. O ato de
comer demais é parte integrante da tentativa de fazer dieta e
resultado de procurar comer menos: um produto direto da
dieta.
No último ano de meu doutorado, realizei um estudo para
examinar os efeitos das dietas e tentar descobrir por que
tantas dietas falham e por que as mulheres quebram suas
dietas. A ação de comer em excesso demonstrada no
laboratório também é relatada pelas pessoas que fazem dieta
em sua vida diária. Muitas mulheres confirmam oscilar entre
dias em que conseguem comer menos e outros em que se
descontrolam completamente.
Imagine-se seguindo fielmente uma dieta de 1000 calorias
diárias durante três dias e, no quarto dia, recebendo um
convite para jantar. Tentadas por toda a comida à sua frente e
pelo fato de ser uma ocasião especial, muitas pessoas que
fazem dieta admitem que comeriam mais nesse jantar do que
fariam se, nos dias anteriores, tivessem se alimentado
normalmente. É como dizer: "Ora bolas! Se é para quebrar a
dieta, que seja em grande estilo." É o que acontece quando se
tenta largar o fumo ou a bebida.
Uma amiga minha costumava fumar somente depois das seis
da tarde. Jamais pensava em cigarros antes dessa hora e,
certamente, não pensaria em fumar cedo pela manhã. Numa
deliberação de ano novo, ela resolveu parar de fumar. A partir
de então, só fazia pensar em fumar, mesmo de manhã.
Acordava desesperada por um cigarro e quando finalmente
cedeu, reparou que nos primeiros dias de volta ao vício estava
fumando mais do que jamais havia feito. O ato de comer
demais constatado nas pessoas que fazem dieta é algo
semelhante.
A princípio acreditava-se que a uma fase de comida em
excesso seguia-se um período de dieta, que as pessoas faziam
dieta por terem uma tendência a comer demais e precisavam
compensar esses episódios de fraqueza. Como vimos no
Capítulo 2, existe todo tipo de pessoas fazendo dieta. Algumas
têm problemas com alimentação, mas a ampla maioria apenas
se imagina fora do padrão ditado pela sociedade. Não há nada
para demonstrar que as pessoas passam a fazer dieta porque
têm fases em que comem demais.
Sugeriu-se então que a dieta é que provocava a comida em
excesso — uma completa inversão da teoria original.
Pesquisadores aventavam que as pessoas em dieta comiam
demais no laboratório e também no dia-a-dia como
conseqüência direta de sua tentativa de comer menos. Ocorre
aqui uma analogia com o caso do fumo: tentar largar o cigarro
traz um desejo maior de fumar, e tentar parar de comer nos
faz comer demais. A diferença é que parar de fumar é uma
boa coisa, mas parar de comer, não!
Esta idéia foi denominada análise Causal do comportamento
alimentar e sugere que tentar não comer, paradoxalmente,
aumenta a probabilidade de se comer demais, exatamente o
que procura evitar quem faz dieta. Tratava-se de uma nova
abordagem do comportamento alimentar das pessoas em dieta
e de uma reavaliação interessante da situação.
Um estudo de Wardle e Beales, em 1988, demonstrou que as
pessoas em dieta tinham tendência a comer em excesso, tendo
os autores concluído que os resultados "confirmavam a idéia
de que a dieta provoca distúrbios na ingestão de alimentos".
Mas por que é assim? Por que a dieta leva ao excesso de
comida?
É possível que a comida em excesso seja um produto direto
das alterações que ocorrem em conseqüência da dieta. Esta
poderia causar mudanças que aumentassem a tendência de se
comer mais.
A análise causal da dieta e da comida em excesso parecia
indicar que a intensificação da dieta poderia provocar um
aumento dos fatores associados ao excesso de comida. As
pesquisas indicam que podem ocorrer alterações de ânimo,
estado de espírito, controle e fome como resultado da dieta,
provocando um maior desejo de comer.
Existe um estudo clássico, realizado em 1950 pelo professor
americano Ancel Keys e colaboradores, cujo objetivo era
avaliar os efeitos de um período de restrição de calorias e
verificar se a redução da ingestão de alimentos levava a comer
demais. Durante um período de doze semanas, trinta e seis
homens sadios e que não faziam dieta receberam uma
quantidade diária de alimentos cuidadosamente controlada,
que representava cerca de metade de sua alimentação normal;
em conseqüência, eles perderam 25 por cento de seu peso
original. Ancel Keys revela que eles desenvolveram uma
preocupação com comida que muitas vezes fazia com que a
armazenassem ou a furtassem. Eles demonstravam
incapacidade de concentração e alterações de ânimo, sendo
comuns a depressão e a apatia. Ao final do período de
restrição, foi-lhes permitido comer livremente, e muitos deles
comeram sem parar. Relataram a perda de controle sobre seu
comportamento alimentar, resultando por vezes em
comilanças. O autor concluiu que esses efeitos psicológicos
não eram causados pelo próprio processo de inanição, mas,
com maior probabilidade, pelo rigor da dieta a que foram
submetidos.
Em 1988, Warren e Cooper, em estudo realizado em
Cambridge para avaliar os efeitos das dietas tanto no ânimo
como no controle sobre a comida, colocaram sete homens e
sete mulheres numa dieta de restrição de calorias, durante
duas semanas, monitorando todas as alterações diárias.
Constataram um aumento no sentimento de perda de controle
sobre a comida e maior preocupação com a alimentação.
A dieta parece levar à comida em excesso pela mudança dos
fatores que contribuem para se comer mais. No meu estudo,
tentei determinar quais poderiam ser esses fatores.
Perto de 90 por cento da população feminina já fez dieta em
alguma época da vida. O objetivo do estudo era examinar os
efeitos dessas constantes tentativas de emagrecer e analisar
sua contribuição para a comida em excesso. O fato de não
conseguir perder peso é em geral considerado um sinal de
fraqueza e uma indicação de que a dieta não está sendo
seguida corretamente. Os resultados a seguir indicam que
quem fracassa em sua dieta está apenas respondendo a
alterações que ocorrem durante ela e que sua quebra é
inevitável.

O método do estudo

Para o estudo, foram recrutadas vinte e três mulheres, entre


enfermeiras, secretárias e pessoal administrativo do Instituto
de Psiquiatria de Londres. Publiquei um anúncio pedindo
voluntárias que desejassem tentar perder peso para o verão e
não houve problema para selecionar candidatas suficientes!
Todas ouviram da dietista do hospital uma interessante e
informativa explicação sobre o que constitui uma dieta
saudável e nutritiva, e foram aconselhadas a se manterem
entre 1000 e 1500 calorias diárias. Todas as participantes
elaboraram sua própria dieta, de acordo com seu modo de
viver, o que significava que o estudo seria o mais naturalista
possível. As dietas escolhidas eram bem o reflexo do que elas
fariam para emagrecer, mesmo não participando do estudo.
No início do período de seis semanas da dieta, todas se
sentiam muito entusiasmadas e confiantes. Achavam que
"agora iriam conseguir" e "desta vez seria diferente". Havia
entre elas um forte sentimento de apoio mútuo e um
reconhecimento de que todas estavam no mesmo barco,
podendo entender como cada uma estava se sentindo. Escalas
de avaliação registravam alterações no humor, no estado de
espírito, na fome e na preocupação com comida e peso, e uma
entrevista incluía perguntas gerais sobre dietas e outras mais
específicas relacionadas ao andamento da dieta de cada uma, e
se elas haviam saído da dieta.
O que acontece quando você faz dieta? Você passa a comer
demais? E que mudanças acompanham a comida em excesso?

A preocupação com comida

Ao discutir os efeitos do estudo realizado nos Estados Unidos,


Keys e seus colaboradores declararam: “A comida, em todas as
suas manifestações, transformou-se no principal assunto de
conversas, leituras e fantasias para quase todos os
participantes."
A primeira mudança que se tornou evidente entre as
mulheres de meu estudo foi que elas passaram a se preocupar
com comida.
Numa sociedade como a nossa, em que se espera que as
mulheres façam compras, cozinhem e proporcionem
alimentação para a família, a comida tem um papel
importante em nossas vidas. Passa a ser uma forma de
demonstrar amor e afeição aos dependentes e de pedir o amor
daqueles de quem dependemos. Ao servirmos o jantar para
nossos maridos quando voltam do trabalho (mesmo que nós
mesmas tenhamos estado trabalhando!), mostramos entender
que eles se esforçaram muito (e, damos à entender, mais do
que nós) e que reconhecemos o muito que eles fazem por nós.
As crianças aprendem desde tenra idade que comer o
alimento de sua mãe faz com que ela se sinta segura e
apreciada; também aprendem que recusar a comida que ela
oferece é rejeitar seu amor e a fará se sentir ansiosa e
contrariada. Nós pensamos a respeito de comida em termos
que ultrapassam em muito as limitações de sentir fome e
precisar de alimento.
E, contudo, quando se faz dieta, esse alimento deve ser
evitado. O objetivo da dieta é comer menos daquela
substância que tem um papel central em nossa família e na
vida em sociedade. Intermináveis listas de alimentos passam a
ser proibidos. Tortas de creme, chocolate, batatas fritas,
massas e biscoitos, laticínios, refrigerantes, todos estão fora
dos limites estabelecidos pela dieta. Tornam-se algo especial e
delicioso. Até a publicidade os apresenta como delícias, em
anúncios do tipo "horrível de bom"! E como obviamente
acontece com tudo que é proibido, tornam-se mais atraentes
do que nunca. E, portanto, a vontade de comê-los é maior do
que sempre foi. Quem faz dieta não suspira por saladas; sonha
é com alimentos altamente calóricos — os mesmos que está
tentando evitar. A atenção se fixa naquilo que não pode
comer.
O pior de tudo é que, mesmo estando em dieta e não podendo
comer alimentos muito calóricos, a maioria ainda tem que
prepará-los e servi-los para os outros. Se quem faz dieta
pudesse viver num mundo onde todos só ingerissem 1000
calorias diárias, onde as famílias não se sentissem rejeitadas e
aborrecidas se mamãe parasse de comprar biscoitos, e onde
alimentos com altos teores de calorias não fossem
apresentados como algo desejável, tudo seria muito mais fácil.
No entanto, isso não é possível. Não só vivemos numa
sociedade que já tem a obsessão pela comida, mas também
quando tentamos não comer, ela se torna muito mais atraente
e ocupa nosso pensamento mais do que nunca.
Muitas das mulheres que participaram do estudo disseram que
a obrigação de cozinhar para os outros tornava muito difícil
manter-se firme na dieta.
Uma delas ofereceu um jantar para alguns amigos e achou que
havia comido mais do que sua dieta permitia. "Eu não queria
ceder, mas senti que depois de preparar uma refeição
completa para todos os convidados, o mínimo que podia fazer
era usufruir de meu esforço", foi sua explicação.
Outra disse: "E domingo e eu tenho que cozinhar para as
crianças, então por que fazer outro prato só para mim, se
posso comer o que já está pronto?" Como já tinha tido o
trabalho de preparar uma refeição, por que preocupar-se em
cozinhar outra?
A alimentação desempenha um papel importante na vida
familiar. Tentar não comer, quando ainda é necessário
cozinhar para todos, torna a dieta muito difícil.
Várias outras mulheres disseram que precisavam cozinhar e
comer com suas famílias, para mostrar toda sua afeição.
Uma delas contou que convidou a filha para comer um
hamburger no almoço e que "não queria ficar isolada, e foi
ótimo almoçarmos juntas".
Uma outra sentia que "precisava alimentar a família
adequadamente" e que "se ofereço a meu marido uma boa
refeição, isto é sinal de amor".
Para as mulheres, amor e família estão intrinsecamente
ligados à alimentação. Tentar fazer dieta significa passar a
encarar a comida de forma diferente, e tentar não pensar em
algo que é crucial em nossas vidas. Fazer dieta nos torna mais
preocupadas com algo que já é muito importante para nós,
como mulheres.
Quais são as conseqüências dessa preocupação com comida?
A comida passa a ser o ponto focai para recompensas, convites
e satisfação. Quanto mais tentamos seguir a dieta, mais
pensamos em comida. E quanto mais pensamos, quem sabe...
mais comemos. Assim, a quebra da dieta passa a ser
compreensível.

Preocupação com o peso

A segunda mudança que se torna evidente nas pessoas que


fazem dieta é sua preocupação e obsessão com o peso. A
motivação original para emagrecer é complexa, porém o foco
principal é sentir-se e parecer mais atraente e também sentir-
se mantendo o controle.
Mas a dieta faz o foco mudar: o importante passa a ser o que a
balança diz. As tabelas de correlação peso/altura não dizem
que o peso ideal é aquele com que nos sentimos bem; elas
dizem que devemos pesar 52 quilos e 400 gramas ou 58 quilos;
elas selecionam e determinam quanto devemos pesar. Cada
mulher tem uma estrutura óssea diferente, uma estrutura
facial diferente e idades diferentes. O que é bom para uma
mulher de 30 anos faria uma de 45 parecer esquálida, e, no
entanto, a indústria das dietas nos impinge um peso
específico, como se todas fôssemos iguais.
Quem faz dieta se torna escrava da balança. Muitas vezes,
após uma semana seguindo rigidamente a dieta, a pessoa se
sente muito confiante, está satisfeita consigo mesma e se sente
dona da situação. Numa ocasião, atendi a uma mulher que
chegou se sentindo feliz, triunfante e orgulhosa de sua
semana de dieta; ela subiu na balança com entusiasmo e toda
sua satisfação se esvaiu ao ver que estava com o mesmo peso
da semana anterior. Alguns momentos antes, ela estava se
sentindo ótima, mas tudo foi esquecido e seu estado de ânimo
passou a depender totalmente do número que o ponteiro
indicava. O mais importante agora era o peso, e não o fato de
se sentir bem e segura de si.
Judy Mazel, na Dieta de Beverly Hills, descreve
perfeitamente essa obsessão com a balança; ela diz que a
balança tem "mais efeito sobre nós do que uma bomba
atômica" e mostra como o número no mostrador pode alterar
a realidade de quem está fazendo dieta:

Quando me olhei no espelho, os ossos de meus quadris


tinham sumido... Fiquei horrorizada. A baleia que eu já fora
tempos atrás estava assomando. Fui devagar até a balança,
com medo do que iria ver. Com um olho fechado, quase sem
respirar, olhei para o mostrador. Os números me encararam
— 46. Eu não havia engordado um grama!... Alegria e alívio
tomaram conta de mim e, quando me olhei novamente no
espelho, lá estavam meus ossos.

O que determinava sua realidade não era a forma como se


sentia, mas o que a balança dizia que ela deveria sentir a
respeito de si mesma.
Organizações como clubes de emagrecimento e vigilantes do
peso se criam e se baseiam nessa obsessão com o peso. As
motivações para a dieta são complexas, mas o ponto focal é a
perda de peso. As pessoas ali são colocadas em fila e pesadas
diante de estranhos, e são cumprimentadas se seu peso baixou.
Mas não recebem cumprimentos se estão se sentindo bem
consigo mesmas, mesmo que esta tenha sido uma importante
motivação original para começarem a dieta.
Vejamos o que acontece quando você passa a pensar só no seu
peso.
Para começar, você esquece por que queria fazer dieta. A vida
passa a ser regulada pela balança, e o aumento de sua auto-
estima fica em segundo lugar. E mais importante, talvez, a
preocupação com o peso contribui para o processo geral da
quebra da dieta.
Flutuações de peso ocorrem devido a inúmeras razões. Na
primeira semana de dieta, em muitos casos é possível perder
até 3 quilos ou pouco mais; isto em geral funciona como um
grande incentivo para continuar com a dieta, e aumenta as
expectativas de futuras reduções de peso. Contudo, mais de
metade do que se perdeu é constituído de água, cerca de um
quarto de massa muscular, e apenas um quarto de gordura,
que é exatamente do que queremos nos livrar com a dieta.
Tão logo não haja mais excesso de água no corpo, a perda de
peso da semana seguinte será muito menor, ou mesmo
nenhuma. Se a pessoa estiver preocupada com seu peso, ficará
chocada com isso e se sentirá desencorajada.
Quem faz dieta busca na balança a confirmação e o
reconhecimento de seus esforços, e, no entanto, as alterações
no peso muitas vezes parecem erráticas e não muito certas.
Sentindo-se desiludidas com a dieta, resolvem "sair para jantar
porque não quero mais me aborrecer fazendo todo aquele
esforço para nada" e quebram a dieta, numa reação
perfeitamente compreensível a seu sofrimento não
recompensado.
Uma das principais causas de flutuação do peso é a retenção
de água no período pré-menstrual. Nos dias que antecedem as
regras, muitas mulheres retêm líquido, o que provoca uma
sensação de inchaço e a impressão de que as roupas estão um
pouco mais apertadas do que o normal. Se você está fazendo
dieta, isto se reflete num aumento de quase um quilo no seu
peso, o suficiente para deixá-la cansada dos esforços para
emagrecer. O surpreendente é que, mesmo plenamente
conscientes de que o aumento de peso representa retenção de
líquido e que desaparecerá em alguns dias, as mulheres se
sentem culpadas e encaram o fato como fracasso da dieta.
E sentir-se fracassada pode ser o caminho para comer em
excesso.
Reação diante da comida

Quem faz dieta passa a se preocupar com a própria substância


que está tentando evitar — o alimento. Não todos, mas os que
são proibidos e estão fora dos limites estabelecidos pela dieta.
Tais alimentos são considerados mais estimulantes e
desejáveis, e vão ficando cada vez mais, se não são comidos
durante um certo tempo.
Um comportamento típico constatado em quem faz dieta
sugere que, se a pessoa realmente chega a comer algo
proibido, como uma barra de chocolate ou uma fatia de bolo,
depois irá comer mais do que se não o tivesse feito. Seria de se
esperar que fosse o contrário.
Muitos estudos foram efetuados nos Estados Unidos e na
Inglaterra para explicar este comportamento paradoxal; nestes
estudos, a pessoa que faz dieta é submetida a um teste onde se
pede que coma um alimento de alto teor de calorias. Trata-se
de uma atitude muito difícil para o pesquisador, embora não
seja tão antiética como possa parecer, já que os participantes
sempre têm a opção de dizer não. Pede-se então que façam
um "teste de degustação" e que experimentem uma variedade
de alimentos, Eles são deixados a sós numa sala, para
comerem pouco ou muito, conforme desejarem. A quantidade
do que comeram é então medida. Constatou-se que, se tiver
sido oferecido à pessoa um "alimento proibido" antes do teste
de degustação, ela comerá mais durante o mesmo do que se
tivesse recebido um alimento neutro, como um biscoito
cream cracker. Este é o paradoxo — seria de se imaginar que
eles se sentiriam mais cheios e, portanto, comeriam menos
depois. Quanto aos que não fazem dieta, estes realmente
comem menos.
Ao fazerem dieta, as pessoas são levadas a reagir de maneira
diferente diante de alimentos proibidos; estes desencadeiam o
ato de comer demais. Suponha que você esteve fazendo dieta
durante duas semanas, mantendo-se firme na tabela de
alimentos de baixa caloria, comendo menos do que as pessoas
à sua volta e sentindo falta das refeições sociais e do jantar em
família. Uma amiga a convida para uma festa; diante de você
está uma maravilhosa variedade de tudo o que você vem
evitando. Não vou comer, você diz a si mesma. Só um
sanduichinho, você então diz, só um prato de doce. E quando
se dá conta, já comeu dois pratos cheios, muito além dos seus
limites fixados para a ocasião. Será que isto acontece porque
você simplesmente não tem força de vontade? É apenas
porque você não consegue se controlar?
Para começar, se você não estivesse em dieta, toda aquela
comida não lhe pareceria tão apetecível. Um prato teria sido
bastante; você se sentiria satisfeita e muito entretida em
aproveitar a noitada, sem pensar mais em comida.
Mas a dieta muda tudo. Os alimentos que se tornaram
proibidos levam você a comer mais do que se não estivesse
fazendo dieta. Eles desencadeiam uma reação, e esta reação é
comer em excesso.
O que foi que a dieta mudou, então?
A dieta muda os pensamentos que passam por sua cabeça
quando você come o primeiro "alimento proibido". Em lugar
de apenas saborear o que come, você percebe que certos
alimentos despertam pensamentos específicos. Eu perguntei a
várias mulheres o que elas pensavam depois de comer algo
que achavam que não deviam ter comido.
"já que comi mesmo, então vou aproveitar até o fim" foi uma
resposta comum. Elas viam o episódio de excesso de comida
como um evento isolado em que se empanzinavam.
"Estou farta de ter que fazer dieta, eu vou é comer aos
montes." Muitas disseram que sentiam vontade de se rebelar
contra a dieta; ficavam irritadas por terem de se preocupar
com comida e com seu peso, e queriam ter um pouco de
prazer. Comiam como forma de rebelião contra as pressões
que lhes ditavam o que não deviam comer e para mostrar que,
naquele momento, não estavam dispostas a obedecer.
"Agora que já comi, posso muito bem ceder a todos os outros
desejos de comer." Muitas mulheres pensavam que, ao
fazerem dieta, todos os desejos de comer iam se acumulando
por dentro, e era preciso um esforço constante para ignorá-
los. Sentiam que deveria haver um equilíbrio entre o desejo
de comer e o desejo de seguir a dieta, e que comer algo
proibido significava que o primeiro havia sobrepujado o
segundo. Isto lhes quebrava a resistência, e elas então comiam
o suficiente para compensar — até com excesso — todas às
vezes em que haviam comido menos do que desejavam.
Uma delas disse: "estou cansada de dizer não o tempo todo. Eu
quero comer normalmente. Por que devo me privar de bons
pratos?" Esta queria reagir contra toda a pressão para ser
magra, fazendo valer sua vontade e comendo como todo
mundo. E acrescentou: "Tudo está centrado na comida, seu
corpo e a percepção que os outros têm dele. Comer é o mesmo
que dizer 'para o inferno com toda essa pressão'. Por que
minha aceitação pelos outros deve estar condicionada a um
belo corpo?"
A dieta faz com que alimentos de alto teor calórico se
transformem em regalos, e estes parecem desencadear uma
corrente de pensamentos que podem levar ao excesso de
comida. Num estudo efetuado em 1987 pela Dra. King e
colaboradores, solicitou-se a pessoas que faziam e que não
faziam dieta que classificassem diferentes tipos de alimentos
segundo uma série de qualidades, concluindo-se que os que
faziam dieta tendiam, mais do que os outros, a ver os
alimentos em termos de culpa.
Além disso, tais alimentos parecem agir diretamente sobre a
forma como as pessoas que fazem dieta se sentem a respeito
de si mesmos. Em estudo realizado em 1989, os pesquisadores
examinaram os efeitos da comida sobre a imagem que se faz
do corpo e constataram que quem faz dieta não apenas
apresenta uma imagem mais negativa de seu corpo, mas
também que esta imagem fica ainda mais negativa após uma
refeição rica em calorias. O que dá a entender que as pessoas
que fazem dieta não só reagem a determinados alimentos
consumindo-os em excesso, mas que esses alimentos também
afetam diretamente a imagem que fazem do próprio corpo.
Essas reações aos alimentos não ocorreriam nunca se, para
começar, as pessoas que fazem dieta não estivessem tentando
comer menos. Elas comeriam o que quisessem e quando
quisessem, e a comida não teria um papel tão importante em
suas vidas. Fazer dieta significa que a comida se torna atraente
e, apesar disso, deve ser evitada. E como uma fita elástica: se a
puxamos e em seguida soltamos, toda a energia necessária
para retê-la é liberada. Se não for puxada, não há energia a ser
liberada. A comida se transforma num gatilho para o
comportamento que quem faz dieta quer evitar — comer — e
comer se transforma no gatilho para comer mais ainda.

Emoções

A dieta altera o estado de espírito, e tais alterações podem


levar ao excesso de comida. É comum a pessoa dizer que se
sente segura e motivada no início de uma dieta. Esta
proporciona uma estrutura e um objetivo, além de uma forma
de enfrentar os problemas da vida. No entanto, a dieta
também causa aflição e sentimentos de inadequação.
As mulheres estabelecem as metas para si mesmas. Elas visam
uma determinada perda de peso e decidem que tudo o que
têm a fazer é passar a comer menos! Mas a coisa não é tão
simples assim, e o fato de não se emagrecer ou de interromper
a dieta é depressivo. Não ser capaz de atingir os objetivos faz
com que você se sinta um fracasso. A quebra da dieta é
julgada em termos de falta de força de vontade, e essa noção é
promovida pela indústria do emagrecimento, quando sugere
que perder peso é sinal de controle, a magreza é sinal de
controle, e não obedecer às tabelas da dieta demonstra
fraqueza da pessoa, e não a inadequação da dieta.
A dieta também desintegra a vida familiar e social. Boa parte
das coisas agradáveis da vida estão centradas na comida.
Qualquer celebração se traduz em comer e beber, uma
reunião familiar transcorre em torno da mesa de jantar. E, no
entanto, a dieta significa privar-se desses prazeres. Ter que
ver os outros comendo, enquanto você se delicia com sua
refeição de baixa caloria, pré-cozida, descongelada e aquecida
no microondas não é propriamente divertido. Fazer compras
para os outros, reservando para si mesma uma alface especial,
é frustrante e, além do mais, alface hoje depois da cenoura de
ontem, convenhamos, é uma chatura.
A dieta é depressiva. Você perde uma porção de coisas e,
embora a constante auto-privação seja gratificante num
convento, na maioria das pessoas provoca um sentimento de
cansaço, tédio e isolamento.
Muitas mulheres disseram que toda a experiência da dieta e
sua interrupção havia sido bastante perturbadora.
Uma delas chegou a dizer: "Meu sentimento é de total
fraqueza e falta de esperança e, embora deteste ser gorda, eu
simplesmente não tenho força de vontade de fazer algo a
respeito." Ela se odiava por não emagrecer, e se sentia
deslocada e deprimida por não conseguir seguir a dieta à risca.
Outras mulheres qualificavam a si mesmas de "lata de lixo e
comilona", "repugnante" e "desanimada por não conseguir
controlar algo tão simples como comer".
Uma outra disse: "Eu me sinto fraca e envergonhada por me
deixar abater." Ela se sentia desapontada consigo mesma e
inadaptada.
Várias também declararam ter considerado a dieta depressiva
porque não contavam com o apoio de ninguém, em particular
de seus maridos ou namorados.
Muitas mulheres fazem dieta porque querem ser mais
atraentes e acreditam que, se emagrecerem, seus maridos ou
namorados apreciarão a diferença. De fato, muitas fazem dieta
a pedido de seus homens. Recentemente, fiquei irritada ao ver
num programa popular de televisão uma atraente e esbelta
mulher de meia idade receber o conselho de emagrecer de seu
próprio e gordo marido! Ela disse ao entrevistador que o que
mais queria nesta vida era um corpo perfeito, pois isto faria
seu marido feliz. "Ele acha que minhas coxas são muito
grossas", disse ela. E ele, ao seu lado, acenava afirmativamente
com a cabeça, sem reparar na gordura de suas próprias coxas.
Contudo, muitas mulheres ainda acham que seus maridos não
lhes dão o mínimo apoio, quando tentam emagrecer.
Uma delas declarou: "Estou aborrecida porque meu marido
não me incentiva. E eu queria provar a ele que eu seria capaz
de conseguir." O marido também achava que ela deveria
emagrecer, mas não fazia nada para tornar o processo mais
fácil. Ele reclamava do fato de ela comprar alimentos de baixo
teor de calorias e tinha um sentimento de privação porque a
despensa não estava tão sortida como sempre. Além disso, ele
dizia que ela já havia tentado fazer dieta tantas vezes sem
conseguir emagrecer, então por que esta vez deveria ser
diferente? Por um lado, os maridos ou namorados podem
fazer as mulheres se sentirem gordas, seja por comentários
casuais, seja por uma sugestão direta de que deveriam perder
uns quilinhos, mas quando elas realmente começam a dieta,
eles acham todo o processo irritante.
Outra afirmou que o namorado na realidade a havia
encorajado a quebrar a dieta. Antes, ele vivia fazendo
comentários sobre seu peso, mas quando ela começou a
emagrecer, ele passou a lhe trazer comidinhas e a chamá-la
para jantar fora. Na verdade, ele se mostrava bastante
preocupado com o fato de ela ficar mesmo mais magra; ele
parecia se sentir ameaçado por outros homens e pensava que,
mais elegante, ela o deixaria por algum outro. Ele a
considerava gorda, mas tinha medo de vê-la emagrecer.
A sensação de não contarem com o apoio de maridos ou
namorados foi uma queixa bastante comum, e parecia
aumentar a dificuldade de seguir a dieta e também os
sentimentos de inadequação pelo fato de não perderem peso.
E qual é a conseqüência dessas alterações de ânimo? — comer.
Sentir-se cansada pode reduzir sua determinação de comer
menos. O desejo de comer suplanta o de se refrear,
provocando a quebra da dieta. A depressão baixa sua
resistência, e os prazeres da comida parecem ainda maiores.
Acreditava-se originalmente que as pessoas gordas comiam de
forma diferente das magras e, em particular, que comiam
como forma de satisfação. Acreditava-se que a comida reduzia
sua depressão e proporcionava uma fonte de segurança e uma
recompensa. Hoje em dia, parece que, independentemente do
peso, a maioria das pessoas come por prazer e considera o
alimento uma forma de recompensa. Isto se aplica, em
especial, às pessoas que fazem dieta — sua auto-privação é
recompensada com comida, a perda de peso é recompensada
com comida, e o fato de se sentirem fartas é compensado com
comida. Estes indivíduos aliviam a depressão, causada pela
dieta, comendo. Eles comem mais para afastar o desânimo
causado pela tentativa de comer menos. A dieta se transforma
em seu próprio pior inimigo, trazendo alterações no estado de
espírito que vêm a provocar sua quebra e a alimentação em
excesso.
A dieta causa sofrimento; traz também sensações de fracasso,
inadequação e isolamento. E comer ajuda a mitigar esses
sentimentos.

Os efeitos da dieta sobre o controle da alimentação

A dieta causa problemas com o controle da ingestão de


alimentos. Em certas situações, a tentativa de fazer dieta
provoca um aumento no consumo de calorias. Quem faz dieta
se sente mais fora de controle do que quem não faz, e
experimenta padrões de alimentação caóticos.
O objetivo de quem faz dieta é comer menos e controlar a
ingestão de alimentos. As mulheres costumam atribuir sua
"gordura" percebida à sua incapacidade de comer
corretamente, acreditando que se estão acima de seu peso
desejado é porque comem demais. Elas observam o
comportamento alimentar de outras pessoas e acreditam que
estas comem menos e em horas diferentes, e entendem seu
próprio comportamento em termos de perda de controle. A
dieta é encarada como um meio de impor um autocontrole e
uma estrutura externa sobre sua ingestão de alimentos. No
entanto, nada indica que, antes de fazer dieta, as mulheres
que estão acima de seu peso desejado comam diferentemente
ou passem por mais crises de perda de controle do que as
outras que estão satisfeitas com seu peso. Nada indica que as
mulheres mais gordas estejam mais fora de controle do que
suas colegas magras, ou que as que decidem fazer dieta
tenham passado por mais casos de excesso de comida do que
as outras.
No entanto, há indicação de que a dieta faz aumentar os casos
de perda de controle, tanto imaginada como real. A imposição
da estrutura da dieta sobre a ingestão de alimentos parece ter
um efeito oposto ao desejado.

Perda de controle imaginada

Em vista das limitações estabelecidas pela dieta, qualquer


coisa que se coma além desses limites é encarada como
excesso e atribuída à perda de controle. O que normalmente
seria visto como uma lauta refeição, uma ocasião especial ou
uma festa é considerado como excesso de comida e indicativo
de controle perdido. O impulso de comer, que normalmente
se entende como fome, é registrado em termos de anseio, e
ceder a esse impulso é demonstração de fraqueza.
Como disse uma mulher: "Quando começo a fazer dieta,
quero comer tudo o que não devo. Quero comprar alimentos
que engordam, quando sei que estou em dieta." Ela não comia
mais do que antes de começar a dieta, mas o próprio desejo de
comer certos alimentos é percebido como um problema.

Perda de controle real

Um dos principais efeitos da dieta é que ela contribui para a


real perda de controle sobre a alimentação. A dieta provoca o
aumento da preocupação com comida, tornando-a mais
atrativa; altera as reações aos alimentos, fazendo com que
alguns deles se tornem "proibidos", o que desencadeia estados
de espírito específicos, além de causar alterações no ânimo.
Tudo isso contribui para uma real perda de controle, e a
pessoa em dieta acaba comendo mais do que comeria se não
estivesse em dieta.
Uma das mulheres disse que achou a dieta muito difícil.
"A dieta me deixou muito deprimida. Logo no início eu comi
demais; isto me deprimiu, o que me levou a comer mais ainda.
Eu sentia que comer faria com que eu me sentisse melhor,
mas só me fez sentir culpada, e aumentou meu desejo de
comer." Para ela, o resultado da dieta foi comer mais do que
se nem tivesse começado a tentar.
Uma outra declarou: "Não consigo enfrentar agora o
sentimento de privação que me assalta quando começo uma
dieta. Ele vai se acumulando dentro de mim, eu entro em
pânico e como." A dieta a fazia sentir-se despojada e, assim,
mesmo que não estivesse comendo menos, passava a comer
mais para compensar.
A dieta visa a controlar a ingestão de alimentos e reduzir o
seu consumo. Visa a impor uma estrutura sobre o
comportamento da pessoa e provocar o emagrecimento. Mas
parece não alcançar nenhum desses objetivos. As alterações
cognitivas e emocionais que ocorrem como reação à dieta
prejudicam as tentativas de comer menos e provocam o
excesso de comida, exatamente o comportamento que quer
evitar quem faz dieta.

DIETA - UM CÍRCULO VICIOSO

Quais são então as conseqüências de todas essas dietas


fracassadas? E quais são as reações à quebra da dieta?
A dieta se transforma num círculo vicioso, um torvelinho do
qual é difícil se livrar. E a cada volta, os efeitos vão ficando
mais fortes, mais destrutivos, e a perda de peso, menor.

Os efeitos da dieta prolongada

Se quem faz dieta não está realmente perdendo peso, o que na


verdade está fazendo? Ao que parece, todos têm uma coisa em
comum: vivem pensando na dieta. Pensam em comer menos e
em emagrecer, mas estes objetivos não são necessariamente
atingidos. Algumas vezes emagrecem, outras não, mas estão
sempre tentando. Todos partilham um mesmo estado de
espírito.
À curto prazo, a dieta pode lhe proporcionar uma estrutura,
uma forma de estímulo e apoio, e também uma maneira de
mudar sua vida. Mas a longo prazo, uma dieta sem resultados
provoca depressão, preocupação com peso e alimentação e
episódios de comida em excesso.
Um efeito da dieta, recentemente constatado, é um processo
denominado ciclo do peso, que se aplica às mulheres que por
vezes conseguem perder peso, mas que em seguida recuperam
tudo.
Já aconteceu de você ter feito dieta, ter emagrecido e depois
engordado mais ainda?
Já aconteceu de você ter feito dieta, ter emagrecido,
engordado de novo e, na tentativa seguinte, perceber que
ficou mais difícil perder peso?
Pesquisadores da Universidade da Pensilvania estão
desenvolvendo um projeto sobre ciclos de peso, para testar os
efeitos das "dietas iô-iô". Como tantas pessoas haviam relatado
que emagrecer vai se tornando progressivamente mais difícil
após terem recuperado o que haviam perdido antes, este
efeito foi estudado primeiro em ratos.
Um grupo de vinte e um ratos foi submetido a um processo de
superalimentação, para engordar. A dieta foi, então,
modificada, para que emagrecessem. O ciclo foi repetido
algumas vezes, de forma que os ratos emagreceram e
recuperaram o peso seguidamente. Na primeira vez, foram
necessários vinte e um dias de dieta para os ratos chegarem a
seu peso normal, e quarenta e cinco dias para recuperar o peso
que haviam perdido. Na segunda vez, recebendo a mesma
quantidade de comida, os ratos levaram quarenta e seis dias
para perder a mesma quantidade de peso, e apenas quatorze
dias para recuperar tudo. O que dá a entender que, em dietas
prolongadas, vai ficando cada vez mais fácil recuperar e cada
vez mais difícil perder peso.
Um estudo semelhante foi realizado na Escola de Medicina da
Universidade de Harvard, constatando-se que o padrão se
aplicava a mulheres em dieta. Ao que parece, o
emagrecimento repetido faz com que o corpo utilize a
gordura armazenada de forma mais eficiente, passando a
depender de menos comida. Repetidas dietas e recuperações
de peso colocam o organismo num "processo de inanição",
com redução da taxa metabólica e, mesmo quando o peso
perdido tenha sido recuperado, o corpo ainda espera por mais
privação.
Outras pesquisas sugerem que as "dietas iô-iô" têm
conseqüências ainda mais inquietantes. O peso que se perde é
em massa muscular, e o que se recupera é gordura. Assim,
dietas continuadas tendem a aumentar o teor total de gordura
no corpo. Um estudo realizado na Pensilvânia com 1170
homens revelou que os que apresentaram maiores flutuações
de peso, durante um período de vinte e cinco anos, também
apresentavam maior risco de doenças cardíacas.
À curto prazo, a dieta pode fazer você se sentir bem. Mas, a
longo prazo, os problemas podem ser maiores do que os
resultados. Se você não emagrecer, vai se achar um fracasso, a
dieta se tornará um hábito e uma forma de vida, e você
passará por todas as alterações psicológicas que parecem
acompanhar as tentativas de perder peso. Mas se você
conseguir emagrecer — e a menos que permaneça magra para
sempre — na próxima vez já será mais difícil, e os problemas
físicos e psicológicos serão maiores do que a simples questão
de você se imaginar mais gorda do que gostaria de ser.
A dieta leva ao excesso de comida; este provoca o aumento de
peso que, por sua vez, pede uma nova dieta. Com efeito, a
dieta não parece mais estar associada a comer menos. O que a
maioria das pessoas faz quando "está em dieta" é uma
combinação de comer menos e comer mais. Alternam
períodos de restrição alimentar com períodos em que
compensam aquela restrição. Seguir dieta significa tentar
comer menos, mas não necessariamente fazê-lo. O que todos
têm em comum é um estado de espírito: pensam em comer
menos — e isto é tudo. São muito poucos os que realmente
conseguem; a maioria apenas pensa no assunto. É por esse
motivo que a indústria do emagrecimento tem tanta força.
Quem faz dieta na realidade nunca pára; nunca chega ao
ponto de poder se desligar da indústria do emagrecimento.
Porque uma dieta leva a outra dieta e, portanto, ao uso
continuado da sempre crescente indústria que a estimula.

Capítulo 8
Os homens e as dietas

Há alguns anos, numa entrevista para um novo emprego, eu


tentava explicar meu campo de pesquisas. Após ter feito o que
eu considerava um relato claro e completo de meu trabalho, o
único homem presente disse: "Existe um evidente erro lógico
em seu trabalho." Abalada em minha segurança, perguntei do
que se tratava. "E quanto aos homens?" foi o que ele disse. Eu
realmente nunca antes havia considerado os homens em
relação às dietas. Meu interesse nesta área vem do próprio
fato de eu ser mulher, e eu sempre pensei que seria bom
trabalhar em algo que os homens ainda não tinham
conseguido monopolizar. Este capítulo é uma concessão
àquele entrevistador e aos inúmeros outros homens que
costumavam me dizer: "Para nós é igualmente difícil."
Os homens também têm seus modelos ideais e seus heróis. Ao
longo dos séculos, a literatura vem nos apresentando imagens
sempre variadas do homem ideal. Em 1813, Jane Austen
escrevia em Orgulho e preconceito:

O Sr. Darcy logo chamou a atenção de todos na sala por sua


figura alta e esbelta, suas feições agradáveis, seu porte nobre; e
pelo rumor que circulou cinco minutos após sua entrada, de
sua renda de dez mil por ano.
Homens atraentes deveriam ser altos, eretos e ricos.
Na década de 50, o tipo físico ideal era o de Charles Atlas. Os
homens podiam comprar um jogo completo para treinamento
e equipamento para modelagem física. Eles tinham que ser
grandes, vigorosos e robustos. Eram homens de poucas
palavras e montes de músculos. E qual é a mensagem hoje em
dia? Existe uma imagem que os homens queiram
acompanhar?
Em geral supõe-se que os meios de comunicação se valem
mais do corpo feminino para promover a venda de uma ampla
variedade de produtos. A maioria dos anúncios de publicidade
continua a usar mulheres para apresentar desde roupas até
carros e produtos de limpeza. Perguntei a vários homens se
eles achavam que também sofriam pressões para ter uma
determinada aparência.
Um executivo do Serviço Nacional de Saúde, de 25 anos de
idade, prontamente respondeu: "Mas, claro!" e a seguir deu
sua descrição detalhada do homem ideal:

Ele tem que ser alto, vestir-se bem (de maneira esportiva,
porém elegante) e exalar prosperidade. O corpo ideal é bem
constituído, com ombros largos, as costas se afinando até um
traseiro firme com covinhas, e nada de barriga.

Ele achava que antes os homens costumavam se orgulhar de


suas barrigas de cerveja, mas que agora se envergonhavam
delas e as disfarçavam.
Outro homem de 25 anos disse que o homem ideal era
representado pelo ator Richard Gere: "Não muito musculoso,
em boa forma e com peso suficiente. Seu corpo realmente não
chega a se fazer notar, mas é capaz de fazer o que se espera
dele sem se prejudicar." Para ele, o corpo ideal estava ligado à
boa forma e à saúde, não deveria ser do tipo que chamasse a
atenção, pois era "assim que o corpo masculino deveria ser". Já
um outro pensava que o homem ideal era "ágil, bem
constituído, pequeno e robusto, de cabelos escuros".
Também perguntei a vários homens o que estas imagens
representavam para eles. A resposta mais comum foi que o
fato de ser alto, esbelto e fisicamente apto significava estar no
controle, e o controle era o que mais importava na imagem do
homem ideal dos anos 90. Também significava ser saudável e
confiante e, portanto, capaz de ter sucesso em todos os
campos da vida.
Com a ascensão da ética do trabalho na década de 80, a mídia
começou a apresentar homens mais esbeltos, com aparência
saudável e de quem trabalha bastante. O homem ideal não é
comodista, está no controle e no comando de sua vida. O
hedonismo parece estar se tornando coisa do passado, e isto é
exemplificado pelo ideal de homem contemporâneo.
Mas, de onde vêm estas imagens? As pressões parecem vir de
três fontes: outros homens, mulheres e mídia.
Um dos homens declarou: "Os outros homens fazem piadas
sobre aumento de peso. Eles dizem 'você está ficando meio
largado', ou sugerem que você deveria praticar algum
exercício na hora do almoço."
Um outro disse: "Você vive ouvindo as mulheres falando de
traseiros firmes e barriga pequena, e percebe que é disto que
elas gostam." E mais ainda: "Você sabe que as mulheres acham
atraentes certos artistas de cinema; também nota que elas não
conhecem nada a respeito deles, a não ser sua aparência e
como são seus corpos, portanto, você compreende que são
seus corpos que os tornam atraentes."
A pressão também vem da mídia. Nos últimos anos, vem
aumentando o número de homens usados em publicidade,
todos eles magros e atraentes de uma forma estereotipada. Os
homens que aparecem nos meios de comunicação se mostram
menos hedonistas e cada vez mais em controle e reservados.
Em recente anúncio de televisão, aparece um jovem
apresentando refeições pré-cozidas. Ele é magro, saudável, e
passa a impressão de uma vida regrada e de auto-controle; ele
parece sensível. Os heróis masculinos dos anos 60 e 70 tinham
um ar de excesso e de libertinagem; hoje em dia, os homens
são dóceis e controlados. O único representante dos meios de
comunicação (no caso, o cinema) que não se enquadra nessa
imagem, na opinião dos homens que entrevistei, é Jack
Nicholson, que personifica total hedonismo, boa-vida e
prazer. Talvez o motivo de sua atração seja sua óbvia rejeição
das normas sociais e sua capacidade de não se amoldar, não
usar de artimanhas e não ser influenciado pelo que os outros
esperam.
É comum as mulheres presumirem que os homens podem
exibir uma maior diversidade de aparências, tamanhos e
formas do que elas. Acredita-se que a personalidade
masculina possa compensar muitas (mas não todas) de suas
características físicas. Woody Allen é considerado um
símbolo sexual, mas sua equivalente feminina nunca teria
conseguido nem passar pela porta do estúdio. De qualquer
maneira, a mídia parece apresentar uma imagem do homem
ideal dos anos 80 e 90. Qual é a reação dos homens a estas
imagens? Estarão eles insatisfeitos com seus corpos?
Em 1968, Diabiase e Hjelle realizaram um estudo para avaliar
a idéia que os homens faziam do tamanho ideal. Grupos de
homens gordos, medianos e magros foram colocados diante de
silhuetas de corpos masculinos, igualmente gordos, magros ou
de peso mediano. Solicitados a indicar qual o tamanho que
preferiam, e por que, todos os participantes,
independentemente de seu próprio tamanho, escolheram a
representação de peso mediano. Para eles, tanto as figuras de
magros como de gordos sugeriam características como
timidez, dependência e retraimento, ao passo que o corpo de
tamanho médio dava a impressão de ser ativo, enérgico e
dominador.
Os participantes desse estudo demonstraram sua preferência
por um determinado tipo físico. Mas, haveria no caso algum
reflexo de insatisfação com suas próprias formas?
Num estudo de 1988, já descrito no Capítulo 3, pediu-se a
homens e mulheres que determinassem seu tamanho ideal e
seu tamanho real. Todas as mulheres apresentaram uma
grande discrepância entre a aparência que julgavam ter e a
que gostariam de ter, o que não ocorreu entre os jovens
participantes masculinos. Independentemente de seu
tamanho real, eles se sentiam satisfeitos com seu peso.
Apesar de os homens indicarem um tamanho ideal e uma
preferência por um determinado tipo de corpo, isto não
parece representar uma insatisfação com sua própria forma,
dando a entender que eles não são diretamente afetados por
preocupações com o peso.
Eu entrevistei um homem de 30 anos de idade, cerca de 1,90
m de altura e pouco mais de 95 quilos de peso, mas que
preferiria pesar em torno de 82 quilos. Mesmo afirmando
preferir pesar menos, ele julgava que seu peso não era tão
importante. "Não creio que meu peso tenha alguma influência
sobre minha capacidade de atração. São duas coisas
independentes. As pessoas nem notam", foi o que disse.
Perguntei-lhe então se o fato de ser mais pesado do que
gostaria de ser tinha alguma influência sobre o julgamento
que fazia de si mesmo, ao que ele respondeu: "Minha auto-
estima vem da minha capacidade de agir de acordo com um
padrão que eu mesmo fixei, tanto para minha vida
profissional como para a vida social. A atração vem das
atitudes e da personalidade." Ele admitia que boas roupas
faziam-no sentir- se mais atraente, mas que "as pessoas
estavam mais interessadas em suas idéias do que em
músculos".
Em outra entrevista, um homem com 1,80 m de altura e cerca
de 86 quilos disse: "Eu até que gostaria de pesar menos, mas
isto não me perturba. Minha preocupação é estar em forma,
pois há muitas outras qualidades associadas à minha simpatia.
Se eu perdesse uns 6 quilos, eu não seria ou me sentiria mais
atraente, simplesmente teria 6 quilos menos."
Ele também julgava que suas preocupações com peso eram
"meras considerações pessoais; ninguém percebe ou se
incomoda com meu peso. Minha capacidade de atração está
associada a muitos outros fatores".
Pelo que se nota, embora eles preferissem pesar menos, isto
não afetava o julgamento que faziam de seu próprio poder de
atração.
Também entrevistei um homem de 26 anos, com 1,80 m de
altura e cerca de 67 quilos. Este gostaria de ter alguns quilos a
mais. Perguntei-lhe se achava que este fato teria algum efeito
sobre seus sentimentos de atração. Mesmo tendo consciência
do tipo ideal de homem, ele respondeu: "O tipo de aparência
que se espera de um homem não faz a menor diferença para
mim. O mundo da boa aparência é um mundo totalmente
separado do meu, e eu prefiro não ter nenhum contato com
ele. Na realidade, eu nem penso mais na questão da atração
física, tenho muitas outras coisas em que pensar."
A auto-satisfação poda ser entendida em termos de imagem
do corpo e auto-imagem, e da relação entre ambas. A imagem
do corpo se refere apenas ao fato de o indivíduo estar
satisfeito com o próprio corpo, enquanto a auto-imagem é um
conceito mais global associado a uma forma de auto-
apreciação geral. Talvez a auto-satisfação reflita a diferença
entre homens e mulheres. Na mulher, o peso tem maior
influência sobre sua imagem do corpo que, por sua vez, tem
maior influência sobre sua auto-imagem. Quanto aos homens,
apesar de preferirem ter um determinado peso, isto tem
apenas um pequeno efeito sobre sua imagem do corpo e,
portanto, não chega ser prejudicial para sua auto-imagem.
Contudo, há homens que demonstram preocupação com seu
peso. Vejamos o caso de outro de meus entrevistados, um
homem de 25 anos de idade, 1,90 m de altura e cerca de 95
quilos. Para ele, o peso ideal estaria abaixo dos 80 quilos.
Perguntei-lhe por que gostaria de ser mais magro.

Eu me sentiria melhor. Não é uma questão de saúde, mas


principalmente de ser atraente para as mulheres. A gordura é
desagradável. Quando tenho que me despir diante de alguém,
não chego a ficar constrangido, mas também não me sinto
vaidoso. Fico pensando "espero que não se incomode e que
ainda queira continuar".

Para ele, a forma de seu corpo não era "um bom argumento".
De que forma reagem os homens ã insatisfação com seu peso?
Apenas dois por cento dos membros dos Vigilantes do Peso
são homens, portanto, parece que eles não freqüentam esse
tipo de clubes. Mas será que fazem dieta em casa? Um dos que
entrevistei afirmou:

Na realidade, eu não faço nada, só fico me preocupando com o


fato. Tento comer menos e bebo vinho em lugar de cerveja,
mas é mais uma questão de pensar no assunto do que fazer
algo.... Eu gostaria de ser mais magro, mas não quero pagar o
preço. Não vale a pena o sacrifício.

Um outro homem, com cerca de 13 quilos a mais do que


preferiria pesar, disse: "As vezes eu penso em comer menos,
mas na verdade não consigo nunca. É esforço demais!" Já um
outro, com apenas 6 quilos além do que gostaria de ter,
declarou: "Eu vivo comendo pouco. Já nem me lembro da
última vez em que comi até ficar satisfeito. Acho difícil me
privar de coisas de que realmente gosto, por exemplo, a
manteiga, mas em geral reduzo a quantidade e como uma
salada." Contudo, ele ainda acrescentou que comia a salada,
além de outras coisinhas!
E o que mais fazem eles? Ao que parece, a maioria prefere
fazer ginástica ou caminhar a realmente seguir uma dieta.
Eles tentam mudar seus corpos através de exercícios, e não
reduzindo a comida. Talvez seja porque a comida não tenha
um papel tão importante em suas vidas, talvez seja mais
aceitável que as mulheres digam "estou em dieta". Mas, ainda
assim, eles sofrem pressões para se amoldar a uma forma
específica.
Se o peso é motivo de preocupação para alguns homens, é
possível que também tenham em mente outras características
físicas.
Em 1955 realizou-se um estudo para determinar que partes do
corpo tinham maior importância para homens e mulheres.
Enquanto as mulheres se fixaram nos quadris, coxas e cintura,
entre os homens constatou-se que o ponto fraco equivalente
era a altura. Este parecia ser o fator de maior influência sobre
sua imagem do corpo. Eles associavam a altura com poder,
vigor sexual e capacidade intelectual.
A sociedade espera que o homem seja mais alto do que sua
companheira, e associa a altura masculina a outras qualidades
desejáveis, tais como autoridade e status social. Um estudo de
1968 avaliou a relação entre altura imaginada e poder. Um
certo Sr. England foi apresentado a vários estudantes de uma
universidade, sendo qualificado ou de bolsista, ou
conferencista, ou docente, ou professor catedrático. Os
estudantes deveriam calcular sua altura. As respostas
indicaram que a altura atribuída aumentava de acordo com a
importância de sua função. A altura era associada ao poder. É
interessante notar que essa associação se estende também à
política. O sociólogo Feldman já dizia em 1971: "Não é por
acaso que desde 1900, em todas as eleições presidenciais nos
Estados Unidos, o vencedor tem sido sempre o mais alto dos
dois principais candidatos." Em 1960, perguntou-se aos
eleitores americanos quem era o preferido e quem eles
pensavam ser o mais alto, entre Kennedy e Nixon; foi
constatado que a preferência e a altura imaginada seguiam
juntas.
Por que a altura é tão importante?
De maneira geral, os homens são de 5 a 10 por cento mais
altos que as mulheres. As meninas têm um crescimento
significativo por volta de seus 13 anos, logo depois de
começarem a menstruar, e ainda ganham alguns centímetros
até atingirem sua altura definitiva aos 18 anos. Rapazes
começam a crescer alguns anos depois, mas continuam
crescendo por um período maior. Aparentemente, esse
período de crescimento mais longo é a razão de os homens
serem mais altos.
Mas, será que os homens precisam ser mais altos?
Segundo os biólogos, as mulheres param de crescer mais cedo
para que possam se preparar para sua função principal: a
reprodução. O argumento é que as jovens não podem gastar
energia no crescimento quando essa energia é necessária para
gerar filhos, e que as duas coisas ao mesmo tempo
(crescimento e capacidade de reprodução) exigiriam demais
das reservas do organismo. Montagu assinalou que, nos
primeiros anos após o início da menstruação, as meninas
raramente são férteis, mesmo que aparentem ser, e é nesse
período que se completa o seu crescimento. Isto sugere que
estamos respondendo a uma história de menor expectativa de
vida, e que a reprodução deveria ocorrer o mais cedo e o mais
freqüentemente possível. Para os homens, não existe essa
pressão e, portanto, eles podem crescer por mais tempo. Além
disso, os antropólogos argumentam que os homens precisam
ser mais altos, para poder lutar pela conquista das parceiras.
Em resultado dessas diferenças biológicas, os homens tendem
a ser mais altos do que as mulheres. Nos Estados Unidos, o
homem médio é cerca de 13 centímetros mais alto do que a
mulher média. Contudo, os progressos nas condições de vida e
nutrição no mundo ocidental têm produzido não apenas
mulheres mais altas do que homens de outras regiões do
mundo, mas também significam uma maior equivalência nas
alturas de homens e mulheres dentro de uma mesma
comunidade. 10 por cento das mulheres são mais altas do que
10 por cento dos homens e 5 por cento delas são maiores do
que o homem médio.
Portanto, altura significa virilidade. Mesmo que existam
mulheres altas e homens baixos, coisas grandes são masculinas
e coisas pequenas são delicadas e femininas.
Tal associação deriva de uma diferença biológica, mas é
também usada e perpetuada pelas expectativas sociais e pelas
imagens divulgadas pela mídia. Esta, com expressões do tipo
"porções para homens", "tamanhos para homens" e imagens
como "carros grandes são para homens", promove esta
associação. Ela também fica evidente em alguns costumes
tradicionais, como "o homem deve segurar o guarda-chuva
sobre a mulher" e "o homem passa o braço sobre os ombros da
mulher". A Princesa Diana, usando sapatos rasos, é só um
centímetro menor do que o Príncipe Charles, mas no selo
comemorativo do casamento ela foi "encolhida", de modo a
parecer estar olhando para cima. Das duas uma, ou ela estava
abaixada, ou ele estava sobre um banquinho!
Também nós mulheres promovemos esta idéia. Eu própria,
com meus 1,78 m de altura, conheço bem os traumas de ter
namorados mais baixos. Já passei muitas noites andando
encurvada, descendo o meio-fio e calculando a inclinação da
calçada, só para parecer um bocadinho mais baixa. Também
sei como é embaraçoso para o rapaz ter que envolver meus
ombros com seu braço, dando a impressão de que vai deslocar
o seu ombro. Como mulheres, esperamos que os homens
sejam mais altos, e eles percebem esta expectativa.
No outro extremo dessas considerações sobre altura, Erving
Goffman, em seu livro Estigma , examinou os problemas de
homens bem abaixo da altura mediana. Ele analisa como esses
homens ou deixam de levar uma vida normal, ou podem
assumir o papel tradicional dos baixinhos como "bufões" ou
"queridinhos de senhoras abastadas". Já se notou que quando
um homem de baixa estatura escolhe uma mulher também
pequena, a "seqüência do romance" muitas vezes é acelerada,
levando menos tempo entre namoro, noivado e casamento.
Goffman conclui que pessoas baixas se casam com seus iguais
porque afinal encontraram uma oportunidade, e porque é isso
que se espera deles.
Os homens se preocupam com sua estatura. Trata-se de uma
fraqueza, de certa forma comparável à das mulheres com
relação a seu peso, mas será que tem o mesmo efeito danoso
sobre sua auto-imagem?
Existem alguns recursos para o homem que quer parecer mais
alto, tais como sapatos com plataformas e chapéus altos, mas
estes acabam sendo encarados como um tanto ridículos e até
mesmo desesperados. Ao contrário do peso, que ao menos
podemos tentar alterar, não há possibilidade física de se
mudar a altura. Talvez, em vista da inexistência de
alternativas viáveis, os baixinhos têm que se conformar e
aprender a lidar com essa parte desagradável de sua aparência
física. Se a medicina viesse a desenvolver um meio de
acrescentar alguns centímetros à altura, ou talvez sugerir que
uma determinada combinação de alimentos pudesse resolver
o problema da estatura, é provável que os homens passassem a
se preocupar mais com esse aspecto, que viria a desempenhar
um papel mais importante em sua auto-imagem. Como o que
não tem remédio remediado está, a impossibilidade de
mudança reduz a importância do problema.
Existem ainda outras características físicas especialmente
importantes para os homens?
Num estudo de 1973, pediu-se a um grupo de homens que
classificassem uma lista de características físicas pela sua
ordem de importância na determinação da atração física. De
uma relação que incluía características como peito,
compleição física e rosto, os cabelos apareceram em segundo
lugar, perdendo apenas para a aparência da pele do rosto. Esta
parece ter muita importância para os adolescentes e jovens no
princípio da casa dos vinte, pelo temor da acne ou pela
preocupação com o aparecimento da barba. Mas o tipo de
cabelo e o medo da calvície também parecem ter um papel
central na determinação da imagem do corpo.
A calvície ocorre mais em homens brancos do que em
qualquer outro grupo racial ou sexual. Os genes da calvície
existem nos cromossomos tanto de homens como de
mulheres, mas necessitam dos hormônios sexuais masculinos
para serem ativados e provocarem a queda de cabelos. Nas
mulheres brancas, os cabelos vão ficando mais ralos
gradualmente, mas alguns homens, quando chegam à casa dos
vinte anos, já apresentam entradas pronunciadas ou mesmo
áreas de calvície; aos 50 anos de idade, até 60 por cento dos
homens terão sofrido de queda de cabelos.
Já se falou que a calvície deveria ser encarada pelas possíveis
candidatas ao casamento como um sinal de o homem ter
passado de sua plenitude e de não ter mais condições de
reproduzir. Contudo, este argumento é bem o contrário do
que se conhece do comportamento reprodutivo e da
psicologia dos homens, o que lhes permite continuar a gerar
filhos com freqüência e por bastante tempo ainda. A ausência
de qualquer associação biológica óbvia entre a sexualidade
masculina e a calvície não impede que a questão capilar seja
crucial para a imagem do corpo de muitos homens, e que a
queda de cabelos seja para eles um sério temor.
Mas, de onde vem esse temor? Por que a calvície não é
simplesmente aceita como uma conseqüência natural da idade
ou da ação dos hormônios?
Quantos atores você conhece que sejam carecas? Quantos
homens de televisão assumem a falta de cabelos sem recorrer
a perucas ou outras formas de disfarçar ou corrigir o fato?
Para a mídia, a masculinidade está intimamente ligada a uma
vasta cabeleira. As únicas exceções a esta regra são atores
completamente calvos (dois nos vêm logo à lembrança),
sugerindo que optaram por raspar a cabeça e que, se
desejassem, poderiam facilmente deixar crescer os cabelos.
E qual é a resposta dos homens a essa pressão?
Ao contrário da questão da altura, a sociedade oferece várias
maneiras de enfrentar o problema da queda de cabelos. As
soluções existem e alguns homens se valem delas: eles podem
usar perucas, ou puxar os fios que lhes restam de um lado para
o outro da cabeça (rezando para não enfrentar uma ventania),
ou se submeter a implantes. Alguns sofrem sério trauma
quando os cabelos começam à cair, alguns encaram o fato
como o fim de sua juventude, e outros, como o fim de seu
poder de atração.
Sobre este assunto, entrevistei vários homens, perguntando
qual era a importância dos cabelos para eles, e se tinham
medo de ficar carecas. A quase totalidade das respostas
indicava que a calvície certamente não era algo que
esperassem. "Horrível" e "inquietante" foram alguns dos
adjetivos usados e "eu pareceria um idiota" foi uma
observação comum.
Houve um que afirmou mesmo desejar ficar calvo. Ele achava
que assim ficaria com um ar sereno e distinto, apesar de
acrescentar que a probabilidade de ele ficar careca era muito
pequena.
Contudo, da mesma forma que as preocupações masculinas
com peso e altura, os problemas de queda de cabelos não
parecem ter um efeito tão profundo sobre sua imagem do
corpo, como a questão do peso tem para as mulheres. Não se
trata aqui de trivializar a insatisfação dos homens com seu
corpo ou de menosprezar sua autocrítica, mas de colocá-las na
perspectiva própria, em comparação com o imenso número de
mulheres que passam a vida toda a se preocupar com o peso.
Perguntei a vários homens se eles achavam que havia uma
diferença entre homens e mulheres no tocante a sua
aparência. Surpreendentemente, muitos pareciam estar
cientes dessa diferença e se consideravam com sorte.
Um deles disse: "As mulheres não se sentem atraídas pelos
homens por sua aparência, elas acham suas personalidades
atraentes; já eu a princípio sou atraído pela aparência da
mulher, mas depois todo o resto se torna mais importante."
De um outro, ouvi: "Se você é homem, ser gordo pode lhe
conceder status e sugerir que você é rico e bem-sucedido o
suficiente para comer bons pratos e beber bons vinhos. Se
você é mulher, a gordura significa que você não consegue
impor muito respeito, e que você tem um problema com
comida."
Este mesmo acrescentou: "A atração nos homens tem relação
com o caráter e a personalidade, mas nas mulheres é muito
mais uma questão de aparência física."
Um terceiro respondeu: "Os homens talvez não pensem em si
mesmos como sendo atraentes, ou talvez nem mesmo
considerem se e quanto o são, mas põem toda sua energia para
analisar como as mulheres são atraentes. A atração dos
homens pode ser medida pelo grau de atração de suas
acompanhantes."
Mas estarão as coisas mudando?
As mulheres supõem que os homens estão pagando um preço
baixo. Contudo, durante os últimos anos houve um aumento
no número de homens que aparecem em publicidade e no de
revistas destinadas especificamente ao leitor masculino.
Bonitões estereotipados anunciam leite, carros, alimentos e
uma grande variedade de bens de consumo. As revistas
masculinas estão cheias de rapazes altos, morenos e simpáticos
vestindo as roupas da moda, e até mesmo o mercado dos
perfumes masculinos está crescendo. Estaremos caminhando
para um futuro de homens com a obsessão pela imagem?
Num número recente da revista Cosmopolitan deparei-me
com um artigo que me interessou, intitulado "Homem do
cosmos", e iniciado por uma pergunta: "Estará ele morto de
preocupação por seu pênis, sua barriga, sua mãe?" Os homens
pareciam também estar recebendo o tratamento. O artigo
relacionava os "pontos mais sensíveis" dos homens, desde o
tamanho do pênis até a queda de cabelos, e descrevia em
detalhe cada medo e cada neurose; mostrava-se até
compreensivo, mas ridicularizava de maneira sutil cada
preocupação masculina. Os temores eram considerados
genuínos, mas não tão importantes assim. O artigo estava
intercalado por anúncios de roupas apresentados por modelos
altos e com bastas cabeleiras. O artigo e os anúncios
representavam a combinação perfeita de mensagens para
desenvolver e perpetuar as neuroses masculinas.
Talvez o mundo da publicidade já tenha esgotado a utilização
de mulheres, talvez tenha descoberto o mundo novo do
desejo masculino de se amoldar a uma imagem ideal.
Qualquer que seja a razão, os homens estão aparecendo cada
vez mais no mundo do marketing. E talvez dentro de alguns
anos estejamos começando a ver os danos causados.

DE VOLTA AOS DIAS DE HOJE...

Tanto homens como mulheres sofrem algum tipo de pressão


para adotarem uma determinada aparência e para se
adaptarem à mais recente imagem ideal. Ambos são
apresentados com uma imagem de corpo ideal, mas esta
imagem não parece influenciar tão poderosamente a auto-
imagem dos homens quanto a das mulheres.
Talvez isto esteja relacionado, em parte, ao fato de ainda
haver menor pressão sobre os homens, menor uso deles na
publicidade, e uma maior variedade de homens usados em
filmes e anúncios e apresentados como símbolos sexuais. Mas
é também o resultado da maneira de mulheres e homens se
auto-avaliarem.
Mesmo que os homens se sintam mais gordos do que
gostariam de ser, essa discrepância entre o peso ideal e o real
não é acompanhada por quaisquer sentimentos de
insatisfação, nem se generaliza em auto-aversão. O peso do
homem é independente de sua atração física, que é
independente de seus sentimentos de valor e de avaliação de
sua atração global.
As mulheres são definidas por seu aspecto exterior; sua
identidade começa com sua aparência. O peso tem uma
grande influência sobre sua imagem do corpo que, por sua
vez, tem influência sobre sua auto-imagem. Os homens têm
necessidade de ter uma certa aparência, mas isto não
determina quem eles são.

Capítulo 9
Por que continuar a fazer dieta?

As pessoas que fazem dieta, em sua grande maioria, não são


gordas, apenas se vêem assim. A maioria não perde peso, só
passa o tempo todo pensando em emagrecer. Por vezes
chegam a comer menos, mas depois compensam comendo
demais; podem até perder peso, mas em breve recuperarão
tudo.
Tudo isso é muito perturbador.
Como resultado...
Seria de se supor que quem costuma fazer dieta, sem nunca
perder peso, acabasse por desistir.
Seria de se supor que todos os efeitos adversos das dietas
dissuadissem as mulheres de se lançar em novas tentativas de
emagrecer.
Seria de se supor que o tempo e a energia dispendidos
pensando constantemente sobre o que/quando/como se come
transformassem a dieta numa atividade inaceitável.
Seria de se supor que a maior parte dos que fazem dieta se
desiludissem, e que a indústria do emagrecimento fosse à
falência.
São todas suposições plausíveis, mas não são a realidade. Entra
ano, sai ano, as mulheres perseveram em seu desejo de
emagrecer. Quando uma dieta falha, tenta-se outra. Deixar de
freqüentar um clube de emagrecimento significa voltar alguns
meses depois. Sentir-se um fracasso, cansada de tudo, viver se
preocupando com comida e peso, nada desestimula quem vive
fazendo dieta. O desejo de emagrecer suplanta qualquer dos
efeitos indesejáveis da dieta.
Mas, trata-se apenas do poder da magreza?
As mulheres começam a fazer dieta porque desejam
emagrecer, e porque a magreza é associada a inúmeras outras
qualidades desejáveis. Ser magra significa ter sucesso, estar no
controle e ser atraente. Não importa que já sejam magras, o
objetivo é emagrecer mais ainda.
Mas, alcançando ou não seu objetivo, elas continuam com a
dieta. Esta adquire vida própria.

A DIETA COMO FORMA DE VIDA

Para um grande número de mulheres, a dieta se transforma


num hábito. Torna-se um passatempo e uma forma de vida.
Elas discutem o que comeram durante o dia, o que comeram
no dia anterior e o que vão comer no dia seguinte. A dieta
lhes proporciona um foco. "Você já leu o último número
de...?" "viu a história da campeã de emagrecimento em...?"
Elas fazem dieta juntas, amigas podem comparar suas
anotações e trocar idéias; podem freqüentar o clube de
emagrecimento juntas e podem até vomitar juntas.
Os clubes de emagrecimento muitas vezes assumem o papel
de clubes sociais ou esportivos. Tornam-se o lugar onde as
pessoas se encontram para conversar e fazer amigos. Todos os
freqüentadores de um clube de emagrecimento têm um
interesse e um objetivo em comum. Os clubes também
significam um local onde as pessoas podem se afastar um
pouco das pressões da vida familiar.
No mundo ocidental, as famílias estão ficando cada vez
menores, e a grande família já não é tão grande assim.
Especialmente para as mulheres que ficam em casa com
crianças, é fácil isolar-se. Um clube de emagrecimento
proporciona o lugar para se afastar das tensões da vida
doméstica, fazer novas amizades e encontrar apoio. Na maior
parte, quem freqüenta tais clubes são mulheres, e este fato
talvez reflita não só seu desejo de emagrecer, mas também sua
necessidade de apoio e amizade de outras mulheres.
As mulheres fazem dieta porque querem perder peso, mas
continuam porque ela se torna uma forma de vida, uma
atividade social e um hábito.

A DIETA COMO UMA FORMA DE MUDANÇA

As vidas das mulheres variam enormemente. Não existem


dois indivíduos com as mesmas expectativas, as mesmas
aspirações, as mesmas lutas e os mesmos problemas. Todos
nós temos formações diferentes, histórias diferentes e futuros
diferentes, mas todos também temos algo em nossas vidas que
gostaríamos de mudar. Esta necessidade de mudança pode
variar de uma fútil vontade de ter uma nova máquina de
lavar, a um desejo de conhecer gente nova, até um anseio
desesperado por uma carreira nova e mais estimulante. E a
maioria de nós também quer mudar algo a respeito de nós
mesmos.
A lista que se segue registra o que as pessoas com freqüência
dizem a respeito de suas vidas e delas próprias. Tudo implica
em mudança. Algumas dessas mudanças são mais possíveis do
que outras, algumas constituem sonhos e outras, objetivos.
Mas são fatores importantes na forma como nos vemos e ao
nosso futuro.

Eu desejaria...
Ser rico(a)
Ter mais amigos
Ter alguém com quem conversar
Ter um companheiro(a)
Ser amado(a)
Não ter companheiro(a)
Ter um emprego
Ter um emprego melhor
Ser bem-sucedido(a)
Ter um lugar bom para morar
Ter mais tempo para mim
Ser mais atraente
Ser mais inteligente
Que as pessoas me notassem
Que meu chefe me desse valor
Poder me sustentar
Poder controlar minha raiva
Ser mais feliz
Ser mais organizado(a)
Ser mais magro(a)

Alguns desses desejos implicam alterar o que acontece ao


nosso redor; outros significam transformações em nós
mesmos, e alguns constituem uma interação das duas coisas. A
maioria envolve esforço, ajuda, apoio e um pouquinho de
sorte para se conseguir; o restante pode entrar no rol das
impossibilidades.
Qual é a relação disso tudo com as dietas? Algumas vezes,
perder peso parece ser a única coisa na vida de uma mulher
que ela se sente capaz de conseguir.
Imagine que você acorda no dia 1a de janeiro, cheia de
resoluções para o ano novo. Você decide que neste ano:

1. Vai ser promovido(a)


2. Vai encontrar "alguém" especial
3. Vai alargar seu círculo social
4. Vai ser uma pessoa mais simpática
5. Vai emagrecer

Tais resoluções, como os desejos acima, são todas difíceis de


atingir e, de um certo modo, podem estar fora de seu
controle. Você poderia pensar: "Meu chefe é quem vai decidir
se terei ou não uma promoção" e "Não posso simplesmente
resolver andar pela rua e encontrar um novo amor", mas pode
dizer: "Pelo menos posso fazer de tudo para emagrecer."
As mulheres vivem numa sociedade que ainda é controlada
pelos homens. A mulher ganha em média 63 por cento do
salário médio de um homem. A maioria dos cargos superiores
são ocupados por homens; as profissões em que as mulheres
ainda predominam são as de professora, enfermeira e
secretária, ao passo que os homens ainda são maioria como
conferencistas, médicos e diretores de empresas. Existem
menos opções abertas às mulheres. E difícil a mulher
conseguir uma promoção porque ainda se presume que ela
deixará o emprego quando tiver seus filhos, que não se dedica
o bastante a seu trabalho, e que é menos capaz.
Em conseqüência, as mulheres sentem que suas vidas estão
fora de seu controle. Elas podem até tomar decisões sobre seu
futuro e sua vida, mas a concretização dessas decisões vai
depender da reação da sociedade. As mulheres se empenham
em demonstrar todo o seu potencial, mas estão sujeitas a
normas sociais e a expectativas que se contrapõem a seus
esforços.
Além desses impedimentos sociais à sua auto-realização, elas
não são incentivadas a descobrir onde reside seu potencial, e
nem se espera que elas tomem as rédeas de suas vidas. O papel
da mulher sempre foi o de aceitar passivamente o que a vida
venha a colocar em seu caminho. Ela é educada para aceitar e
não contestar qualquer coisa que lhe aconteça.
Em última análise, as mulheres sentem que não têm o
controle sobre suas vidas.
E a dieta lhes oferece um meio de ao menos tentar mudar
algo. Ela representa uma maneira de retomar o controle e de
mudar um aspecto desagradável da vida. Todas nós temos
sonhos e objetivos. Se não temos condições de alcançar a
maioria deles, pelo menos podemos tratar de mudar algo:
nosso peso.

A DIETA ADQUIRE UMA VIDA PRÓPRIA

A dieta se transforma num hábito e dá uma oportunidade de


mudança e, em razão disso, também adquire uma vida
própria. A magreza acena com o sucesso, o amor, o controle e
a estabilidade, e a dieta assume todos esses aspectos.
Nós acreditamos que, se fizermos dieta, retomaremos o
controle sobre nossa vida. Sentimos que estamos fazendo
dieta por nós mesmas, e que ela é uma forma de criar uma
mudança, quando tantos aspectos de nossa vida parecem
imutáveis. Uma dieta bem-sucedida serve de compensação a
outros campos de nossa vida em que o sucesso nos foge. E
dirigir o foco para a perda de peso é uma compensação para
uma vida sem um foco.
A dieta é encarada como uma maneira de alterar não só o
peso, como também a vida. A dieta se torna um fim em si
mesma, e não um meio para atingir um fim. Embora o
objetivo inicial fosse emagrecer, este objetivo passa a ser a
própria dieta. As mulheres continuam a fazer dieta apesar dos
fracassos, porque mesmo não havendo perda de peso, a dieta
se transforma numa forma de vida e numa finalidade em si
mesma. E não existe objetivo final a dizer quão magras
devemos ser. O objetivo é ser mais magra sempre. Todas
querem ser mais magras. O processo de emagrecer é o que
constitui a dieta.

Capítulo 10
Desistindo da dieta

Nós precisamos desistir de fazer dieta. Nós precisamos parar


de querer perder peso e precisamos parar de sustentar a
indústria do emagrecimento.
É necessário compreender a razão que nos leva a fazer dieta, e
então encontrar algo em substituição. A dieta serve a uma
função, e esta função não pode simplesmente ser removida;
ela deve ser substituída.

POR QUE VOCÊ FAZ DIETA?

Por motivo de saúde

Seu peso está prejudicando sua saúde? Neste caso, talvez você
deva tentar mesmo emagrecer. Mas para a maioria dos
seguidores de dieta não é o que ocorre.

Não gosto do meu corpo

A maioria das mulheres não está satisfeita com seu corpo. Nas
ocasiões em que nos vemos num espelho, de corpo inteiro,
totalmente nuas, examinamos criticamente cada centímetro,
espetamos nossa carne com desagrado, encolhemos a barriga e
retesamos as nádegas. Ou então, apagamos a luz e nos
afastamos.

A seguir, damos um questionário que ressalta como somos


críticas a nós mesmas. Ele abrange cada aspecto do corpo, não
apenas o peso, e serve para demonstrar que as coisas não são
sempre como gostaríamos. Para descobrir até que ponto vai
sua crítica, assinale como você considera cada parte do seu
corpo: muito grande, muito pequena, normal; na quarta
coluna, acrescente suas próprias observações, como excesso de
pêlos, sardas, sinais, ou qualquer característica que se aplique,
pois nem sempre só o tamanho importa.

Eu acho meu/minha, meus/minhas ...


Outros

Nariz Muito grande Muito pequeno Normal ...


Olhos Muito grandes Muito pequenos Normais ...
Boca Muito grande Muito pequena Normal ...
Bochechas Muito grandes Muito pequenas Normais ...
Cabelos Muito grandes Muito pequenos Normais ...
Ombros Muito grandes Muito pequenos Normais ...
Braços Muito grandes Muito pequenos Normais ...
Antebraços Muito grandes Muito pequenos Normais ...
Axilas Muito grandes Muito pequenas Normais ...
Mãos Muito grandes Muito pequenas Normais ...
Dedos Muito grandes Muito pequenos Normais ...
Seios Muito grandes Muito pequenos Normais ...
Estômago/
barriga Muito grandes Muito pequenos Normais ...
Nádegas Muito grandes Muito pequenas Normais ...
Coxas Muito grandes Muito pequenas Normais ...

Pele Muito grande Muito pequena Normal ...


Joelhos Muito grandes Muito pequenos Normais ...
Batata
da perna Muito grande Muito pequena Normal ...
Pés Muito grandes Muito pequenos Normais ...
Pernas Muito grandes Muito pequenas Normal ...
Tornozelos Muito grandes Muito pequenos Normais ...

(Em alguns casos, grande/pequeno englobam noções como


grosso/fino, longo/curto)

Você se acha crítica de si mesma? Quantos aspectos você


considerou normais? Você gosta de seu corpo? Você se sente
vaidosa dele?
Se tantas mulheres desgostam tanto de seus corpos, como
seria o corpo feminino perfeito? Quem serve de parâmetro ou
base de comparação? Se nossos corpos são imperfeitos, em
algum lugar deve existir uma mulher com tudo certinho!
Se fazemos dieta por não gostarmos de nossos corpos, então
precisamos aprender a aceitá-los e apreciá-los como são. Só
nós mesmas é que nos criticamos, ninguém mais nota que
nosso nariz é muito grande ou que nossas nádegas estão
caídas, a menos, evidentemente, que anunciemos a todos o
que achamos errado em nosso corpo. As mulheres não gostam
de seus corpos e acreditam que os outros também não gostem.
Muitos dos homens cujas entrevistas registrei no Capítulo 8
declararam que, mesmo preferindo ter menos peso, não
achavam que isso fosse um problema ou que fosse notado por
alguém. Mas as mulheres transformam seus próprios
sentimentos de insatisfação com seus corpos num problema
que, no seu entender, é igualmente importante para todo
mundo. O fato de não gostarem de seus corpos é um
componente central de sua identidade, que tem influência
sobre seus sentimentos de auto-valorização.
Como, então, aprender a apreciar o que passamos tanto tempo
odiando? Uma das melhores maneiras de gostarmos de nosso
corpo é olhar para ele. O seguinte exercício pode ajudar:
Primeiro, é preciso ter um bom espelho de corpo inteiro, que
seja fiel e não reflita uma imagem distorcida. Espelhos que
fazem você parecer maior do que é causam depressão, a
menos que você diga a si mesma: "Na realidade, eu sou menor
do que isto." Os que a fazem parecer menor podem ser
lisonjeiros, mas você provavelmente vai concluir: "Pareço
magra no espelho, mas sei que na verdade estou mais gorda."
Em seguida, arme o cenário. Tome um banho relaxante e se
delicie com um bom sabonete ou um novo xampu. Volte para
o quarto onde está o espelho; é melhor estar sozinha no
início, mas fazê-lo com uma amiga pode até ser mais
divertido! A luz pode ser total ou reduzida, dependendo de
como você se sentir melhor; sua música favorita pode compor
a cena, além de um copo de vinho.
Olhe-se então no espelho. Examine cada centímetro e
aprenda a olhar para as partes normalmente ignoradas ou
ocultas. A princípio, veja seu corpo de forma objetiva;
examine-o como se fosse de outra pessoa. Se você não gosta de
sua barriga, examine-a. Não desaprove, mas acostume-se a
olhar e aceitar. As coxas são, a propósito, uma região difícil de
ver por completo; vire-se e observe-as enquanto se move.
Pergunte a si mesma: "Por que não gosto de meu corpo?", ou
coisa parecida, e afaste todo julgamento emocional. Trate de
vê-lo como ele realmente é.
Agora é hora de examinar-se subjetivamente. Observe quais
as partes de que você gosta e quais as de que não gosta.
Algumas delas lhe despertam emoções diferentes? Você se
sente vaidosa de umas, e de outras não? Focalize primeiro as
"partes boas", e depois as "partes más". Verifique se existem
quaisquer diferenças reais entre as duas, ou se se trata apenas
de sua percepção.
Repita essa operação em outros dias. Note como seu humor
afeta a forma como você vê seu corpo. Nós acreditamos no
ditado: "Se você parecer bem, se sentirá bem." Mas o inverso
também é verdadeiro: "Se você se sentir bem, parecerá bem."
Quando nossos sentimentos são positivos, nossos corpos
podem nos parecer perfeitos e nós nos vemos com orgulho. Se
estamos aborrecidos, tudo o que vemos são marcas de celulite
e flacidez. Kathrin Perutz expressou tudo isso perfeitamente
em seu livro Beyond the Looking Class (Além do espelho):
Quando estou num dia bom, posso ver meus olhos castanhos
escuros, cílios longos, uma boca sensual, pele lisa e um nariz
encantador. Num mau dia, tudo isso se eclipsa e só o que
percebo são as bolsas sob os olhos, rugas, cabelos
encarapinhados, lábios grossos e nariz achatado. Num dia
péssimo, não há quase nada para ver, exceto uma sombra de
humanidade indefensável quando desvio meu olhar. Mas num
dia magnífico, belos olhos me contemplam, cheios de amor,
humor e inteligência, (p. 173)
O que precisamos é aprender a distinguir entre nossa
percepção negativa de nossos corpos e a realidade. E devemos
gostar da realidade.
Talvez maior ainda do que o temor de examinar nosso próprio
corpo é o medo de expô-lo aos outros. Você já se despiu
diante de outra pessoa com as luzes apagadas? Ou, deitada na
cama com seu companheiro, você pensa em encolher a
barriga ou esconder suas coxas? Ou talvez você descobriu que
na praia certas posições são inconcebíveis?
Na Inglaterra, é muito raro as pessoas exporem seus corpos
diante de outros. Na maior parte do ano, vive-se sob a
proteção de camadas de roupas que disfarçam e escondem
uma porção de defeitos. Quando se tira a roupa, o mais
comum é que seja na privacidade do lar, e apenas diante de
pessoas em quem se confia. Presumimos que todos os outros
serão tão críticos de nossos corpos como nós mesmos, pois não
há nada que indique o contrário. Se ninguém nunca nos vê
sem roupas, como podemos saber se nossa aparência será
criticada?
Já durante as férias, a coisa muda de figura. Recentemente,
estive no sul da França. No começo, ficava na praia olhando
para meu corpo branco, que parecia em estado de choque por
estar sendo tão exposto. Deitava-me de barriga para cima,
porque só queria mostrar meu lado mais favorável, e me
vestia de novo para ir almoçar. Então percebi que estava
rodeada por pessoas quase nuas, de todos os tipos e tamanhos,
algumas mulheres em biquínis perfeitamente ajustados, outras
com as carnes estourando por todos os lados, e parei de me
preocupar. Em mais alguns dias, eu já estava completamente
feliz. Em férias, a maioria das pessoas esquece seus cuidados.
Existem muitas outras coisas para fazer e para aproveitar. E no
momento em que vemos nossa carne nua exposta ao mundo,
sem que ninguém critique, ou desmaie de susto, ou desate a
rir, compreendemos que não temos o que temer e que
podemos seguir adiante.
Mas esta sensação muitas vezes se esvai quando voltamos para
casa. Como, então, aprender a aceitar que os outros vejam
nosso corpo? Eis algumas sugestões:
Para começar, tente o exercício do espelho descrito
anteriormente, junto com mais alguém. Uma amiga pode
tornar a coisa mais divertida, e um companheiro acrescenta
um elemento de excitação. Os corpos então serão comparados
e cada um apontará ao outro as partes de que não gosta. Eu
me lembro de uma ocasião, ainda na faculdade, quando me
preparava para sair com um grupo de amigas e, enquanto nos
vestíamos, uma delas de repente exclamou: "Deus, como
detesto os bicos dos meus seios, são tão pequenos!"
Começamos então a comparar nossos bustos, e cada uma
parecia ter suas queixas pessoais, mas ninguém conseguia
entender o motivo da preocupação das outras. Viu-se que os
mamilos pequenos eram quase do mesmo tamanho que os das
outras, e que todas tínhamos pelo menos alguns pêlos
crescendo ao seu redor! E muito raro que mulheres vejam os
corpos de outras, a menos que estejam vestidos e encobertos.
É muito fácil acreditar que você é diferente de todo mundo,
porque não há ninguém para servir de comparação. A simples
exposição é a maneira mais fácil de compreender que mesmo
o corpo aparentemente mais perfeito é bem semelhante ao
seu próprio corpo.
Outra técnica é tentar andar pela casa sem roupas. Acostume-
se a ficar nua enquanto assiste televisão ou prepara o jantar.
Não tenha pudor de entrar em provadores coletivos de lojas e
de ir nadar numa piscina pública.
Aprenda a sentir-se confiante em sua aparência, e entenda a
reação das outras pessoas com relação a você. Se seus
sentimentos sobre seu corpo forem positivos, os outros
também responderão de forma positiva. Examine suas
próprias reações a respeito dos outros. Você não nota a
flacidez das outras, então por que estariam elas interessadas
na sua?
Como já dizia Oscar Wilde, "amar-se a si mesmo é o princípio
de um longo romance". Como mulheres, devemos parar de
nos criticar e colocar nossos corpos em perspectiva.

Se eu fosse mais magra, tudo seria melhor

As pessoas fazem dieta para emagrecer e acreditam que ser


mais magra é a forma de fazer a vida melhor.
Ser magra tem muitos significados além de simplesmente
pesar menos. Para identificar o que ser magra significa para
você, responda ao questionário a seguir, assinalando a
alternativa que melhor se aplique ao seu caso:

Quantas vezes você já pensou: Se eu fosse mais magra...

Seria mais feliz


Seria mais atraente
Seria mais popular
Seria mais confiante
Seria mais eficiente no trabalho
Teria mais sucesso
Seria mais sociável
Eu me sentiria mais no controle
Poderia mostrar a todos que tenho força de vontade
Eu me sentiria mais positiva

Conte um ponto para cada "nunca", dois pontos para "algumas


vezes", e três para "freqüentemente", e some tudo. A maior
contagem possível é trinta, e a menor, dez.
O questionário ilustra como é importante ser magra e quantas
outras mudanças você espera que a magreza lhe traga, além de
simplesmente pesar menos. Uma contagem muito alta indica
que você espera muitas transformações.
Se você faz dieta porque sente que o fato de ser magra traz
soluções para muitos dos problemas de sua vida, então é
necessário que você coloque a magreza na devida proporção.
Se você pensa que, sendo mais magra, poderá mudar sua vida,
combata esses pensamentos.
Isto não é fácil, pois a associação entre a magreza e uma vida
feliz é intrínseca à nossa percepção de nós mesmos. Contudo,
com um certo grau de esforço e dedicação é possível perceber
como tal associação é ridícula.
O exercício descrito a seguir visa demonstrar como é possível
dissociar a magreza de todas as outras qualidades
supostamente a ela relacionadas.
Pense em tudo que você seria capaz de realizar ou sentir, se
pesasse menos. Para tanto, imagine-se como você é agora e,
em seguida, como seria se fosse mais magra, e procure avaliar
qual seria a diferença. Faça uma lista dessas diferenças e, ao
lado de cada uma, escreva todas as razões possíveis para que
não seja assim.
Em seguida, damos uma lista de alguns dos possíveis
significados de ser mais magra, e a razão porque a magreza
não deve ter tal significado.

Magreza e atração

Acreditamos que se apenas fôssemos mais magras, seríamos


mais atraentes. Mas, que ponto de magreza devemos atingir
para, de repente, nos tornarmos atraentes? Afinal de contas, a
maioria das mulheres que fazem dieta já são consideradas
magras por todos os outros; mas elas ainda sentem que
emagrecer mais pode ser uma vantagem. A dieta faz você se
sentir infeliz, preocupada com comida e com peso, e um
fracasso — e nada disso é uma qualidade que denote atração.
Quem não consegue resultados na dieta pode se sentir inútil e
sem força de vontade. A atração vem do fato de você gostar de
si mesma e de apresentar ao mundo exterior uma pessoa que
inspire estima. Em lugar de aumentar, a dieta diminui sua
atração.
E se você conseguir perder peso, isto a fará mais atraente?
Qual será o peso ideal, ou você continuará achando que se
pudesse ser um pouquinho só mais magra, seria ainda mais
atraente? Observe as pessoas ao seu redor. Serão as magras
mais atraentes? Suas amigas mais magras se sentem mais
atraentes? A atração tem a ver com o uso de seu corpo de uma
maneira positiva e com o fato de você se sentir confiante em
seu corpo. Simplesmente ser mais magra não proporciona
tudo isso, mas sua atitude para consigo mesma, sim.

Magreza e sucesso

Ver a perda de peso como o caminho para o sucesso é algo


frustrante em si mesmo. Tentar fazer dieta abala quaisquer
sentimentos de sucesso, uma vez que perder peso é tão difícil.
A dieta está associada a sentimentos de fracasso que se
expandem para outras áreas de sua vida. E sentir-se um
fracasso não é a melhor forma de ter sucesso. Tentativas
repetidas de fazer dieta podem contribuir para uma baixa
auto-estima, o que irá atuar para impedir o sucesso. Por que
perder tanto tempo tentando emagrecer e sentir-se mal
quando isto não ocorre? O sucesso da dieta é muito difícil,
então por que escolher a perda de peso como campo para o
sucesso?
E se você conseguir perder peso, isto fará com que tenha mais
sucesso? Ou você estará simplesmente mais magra?
Magreza e felicidade

A mensagem de que magreza é felicidade nos é imposta,


portanto, tentamos ser magras. Qualquer que seja o peso que
tenhamos, queremos ficar mais magras ainda. Mas emagrecer
é difícil, causa depressão, e pode se transformar numa triste
forma de vida. Se nunca chegamos a alcançar o objetivo de
emagrecer, ficamos constantemente desapontadas e
aborrecidas conosco. E desapontamento e aborrecimentos não
fazem ninguém se sentir feliz. Mesmo que se alcance o peso
desejado, pessoas magras não são mais felizes do que as mais
gordas, porque ainda querem ser mais magras.
A felicidade implica em gostarmos de nós mesmas e não
estarmos sempre nos criticando; implica em nos sentirmos
seguros e no controle e orgulhosos do que temos a oferecer. A
dieta representa o oposto. Tentar emagrecer cria um estado de
constante autodesaprovação, é uma tarefa difícil e gera uma
visão negativa de quem somos no presente, enquanto procura
mostrar o que poderíamos ser num futuro ilusório.

Magreza e controle

Sempre nos dizemos: "Se eu ao menos pudesse controlar meu


peso, seria capaz de controlar minha vida." Mas o peso se
controla a si mesmo, e se regula em torno de um ponto fixo,
razoavelmente estável. A dieta impõe uma forma antinatural
de controle sobre algo que se auto-regula. A constante
tentativa de comer menos, algumas vezes conseguindo e
outras levando ao excesso de comida, destrói este controle e
pode deixar a pessoa que faz dieta com menos controle do que
tinha antes de começar. À curto prazo, a dieta pode
proporcionar uma estrutura, mas, a longo prazo, a tentativa
de limitar a quantidade de comida pode criar o caos. E o fato
de sentir-se fora de controle na alimentação pode se
generalizar para outras áreas de sua vida. Tentar emagrecer
viria a destruir, e não aumentar, seu senso de controle.
Portanto, se chegarmos a compreender por que fazemos dieta,
e pudermos encontrar algo para substituí-la, será possível
abandoná-la.

A VIDA SEM DIETAS

Como seria a vida sem dieta?


Suponha-se não fazendo dieta. Imagine qual seria sua
aparência e como se sentiria. Você está gorda e feia, e se sente
infeliz?
Abandonar a dieta é como largar um vício; é difícil visualizar
a vida sem ela. A sugestão para que as pessoas parem de fazer
dieta muitas vezes provoca reações bem fortes. Ao longo de
meu trabalho, encontrei inúmeras pessoas que criticavam
minha crença de que a dieta é autodestrutiva. Considero
oportuno reproduzir aqui alguns destes comentários, e
demonstrar quantas destas críticas se baseiam nos mitos que
envolvem as dietas, e que não têm fundamento em fatos.
"É fácil para você dizer 'não faça dieta', mas eu me sentiria
mais feliz se fosse mais magra." Esta mulher associa a dieta
com magreza, e magreza com felicidade. Em primeiro lugar,
na maioria das vezes a dieta não faz a maioria das pessoas
emagrecer e, em segundo, o fato de ser mais magra não faz a
maioria das pessoas felizes.
"Você está bem, não é gorda, mas eu preciso continuar a fazer
dieta." Primeiramente, esta mulher pressupõe que só as
pessoas gordas fazem dieta. Mulheres de todos os tipos e
tamanhos fazem dieta, pois perto de 90 por cento delas se
acham mais gordas do que desejariam ser; a dieta é motivada
pela gordura percebida, e não pela gordura real. Em segundo
lugar, ela acredita que se continuar com a dieta, emagrecerá.
A dieta envolve pensar em emagrecer, mas não
necessariamente consegui-lo. Basta considerar o pequeno
número de pessoas que têm êxito em sua dieta, para entender
que esta não significa perder peso.
"Se eu não fizesse dieta, eu seria enorme." Para esta, a dieta
evita que as pessoas engordem demais. Algumas conseguem
limitar a ingestão de alimentos continuadamente e por longos
períodos, de forma a manter seu peso abaixo dos limites
naturais. Se estas pessoas voltassem a comer as mesmas
quantidades que Comiam antes de começar a dieta,
provavelmente engordariam devido à diminuição de sua taxa
metabólica. Contudo, a maioria dos que fazem dieta não come
menos de forma geral, mas oscila entre fases de pouca comida
e outras de comida em excesso. O que fazem é apenas pensar
em comer menos. Neste caso, se parassem de fazer dieta, não
iriam engordar, mas deixariam de se preocupar com comida e
de se sentir infelizes.
Desistir da dieta é um passo positivo. A dieta não vai fazê-la
mais magra, mais feliz, controlada ou bem-sucedida, então
por que continuar?
Quais são os benefícios de não fazer dieta?

Aceitação

Parar de fazer dieta significa que você pode se aceitar pelo


que é agora, em lugar de esperar que alguém melhor surja no
futuro. Significa que você pode se orgulhar de si mesma e não
mais ter que fazer infindáveis comparações com modelos mais
magras e mais bonitas. Conforme diz Anne Dickson em seu
livro The Mirror Within (O espelho interior), tais
comparações são:

Um processo tão automático que por vezes esquecemos de nos


perguntar — muito grande/pequeno/curto, para quem?
Conscientes da necessidade de certos pontos de atração,
comparamos estes fragmentos com as modelos da mídia, em
geral sem pensar em ninguém em especial, e nos classificamos
em fragmentos e em face de algum ideal interior.

Pare de fazer dieta e você poderá deixar de fazer essas


comparações críticas. O que passa a importar é você no
presente, e a diferença entre o que você é e o ideal futuro
pode ser esquecida.

Liberdade

Parar de fazer dieta significa libertar-se de pensar em comida,


sonhar com ela e privar-se de comer. Significa que você pode
sair para jantar quando quiser, e participar animadamente de
reuniões sociais. Parar com a dieta significa comer as mesmas
coisas que c resto da família e não mais ter que preparar duas
refeições diferentes. Significa liberdade de preencher seu
tempo com outros interesses. O tempo não precisa mais ser
gasto com o planejamento de dietas e com a leitura de livros
especializados, mas pode ser aproveitado para todas as outras
coisas boas que há para fazer.

Confiança

Parar de fazer dieta significa que você não terá mais que
enfrentar desapontamentos, sentimentos de fracasso e depres-
são. Você não precisará mais impor-se metas inatingíveis, que
só trazem culpa e uma sensação de fraqueza. Sua confiança e
auto-estima crescerão quando você deixar de se atormentar o
tempo todo com auto-desaprovação.

Comportamento alimentar

Seu comportamento alimentar mudará. A dieta provoca


alterações em todos os fatores que constituem a alimentação.
Tentar comer menos provoca: depressão, que leva a comer
para melhorar o ânimo; preocupação com comida, que leva a
pensar nela e, portanto, a comer mais; preocupação com o
peso, que leva a comer como compensação quando não se
perde nada; sentimento de perda de controle e, em
conseqüência, oscilações entre comer de menos e comer de
mais; sentimento de privação e aumento da ânsia de comer;
transformação de certos alimentos em iguarias, o que os faz
mais desejáveis e, assim, mais consumidos.
O objetivo da dieta é fazer comer menos, mas,
paradoxalmente, pode levar ao excesso de comida. Quando se
desiste da dieta, este problema desaparece. No início, talvez
você coma para sentir a recém-descoberta liberdade de não
estar em dieta, mas gradualmente a comida deixará de ter um
papel importante em sua vida. Pare de fazer dieta e você
pensará menos na comida. Você comerá quando estiver com
fome, e não quando seu anseio por comida se tornar forte
demais para ser ignorado. Você não desejará devorar pratos
cheios de doces e alimentos altamente calóricos, porque,
sabendo que pode comê-los a qualquer hora, eles perderão a
atração do proibido. Quando se está em dieta, imagina-se
como seria maravilhoso ter tortas de creme todos os dias, mas
na realidade isto se tornaria enfadonho. Pare de fazer dieta e
comer se tornará menos importante para você.
Pare de fazer dieta e siga sua vida apreciando todas as outras
coisas que ela nos oferece.

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