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t udo

a n do u (I)
Qu meço
co

Algae Ti
Uma mancha pre-
ta com uma estrela
azul. Eu tenho uma man-
cha preta com uma estrela
azul no meu braço e não tenho
ideia de o que fazer com ela. Fa-
zem algumas horas que completei
18 anos e finalmente entendi
porque minha mãe estava
tão ansiosa para que o
relógio batesse meia
noite.

Uma marca de alma


gêmea.

Se eu não tivesse visto o


desenho se formar e a queimação
que veio com ele eu não acreditaria
nas palavras que saíram da boca de
minha mãe que explicou o que estava
acontecendo. Supostamente minha
raça costumava
ser interligada, to-
dos tinham almas gêmeas
e isso funcionou por bas-
tante tempo até que vieram
gerações que preferiam explorar
o universo ao ficar no nosso pe-
queno planeta Measles Louts,
então o conceito de que
sua vida estava ligada
com outra pessoa
da mesma espécie m
se tornou odiada por
muitos. Alguns tentavam
apenas esconder as tatua-
gens, outro cortavam suas pe-
les e os piores casos eram aqueles
que procuravam suas almas gêmeas
para matá-las e se acabarem livres
daquela ligação. Foi decidido depois
de muitas mortes e o aumento de
população no planeta que não era da
mesma raça que as
marcas não tinham
significado e quem as
tinha deveria ir até um
centro especializado para sua
retirada.

“Você quer tirar?”


foi o que minha mãe me
perguntou depois de toda oja.
nte me en
explicação, me olhando Essa ge
com esperança de
ouvir uma resposta
que eu não sabia se po-
deria dar, então eu respon-
di:
“Não”.

Assim que eu acabei onde estou ago-


ra, com uma mochila nas costas com
cinco mudas de roupa, minhas bola-
chinhas favoritas de sabor morango
e duas garrafas
d’água. A manga
do meu casaco cobria
minha mancha e mesmo
assim eu me sinto ansiosa como
se qualquer um fosse descobrir e
me obrigar a arrancar isso de
mim. Eu não posso deixar, eu
não posso largar da única
possibilidade de alguém
me amar.
Já sinto meus pés
arderem e meus joe-
lhos doerem com a cami-
nhada até que minha visão
capta um posto de combustí-
vel e meu cérebro por motivos
desconhecidos grita para que eu me
aproxime. Talvez alguém tenha pena
de mim e me ofereça carona? É o
que eu espero. Esquecendo as dores
continuo andando até chegar no
e meus olhos
passam por todas
naves ali presentes,
algumas são básicas, para
viagens curtas, e outras são
de modelos que eu nem ao mesmo
conhecia, uma em particular me
chama atenção, caindo aos
pedaços eu me pergunto se
aquele monte de metal
ainda consegue voar,
mas imagino que sim
ao ver uma mulher um
quase foi es que você
perta???

pouco mais alta que eu


usando óculos sair da nave.
Sério mesmo

“Será que devo?”, me pergun-


Eu nã
tava ao ver que ninguém estava
o sei
qual supervisionando a nave que agora
das d
uas
é mais tinha a porta aberta e quando per-
burra
. cebi já estava invadindo o veículo.
Rapidamente procurei um lugar
para me escon-
der e tomei cuidado
para não me machucar
em nenhuma das quinas de
metais com medo das doenças
que aquela ferrugem poderiam me
causar, com o coração batendo
forte contra minhas costelas
achei um espaço por bai-
xo do chão da nave,
puxei a tampa do
meu novo esconde-
rijo e entrei para o
subsolo me acomodan-
do e fechando a entrada.
Pude respirar fundo e pensar
sobre o que estava acontecendo,
logo sentindo meus olhos queimarem
pelas lágrimas formadas que agora
escorriam pelas minhas bochechas. O
medo de dominou e todos cenários
ruins se passaram pela minha mente
e o pior deles era
onde eu encontrava
minha alma gêmea e ela
não me amasse.

Logo senti o solavanco da nave


começando a decolar, segurei
forte no tecido de minha
mochila e torci para que neném
Moros me ajudasse
nessa jornada e o o c inho
d
destino da mulher chuchu
que estava pilotando
me aproximasse da minha amoreco
alma gêmea.

Alguns minutos se passaram e


eu sabia que já estávamos no es-
paço aberto e minha mente não me
deixava dormir apenas sentir um té-
dio por não ter absolutamente nada
para fazer, abri minha mochila e
franzi as sobrancelhas vendo que ali
tinha um livro que
eu não conhecia,
retirei com cuidado e ao
ver sobre o que era suspirei
imaginando que fora uma ação
de minha mãe colocar ele na minha
mala improvisada:
Um livro sobre almas gêmeas.
anjo
Comecei a folhear as pági-
nas e senti a monotonia
eu
do m
razão da jornada se esva-
o
p s ic ologic
uilibrio ziar, talvez finalmen-
deseq
te algo me interessaria,
dengo então li cada palavra com
cuidado e atenção, eu precisa-
va saber tudo sobre aquele as-
sunto, eu precisava descobrir tudo
que eu deveria fazer ou como agir.
Ok, já fazem 5
dias que estou nes-
sa nave e decorei cada
palavra do livro grosso so-
bre almas que nasceram ligadas,
eu poderia dar palestras se fosse
preciso, mas não consigo mais ler
a mesma coisa e o tédio me
pegou de novo.

Acho que por isso que


estou escrevendo
qui de novo. Eu tinha
começado a escrever
isso porque eu estava muito
nervosa e talvez falando essas
coisas para um papel alivie, talvez
eu já esteja ficando louca, mas
enquanto funcionar eu vou fazer
isso, afinal, eu não tenho nada pra
fazer mesmo.
Eu devia colocar
um nome em você,
certo?

Alfredo, que tal?

Então, Alfredo, eu acho que a


nave que estamos foi roubada
porque até agora a pilota não
veio checar nosso novo
quartinho o que é es-
tranho já que aqui
esse é você tem um armarinho
Mas eu sou
Alfredo com bastante comida, m uito burra
mal tive que comer mi- mesmo
nhas bolachinhas, talvez ela
não saiba que esse lugar existe Realmente,
o que é muito bom pra gente e Leonora...
ruim pra ela, estou pensando em es-
perar ela dormir e dar uma volta
pela nave até porque não aguento
mais comer essas coisas frias, talvez
eu finalmente consiga esquentar uma
água para fazer
miojo, minha mãe fi-
caria muito satisfeita
ao saber que estou enjoada
de comer a massa crua, hábito
que peguei quando era pequena e
não alcançava o fogão.
Comer miojo cru é bom, mas
não é agradável quando
Ah é
você só come isso por
mesmo?
5 dias seguidos.

Vou dar uma dormida


e volto com atualizações
daqui um pouco, Alfredo.

ogão
u m d
o era
s m
a me guer
queri b u r
ham
ou um
d a des
sau
Receita de Miojo

1 botar água na panela até eu


achar que ta bom

2 aquecer essa água

3 botar o miojo

4 ir fazer algo enquanto o miojo


fica lá

5 NÃO ESQUECER DE BO-


TAR O TEMPERINHO DO
MIOJO

6 mexer mais um pouco

OPCIONAL: tirar a água e quebrar


um ou dois ovos no miojo, colocar no
fogo de novo pra cozinhar os ovos

Eu até estou
quentinha depois
dessa janta. Consegui
ir até a cozinha e além de
esquentar a água pro meu miojo
achei muitas coisas interessantes
como: uma caixa de bombons,
um pacote de balas de cereja
(ainda bem que ela tem
bom gosto), uma barra
de chocolate com
caramelo, pacotes
de salgadinhos de
queijo e cookies. Claro
que eu não peguei tudo isso,
deixei alguns bombons pra ela
(talvez eu tenha pegado só os que
eu gosto e deixado o resto porque
eu não como aqueles) e to pensan-
do em amanhã pegar pelo menos um
pacote de salgadinho. Acho que não
tem problema, né?
ê m orava
Voc c* do Alguns dias depois e
no o real
rs ainda estamos voando
unive
sem destino aparente, eu
u e
te, q
almen culparia a pilota da nave,
Liter a .
st
ta bo mas sei que meu planeta é lon-
plane
ge de qualquer coisa nesse univer-
so, então estou aqui aceitando meu
destino e torcendo para que Moros
cuide de mim e me leve para o lugar
certo.
stino
= D e u s do de
Moros
Lembra da co-
mida que eu estava
pegando emprestada,
Alfredo? Então, talvez
eu tenha pegado mais coisas
como dois punhos de balas, meta-
de da barra de chocolate, três
dos cinco pacotes de salgadi-
nho e um dos dois pacotes
de cookies.
Eu continuo na
rotina de me esconder
aqui e sair quando ela
está dormindo, já grifei
todas as partes importantes
do livro sobre alma gêmea e se
antes eu dizia que tinha decorado
ele agora eu tenho certeza que posso
contar cada palavra para alguém sem
ao menos olhar para as páginas. Ele
é um livro interessante, mas perdi a
conta de quantas vezes já li ele.
Agora só conti-
nuar firme e for-
te até que eu possa sair
dessa nave.

Estou sentindo a nave parar, Al-


fredo, e não sei se devo ficar
on ê e
de

assustada ou aliviada, afinal


vo a gê
c
alm

se

depois de o que pareceu


rá minh
st

qu
á

84 anos finalmente
e
me
a?

ma
chegamos em algum
a

u
sido a
ten
h a inh
soz as
lugar, mas por outro
n ão s o n
e, ver Ap
e
lado está começando
sab o uni o?
u e m p e l n t ã
q e
z, air nder, o... a cair a ficha que estou
lve eia s e
Ta
a i d a pr n t and
bo de e
es com sozinha no universo. E eu
ant
não tenho a mínima noção de
direções sobre o universo.
Ok, preciso sair dessa nave, a pilota
já saiu.
Espera, se a pilota já saiu porque eu
estou ouvindo barulhos dentro des-
se troço?
Ah, não.

Eu sabia que era algo


errado e foi tudo confir-
mado quando a porta de meu
esconderijo foi aberta e braços
que
fortes me arrancaram do chão.
Eu disse
is gente
tinha ma —
Ora ora, achei que se-
do a
procuran
idiota. ria
mais velha, mas de
vo dizer que não
estou decepcionado.
O ser nojento e
com tentáculos que me
segurava disse e eu não
entendi nada sobre aquilo,
então fiz o que qualquer outra
pessoa racional faria: comecei a
gritar.
Nem sabia direito o que eu estava
gritando eu apenas queria sair do
aperto daquele homem fedido que
apenas ria dos

po
ap
meus esforços. Meu

r f a log
are

av
coração batia rápido

or
demais e eu escutei algo na

o
cozinha estourar, da direção
oposta apareceram mais três se-
res, agradeci mentalmente por
esses não terem tentáculos,
aquelas coisas eram nojen-
tas e assustadoras.
Minha garganta ar-
o
ar of

dia pelo esforço de


f

u
ro
ou

gritar cada vez mais


ic
f

ag
ho

alto esperando que al-


m
en
ue
tr des

guém ouvisse e tivesse pelo


o

el
se

iv
es

rr

menos o mínimo de pena da


ho
o
a

minha situação e me salvasse, o


er

que aconteceu. Foi rápido demais e


quando me dei conta sangue cobria
grande parte de meu corpo, o chei-
ro era forte e por ser fresco era
quente contra minha pele, com toda
Da minha boca
não saia mais nenhum
som e meus olhos no- De n
ada,
taram a mulher em minha aliás
.
frente, aquela que havia me
salvado e matado os quatro caras.
Ela parecia tentar se comunicar
comigo, mas meus ouvidos
pareciam ter um zumbi-
do que não me deixava
concentrar em suas
se
rá ntr
en

palavras, sentia todo


qu ar?
co

e
vo
meu corpo tremer,
u
te
mesmo não tendo frio,
nenhum sentimento poderia
descrever o que estava acon-
tecendo com a minha mente na-
quele momento e foi assim que a
única coisa que consegui dizer para
minha salvadora foi:
— Nos livros ninguém menciona que
sair de casa dava nisso.

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