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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS


CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM PROCESSOS QUÍMICOS
QMC 1091 – QUÍMICA INDUSTRIAL

Geovana Mussato Mello

INDÚSTRIA DO CLORO E SODA CÁUSTICA

Santa Maria, RS
2023
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................3
2 DESENVOLVIMENTO...................................................................................................... 3
2.1 HISTÓRIA..........................................................................................................................3
2.2 PRODUÇÃO DE CLORO E SODA CÁUSTICA..............................................................5
2.3 CÉLULA DE DIAFRAGMA..............................................................................................5
2.4 CÉLULA DE MERCÚRIO.................................................................................................7
2.5 CÉLULA DE MEMBRANA..............................................................................................9
2.6 CONTROLE DE QUALIDADE.........................................................................................9
2.7 APLICAÇÕES..................................................................................................................10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................11
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1 INTRODUÇÃO

O cloro e a soda cáustica servem de base para fabricação de milhares de outros


produtos, os quais são utilizados no dia a dia. Entre esses produtos estão o PVC (cloreto de
polivinila), espumas de poliuretano, medicamentos, papel e celulose, vidros, alumínio,
defensivos agrícolas, e entre outros. Desse modo, como a indústria de cloro-álcalis está em
vários setores, é considerada um parâmetro para entender o ritmo de desenvolvimento da
indústria nacional (ABICLOR).

Em 2022 a produção de cloro e soda cáustica no Brasil apresentou crescimento pelo


segundo ano consecutivo. O cloro terminou o ano com 1016 milhões de toneladas produzidas,
representando um crescimento de 8,6 % comparada ao ano anterior. A soda cáustica
apresentou um crescimento de 8,9 % em comparação a 2021, totalizando 1112,5 milhões de
tonelada. Sendo assim, mostra que o país continua se desenvolvendo e fabricando mais
produtos a partir da indústria cloro-álcalis (ABICLOR).

2 DESENVOLVIMENTO

Neste capítulo serão abordados aspectos relacionados com a história, propriedade e


processos na fabricação do cloro e soda cáustica. Posteriormente, serão apresentados
aplicações e informações fornecidas por essa indústria.

2.1 HISTÓRIA

As lixívias cáusticas (soluções de sais alcalinos) já eram utilizadas na antiguidade.


Nessa época era comum obter essas soluções de sais naturais contendo carbonato de sódio ou
de cinzas de algas marinhas (ABICLOR).

A fabricação de soda cáustica foi descoberta em 1750, com o químico escocês Black
que adicionou cal a solução de carbonato de sódio. Entretanto, apenas 41 anos depois, em
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1791, surgiu o método patenteado que impulsionou a produção de soda cáustica. O método
patenteado foi do médico francês Nicolás Leblanc, para a produção de carbonato de sódio
artificial a partir do sal comum. Apenas 70 anos depois, foi construída a primeira fábrica de
soda cáustica n Escócia (ABICLOR).

Com o processo Leblanc, basicamente é transformado o cloreto de sódio em sulfato de


sódio, a partir da adição de ácido sulfúrico. Posteriormente, o sulfato de sódio era decomposto
com calcáreo e formando o carbonato de sódio (matéria prima para a soda cáustica)
(ABICLOR).

Em 1861, foi patenteado um novo processo com o Ernest Solvay. Esse novo processo visa a
obtenção do bicarbonato de sódio pela passagem de amônia e gás carbônico através de uma
solução de cloreto de sódio. Com o aquecimento do bicarbonato de sódio, consegue-se o
carbonato de sódio. Por fim, é adicionado cal ao carbonato de sódio formando a soda cáustica.
Após 4 anos depois, começou a produção em escala industrial (ABICLOR).

Atualmente, a produção de cloro e soda cáustica são com processos eletrolíticos. A


primeira produção em escala industrial pelo processo eletrolítico, foi em 1890 por Stroof,
Parnicke e os irmãos Lang Griesheim, na Alemanha. Eles utilizaram a célula de diafragma
(ABICLOR e SHREVE, R.).

A célula com catôdo de mercúrio foi inventada em 1892 por Castner e Kellner. Entretanto, só
em 1935, durante a guerra mundial, essa célula foi aperfeiçoada por Farben, na Alemanha
(ABICLOR).

No Brasil, a primeira fábrica utilizando célula de diafragma foi construída em 1934 (Eletro-
Química Fluminense). Já a célula a mercúrio surgiu em 1948 (Eletrocloro), atualmente
conhecida como Solvay Indupa (ABICLOR).

Os processos para a produção de cloro e soda cáustica citados até agora utilizam
cloretos e mercúrios, e com o intuito de diminuir esses compostos, as empresas buscam novas
alternativas. Sendo assim, na década de 70 é criado a célula de membrana. A primeira fábrica
no Brasil a utilizar essa tecnologia foi a unidade de Aracruz Celulose, em 1981 (C,
FABRICA).
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2.2 PRODUÇÃO DE CLORO E SODA CÁUSTICA

A obtenção do cloro e da soda cáustica é por meio da eletrólise de uma solução de


cloreto de sódio e água. Na produção do cloro, inicialmente o gás tem coloração amarelo-
esverdeado e um forte odor. Posteriormente, ocorre a pressurização do gás à baixa
temperatura para ocorrer a liquefação. Desse modo, ocorre a produção de um líquido claro de
com âmbar. A soda cáustica apresenta-se na forma de solução aquosa e límpida, contendo
cerca de 50% de NaOH. Para cada tonelada de cloro, são produzidos 1,1 tonelas de NaOH e
0,03% toneladas de H2 (UNIPAR e ABICLOR).

A eletrólise ocorre com a passagem de uma corrente elétrica através de uma solução
de salmoura tratada (sal comum dissolvido em água). Os produtos gerados são soda cáustica
(hidróxido de sódio ou NaOH) e Hidrogênio (H2). Portanto, na eletrólise ocorre a formação de
gás cloro, o qual passa por processos de resfriamento, secagem e compressão para ser
comercializado. A seguir é mostrado a reação química para a formação de Cl (UNIPAR):

NaCl + H2O  ½ Cl2 + NaOH + ½ H2

A eletrólise pode ocorrer utilizando três processos diferentes, célula de diafragma,


célula de mercúrio e célula de membrana. No Brasil, a tecnologia mais utilizada pelo setor de
cloro e soda é a de diafragma, que corresponde a 63% da capacidade instalada (UNIPAR e
ABICLOR)

2.3 CÉLULA DE DIAFRAGMA

Nesse processo, a célula é dividida em duas regiões, anódica e catódica. Essas duas
regiões são separadas por uma tela metálica perfurada, impregnada a vácuo, com amianto
crisotila ou resina polimérica (células mais modernas) (ABICLOR e SHREVE, R.).

O cloreto de sódio (NaCl), quase saturado e em uma temperatura aproximadamente 70


°C é admitido no compartimento do anódico, onde se forma o cloro. Posteriormente, os íons
de sódio passam através de um diafragma para o compartimento catódico, onde se forma a
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soda cáustica e o hidrogênio. O escoamento é contínuo na direção do catódico pela diferença


de pressão (ABICLOR e SHREVE, R.).

A célula de diafragma utilizava cubas de mercúrio, entretanto em 1975 foi proibido o


uso dessas cubas no Japão, fazendo com o os Estados Unidos suspendesse suas produções. As
células de mercúrio produziam um NaOH mais puro, entretanto a uma perda de mercúrio para
o meio ambiente, acarretando problemas ambientais. Um exemplo é a morte de vidas
marinhas (SHREVE, R.).

Desse modo, a cuba mais comum é de diafragma. O diafragma permite a passagem


dos íons por migração elétrica e permite ser uma estrutura compacta, já que os eletrodos
podem ser colocados juntos. Com o tempo, a diafragma vai entupindo e por isso é necessário
à sua troca. Entretanto, com o uso de catodo metálicos (titânio recoberto com óxidos de terras
raras, platina ou metais nobres) raramente sofrem entupimento, operando durante 12 a 24
meses sem ser substituído (SHREVE, R.).

Figura 1 – fluxograma da produção de soda cáustica e de cloro em célula de diafragma

Fonte: (SHREVE, R.)

No primeiro estágio, ocorre a purificação da salmoura onde ocorre a eliminação de


cálcio, ferro, magnésio da solução de NaCl. Desse modo, a soda obtida é mais pura e ocorre
menos entupimento no diafragma. Em algumas ocasiões é removido sulfato por meio de
BaCl2 ou a salmoura é tratada a quente com íons hidroxila. A salmoura limpa é neutralizada
com ácido clorídrico e depois estocada. Por fim, é aquecida e levada às cubas em um nível
constante (SHREVE, R.).
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Posteriormente ocorre a eletrólise da salmoura e a evaporação e separação do sal. A


eficiência de decomposição das cubas é de 50%, ou seja, metade de NaCl está diluído na soda
cáustica. Entretanto, a uma pequena solubilidade entre os dois, sendo assim, se consegue
separá-los. A separação ocorre com a solução diluída (12 a 15% de NaOH) sendo evaporada
até a concentração do NaOH chegar a 50% em um evaporador de estágio múltiplos (são feitos
de níquel para evitar a contaminação de Fe) com separadores de sal. Posteriormente, passam
pela etapa de sedimentação e filtragem. O sal recuperado retorna a salmoura (SHREVE, R.).

A evaporação final é fita para que a soda cáustica decantada e resfriada que possui teor
de NaOH de 50% passe para 75%. Essas soluções concentradas precisam ser operadas com
camisa a vapor para que não se solidifiquem (SHREVE, R.).

A soda passa por um acabamento em caldeirões, que atualmente são evaporadores


aquecidos. A soda é tratada a quente pelo enxofre para precipitar o ferro, e depois decantada.
O produto é bombeado até aos tambores de folha de aço fina ou para as máquinas de escamas
(SHREVE, R.).

O cloro quente que saí do anodo arrasta bastante vapor de água, sendo assim, é
resfriado e depois seco em um purificador de ácido sulfúrico. Posteriormente, o cloro passa
por um processo de compressão a 2,5 até 5,5 atm O tipo de equipamento utilizado depende da
pressão. Em pressões baixas, usa-se um soprador rotatório de pistão e em pressões altas é
utilizado centrífugos. O processo ocorre com o calor da compressão sendo removido e o gás
sendo condensado. Posteriormente, o cloro líquido é estocado em pequenas bombonas e
enviados a grandes consumidores (SHREVE, R.).

2.4 CÉLULA DE MERCÚRIO

Essa célula possui uma cuba, a qual a salmoura é parcialmente decomposta em um


compartimento (eletrolisador) entre um anodo de grafita e um catodo móvel de mercúrio. A
formação do cloro ocorre no anodo e o amálgama de sódio no cátodo. A seguir as reações que
ocorrem na região do anodo e do cátodo: (SHREVE, R.).

Reação anódica:

2 Cl-(aq)  Cl2(aq) + 2e-

Cl2(aq)  Cl2(g)
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Reação catódica:

2Na+(aq) + Hg + 2e-  2Na(Hg)

Reações global:

2Na(Hg) + Hg  Cl2(g) + 2Na(Hg)

A eletrólise ocorre em uma temperatura aproximada de 65 °C e a concentração média


do sal é de 290 g/l. O amálgama de sódio flui para um segundo compartimento
(decomponedor do amálgama ou célula secundária), o qual se torna um anodo de um catodo
de ferro ou de grafita em um eletrólito de solução NaOH. Nessa parte, injeta-se água pura em
contracorrente do amálgama de sódio, formando o hidrogênio, enquanto a concentração do
NaOH se eleva em torno de 50%. Nesse processo, se a temperatura ficar maior que 100 °C, se
consegue um NaOH de 73%. A seguir segue as reações na célula secundária: (SHREVE, R.)

Reação anódica:

2NaHg  2Na+ + Hg + 2e-

Reação catódica:

2H2O + 2e-  2OH- + H2(g)

Reações global:

2NaHg + 2H2O  2NaOH(aq) + H2(g) + Hg

Figura 2 – Célula de mercúrio

Fonte: (MORAIS, 2022)


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2.5 CÉLULA DE MEMBRANA

As células de membrana são a tecnologia mais moderna e menos poluente atualmente.


A produção de cloro nesse tipo de processo ocorre no ânodo e soda cáustica e hidrogênio no
cátodo. O separador entre as duas regiões nesse caso é uma membrana com dupla camada
recoberta de ácidos perfluorocarboxílico e perfluorossulfônico (OLIVEIRA, 2018).

A membrana semipermeável possui a propriedade de passar os íons de sódio,


entretanto não permite a passagem de íons de hidroxila e cloreto. Essa membrana, como é
uma tecnologia mais atual, o custo é maior. Entretanto, a qualidade é similar aos produtos no
processo de mercúrio (OLIVEIRA, 2018).

Figura 3 – Célula de membrana

Fonte: (OLIVEIRA, 2018)

2.6 CONTROLE DE QUALIDADE

O cloro líquido final precisar apresentar algumas especificações para ser um produto
de qualidade. As especificações são que o cloro precisar apresentar 99,50% v/v e possuir ao
máximo 10,00 ppm de ferro, 75,00 ppm de resíduo não volátil, 10,00 pppm de tricloreto de
nitrogênio e 50 ppm de umidade (H2O) (UNIPAR).
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A soda cáustica líquida também precisa ter alguns parâmetros necessários para a
comercialização. A alcalinidade total (NaOH) tem que possuir 49 até 51,5 % m/m e ter ao
máximo 0,20 % m/m de carbonatos (Na2CO3), 0,005 % m/m de cloratos (NaClO3), 0,015 %
m/m de cloretos (NaCl), 3 ppm de ferro e 50 ppm de sulfato (Na2SO4) (UNIPAR).

2.7 APLICAÇÕES

A principal aplicação industrial do cloro é na fabricação do PVC, o qual é um plástico


muito importante utilizado desde 1930. Esse plástico possui a composição de 57% de sal e 43
% de óleo e dependente do petróleo também. As aplicações são bastantes variáveis por causa
de sua natureza versátil. Desse modo, é aplicado em construções civis, medicina, alimentos
(embalagens), calçados, brinquedos, fios e cabos, janelas, portas e forros (ABICLOR).

A soda cáustica por sua propriedade alcalina, consegue neutralizar compostos ácidos e
consequentemente produz sal e água. Com isso, a soda cáustica é de extrema importância para
o controle de poluição. Uma maneira de controlar a emissão dos gases tóxicos de processos
industriais, é com lavador de gases. Tais sistemas neutralizam os gases ácidos e tornam os
resíduos com uma menor toxicidade (ABICLOR).

Posteriormente, com a soda cáustica concentrada e acabada, ocorre o processo para


retirar as suas impurezas. Normalmente, o ferro é removido utilizando carbonato de cálcio
seguido de uma filtragem com um filtro Vallez com pré camada de carbonato de cálcio. O
cloreto e o clorato podem ser removidos com a passagem da soda por uma coluna, a qual
possui uma solução de amônia (ABICLOR).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABICLOR. A história do cloro. Disponível em: https://www.abiclor.com.br/a-historia-do-


cloro/. Acesso em: 02 maio 2023.

SHREVE, R. Norris; BRINK JUNIOR, Joseph A.. Indústria de processos químicos. 4. ed.
Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1997. 717 p.

https://www.unipar.com/

OLIVEIRA, Helton Luiz Santana et al. Estruturação de um programa de segurança de


processo a partir da modelagem quantitativa de riscos em planta química de produção de
cloro-álcali por tecnologia de membranas / Structuring of a process safety program from the
quantitative modeling of risks in a chemical plant for the production of chlor-alkali by
membrane technology. Brazilian Applied Science Review, [S.L.], v. 2, n. 1, p. 52-69, 2 jul.
2018. South Florida Publishing LLC. http://dx.doi.org/10.34115/basr.v2i1.270.

MORAIS, Pedro Felipe E.. A produção industrial de Hidróxido de sódio. 2022. Disponível
em: http://www.petquimica.ufc.br/a-producao-industrial-de-hidroxido-de-sodio/. Acesso em:
02 maio 2022.

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