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PRODUÇÃO

Inovação Tecnológica: Desafio


Organizacional

José Carlos Teixeira da Silva, M.Sc. Eng. Mec.


Doutorando Eng. Produção / Escola Politécnica-USP
Rua Clemente Candido Gomes 123 Piracicaba-SP CEP 13405-069

Guilherme Ary Plonski, Doutor Engenharia


Prof. Doutor / Depto. Eng. de ProduçãolEscola Politécnica-USP
Av. Prof. Almeida Prado, trav.2, n128- 2 andar/ CEP 05508-900 São Paulo-SP

Palavras -c11avcs: tecnologia, inovação, desenvolvimento do produto, industrial

Kcy words: technology, inovation, product developmenl. industry.

RESUMO

Est~ trabalho discut~ a inovação tecnológica na industria. Preliminarmente descreve aspectos


relacionados à evolução dos sistemas produtivos e suas relações com a tecnologia ~ estrutura
organizacional. Incorpora análise de modelos recentes, propostos para detinir a taxa de inovação
tecnológica para produtos e processos no tempo, e suas relações com o lhercado e estrutura
organizacional. Enfàtiza 'Iue a inovação tecnológica na industria envolve planejamento estratégico ~
operacional com respeito a t~cnologia/mercado, gama de projetos, e estrutura organizacional. No
processo de desenvolvimento de produtos, o gerenciamento por projetos parec~ ser apropriado para
as condições atuais de llexibilidade e integração na industria, onde o aprendizado c a competellcia são
pré-requ is itos.

ABSTRACT

This pape r disclIss lhe lechnolagical innovalion in in dll s Ir)', Prelllll/lWl)' describes uspecls
concel'ning lhe evolulion in lhe productives syslems and lheir relationship WJlh lechnology onu
organizalion slntClllre, It ottel/lpts to analyse the recent proposilions oI l/lodel.,' thal hypothezises the
rate oI l/lC(jor innovatian jor prodllcts and proces.,' over lil/le. (lnd the organizatlOnal mui lIJarkel
relalionship. Enjazises Ihal the technological innovatian in indllsll)' in volves lhe establishil/lent oI a
strategic and operolional planning, IVith respect technologY/l/larket, gOl/la aj'proJects. and
organiza/ional struc:lures. On developmenl process, lhe 1JI1Inagelllenl hy projecl oppear la be
appropriate IVithin lhe presenl condilions oIJlexibility and integration in indllstl)', IVhere the learning
and.compelence approach are prerequisites.

Belo Horizollte, Vo16, N"2, p.183-193 Dez. 1996

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PRODUÇÃO

1. A Tecnologia e os de produção, ou seja, dos equipamentos


fabris. Mesmo comum sistema produtivo
Sistemas Produtivos aparentemente desorganizado, pelos
critérios atuais, a partir da seglUlda metade
Os sistemas produtivos industriais de do século passado começaram a ser
maior escala, desde seu surgimento, têm introduzidas inovações tecnológicas
passado por diferentes fases no que se importantes, que concluiram com o uso da
refere à sua forma organizacional ( da energia elétrica para iluminação e
empresa, da produção e do trabalho), às acionamentos, e o uso do petróleo em
relações com o mercado e meio ambiente, motores de combustão interna,
e a forma pela qual são introduzidas e constituindo essas duas inovações um
utilizadas as tecnologias de produto e do marco inicial para inúmeras outras nos
processo de produção. setores primário, secundéÍrio e terciário das
economias dos países.
Inicialmente, as primeiras fábricas
foram implantadas em perimetros urbanos, A introdução das concepções
fazendo uso das mesmas máqu inas do administrativas de Taylor (1911) e Fayol
sistema artezanal, porém acionadas por (1915), bem como da contabilidade
méÍquinas a vapor, as quais também foram analítica, fortaleceu e fez prosperar as
utilizadas nos sistemas de transporte para industrias dos países centrais, que
escoamento da produção. progressivamente foram se burocratizando
com a criação de diferentes éÍreas
Praticamente tendo início na área têxtil, funcionais. A difusão dos postos de
as industrias se proliferaram para outros trabalho e sua prescrição trOlL'\enUll como
setores, quase sempre produzindo em contrapartida um aumento dos custos
maior escala os mesmos produtos indiretos de produção, pouco
anteriormente artesanais, porém com considerados pela contabilidade analítica.
equipamentos que foram gradativamente Por outro lado. a distinção entre trabalho
aperfeiçoados para cada processo de prescrito e trabalho real passou a ser um
produção. A inovação tecnológica do gargalo para eSSe tipo de organização. A
produto era de menor porte e o processo inovação tecnológica passou a ser
de produção ainda rudimentar, sem uma limitada, constituindo a preocupaçiio
organização consistente da empresa, da principal o aumento da produção para um
produção e do trabalho. A vida útil dos mercado insaturado.
produtos era de longa duração, em um
mercado insaturado e pouco exigente, A partir da década de 60, constata-se
sendo as melhorias tecnológicas empenho de empresas fora dos países
incrementais. Um aspecto importante centrais para encontrar alternativas de
nessa fase pré-taylorista foi o competitividade com as empresas
desenvolvimento e a melhoria na estrutura tradicionais. A industria japonesa optou

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PRODUÇÃO

então para forma organizacional mais (antigos artesãos, artífices e aprendizes),


sistêmica, rompendo em grande parte com os quais tinham poder absoluto dentro da
a prática taylorista, porém sem introdução fábrica, onde desenvolviam seus produtos,
de i novações tecnológicas, competindo os processos de produção, os
com os mesmos produtos ocidentais, mas equipamentos e a organização internél.
com maior qualidade e menores preços, Essa forma organizacional, com alguma
oriundos de uma nova organização da similaridade com os gmpos de trabalho da
empresa, da produção e do trabalho. A empresa moderna, permitia integração,
adaptação das empresas dos países flexibilidade, e facilitava a criatividade,
centrais a essa forma alternativa de levando muitas vezes para inovações
organização tem significado mudanças tecnológicas importantes.
drásticas e desemprego, mas conduzindo
a um nivelamento dos aspectos de Com a abordagem taylorista e
qualidade e custos, concorrendo para uma funcional, impondo a divisão e prescrição
economia globalizada, constituindo a do trabalho, se por um lado inicialmente
inovação tecnológica/mercado aspecto fortaleceu o capitalismo, por outro lado
importante dessas empresas de classe restringiu a integração e flexibilidade na
IllIUldial. empresa. Praticamente, as inovações
tecnológicas importantes vieram do meio
A inovação tecnológica passa a ser exterior à empresa, por absorção ou através
então função de aspectos internos e de novas organizações. O
externos à empresa. Internos, no que se desenvolvimento do produto, quase
refere à forma organizacional que permita sempre com inovações incrementais, era
uma comunicação contínua entre todos os conduzido isoladamente por uma divisão
níveis, aí se destacando os aspectos de ou departamento, com o projeto do
planejamento estratégico,da aprendizagem produto em separado do projeto do
e da competência. Externos, quanto ao seu processo de fabricação.
relacionamento com o mercado e meio
ambiente, aí incluídos os consumidores, Com a emergencia das novas
os fornecedores, os concorrentes, e a formas organizacionais para compelir em
análise constante da evolução tecnológica. uma economia globalizada. o
desenvolvimento de novos produtos, com
2. Inovação Tecnológica: inovações radicais ou incrementais,
passou a ser implementado por aquilo que
Aspectos Estratégicos e se convencionou chamar de engenharia
Organizacionais siillultânea ou engenharia concorrente,
envolvendo vúrios setores da empresa no
Originalmente, nos sistemas projeto do produto e processo, e ülzendo
produtivos de maior escala a capacitação uso de ferramentas como a QFD (quality
tecnológica se concentrava nos mestres function deployment) que procura trazer a

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PRODUÇÃO

satisfação do cliente para o projeto de desenvolvimento coerente. As propostas


desenvolvimento. Desta forma, o lIlais recentes de lIlodelos cstratégicos para
planejamento estratégico de essa área csti'ío intimamente relacionadas
desenvolvimento passou a ser aos modelos organizacionais clllergcntes.
fundamental para a relação tecnologia- onde a flexibilidade, a integração, a
mercado. A redução no tempo de inovação e a aprendizagem constituem
lançamento de novos produtos no fatores básicos para a competitividade.
mercado(time-to-market) tem se Para a estratégia de desenvolvimento,
constituído em fator chave para Wheelwight e Clark (l9lJ2)propõem um
atendimento das necessidades dos modelo em forma de tÍlneL como
consumidores e vantagens sobre a esquematizado na Figura OI a seguir, ondc
concorrência. A estratégia de procuram integrar o planejamento
desenvolvimento produto/processo deve estratégico da tccnologia com o
considerar dois aspectos: a) a eslrulura planejamento estratégico dc lllcrcado/
da eslralégia de desenl'oll'illlenlo C b) a produto.
forllla organizacional. A estrutura da
estratégia de desenvolvimento está o plano estratégico de tecnologia
relacionada ús estratégias de tecnologia e focaliza os pontos fortes da empresa face
de produto/mercado. e deve integrar a competidores, as fontes ele tecnologia
explicitamente esses dois campos, para que (interna e externa) c o tempo c freqüência
os projetos individuais possam ser de implementação. O plano estratégico de
desenvolvidos dentro de um programa de mercado/produto define quais os

.-"

Fig."·,, UI Mud"'u de I'I"nejallll'nlu Esln.légicu dl' Desenvulvilllento

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PRODUÇÃO
produtos, quais os consumidores alvo, projetos, são elementos importantes para
quais os canais de distribuição dos a dinâmica da organização integrada. Essas
produtos, e o "por que" dos consumidores categorias de projetos de desenvolvimento
terem preferencia por esses produtos. As em empresas de manufatura dependem de
metas e objetivos integram as estratégias vários fatores, porém de uma maneira geral
de tecnologia e de mercado/produto com podem ser mapeadas de acordo com a
os objetivos do negocio e proposição de Wheelwrihgt e Clark
desenvolvimento, definindo a plataforma (l992)apresentada na Figura 02 a seguir.
de negócios, o üme-to-market, a qualidade
e a produtividade. O plano agregado Como se pode notar, a diversificação
envolve a definição dos projetos das categorias de projetos, por variação
específicos e recursos necessários, do produto e variação ·do processo, pode
enquanto que a gestão de projeto/ envolver toda a organização e seu meio
execução define cada projeto e metas para ambiente, parcerias, fornecedores e
a execução. O aprendizado pós-projeto centros de pesquisa avançada.
divulga a experiência na organização. Dentro de uma visão mais abrangente
A dimensão estratégica da flexibilidade no tempo, na análise da inovação
para as organizações, abordada por Salerno tecnológica, Ullerback (1994) propõe um
(1991) ta mbém tem componentes modelo aplicável aos setores de
tecnológicas, produto/mercado, e de manufaturados e processos homogêneos
negócios. o que significa a necessidade ou contínuos. onde relaciona a taxa de
da existência de uma estrutura de inovação tecnológica do produto e do
desenvolvimento, pois a gestão e processo no tempo, com importantes
dimensionamento desse desenvolvimento transformações nas características do
(tipos de projetos e mix no horizonte, produto, processo, competição e
duração dos projetos, recursos organização, de acordo com a Figura 03
necessários), e as categorias desses que segue.
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Figul'a 113- A Dinâmica da IlIo\'ap;o 'J'ccllulúgica lia Emprcsa

Na fllse fluida existe maior comunicação quando sc analisa um determinado produto


entre os setores da cmprcsa, dentro de uma e processo, quanto às inovações
estrutura denominada orgánica por tccnológicas. Para as condiçõcs atuais de
Ullerback (1994), o que facilita a inovação compctitividade a emprcsa deve
tecnológica do produto, cuja taxa, sendo dcscnvolvcr scu plano estratégico de
alia no início, diminui com o tempo até se tecnologia para uma gama maior dc
estabilizar quando o projeto do produto produtos e processos, desde i novações
atinge o que foi denominado de projeto radicais c incremcntais. Essa diversificação.
dominante no mercado, ou seja, quando por paralclismo ou segmcntação, poderú
projetos similarcs da concorrência tornar a cmprcsa sempre comunicacional e
comcçam a se inviabilizarem por difcrcntcs competitiva, uma vez que as fascs fluida e
aspectos (características, custos, transacional seriam permanentes. Com
qualidadc). Na fasc transacional tem-se essa diniimica, aliada a uJlla abordagem
mcnorcs inovações no produto c maiorcs continuada dc análise de mercado e dc seu
inovações no processo, ou s~ja, o prQjcto processo dc desenvolvimento, a empresa
do produto começa a se firmar como poderá mcsclar as três fascs descritas para
dominante. Na fase específica, a empresa diferentes produtos e vincular ao seu
já conseguiu assegurar o mercado para seu sistema organizacional, de acordo com o
produto, constituindo o foco principal o plano estratégico e operacional.
aumento da produção c a comercialização.
Nessa fase, a organização da empresa se Para sc caminhar em dircção ,)
torna mais rígida, funcional, ou inovação tccnológica torna-se necessúrio
mccanicista, perdcndo as caractcrísticas de conhecer o processo de descnvolvimcnto
comunicação cxistentes nas fases do produto/processo, o qual tem
anteriorcs, e por conscguintc scu poder dimensões amplas. cnvolvendo.
de inovação tecnológica. similarmcnte a uma fábrica: matéria-prima
(idéias), pessoas. equipamentos, lay-out,
o lIIodelo proposto por Utterbaek infonnaçiio dos clientes. problemas e
(1994) dcscrcve a trajetória mais soluções, relação JIlultifuncional.
comumente encontrada no meio industrial organização da produção e do trabalho
(operacionalização), produto final (novo locação, a estmtura da organização, a
produto e processo para a fabrica e informação detalhada para execução e
mercado). Pela sua própria natureza, o controle, bem como a definição detalhada
programa de desenvolvimento é parte da das tarefas para o pessoal envolvido.
estratégia da empresa c seus projetos Como o desenvolvimento do prQieto é uma
devem levar em conta elementos de curto. atividade singular, ou seja, ele não se
médio e longo prazos. Muitas proposições repete, isso não significa prescriç,10 do
contemporâneas de reorganização de trabalho. Todavia, em organizações
empresas, como a reengenharia de Hamer flexíveis e integradas o projeto é
e Champy (1993). e mesmo o uso incorreto desenvolvido com maior produtividade.
da TQM (total quality management), se Analisando a administração por projetos,
direcionadas somente para "dow-sizing" Zarifian (1990) indica "a produtividade
como a efetividade de projeto com a
ou "lean production", poderão dificultar
dinâmica de inovação na empresa e a
todo o processo de desenvolvimento. O
eficácia das operações produtivas para
conceito de valor agregado, ainda muito
condução desse projeto". Portanto, o
baseado na contabilidade analítica, merece projeto seria a unidade básica do
uma redefinição, incorporando toda a vida desenvolvimento do produto/processo c
do produto, desde sua concepção inicial, seu conceito difere substancialmente do
passando pelo desenvolvimento. conceito de operações, de acordo com os
mallllfatura, comercialização e serviços, trabalhos de Midler apub Giard et aI. (1993)e
significando continuidade da capacitação Oeclerck apub Giard et aI. (1993), onde
tecnológica da empresa. Essa capacitação, colocam as principais diferenças indicada
de acordo com Zarifian (J 995), deve ser no Figura 04 que segue.
decorrente da "competência" adquirida no
tratamento dos "eventos", o que significa Evidentemente, o conceito de
a proposição de novas formas de projeto utilizado nessa definição é
organização, onde o modelo do posto de genérico, pois se refere à integração da
trabalho é substituído pelo modelo de lógica projeto nas organizações, ou seja,
competência. projeto e operações coexistindo. Ainda
segundo Midler apub Giaret aI. (1993), "a
capacidade de ação sobre () projeto em
Assim, um modelo inovativo e seu desenvolvilllento, no telllpo, é
foca'lizado de desenvolvimento é mais inversamente proporcional ao nível de
adequado para a organização, uma vez que conhecilllentos adquiridos no projeto ". Na
facilita a criatividade dentro da empresa, área de desenvolvimento do produto /
permite conhecer o potencial tecnológico processo esse aspecto é decisivo, pois
de concorrentes (benchmarking), dos cada vez mais o "time-to-lIIarket" se reduz
fornecedores e de outras fontes. O para a competitividade, e a competência
da empresa como um todo, e não
esquema de planejamento estratégico em individualmente, é cada vez mais exigida.
"túnel" apresentado anteriormente diz Assim, o conceito de operação parece ser
respeito somente à arquitetura do sistema inadequado para caracterizar as atividades
de desenvolvimento. O processo de de projeto de desenvolvimento, quando
desenvolvimento envolve unidades e cada as tecnologias são cada vez mais
unidade constitui um projeto, com a dinâmicas, o tempo sendo um elemento
definição da seqüência das etapas e crítico da competição, e a integração

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PRODUÇÃO
multifuncional uma obrigação. Nesse
aspecto, os conceitos de eventos e e a rentabilidade industrial; e usando o
comunicação utilizados por Zarifian e Veltz conceito de Mictler apub Giard et a!. (1993),
(1993a)são mais aplicéíveis e abrangentes, indica qtie a margem de manobra no projeto
similarmente à sua aplicabilidade em diminui com o tempo, e aumenta a margem
sistemas de produção flexíveis e de conhecimentos, si/JIilar a uma
automatizados. narração literária que se estrutura em

Atividades "Projeto" Atividades "Operações"

não repetitivas repetitivas

decisões irreversíveis decisões reversíveis

forte incerteza pouca incerteza

influencia de variáveis exógenas influencia de variáveis


endógenas

processo histórico processo


está v el (estati sti ca mente)

fluxo de caixa negativo fluxo de caixa positivo

Figura 4: Diferenciação entre Projeto e Operações

Zarifian (I 993b)considera que na torno da cons/rução de uma in/riga.


gestão por projeto, contemporânea, a Indica que a organização por projeto
questão da flexibilidade industrial é central, desestabiliza fortemente a organização
pois ela leva para a competição em três cléÍssica por funções e especialização
dimensões, ou seja, na variedade, no tempo profissional, pois ela opera em um jogo
e na inovação, essa ultima com transversal clS funções.
diferenciação entre a pesquisa e o Assim, a organização por projeto
desenvolvimento. Considera que em uma não deve estar direcionada para um projeto
primeira aproximação, a gestão por projeto unitéÍrio, mas para um programa de
se caracteriza pelos seguintes aspectos : projetos, como assinalamos na análise
projeto COIIIO lIIacro-evento desenvolvido estratégica de desenvolvimento eno lIIix
através de micro-even/os; /empo crônico das fases do modelo de Ullerback (1994).
diferenciado dos tempos dos sistemas de Como conseqüência é importante a
produção; operação por represen/ação existência de uma estrutura organi:llIcional
(imagem simbolizaçilo); relação entre a que suporte os programas, bem como uina
qualidade técnica do produto final, o prazo liderança competente em cada projeto.

190
Essa liderança deve ser exercida visando Gmpo(hem~Vllleighlteam slruelure), onde
coordenação e integração das equipes de existe uma forte liderança, integrando
trabalho multifuncional. com características influencia e responsabilidade pelo trabalho
que dependem do tipo da organização de todos os envolvidos no projeto, com
existente na empresa. gerência do mesmo nível dos gerentes
Para o projeto organizacional na funcionais. Todavia, os trabalhos ainda
á rea de desenvol v i men to podemos são conduzidos dentro das funções. o que
introduzir alguns dos critérios para trabalho exige mecanismos e praticas para evitar as
em grupo: de.finição dos processos, perturbações decorrentes da dupla
segmentação, sistemas de i/~rormação e subordinação do pessoal do projeto: 4-
de controle. A característica principal Estrutura Autônoma de
desses grupos é que são .fechados para Grupo(au/onolllous /eam slrue/ure). onde
cada projeto, porém com composição a gerência tem a mesma qualificação e
variável de projeto para projeto, através experiência do grupo anterior e o pessoal
de profissionais de diferentes setores da necessário para o projeto é deslocado
empresa. Devido à singularídade de cada fisicamente de suas áreas funcionais.
projeto, ou seja, sua não repetitividade,
torna-se importante o aspecto de liderança.
As estruturas desses grupos de trabalho 3.Inovação Tecnológica:
no desenvolvimento podem variar de
empresa para empresa e em função do tipo Aprendizagem e
de projeto, mas de acordo com a Competência
proposição de Wheelwright e Clark (1992),
podem assumir quatro formas distintas: 1- Como propusemos anteriormente.
Estrutura de Grupo Funcional(fimclional a inovação tecnológica no modelo
team slruclure), onde os trabalhos são proposto por Utterback (1994) deve ser
conduzidos nas funções e coordenados extendida para uma gama de produtos/
pelos gerentes funcionais a partir de processos, de lal forma que as [ases.fluida,
especificações detalhadas em reunião no /ransacional e específica. lIão sejam
início do projeto. A responsabilidade pelo coincidentes no tempo para os diferentes
projeto passa de uma função para outra produtos. Esse procedimento contínuo de
com o tempo.; 2-Estrutura Leve de inovações exigirá da empresa o
Grupo(/igh/weighl leam slruclure), onde desenvolvimento de competências e
o gerente do projeto trabalha com aprendizado contínuo, fazendo com que a
representantes das funções, mas tem chamada fase especí.fiea possa ser
pouca influencia no trabalho direto, o qual implementada com menor mecanicislI/o.
continua sendo coordenado pelas áreas Utterback (1994) considera que as
funcionais. Todavia, já ex.iste uma gerência com petências são defi nidas como ()
que integra as atividades de todas as aprendizado cole/ivo na organizaç:ão, e
funções envolvidas; 3-Estmtura Pesada de que a escolha dessas competências pode

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PRODUÇÃO

assegurar o progresso e a sobrevivência.. 4. Conclusão


Como o desenvolvimento do produto/
processo é parte do sistema de inovaçã~
As a Iterações recen tes na
tecnológica, a aprendizagem nesse setor e
organizaçáo das empresas, quer pela
função da experiência adquirida no
gestão da qualidade total ou escola sócio-
desenvolvi mento dos projetos, gerando
técnica, têm levado à redução de custos,
competência. Nessa área, o desempenho é
aumento da qualidade e da produtividade,
resullado de complexa interação dentro de
indispensáveis para a competitividade em
todo o sistema de desenvolvimento, sendo
uma econonlÍa globalizada, e suficientes a
muitas vezes perceptível somente quando
curto prazo. A médio e longo prazos essas
termina o projeto. Muitas vezes há
condições são insuficientes, pois a
necessidade de olhar para traz na
competitividade exigirá novos produtos/
determinação das causas dos erros. Por
processos, aí incluidas inovações
isso, podemos dizer que a utilização dos
tecnológicas radicais ou incrementais.
conceitos introduzidos por Zarifian e Veltz
Nesse contexto o processo de
(1993) de "eventos" e "comunicação '.' são
desenvolvimento do produto/processo
importantes como um canlÍnho em direção
deve s'er inseri~o na estrutura
ao "modelo de competência". A
organizacional das empresas, com o
aprendizagem no tratamento dos eventos,
planejamento estratégico de tecnologia e
por comunicação cognitiva, deve estar
mercado/produto, a curto, médio e longo
presente no desenvolvimento de novos
prazos. Constitue um desafio em muitos
produtos/processos, uma vez que um
aspectos, entre eles a interligação das
gmpo de desenvolvimento deve ser por
várias dimensões da flexibilidade e
natureza multidisciplinar e multifunciom)1.
integração, além do aprendizado contínuo
De acordo com Zarifian e Aubé (1992), "'a
e competência no tratamento dos eventos,
introdução desses conceitos em uma
uma vez que o processo de inovação
organização lel'a para o
tecnológica leva a uma nova dimensão da
desenvolvilllenlo de u/IIa organização
competitividade, ou seja, temporal, tanto
qualificanle, e o aprendizado contínuo
interna como externamente à empresa. A
no tralamenlo dos eventos à
dimenS<lo espacial já é conhecida e fllIlção
cOlllpetência ". Nas etapas do projeto de
da relação da empresa com seu meio
desenvolvimento híí eventos críticos que
ambiente, pois a inovação tecnológica é
têm grande impacto no desempenho
relativa ao meio onde ela é introduzida. Por
global. A aprendizagem, então, está na
outro lado, dentro da TQM a QFD
forma de tratar esses eventos críticos e a
dificilmente implica em inovação
seqüência das atividades, necessitando de
tecnológica, pois atua nas necessidades
uma estmtura para encaminhamento, tanto
imediatas dos clientes com novos
na solução dos erros como também na
produtos incorporando tecnologias
realização dos acertos.
existentes de produto, processo e serviços.

192
Essa nova dimensão da competitividade, 6. Taylor,Frederick W.,'lhe PrincipIes
vinculada à inovação tecnológica no o.!Scienl!{tc Management, New Yorque,
tempo, é variável de empresa para empresa Ed. Harper&Brothers, 1991.
em função de sua área de atuação e 7. Ullerback, James M., Mastering the
dimensão, mas está diretamente Dynamics of Inovation, Pags. 91 a
relacionada aos aspectos organizacionais 219,Harvard Business
e operacionais. Apesar de ainda pouco School Press, Boston, Massachllsells,
estudada, a sua dimens:l0 é importante para 1994.
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Elementos para Analise da Produção de Produção-USP, São Paulo, 1995.
na industria". Tese de Doutorado em
Engenharia, Escola Politécnica-USP
São Paulo, 1991. '

193

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