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Reunião da Linha de Teorias de justiça

TEXTO: FORST, Rainer. Contextos de Justiça: filosofia política para além de


liberalismo e comunitarismo. Boitempo Editorial, 2010.

1. CAPÍTULO 1: A CONSTITUIÇÃO DO EU

Objetivo: Nesse capítulo o autor busca compreender as críticas de Sandel ao eu


atomizado da teoria de justiça de Rawls, reconstruindo os 5 passos para a crítica da
teoria de justiça, bem como as suposições e os problemas que a própria crítica contém.
Problema do atomismo: ao colocar o eu autônomo como se cerne normativo,
cria uma abstração que não permite a compreensão do caráter histórico das instituições
e das próprias pessoas. Como resultado, a posição inicial – onde as pessoas se
encontram sob o “véu da ignorância” – poderia ocasionar um ambiente demasiado
abstrato para se discutir as concepções de justiça.
1.1. “Crítica do “Eu desvinculado”
Objetivo: analisar a crítica de Sandel a Rawls acerca da constituição do eu em
sua teoria de justiça (5 passos).
Passo 1:as pessoas na posição original não estão totalmente desvinculadas de si
mesmas, pois, para que a “posição inicial” esteja justificada no “equilíbrio reflexivo”
são necessárias que suposições antropológicas individualistas, que encontram
correspondência na essência dos sujeitos morais.
Passo 2: o conceito do Eu é implausível. O Eu de Rawls não seria um sujeito
que é, mas sim que possui concepções sobre valores e bens, que são definidos de forma
independente do ambiente e de outros sujeitos, e que, portanto, não vivencia a
“experiência ética do ser um eu”.
Obs.: Rawls acredita que eu é anterior a seus fins, e que por isso não deve ser
entendido ontológica, mas sim normativamente para que se crie um conceito
deontologicamente justo e capaz de fornecer qual seriam os padrões de fim e justiça
moralmente permitidos.
Proposta de Sandel: a identidade do individuo se constitui dentro de uma
comunidade, permitindo que seus elementos e convicções sejam descobertos. Nesse
sentido, concorda com Taylor na medida em que considera que a pessoa que não
penetra nas profundezas de sua identidade é um indivíduo de “ponderações fracas”,
levando em consideração apenas os interesses.
Passo 3: toda teoria moral deontológica pressupõe esse conceito “implausível”
do eu. Para Sandel o poder de escolher é o fundamento e o objetivo desse tipo de moral;
isso porque deve ser assegurado a liberdade desse “eu” desvinculado para que ele possa
assegurar suas concepções de bem de acordo com seus próprios critérios.
Problema dessa interpretação: ao discutir Kant, Sandel não usa o conceito de
“Imperativo Categórico” em nenhum momento, porém, pressupõe, de forma implícita,
que a autonomia moral seria a mesma que a escolha ética que os sujeitos tomam na
decisão do bem.
Passo 4: toda a concepção de moral deontológica deve fracassar. Uma vez que a
justiça deontológica desprende o sujeito do seu eu comunitário, acaba criando uma
comunidade de pessoas estranhas entre si, que não criam vínculos ou identidades, sendo
problemático na constituição da práxis social.
Passo 5: as premissas atomísticas do eu tendem a levar a contradições. Uma vez
que os indivíduos estão desprendidos, as escolhas dos princípios de justiça não estariam
em conformidade com as contingências naturais e sociais; uma vez na posição
originária, os indivíduos precisariam criar uma abstração que os permitissem se colocar
no lugar do outro.
1.2. Pessoa Ética e Pessoa do Direito
Objetivo: após passar pelos principais pontos da crítica de Sandel a Rawls. O
autor passa então a analisar o que propõe o primeiro em relação aos problemas que teria
encontrado na teoria de justiça do segundo. Ao fazê-la, o texto passa então a mostrar
que a proposta acaba caindo em uma falácia comunitarista contra a moral deontológica.
Proposta de Sandel: uma vez que os indivíduos não escolhem a identidade, mas
sim a encontram no interior da vida comunitária, sua constituição acaba sendo
unilateralmente e não recíproca. A identidade do sujeito é determinada somente em
certa medida pela comunidade, uma vez que o eu também participa na constituição da
identidade na comunidade, se permite um espaço de reflexão que o distância e permite a
revisão. Ademais, há a possibilidade de reflexão subjetiva, a fim de conhecer sua
natureza e entender suas reivindicações.
Problema A: Sandel não deixa claro a partir de que modo vai se dar esse
espaço de reflexão. Ainda, parece contraditória na medida em que tal distanciamento se
mostra precário, pois reside na constituição da intersubjetividade da comunidade na qual
está inserido. Ademais, ao voltar-se para si mesmo na tentativa de reflexão, cria um
paradoxo na tese da intersubjetividade constituidora da identidade.
Problema B: Sandel não responde como se dá a relação dos indivíduos com a
identidade de outras comunidades, como ela mantém o seu eu em um ambiente que
demanda posturas contrárias ao seu costume?
Problema C: há uma junção das variadas comunidades existentes na sociedade
– tais quais família e Estado – subsumindo-as ao conceito de “indivíduo abrangente”.
Tal opção não leva em consideração que cada uma tem em seu interior uma estrutura
diferente, desconfigurando a pluralidade e os conflitos inerentes de todas as
comunidades, criando uma espécie de idealização onde não haveria diferenças ou
conflitos normativos, o que removeria a necessidade de um conceito de justiça. Juntei o
c e d, pq acho que eles se complementam
A “resposta” de Rawls a Sandel: os princípios de justiça de Rawls, segundo o
próprio autor, são compatíveis com a natureza social dos seres humanos em um sentido
mais amplo, permitindo que uniões sociais existam, formando uma cooperação social
onde os indivíduos podem se realizar através as múltiplas formas de vida existentes na
sociedade, regidas por regras universais.

O conceito de “pessoa moral” para Rawls: não existe uma pretensão em tornar
a teoria uma pretensão moral abrangente – mesmo contendo o conceito kantiano de
pessoa e de razão (prática), esse se limita a concepção de igualde e não ao seu
ordenamento metafisico – tendo em vista que se trata de uma pretensão política de
justiça (cultivada em uma cultura política democrática), voltada a sua estrutura básica e
fundada em conceitos morais universais e não metafísicos. Dessa forma, trata-se de uma
pessoa racional e razoável capaz de capaz de utilizar o seus “poderes morais” na
formulação e persecução do bem enquanto na posição inicial.

Sobre a posição inicial: trata-se de um artificio de representação onde as pessoas


morais farão uso de seus poderes morais na persecução do bom e do justo, não podendo,
portanto, ser caracterizada como uma teoria da escolha racional.
A constituição do eu em Rawls: ante o esclarecimento de que o indivíduo está
submetido a interesses superiores que não correspondem a conceitos de liberdade
subjetiva de escolhas, mas de autonomia moral, ademais situados em um plano político-
moral abstrato. Esses pressupostos deixam em aberto a constituição ética do indivíduo
em sua teoria, para que possam, permitindo que a pessoa possa examinar criticamente
sua própria identidade para determinar quais os princípios de justiça devem ser
empregados. Dessa forma, a constituição do eu se atrela ao indivíduo moralmente
razoável.

Comunidade política vs. Comunidade ética: Rawls não tem a intenção de se debruçar
sobre a pessoa ética ou a comunidade, mas sim, sobre a pessoa de direitos – enquanto
portadora de direitos em uma sociedade com cultura democrática. Com isso, a teoria de
justiça do autor leva o problema ao qual tenta solucionar para a esfera da comunidade
política, e não ética.

Conclusão: o cerne da crítica de Sandel a Rawls reside no fato de que esse separa o
conteúdo ético de seu conteúdo político para que a teoria de justiça possa se adaptar as
diferentes necessidades a partir dessa suposta neutralidade. Dessa forma, Rawls se
mostra mais interessado em destrinchar a comunidade política independente da
constituição ética que a comunidade possa tomar, o que para Sandel parece uma tarefa
errática na medida em que atomiza o indivíduo e o dissocia da práxis da comunidade.

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