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da INFORMAÇÃO:
conectores culturais de tempo e espaço
MANUEL CASTELLS
M
eu objetivo nesta conferência é situar os museus no contexto
das mudanças culturais e tecnológicas da era da informação.
É desnecessário dizer que os museus podem ser virtuais,
presentes na e através da internet. É óbvio também que a internet é um
dos principais meios de comunicação e expressão em nossas vidas e em
todas as áreas da sociedade, da mesma forma que é óbvio que os museus
constituem uma parte disso. Museus virtuais são mais e mais comuns, e
a articulação entre o real e o virtual, o físico e o simbólico está cada vez
mais desenvolvendo novos híbridos culturais que geram a renovação da
comunicação cultural no mundo, utilizando novas formas de tecnologia
de informação e comunicação.
Consequentemente, não estou dizendo a vocês nada de particularmen-
te novo, e vocês conhecem esses fenômenos melhor do que eu. É por esse
motivo que quando falamos hoje em dia a respeito da virtualidade parcial
dos museus, não estamos mais que confirmando a prática tecnológica e
cultural que está se tornando a regra – e não a exceção – no mundo atual
dos museus.
Uma vez que outras apresentações nesta conferência vão abordar
explicitamente esse tópico, vou me concentrar num assunto mais
fundamental: que capacidade têm os museus de intervir na significativa
contradição cultural que está emergindo na era da informação?
sempre crescente partilhada é cada vez menos partilhada, e nós vivemos em uma sociedade
estruturalmente destinada a uma sempre crescente individualização dos
individualização
processos de comunicação, estamos testemunhando a fragmentação dos
dos processos
sistemas de comunicação e dos códigos de comunicação social existentes
de comunicação, entre diferentes indivíduos e sujeitos coletivos.
estamos
testemunhando os protocolos de comunicação e a arte
a fragmentação
Uma resposta possível a isso seria a busca do que chamo de protocolos
dos sistemas de
de comunicação cultural, uma expressão baseada no termo de informática
comunicação.”
protocolo de comunicação, isto é, a capacidade do sistema de traduzir
de um código para outro. O que são esses protocolos de comunicação
cultural? A história nos mostra a importância fundamental dos protocolos
que nos permitem passar de uma cultura a outra através da comunidade,
através da experiência humana. Aparentemente, a arte (em todas as
suas expressões) desempenha um papel crucial nesses protocolos. A arte
devem ser O tempo da era industrial, tempo cronológico, tempo sequencial, está
desaparecendo na prática social. Está desaparecendo de duas maneiras
capazes de
simultâneas: a compressão do tempo e a destruição de sequências de
tornarem-se
tempo, devido a essa compressão. Isso acontece, por exemplo, nos
não apenas mercados financeiros globais que tentam suprimir o tempo ou reduzi-lo a
repositórios de frações de segundo, de forma a realizar enormes investimentos e acelerar
patrimônio, mas o movimento de capital. Outro exemplo de compressão do tempo: países
desenvolvidos com altos níveis de tecnologia tentam reduzir o tempo de
também
duração das guerras – que previamente duravam cem anos, depois cem
espaços
meses e mais recentemente cem dias e, até mais recentemente, cem horas
de inovação — utilizando sistemas tecnológicos que infligem estragos devastadores
cultural e ao inimigo em apenas poucas horas.
centros de O tempo está comprimido, ele desaparece, e é por isso que tudo é
experimentação.” acelerado. Mas como podemos dizer que o tempo está desaparecendo,
quando não podemos parar de olhar para o nosso relógio? O motivo
é que tentamos condensar mais e mais atividades dentro do mesmo
intervalo de tempo. Consequentemente, nos comportamos como os
mercados financeiros, comprimindo o tempo, porque acreditamos que
temos a habilidade tecnológica para fazer isso. O tempo então passa
mais rápido, mas essa aceleração é, na verdade, uma corrida em direção
ao desaparecimento da própria cronologia, por meio da alteração das
sequências temporais: ao invés de ir de um para dois, e então para três
e quatro, o tempo vai diretamente de um para cinco e pode depois voltar
para dois, rompendo a sequência e, portanto, o tempo cronológico como
Manuel Castells é sociólogo e professor universitário, catedrático de Sociologia e * Essa tradução foi feita a partir da
Urbanismo, na Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA), bem como diretor da Internet transcrição de uma conferência de
Interdisciplinary Institute na Universidade Aberta da Catalunha (Espanha). Seus estudos Castells publicada pelo ICOM News:
refletem sobre a sociedade da informação e a teoria do Estado. É autor de O Estado Rede. Special Issue 2001.