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07/02/2023 09:13 Saúde

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SAÚDE
S
Madel Therez inha Luz
Sa úde
Siste ma Único de Sa úde
Socia bilida de Ne olibe r a l
Socie da de C iv il

ORIGENS ET IM OLÓGICAS DO T ERM O

Saúde, em português, deriva de salude, vocábulo do século XIII

(1204), em espanhol salud (século XI), em italiano salute, e vem

do latim salus (salutis), com o significado de salvação, conservação

da vida, cura, bem-estar. O étimo francês santé, do século XI,

advém de sanitas (sanitatis), designando no latim sanus: “são, o

que está com saúde, aproximando-se mais da concepção grega de

‘higiene’, ligada deusa Hygea. Em seu plural de origem idiomática,

o termo ‘saúde’ designa, portanto, uma afirmação positiva da vida

e um modo de existir harmônico, não incluindo em seu horizonte o

universo da doença. Pode-se dizer, deste ponto de vista, que

‘saúde’ é, em sua origem etimológica, um ‘estado positivo do viver’,

aplicável a todos os seres vivos e com mais especificidade à

espécie humana.

Em relação aos humanos, o estado de ‘saúde’, romano ou grego,

implicaria um conjunto de práticas e hábitos harmoniosos

abrangendo todas as esferas da existência: o comer, o beber, o

vestir, os hábitos sexuais e morais, políticos e religiosos. Implicaria

virtudes específicas ligadas a todas essas esferas, e também em

vícios, que poderiam degradar o estado de harmonia, ensejando o

adoecimento e, no limite, a morte.

A virtude capital ligada à ‘saúde’ seria a prudência, que não era

certamente, como na cultura contemporânea, um vigilante cuidado

ligado ao medo de adoecer, mas um agir equilibrado, como um

‘caminho do meio’, que evitaria os extremos, nocivos ao equilíbrio

e, conseqüentemente, ao estado de ‘saúde’ do indivíduo, dos

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grupos e da sociedade, entre os quais não havia a separação

característica da sociedade moderna. Em suma, o importante a

salientar aqui é que ‘saúde’, mais que um estado ‘natural’, é uma

definição construída social e culturalmente. E nossa definição atual

está muito longe de sua origem etimológica, tendo caminhado em

sentido restritivo, senão oposto, ao longo dos últimos dois

séculos.

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DEFINIÇÕES E CONCEPÇÕES DE SAÚDE E DOENÇA NA


M ODERNIDADE OCIDENTAL

A preocupação social com a doença das populações,

primeiramente, em função das pestes e guerras (freqüentemente

implicadas nas epidemias) que dizimam a Europa no alvorecer da

idade moderna, nos séculos XIV a XVII, e posteriormente dos

indivíduos, durante os séculos XVIII e XIX, prenuncia a relação

peculiar da modernidade entre vida humana e política, que o

filósofo Michel Foucault (2003) designou de biopoder. Pois ser a

partir de políticas de ‘saúde’, isto é, de medidas de ‘combate’ (mais

tarde, durante o século XX, de ‘prevenção’) às doenças coletivas e

individuais, que instituições médicas, investidas do poder de

Estado (polícia médica), como assinalou George Rosen (1994),

definirão o estatuto do viver e suas normas no plano individual e

coletivo. Assim, nasce a ‘saúde pública’, com a dupla missão de

combater e prevenir doenças coletivas, ou mesmo individuais, que,

por contágio ou transmissão, ameacem a organização social e a

ordem pública.

A medicina, de arte ou saber prático, associa-se aos saberes

científicos ligados à matéria, em contínua revolução,

transformando-se progressivamente, ela também, em ciência, em

conhecimento das doenças, tornando-se seu centro de pesquisa as

patologias em sua origem ou causalidade, seja no meio ambiente

físico ou biológico, no exterior ou interior da denominada ‘máquina’

humana. Neste contexto, a terapêutica, como arte milenar da cura

de seres humanos, sofre um progressivo deslocamento do olhar

epistemológico, tanto no plano da produção de evidências (saber)

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como no da intervenção clínica (prática), tornando-se secundária

diante da ciência diagnóstica. Combater as doenças não será mais

necessariamente sinônimo de curar doentes. A clínica moderna,

como assinala Foucault, será uma trajetória de busca à morte, ou

do que pode matar, no interior do corpo humano. E a cultura

incorpora, com o passar do século XX e as “vitórias da ciência,

como define a imprensa, a visão de ‘saúde’ como ausência relativa

ou total de doença, em coletividades e indivíduos. Ter ‘saúde’, ser

sadio, passa a significar não estar doente, não ser portador de

patologia ou, mais positivamente, estar em ‘parâmetros de

normalidade sintomática’. O estado de normalidade sintomática é,

portanto, a definição institucional do estado de ‘saúde’ em nossa

sociedade. Torna-se concepção hegemônica não apenas entre os

profissionais de todas as formações ligadas ao saber biomédico,

como na sociedade civil e nas instituições como um todo,

sobretudo nos órgãos encarregados de formar a opinião pública,

conhecidos como mídia. Hegemônico não significa, entretanto,

único, mas dominante.

A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, e durante a segunda

metade do século XX, as recém-criadas organizações internacionais

de ‘saúde pública’ – Organização Mundial da Saúde (OMS) e

Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), sobretudo a OMS, de

caráter mundial – propõem novas definições, de caráter mais

positivo e abrangente que as veiculadas pelas instituições

médicas: “estado de completo de bem-estar físico, mental e

social”, por exemplo, por utópico que nos pareça, é uma definição

que se propõe a superar, em termos de concepção, a visão

mecânica do homem conjunto de partes, dominante nas

especialidades médicas, buscando reassociar as dimensões em que

se insere a vida humana: social, biológica e psicológica.

Recentemente associou-se a dimensão ‘espiritual’ à definição, e

não é sem fundamento supor que em futuro próximo a dimensão

‘ambiental’ fará também parte oficial da definição sanitária,

completando assim o sistema de dimensões que encerram o viver

humano em complexa teia de relações. As concepções implícitas

nessa definição não apenas exprimem, mas ampliam o campo da

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‘saúde pública’, indo assim ao encontro do campo inter ou

transdisciplinar da ‘saúde coletiva’, em constituição há três

décadas.

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CONCEPÇÕES HOLÍST ICAS OU VITALISTAS PRESENT ES


NA CULT URA DA SAÚDE

Além destas concepções, ligadas às instituições que definem

socialmente a ‘saúde’, encontramos na cultura ocidental

contemporânea outras, de natureza vitalista, ou ‘holísticas’, ligadas

a paradigmas distintos dos dominantes na sociedade ocidental.

Entre elas devem ser salientadas aquelas ligadas às medicinas

orientais, como a medicina chinesa ou à medicina indiana (M.T.C. e

Ayurvédica), que definem ‘saúde’ como um estado de harmonia da

força ou energia vital que circula em todos os órgãos (medicina

chinesa), em todos os tecidos (medicina ayurvédica), tendo ela a

capacidade de regular, por seu fluxo harmonioso, os eventuais

desequilíbrios do ser humano, considerado por essas medicinas

como um todo bio-sócio-psíquico-espiritual. Além dessas, temos

as medicinas ocidentais homeopática e antroposófica, para as

quais o ser humano é também uma totalidade interconectada com

a natureza e os outros seres vivos, nos quais circula a energia

vital. O adoecimento seria o efeito do desequilíbrio ou desarmonia

desta energia. A ‘saúde’, neste caso, é um estado de harmonia

energética, e sua conservação depende de hábitos e sentimentos

saudáveis. Essas medicinas, e outras tradicionais, que incluem

sistemas médicos indígenas, orientam-se por lógicas de

intervenções terapêuticas e diagnósticas que não se enquadram no

que denominamos medicina científica, atuando com outras lógicas,

paradigmas, ou racionalidades. Finalmente, temos definições

vitalistas não filiadas a nenhum sistema médico, mas a saberes e

práticas ‘populares’, onde ‘saúde’ é freqüentemente definida como

boa disposição para a vida diária e suas atividades, sobretudo o

trabalho.

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PARA SABER M AIS

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Enc ic lo p é d ia Mir a d o r I nte r na c io na l - S ã o P a ulo , R io d e Ja ne ir o ; Enc y c lo p e d ia


B r ita nnic a d o B r a s il P ub lic a ç õ e s Ltd a , V. 18, Ve r b e te S a úd e , p . 10271-10274.

FO UC A ULT, Mic he l - O na s c im e nto d a c línic a ; R io d e Ja ne ir o , Fo r e ns e


Univ e r s itá r ia , 1977.

FO UC A ULT, M. Mic r o f ís ic a d o P o d e r. 18.e d . R io d e Ja ne ir o : G r a a l, 2003.

LUZ , Ma d e l T he r e z inha - Na tur a l, R a c io na l, S o c ia l - R a z ã o m é d ic a e


r a c io na lid a d e c ie ntíf ic a m o d e r na ; S ã o P a ulo , HUC I T EC , 2004 (2ª e d iç ã o r e v is ta
e p r e f a c ia d a )

LUZ , Ma d e l T he r e z inha - No v o s S a b e r e s e P r á tic a s e m S a úd e C o le tiv a -


Es tud o s s o b r e r a c io na lid a d e s m é d ic a s e a tiv id a d e s c o r p o r a is . S ã o P a ulo ,
HUC I T EC , 2005 (2ª e d iç ã o )

R O S EN, G . Um a His tó r ia d a S a úd e P úb lic a . S ã o P a ulo : Ed ito r a Une s p , 1994.

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