Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Alvarenga, R. P. et al.
análises e perspectivas
RESUMO: Este artigo contribui para o processo de tomada de decisão dos stakeholders da cafeicultura certificada fairtrade do
Brasil. Faz um posicionamento amplo e atual sobre o cenário da certificação fairtrade na cafeicultura do Brasil. Foi desenvolvido
por meio de revisão bibliográfica e entrevistas em instituições ligadas à certificação no Brasil. Seus principais resultados
indicam que: i) metade das cooperativas de cafeicultores do Brasil se certificaram entre 2009 e 2015; ii) em poucas cooperativas
estão concentrados a maior parte dos cafeicultores e das vendas de café fairtrade do Brasil; iii) pesquisas científicas brasileiras
apontam que a certificação tem contribuído para a melhoria da gestão das propriedades e para a internacionalização dos
negócios; iv) literatura internacional indica vantagens, mas também problemas na distribuição dos benefícios e muitos casos
onde os impactos da certificação para a cafeicultura foram irrisórios. Ainda não é possível afirmar se a certificação fairtrade
está ou não atingindo seus objetivos no contexto agregado da cafeicultura do Brasil.
Termos para indexação: Responsabilidade social corporativa, mercado de café, tomada de decisão, certificação, fairtrade.
ABSTRACT: This paper offers help to decision for the Brazilian’s fairtrade coffee stakeholders. It does a broad and current
position about the scene of fairtrade certification in Brazilian coffee sector. It was developed through literature review and
interviews in institutions related to certification in Brazil. It was developed through literature review and interviews in
institutions related to certification in Brazil. Its main results indicate that: i) half of the farmers cooperatives in Brazil were
certified between 2009 and 2015; ii) in a few cooperatives are concentrated the most of the coffee producers and most of the
sales of fairtrade coffee; iii) Brazilian scientific research suggest that certification has contributed to the improvement of the
property management and also to internationalization of the business; iv) international literature indicates advantages, but
problems in the distribution of the benefits and also many where the certification’s impacts were derisory. Considering the
global context of Brazilian coffee sector, still not possible to affirm whether fairtrade certification is or not achieving its goals.
Index terms: Corporate social responsibility, coffee market, decision taking, certification, fairtrade.
Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP - Faculdade de Engenharia Agrícola/FEAGRI - Avenida Cândido Rondon 501
1,2
(AULD; BERNSTEIN; CASHORE, 2008) para tanto em termos de informações setoriais como
consumidores cujos perfis estão associados também de resultados amplos da certificação
à prática do consumo ético (ANDORFER; para a cafeicultura nacional. As instituições que
LIEBE, 2012, 2013, 2015; FRIDELL, 2014; representam a certificação no Brasil praticamente
GRIFFITHS, 2012; TANG et al., 2016). Pelos estão em processo de formação. Não existe ainda
estudos que pesquisaram grupos de consumidores um espaço que congregue dados setoriais que são
fairtrade (DORAN, 2009; HERTEL; SCRUGGS; úteis para a tomada de decisão dos stakeholders
HEIDKAMP, 2009; TAYLOR; BOASSON, da cafeicultura certificada fairtrade no Brasil.
2014), fica claro que o típico consumidor fairtrade Mesmo trabalhos mais amplos já desenvolvidos
é aquele que compra os produtos certificados no país (SCHENEIDER, 2012a, 2012b; SILVA-
acreditando nos valores implícitos no produto FILHO; CANTALICE, 2011) tratam mais sobre
certificado. Portanto, a principal crença deste o caso do movimento Comércio Justo do que
consumidor é que parte do montante gasto na propriamente sobre a certificação fairtrade na
aquisição do produto certificado chegará de cafeicultura brasileira. Em outras circunstâncias,
alguma forma até o produtor pobre, propiciando- existem pesquisas cujos focos estão associados à
lhe melhores condições de vida. Entre os setores certificação fairtrade na cafeicultura. Mas, como
certificados pela fairtrade, a cafeicultura é o na maioria das vezes tratam-se de casos específicos
principal. e isolados, suas conclusões não permitem uma
No mundo, o estudo desta certificação compreensão estendida sobre os resultados da
na cafeicultura ocorre há muito tempo e já é certificação fairtrade na cafeicultura nacional.
bastante difundido. Existem estudos em diversas Conhecer o panorama da certificação fairtrade na
áreas pesquisando a relação da certificação cafeicultura do Brasil é relevante. Sobretudo na
na cafeicultura com Responsabilidade Social atual situação. O país já é um dos que mais possuem
Corporativa (KOLK, 2005), mercado de café organizações de cafeicultores certificadas e passa
(RAYNOLDS, 2009; TAYLOR, 2005), economia por um momento de aumento na procura pela
(DRAGUSANU; GIOVANNUCCI; NUNN, certificação por parte de cooperativas cafeeiras.
2014), efeito sobre práticas agrícolas (ELDER; Para contribuir neste sentido, este artigo
ZERRIFFI; LE BILLON, 2013) e consumo aborda a certificação fairtrade na cafeicultura
(ANDORFER; LIEBE, 2012), por exemplo. Nos em duas frentes que se complementam. Na
últimos anos, dois focos de pesquisa vêm sendo primeira frente, contextualiza-se a certificação
muito abordado nas pesquisas internacionais. Um fairtrade na cafeicultura de uma forma mais
dos focos diz respeito à relação entre a certificação genérica (particularidades do produtor alvo,
e a qualidade do café. Pesquisas têm demonstrado adequações para se certificar, principais críticas da
que existem poucos incentivos para a qualidade literatura internacional) e também de uma forma
do produto (RENARD, 2003; RUBEN; ZUNIGA, mais específica para a cafeicultura brasileira
2011) em um mercado onde o atributo qualidade (comparação da produção e exportação de café
também é essencial (GRIFFITHS, 2012; fairtrade do Brasil e outros países, distribuição
RAYNOLDS, 2009; RENARD, 2003, 2005; geográfica das cooperativas certificadas fairtrade
RUBEN; ZUNIGA, 2011; VALKILA; NYGREN, do Brasil, forma como estão concentrados
2009; WEBER, 2011) nas relações comerciais. cafeicultores e as vendas nas cooperativas fairtrade
Já o outro foco está associado aos estudos dos do país). Já na segunda frente, é desenvolvida
impactos da certificação (BLACKMAN; RIVERA, uma revisão bibliográfica de todos os artigos
2011; MARE, 2008; NELSON; POUND, 2009), publicados em periódicos científicos que abordam
com pesquisas motivadas por conhecer se a sobre a certificação fairtrade na cafeicultura do
certificação realmente está cumprindo com os Brasil, dando-se destaque para: os principais
objetivos propostos pelos seus proponentes. resultados decorrentes da certificação fairtrade, as
Neste campo, há resultados que apontam para principais áreas temáticas investigadas, a fonte dos
caminhos diversos, como por exemplo, impactos dados das pesquisas e como o aspecto qualidade
positivos (RIJSBERGEN et al., 2016) e impactos vem sendo correlacionado à certificação.
inexpressivos (JENA; STELLMACHER; Ao proceder desta forma, o artigo oferece
GROTE, 2015). subsídios para tomada de decisão de agentes
Já no Brasil, pouco se conhece sobre vinculados à certificação fairtrade na cafeicultura
esta certificação na cafeicultura brasileira, do Brasil, respondendo quatro questões em
melhores preços nas vendas de tais cafés (POTTS os consumidores, por exemplo. Uma vez que
et al., 2014). Segundo Moreira, Fernandes e consumidores (CASTALDO et al., 2008) possuem
Vian (2011), a participação dos cafés especiais interesse sobre o comportamento das empresas, tal
no mercado mundial cresce em torno de 12% ao comportamento acaba influenciando suas decisões
ano, enquanto que o crescimento do mercado do de compra.
café commodity é de 1,5%. Existem algumas
explicações para esta situação, sendo as principais: 3.2 Objetivos e exigências da certificação
i) crescente demanda do consumidor por produtos fairtrade nos mercados agrícolas
sustentáveis (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, No universo das certificações existentes na
2011), produzidos e distribuídos mediante baixos cafeicultura, a fairtrade (Fairtrade International)
impactos sociais, ambientais e econômicos é um selo que não certifica produtores de forma
(BARHAM; WEBER, 2012); ii) melhor individualizada. É uma certificação direcionada aos
qualidade dos cafés especiais em comparação aos pequenos produtores organizados em associações,
convencionais (DONNET; WEATHERSPOON; cooperativas, ou outro tipo de organização
HOEHN, 2007); iii) estabilidade do mercado de (FAIRTRADE INTERNATIONAL, 2014a)
cafés convencionais, sem espaço para alterações (Diferentemente da Fair Trade USA, que certifica
significativas (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, individualmente, também grandes e pequenas
2011). propriedades). De forma geral, é considerado como
Já o terceiro fator está vinculado às políticas pequeno produtor para a Fairtrade International
de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) aquele que opera sua propriedade usando seu
(INGENBLEEK; REINDERS, 2013; SMITH, próprio trabalho e o de sua família (FLO-CERT,
2009). A maior parte das definições de RSC 2014). No entanto, por causa de diferenças nas
envolve a necessidade de organizações praticarem culturas agrícolas (principalmente tipo de cultura
suas atividades em harmonia com os interesses e trabalhadores extras requeridos), a Fairtrade
associados ao campo da sustentabilidade por International considera que existem dois grupos
de pequenos produtores.
seus stakeholders (CASTALDO et al., 2008;
Em um dos grupos encontram-se produtores
SCHWARTZ; CARROLL, 2007; UTTING, 2007). de frutas e verduras processadas, chá, vegetais
A presença de estratégias de RSC por parte de frescos, açúcar de cana e frutas frescas. Para ser
empresas vinculadas às cadeias agrícolas é ampla, considerado como pequeno produtor pertencente
sobretudo por causa da produção de alimentos e das a este grupo, o produtor: i) pode contratar
seguintes dimensões associadas a RSC nas cadeias empregados de forma permanente, desde que
alimentares: segurança alimentar; responsabilidade a mão-de-obra empregada seja complementar
nutricional, econômica e ambiental; saúde e bem- à familiar (há limite para contratação, que é
estar animal e ocupacional (FORSMAN-HUGG dependente do tamanho da propriedade e do tipo
et al., 2013). Neste ambiente, as certificações de cultura); ii) deve ter sua principal atividade
socioambientais são utilizadas como parte das empregada no cultivo da sua própria propriedade,
estratégias de RSC de empresas que pretendem bem como sua principal fonte de renda deve
causar mínimos impactos negativos (ambientais, ser provinda das vendas das colheitas de sua
econômicos e sociais) e impactos positivos sobre propriedade; iii) não pode cultivar mais terras
o bem-estar dos indivíduos (produtor / dono, do que o tamanho comum para o tipo de cultura
na sua área (FAIRTRADE INTERNATIONAL,
família, empregados) e sobre seus desempenhos 2011, 2014a).
(produção, comercialização, gestão) através de Por outro lado, estão no outro grupo os
mudanças em seus processos de gestão, produção produtores de mel, ervas, chá de ervas e especiarias,
e comercialização. Atuam como mecanismos que nozes, oleaginosas, algodão em caroço, cereais,
asseguram e comprovam o cumprimento de práticas cacau e café. Deste grupo, é considerado como
requeridas pelo mercado e condizentes com seus pequeno produtor aquele que opera sua propriedade
valores e estratégias de negócio. Isso é relevante, sem trabalhadores contratados permanentemente,
podendo ser consideradas como estratégia de utilizando apenas mão-de-obra própria e familiar.
permanência e/ou expansão das operações no Contratações temporárias são permitidas quando
mercado. Isso porque a existência de práticas éticas a mão-de-obra familiar não consegue suprir
e sustentáveis no decorrer das cadeias produtivas a demanda do trabalho na propriedade, como
é tida como critério de tomada de decisão dos em períodos de plantio e colheita, por exemplo
principais stakeholders organizacionais, como (FAIRTRADE INTERNATIONAL, 2011, 2014a).
Fonte: Elaborado pelos autores, com base em dados de Fairtrade International (2012, 2013).
No Brasil, desde o ano de 2012, mais do Brasil possuem aproximadamente dez mil
três associações de cafeicultores obtiveram a cafeicultores vinculados à certificação fairtrade,
certificação fairtrade. Atualmente, o país tem 44 concentrados em poucas cooperativas. Tal
organizações certificadas fairtrade produzindo como evidenciado na Figura 2, em apenas
frutas frescas, sucos, mel, castanhas e café. Destas, uma cooperativa estão 65% (6.203) de todos
28 (63%) são de cafeicultores, distribuídas no os cafeicultores brasileiros fairtrade. No outro
país da seguinte forma: dezesseis associações em extremo, onze cooperativas abrigam 4% (372)
Minas Gerais, cinco em São Paulo, três em Espírito dos cafeicultores fairtrade. Os demais estão
Santo, uma no Paraná e outra em Rondônia. A distribuídos da seguinte forma: 20% (1877)
Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço estão em seis cooperativas, 6% (565) estão em
Fundo (Coopfam) foi a primeira cooperativa de quatro cooperativas e 5% (514) estão em seis
cafeicultores certificada pela fairtrade no Brasil. cooperativas.
Até 2002, esta era a única cooperativa certificada. No que diz respeito às vendas do
A partir de 2003, a aderência à certificação café fairtrade brasileiro, elas aumentaram
foi mais gradual, tendo sido mais concentrada aproximadamente em 18% entre os anos de
entre os anos de 2010 e 2015, já que 50% das 2013 (125.648 sacas) e 2014 (152.341 sacas)
cooperativas foram certificadas neste período, tal e aproximadamente 8% entre 2014 e 2015
como enfatizado na Figura 1. (164.000 sacas) (2016). Da mesma forma que
Em conjunto, as cooperativas cafeeiras existe concentração de muitos cafeicultores em
FIGURA 1 - Adesão à certificação fairtrade pelas cooperativas cafeeiras brasileiras entre os anos de 1998 e 2015
Fonte: Elaborada pelos autores, com base em dados obtidos junto à BRFair.
FIGURA 2 - Distribuição dos cafeicultores nas cooperativas certificadas fairtrade do Brasil em 2015
Fonte: Elaborada pelos autores, com base em dados obtidos junto à BRFair.
poucas cooperativas certificadas, também existe período em que grande parte das cooperativas
concentração nas vendas de café por parte de poucas obteve a certificação. Muitas cooperativas de
cooperativas. As 152.341 sacas comercializadas cafeicultores que estão operando no sistema
no ano de 2014, por exemplo, foram vendidas por fairtrade foram certificadas recentemente (Figura 1).
25 cooperativas, sendo que: 54% (82.137 sacas) No Brasil, geralmente, as cooperativas têm
deste café foi originário de quatro cooperativas, demorado de seis meses a um ano para começarem a
37% (56.373 sacas) de oito cooperativas e 9% operar no sistema. No entanto, há casos em que este
(13.831 sacas) de treze cooperativas, tal como tempo pode ser maior. O principal fator implicante
enfatizado na Figura 3. das operações de mercado está associado à gestão
Um dos motivos que justifica esta das cooperativas, principalmente em atividades
concentração nas vendas está relacionado ao inerentes ao próprio processo de comercialização
do café certificado, tais como encontrar o também críticas que recaem sobre sua efetividade
mercado para comercialização e ter domínio de no setor. Uma das críticas está associada ao
técnicas de vendas, por exemplo. Outro motivo crescimento da produção de café fairtrade frente
é que as cooperativas certificadas em períodos ao efetivo de café que é vendido como fairtrade.
menos recentes possuem canais de vendas já Tal como enfatizado na Figura 5, ao longo dos
consolidados, facilitando a colocação dos seus últimos anos, o crescimento da produção e das
vendas de café fairtrade no mundo vem sendo
cafés certificados no mercado.
constante. Entre os anos de 2008 e 2012, por
Ao se analisar o contexto mais amplo exemplo, a produção e a venda de café fairtrade
condizente às exportações de café fairtrade tiveram um crescimento médio anual de 11,67% e
pelos países produtores e o próprio contexto das 11,47%, respectivamente. Embora a certificação
exportações globais de café, constata-se que o venha tendo um crescimento constante, ela
Brasil possui uma pequena participação relativa no atinge apenas cerca de 3% dos cafeicultores do
mercado de café fairtrade. Tal como apresentado mundo e responde por aproximadamente 1% das
na Figura 4, quase 30% das exportações globais exportações globais de café (FRIDELL, 2014).
de café são brasileiras. Contudo, no mercado de Além disso, tal como salienta Griffiths (2012), é
café fairtrade, apenas cerca de 5% das exportações produzido quase três vezes mais café fairtrade do
são provindas do Brasil. O Peru que, por exemplo, que é vendido (Figura 5), contribuindo para que as
exporta apenas cerca de 3% do café do globo, companhias compradoras tenham maior poder de
detém quase 25% do mercado mundial de café barganha perante as cooperativas cafeeiras. Além
disso, para alguns autores (CLAAR; HAIGHT,
fairtrade. 2015), a simples aderência à certificação não
garante compradores para o produto.
3.4 Impactos e limitações da certificação
Assim, não existe segurança sobre as
fairtrade: o que diz a literatura? chances das cooperativas terem bons desempenhos
nem segurança sobre as possibilidades dos
Apesar do destaque desta certificação pequenos cafeicultores membros das cooperativas
na cafeicultura do Brasil e do mundo e de terem suas vidas melhoradas em decorrência da
resultados de pesquisas (PODHORSKY, 2015) certificação (VALKILA, 2014).
demonstrando que a certificação contribui para Neste contexto, a certificação tem muito
melhorar a renda do cafeicultor e para diminuir pouco êxito em melhorar as condições de vida
o poder dos agentes intermediários no mercado dos produtores (GRIFFITHS, 2012; OMIDVAR;
de café, existem resultados de pesquisas que GIANNAKAS, 2015), apesar de seus nobres
divergem sobre os benefícios da certificação e objetivos (OMIDVAR; GIANNAKAS, 2015).
FIGURA 4 - Proporção das exportações globais de café e das exportações de café fairtrade
Fonte: Elaborada pelos autores, adaptado de Mattos (2015).
Em pesquisa desenvolvida no decorrer de dez 2014) também mencionam que existem problemas
anos comparando cafeicultores certificados e não na distribuição dos benefícios do sistema fairtrade.
certificados na Nicarágua (BEUCHELT; ZELLER, O mercado fairtrade já está saturado (CLAAR;
2011), por exemplo, foi comprovado que os HAIGHT, 2015) e o próprio sistema do prêmio
rendimentos proporcionados pela certificação fairtrade perdeu 41% de seu valor real entre os anos
aos cafeicultores não foram suficientes para de 1988 e 2008 (BACON, 2010). As cooperativas
cobrir suas necessidades básicas, mesmo havendo certificadas recentemente não competem em
um maior preço do café fairtrade em relação ao patamar de igualdade com as cooperativas há mais
convencional. Os autores também concluíram que tempo estabelecidas. Os cafeicultores que já estão
os cafeicultores certificados ficaram mais pobres em uma posição relativamente favorável na cadeia
do que os cafeicultores convencionais. é que são os maiores beneficiários do sistema
Afora isso, outros autores (GRIFFITHS, (CLAAR; HAIGHT, 2015). Os cafeicultores
2012; HAIGHT, 2011; VALKILA; que produzem maiores volumes são os maiores
HAAPARANTA; NIEMI, 2010; VALKILA, beneficiados, e não necessariamente os mais
pobres, que são mais vulneráveis (VALKILA, revisões bibliográficas (BLACKMAN; RIVERA,
2014). Assim, é necessário que haja mais 2011; MARE, 2008; NELSON; POUND, 2009;
democratização nas próprias estruturas formais do TERSTAPPEN; HANSON; MCLAUGHLIN,
sistema fairtrade para que os pequenos produtores 2012) de avaliações de impactos desenvolvidas em
tenham maiores poderes nas decisões do sistema diferentes localidades sobre a certificação fairtrade
(BOERSMA, 2009). e também outras certificações socioambientais.
Outras críticas se relacionam aos Dentre as avaliações de impacto
problemas vinculados aos custos da certificação, consideradas como mais propícias para
bem como também aos problemas ligados à gerarem resultados mais conclusivos sobre as
qualidade do café e também à ética no sistema interferências das certificações, estão aquelas
fairtrade. Os custos associados à certificação que são desenvolvidas por meio de metodologias
não são irrisórios (CLAAR; HAIGHT, 2015; que envolvem a construção de contrafactuais
FRIDELL, 2014) e os requisitos rigorosos da (BLACKMAN, 2012; BLACKMAN; NARANJO,
certificação estão prejudicando tanto a qualidade 2012; BLACKMAN; RIVERA, 2011; RUBEN;
do café quanto a distribuição dos benefícios aos FORT; ZÚÑIGA-ARIAS, 2009; VALKILA,
cafeicultores. A qualidade do café é prejudicada 2009).
pelo próprio sistema fairtrade, já que a certificação Pesquisas baseadas em contrafactuais
não possui como critério principal cafés de melhor demandam amostras de grupos de produtores
qualidade (HAIGHT, 2011). É possível que as certificados e não certificados com semelhanças
ações de comércio praticadas no sistema fairtrade entre si antes dos produtores certificados terem
comprometam negativamente a reputação das sido certificados. Isso para que haja diminuição
obras de caridade, já que a certificação tem um dos riscos dos dados da avaliação repercutirem em
forte apelo de caridade praticando relações de resultados tendenciosos (RUBEN; FORT, 2012).
negócios injustas e não condizentes com os seus A maioria das conclusões de avaliações de
valores afirmados (GRIFFITHS, 2012). Nesta impacto da certificação fairtrade na cafeicultura que
direção, existem no sistema fairtrade sérios foram desenvolvidas com base nesta metodologia
problemas de cunho ético (GRIFFITHS, 2012, aponta para caminhos muito divergentes do que os
2014, 2015), já que o sistema fairtrade se mantém afirmados em relatórios de impacto da certificação
com base em uma estratégia de marketing muito e também em demais pesquisas que não utilizam
bem estruturada que enaltece a possibilidade de critérios mais rigorosos para selecionar as
ajudar produtores pobres, mas resulta, de fato, amostras de produtores certificados e não
nos benefícios daqueles que não são pobres certificados. Isso porque a maioria das avaliações
(GRIFFITHS, 2014, 2015). de impacto desenvolvidas mediante contrafactuais
Afora estas críticas, outras pesquisas repercutiram em resultados muito mais modestos
desenvolvidas no cenário internacional têm decorrentes da certificação fairtrade para os
contribuído para o entendimento dos resultados da cafeicultores do que os apontados nos relatórios
certificação fairtrade. Entre elas, estão os estudos de impacto e na maioria das pesquisas sobre a
de impacto da certificação, que têm atraído forte certificação. Em avaliação de impacto desenvolvida
interesse da comunidade científica vinculada em Uganda (CHIPUTWA; SPIELMAN; QAIM,
à certificação. De acordo com alguns autores 2015), foi descoberto que a certificação contribuiu
(MÉNDEZ et al., 2010; NELSON; MARTIN, para gerar significativos impactos positivos, já que
2014; RUEDA; LAMBIN, 2013) avaliações de melhorou os padrões de vida dos cafeicultores e
impactos de programas de certificação são tidas de suas famílias, reduzindo tanto a permanência
como as melhores alternativas para averiguar como também a intensidade da pobreza. Já em
se os referidos programas estão cumprindo com outras situações, por exemplo, mínimos impactos
seus objetivos. Na cafeicultura, a avaliação dos foram constatados em avaliações econômicas
impactos da certificação fairtrade ganhou mais desenvolvidas no Peru (RUBEN; FORT, 2012)
relevância a partir do aumento da participação do e em avaliações socioeconômicas, feitas na Costa
mercado dos padrões de certificações baseadas Rica (SÁENZ-SEGURA; ZÚÑIGA-ARIAS,
em normas civis e corporativas (RUBEN; FORT, 2008). Foi provado também que não houve
2012). No campo destas pesquisas, já foram fortes benefícios socioeconômicos que puderam
desenvolvidas várias avaliações de impacto, ser correlacionados à certificação fairtrade para
tal como comprovado por meio de diversas cafeicultores do Peru, Nicarágua e Guatemala
(ARNOULD; PLASTINA; BALL, 2009); México NAGAI, 2014; SALGUERO; CLARO, 2015);
(JAFFEE, 2008) e Nicarágua (BACON, 2005; uma (6,25%) aplicou questionário e entrevistas a
BACON et al., 2008; JENA; STELLMACHER; consumidores de cafés especiais (SAES; SPERS,
GROTE, 2015; VALKILA, 2009). Da mesma 2006); duas (12,5%) utilizaram consultas
forma, também não foram confirmados fortes bibliográficas mais entrevistas e/ou questionários
benefícios econômico-ambientais que puderam aplicados aos cafeicultores e/ou às cooperativas
ser correlacionados à certificação fairtrade para (MIRANDA; SAES, 2012; ROCHA; MENDES,
cafeicultores mexicanos (PHILPOTT et al., 2011).
2007). Para o caso da cafeicultura brasileira, não No contexto dos resultados dos trabalhos
há avaliação similar, mas existem pesquisas que aqui analisados, existem apontamentos para
buscam entender esta certificação sobre outros caminhos diversos, que permitem entender, pelo
aspectos. menos em parte, como a certificação fairtrade
tem atuado na cafeicultura brasileira, tal como
3.5 Pesquisas sobre a certificação fairtrade na pode ser observado no Quadro 1.
cafeicultura do Brasil Pelos resultados dos artigos inseridos na
Existem publicadas (em revistas) dezesseis temática “caracterização”, por exemplo, há um
pesquisas abordando o caso da certificação artigo (PINHEIRO; NAGAI, 2014) que conclui
fairtrade na cafeicultura do Brasil. Considerando que não há muita semelhança entre a norma
o escopo de abrangência destas pesquisas, elas fairtrade e normas públicas que incidem sobre a
podem ser divididas em seis principais áreas temática ambiental na cafeicultura do Brasil. Há
temáticas: i) “Caracterização da Certificação”, que também uma pesquisa (SALGUERO; CLARO,
aborda os trabalhos com intuito de caracterizar 2015) que destaca o caso da café como sendo um
determinados aspectos da certificação fairtrade; dos mais relevantes produtos certificados pela
ii) “Capital Social”, que investiga a existência fairtrade e um trabalho (SOUZA; CARVALHO,
de Capital Social na sociedade cafeeira estudada; 2013) que apresenta aspectos gerais da certificação
iii) “Mercado”, que discorre principalmente e sua aplicabilidade em uma cooperativa de
sobre a relação da certificação e o mercado; iv) cafeicultores. Já em outro estudo (MOREIRA;
“Produção”, com pesquisas mais direcionadas FERNANDES; VIAN, 2011), sua principal
ao campo da produção de café; v) “Aderência colaboração foi oferecer os principais aspectos
à Certificação”, que trata mais sobre aspectos das quatro certificações (Fairtrade, Orgânica,
sobre a fase pré-certificação; vi) “Avaliação da Raiforest Alliance e UTz) no que diz respeito às
Certificação”, com exploração prevalecente de suas especificações técnicas, bem como os perfis
resultados amplos da certificação para grupos de mais adequados de produtor e mercado.
cafeicultores certificados e/ou comparações entre Existe consenso entre algumas pesquisas
cafeicultores certificados e não certificados. (MOREIRA; COSTA, 2012; MOREIRA;
Na maioria (oito, 50%) dos trabalhos FERNANDES; VIAN, 2011; MOURA; CUNHA;
(CHALFOUN DE SOUZAet al., 2013; MOREIRA; DELU FILHO, 2015) que a certificação é
COSTA, 2012; MOURA; CUNHA; DELU capaz de melhorar a gestão e a organização das
FILHO, 2015; OLIVEIRA; ARAÚJO; SANTOS, propriedades cafeeiras. Apesar do benefício
2008; PEDINI; MACHADO, 2014; PERDONÁ neste sentido, previamente ao momento da
et al., 2012; ROMANIELLO; AMÂNCIO; certificação, é conveniente que as cooperativas
CAMPOS, 2012; SAES, 2010) a fonte primária possuam um nível organizacional mínimo para
dos dados foi obtida mediante aplicação de ser certificada, tal como o relacionado a sua
questionários e/ou entrevistas à cafeicultores e/ou estrutura democrática (CHALFOUN DE SOUZA
cooperativas. Em apenas duas (12,5%) pesquisas et al., 2013), bem como também ao nível de
(FREDERICO, 2013; SOUZA; CARVALHO, Capital Social (ROMANIELLO; AMÂNCIO;
2013) não foi possível identificar com precisão a CAMPOS, 2012).
fonte de dados. As demais investigações tiveram No que tange ao campo da produção,
como origem as seguintes fontes: três (18,75%) há trabalhos que indicam benefícios entre a
empregaram análise documental (MOREIRA; junção de certificação e irrigação (PERDONÁ
FERNANDES; VIAN, 2011; PINHEIRO; et al., 2012).
Em outros, que a certificação pode agregar Embora exista muita afirmação associando
valor ao produto (MOREIRA; COSTA, 2012; a certificação fairtrade à qualidade do café, pouco
PEDINI; MACHADO, 2014) e melhorar a produção foi pesquisado neste sentido. Apenas uma pesquisa
de café (ROCHA; MENDES, 2011), a eficiência (MIRANDA; SAES, 2012) tem a qualidade do
produtiva (MOREIRA; COSTA, 2012; ROCHA; café certificado fairtrade como principal foco
MENDES, 2011), e as ações de Responsabilidade de pesquisa. Somente (ROCHA; MENDES,
Social e Ambiental (ROCHA; MENDES, 2011). 2011) comprovam, de certa forma (baseados nas
Inclusive, as preocupações de cafeicultores com respostas dos entrevistados), que os cafeicultores
o meio ambiente foram apontadas como motivos pesquisados obtiveram qualidade depois de
principais para se certificarem em uma pesquisa certificados, pois passaram a receber assistência
(MOREIRA; COSTA, 2012). técnica com mais constância. Na grande maioria dos
Outro ponto em comum (MOURA; estudos, as informações conduzem à interpretação
CUNHA; DELU FILHO, 2015; ROCHA; de que o produto certificado fairtrade é sinônimo
MENDES, 2011) diz respeito ao recebimento de qualidade, mesmo que poucas comprovações
de assistência técnica após a certificação. Em sobre isso tenham sido feitas. Talvez por causa
comparação entre grupos de cafeicultores disso, autores (SALGUERO; CLARO, 2015)
certificados e não certificados, há autores afirmam que faltam pesquisas com o objetivo de
(MOURA; CUNHA; DELU FILHO, 2015) que entender a relação da certificação fairtrade com a
afirmam que o acesso à assistência técnica foi qualidade do produto.
um dos fatores que motivaram os cafeicultores Afora as discussões relacionadas à
a optarem pela certificação. Já outros autores qualidade, há muitos resultados que incidem sobre
(ROCHA; MENDES, 2011) afirmam que houve a possibilidade da certificação ajudar acessar
melhoria de aproximadamente 75% na qualidade mercados e melhorar a renda do cafeicultor.
do café por causa da assistência técnica recebida. Existem autores (MOURA; CUNHA; DELU
A relação da certificação com a qualidade FILHO, 2015) que afirmam que a abertura de
do café é amplamente mencionada no conjunto novos mercados foi um dos principais motivos
apontados pelos cafeicultores para que eles se
das pesquisas analisadas. A maioria dos autores
certificassem. Já outros (MOREIRA; COSTA,
(CHALFOUN DE SOUZA et al., 2013;
2012; MOURA; CUNHA; DELU FILHO,
FREDERICO, 2013; MOREIRA; COSTA,
2015; ROCHA; MENDES, 2011; SAES, 2010),
2012; MOREIRA; FERNANDES; VIAN,
afirmam que a certificação proporcionou acesso a
2011; OLIVEIRA; ARAÚJO; SANTOS, 2008; mercados.
PINHEIRO; NAGAI, 2014) afirmam que a Tal acesso foi, sobretudo, ao mercado
certificação auxilia na obtenção da qualidade do internacional. O mercado brasileiro consume
café. Apesar da qualidade não ser um objetivo pouquíssimo dos produtos certificados fairtrade
direto da certificação, há autores (MOREIRA; produzidos no país. Apesar de ter havido nos
COSTA, 2012; OLIVEIRA; ARAÚJO; SANTOS, últimos anos uma maior conscientização do
2008; PEDINI; MACHADO, 2014; ROCHA; consumidor brasileiro por produtos de cunho
MENDES, 2011; SALGUERO; CLARO, 2015) sustentável, a grande maioria do consumidor
que afirmam que o consumidor fairtrade tem nacional ainda desconhece o selo fairtrade,
a qualidade do produto também como critério bem como também desconhece os fatores que
para compra do produto, além dos aspectos condicionam um produto com aspectos de
de sustentabilidade implícitos na certificação. sustentabilidade implícitos em seu processo de
Inclusive, existem menções (SALGUERO; produção.
Na tentativa de aproveitar a oportunidade de
CLARO, 2015) afirmando que a qualidade mercado do Brasil, entidades públicas e privadas
é um critério que antecede os aspectos de (com e sem vínculo com a Fairtrade International)
sustentabilidade no produto nas relações estão se esforçando para criar o mercado brasileiro
comerciais. Já outros autores (MIRANDA; SAES, fairtrade (DOHERTY; SMITH; PARKER,
2012), afirmam que a oferta de café certificado no 2015). Mas as ações ainda não repercutiram em
mercado fairtrade excede a demanda. Por isso, resultados de mercado significativos. Isso porque
alegam que é fundamental que o café certificado o consumidor brasileiro consome menos de 1%
tenha qualidade, pois este atributo é essencial no dos produtos certificados fairtrade produzidos
mercado fairtrade. no país.
Outro fator que chama a atenção para a em consideração em pesquisas futuras diz respeito
necessidade de mais estudos está relacionado ao comportamento do mercado da certificação
ao período em que estas pesquisas foram feitas, fairtrade. Apesar da norma da certificação
entre 2006 e 2015. Desde 2007, o pagamento fairtrade primar por seguir certos padrões que
mínimo pelo café certificado fairtrade raramente visam à sustentabilidade do sistema de produção, o
tem sido obrigatório por causa da alta do preço principal apelo do selo não é a proteção ambiental.
do café no mercado internacional. Neste caso, Não é a proteção de espécies ameaçadas. Não é a
tanto cafeicultores fairtrade quanto não fairtrade inexistência de processos isentos de agrotóxicos.
são pagos pelo valor de mercado, sendo o Não é a qualidade do produto. A principal
prêmio fairtrade (20 centavos de dólar por libra, estratégia de mercado associada ao selo está
aproximadamente R$1,66 por quilo de café, em condicionada à possibilidade do consumidor
início de dezembro de 2015) o benefício primário contribuir para a melhoria das condições de vida
da certificação (CLAAR; HAIGHT, 2015). Nesta de produtores pobres, marginalizados das chances
situação, benefícios decorrentes da certificação de êxito pelas vias de mercado convencionais
encontrados em pesquisas brasileiras podem (este é o principal apelo da certificação). Se o
também estar relacionados ao bom preço do café selo falhar em entregar ao consumidor a ação
nestes últimos anos. implícita ao café adquirido, ou seja, a melhoria das
Apesar de tais necessidades, é notório condições de vida do cafeicultor (pobre) mediante
que as pesquisas já publicadas possuem suas o ágio pago pelo produto, o próprio mercado do
contribuições para o entendimento das implicações selo fairtrade pode ter tempo limitado. Esta é uma
da certificação na cafeicultura brasileira. No observação que merece atenção, especialmente
entanto, seus resultados ainda não oferecem base porque a aderência ao selo pelas cooperativas
para se afirmar que a certificação tem atingido cafeeiras do Brasil está em contínua expansão
os objetivos propostos pelos seus proponentes ao mesmo tempo em que problemas estão sendo
para cafeicultores do Brasil. Poucas cooperativas constatados em outras localidades do globo, tais
foram pesquisadas até o momento, o que não quais os impactos irrisórios e negativos atribuídos
possibilita conclusões de forma mais agregada. à certificação, a má distribuição dos benefícios
Além disso, as próprias melhorias na gestão das do sistema fairtrade, e o excesso de oferta de café
propriedades e na comercialização internacional fairtrade certificado, por exemplo.
são resultados óbvios inerentes à certificação e que Sobre tal perspectiva é preciso que a
devem ser atribuídos muito mais às cooperativas cafeicultura brasileira esteja preparada para
e cafeicultores do que a própria certificação. Isso duas situações do mercado de cafés certificados
porque o mercado da certificação é o internacional fairtrade. A primeira situação está associada a uma
e também porque o processo de certificação possível falta de credibilidade generalizada do selo
exige certas padronizações dos cafeicultores e as consequentes causas na queda de demanda
que geralmente acarretam mudanças de posturas por cafés certificados fairtrade. A melhoria da
gerenciais. qualidade associada ao produto e também à
junção de outras certificações à produção de
3.5.2 Questões ainda não respondidas sobre a café pelo cafeicultor fairtrade brasileiro pode
certificação fairtrade na cafeicultura brasileira contribuir para a diminuição dos riscos inerentes
à certificação fairtrade, caso o próprio sistema
Para se conhecer de forma mais ampliada os fairtrade entre em colapso devido à possível falta
resultados da certificação fairtrade na cafeicultura de credibilidade do selo no mercado internacional.
do Brasil são necessárias pesquisas mais agregadas Na atual conjuntura, é válido considerar esta
e que estejam em sintonia com o que vem sendo possibilidade, uma vez que o café fairtrade
discutido pelas pesquisas internacionais. Dessa é consumido externamente, justamente onde
forma, o caminho para as pesquisas com foco na críticas à certificação têm se intensificado. Já a
certificação fairtrade na cafeicultura do Brasil segunda situação está ligada ao aproveitamento
passa, necessariamente, pelos questionamentos das oportunidades de mercado que o próprio
ainda em aberto, bem como também pelas selo oferece. Tal como já confirmado por alguns
conclusões mais críticas de pesquisas sobre os pesquisadores, o consumidor fairtrade também
resultados da certificação em outras localidades tem a qualidade do café como requisito para a
do mundo. aquisição do produto. Aproveitar as oportunidades
Um aspecto relevante que merece ser levado de mercado do café fairtrade ofertando um produto
com qualidade superior contribui para o aumento localidades produtoras. c) Avaliação dos impactos
da competitividade da cafeicultura do Brasil da certificação fairtrade na cafeicultura do Brasil.
frente aos países que já possuem consolidada Uma vez que o principal mote do mercado fairtrade
participação nas exportações de café fairtrade, tal é a possibilidade de contribuição para a melhoria
como é o caso do Peru, Colômbia e Honduras, por de vida de pequenos produtores marginalizados, é
exemplo. válido se pesquisar quais foram os impactos desta
No entanto, as oportunidades de mercado certificação para a cafeicultura do Brasil. Para
deste selo para a cafeicultura brasileira são melhor oferecer maior credibilidade nestas pesquisas, é
aproveitadas através de informações setoriais válido que as mesmas estejam em consonância com
confiáveis e transparentes, úteis no processo de as metodologias de avaliação de impacto que têm
tomada de decisão dos principais stakeholders se destacado internacionalmente por oferecerem
da certificação fairtrade. Responder questões possibilidade de resultados mais críveis. Dentre as
fundamentais sobre a cafeicultura certificada alternativas de avaliações de impacto relevantes
fairtrade no Brasil contribui para a confiabilidade de serem desenvolvidas no momento, destacam-
do café certificado brasileiro caso a situação do se, por exemplo: c1) impacto sobre condições
país seja inversa ao que vem sendo constatado socioeconômicas dos cafeicultores; c2) impactos
por pesquisas em outros países. Dessa forma, sobre a gestão das cooperativas cafeeiras fairtrade;
é necessário que pesquisas sejam direcionadas c3) impactos sobre a qualidade do café produzido
a investigarem os resultados da certificação pelos cafeicultores fairtrade; c4) impactos
fairtrade na cafeicultura do Brasil de forma mais socioeconômicos nas comunidades locais; c5)
agregada. Sobretudo no contexto atual, onde impactos sobre os custos de produção.
há expansão da certificação fairtrade no Brasil Diante deste contexto pesquisas podem
e aumento da possibilidade do Brasil ser um potencializar as chances da cafeicultura no
dos maiores fornecedores de café fairtrade do mercado nacional e internacional, caso, aliado à
mundo. Dentre os estudos que podem contribuir oferta de um café certificado de melhor qualidade
neste sentido estão, por exemplo: a) Ações e pela cafeicultura fairtrade do Brasil, haja, por
relacionamentos entre os elos da cadeia cafeeira exemplo, as seguintes comprovações por meio de
certificada fairtrade. Diante de uma realidade de pesquisas: i) que pequenos cafeicultores fairtrade
início de ações voltadas para a criação do mercado do Brasil são (ou estavam) de fato marginalizados
nacional de produtos certificados fairtrade e das oportunidades do mercado; ii) que a certificação
de constatações de problemas na distribuição fairtrade não está contribuindo para que grandes
dos benefícios do sistema fairtrade, é válido produtores de café vinculados às cooperativas
se pesquisar: a1) Qual é perfil do potencial sejam mais beneficiados pelo sistema fairtrade do
consumidor de café certificado fairtrade no Brasil; que pequenos produtores; iv) que os cafeicultores
a2) Qual é a efetiva capacidade de produção e fairtrade brasileiros competem de forma justa
consumo de café certificado fairtrade no Brasil; e ética com seus pares estabelecidos em outras
a3) Qual a efetiva distribuição dos benefícios localidades, pois possuem condições técnicas e
da certificação para os produtores, importadores, socioeconômicas similares; vi) que a certificação
distribuidores e varejistas de café fairtrade. b) fairtrade de fato tem contribuído para melhorar
Análise dos perfis dos cafeicultores fairtrade do as condições (qualidade de vida, operacional,
Brasil. Em um contexto onde existem muitos econômica) de pequenos cafeicultores, pobres, do
cafeicultores vinculados a poucas cooperativas Brasil.
fairtrade, e poucas cooperativas vendendo a
maioria do café fairtrade brasileiro, é valido se 4 CONCLUSÃO
pesquisar: b1) Quais são os perfis socioeconômicos A representatividade produtiva do Brasil
dos cafeicultores fairtrade do Brasil; b2) Quais são na cafeicultura mundial ainda não é equiparada à
os perfis técnicos e socioeconômicos dos grandes sua participação no mercado de cafés certificados
cafeicultores vinculados às cooperativas fairtrade fairtrade. O país já ocupa uma posição de destaque
do Brasil; b3) Quais são as diferenças técnicas e entre os países produtores de café fairtrade,
socioeconômicas entre os cafeicultores familiares sendo o sexto país com mais organizações de
do Brasil e os cafeicultores fairtrade do país; b4) cafeicultores certificados e detendo cerca de 5%
Como se diferenciam os cafeicultores fairtrade das exportações de café fairtrade. Mas, para o país
do Brasil e seus pares estabelecidos em outras que é o maior produtor de café do mundo e possui
AULD, G.; BERNSTEIN, S.; CASHORE, B. The new CASTALDO, S. et al. The missing link between
corporate social responsibility. Annual Review of corporate social responsibility and consumer trust: the
Environment and Resources, Palo Alto, v. 33, p. 413- case of fair trade products. Journal of Business Ethics,
435, 2008. Dordrecht, v. 84, n. 1, p. 1-15, Feb. 2008.
BACON, C. Confronting the coffee crisis: can fair CHALFOUN DE SOUZA, S. M. et al. Avaliação
trade, organic, and specialty coffees reduce small-scale do grau de conformidade visando à inserção dos
farmer vulnerability in Northern Nicaragua? World cafeicultores na certificação e comércio justo (fair trade).
Development, Oxford, v. 33, n. 3, p. 497-511, Mar. 2005. Coffee Science, Lavras, v. 8, n. 4, p. 510-518, 2013.
BACON, C. M. Who decides what is fair in fair trade?: CHIPUTWA, B.; SPIELMAN, D. J.; QAIM, M. Food
the agri-environmental governance of standards, standards, certification, and poverty among coffee
access, and price. The Journal of Peasant Studies, farmers in Uganda. World Development, Oxford, v.
London, v. 37, n. 1, p. 111-147, 2010. 66, p. 400-412, 2015.
BACON, C. M. et al. Are sustainable coffee CLAAR, V. V.; HAIGHT, C. E. Fair trade coffee. The
certifications enough to secure farmer livelihoods?: Journal of Economic Perspectives, Nashville, v. 29,
the millenium development goals and Nicaragua’ s fair n. 1, p. 215-216, 2015.
trade cooperatives. Globalizations, Abingdon, v. 5, n.
2, p. 259-274, 2008. DOHERTY, B.; SMITH, A.; PARKER, S. Fair trade
market creation and marketing in the global south.
BARHAM, B. L.; WEBER, J. G. The economic Geoforum, Oxford, v. 67, p. 158-171, 2015.
sustainability of certified coffee: recent evidence from
Mexico and Peru. World Development, Oxford, v. 40, DONNET, M. L.; WEATHERSPOON, D. D.; HOEHN,
n. 6, p. 1269-1279, 2012. J. P. What adds value in specialty coffee?: managerial
implications from hedonic price analysis of central and
BEUCHELT, T. D.; ZELLER, M. Profits and poverty: South American e-auctions. International Food and
certification’s troubled link for nicaragua’s organic and Agribusiness Management Review, Washington, v.
fairtrade coffee producers. Ecological Economics, 10, n. 3, p. 1-18, 2007.
Amsterdam, v. 70, n. 7, p. 1316-1324, 2011.
DORAN, C. J. The role of personal values in fair trade
BLACKMAN, A. Does eco-certification boost consumption. Journal of Business Ethics, Dordrecht,
regulatory compliance in developing countries?: Iso v. 84, n. 4, p. 549-563, 2009.
14001 in Mexico. Journal of Regulatory Economics,
Dordrecht, v. 42, n. 3, p. 242-263, 2012. DRAGUSANU, R.; GIOVANNUCCI, D.; NUNN, N.
The economics of fair trade. The Journal of Economic
BLACKMAN, A.; NARANJO, M. A. Does eco- Perspectives, Nashville, v. 28, n. 3, p. 217-236, 2014.
certification have environmental benefits?: organic
coffee in Costa Rica. Ecological Economics, ELDER, S. D.; ZERRIFFI, H.; LE BILLON, P. Is
Amsterdam, v. 83, p. 58-66, Nov. 2012. fairtrade certification greening agricultural practices?:
an analysis of fairtrade environmental standards in
BLACKMAN, A.; RIVERA, J. Producer-level benefits Rwanda. Journal of Rural Studies, Dordrecht, v. 32,
of sustainability certification. Conservation Biology, p. 264-274, 2013.
Malden, v. 25, n. 6, p. 1176-85, Dec. 2011.
FAIRTRADE INTERNATIONAL. Fairtrade
BOERSMA, F. V. The urgency and necessity of a standard for small producer organizations. Bonn,
different type of market: the perspective of producers 2011. Disponível em: <http://www.fairtrade.net/
organized within the fair trade market. Journal of fileadmin/user_upload/content/2009/standards/
Business Ethics, Dordrecht, v. 86, n. 1, p. 51-61, 2009. documents/SPO_EN.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2016.
BRASIL. Lei nº 11326, de 24 de julho de 2006. ______. Explanatory document for the Fairtrade
Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Standard for small producer organizations. Bonn,
Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos 2014a. Disponível em: <http://www.fairtrade.net/
Familiares Rurais. Brasília, 2006. Disponível em: fileadmin/user_upload/content/2009/standards/
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- documents/2014-01-15_EN_SPO_Explan_Doc.pdf>.
2006/2006/lei/l11326.htm>. Acesso em: 15 jan. 2016. Acesso em: 3 mar. 2016.
______. Monitoring the escope and benefits of Netherlands: rethinking the contribution of fair trade.
Fairtrade Fourty Edition, 2012. 4th ed. Bonn, 2012. Journal of Business Ethics, Dordrecht, v. 113, n. 3, p.
461-474, 2013.
______. Monitoring the escope and benefits of
Fairtrade Fifth Edition, 2013. 5th ed. Bonn, 2013. JAFFEE, D. “Better, But Not Great”: the social and
environmental benefits and limitations of fair trade
______. Strong producers, srong future: annual for indigenous coffee producers in Oaxaca, Mexico.
report 2013-104. Bonn, 2014b.
In: RUBEN, R. (Ed.). The impact of Fair Trade.
Wageningen: Wageningen Academic, 2008. p. 196-222.
FLO-CERT. Small producer definition: explanatory
document. 2014. Disponível em: <http://www.
flocert.net/wp-content/uploads/2014/02/PC- JENA, P. R.; STELLMACHER, T.; GROTE, U.
SmallProducerDefinition-ED-16-en1.pdf>. Acesso em: Can coffee certification schemes increase incomes
3 mar. 2016. of smallholder farmers?: evidence from Jinotega,
Nicaragua. Environment, Development and
FORSMAN-HUGG, S. et al. Key CSR dimensions for Sustainability, Dordrecht, v. 17, p. 1-22, 2015.
the food chain. British Food Journal, Bradford, v.
115, n. 1, p. 30-47, 2013. JHA, S. et al. Shade coffee: update on a disappearing
refuge for biodiversity. BioScience, Washington, v. 64,
FREDERICO, S. Cafeicultura científica globalizada e n. 5, p. 416-428, 2014.
as montanhas capixabas: a produção de café arábica
nas regiões do Caparaó e Serrada do Espírito Santo. KILIAN, B. et al. Can the private sector be competitive
Sociedade & Natureza, Uberlância, v. 25, n. 1, p.
and contribute to development through sustainable
7-20, 2013.
agricultural business?: a case study of coffee in Latin
FRIDELL, G. Fair trade slippages and Vietnam gaps: America. International Food and Agribusiness
the ideological fantasies of fair trade coffee. Third Management Review, Washington, v. 7, n. 3, p. 21-45, 2004.
World Quarterly, London, v. 35, n. 7, p. 1179-1194, 2014.
KOLK, A. Corporate social responsibility in the
GOLDING, K.; PEATTIE, K. In search of a golden coffee sector: the dynamics of MNC responses and
blend: perspectives on the marketing of fair trade code development. European Management Journal,
coffee. Sustainable Development, Sydney, v. 13, n. 3, London, v. 23, n. 2, p. 228-236, 2005.
p. 154-165, 2005.
______. Mainstreaming sustainable coffee. Sustainable
GRIFFITHS, P. Ethical objections to fairtrade. Journal Development, Sydney, v. 21, n. 5, p. 324-337, 2013.
of Business Ethics, Dordrecht, v. 105, n. 3, p. 357-353, 2012.
MARE, A. L. E. The impact of fair trade on social
______. Fairtrade in schools: teaching ethics or
unlawful marketing to the defenceless? Ethics and and economic development: a review of the literature.
Education, London, v. 9, n. 3, p. 369-384, 2014. Geography Compass, Chichester, v. 6, n. 2, p. 1922-
1942, 2008.
______. Marketing by controlling social discourse: the
fairtrade case. Ecology and Society, London, v. 35, n. MATTOS, J. Mercado de café: oportunidades
2, p. 256-271, 2015. e desafios para as organizações brasileiras. In:
Fórum das Organizações de Pequenos
HAIGHT, C. The problem with fair trade coffee. Produtores Fairtrade do Brasil, 2.;
Stanfort Social Innovation Review, Palo Alto, v. 4, Semana Internacional do Café (Espaço
p. 74-80, 2011.
Café Brasil), 2015, Belo Horizonte. Slides da
Palestra... Belo Horizonte, 2015. 1 CD-ROM.
HERTEL, S.; SCRUGGS, L.; HEIDKAMP, C. P.
Human rights and public opinion: from attitudes to
action. Political Science Quarterly, New York, v. 124, MÉNDEZ, V. E. et al. Effects of fair trade and organic
n. 3, p. 443-459, 2009. certifications on small-scale coffee farmer households in
Central America and Mexico. Renewable Agriculture
INGENBLEEK, P. T. M.; REINDERS, M. J. The and Food Systems, Greenbelt, v. 25, n. 3, p. 236-251,
development of a market for sustainable coffee in the June 2010.
MOURA, W. P. de; CUNHA, L. T. da; DELU FILHO, POTTS, J. et al. Coffee market. In: ILNYCKY, R.;
N. Levantamento de propriedades cafeeiras com HOLMES, D.; RICKERT, E. (Ed.). The state of
sustainability initiatives review 2014: standards and
certiricação fairtrade e não certificadas em Varginha e
the green economy. Winnipeg: International Institute
região, Minas Gerais, Brasil. La Saeta Universitaria, for Sustainable Development, 2014. p. 155-183.
Encarnación, v. 4, n. 1, p. 66-76, 2015.
RAYNOLDS, L. T. Fairtrade, certification, and labor:
NELSON, V.; MARTIN, A. Exploring issues of rigour global and local tensions in improving conditions for
and utility in fairtrade impact assessment. Food Chain, agricultural workers. Agriculture and Human Values,
Rugby, v. 4, n. 1, p. 14-33, Feb. 2014. Dordrecht, v. 31, n. 3, p. 499-511, 2014.
NELSON, V.; POUND, B. The last ten years: a RAYNOLDS, L. T. Mainstreaming fair trade coffee:
comprehensive review of the literature on the impact from partnership to traceability. World Development,
of fairtrade. Natural Resources Institute, Greenwich, Oxford, v. 37, n. 6, p. 1083-1093, June 2009.
p. 1-48, 2009. Disponível em: <http://www.fairtrade.
RENARD, M. C. Fair trade: quality, market and
net/fileadmin/user_upload/content/2009/about_
conventions. Journal of Rural Studies, Dordrecht, v.
us/2010_03_NRI_Full_Literature_Review.pdf>.
19, n. 1, p. 87-96, 2003.
Acesso em: 12 dez. 2015.
______. Quality certification, regulation and power in
OLIVEIRA, R. F. de; ARAÚJO, U. P.; SANTOS, A. C. fair trade. Journal of Rural Studies, Dordrecht, v. 21,
dos. Efeito do fair trade na cooperativa de agricultores n. 4, p. 419-431, 2005.
familiares de café de Poço Fundo, MG. Organizações
Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 10, n. 2, p. 211- RIJSBERGEN, B. van et al. The ambivalent impact
225, 2008. of coffee certification on farmers’ welfare: a matched
panel approach for cooperatives in Central Kenya.
OMIDVAR, V.; GIANNAKAS, K. The effects of fair World Development, Oxford, v. 77, p. 277-292, 2016.
trade on coffee growers: a framework and analysis.
Agricultural Economics, Amsterdam, v. 46, p. 29-39, 2015. ROCHA, A. F. da; MENDES, A. C. A. Certificação
de café: análise da validação dos benefícios propostos
PEDINI, S.; MACHADO, R. T. M. Fair trade: pela FLO aos agentes envolvidos na obtenção do selo
fairtrade em uma cooperativa de cafeicultores de Minas
possibilidades de empoderamento de cafeicultores
Gerais. Administração Pública e Gestão Social,
familiares no sul de Minas Gerais. Estudos Sociedade
Viçosa, v. 3, n. 4, p. 421-441, 2011.
e Agricultura (UFRRJ), Rio de Janeiro, v. 22, n. 2, p.
457-481, 2014. ROMANIELLO, M. M.; AMÂNCIO, R.; CAMPOS,
R. C. Análise da composição do capital social em uma
PERDONÁ, M. J. et al. Irrigação e certificação da estrutura organizacional cooperativa do sul de Minas
cafeicultura na região centro-oeste de São Paulo. Gerais. Organizações Rurais & Agroindustriais,
Bragantia, Campinas, v. 71, n. 3, p. 377-384, 2012. Lavras, v. 14, n. 1, p. 15-27, 2012.
RUBEN, R.; FORT, R. The impact of fair trade SCHWARTZ, M. S.; CARROLL, A. B. Integrating and
certification for coffee farmers in Peru. World unifying competing and complementary frameworks:
Development, Oxford, v. 40, n. 3, p. 570-582, Mar. the search for a common core in the business and
2012. society field. Business & Society, Chicago, v. 47, n.
2, p. 148-186, 2007.
RUBEN, R.; FORT, R.; ZÚÑIGA-ARIAS, G.
Measuring the impact of fair trade on development. SILVA-FILHO, J. C. L.; CANTALICE, F. L. B. de M.
Development in Practice, London, v. 19, n. 6, p. 777- Fair trade (comércio justo) como um “tópico quente”
788, 2009. internacional e sua abordagem no Brasil. Revista
Eletrônica de Estratégia e Negócios, Florianópolis, v.
RUBEN, R.; ZUNIGA, G. How standards compete: 4, n. 2, p. 223-244, 2011.
comparative impact of coffee certification schemes in
SMITH, A. M. Evaluating the criticisms of fair trade.
Northern Nicaragua. Supply Chain Management:
Economic Affairs, London, v. 29, n. 4, p. 29-36, 2009.
An International Journal, Bradford, v. 16, n. 2, p.
98-109, 2011. SOUZA, E. A. de; CARVALHO, F. L. de. Fair trade:
um novo conceito em exportação justa. Revista
RUEDA, X.; LAMBIN, E. F. Responding to Acadêmica da FACECA, Varginha, v. 1, n. 12, p.
globalization: impacts of certification on colombian 1-15, 2013.
small-scale coffee growers. Ecology and Society,
Wolfville, v. 18, n. 3, p.1-14, 2013. TANG, S. et al. Taste moral, taste good: the effects of
fairtrade logo and second language on product taste
SÁENZ-SEGURA, F.; ZÚÑIGA-ARIAS, G. evaluation. Food Quality and Preference, Barking, v.
Assessment of the effect of fair trade on smallholder 50, p. 152-156, 2016.
producers in Costa Rica. In: RUBEN, R. (Ed.). The
impact of Fair Trade. Wageningen: Wageningen TAYLOR, J. E.; BOASSON, V. Who buys fair trade
Academic, 2008. p. 177-135. and why (or why not)?: a random survey of households.
Journal of Consumer Affairs, Oxford, v. 48, n. 2, p.
SAES, M. S. M. Rent appropriation among rural 418-430, 2014.
entrereneurs: three experiences in coffee production
in Brazil. Revista de Administração, São Paulo, v. TAYLOR, P. L. In the market but not of it: fair trade
45, n. 4, p. 313-327, 2010. coffee and forest stewardship council certification as
market-based social change. World Development,
SAES, M. S. M.; SPERS, E. E. Percepção do Oxford, v. 33, n. 1, p. 129-147, Jan. 2005.
consumidor sobre as estratégias dos produtores
TERSTAPPEN, V.; HANSON, L.; MCLAUGHLIN,
em diferenciação: o café no mercado interno.
D. Gender, health, labor, and inequities: a review of the
Organizações Rurais & Agroindustriais, Lavras, v.
fair and alternative trade literature. Agriculture and
8, n. 3, p. 334-367, 2006.
Human Values, Dordrecht, v. 30, n. 1, p. 21-39, 2012.
SALGUERO, J.; CLARO, J. A. C. D. S. O Fair UTTING, P. CSR and equality. Third World
trade como alternativa para os empreendedores Quarterly, London, v. 28, n. 4, p. 697-712, June 2007.
familiares: um estudo exploratório. Rama: Revista
em Agronegócio e Meio Ambiente, Maringá, v. 8, n. VALKILA, J. Do fair trade pricing policies reduce
1, p. 95-113, 2015. inequalities in coffee production and trade?
Development Policy Review, London, v. 32, n. 4, p.
SCHENEIDER, J. Relatório da pesquisa mundial 475-493, 2014.
de comércio justo: parte 1. Brasília, DF: SEBRAE,
2012a. ______. Fair trade organic coffee production in
Nicaragua: sustainable development or a poverty trap?
______. Relatório da pesquisa mundial de comércio Ecological Economics, Amsterdam, v. 68, n. 12, p.
justo: parte 2. Brasília, DF: SEBRAE, 2012b. 3018-3025, Oct. 2009.
VALKILA, J.; HAAPARANTA, P.; NIEMI, N. WATSON, K.; ACHINELLI, M. L. Context and
Empowering coffee traders?: the coffee value contingency: the coffee crisis for conventional small-
chain from Nicaraguan fair trade farmers to finnish
consumers. Journal of Business Ethics, Dordrecht, v. sale coffee farmers in Brazil. The Geographical
97, n. 2, p. 257-270, 2010. Journal, London, v. 174, n. 3, p. 223-234, 2008.
VALKILA, J.; NYGREN, A. Impacts of fair trade WEBER, J. G. How much more do growers receive for
certification on coffee farmers, cooperatives, and
laborers in Nicaragua. Agriculture and Human fair trade-organic coffee? Food Policy, Guildford, v.
Values, Dordrecht, v. 27, n. 3, p. 321-333, May 2009. 36, n. 5, p. 677-684, 2011.