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A construção de caráter e o voluntariado

O filme “Lion” é baseado em um livro autobiógrafo que retrata a vida de


um jovem indiano que se perde do irmão mais velho em uma estação de trens
lotada e, consequentemente, começa a viver na rua até ser adotado por um
casal australiano. No segundo ato do filme, o protagonista decide reencontrar
sua família na Índia com a ajuda de instituições sociais que auxiliam crianças
desaparecidas. Nesse contexto, entende-se a importância do voluntariado em
um cenário de ineficácia estatal e falta do senso de coletividade, situações que
estão presentes no contexto brasileiro contemporâneo.
Em primeira análise, embora a Constituição Brasileira de 1988, assegure
o direito à liberdade, à segurança e à igualdade para todos, percebe-se que
não há o cumprimento dessa garantia. Um exemplo disso é o alto índice de
feminicídio no Brasil – sendo o quinto maior no mundo em 2016, segundo a
ONU – apesar da promulgação da Lei Maria da Penha em 2006 e a criação do
Centro de Atendimento à Mulher. A ineficácia do sistema governamental leva a
criação de diversas organizações não governamentais (ONGs), como a “Fala
Mulher”, que visam preencher as deficiências do Estado.
Por conseguinte, a baixa adesão de voluntários pode ser explicada
através do conceito de alienação do sociólogo Karl Marx, em que o trabalho em
si não reflete a satisfação de seu praticante, mas se torna um meio para atingir
uma satisfação externa. Dessa forma, a atividade é vista como um sacrifício, e
não como um exercício de empatia ao próximo. À vista disso, o filósofo
Bauman complementa esse raciocínio ao afirmar que “Vivemos em tempos
líquidos”, em que a humanidade é tida como superficial e imediatista, com
relacionamentos que se baseiam em uma troca de interesses e com falta de
vínculo afetivo. Em suma, com uma sociedade capitalista e líquida, o
voluntarismo é colocado em segundo plano.
Portanto, fica evidente a importância do trabalho voluntário na
comunidade brasileira, fazendo-se necessário o uso de medidas para que essa
ação continue ajudando todos. É dever do Ministério da Educação instigar o
sentimento de voluntarismo no jovem desde cedo, com programas e
campanhas que podem envolver ações pequenas, como a mentoria de
menores, até visitas a asilos. Desse modo, tanto a formação educacional
quando a social será valorizada, preparando futuros adultos para a convivência
e o mercado de trabalho. Aliado a isso, o setor privado deve incentivar seus
funcionários a ingressão em atividades de voluntariado, bem como considerar a
participação de grupos ou ações solidárias em entrevistas de emprego, a fim
de contratar um funcionário exemplar tanto em seu currículo quanto em seu
caráter. Feito isso, a sociedade poderá caminhar para a empatia e resiliência
com o voluntarismo.

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