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Estudante: Giovana de Morais Peres

Fichamento: história das políticas brasileiras de infância e a partipação da psicologia

A infância não é um conceito abstrato, assim como o de família. É uma concepção que

acompanha o desenvolvimento histórico, como quando na Idade Média as crianças eram

vistas como pessoas pequenas, sem diferentes direitos comparados aos adultos. Hoje, há

um entendimento de necessidades físicas e emocionais dessa fase do desenvolvimento

hunano, ainda que nunca se tenha tanto falado no prejuízo de tais necessidades.

No Brasil, a história da colonização deixou mais sequelas e atrasos nos cuidados pela

infância, marcada pela escravização, catequização e também pelos grumetes, crianças

trazidas de Portugal para o povoamento. Escravos sem identidade até 14 anos, trabalhos

e casamentos forçados, separações de pais e filhos. Ironicamente, ao mesmo passo houve

a "descoberta da infância" na Europa, que levaram os jesuítas, por exemplo, à valorização

do ensino às crianças indígenas (contrário das africanas) como um ponto de investimento,

ainda que isso seja problemático pois o objetivo era impor a elas uma moral. Um dos

problemas do estudo da infância no Brasil é a falta de registros dessa trajetória -

principalmente de fontes imateriais, relatos próprios dos sujeitos que viveram tais

infâncias. Mas, hoje, não seria coincidência o número expressivo de abusos e explorações

infantis.

A desigualdade social também é um marcador para o abandono e consequente

vulnerabilidade, como cuidadores cada vez menos presentes na rotina de seus filhos, pela

necessidade de sustento com longas jornadas de trabalho. E por sua vez, também muito

associado à desigualdade de gêneros, o abandono é uma prática exportada da Europa, pois


a população originária cuidava de seus descendentes em cooperação comunitária. O

nascimento de filantropias também teve como base investir na infância para garantir

interesses da classe hegemônica, assim como fizeram os jesuítas, como transformar

ociosos em fontes de renda. Além disso, houve o incentivo do estado para que a caridade

fosse iniciativa empresarial e pública, assim ele não teria de assumir o papel de criar as

crianças abandonadas.

"Criança" passou a ser uma designação àqueles que pela sociedade se reconhece a

cidadania e as determinadas necessidades para o pleno desenvolvimento da fase; porém,

desde que sejam considerados filhos de famílias bem estruturadas (em geral, brancas e

com status financeiro). Já crianças marginalizadas são postas como delinquentes,

"trombadinhas". Ao menos, aos poucos se avança, por exemplo na Declaração dos

Direitos da Criança de 1923, mas em que havia também um cunho punitivista, e assim o

sistema segue se eximindo da responsabilidade na marginalização desse segmento social.

Também cria a noção de que os desajustes podem ser superados sem que haja uma

reforma do próprio sistema.

No contexto da psicologia, também da pedagogia, nasceu o propósito de estabelecer

uma nova educação para a produção de cidadãos sadios e ativos. A partir da década de

1920, estudos reforçavam causas individuais, seja nas crianças ou na família, para desvios

de condutas; resultando em ações preventivas e corretivas a devolver o indivíduo infantil

à normatividade da lógica de produção. Isso pois a psicologia, também inserida no

sistema, não superaria o próprio sistema e o esvaziamento que o mesmo provoca. Isso

aponta, hoje, para a importância do reconhecimento deste fato por parte dos psicólogos,

que ao invés de utilizarem seu poder para a manutenção do status quo, lutem pela

transformação social.
Referências

CRUZ, L., Hillesheim, B. & Guareschi, N. ‘‘Infância e Políticas Públicas: Um Olhar

sobre as Práticas Psi’’

CUNHA, Ione da Silva. “A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À

INFÂNCIA NO BRASIL: ENTRE CONCESSÕES E O RECONHECIMENTO DE

DIREITOS”

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