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Facilitando o acesso dos trabalhadores ao mercado de capitais

1 Introdução
Atrair uma participação maior dos investidores do
país para o mercado de ações é, com certeza, um dos
maiores desafios colocados à Bolsa brasileira.
O fortalecimento da credibilidade do mercado
acionário e a disseminação da idéia de que o investi-
mento em ações tem que buscar rentabilidade no lon-
go prazo são partes integrantes e fundamentais do pro-
grama de popularização iniciado em 2000.
Diversas ações foram tomadas nesse sentido, a co-
meçar da contratação, pela BOVESPA, do Ombudsman
do Mercado, que, além de atender às reclamações dos
clientes das Corretoras e de dirimir dúvidas de alguns empresas fizeram operações de aumento ou mesmo
usuários dos serviços da BOVESPA e da CBLC, tem de abertura de capital, reservando a esses investidores
atuado como um verdadeiro mediador, solucionando uma parcela das ações.
conflitos sem a necessidade de recursos administrativos Assim, este Guia não pode ser compreendido fora
ou judiciais. O investimento num consistente programa desse contexto, pois aqui busca-se mostrar que há pos-
educacional também faz parte dessa estratégia. sibilidade de as empresas conjugarem tais programas
Poderíamos citar uma série de outras iniciativas da ao oferecimento, aos seus empregados, de suas pró-
própria BOVESPA, mas isso obscureceria o fato de que prias ações ou de outros produtos financeiros que envol-
o projeto de popularizar o mercado tem hoje outros vam aplicação em ações.
participantes ativos. Tradicionalmente, as empresas brasileiras têm usa-
As ofertas de venda de ações da Petrobras e da do a Participação nos Lucros ou nos Resultados (PLR)
Vale do Rio Doce, em que se permitiu o uso do FGTS para premiar os empregados com pagamentos em di-
como forma de pagamento, foram marcos desse pro- nheiro associados ao lucro ou a outros resultados alcan-
cesso. Um pouco depois, percebendo o enorme po- çados. Entretanto, a vinculação da PLR à aplicação em
tencial que o investimento individual oferecia, várias produtos financeiros é algo ainda inédito no Brasil.

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Guia da Poupança Participativa

A distribuição de ações aos funcionários, por exem- baixo e, certamente, a maneira mais fácil de ele se tor-
plo, não é um procedimento comum no país, mas nos nar um investidor.
Estados Unidos foi a porta de entrada de milhões de A alternativa de oferecer ações aos funcionários está
pessoas no mercado de ações. Ao contrário dos EUA, restrita às companhias de capital aberto. Entretanto, mes-
onde a maior parte das ofertas de ações da própria mo para as empresas de capital fechado, existe a possi-
empresa para os empregados ocorre den- bilidade de associar a PLR a outros produ-
tro dos planos de aposentadoria mantidos tos, como clubes de investimento e pla-
...oferecendo alter-
pela companhia, o uso da PLR é um meio nos de previdência, permitindo oferecer
nativas que, de ou-
mais fácil para disseminar essa cultura no opções de investimento pouco acessíveis
tro modo, não es-
Brasil, dada sua extrema flexibilidade. ao pequeno investidor quando ele atua in-
tariam disponíveis
Quais são as vantagens para a empre- dividualmente.
aos pequenos in-
sa? A utilização da PLR para a distribuição Portanto, este Guia pretende mostrar
vestidores.
de ações, além de ser uma forma de re- que é possível ir além das vantagens fis-
muneração que não exige desembolso de cais que a PLR proporciona e criar meca-
caixa, também associa diretamente os interesses dos tra- nismos de incentivo à produtividade e à maior partici-
balhadores aos interesses da empresa. pação dos trabalhadores no mercado de capitais, ofere-
E para o empregado? Pode ser a porta de entrada cendo alternativas que, de outro modo, não estariam
para o trabalhador investir em ações a um custo muito disponíveis aos pequenos investidores.

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2 Critérios para a PLR


Participação nos Lucros e Participação nos Resulta-
dos são duas modalidades de remuneração variável
muito utilizadas em diversos países, conhecidas inter-
nacionalmente como profit sharing e gain sharing. A
Participação nos Lucros (profit sharing) estabelece uma
vinculação entre o bônus e o lucro da empresa. O prê-
mio é devido sempre que a empresa tiver lucro ou sem-
pre que o lucro exceder a um valor mínimo previamente
estabelecido. O valor do prêmio é obtido pela divisão
da parte do lucro a ser distribuído para os empregados,
que dividem o “bolo” em partes iguais ou proporcio-
nais ao salário. Algumas empresas preferem pagar o ceito a ser utilizado for o de lucro operacional, é possí-
prêmio na forma de ações, em vez de pagarem em di- vel que a empresa tenha resultado operacional positivo,
nheiro. Em geral, programas de participação no lucro mas, ao calcular as despesas não-operacionais, esse re-
são anuais, pois o resultado da empresa é apurado a sultado torne-se negativo. Nesse caso, a empresa estará
cada exercício de 12 meses. pagando prêmios, mesmo tendo prejuízo. Para evitar
Muitas empresas preferem esse sistema porque o essa possibilidade, a empresa deve escolher cuidadosa-
prêmio é definido em função do desempenho da com- mente o conceito de lucro a ser adotado.
panhia, medido por meio do lucro apurado, que é o A outra dificuldade é decorrente da distância que
resultado definitivo para avaliar uma organização. As- existe entre o esforço do empregado e o resultado final
sim, não há margens para dúvidas: se o balanço for azul, do exercício. Para muitos colaboradores, essa distância
a empresa pode premiar e os empregados ganham; se pode ser muito grande. O empregado pode achar que,
for vermelho, a empresa não ganhou e não poderá pa- apesar do seu esforço, é possível que a empresa tenha
gar prêmios aos empregados. Dessa forma, essa resultado negativo devido a condições que fogem ao
premiação acontece de forma bastante clara e objetiva. seu controle. Exemplo: se o mercado no qual a empresa
Mas, mesmo assim, há pelo menos duas dificuldades. opera estiver em uma situação desfavorável, seu esfor-
Uma delas é a escolha do conceito de lucro. Se o con- ço não será recompensado na forma de prêmio, pois

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não haverá lucro. Assim, o objetivo do programa de participação nos resultados produz prêmios pagos men-
participação nos lucros, que é incentivar os empregados salmente. No Brasil, porém, a legislação determina que
a se dedicarem mais ao trabalho e se identificarem com haja um intervalo mínimo de seis meses entre cada pa-
os objetivos da empresa, não será atingido. Evidente- gamento. Os resultados escolhidos para o cálculo do
mente, quando as coisas vão bem e existe lucro, o pro- prêmio referem-se ou à totalidade da empresa ou a um
grama funciona melhor, embora para muitos emprega- departamento ou ainda a um setor da empresa.
dos seja difícil compreender como seu trabalho contri- Em geral, tanto a participação nos lucros como a
bui para o resultado geral da empresa. participação nos resultados são sistemas de remunera-
Esse tipo de dificuldade com a participação nos lu- ção coletivos, pois medem o desempenho de um grupo
cros leva muitas empresas a preferirem a participação de pessoas ou da organização como um todo. Algumas
nos resultados (gain sharing). Essa moda- empresas combinam resultados coletivos
lidade é mais flexível, porque a empresa ...a PLR é especial- com resultados individuais, mas essas com-
pode utilizar critérios mais compreensíveis mente interessan- panhias são exceção. Há também casos
e menos remotos para o trabalhador. te no Brasil porque pouco freqüentes, nos quais as empresas
Muitas companhias incluem resultados temos uma legisla- utilizam apenas critérios de desempenho
contábeis, mas a grande vantagem da ção específica so- individual para a participação nos lucros
modalidade é a possibilidade de incluir bre isso, que ofere- ou resultados. Para usar a PLR, em geral,
critérios não contábeis. Em geral, a em- ce oportunidades as empresas abandonam os métodos de
presa seleciona alguns resultados impor- muito interessan- avaliação individual e utilizam resultados
tantes para o seu negócio e define crité- tes tanto a empre- gerais para avaliar o desempenho. Muitos
rios de medição e metas a serem sas quanto a em- críticos da PLR lembram que essa caracte-
alcançadas. Os resultados selecionados, pregados. rística é uma desvantagem, na medida que
por serem mais próximos do cotidiano do dá lugar ao comportamento do tipo “ca-
trabalhador, têm mais chance de motivá-lo a se esforçar rona” (free rider): alguns trabalhadores “encostam o cor-
na busca do aprimoramento. O trabalhador percebe po” e não participam do esforço coletivo, embora se
com mais clareza a conexão entre seu esforço, o beneficiem dele, participando do prêmio a ser distri-
resultado do seu esforço e a contrapartida do seu buído. Por outro lado, se funcionarem efetivamente como
esforço, que é o prêmio. estímulo, esses sistemas têm a vantagem de reduzir os
Nessa modalidade, os critérios e as metas produ- custos de monitoramento e supervisão. Além disso, a
zem uma pontuação e essa pontuação é convertida em PLR é especialmente interessante no Brasil porque te-
valores monetários de premiação. Quanto melhores os mos uma legislação específica sobre isso, que oferece
resultados, maior a pontuação e maior o prêmio. Perio- oportunidades muito interessantes tanto a empresas
dicamente, os resultados são aferidos e os empregados quanto a empregados. No próximo tópico você conhe-
informados sobre o valor dos prêmios. No exterior, a cerá essas oportunidades.

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Facilitando o acesso dos trabalhadores ao mercado de capitais

3 Bases legais da PLR


A constituição brasileira, continuando uma tradição
criada pela carta de 1946, estabelece em seu art. 7º,
inciso 11, que os trabalhadores têm direito a participar
nos lucros ou nos resultados das empresas. O dispositi-
vo estabelece também que a participação é
“desvinculada da remuneração”, o que tem importan-
tes conseqüências que serão descritas a seguir. Abaixo,
a transcrição desse dispositivo:

Constituição federal, art. 7o, inciso XI:


(caput): “São direitos dos trabalhadores urba-
nos e rurais, além de outros que visem à melhoria convertida em lei. Os dispositivos que regulamentam a
de sua condição social: matéria estabelecem, em síntese, o seguinte:
XI – participação nos lucros, ou resultados, a) A PLR é um direito que deve ser negociado: isso
desvinculada da remuneração, e, excepcional- significa que a empresa não pode adotar unila-
mente, participação na gestão da empresa, con- teralmente um programa de PLR. Mas, por outro
forme definido em lei;” lado, o direito dos trabalhadores não é líquido e
certo. Tudo depende da negociação. Portanto,
Em dezembro de 1994, a participação dos trabalha- na prática, a PLR tornou-se um item obrigatório
dores nos lucros ou nos resultados das empresas foi re- da negociação, mas não um direito garantido.
gulamentada pela Medida Provisória (MP) n.º 794. Des- b) A PLR pode ser negociada no âmbito da empre-
de então, e por cerca de seis anos, o Executivo Federal sa (resultando em um acordo coletivo), ou no
editou sucessivas medidas provisórias que mantiveram âmbito do setor de atividade (resultando em uma
as linhas gerais da primeira regulamentação. Em convenção coletiva).
20/11/1998, uma parte da regulamentação contida nas c) Podem ser escolhidos diversos critérios para o
medidas provisórias foi incluída na Lei n.º 9.711. Final- pagamento da participação, desde o lucro
mente, em 19/12/2000, a MP da PLR foi totalmente contábil, até resultados econômicos não

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contábeis (como produtividade, market share a negociação, reconhece o sindicato como interlocutor,
etc.) e até mesmo resultados não econômicos leva a negociação para dentro da empresa, reduz encar-
(como redução do absenteísmo, melhoria da gos sobre a folha de pagamento e preconiza mecanis-
qualidade, aprimoramento da segurança no am- mos alternativos para a solução de impasses.
biente de trabalho, cumprimento de prazos etc.). A trajetória da conversão da MP em lei foi longa e
d) Os empregados escolhem representantes para for- difícil. Durante cerca de quatro anos, a regulamentação foi
mar uma comissão de negociação mantida apenas pelas sucessivas medidas
com a empresa e o sindicato dos tra- provisórias, editadas mensalmente pelo go-
A regulamentação
balhadores indica um representante verno. No segundo semestre de 1998, o
da PLR é uma legis-
para integrá-la (essa é uma inovação governo e os partidos políticos chegaram a
lação inovadora
da regulamentação, pois, em mui- um acordo sobre alguns pontos de uma tí-
para os padrões
tos casos, trouxe a negociação cole- mida reforma da previdência social. O acor-
brasileiros. É talvez
tiva para dentro da empresa, contri- do previa que o governo editaria uma medi-
um prenúncio da
buindo para o aprimoramento das da provisória com o texto negociado e em
reforma trabalhis-
relações de trabalho no Brasil). seguida o Congresso a converteria em lei,
ta defendida por
e) Por ser desvinculada da remune- consolidando aquela minirreforma da previ-
muitos...
ração, não se aplica à PLR o prin- dência. Fazia parte desse acordo que, da-
cípio da habitualidade (ela não se quela data em diante, o governo não mais
incorpora ao salário, mesmo quando paga re- utilizaria medidas provisórias para tratar de assuntos
petidamente por diversos períodos). previdenciários. Todas as matérias previdenciárias que, na-
f) Pela mesma razão, não incidem sobre a PLR os quele momento, estivessem contempladas em medidas
encargos, nem os trabalhistas nem os provisórias seriam incluídas na MP que em seguida seria
previdenciários. convertida em lei. Como a MP da PLR estabelecia que so-
g) A PLR não pode ser paga mensalmente. Deve bre a PLR não incidiam encargos previdenciários, essa par-
haver um intervalo de, no mínimo, seis meses te foi incluída na MP da previdência, que se transformou
entre os pagamentos. Essa restrição tem por na Lei n.º 9.711, de 20/11/1998. Essa lei passou a incluir
objetivo proteger a arrecadação do INSS, evi- uma parte importantíssima da regulamentação da PLR, no
tando que a PLR substitua o salário mensal. seu art. 20, que é transcrito a seguir:
h) Finalmente, a regulamentação permite que, em
caso de impasse na negociação, as partes utili- Lei n.º 9.711/98 (Lei da minirreforma da Pre-
zem a mediação ou a arbitragem, procedimen- vidência Social).
tos alternativos à Justiça do Trabalho. “Art. 20: A participação nos lucros ou resulta-
dos da empresa de que trata o artigo 7º, inciso
A regulamentação da PLR é uma legislação inova- XI, da Constituição Federal, na forma de lei es-
dora para os padrões brasileiros. É talvez um prenúncio pecífica, não substitui ou complementa a remu-
da reforma trabalhista defendida por muitos: privilegia neração devida a qualquer empregado, nem
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constitui base de incidência de qualquer encar- tos estabelecimentos brasileiros, trabalhadores e empre-
go previdenciário, não se lhe aplicando o princí- sários começam a perseguir resultados e metas comuns,
pio da habitualidade, desde que o pagamento para proveito mútuo e, em alguns casos, até para bene-
de qualquer antecipação ou distribuição de va- fício dos consumidores.
lores a esse título não se realize em periodicida- Quando adequadamente negociada, a PLR é
de inferior a um semestre.” paga apenas se as metas combinadas forem atin-
gidas. Dessa forma, o valor da participação pode
Embora pouco divulgada na época, a Lei n.º 9.711 acompanhar o ciclo de conjuntura. Na expansão das
garantiu o aspecto mais importante da PLR: a não inci- atividades, os resultados das empresas crescem e, com
dência de encargos previdenciários e a não incorporação eles, cresce o valor da participação. Nos momentos
ao salário. A partir daquela data, as empresas brasileiras de recessão, o nível de atividade é reduzido, assim
podiam adotar esse sistema de premiação, respaldadas como o valor da participação. Essa é uma inovação
em lei e não mais em Medida Provisória. Muitas empre- importante, porque a tradição trabalhista brasileira
sas surpreenderam-se e preocuparam-se porque, a partir sempre foi na direção oposta: nossas leis e nossa Jus-
daquela data, os textos das medidas provisórias da PLR tiça do Trabalho consideram o salário intocável e
(que eram reeditadas mensalmente) passaram a estabe- irredutível. Mas, como a PLR é formalmente
lecer que sobre ela não incidiam encargos trabalhistas e desvinculada da remuneração, as empresas podem
deixaram de mencionar a não incidência oferecer essa modalidade flexível de ren-
de encargos previdenciários. Ocorre que a ...a Lei n.º 9.711 da aos seus trabalhadores, sem temer
não incidência dos encargos previdenciários garantiu o aspecto que a Justiça do Trabalho imponha-lhes
tinha sido contemplada no já mencionado mais importante qualquer tipo de sanção.
art. 20 da Lei n.º 9.711. da PLR: a não inci- O outro forte incentivo para a PLR é o
Os demais aspectos da regulamenta- dência de encargos fato de que sobre ela não incidem encar-
ção continuaram sendo garantidos nas previdenciários e a gos trabalhistas nem previdenciários, exa-
medidas provisórias durante os dois anos não incorporação tamente porque ela é desvinculada da re-
seguintes, até que, finalmente, o Congres- ao salário. muneração. As medidas provisórias foram,
so converteu a matéria na Lei n.º 10.101 desde o início, explícitas em relação a esse
(a íntegra é apresentada no Anexo I). ponto. Delas, sempre constou a seguinte expressão, no
Os efeitos da regulamentação têm sido muito posi- caput do art. 3º: “A participação (...) não substitui ou
tivos. As medidas provisórias e agora a Lei n.º 10.101 complementa a remuneração devida a qualquer empre-
têm induzido muitas empresas a negociar diretamente gado, nem constitui base de incidência de qualquer en-
com seus empregados critérios e valores da participa- cargo trabalhista ou previdenciário, não se lhe aplican-
ção de cada um. Nas empresas onde é adotada, cria-se do o princípio da habitualidade”. Assim, a não incidên-
uma oportunidade para substituir o autoritarismo e o cia de encargos previdenciários foi contemplada na Lei
distanciamento pela negociação. Aos poucos, em mui- n.º 9.711/98 e a não incidência de encargos trabalhistas

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Guia da Poupança Participativa

foi garantida na Lei n.º 10.101/00. gas ao longo do ano) ou postergadas.


Para fins de imposto de renda, a PLR é rendimento A Lei n.º 10.101 estabelece que a PLR não pode
do trabalho e, portanto, sujeita ao pagamento de im- ser implantada por decisão unilateral da empresa, de-
posto de renda. De acordo com o art. 3°, parágrafo 5° vendo o programa ser ne-
da Lei n.º 10.101/00, a PLR “será tributada na fonte, gociado entre ela e repre- ...o pagamento via
em separado dos demais rendimentos recebidos no mês, sentantes de seus empre- PLR é muito menos
como antecipação do imposto de renda devido na de- gados. O texto legal ofe- oneroso para a em-
claração de rendimentos da pessoa física, competindo à rece à empresa e aos seus presa e não apresen-
pessoa jurídica a responsabilidade pela retenção e pelo empregados três formatos ta, do lado do traba-
recolhimento do imposto”. para a negociação: lhador, a desvanta-
Abaixo, o Gráfico I compara o custo para a empresa Negociação direta gem das parcelas
entregar R$ 100 líquidos para o trabalhador por meio da empresa com os diferidas (pagas ao
do pagamento em salário e por meio da PLR. No caso empregados, com longo do ano) ou
do pagamento na forma de salário, traz a parcela que o um representante postergadas.
trabalhador recebe imediatamente, líquida de imposto sindical que seja
de renda, a parcela que recebe ao longo do ano (férias e empregado da empresa e que trabalhe na sua
13º salário) e o pagamento postergado (FGTS). O gráfi- sede. Essa negociação tem como resultado um
co deixa claro que o pagamento via PLR é muito menos acordo coletivo.
oneroso para a empresa e não apresenta, do lado do Negociação direta da empresa com o sindicato.
trabalhador, a desvantagem das parcelas diferidas (pa- Os empregados são representados pelo sindica-

Gráfico I
Comparação entre
salário e PLR
(liberando R$ 100
líquidos para o
trabalhador)
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Facilitando o acesso dos trabalhadores ao mercado de capitais

to e não pela comissão de representantes. Essa facilmente o pagamento da PLR ao resultado de seus
negociação também tem como resultado um esforços. Além disso, os programas negociados direta-
acordo coletivo. mente entre empresas e empregados pagam prêmios
Negociação indireta, entre o sindicato patronal e o médios maiores do que os negociados no âmbito do
sindicato dos trabalhadores. A PLR é setor como um todo, o que também in-
negociada para todo o setor e não ...há um forte in- centiva a preferência dos trabalhadores pe-
apenas para uma empresa. O resulta- centivo econômico los acordos coletivos.
do dessa negociação é uma conven- para a negociação O resultado mais importante da re-
ção coletiva. direta (que resulta gulamentação da matéria no Brasil é a
em acordos coleti- flexibilidade do conceito da PLR. Empre-
Qual das estruturas de negociação é vos) em relação sas e trabalhadores podem escolher
preferida pelas empresas? De acordo com aos programas ne- com muita liberdade o tipo que melhor
Zylberstajn (2002, 2003a e 2003b), há um gociados no âmbi- atenda às especificidades de cada situação
forte incentivo econômico para a nego- to do setor como concreta. Não há na regulamentação
ciação direta (que resulta em acordos cole- um todo (conven- nenhuma restrição quanto aos critérios
tivos) em relação aos programas negocia- ções coletivas). e aos tipos de resultados, nem quanto
dos no âmbito do setor como um todo ao valor dos pagamentos. A empresa
(convenções coletivas). As empresas ten- pode, até mesmo, criar programas dis-
dem a preferir os acordos coletivos, pois neles é mais tintos para cada segmento do seu negócio e até para
fácil vincular a PLR a metas específicas (lucros ou resul- cada nível hierárquico. A única restrição é a periodi-
tados) que desejam alcançar. Essa vantagem também cidade dos pagamentos, que não pode ser menor
interessa aos trabalhadores, que podem associar mais do que seis meses.

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Guia da Poupança Participativa

4 Usando a PLR para criar a


Poupança Participativa
As empresas brasileiras estão usando a PLR cada vez
mais, incentivadas pela não incidência de encargos. Para
os trabalhadores, a PLR já representa uma parcela im-
portante da renda. De acordo com Zylberstajn (2003a),
a PLR alcança, em média, aproximadamente o equiva-
lente a um salário e meio. Isso significa que a PLR repre-
senta cerca de 10% da remuneração anual total, nas
empresas onde ela existe. Trata-se de uma fatia consi-
derável da renda dos trabalhadores. E é possível que
continue a crescer nos próximos anos.
Tendo alcançado esse patamar, e apresentando uma em casa própria ou para uma pequena reforma, ou seja,
provável tendência de crescimento, é inevitável que sur- não poderão ser facilmente poupados. Mesmo para os
ja a pergunta: por que não transformar a PLR, ou pelo trabalhadores de alta renda, muitas vezes a PLR destina-
menos uma parte dela, em poupança? Nos se para o consumo de bens ou serviços
próximos parágrafos, você verá algumas mais sofisticados, como a troca do mode-
...por que não
das possibilidades que as empresas e os lo do automóvel, férias etc.
transformar a PLR,
trabalhadores têm, se decidirem juntar o Por isso, utilizar a PLR como “poupan-
ou pelo menos
conceito da remuneração participativa ça participativa” exige um esforço maior
uma parte dela,
com a proposta de formar poupanças para dos envolvidos – empresas e representan-
em poupança?
os trabalhadores. A essa idéia damos o tes dos trabalhadores –, que devem estar
nome de Poupança Participativa. convictos da conveniência de destinar uma
A principal dificuldade para vincular os recursos da parte dos recursos para a poupança e, principalmente,
PLR à formação de poupança para os trabalhadores é a acreditarem que a PLR é um boa oportunidade para isso.
própria dificuldade de se poupar. Para os trabalhadores A proposta da BOVESPA de vincular a PLR à formação
de baixa renda, os recursos da PLR são utilizados, mui- de poupança tem, como princípios básicos, a voluntariedade
tas vezes, para o suprimento de suas necessidades bási- da adesão aos programas, a ampla negociação com os tra-
cas, para a quitação de uma dívida, para dar entrada balhadores para atender às diferentes categorias e a criação

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Facilitando o acesso dos trabalhadores ao mercado de capitais

de vantagens para os produtos estruturados em relação à planos de previdência, Fapi e VGBL.


aquisição direta de produtos similares no mercado.
Obviamente, o sucesso do programa depende ainda Entretanto, para a maior parte dos trabalhadores,
da percepção, pela empresa, da existência de vantagens esses produtos ainda parecem muito complexos e dis-
na adoção de programas de Poupança Participativa, em tantes de suas possibilidades financeiras. O sucesso da
vez de limitar sua atuação ao simples pagamento da PLR. adesão dos trabalhadores será tanto maior quanto maior
No caso específico das empresas de capital aberto, a for sua participação no processo, quanto maior seu
vinculação da PLR à compra de ações da própria companhia entendimento do programa e do produto e quanto maior
associa diretamente os interesses dos trabalhadores aos in- a criação de incentivos em relação aos produtos simila-
teresses da empresa, ao mesmo tempo em que constitui res disponíveis no mercado. Dessa forma, produtos que
uma forma de remuneração que não exige desembolso de antes pareciam complicados e distantes da realidade do
caixa por parte da empresa. Consiste, portanto, numa “via trabalhador tornam-se simples, claros e alcançáveis.
de mão dupla” em que tanto a empresa quanto os funcio- O primeiro passo para o sucesso da iniciativa proposta
nários sentem-se motivados e beneficiados pelo programa. é informar os trabalhadores em relação aos produtos aqui
Porém, mesmo no caso de empresas de capital fecha- apresentados. Os planos de opções, por exemplo, são uma
do, a possibilidade de vincular um “prêmio” pelo desem- alternativa sofisticada de investimento, praticamente des-
penho a uma remuneração associada ao futuro, como conhecida do público em geral. Já os clubes de investi-
ocorre com planos de previdência, por exemplo, pode ser mento, se por um lado têm funcionamento parecido com
uma oportunidade de demonstrar que a empresa tem um um fundo de investimento, por outro exigem dos partici-
compromisso de longo prazo com seus trabalhadores. pantes um papel muito mais ativo de acompanhamento
O mercado financeiro oferece ampla variedade de “pro- ou até gestão do mesmo. Finalmente, os planos de previ-
dutos” nos quais os trabalhadores poderiam aplicar os re- dência e similares, apesar de possuírem concepção sim-
cursos da PLR. Entretanto, nem todos esses produtos estão ples, apresentam características tributárias que, além de
disponíveis ao pequeno investidor e nem todos permitem serem diferentes das demais aplicações financeiras, são
explorar a mencionada “via de mão dupla”. Para tanto, a quase desconhecidas da maior parte dos trabalhadores.
BOVESPA selecionou alguns produtos nos quais a participa- As Medidas Provisórias n.os 206 e 209 propõem al-
ção da empresa permite redução de custos ou aumento de terações significativas na forma de tributação sobre
rentabilidade para os investimentos dos trabalhadores, de ações, clubes de investimento e planos de previdência.
maneira a atrair seu interesse e possibilitar o reconhecimen- Em função de as Medidas Provisórias ainda não terem
to pelo esforço despendido pela empresa. Os produtos que sido convertidas em lei e poderem sofrer alterações no
apresentaram essas características foram: Congresso e Senado, optou-se por retirar as questões
planos de opção de compra de ações da pró- tributárias desta publicação e editar um adendo tributá-
pria empresa1; rio a este Guia, assim que as medidas provisórias sejam
cotas de clubes de investimento; e convertidas em lei.

1
Alternativa viável somente para as empresas de capital aberto.

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Guia da Poupança Participativa

4.1 Distribuição de ações aos funcionários

A utilização dos recursos da PLR na aquisição de ações pode adquiri-las no mercado exclusivamente median-
da própria empresa é um mecanismo interessante para te a utilização de lucros ou reservas (exceto a reserva
promover a participação dos trabalhadores nos lucros sem legal), se o estatuto social atribuir ao Conselho de
que a empresa incorra em desembolso de Administração o poder de autorizar a
caixa. Além disso, ajuda a criar uma forte negociação com as ações emitidas
...a maneira mais
identidade entre os interesses das empre- (Coelho, 2003:122 e 170). Vale ressaltar
fácil de viabilizar
sas e de seus funcionários. que a aquisição por companhia aberta de
um programa de
A Lei das Sociedades por Ações não ações de sua própria emissão deve ser
distribuição de
prevê a distribuição direta de ações aos fun- comunicada aos investidores por meio da
ações aos empre-
cionários como forma de remuneração. publicação de fato relevante.
gados é a utiliza-
Uma emissão de ações que busque isso está A segunda forma de concessão de
ção do mecanismo
sujeita ao exercício de preferência pelos opções de compra aplica-se aos casos em
de opções de com-
demais acionistas e a um registro de distri- que a sociedade anônima não possui
pra de ações.
buição pública. Por outro lado, a utilização ações em tesouraria em montante sufi-
para esse fim de ações em tesouraria é di- ciente para atender ao volume de exer-
ficultada pela exigência de realização de operações em cício das opções. Nesse caso, a companhia emite as
bolsas de valores, conforme a Instrução CVM n.º 10. ações, realizando o aumento de capital corresponden-
Dessa forma, a maneira mais fácil de viabilizar um te, sujeita às seguintes condições: a) autorização
programa de distribuição de ações aos empregados é a estatutária para a outorga da opção; b) aprovação,
utilização do mecanismo de opções de compra de ações. em Assembléia Geral, de um Plano de Concessão; c)
Duas formas estão previstas na Lei das S.A.s para a capital autorizado, já que a emissão de ações, para o
concessão das opções. Na primeira, a empresa entrega exercício de opções outorgadas a funcionários, deve
opções de compra aos funcionários e atende ao exercí- se acomodar ao limite do mesmo. Nessas condições,
cio com ações de sua emissão, em tesouraria, sem que os acionistas não terão direito de preferência na subs-
disso decorra aumento de capital social. Como nesse crição dessas ações (ibidem:171).
caso não há nova emissão, pois as ações já pertencem à De acordo com a Instrução CVM n.º 323/00, art. 1°,
empresa, não há conflito com o direito de preferência inciso XII, a CVM não considera abuso do poder de con-
dos demais acionistas. A empresa pode manter em te- trole a outorga, em companhias abertas, de opção de
souraria até 10% das ações em circulação e somente compra de ações quando estas representam um meio

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Facilitando o acesso dos trabalhadores ao mercado de capitais

de efetivo comprometimento dos beneficiários com a correção do preço de exercício.


obtenção de resultados da empresa, não acarretando Ajustamento do Preço – especifica as regras de
prejuízo para a mesma ou para os acionistas minoritários ajustamento do preço de exercício no caso de
(ibidem:171). desdobramento, grupamento, bonificação, pa-
gamento de dividendos, de juros sobre o capi-
Plano de concessão tal próprio etc.
Conforme mencionado, a empresa que planeja fa- Exercício da Opção – estabelece o prazo de ca-
zer frente ao exercício das opções por meio de emis- rência para o exercício das opções, se o exercí-
são de novas ações deve elaborar um Plano de Con- cio poderá ser parcial ou apenas total e as res-
cessão e aprová-lo em Assembléia Geral. De maneira trições ao exercício em função da proximidade
geral, os planos de concessão são constituídos pelos de divulgação de fatos relevantes.
seguintes itens: Inalienabilidade das Opções – companhias, ge-
Objetivo do Plano – apresenta os motivos que ralmente, proíbem a alienação de opções.
levam a empresa a implementar o plano de op- Alienação das Ações – especifica a carência para
ções para atender, da melhor forma, o interesse a venda das ações, bem como o possível direito
dos acionistas. de preferência da companhia na compra das
Administração do Plano – apresenta a forma de ações (em condições favorecidas ou não, depen-
organização do Comitê de Administração do pla- dendo do prazo desde o exercício).
no, bem como suas responsabilidades. Tais co- Término do Contrato de Trabalho – define a
mitês são, geralmente, formados por membros validade ou não das opções não exercidas até
do Conselho de Administração e, em alguns ca- a data do desligamento da empresa, especi-
sos, também incluem acionistas da empresa. ficando se o funcionário terá direito de exer-
Funcionários Elegíveis – define o grupo de fun- cer aquelas que já tenham prazo de carência
cionários que participam do plano específico. vencido.
Ações Objeto do Plano – especifica o número Falecimento ou Invalidez Permanente – defi-
de ações objeto do plano e a espécie. ne, geralmente, prazo para que herdeiros ou
Preço de Exercício – define a forma de cálculo funcionário vítima de invalidez exerçam todas
do preço de exercício. No caso de empresas as opções.
negociadas em bolsa é comum estabelecer o Aposentadoria – define critério e prazo para o
preço de exercício como a média (ou média exercício das opções de posse do funcionário
ponderada por volume) de certo número de em caso de aposentadoria.
pregões que imediatamente precedem a data Data de Vigência e Término do Plano – estabe-
de aprovação do Plano de Concessão. Tam- lece a data a partir da qual o plano entra em
bém é comum, nos casos de opções com ca- vigor e o prazo para seu término ou critérios
rência de longo prazo (cinco a dez anos), o para a extinção do plano por parte da Assem-
estabelecimento de índice de preço para a bléia Geral, como fusão, reorganização
15
Guia da Poupança Participativa

societária, venda etc. aos funcionários em período anterior ao pagamento da


Não Interferência na Relação de Emprego ou PLR, com exercício a partir do dia do pagamento. Tam-
de Mandato – cláusula que busca frisar que a bém é possível estabelecer algum incentivo adicional para
posse das opções não interfere, de maneira al- que parte ou a totalidade dos recursos da PLR seja utili-
guma, nas condições legais e contratuais do zada efetivamente no exercício das opções cujo prazo
funcionário. de carência já tenha sido atingido. Uma possibilidade é
Disposições Diversas e Complementares – defi- oferecer, aos funcionários que utilizarem a PLR, um lote
ne outras cláusulas que a empresa entenda maior de opções nos programas seguintes, proporcio-
ser prudente acrescentar para evitar dispu- nal à porcentagem da PLR utilizada no exercício ou, ain-
tas judiciais. da, um desconto no preço de exercício ou redução no
prazo de carência para a venda das ações para aqueles
Incentivos à utilização da PLR no que utilizarem acima de determinada porcentagem da
exercício de opções PLR no exercício de opções. Cabe às empresas e aos
Para incentivar a utilização da PLR na aquisição de funcionários definirem os incentivos mais adequados aos
ações, a empresa deve realizar a concessão de opções seus interesses.

4.2 Aplicações em clubes de investimento


As empresas interessadas em estimular a aplicação O clube de investimento é um condomínio cons-
dos recursos da PLR no mercado de capitais também tituído por pessoas físicas que têm como objetivo co-
podem incentivar a formação de clubes mum aplicar recursos em títulos e valo-
de investimento pelos seus funcionários. ...vantagem de per- res mobiliários. Apresenta a vantagem
As empresas poderão ter participação ati- mitir a redução dos de permitir a redução dos custos de cus-
va nesse processo, liderando a formação custos de custódia, da tódia, da taxa de corretagem e de
do clube e executando todas as etapas da taxa de corretagem e emolumentos e de possibilitar uma me-
criação do mesmo, ou podem ser passi- de emolumentos e de lhor alocação e diversificação dos inves-
vas, apenas acompanhando a formação possibilitar uma me- timentos, dado o volume significativo de
do clube por parte dos funcionários. O clu- lhor alocação e diver- recursos que um clube pode atingir.
be pode ser voltado para a aplicação em sificação dos investi- Além disso, a reunião de um grupo de
um conjunto diversificado de ativos finan- mentos... pessoas com objetivo comum permite a
ceiros ou exclusivamente para a aquisição divisão do trabalho de acompanhamen-
de ações da própria empresa onde trabalham os mem- to dos investimentos e a discussão das melhores es-
bros do clube, desde que se trate de companhia aberta. tratégias a serem seguidas pelo grupo.
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Facilitando o acesso dos trabalhadores ao mercado de capitais

Requisitos para constituição de clube de Adesão ao Estatuto”. Nenhum membro do clube pode-
investimento rá deter mais de 40% do total de cotas.
Para a constituição de um clube de investimento é
necessário um número mínimo de três participantes e Carteira
um número máximo de 150. Entretanto, esse limite pode O gestor de carteira do clube de investimento de-
ser ultrapassado no caso de clubes de investimento for- verá aplicar, no mínimo, 51% dos recursos em renda
mados por funcionários de uma mesma entidade, em- variável2. O restante dos recursos, representando 49%
presa ou qualquer grupo de sociedade. do patrimônio do clube, poderá ser aplicado em ren-
Os participantes do clube de investimento são obriga- da fixa (cotas de fundos de renda fixa e títulos de
dos a contratar um administrador para o clube, elaborar o renda fixa) e, caso haja previsão no estatuto social,
estatuto, escolher um representante ou membros do conse- em derivativos, limitado a 30% do valor da carteira
lho de representantes e realizar pedido de registro do clube de ações do clube.
na BOVESPA. A gestão do clube de investimento pode ser Para mais informações a respeito de clubes de in-
realizada pelos próprios integrantes, pelo administrador ou vestimento, vale a pena consultar as publicações dispo-
por outro profissional de gestão contratado para esse fim. níveis para download no site da BOVESPA e também as
Os recursos aportados ao clube de investimento são informações disponíveis no site do Instituto Nacional de
representados por cotas de igual valor, mantidas em Investidores (INI), que publicou o livro Como Constituir
contas de depósito, em nome de seus titulares. Após e Administrar um Clube de Investimento Rentável, o qual
sua constituição, o clube de investimento pode aceitar apresenta um modelo de análise de ações voltado para
novos membros, mediante assinatura do “Termo de o investidor iniciante.

4.3 Aplicação dos recursos da PLR em


planos de previdência complementar
Os recursos da PLR também podem ser aplicados pelas gramada Individual (Fapi), oferecidos por instituições fi-
empresas e trabalhadores em planos de previdência com- nanceiras; ou do Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL),
plementar, oferecidos por entidades abertas ou fechadas oferecido por seguradoras. O princípio dessas três alter-
de previdência complementar; ou produtos da mesma nativas é o mesmo, ou seja, acumulação de recursos
natureza, como é o caso do Fundo de Aposentadoria Pro- durante um período para o recebimento de um bene-

2
Mais precisamente, ações, bônus de subscrição, debêntures conversíveis em ações de emissão de companhias abertas adquiridas em bolsa de valores ou no mercado de
balcão organizado ou durante período de distribuição pública ou ainda adquiridas de empresas em processo de privatização, cotas de fundos de investimento em ações
distribuídas por instituições autorizadas pela CVM, desde que as carteiras dos referidos fundos atendam também ao percentual de aplicação referido acima.
17
Guia da Poupança Participativa

fício no futuro. Esse benefício pode ser pago a vista ou (fundos multipatrocinados) ou comprar plano de previdên-
na forma de renda mensal, vitalícia ou temporária. cia de entidades abertas de previdência complementar ou
À primeira vista, os planos de previdência são muito de bancos, que oferecem, respectivamente, PGBL e Fapi.
parecidos com os fundos de investimento. Entretanto, É importante destacar que os planos de segurado-
duas diferenças importantes devem ser destacadas. Em ras (VGBL), até o presente momento, não podem rece-
primeiro lugar, os planos de previdência têm a finalida- ber contribuições patronais. Entretanto, a MP n.° 209,
de de garantir determinado padrão de vida a seu contri- caso aprovada sem modificações, elimina essa restrição3.
buinte a partir da aposentadoria. Em segundo lugar, em O fim da restrição significaria um enorme incentivo à
decorrência de serem planos voltados para aposenta- grande maioria dos trabalhadores, dado que mais de
doria, foram concedidas vantagens tributárias significa- 90% dos contribuintes fazem a declaração simplificada
tivas em relação aos fundos de investimento, o que gera do imposto de renda, ou seja, não podem se beneficiar
uma estrutura de tributação mais complexa. do abatimento de 12% da renda bruta no momento da
A Medida Provisória n.° 209 alterou significativamente aplicação, oferecido nos demais planos, mas são tribu-
a tributação sobre planos de previdência. Entretanto, ainda tados no resgate ou percepção do benefício como se
não se sabe quais alterações ocorrerão após a conversão tivessem se beneficiado do abatimento.
da MP em lei. Por hora, a principal característica que deve No segundo caso, o de planos individuais, o traba-
ser explicitada do ponto de vista tributário é a diferença lhador adere a fundos de pensão criados por sindicatos,
básica entre o VGBL e todos os demais planos de previ- associações e entidades de classe (chamados fundos de
dência ou Fapi. Nestes, o aplicador pode abater até 12% instituidores) ou a PGBL, VGBL e Fapi, oferecidos pelas
de sua renda bruta em aplicações em planos de previ- instituições mencionadas acima. Nesse caso, somente o
dência. Em compensação, no momento do resgate ou trabalhador realiza contribuições ao plano.
recebimento do benefício, pagarão imposto sobre o va- As empresas e trabalhadores devem analisar cuidado-
lor total recebido. Já o VGBL é voltado para os aplicadores samente as opções disponíveis, podendo inclusive adotar
que fazem declaração simplificada de imposto de renda, soluções diferentes para categorias profissionais diversas.
uma vez que não permite o abatimento das contribui- Montar um fundo próprio envolve custos, riscos, tempo e
ções ao plano. Em compensação, no momento do resga- conhecimento técnico muito superiores à simples adesão,
te ou recebimento do benefício, a tributação incide so- por exemplo, a um PGBL oferecido no mercado. Entretan-
mente sobre os rendimentos do plano. to, pode representar economia em taxa de administração
Os planos de previdência podem ser empresariais ou e maior autonomia para gerir a carteira de investimentos e
individuais. No primeiro caso, a empresa pode montar um para oferecer produtos a funcionários (como o financia-
fundo próprio (conhecido como fundo de pensão ou fun- mento à compra de bens ou casa própria) que podem com-
do fechado), aderir a um fundo fechado de outra empresa pensar o esforço despendido na sua criação.

3
A Medida Provisória n.° 209 elimina essa proibição ao estabelecer, no art. 4°, que a pessoa jurídica poderá abater suas contribuições ao VGBL das despesas operacionais até
o limite de 20% da folha de salários do pessoal vinculado ao plano. Entretanto, até o momento, não se sabe se essa vantagem será mantida com a conversão da MP em lei.

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Facilitando o acesso dos trabalhadores ao mercado de capitais

5 Considerações finais
A adoção da PLR por parte das empresas vem cres-
cendo nos últimos anos, fruto de uma legislação flexível ...a PLR deixou de
e da conscientização de empresas e trabalhadores em ser um simples
relação às vantagens dessa forma de premiação. Para as ônus para se tornar
empresas, a PLR deixou de ser um simples ônus para se um interessante
tornar um interessante instrumento de gestão de pes- instrumento de
soal. Para os trabalhadores, representa a oportunidade gestão de pessoal.
de participar dos resultados da empresa, para os quais
contribui com o esforço de seu trabalho.
A BOVESPA vem trabalhando intensamente na di-
fusão dos conceitos do mercado de capitais para a po-
pulação brasileira e no incentivo a mecanismos que fa-
cilitem o acesso do pequeno investidor a esse mercado.
Nesse sentido, a PLR pode representar, além de um im- ...a PLR contribui
portante avanço nas relações capital-trabalho, uma ma- para a democratiza-
neira de viabilizar a participação voluntária dos traba- ção do mercado de
lhadores no capital das empresas. Seja por meio de pla- capitais brasileiro.
nos de previdência, clubes de investimento ou ações da
própria empresa, a PLR contribui para a democratização
do mercado de capitais brasileiro.

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Guia da Poupança Participativa

Referências bibliográficas

COELHO, Fabio Ulhoa; Curso de Direito Comercial,


vol. 2. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
ZYLBERSTAJN, Hélio; “The Brazilian Case:
Performance Pay as Workers´ Right”, in Brown, Michelle
e John S. Heywood (organizadores), Paying for
Performance – An International Comparison, pp. 236-
260; M. E. Sharpe, 2002.
______________, Hélio, “Participação dos emprega-
dos nos lucros ou nos resultados das empresas – um
balanço da negociação: 1995-2002”, in Chahad, José
Paulo Zeetano e Paulo Pichetti (organizadores), Mercado
de Trabalho no Brasil – Padrões de Comportamento e
Transformações Institucionais; pp. 401-447, FIPE-MTE-L
Tr, 2003a.
______________, Hélio, “A PLR e o mercado de ca-
pitais – desenhando a poupança participativa”, in
Chahad, José Paulo Zeetano e Paulo Pichetti
(organizadores), Mercado de Trabalho no Brasil – Padrões
de Comportamento e Transformações Institucionais;
pg. 449-487, FIPE-MTE-L Tr, 2003b.

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Facilitando o acesso dos trabalhadores ao mercado de capitais

Anexo I

Lei n.º 10.101, de 19 de dezembro de 2000 ção dos direitos substantivos da participação e das re-
Dispõe sobre a participação dos trabalhadores gras adjetivas, inclusive mecanismos de aferição das in-
nos lucros ou resultados da empresa e dá ou- formações pertinentes ao cumprimento do acordado,
tras providências periodicidade da distribuição, período de vigência e pra-
zos para revisão do acordo, podendo ser considerados,
Faço saber que o Presidente da República adotou entre outros, os seguintes critérios e condições:
a Medida Provisória nº 1.982-77, de 2000, que o I - índices de produtividade, qualidade ou
Congresso Nacional aprovou, e eu, Antonio Carlos lucratividade da empresa;
Magalhães, Presidente, para os efeitos do disposto no II - programas de metas, resultados e prazos, pac-
parágrafo único do art. 62 da Constituição Federal, pro- tuados previamente.
mulgo a seguinte Lei: § 2o O instrumento de acordo celebrado será arqui-
vado na entidade sindical dos trabalhadores.
Art. 1o Esta Lei regula a participação dos trabalha- § 3o Não se equipara a empresa, para os fins desta Lei:
dores nos lucros ou resultados da empresa como instru- I - a pessoa física;
mento de integração entre o capital e o trabalho e como II - a entidade sem fins lucrativos que, cumulativamente:
incentivo à produtividade, nos termos do art. 7o, inciso a) não distribua resultados, a qualquer título,
XI, da Constituição. ainda que indiretamente, a dirigentes, ad-
Art. 2o A participação nos lucros ou resultados será ministradores ou empresas vinculadas;
objeto de negociação entre a empresa e seus emprega- b) aplique integralmente os seus recursos em
dos, mediante um dos procedimentos a seguir descri- sua atividade institucional e no País;
tos, escolhidos pelas partes de comum acordo: c) destine o seu patrimônio a entidade
I - comissão escolhida pelas partes, integrada, tam- congênere ou ao poder público, em caso
bém, por um representante indicado pelo sindi- de encerramento de suas atividades;
cato da respectiva categoria; d) mantenha escrituração contábil capaz de com-
II - convenção ou acordo coletivo. provar a observância dos demais requisitos des-
§ 1o Dos instrumentos decorrentes da negociação te inciso, e das normas fiscais, comerciais e de
deverão constar regras claras e objetivas quanto à fixa- direito econômico que lhe sejam aplicáveis.

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Guia da Poupança Participativa

Art. 3o A participação de que trata o art. 2o não § 1o Considera-se arbitragem de ofertas finais aquela
substitui ou complementa a remuneração devida a qual- em que o árbitro deve restringir-se a optar pela proposta
quer empregado, nem constitui base de incidência de apresentada, em caráter definitivo, por uma das partes.
qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o § 2o O mediador ou o árbitro será escolhido de co-
princípio da habitualidade. mum acordo entre as partes.
§ 1o Para efeito de apuração do lucro real, a pessoa § 3o Firmado o compromisso arbitral, não será ad-
jurídica poderá deduzir como despesa operacional as mitida a desistência unilateral de qualquer das partes.
participações atribuídas aos empregados nos lucros ou § 4o O laudo arbitral terá força normativa, indepen-
resultados, nos termos da presente Lei, dentro do pró- dentemente de homologação judicial.
prio exercício de sua constituição. Art. 5o A participação de que trata o art. 1o desta Lei,
§ 2o É vedado o pagamento de qualquer antecipação relativamente aos trabalhadores em empresas estatais, ob-
ou distribuição de valores a título de participação nos lucros servará diretrizes específicas fixadas pelo Poder Executivo.
ou resultados da empresa em periodicidade inferior a um Parágrafo único. Consideram-se empresas estatais
semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo ano civil. as empresas públicas, sociedades de economia mista,
§ 3o Todos os pagamentos efetuados em decorrên- suas subsidiárias e controladas e demais empresas em
cia de planos de participação nos lucros ou resultados, que a União, direta ou indiretamente, detenha a maio-
mantidos espontaneamente pela empresa, poderão ser ria do capital social com direito a voto.
compensados com as obrigações decorrentes de acor- Art. 6o Fica autorizado, a partir de 9 de novembro de
dos ou convenções coletivas de trabalho atinentes à 1997, o trabalho aos domingos no comércio varejista em
participação nos lucros ou resultados. geral, observado o art. 30, inciso I, da Constituição.
§ 4o A periodicidade semestral mínima referida no § Parágrafo único. O repouso semanal remunerado
o
2 poderá ser alterada pelo Poder Executivo, até 31 de deverá coincidir, pelo menos uma vez no período máxi-
dezembro de 2000, em função de eventuais impactos mo de quatro semanas, com o domingo, respeitadas as
nas receitas tributárias. demais normas de proteção ao trabalho e outras previs-
§ 5o As participações de que trata este artigo serão tas em acordo ou convenção coletiva.
tributadas na fonte, em separado dos demais rendimen- Art. 7o Ficam convalidados os atos praticados com
tos recebidos no mês, como antecipação do imposto de base na Medida Provisória no 1.982-76, de 26 de outu-
renda devido na declaração de rendimentos da pessoa bro de 2000.
física, competindo à pessoa jurídica a responsabilidade Art. 8o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
pela retenção e pelo recolhimento do imposto.
Art. 4o Caso a negociação visando à participação
nos lucros ou resultados da empresa resulte em impasse,
as partes poderão utilizar-se dos seguintes mecanismos Congresso Nacional, em 19 de dezembro de 2000;
de solução do litígio: 179o da Independência e 112o da República.
I - mediação; Senador ANTONIO CARLOS MAGALHÃES
II - arbitragem de ofertas finais. Presidente
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Facilitando o acesso dos trabalhadores ao mercado de capitais

ATENÇÃO
Este texto não é uma recomendação de investimento.
Para mais esclarecimentos, sugerimos a leitura de outros folhetos editados pela BOVESPA.
Procure sua Corretora. Ela pode ajudá-lo a avaliar os riscos e benefícios potenciais das negociações
com valores mobiliários.
Publicação da Bolsa de Valores de São Paulo. É expressamente proibida a reprodução de parte ou da
totalidade de seu conteúdo, mediante qualquer forma ou meio, sem prévia e formal autorização, nos
termos da Lei n.º 9.610/98.

Impresso em novembro/2004.

23
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