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Carta al rei

NO ANO DA GRAÇA DE 1730

Vossa majestade, D.João V


Eu, Padre António Sanchez, me encontro em São Salvador da Bahia, num
navio embarcado de África, e eu como um Padre Jesuíta, sendo fiel servo de
meu Deus, não posso ocultar a minha verdade.
Vos escrevo este meu depoimento com mui gran pesar , pois sei que não é
favorável ao nosso Senhor Cristo Jesus, el ambiente em que os escravos
chegam até vós, Minha Excelência!
De maneira desgraçada, precária e insatisfatória vêm os seus vassalos,
meus olhos tremem de horror e gran tristeza. Que dirá meu Salvador
Cristo Jesus, quando vir esta situação?
Pessoas que são merecedoras do direito de suas liberdades, porém são
presas como a um cativeiro e privadas de viver liberalmente, tratadas como
animais e destinadas a uma vida de escravidão. Tais pessoas, são
desonradas e desmerecidas, chicoteadas dia e noite sem parar, forçados a
comer até nom conseguirem mais, de maneira a que cheguem fortificados
ao destino e prontos para serem comercializados. Perdoe, meu Rei, minha
ousadia, mas atenta os teus ouvidos ao meu clamor a ti, Ó senhor. Sê
misericordioso para com estas pessoas e age em favor delas.
Vi, também, per outro lado, crianças morrendo per falta de água, outros,
sejam eles homens ou mulheres, perecendo por doenças maliciosas, que
infectou a um membro da tripulação, meus ouvidos queimam quando me
lembro dos gritos de socorro e angústia daquele povo.
Os insetos vivem entre eles, e com gran certeza o seu alimento mais
querido é o doloroso grito e as profundas lágrimas de dores dos cativos.
A ferrugem das algemas transferia para as suas mãos de tão gastas que
estavam, em caso de viagens mais longas, presos ficam, por mais de 2
meses dentro daquele cativeiro.

Vossa Majestade e seus


súbitos têm destratado as criaturas feitas per Deus, o nosso criador, e para
confirmar minha defesa e autoridade, meu Rei, nas Sagradas Escrituras,
assim diz: “Toda a lei se cumpre numa só palavra, a saber: Amarás o teu
próximo como a ti mesmo”. (gálatas 5:14)
Vós julgais que estas pessoas são animais, que não pensam, questionam a
anatomia de seus corpos, perguntando-se uns aos outros: “estes sequer têm
discernimento, cérebro…?”, porém são tão feituras de Deus tanto quanto
vós.
Novamente, Vossa Alteza, perdoe minha perseverança no discurso, todavia,
sendo quem eu sou não apoio este tráfico, isto vai completamente contra os
princípios cristâos, quão desprezível é negociar pessoas em busca de
riquezas!
Quantas maneiras há para comercializar, sem ter que apartar as
liberdades de outrem!
Apronto agora a minha razão!

Saudações, al Magnânimo
Minha excelência

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