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^ j ç ã o _ 2 : A ç L Q r i g e n s da^JInquisição^
"Mais vale absolver culpados do que, por excessiva severidade, atacara vida de In
centes... A mansidão mais convém aos homens da Igreja do que a dureza... Não queiras se
justo demais (noli nimium e s s e iustus)"
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C U R S O D E H I S T O R I A DA I G R E J A
^ , _—.— —
de Viena (França) em 1311 mandou outrossim que os inquisidores só recorressem à tortura
depois que uma comissão julgadora e o bispo diocesano a houvessem aprovado para c a d a caso
em particular. - Apesar de tudo que a tortura apresenta de horroroso, ela tem sido conciliada com
a mentalidade do mundo moderno...; ainda e s t a v a oficialmente em uso na França do séc. XVIII e
^ e m sido aplicada até m e s m o em nossos dias...
Quanto à pena de morte, reconhecida pelo antigo Direito Romano, estava em vigor na
jurisdição civil da Idade Média. S a b e - s e , porém, que a s autoridades eclesiásticas eram contrárias
à s u a aplicação em c a s o s de lesa-religião. Contudo, após o surto do catarismo (séc. X I ) , algun
canonistas começaram a julgá-la oportuna, apelando para o exemplo do Imperador Justiniano
que no séc. VI a infligira aos maniqueus. E m 1199 o P a p a Inocêncio III dirigia-se aos magistrados
de Viterbo nos seguintes termos:
"Conforme a lei civil, os réus de lesa-majestade são punidos com a pena capital e seus
bens são confiscados... Com multo mais razão, portanto, aqueles que, desertando a fé, ofendem
a Jesus, o Filho do Senhor Deus, devem ser separados da comunhão cristã e despojados de
seus bens, pois multo mais grave é ofendera Majestade Divina do que lesara majestade huma
na" (epist 2,1).
•""""'^""Os teólogos e canonistas da época s e empenharam por justificara nova praxe; eis como o
fazia S . Tomás de Aquino:
"É multo mais greve corrompera fé, que é a vida da alma, do que falsificara moeda, queé
um melo de prover ã vida temporal. Se, pois, os falsificadores de moedas e outros malfeitores
são, a bom direito, condenados à morte pelos príncipes seculares, com multo mais razão os
hereges, desde que sejam comprovados tais, podem não somente ser excomungados, mas tam
^--^.^^MéW toda justiça ser condenados à morte" [Suma Teológica ///// 11, 3c).
' A argumentação do S . Doutor procede do princípio (sem dúvida, autêntico em si) de que a
/
vida da alma mais vale do que a do corpo; s e , pois, alguém pela heresia ameaça a vida espiritua
do próximo, comete maior miai do que quem a s s a l t a a vida corporal; o bem comum então exige a
i ^jemoçãqjJo^^rave pexigo (veja-se também S . Teci. I l/l 111, 4 c ) .
I Contudo a s execuções capitais não foram tão numerosas quanto s e poderia crer. Infeliz
,ímente faltam-nos estatísticas completas sobre o assunto; consta, porém, que o tribunal de Pamiers
^de 1303 a 1324, pronunciou 75 sentenças condenatórias, das quais_apenas_cánco-raanda^íai
entregaLaiéuao.poder civil (^^ de Gui em Tolosa, de
1308 a 1323, proferiu 930 sentenças, d a s quais 42 eram capitais; no primeiro c a s o , a proporção
é d e 1/15; no segundo c a s o , de 1/22.
Não s e poderia negar, porém, que houve injustiças e abusos da autoridade por parte dos
juizes inquisitoriais. Tais males s e devem à conduta de p e s s o a s que, em virtude da fraqueza
C U R S O D E HISTÓRIA DA I G R E J A
I um lado, e cristãos, do outro lado. Leão III tinha índole fortemente absolutista e oesaropapista
f dizia textualmente que e r a "Imperador e sacerdote"; devia, portanto, subordinar ao s e u poder
J Igreja e, em particular, os monges, sempre ciosos da liberdade. Quem considera esta tendência
do Imperador, há de reconhecer que a defesa das imagens por parte dos católicos era não somen
te uma questão de ortodoxia, mas também o desejo de afirmar a independência da Igreja frente a
despotismo imperial.
L i ç ã o 2 : A luta a r d e n t e
Por conseguinte, em 726 Leão III investiu contra a s imagens por palavras e gestos violen
tos. Procurou o apoio do Patriarca Germano de Constantinopla, que lhe resistiu. E s c r e v e u tam
bém ao P a p a Gregório II, ameaçando depô-lo, c a s o defendesse a s imagens. Gregório em dua
cartas condenou a conduta do Imperador, dizendo-lhe que a questão era d a competência do
bispos. Ao saberem da imposição do Imperador, a s populações do Norte d a Itália teriam eleit
novo Imperador s e o P a p a não a s tivesse dissuadido. Havia na época motivos de animosidad
entre bizantinos e ocidentais: o Imperador a c a b r u n h a v a de impostos a Itália; mais de uma vez
funcionários do Imperador haviam atentado contra a vida do Papa; Gregório li, porém, manteve-s
leal e exortou os italianos à sujeição. Também os habitantes da Grécia s e revoltaram, proclaman
do um anti-Imperador, C o s m a s ; mandaram a Constantinopla uma frota numerosa, que foi vencid
com s e u s chefes. Isto t u d o ^ ó contribuía para irritar c a d a vez mais o Imperador.
"~ O Concílio convocado pelo Imperador reuniu-se em 754 e em Constantinopla com a presen
ça de 338 bispos, s e m o P a p a nem os Patriarcas orientais. Declarou o culto das imagens obra d
Satã, e nova idolatria. Tal Concílio não era legítimo; por isto, foi excomungado pelo P a p a Estêvã
III em 769. E m consequência, a perseguição aos fiéis ortodoxos s e tornou bárbara: em todas a
igrejas a s imagens foram removidas ou substituídas por motivos profanos (árvores, pássaros...
Q s monges eram q u a s e os únicos a opor resistência: muitos mosteiros foram destruídos o
transformados em quartéis, arsenais... F e z - s e tudo para tornar o monaquismo odioso aos cris
tãos: foi proibido o hábito monástico; os iconoclastas procuraram seduzir os monges para preva
ricação com mulheres; muitos tiveram os olhos crivados, a barba queimada, os cabelos arranca
'^..^dos... A situação era comparável à dos piores dias do paganismo.
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C U R S O D E H I S T Ó R I A DA I G R E J A
Finalmente o bibliotecário Anastácio refez a tradução das artes do Concílio de Nicéia II sob
o P a p a João VIII ( 8 7 2 - 8 8 2 ) . Isto permitiu que a s determinações conciliares fossem finalmente
aceitas no Ocidente; grande parte d a problemática s e a c h a v a na deficiência de tradução.
Para aprofundamento:
* * *
PERGUNTAS
E m 747, Pepino, homem inteligente e ambicioso, mas religioso e bem intencionado com
Igreja, tornou-se o mordomo do palácio real dos francos (os reis então reinavam, mas não gov
navam, enquanto os mordomos governavam s e m coroa). Pepino quis pôr termo à situação am
gua do governo dos francos; por isto recorreu ao P a p a Zacarias, pedindo-lhe que recobrisse co
a s u a autoridade a falta de sangue real e reconhecesse a dinastia de Pepino e dos s e u s desc
dentes (os carolíngios); o Pontífice concordou com Pepino, pois este, s e não era o rei de direi
era o rei de fato. E m 751 Pepino foi eleito rei dos francos na dieta (= assembléia política)
Soissons, e, a seguir, ungido por S . Bonifácio e outros bispos. S u c e d e u a s s i m ao último rei
. ^ i n a s t i a anterior (merovíngia): Quilderico III.
. ^ Ç ã o 3: A c o n s o l i d a ç ã o dO-EstadQPiín^^^^
I No reino dos francos. Pepino reinou até a morte, mantendo sempre boas relações com
£ Papado. Sucederam-lhe os dois filhos, Carlos (Magno) e Carlomano, que dividiram o reino en
1 si. E m 7 7 1 , porém, Carlomano faleceu, deixando como único soberano C a r l o s Magno, hom
^ i o l e n t o , mas de boas intenções, que teve significado indelével na história.
A princípio Carlos desenvolveu política pouco favorável ao P a p a ; queria aproximar-se
lombardos, inclusive mediante uma aliança matrimonial ilegítima (Carlos Magno repudiara s
' Logo antes de Estêvão II foi eleito Papa um presbítero Estêvão, que não chegou a ser sagrado,
morreu quatro dias após ser eleito (de apoplexia). Daí Estêvão II ou III, o título do Papa que se
seguiu. • ,
C U R S O D E HISTÓRIA DA I G R E J A
Alexandria, Roma...); o primeiro bispo que s e lhe conhece, Metrófanes, é do início do século IV
(315-325) e sufragâneo'' do metropolita de Heracléia.
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Tiegistraram-se mesmo atos de violência cometidos por Imperadores contra alguns Papa
Justino I mandou buscar à força o P a p a Vigílio em R o m a e quis obrigá-lo a subscrever norma
religiosas baixadas pelo monarca (cerca de 550); Constante II procedeu de forma análoga cont
o P a p a M-artinho I, que em R o m a (649) s e opusera à heresia monotelita, favorecida pelo Imper
dor; Justiniano II mandou prender em R o m a o Papa Sérgio I, que não queria reconhecer inovaçõe
promulgadas pelo ConcílioTrulano II (692); Leão III, iconoclasta, em.731 subtraiu a Romaajuri
_dição sobre a Ilíria e sobre parte do "Patrimônio de S . Pedro" (Itália meridional).
3. O distanciamento entre orientais e ocidentais ainda foi acentuado pela criação do "Sac
Império Romano da Nação dos Francos", cujo primeiro Imperador Carlos Magno recebeu a coro
em 800, das mãos do P a p a Leão III. - O d e s c a s o ou a hostil idade dos bizantinos associados
opressão dos lombardos no Norte da Itália, dera motivo a que os P a p a s s e voltassem aos pouco
com olhar simpático, pc a o povo recém-convertido dos francos, pedindo-lhes o auxílio necessár
para instaurar nova ordem de c o i s a s no Ocidente. A entrega da coroa imperial a Carlos Magn
v i s a v a a prestigiar os francos n e s s a s u a missão. Como s e compreende, em Bizâncio tal ato f
mal acolhido; os orientais julgavam que só podia haver um Império cristão, como só pode hav
um Deus; o Imperador reinava em nome de Cristo e era como que o representante visível d
unidade d a Igreja; daí grande s u r p r e s a e escândalo quando souberam que o bispo de Rom
sagrara em 800 um "bárbaro" para governar um segundo Império cristão!
. Apesar de tudo, d e v e - s e dizer que até o século IX o primado de R o m a ainda era satisfat
riamente reconhecido pelos orientais. A tensão de ânimos s e manifestou em termos novos
funestos sob a chefia dos Patriarcas Fócio ( t 897) e Miguei Cerulário ( t 1059).
L i ç ã o 2 : A ruptujia^spb F ó ^
' A palavra sufragâneo supõe o seguinte: outrora as dioceses ou os bispados se reuniam em prov
cias: os bispos da província escolhiam seu metropolita (seu coordenador) e emitiam seu sufrágio n
Concílio provincial: daí o nome sufragâneo. Atualmente sufragâneo é o bispo dependente de u
arcebispo (numa dependência assaz ténue).
{ 82 I
C U R S O D E HISTÓRIA DA I G R E J A
a excomunhão de Clemente 111 e Henrique iV; depois disto, mandou legados a diversos países
para proclamarem a sentença.
'' ' Ern 1085, Gregório, alquebrado por muitas fadigas, mas de ânimo ainda enérgico, veio a
falecer. Atribuem-lhe como últimas palavras: "Dilexi iustitiam e odivi iniquitatern; propterea morior
in exsilio. - Amei a justiça e odiei a iniquidade; por isto morro no exílio". A morte no exílio não era
senão uma derrota aparente: o plano de purificação e libertação da Igreja não seria mais entrava-
do; os s u c e s s o r e s de Gregório colheram os frutos que este s e m e o u ; o Papado cresceu em
prestígio moral, jurídico e político, devendo atingir o apogeu da s u a influência nos tempos de
h n p ç ê n c i o III (1198-1216).
- " - ^ " Num juízo objetivo, d e v e - s e dizer que Gregório VII foi um dos maiores P a p a s da Idade
Média, embora tenha sido combatido posteriormente como ditador e imperialista. Soube subordi-
nar todos os interesses d a S a n t a Sé ã s u a função pastoral, pois não hesitou em absolver e
reabilitar o adversário que havia de desferir o golpe mortal contra o P a p a ; soube ser um mau
político para s e r um bom sacerdote; desde que, em consciência, julgou que Henrique podia
merecer a reconciliação, concedeu-lha, ainda que em detrimento dos interesses temporais do
Papado. Na realidade, Gregório procurou dar a César o que é de César: aspirou a criar, dentro de
um Estado cristão, a harmonia entre o poder espiritual e o temporal; haveria a existência paralela
do Sacerdócio e do Império, c a d a qual colaborando em s u a e s f e r a para realizar a síntese da
Cidade de Deus: o Estado deveria proteger materialmente a Igreja, e esta haveria de sustentar
espiritualmente o Estado. Tais princípios estão espalhados pela ampla correspondência deixada
porGregório.
~" O pontificado de Gregório VII teve outros aspectos, além do que foi até aqui apresentado, O
P a p a não s e descuidou da Igreja universal e s p a r s a em toda a Europa, na Ásia e na África, como
atestam a s s u a s cartas; estas manifestam a amplidão de s e u s horizontes e a energia com que
sempre abordou os desafios da s u a missão. Foi o primeiro a conceber a idéia de uma Cruzada
) (coisa muito s a n t a naquela época): à frente de grande exército, queria pessoalpiente dirigir-seà
\a S a n t a , afim de libertar o Sepulcro do Senhor em Jerusalém e promover a união com os
) gregos cismáticos (1074); na s u a ausência, confiaria o patrimônio da Igreja Romana ao rei Henrique
; J V da Alemanha - o qu€; bem mostra quão pouco p e n s a v a em conflito no início do seu pontificado.
Para aprofundamento: • . -
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PERGUNTAS
1) Quais os principais males morais que afligiam a Igreja no começo do século XI?
4) Que lugar ocupa Gregório VII no conjunto dos Papas e na história da Igreja ?
Lição 2 : O pontif[cado
Na Alemanha, por exemplo, o partido dos Staufen - com seu pretendente Filipe da Suábia
- e o partido dos Guelfos - com s e u candidato Oto de Braunschweig - disputavam entre si o trono
real. Solicitado para fazer a arbitragem, o P a p a preferiu deixar que os interessados se entendes-
sem entre si. Após três anos, porém, resolveu intervir dando razão a Oto, que s e tornou o rei dos
germanos; infelizmente, porém, este monarca não cumpriu s e u s propósitos de respeito à Igreja;
pelo que foi excomung; ,:jo em 1210. O s príncipes alemães, então, abandonaram Oto e aclama-
ram Frederico II como rei; Inocêncio deixou partir para a Alemanha o seu antigo pupilo, que
também não manteve p r o m e s s a s feitas ao Pontífice a respeito dos direitos da Igreja.
C o m a França Inocêncio teve que usar de energia, não por motivos políticos, mas para
defender a Moral cristã. O rei Felipe Augusto (1180-1223) tinha esposado a princesa Ingeburga,
^ Sem Terra porque seu pai não ihe deixara território como herança.
^ Interdito era a proibição de celebrar culto público em todo o território atingido por tal censura. Só
poderia haver Missas a portas fechadas.