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Inquisição

➔ raiz medieval
➔ um dos símbolos da Contra-reforma1
➔ Portugal em 1536
➔ o Santo Ofício foi criado durante o pontificado de Gregório IX, com o objetivo
de extinguir várias heresias que se estavam a alastrar na Europa (“por
definição, excluía o processo arbitrário, dado que o objetivo era precisamente
convencer quem estava errado para se poder converter”)
➔ Santo Ofício
◆ fruto do Concílio de Toulouse em 1229, começando a atuar quatro anos
depois
◆ ultrapassa as questões de heresia pura, como o catarismo ou o valdismo
➔ Não era fácil descobrir os infratores. Por isso, organizavam visitas dos
inquisidores a uma terra onde existiam suspeitas de prática de heresias. Faziam
o “sermo generalis” na Igreja paroquial onde se apresentava a problemática da
conexão pecado-heresia e a sua gravidade. Pedia-se aos fiéis que admitissem
por vontade própria a sua culpa e a dos outros. Cedia-se um “tempo de graça”
(entre uma semana e um mês) em que essas culpas seriam absolvidas. Estas
visitas incluíam um aviso de autoridade em que se intima o público a ir depor
(monitória), listas de factos e comportamentos considerados heréticos.
➔ O método anterior permitia encontrar muitos infratores que, depois de
averiguação, eram levados para a prisão até que confessassem por completo
(mencionando também possíveis cúmplices).
➔ Gregório IX ordenou que a identidade dos denunciantes passasse a estar oculta
àqueles que estes denunciavam para evitar represálias contra estes. O implicado
listava os seus inimigos e se coincidisse com o denunciante eram obrigados a
um inquérito local para verificar a veracidade da lista. Caso se confirmasse, os
depoimentos eram anulados.

1
A Contra-reforma foi um movimento religioso realizado pela Igreja Católica como reação à Reforma
protestante
➔ O acusado podia ter advogado, mas poucos conseguiam um já que existia a
possibilidade de se este fosse condenado o advogado ser acusado de cúmplice.
➔ Interrogatórios longos e minuciosos para levá-los a confessar. Não se importam
com o tempo que estes ficavam presos podendo chegar a 10 anos de
aprisionamento. A partir de 1252, com a bula “Ad Extirpando”, a tortura
torna-se permitida durante os interrogatórios. Limites: efusão de sangue,
mutilação e morte.
➔ Tipos de prisão:
◆ “Murus largus”, os detidos podiam contatar, fazer exercício e receber
comida e parentes.
◆ “Murus strictus”, celas pequenas, sem luz e ar, os presos permaneciam
incomunicáveis, sujeitos a uma dieta que, não raro, se reduzia a pão e
água.
➔ Não existia uma graduação de penas bem definida, sendo que a atuação do
Santo Ofício dependia de: época e local, a posição da respetiva autoridade civil,
formação civil, formação e personalidade dos inquisidores e a própria
mentalidade da época medieval.
➔ Exemplos de penitências:
◆ penitências meramente espirituais como orações e assistência a ofícios
divinos;
◆ peregrinações a santuários (com ou sem o complemento de açoites);
◆ multa pecuniária (em dinheiro);
◆ encarceramento num mosteiro;
◆ uso do hábito penitencial.
➔ Hábito penitencial:
◆ pena humilhante
◆ na Inquisição medieval, era constituído por duas grandes cruzes
amarelas
◆ marginalizava o portador, impedia-o de arranjar emprego
◆ era causa de apedrejamento, assuadas (arruaça/motim) e escarrarias
➔ Confiscação dos bens: na Inquisição medieval não estava apenas ligada
apenas ao tribunal. Influência do poder civil e pressão política - em França e na
Itália, era a polícia que executava a confiscação em nome da Inquisição.
➔ A Inquisição medieval é remodelada no século XV de modo a funcionar a
partir de 1480 em Espanha (instituída pela bula de Sixto IV em 1478, em 1481
realiza-se o primeiro auto-de-fé em Sevilha).
➔ Em Portugal, o processo de estabelecimento do Santo Ofício foi complexo e
lento. Existia uma insistência da Coroa em ter um tribunal similar ao espanhol.
➔ Principais precedentes do estabelecimento do Santo Ofício em Portugal:
◆ entrada mais ou menos indiscriminada dos judeus e conversos espanhóis
ao longo do séc. XV (aquando da criação da Inquisição espanhola e a
expulsão dos judeus de Castela em 1492);
◆ atitudes controversas de Manuel I, geradores de conflitos e tumultos
como os de Évora de 1505 e de Lisboa de 1504/1506 (intervenção
militar no último):
● expulsão e conversão forçada (1497);
● compromisso de não inquirir o comportamento religioso dos
conversos (1512, durante 16 anos);
● paridade de direitos entre cristãos-novos e velhos (1507), que
desencadeou uma concorrência desenfreada no comércio e
serviços - os cristãos-novos rapidamente tomaram as rédeas do
poder;
➔ Os cristãos-novos tiveram dificuldade de adaptação a um novo credo e em
enfrentar pacificamente todos os elementos de desconfiança e rejeição e
hostilidade que a penetração dum grupo no seio de outro normalmente acarreta
- antagonismo radical e acentuada xenofobia.
➔ Manuel I em 1515 pede a instituição da Inquisição em Portugal. Reiterado por
D. João III em 1525 e renovado em 1531.
➔ O tribunal começou a funcionar de imediato em 1536, mas o rei ainda estava
inconformado, já que este tribunal não tinha a mesma liberdade de atuação do
espanhol e não era permitido o confisco de bens.
➔ 1539, D. Henrique substitui D. Diogo da Silva por renúncia deste.
Reestruturação do tribunal.
➔ 1540, D. Henrique realizou o primeiro auto-de-fé, em Lisboa.
➔ 1544, o papa mandou suspender a execução de sentenças - durante quatro anos
não houve autos-de-fé
➔ 1547, a bula “Meditatio cordis” deu à Inquisição portuguesa poderes
semelhantes aos da espanhola (processo sigiloso e jurisprudência particular).
➔ 1560-1568, criação de vários tribunais
➔ O funcionamento do Santo Ofício seguia, em linhas gerais, o medieval, com a
utilização de visitas inquisitoriais - menos frequentes a partir do séc. XVII
(custos, indisponibilidade dos inquisidores e diminuição dos judaizantes).
➔ Delitos: bigamia, feitiçaria, proposições herética, contrabando com os mouros
(1552), sodomia (1562), solicitação (1599). Cabia também ao SO a censura dos
livros e a vigilância dos portos.
➔ Funcionários do tribunal: era comum trabalharem em regime de tarefa
(devido à situação económica sempre deficitária da Inquisição), podiam ter
outros cargos (bispos, juízes, desembargadores). Tornou-se difícil discernir até
que ponto a complementaridade de funções, por exemplo, podia ou não atingir
a intromissão de poderes, sobretudo do eclesiástico.
➔ Primeira fase experimental do SO português: até 1547, quando acaba a batalha
diplomática com Roma.
➔ Fase de organização, grosso modo: 1547 a 1573-1575 (criação de um conselho
geral em 1570).
➔ Conselho geral: mais severo, recorriam mais ao tormento.
➔ Utilização evidente da tortura sobretudo no último quartel do séc. XVI.
➔ Crimes de lesa-majestade2: heresia e sodomia3, levava à condenação à morte.
➔ Autos-de-fé:
◆ cerimónia mediática e dispendiosa;
◆ organizada com antecedência e meticulosidade, a fim de propiciar uma
forte carga de sentimentos e emoções (medo, alegria, catarse…);
◆ geralmente realizado numa praça pública ou igreja, na presença das
autoridades eclesiásticas, civis e duma multidão de espectadores de
todos os níveis sociais.

2
Atentado contra um soberano ou contra a sua autoridade.
3
Relação sexual anal entre homem e mulher, ou entre homens.

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