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MESTRADO EM TEMAS DE PSICOLOGIA

PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO DESVIANTE E DA JUSTIÇA

Análise do Modelo de Redução de Riscos


em Portugal: Características e Resultados

Beatriz Costa Portela

M
2020
Universidade do Porto
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Análise do Modelo de Redução de Riscos em Portugal:


Características e Resultados

Beatriz Costa Portela

Novembro 2020

Dissertação apresentada no Mestrado em Temas de Psicologia, Faculdade de


Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, orientada pelo
Professor Doutor Jorge Nuno Negreiros de Carvalho (FPCEUP).
AVISOS LEGAIS

O conteúdo desta dissertação reflete as perspectivas, o trabalho e as interpretações do


autor no momento da sua entrega. Esta dissertação pode conter incorreções, tanto
conceptuais como metodológicas, que podem ter sido identificadas em momento
posterior ao da sua entrega. Por conseguinte, qualquer utilização dos seus conteúdos deve
ser exercida com cautela.

Ao entregar esta dissertação, o autor declara que a mesma é resultante do seu próprio
trabalho, contém contributos originais e são reconhecidas todas as fontes utilizadas,
encontrando-se tais fontes devidamente citadas no corpo do texto e identificadas na
secção de referências. O autor declara, ainda, que não divulga na presente dissertação
quaisquer conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor ou de
propriedade indust
Agradecimentos

Primeiramente gostaria de expressar a minha mais sincera gratidão a minha


família que sempre me apoiou independentemente do quão complicado ou fora do comum
fossem as minhas ideias de futuro ou meus planejamentos, me apoiou mesmo quando os
abandonei completamente ou quando não fui capaz de acreditar na minha capacidade ou
perseverança de ir atrás do que eu queria. Ao meu pai, por acreditar sempre, a minha irmã
por me apoiar e a minha mãe por ser presente na minha vida.

Aos meus amigos brasileiros, por não me abandonarem mesmo quando eu os


abandonei por não ter tempo pra nada, por me escutar pacientemente minhas reclamações
sobre tudo e sobre nada, por me incitarem a terminar este trabalho mesmo quando eu só
queria desistir, agradeço a vossa paciência para comigo.

As minhas colegas de casa por aturarem minha chatice e reclamações sobre todos
os meus problemas, principalmente a Ema, sem você este trabalho não seria de um todo
possível, principalmente por não me deixar desistir. As minhas amigas da universidade
espero que os vínculos criados continuem a florescer.

A minha Tia Conceição por me apoiar e sempre desejar o melhor, por estar lá
quando eu precisei e sempre me dar conselhos honestos e incentivo para continuar neste
caminho acadêmico. Agradeço também as meninas que enfrentaram comigo a dura
jornada de oito horas de trabalho, Gabriela, Monica e Catarina, obrigada por tudo.

Agradeço também aos meus amigos e professores durante a graduação e aos


professores deste mestrado, por nos inspirarem a sempre estudar e tentar o nosso melhor
e ao meu orientador pelo apoio e por aceitar embarcar neste trabalho comigo.

iv
Resumo

O modelo de Redução de Risco é visto como uma intervenção que assume duas
vertentes, a do consumidor e a da comunidade. Com relação ao nível do consumidor, não
busca a abstinência e sim procura minimizar os danos do consumo de substâncias, já com
relação a comunidade possui uma visão voltada para a lógica da saúde pública, no
sentindo em que busca diminuir os riscos de vida, ou infecção, associados ao consumo.

O presente estudo procura identificar as estratégias utilizadas em redução de riscos


e minimização de danos em Portugal e avaliar os resultados das estratégias
implementadas no país. Para satisfazer tais objetivos está investigação realizou-se uma
revisão sistemática da literatura, com os artigos sendo pesquisados nas bases eletrônicas
de dados Scielo, PubMed e Scholar Google. Os critérios de inclusão para seleção foram
artigos publicados nos últimos dez anos (2010 – 2020) com a temática, redução de riscos
e minimização de danos no uso de drogas e suas estratégias implementadas em Portugal,
em conjunto com a avaliação das estratégias, nos idiomas português e inglês, que tivessem
esses descritores no título ou resumo e o acesso ao artigo completo de forma gratuita. Os
critérios de exclusão incluíram estudos anteriores a 2010, capítulos de livros e publicações
em outro idioma que não o português e o inglês.

Nas vinte e uma publicações analisadas notou-se a baixa produção cientifica


voltada a analisar o modelo e a eficácia de suas estratégias de Redução de Risco e
Minimização de Danos em Portugal, nota-se que de fato há uma resposta positiva com
relação a eficácia do modelo, aponta-se a necessidade de uma maior produção de
literatura e de estudos que abordem as opiniões dos usuários do serviço e dos
trabalhadores da aérea, para que assim haja a possibilidade de desenvolver um serviço
que possa ser completo e de maior qualidade.

Palavras-chaves: redução de risco no uso de drogas; estratégias de redução de danos no


uso de droga em Portugal; avaliação de redução de danos em Portugal;

v
Abstract

The Harm Reduction model is seen as an intervention that takes on two aspects,
the side of the consumer and tha sidet of the community. With regard to the level of the
consumer, it does not seek abstinence, but seeks to minimize the damage of substance
consumption, since the community has a vision focused on the logic of public health, in
the feeling in which it seeks to reduce the risks of life, or infection, associated with
consumption.

This study seeks to identify the strategies used in risk reduction and harm
minimization in Portugal and to evaluate the results of the strategies implemented in the
country. To satisfy these objectives, this investigation carried out a systematic review of
the literature, with the articles being researched in the electronic databases Scielo,
PubMed and Scholar. The inclusion criteria for selection were articles published in the
last ten years (2010 - 2020) with the theme, harm reduction and minimization of damages
in drug use and their strategies implemented in Portugal, together with the evaluation of
strategies, in Portuguese and English, that had these descriptors in the title or abstract and
access to the full article free of charge. Exclusion criteria included studies prior to 2010,
book chapters and publications in a language other than Portuguese and English.

In the twenty-one publications analyzed, it was noted that low scientific


production aimed at analyzing the model and effectiveness of its strategies for Harm
Reduction in Portugal, it is noted that in fact there is a positive response regarding the
effectiveness of the model, it is pointed out the need for a greater production of literature
and studies that address the opinions of service users and air workers , so that there is the
possibility of developing a service that can be complete and of higher quality.

Keywords: harm reduction in drug usage; strategies of harm reduction in Portugal;


evaluation of harm reduction in Portugal;

vi
Résumé

Le modèle de réduction des méfaits est considéré comme une intervention qui
prend en deux aspects, du côté du consommateur et du tha sidet de la communauté. En ce
qui concerne le niveau du consommateur, elle ne cherche pas l’abstinence, mais cherche
à minimiser les dommages causés par la consommation de substances, puisque la
communauté a une vision axée sur la logique de la santé publique, dans le sentiment dans
lequel elle cherche à réduire les risques de vie, ou d’infection, associés à la
consommation.

Cette étude vise à identifier les stratégies utilisées dans la réduction des risques et
la minimisation des méfaits au Portugal et à évaluer les résultats des stratégies mises en
œuvre dans le pays. Pour atteindre ces objectifs, cette enquête a effectué un examen
systématique de la littérature, les articles étant étudiés dans les bases de données
électroniques Scielo, PubMed et Scholar Google. Les critères d’inclusion pour la
sélection ont été des articles publiés au cours des dix dernières années (2010 - 2020) sur
le thème, la réduction des méfaits et la minimisation des risques dans la consommation
de drogues et de leurs stratégies mises en œuvre au Portugal, ainsi que l’évaluation des
stratégies, en portugais et en anglais, qui avaient ces descripteurs dans le titre ou abstrait
et l’accès à l’article complet gratuitement. Les critères d’exclusion comprenaient des
études antérieures à 2010, des chapitres de livres et des publications dans une langue autre
que le portugais et l’anglais.

Dans les vingt et une publications analysées, il a été noté que la faible production
scientifique visant à analyser le modèle et l’efficacité de ses stratégies de réduction des
méfaits au Portugal, il est noté qu’en fait il ya une réponse positive concernant l’efficacité
du modèle, il est souligné la nécessité d’une plus grande production de littérature et
d’études qui traitent des opinions des utilisateurs de services et les travailleurs de l’air, de
sorte qu’il y ait la possibilité de développer un service qui peut être complet et de
meilleure qualité.

Mots-clés: réduction des méfaits de la consommation de drogues; les stratégies de


réduction des méfaits au Portugal; évaluation de la réduction des méfaits au Portugal;

vii
Índice

Lista de Tabelas..............................................................................................................vi
Lista de Abreviaturas.....................................................................................................vi
1. Introdução............................................................................................................1
2. Objetivos...............................................................................................................2
2.1 Geral................................................................................................................2
2.2 Específico........................................................................................................2
3. Metodos................................................................................................................2
4. Resultados............................................................................................................3
5. Justificativa........................................................................................................14
5.1 Redução de Riscos e Minimização de Danos.............................................17
5.2 Portugal e a Redução de Riscos...................................................................18
5.3 Estratégias de intervenção implementadas em Portugal..........................21
5.3.1 Projetos...................................................................................................21
5.3.2 Contexto Festivo/Recreativo.................................................................23
5.3.3 Salas de Consumo Assistido..................................................................25
6. Conclusão ..........................................................................................................27
7. Referências.........................................................................................................30

viii
Lista de Tabelas

Quadro 1 – Identificação das publicações pesquisadas, objetivos, resultados e/ou


conclusões.

Lista de Abreviaturas

RR – Redução de Riscos
RRMD – Redução de Riscos e Minimização de Danos
SPA – Substâncias Psicoativas
OMS – Organização Mundial de Sáude
VHI/SIDA - Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida
EMCDDA - European Monitoring Center for Drugs and Drug Adiction
CR - Consumption Rooms
DSM - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

ix
1. Introdução

Este trabalho teve como finalidade realizar um estudo por meio de uma revisão
sistemática de literatura acerca das estratégias de redução de riscos e minimização de
danos implementadas em Portugal e de como elas se encaixam no contexto social
português através da avaliação das estratégias identificadas ao longo desta dissertação.

O modelo de Redução de Riscos historicamente surge como uma estratégia de


prevenção a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (V.I.H./S.I.D.A.) entre usuários de
drogas injetáveis, com o programa de troca de seringas, a Redução de Danos, como
também é chamada, com o passar dos anos se tornou uma estratégia de produção de saúde
alternativa em contrapartida as estratégias pautadas na lógica da abstinência, pois inclui
no seu leque de serviços uma diversidade de demandas, além de ampliar ofertas em saúde
para a população de usuários de substâncias (Passos & Souza, 2011).

Assim se percebe a Redução de Risco, nos dias de hoje, como uma intervenção
que assume duas vertentes, a do consumidor e a da comunidade. Com relação ao nível do
consumidor, não busca a abstinência e sim procura minimizar os danos do consumo de
substâncias, a partir de disponibilizar acesso a material limpo, como programas de troca
de seringas, análise de pureza das substâncias, dentre outros. Já no que diz respeito à
comunidade, ela se utiliza de uma visão voltada para a lógica da saúde pública, no
sentindo em que busca diminuir os riscos de vida, ou infecção, associados ao consumo
(Gonçalves, 2011; Silva, 2011).

No entanto, existem visões contrarias que apontam a Redução de Riscos (RR)


como apenas mais uma política de controlo social, partindo do ideal de que se aceita o
consumo até determinado ponto, ou seja, enquanto não houver perdas sociais, sendo
possível a partir dela permanecer como ser produtivo. Vale ressaltar que durante o
presente trabalho a utilização da expressão “droga” se refere as substâncias definidas
como ilegais, pois a diante se explora um pouco mais sobre o sentido social e fisiológico
do que pode ser a droga.

No contexto português nota-se ainda a necessidade de reafirmar a eficácia da


Redução de Riscos e Minimização de Danos (RRMD), a produção cientifica tende a tentar
evidenciar a eficácia de suas intervenções em produção de saúde, dando pouca ênfase a
1
de fato tentar melhorar o que já é aplicado, Barbosa (2009, apud Soares, Carvalho,
Valbom & Rodrigues, 2017, p.6) apontam que:

In Portugal, the introduction of harm reduction programmes has had to undergo a


lengthy process of earning recognition. The consolidation of harm reduction
practices has been repeatedly delayed because of the political suspicion
concerning harm reduction’s efficiency in public health control.

Diante disso, o presente trabalho buscou discutir sobre a prática atual de RRMD
em Portugal. Para satisfazer tal objetivo este trabalho de conclusão de mestrado é
constituído dos seguintes capítulos: objetivos; método utilizados na pesquisa; resultados;
uma pequena justificativa a respeito das drogas, um apanhado sobre as técnicas de RR,
como ela foi implementada em Portugal, suas estratégias de intervenção e a avaliação das
mesmas.

2. Objetivos

2.1 Geral
Realizar um estudo a partir de uma revisão de literatura sobre a redução de riscos
e suas características implementadas em Portugal e de como ela se encaixa no contexto
social português.

2.2 Específico
. Identificar as estratégias utilizadas em redução de riscos e minimização de danos
em Portugal.
. Avaliar os resultados das estratégias implementadas em Redução de Riscos em
Portugal.

3. Métodos

A presente pesquisa de revisão sistemática de literatura foi realizada mediante


uma busca eletrônica de artigos indexados nas bases eletrônicas de dados Scielo, PubMed
e Scholar Google. Os descritores utilizados foram: redução de risco no uso de drogas,
estratégias de redução de danos no uso de droga em Portugal, avaliação de redução de

2
danos em Portugal; harm reduction in drug usage, strategies of harm reduction in
Portugal, evaluation of harm reduction in Portugal. Os critérios de inclusão para seleção
foram artigos publicados nos últimos dez anos (2010 – 2020) com a temática, redução de
riscos e minimização de danos no uso de drogas e suas estratégias implementadas em
Portugal, em conjunto com a avaliação das estratégias, nos idiomas português e inglês,
que tivessem esses descritores no título ou resumo e o acesso ao artigo completo de forma
gratuita. Os critérios de exclusão incluíram estudos anteriores a 2010, capítulos de livros
e publicações em outro idioma que não o português e o inglês.

4. Resultados
Nesta revisão sistemática da literatura foram selecionadas vinte e uma publicações
que atenderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos. São onze artigos
científicos e dez dissertações de mestrado. Para facilitar a análise e apresentação dos
resultados, elaborou-se o Quadro 1, com dados sobre o ano, autores, título, os objetivos e
resultados e/ou conclusões de cada estudo.

Quadro 1 – Identificação das publicações pesquisadas, objetivos, resultados e/ou


conclusões.

Ano Autores Título do artigo Objetivos Resultados/conclusões


2010 Olga Souza Consumo" não Pretende-se Os principais
Cruz e Carla problemático" de explicar de que resultados sugerem que
Machado. drogas ilícitas: modo os os consumidores, não
Experiências e consumidores não problemáticos, utilizam
estratégias de problemáticos uma multiplicidade de
gestão dos gerem os seus estratégias de gestão
consumos numa consumos para os dos consumos, como o
amostra manter como tal. controlo da sua
Portuguesa. regularidade, dos seus
locais e dos tipos de
drogas usadas.
2011 Eduardo Redução de Analisar como a Conclui-se que ainda
Henrique danos e saúde inclusão dos há muitas questões em
Passos e pública: usuários de aberto como impasses
Tadeu Paula construções drogas em político-institucionais
Souza. alternativas à arranjos coletivos colocam desafios para
política global de gestão é uma a continuidade desse
de" guerra às importante movimento, que vem
drogas". direção clínica e ao longo doa anos

3
política do ganhando novos
movimento da contornos e novas
RD, definindo direções. Quais
uma nova direções o movimento
proposta de de RD vai criar diante
atenção em saúde. desses desafios? Que
redes se constituirão?
Devemos manter essas
perguntas vivas
ativando e
acompanhando o devir
do movimento da RD.
2011 Janete Consumos de Perceber se os Concluiu-se com este
Teixeira drogas, agentes sociais trabalho que a
Gonçalves. comunidade e Vimaranenses comunidade
mediação: seriam receptivos Vimaranense
auscultação dos à criação de uma auscultada está
agentes sociais Sala de Consumo receptiva
sobre a Assistido (SCA). à implementação de
implementação uma SCA. A
de uma sala de receptividade dos
consumo agentes sociais locais
assistido, em contrasta com a
Guimarães. opinião desfavorável
do Instituto da Droga e
Toxicodependência.
2011 Mara Consumo de Perceber se a Através da realização
Fernandes drogas: O informação de entrevistas
da Silva. impacto da transmitida pela semiestruturadas
informação e do R.R.M.D tem (N=19) e questionários
modelo de contribuído para a (N=71) a
regulamentação diminuição dos consumidores de
nos comportamentos drogas, foi possível
comportamentos. de risco? E quais constatar que (1) a
as representações informação transmitida
sociais que os no âmbito da R.R.M.D.
consumidores têm tem efectivamente
acerca do modelo algum impacto na
de legislação alteração dos
português relativo comportamentos e que
ao consumo de (2) a maioria das
drogas? pessoas observadas
considera ser crime
consumir drogas, com
excepção, nalguns
casos, para as drogas
consideradas “mais
leves”, como os
cannabinóides..

4
2013 Olga Souza Intervenção no Refletir sobre o Julgamos, todavia, que
Cruz e Carla fenómeno das que atualmente se tal só é possível se
Machado. drogas: Algumas considera ser boas alterarmos as nossas
reflexões e práticas de conceções sobre as
contributos para a intervenção no drogas ilegais,
definição de boas fenómeno do deixando de as usar
práticas. consumo de como um depósito de
drogas ilícitas. moralizações e de
estigmas e passando a
encará-las de uma
forma mais
‘naturalizada’ e não
criminalizadora. Neste
sentido, afigura-se-nos
mais efetivo optar pela
descriminalização do
consumo pessoal e
pelo trabalho de
redução de danos, em
detrimento da anterior
política
criminalizadora.
2014 Mariana Educação sobre Contribuir para o As entrevistas
Andrade e drogas: uma desenvolvimento revelaram que a
Simone proposta de uma proposta maioria dos estudantes
Monteiro. orientada pela educativa tem uma concepção
redução de danos. informada pela negativa das drogas
contextualização ilícitas, minimiza os
dos aspectos riscos do consumo das
socioculturais, drogas lícitas e não
econômicos e considera as
políticos desse singularidades dos
fenômeno e pelo elementos envolvidos
conceito de no consumo (sujeito,
redução de danos tipo de droga e
(RD). contexto de uso).

2014 Maria Crisis We present Crisis episodes that


Carmo Intervention evaluation presented no
Carvalho, Related to the research that aims resolution were more
Mariana Use of to contribute to often related with
Pinto de Psychoactive the transformation mental health outburst
Sousa, Paula Substances in of the project into episodes, with
Frango, Recreational an evidence-based psychoactive
Pedro Dias, Settings - intervention
substance use or not.
Joana Evaluating the model. It relies on
Visitors showed high
Caravalho, Kosmicare harm reduction
Marta Project at Boom and risk satisfaction with
Rodrigues e Festival minimization intervention (n=58)

5
Tânia principles, crisis and according to
Rodrigues. intervention follow-up (n=18) this
models, and perception was stable
Grof’s over time. Crisis
psychedelic intervention was
psychotherapy experienced as very
approach for crisis significant. We discuss
intervention in
limitations and
situations related
implications of
to unsupervised
use of evaluating natural
psychedelics. setting based
Intervention was interventions, and the
expected to relation between
produce psychoactive
knowledge about substance use and
the relation psychopathology.
between Other data on visitor’s
substance use and profile and
mental health vulnerability to crisis
impact in showed inconclusive.
reducing potential
risk related to the
use of
psychoactive
substances and
mental illness, as
well as an impact
upon target
population’s
views of
themselves, their
relationship to
substance use, and
to life events in
general.
2015 Daniel CHECK!NG: A Através da No nível de
Martins, última fronteira apresentação de intervenção futura,
Helena para a Redução práticas e algumas estratégias
Valente e de Riscos em resultados poderiam ser utilizadas
Cristiana contextos referentes à para ultrapassar as
Pires. festivos. intervenção do limitações referidas,
projeto por exemplo,
CHECK!NG, desenvolver o serviço
pretende-se neste drop-in numa zona
artigo levantar central da cidade, onde
pistas para uma a vida noturna e festiva
reflexão sobre a se desenrola. Na
pertinência e as intervenção de terreno
particularidades é necessário

6
de um serviço de sensibilizar os
Drug Checking organizadores de
em contexto eventos e proprietários
festivos. de recintos de ócio
noturno para a
importância de um
serviço alargado de
RRMD, mostrando
como, para além das
evidentes questões de
saúde pública, o bem-
estar dos
frequentadores de
contextos festivos
contribuí para o
sucesso e
desenvolvimento do
seu negócio.
2015 Marta Pinto, A Avaliação dos Rever a produção . Habitualmente, a sua
Joana Programas de nacional de atenção incide menos
Vilares, Substituição artigos científicos sobre a qualidade dos
Soraia Opiácea em dedicados ao tema serviços prestados e
Teles, Portugal: da avaliação dos mais sobre os
Helena Apontamentos programas de indicadores associados
Carvalho, para (um)a substituição às carac- terísticas
Cristina Reflexão. opiácea (PSO). sociodemográficas das
Vale Pires e pessoas em tratamento
Leonor ou à evolução de
Castro alguns dos seus
Lemos parâmetros clínicos.
São assim preteridas
importantes dimensões
a ter em conta na
avaliação dos PSO,
nomeadamente o ponto
de vista dos seus
utentes ou a
congruência dos
serviços com os
princípios subjacentes
à proteção dos direitos
humanos. A propósito
desta realidade, são
problematizadas
questões essenciais
para o aperfeiçoamento
daqueles programas em
Portugal. São ainda
foco de reflexão os
entraves burocráticos à

7
investigação neste
domínio, identificados
em estudos
desenvolvidos pelo
Departamento de
Investigação da
APDES.
2015 Mónica O impacto da Compreender o Uma conclusão central
Sofia descriminalização Impacto da que emerge deste
Teixeira de substâncias Descriminalização trabalho é o facto de,
Valbom. psicoativas para do consumo de na sua maioria, os
as intervenções substâncias agentes de segurança
de redução de psicoativas (SPA) desconhecerem qual a
riscos e na prática de legislação em vigor, no
minimização de Redução de que concerne às
danos: estudo de Riscos e políticas das drogas em
caso do projecto Minimização de Portugal, bem como,
Kosmicare/Boom Danos (RRMD), não compreenderem o
Festival. em Portugal. impacto da
descriminalização do
consumo de SPA, em
Portugal. No entanto,
este é apenas um
primeiro contributo
para a exploração desta
temática, que necessita
de aprofundamento
adicional em muitas
das suas dimensões.
Entendemos que uma
disseminação mais
eficaz do
conhecimento sobre a
lei e suas implicações
junto dos agentes
envolvidos na sua
implementação
contribui de forma
significativa para a
melhoria da eficácia
das medidas
contempladas pela lei,
no interesse e no
benefício dos
indivíduos utilizadores
em Portugal.
2016 Cristina Entre o saber e o Relacionar as Conclui-se que os
Alexandra fazer: Dilemas de diferentes práticas utentes não só
Barros uma Intervenção de intervenção associam os
Casimiro. de Rua. neste contexto profissionais à sua

8
com os princípios formação de base,
filosóficos da como conhecem os
redução de riscos serviços
e conhecer as disponibilizados pela
perceções dos equipa, requerendo os
diferentes mesmos de forma
intervenientes do diversificada. Estes já
processo acerca ouviram a expressão
das mesmas foi o “redução de riscos e
objetivo basilar da minimização de danos”
presente e, à semelhança dos
dissertação. profissionais,
associam-na a
educação para a saúde,
disponibilização de
material, redução dos
danos físicos
existentes, não
imposição da
abstinência e adesão
aos serviços mais
formais da
comunidade. Quanto
aos técnicos,
constatou-se que o seu
ingresso na redução de
riscos foi premeditado
e realizado por opção
pessoal, encontrando-
se satisfeitos com as
funções
desempenhadas. Por
fim, os dois grupos
manifestam perceções
diferentes
relativamente a
determinadas práticas
de redução de riscos,
sendo os utentes, no
geral, mais
conservadores na sua
visão acerca destas
estratégias de
intervenção.
2016 Simão Mata A construção Objetiva-se Mostramos, através do
e Luís duma política analisar dois presente trabalho,
Fernandes. pública no campo momentos os como as mudanças
das drogas: eixos de redução operadas na política
normalização de riscos e das drogas em Portugal
sanitária, minimização de têm possibilitado uma

9
pacificação danos e a nova forma de intervir
territorial e descriminalização sobre o fenómeno.
psicologia de do consumo e da
baixo limiar. posse para o
consumo de
drogas ilícitas.
2017 Inês Representações Pretendemos Os dados da
Campos dos Utilizadores identificar as investigação revelaram
Barbosa. de Droga acerca vantagens e que não existe um
da Sala de desvantagens da consenso entre os
Consumo implementação da utilizadores de droga
Vigiado. Sala de Consumo acerca da
Vigiado, bem implementação da Sala
como, de Consumo Vigiado.
essencialmente, Também surgiram
conhecer e aspetos que devem ser
analisar a tidos em conta, como
perspectiva dos por exemplo o impacto
utilizadores de que o tráfico terá com
droga sobre a a implementação desta
mesma. estrutura, bem como a
qualidade da
substância psicoativa
ilícita.
2017 Timothy Um Contributo Este estudo teve Com o auxílio dos
Meglioranzi. para a avaliação como objetivo relatos dos
de um programa geral o de participantes,
de Redução de contribuir para a conseguimos perceber
Riscos e avaliação do que aspectos do
Minimização de Projeto Elos Projecto estariam a ter
Danos no através da resultados mais ou
consumo percepção e menos positivos, bem
problemático de satisfação dos como críticas positivas
drogas – Projeto utentes e/ou negativas e
Elos relativamente à sugestões de melhoria.
implementação No futuro, julgamos
deste projeto na ser importante a
sua globalidade. realização de um focus
group com todos os
técnicos envolventes
neste Projeto, de forma
a analisar a percepção
destes em relação ao
funcionamento das
várias dimensões do
Projeto Elos.
2018 Daniela Salas de consumo Analisar a Os resultados
Filipa assistido no perceção de vários encontrados no
Moura Porto: a perceção atores presente estudo devem
significativos constituir-se como

10
Tavares de vários atores neste contexto, ponto de partida para
Machado. sociais. através da futuras investigações
metodologia de e/ou auxiliadores da
focus group, no implementação e
sentido de permitir abertura destas salas na
identificar e cidade do Porto.
configurar-se um
desenho de como
poderia ser uma
sala de consumo
assistido na cidade
do Porto.

2018 European Salas de consumo Comprovar a A emergência de novas


Monitoring assistido de efetividade das formas de consumo de
Centre for droga: salas de consumo estimulantes injetados,
Drugs and panorâmica geral e promover a incluindo as novas
Drug da oferta e provas implementação substâncias
Addiction. de eficácia. das mesmas. psicoativas, resultou no
aumento dos potenciais
riscos a que os
consumidores de droga
estão sujeitos. Neste
contexto, as salas de
consumo assistido
estão a ser objeto de
debate político em
alguns países europeus
onde se têm feito ouvir
apelos à sua criação.
2018 Rita de Reflexões a partir O presente Utilizando a minha
Aires de uma relatório experiência numa
Pacheco experiência em científico- equipa de rua como
Domingues. redução de riscos profissional analisador, discuto os
e minimização de resulta de um constrangimentos das
danos. processo reflexivo equipas e aquelas que
de do meu ponto de vista
questionamento e são as limitações da
integração RRMD enquanto
conceptual e intervenção
teórica sobre a comunitária crítica. Por
minha experiência fim, reflito sobre a
profissional como importância desta
psicóloga experiência no
comunitária em desenvolvimento da
respostas de minha identidade como
Redução de psicóloga.
Riscos e
Minimização de
Danos (RRMD).

11
2019 Ana Filipa Percepção e Compreender o Os resultados
Moreira de significados que impacto da permitem-nos constatar
Castro. os utilizadores de Redução de que a política de
droga atribuem à Riscos e RRMD tem um grande
Redução de Minimização de impacto benéfico na
Riscos e Danos (RRMD) vida dos dependentes
Minimização de na vida dos de substâncias
Danos. utilizadores de psicoativas. Salientam-
drogas e os se as opiniões positivas
significados que sobre o funcionamento
estes lhes das estruturas, as
atribuem. relações com os
técnicos, as vantagens
da substituição
opiácea. Sobressaiu
ainda o
reconhecimento da
redução de práticas de
risco para a saúde
individual e pública
associadas aos
consumos.
2019 Soraia Vidas Esta investigação Verificou-se que
Raquel “agarradas”: teve como apesar de a RRMD ter
Gomes Pessoas com objetivo conseguido uma
Coelho. adições e o compreender e aproximação a esta
projeto analisar um caso população, moldar os
Aproximar. de redução de seus comportamentos
riscos e de riscos e combater a
minimização de estigmatização, quem
danos (RRMD) a está no terreno sente
funcionar em que urge reformular o
Braga, da modelo português.
responsabilidade
do projeto
Aproximar,
através da
combinação de
diferentes técnicas
de investigação,
nomeadamente
entrevistas
semiestruturadas e
diálogos
informais com
diversos atores
sociais no quadro
de um trabalho de
campo
etnográfico. Deste

12
modo procurou-se
conhecer quem
são os indivíduos
envolvidos, os
seus problemas,
as expetativas de
vida e o papel
desempenhado
por esta
organização não-
governamental
(ONG) e seus
técnicos.
2020 Allison Care during Develop and point Whether or not
Schlosser e COVID-19: Drug out improvements guidelines will be
Shana use, harm in harm reduction modified based on new
Harris. reduction, and techniques in the epidemiological
intimacy during a face of the information, harm
global pandemic. pandemic. reductionists will
continue to do the best
by their clients. We do
not believe that the
intimate connections
upon which so much
harm reduction work is
based will be lost. Our
hope is that the kind of
care they can offer
given the confines of
COVID-19 can reach
the PWUD who need it
the most.
2020 Nayana Harm reduction To analyze the Seventeen (17) primary
Santos Arêa in primary evidence studies published from
Soares; healthcare: an available in the 2008 to 2017 were
Márica integrative literature on harm included in this review.
Astrês review of care reduction actions Care strategies for
Fernandes; strategies. developed by harm reduction
Hellany primary included maintenance
Karolliny healthcare. treatment with
Pinho methadone, therapy
Ribeiro; with opioid agonists,
Daniel de needle and syringe
Macêdo distribution programs
Rocha; Ítalo and the creation of
Arão Pereira rooms for supervised
Ribeiro. drug consumption.
Health professionals
were essential for
consolidating inclusion

13
strategies, possessing
skills to listen without
judgment and
prejudice.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

5. Justificativa

O comercio e o consumo de drogas e substâncias psicoativas (SPA) são práticas


que sempre estiveram presentes na história da humanidade, ganhando significados e
funções de acordo com o momento social, político e econômico de cada sociedade (Santo;
Soares; Campos, 2010 apud Adade & Monteiro, 2014). Levando em consideração de que
substâncias para a alteração da consciência sempre estiveram presentes na sociedade,
sejam com o cunho cultural, para rituais por exemplo os religiosos, uso recreativo, uso
terapêutico, e/ou fuga da realidade e apenas recentemente a utilização dessas substâncias
foi criminalizada (Silveira e Silveira, 2016).

O uso de drogas constitui-se como problema social no ocidente no século XX,


quando teve início sua proibição. Uma prática integrada e naturalizada socialmente
durante séculos passou a ser definida como desvio e foi objeto de diversos mecanismos
de controle e intervenções na procura de sua regulação (Rodrigues, 2004; Alves, 2009;
Sodelli, 2010; Andrade, 2011; Machado e Boarini, 2013 apud Abal & Gugelmin, 2018).

A droga é uma substância sobre a qual o Estado exerce controle, podendo ser
sintética ou natural. Esse controle é relativo, pois algumas drogas antes proibidas
passaram a ser permitidas (como o caso do álcool e a Lei Seca nos Estados Unidos)
e outras que eram permitidas passaram a ser proibidas (como no caso da heroína,
que era vendida em todas as farmácias) (Nogueira, 2020, p.8).
No sentido mais normativo, as drogas podem ser consideradas lícitas ou ilícitas,
dependendo de uma decisão política e de estado, já que por definição o conceito droga
abrange muito mais que apenas os olhos do senso comum podem ver. A Organização
Mundial de Saúde (OMS), responsável por criar alguns relatórios a nível mundial visando
a prevenção, define droga como:

Droga é um termo de uso variado. Na medicina, refere-se a qualquer substância


com potencial para prevenir ou curar doenças ou melhorar o bem-estar físico ou
mental, e em farmacologia a qualquer agente químico que altere os processos

14
fisiológicos bioquímicos de tecidos ou organismos. Assim, um medicamento é
uma substância que é, ou poderia ser listada em uma farmacopéia. No uso comum,
o termo geralmente refere-se especificamente a drogas psicoativas e, muitas vezes,
mais especificamente, a drogas ilícitas, além de qualquer uso médico.
Formulações profissionais (por exemplo, "álcool e outras drogas") muitas vezes
procuram mostrar que cafeína, tabaco, álcool e outras substâncias em uso comum
não médico também são drogas no sentido de serem tomadas pelo menos em parte
pelos seus efeitos psicoativos (WHO, 1994, p.33).

A história do controle internacional de drogas é recente, apesar de haver hoje uma


relação próxima entre uso de droga e proibição, o consumo e a circulação de substâncias
como cocaína, ópio e cannabis eram legais até o início do século XX. Há alguns anos
havia apenas o estigma com relação ao uso, pois essas substâncias ainda eram usadas de
forma comum, de maneira recreativa ou medicinal. Nos primeiros anos do século passado,
essas três drogas, mais consumidas dá época, foram banidas. O proibicionismo moderno
nasceu durante a luta contra o ópio e o nascimento da lei seca americana, conjugou-se os
ideais puritanos e os interesses econômicos e geopolíticos desse país, na disputa contra a
Inglaterra para se tornar a maior potência mundial. Na época a venda de ópio na China,
liberada pós as guerras, era uma das bases econômicas mais importantes da Inglaterra.
Assim nasce a guerra às drogas, mais especificamente ao ópio, o que não passou de um
golpe econômico à Inglaterra (Rodrigues 2006; Romani, 1999 apud Abal & Gugelmin,
2018).

O controle penal sobre as substância psicoativas (SPA) é exercido por meio da


proibição tanto do consumo como da venda de determinadas substâncias, a partir de um
discurso punitivo que se fundamentado no conceito de “nocividade” de algumas
substâncias especificas, impondo um comportamento individual à coletividade, valores
como o da abstinência sendo implantados como ideal a ser seguido (Rodrigues, 2006).

É possível notar que a política de drogas na atualidade ainda possui um caráter


proibicionista, com ideais de combater o consumo de substâncias ilícitas. Existindo dois
tipos de filosofia que predominam nestas políticas, sendo a primeira o tratamento do
usuário como criminoso, e a segunda possui um olhar para com o usuário de SPA, lícitas
e ilícitas, como doente (Nascimento, 2006).

Como aponta Nowlis, 1981 apud Abal & Gugelmin, 2018, na perspectiva
proibicionista o consumo é explicado segundo o modelo moral/criminal ou segundo o

15
modelo de doença, doença biologicamente determinada. A abstinência é a única meta
plausível e é também pré-requisito para o tratamento. Percebe-se o movimento de
patologização do usuário de substâncias através da análise das publicações do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Nos primeiros volumes do
manual, havia uma tentativa caracterizar o uso de substâncias como uma característica da
personalidade, através do conceito de personalidade aditiva.

No volume I e II do DSM, o alcoolismo e o abuso de drogas eram classificados


como tipos de “perturbação da personalidade sociopatas” e depois como “perturbações
da personalidade”. No volume III, do manual houve a rejeição do conceito de
personalidade aditiva, e adotou-se o a definição de perturbações do uso de substâncias.
Que ainda persiste nos dias de hoje, na versão mais recente do manual, o DSM-V, em um
capítulo inteiramente dedicado a temática, nomeado de: Transtornos relacionados a
substâncias e transtornos aditivos.

O movimento da patologização também abrange o conceito referente ao termo


droga, associado majoritariamente com um cunho negativo, mesmo que por definição não
abrange apenas substâncias ilegais, mas também substâncias de uso diário comum social,
como o café e o açúcar.

Ao mesmo tempo o proibicionismo tem como o objetivo a redução da oferta e


demanda de drogas em conjunto com intervenções baseadas na repressão e criminalização
da produção, tráfico, porte e consumo, utiliza-se em conjunto do dispositivo médico-
jurídico-policial que vem promovendo a reabilitação compulsória, ao construir o
estereótipo do consumidor de determinadas drogas como criminoso, violento, desviante,
doente e perigoso (Zorrilla, 1987 apud Abal e Gugelmin, 2018).

Em contrapartida ao modelo punitivo instituído pelo estado penal e ao modelo


médico que se utiliza de políticas higienista no combate do uso de substâncias, surge o
modelo de RDMD, para Silva (2011, p.56):

Redução do risco ou redução do dano são termos frequentemente usados como


sinónimos. O risco relaciona-se com a possibilidade de que um evento poder vir a
ocorrer, o dano deve ser visto como a ocorrência do próprio evento. Deste modo,
evitar o dano seria uma atitude mais pragmática do que evitar o risco (nem sempre
ocorre necessariamente um dano, numa situação onde há risco).

16
5.1 Redução de Riscos e Minimização de Danos

Como prática, a RR surgiu pela primeira vez na Holanda em 1970, e na Inglaterra


em 1980, fruto do rápido crescimento do consumo de drogas nesses países e do insucesso
das práticas de intervenção tradicionais baseadas na abstinência (Marlatt & Tatarsky,
2010 apud Valbom, 2015, p.11). Este posicionamento reconhece a liberdade e o direito
individual ao consumo de drogas, assumindo a importância de facilitar meios e condições
para minimizar os riscos e danos do consumo, entre aqueles que não podem ou não o
querem abandonar. Neste sentido, o seu princípio fundamental consiste na modificação
dos conhecimentos, atitudes e comportamentos das pessoas, grupos e comunidades,
dando importância à saúde do indivíduo e da comunidade para diminuir os danos
(Gonçalves, 2011; Araujo, 2019).

RRMD surge, portanto, como um modelo de contraponto às abordagens


proibicionistas que foram dominando o discurso e a intervenção sobre as drogas e
cujo objetivo era eliminar o consumo de drogas: o modelo médico, que entendia
o/a consumidor/a como um/a doente a necessitar de tratamento, e o modelo moral
que o/a encarava como um/a criminoso/a merecedor/a de castigo (Cruz, 2005 apud
Domingues, 2018, p.12).

De acordo com International Harm Reduction Association (2018) os princípios


da RR são: respeitar os direitos das pessoas que usam drogas, compromisso com a
evidência científica, compromisso com a justiça social e colaboração com a rede de
usuários de drogas e a prevenção da criação de estigma contra o consumidor. Já com
relação aos objetivos estabelecidos temos o de manter as pessoas vivas e encorajar a
mudança positiva em suas vidas, reduzir os danos das leis e políticas de drogas e oferecer
alternativas para abordagens que buscam prevenir ou acabar com o uso de drogas.

O tratamento orientado pela perspectiva da RRMD propõe metas intermediárias e


não exige a abstinência como pré-requisito obrigatório, razão pela qual é descrito como
de “baixa exigência”, ou seja, o objetivo do tratamento não é que a pessoa pare de
consumir, mas reduzir os problemas associados ao consumo. Suas premissas também
envolvem a escuta, o acolhimento das individualidades e subjetividades, do sujeito que
esteja com problemas em relação ao uso de drogas, o autocuidado, o autoconhecimento e
participação ativa em suas ações de cuidado (Machado & Boarini, 2013; Galhardi &
Matsukura, 2018).

17
A RR também pode variar sua aplicação dependendo do contexto social a qual
será aplicada, no entanto como premissa busca valorizar os saberes dos atores envolvidos,
mais do que apenas o saber técnico, se valoriza a construção conjunta de soluções para
cada usuário, aceitando, portanto, diversos contratos que não só a abstinência da droga
(Santos & Malheiro, 2010 apud de Souza, Pereira & Gontijo, 2014).

A política de RRMD também propõe reduzir os efeitos nocivos provocados pelo


consumo indevido das drogas, tanto para o indivíduo que as usa quanto para a sociedade
no qual se encontra inserido. Utilizando-se também das relações interpessoais, através de
estratégias de educação para a saúde e direcionada para o(s) tipo(s) de substância(s)
utilizada(s) (Silva, 2011; Soares, Fernandes, Ribeiro, Rocha & Ribeiro, 2020, p.2).
Alguns dos serviços de RR ofertados são: a disponibilização da informação sobre a droga
e seus efeitos, ou seja, educar o consumidor sobre o que está a consumir, disponibilização
de materiais tais como seringas, “consumption rooms” (CR), intervenções que podem
acontecer também em contexto recreativo, como o drug checking.

Relativo ao contexto recreativo, Pereira (2018), aponta que por ser um contexto
tão particular é necessário que para ser desenvolvida há a necessidade de fazer sentido
para o consumidor nesse contexto, necessita-se de estratégias que possibilitem o gerir do
consumo e também suas experiências de festa maximizando os benefícios e minimizando,
tanto quanto possível, os riscos e os potenciais danos.

5.2 Portugal e a Redução de Riscos

No que diz respeito à problemática das drogas e de sua legalização, em Portugal,


havia uma posição deveras ambivalente com relação ao tema, no ano de 1920, o Tratado
de Genebra, veio para alterar o paradigma do toxicodependente, antes visto como
criminoso, agora passaria a ser reconhecido como o doente. O tratamento passou a ser
reconhecido como uma possibilidade e não apenas uma punição, caminhando-se para uma
certa descriminalização. Nos anos 80, após o surgimento da venda de heroína, notou-se a
necessidade de modificar a política que vigorava até então, neste contexto surgiu o
Decreto-Lei nº 430/83, que assumia que o toxicodependente deveria ser encarado como
um ser humano, e por consequência ter os mesmo direitos com relação a prestação de
assistência médica (Silva, 2011; Valbom, 2015).

18
O fenômeno do uso/abuso de SPA no início dos anos 70, teve início em Portugal
sem a mesma expressão e impacto social do fenômeno em outros países da Europa, logo
à partida são dados passos para a construção de uma resposta pública a esta problemática
através da criação de uma consulta específica de toxicodependência, no serviço de
Psiquiatria do Hospital de Santa Maria em Lisboa no ano de mil novecentos e setenta e
três. No ano setenta e cinco a presidência do conselho de ministros cria as primeiras
estruturas para combater o novo fenômeno das drogas, o Centro de Estudos da Juventude,
que possuía uma vertente preventiva e de tratamento médico-social e o Centro de
Investigação Judiciária da Droga, que atuava na área de repressão e fiscalização do tráfico
(SICAD, 2020).

Para Barbosa (2009 apud Castro, 2019) a RRMD em Portugal pode ser organizada
em três fases. Sendo a primeira entre 1977 a 1992, nomeada de a fase clandestina; já a
segunda seria entre 1993 a 1998, chamada de fase experimental; e por fim a terceira, entre
1999 a 2005, denominada de fase de legitimação política. A primeira fase é considerada
particular pelo pioneirismo e pela fragmentação. Ao fim dos anos 70 implementa-se em
Portugal a substituição opiácea, conhecidos também como programas de manutenção de
metadona. A primeira experiência de um “drop in” teria sido em 1985, porém não existem
registos sobre, dada a política proibicionista que vigorava em Portugal no período.

Mata & Fernandes (2016), apontam que a RR em Portugal surgiu como uma
política de saúde provinda do interior do dispositivo de intervenção, contrariando suas
raízes sociais de proatividade entre os usuários de substâncias, que buscavam a afirmação
de seus direitos, como ocorreu na Holanda e na Espanha, onde inicialmente os
protagonistas desse movimento em busca do direito de gestão do próprio corpo e do
prazer, eram os usuários.

Há mais de uma década atrás Portugal decidiu-se por descriminalizar a posse de


drogas para o consumo, incluindo drogas que eram classificadas como duras por outros
países, como a cocaína e heroína. Esta mudança na política nacional foi um marco não só
na história portuguesa, mas também repercutiu na história internacional da droga, pois
optou-se por tentar utilizar outros meios para reduzir o consumo que não a tratar o
consumidor como criminoso (Domoslawski & Capaz, 2011).

19
Vale ressaltar que tecnicamente a descriminalização é o ato ou a conduta descrita
em lei que não se caracteriza mais como ilícito penal, porém ainda pode vir a ser
considerada, para fins de ilícito civil ou ilícito administrativo, acarretando sanções que
podem ser desde multas, frequência em cursos de reeducação á prestações de serviços
(Teixeira, 2020).

Em Portugal, a Lei n º 30/ 2000 consagra a descriminalização do consumo de


droga se, com base na ordem social e não criminal (através da prevenção). Nesta
época foi importante a Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência que teve
como responsabilidade principal a aplicação de sanções administrativas aos
consumidores (Serrano, 2017, p.18).

No entanto destaca-se que apesar dos avanços com a aprovação a Lei n º 30/ 2000,
em conjunto com a lei da redução de danos em junho de 2001 (DL nº 183/2001, de 21-
6), grande parte dos programas previstos pela lei, em suma, já existiam, em contrapartida,
a lei veio legitimar os programas de substituição em baixo limiar (metadona), praticados
até então só em alguns Centros de Atendimento a Toxicodependentes (Costa, 2009).

A descriminalização difere da despenalização porque a compra, posse e consumo


de substâncias ilícitas, em quantidades superiores às necessárias para 10 dias de
consumo, continua a ser considerada um crime e poderá acarretar a aplicação de
sanções de âmbito criminal. No entanto, estas sanções não implicam geralmente
a aplicação de penas de prisão (Greenwald, 2009 apud Domoslawski & Capaz,
2011, p.28).

Notou-se ao longo dos últimos anos, que em Portugal após a implementação dos
programas de RR, conseguiu intervir de forma mais abrangente, pois conseguiu levar
saúde a pessoas que não procuravam o serviço e por consequência a diminuição dos casos
de V.I.H./S.I.D.A. Este retorno positivo foi possível devido aos programas de RR, através
das informações disponibilizadas juntos dos utilizadores de droga (Barbosa, 2017).

Em Portugal, a história da RR, como explanada anteriormente, teve um início


diferente por ter sido proposta por dispositivos de saúde, além de ter focado por muito
tempo na redução dos casos de V.I.H./S.I.D.A., este projeto percebe a necessidade de dar
voz também aos usuários dos serviços, para que seja assim possível uma melhora nos
serviços prestados.

Também relacionado com a implementação da Estratégia Nacional de Luta contra


as Drogas, implementada em dois mil e um, surgiram as equipes de ruas, os centros de

20
acolhimentos e centros de abrigo, os programas de substituição opiácea de distribuição
de preservativos e trocas de seringa (Carbonário, 2016 apud Machado, 2018).

Muitos desses serviços são realizados pelas equipes de ruas que possuem contato
mais direto com os consumidores, criando vínculos que permitem a inserção no local,
Domoslawski & Capaz (2011, p.36) descreve o papel das esquipes de rua:

O papel dos trabalhadores das equipas de rua, uma das mais importantes
atividades de redução de danos, consiste em rondas diárias aos lugares onde os
consumidores se costumam juntar. Uma equipa de duas ou três pessoas – uma dos
quais tem que ser um profissional da área da psicologia – distribuem kits aos
consumidores. O componente mais importante destes kits são as seringas e
agulhas limpas para os consumidores de heroína. O kit contém também outros
utensílios de higiene como água destilada, gaze e um preservativo.

Atualmente também se nota a crescente mudança de posicionamento referente ao


uso recreativo de drogas como desviante, por parte do público jovem adulto, inclui-se o
jovem português, sendo por motivações diversas, tendo grande aderência a padrões de
consumo ditos não problemático de drogas (Measham, 1998; Parker, Williams, &
Aldridge, 2002 apud Aguiar, 2020).

O Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), realizou um estudo no ano


de dois mil e cinco a nível nacional com intento de identificar áreas e grupos de pessoas
que poderiam efetivamente desenvolver problemas de consumo de drogas ou
dependência, foram desenvolvidas medidas de educação que focavam em escolas, centros
de saúde, centros recreativos ou esportivos, contexto festivos (Domoslawski e & Capaz,
2011).

5.3 Estratégias de intervenção implementadas em Portugal

5.3.1 Projetos

Uma das primeiras ações consideradas como intervenção em redução de danos


em Portugal, aconteceu no bairro do Casal Ventoso em Lisboa. Esta intervenção
promoveu em particular trouxe a tona a necessidade de reflexão e discussão sobre a
implementação das políticas de redução de danos em Portugal. O projeto pretendia dar
uma resposta aos sentimentos de insegurança sentidos pela sociedade e aproximar os
indivíduos excluídos, promovendo uma condição de cidadania (de Castro, 2019).

21
Segundo Meglioranzi (2017), existem vários projetos sobre RRMD
implementados em Portugal, precisamente 49 projetos, foram datados em sua pesquisa,
todos eles eram financiados e apoiados tecnicamente pelo Instituto da Droga e
Toxicodependência, alguns dos projetos: o IN-Ruas (Guimarães) equipe de rua , Novas
Metas (Matosinhos), Âncora (Povoa do Varzim) e também o Projeto Elos (Porto). Todos
estes projetos tiveram presente como objetivo o oferecimento aos utentes, apoio
psicológico, cuidados de saúde, intervenções tendo por base uma abordagem
biopsicossocial.

Estes projetos utilizam de equipes de rua para acessar a população de risco,


Instituto da Droga e da Toxicodependência (2011 apud Casimiro 2016), exemplifica a
necessidade da proximidade e da confiança que o consumidor vai adquirindo com a
equipa de rua, possibilitam a formação de vínculos que permitem aproximação com as
estruturas de saúde. O profissional é o primeiro contacto do utente, não só com o
dispositivo de saúde.

Os serviços a serem prestados pelas equipas de rua são informação e


sensibilização relativamente aos comportamentos de risco, a troca de seringas,
distribuição de preservativos e de outro material utilizado em consumos, programa
de metadona, encaminhamentos para outros serviços, acompanhamentos, apoio
psicológico e social, fornecimento de alimentação e de roupa e intervenção nos
primeiros socorros face a situações de emergência ou de negligência (Andrade et
al., 2007; Carapinha, 2009; Fernandes, Pinto, & Oliveira, 2006 apud Coelho,
2019, p.31).

Com relação a distribuição de kits, estes podem possuir diversas composições, por
materiais considerados necessários aos utentes, Gomes e Vecchia (2018, p.2333)
explicam o que pode estar inserido nos kits:

Os kits são uma oferta abrangente no que tange aos cuidados de saúde do usuário,
podendo ter composições distintas de acordo com o público assistido.
Comumente, os kits são compostos de: folhetos informativos, materiais para o
tratamento de feridas, água destilada, preservativos e lubrificantes. Agulhas,
seringas e cachimbos também são inclusos em alguns kits.

Apesar da quantidade de projetos não há de fato material lançado sobre suas


intervenções, apenas alguns destes projetos foram alvo de pesquisas especificas que
analisem de fato a eficácia ou a manutenção destes serviços. O projeto de GIRUBarcelos
desenvolvido em pela Agência Piaget para o Desenvolvimento (APDES), é indicado
como exemplo nessas práticas de distribuição de kits, funcionava em especial um

22
programa de troca de seringas 25G, ajudando a direcionar para os hábitos de consumo e
características de sua população alvo, e demostrou níveis superiores de adesão (APDES,
2013).
Com relação ao Projeto Elos, os dados apontaram que havia uma satisfação por
parte da equipe técnica que acompanha os utentes, reconhece-se o projeto como eficaz
porém são necessárias algumas mudanças proposta pelos resultados da pesquisa, como
melhorias nos aspectos logísticos de gestão de espaço, falta de serviços de psicologia e
de atividade ocupacionais a serem implementadas para os utentes (Meglioranzi, 2017).

Outro projeto avaliado por um estudo que buscou realizar entrevistas com os
consumidores e com os profissionais, é nomeado de projeto Aproximar, da delegação de
Braga da Cruz Vermelha. Coelho (2019) aponta que ainda a margem de crescimento para
a RRMD, projeto dá provas de sua eficácia, porém os mesmos consumidores inseridos no
serviço ainda praticam certos comportamentos de risco, há outros pontos negativos
relacionados a estrutura móvel e o decréscimo do número de utentes.

Com relação aos projetos de substituição opiácea em Portugal, Pinto et al. (2015)
aponta que não é possível de um todo analisar estes projetos por meios de suas literaturas
publicadas, tendo em vista que grande parte das publicações são dotadas de um caráter
voltado a monitorização dos serviços e não de fato sua avaliação:

A inexistência de uma estratégia integrada e sistemática de avaliação dos


diferentes programas de substituição opiácea dispersos pelo país, no âmbito das
estruturas estatais de tratamento, é digna de atenção. Era fundamental que esta
existisse, combinando as diferentes dimensões e fontes que fazem da avaliação a
principal ferramenta de adaptação e aperfeiçoamento dos serviços. Uma estratégia
deste género deveria ser geradora de modelos de ação baseados na evidência
científica produzida a partir dela (p.53).

5.3.2 Contexto Festivo/Recreativo

Com relação ao contexto recreativo reconheceu-se que a um grande consumo de


SPA adquiridas de forma ilegal, acredita-se que por vezes essas substâncias podem não
ser as mais puras. Ventura (2015) já defendia a necessidade de uma intervenção em
contextos recreativos ou em contextos de crise em Portugal, tendo em conta a facilidade
e normalização do consumo de SPA nesses contextos.

23
Considerando a apresentação, a forma, o logotipo, o odor ou mesmo o sabor não
é possível reconhecer ou identificar a composição de um produto através de suas
características mais obvias. Dentro teste contexto, a disponibilização de um serviço de
análise de substâncias psicoativas ilícitas – Drug Checking – é uma estratégia crucial de
redução de riscos e minimização de danos (Martins, Valente & Pires, 2015).

A Drug Checking service represents a direct response to the need to reduce these
health risks of illegal drug use. The Drug Checking results shows that illegal
drugs varies greatly and with regional differences with regard to their levels of
purity and the number and percentage of adulterants (TEDI, 2012 apud Ventura
et al., 2013, p.15).

A análise da droga é uma das características mais recentes adotadas pela RR em


contexto de festivais, oferece-se ao consumidor a oportunidade de chegar a pureza da
substância que está a ser consumida, que por vezes também serve como mecanismo de
controle social. Ventura et al. (2012) aponta que o serviço ofertado de análise da drogas
incluem o monitoramento do mercado de drogas, já que permite colher dados sobre o que
está sendo mais consumido e a faixa etária desta população, oferta-se uma gama de
informações educacionais e acredita-se ser um serviço que agrada o público alvo.

Nota-se que no que relativo ao consumo alternativo, ou dito como não


problemático, o trabalho de redução de riscos e minimização de danos, acaba por ter
grande atuação em projetos de intervenção em contextos recreativos. Tal ato justifica-se
fato de que se reconhece que tais contextos são palcos privilegiados do uso de substâncias
ilegais, onde frequentemente são combinadas com outras substâncias como o álcool.
(Calafat et al., 2005; OEDT, 2008; Rovira & Hidalgo, 2003 apud Cruz & Machado,
2013).

As intervenções em situações de crise em ambientes recreativos já acontecem há


um tempo, em particular a Kosmicare, acontece desde 2002, podendo ser descrita como
um projeto que possui uma equipe majoritariamente voluntaria, multidisciplinar e
internacional, constituída por diversos profissionais com diferentes backgrounds
terapêuticos, está intervenção atua de maneira extremamente próxima da realidade atual,
junto dos consumidores, dos novos padrões de uso e de seus contextos frequentados,
procurando contribuir para a satisfação de intervenção nessa população onde existe uma
maior probabilidade de se encontrar perfis de consumidores ditos não problemáticos

24
(EMMCDDA, 2012; Carvalho & Trigueiros, 2010; Cruz e Machado, 2010 apud Valbom,
2015).

No contexto do Kosmicare buscou-se identificar por meio de uma pesquisa se era


de um todo benéfico a intervenção em crise, em dois mil e dez realizou-se um estudo no
festival Boom com o parecer positivo as intervenções realizadas, logo desenvolveu-se
outro estudo que buscava avaliar o valor da intervenção em risco com a intenção de se
produzir conhecimento com relação ao uso das substâncias e o impacto na saúde mental
além de reduzir os riscos, este também evidenciou a importância e a necessidades dessas
intervenções, ao apontar a satisfação dos participantes do estudo (Carvalho et al.,2014).

O projeto CHECK!NG teve início em 2009, promovido pela APDES e financiado


pelo Alto Comissariado para a Saúde. CHECK!NG apresenta resultados que reforçam as
vantagens de disponibilizar um serviço de Drug Checking no domínio de contextos
festivos. Foram recolhidas amostras entre 2009 e 2013 em festivais, festas e serviços de
drop-in que corroboram para a manutenção desses serviços em Portugal pois ajudam o
consumidor a identificar uma possível alteração que pode criar sérios riscos à saúde do
consumidor além de ajudar na monitorização do mercado da droga em Portugal (Ventura
et al., 2012; Martins, Valente & Pires, 2015).

Outro estudo também realizado no festival Boom, este relativo ao Drug Checking,
onde foram disponibilizados serviços de análise das substâncias e aplicados cerca de 310
questionários aos consumidores para a avalição do serviço, este estudo aponta é possível
ofertar o serviço em larga escala, além de ajudar na promoção de informação sobre o que
está sendo consumido.

The data corroborates the hypothesis that when provided with objective
information about the content of their drugs, people that use drugs typically
implement health protecting behaviours. Additionally, these results can contribute
to the design of tailored harm reduction interventions that take into consideration
clients’ character-istics, profiles and motivations (Valente et al., 2019, p.93).

5.3.3 Salas de Consumo Assistido

Já com relação ao consumo de drogas em contexto de rua, Negreiros e Magalhães


(2005 apud Machado 2018, p.2) afirmam:

25
a experiência de consumidores problemáticos de drogas sobre a partilha de
seringas e equipamentos de injeção associados à prática de comportamentos de
risco, é necessário criar um espaço de compreensão das experiências vividas dos
indivíduos, a partir das suas próprias perspetivas, pois o risco reside em vários
contextos de integração, sendo influenciado pelos valores culturais dominantes e,
particularmente, pelas necessidades associadas aos contextos vivenciais dos
toxicodependentes sem-abrigo onde avultam as atividades de manutenção da sua
dependência numa designada economia de rua.

Às CR têm como alvo grupos pré-definido caracterizados por estarem em situação


de riscos resultados de exclusão social, como pessoas que utilizam drogas em contexto
de rua, em adição a produção de saúde as CR também oferecem alimentação, instalações
higiênicas para o consumo, material de injeção esterilizado, serviços de aconselhamento
antes, durante e após o consumo, cuidados de emergência em caso de overdose, bem como
cuidados de saúde primários e encaminhamento para serviços adequados de assistência
médico-social ou de tratamento da toxicodependência (Hendrich, 2004; EMCDDA,
2018).

O relatório regido pelo European Monitoring Center for Drugs and Drug Adiction
(EMCDDA), defende e aponta os países que já haviam implementado CR fazendo uma
análise geral sobre o funcionamento delas no ano de dois mil e quarto. No que respeita à
evolução histórica desta forma de intervenção, a primeira sala de consumo assistido de
droga foi aberta em Berna, na Suíça, em junho de 1986. Nos anos seguintes, foram criadas
instalações do mesmo tipo na Alemanha, nos Países Baixos, em Espanha, na Noruega, no
Luxemburgo, na Dinamarca, na Grécia e em França (EMCDDA, 2018).

Em Portugal, os programas de consumo vigiado existem na legislação portuguesa


desde dois mil e um. Em dois mil e quinze, realizou-se um diagnóstico no qual
recomendou a abertura de vários pequenos programas de consumo vigiado na cidade de
Lisboa, descentralizados, para que assim pudessem complementar a rede já existente
(Lusa, 2019).

Se, por um lado, Portugal apresentou um modelo de descriminalização do


consumo de drogas e uma política de RR deveras promissora, onde foi altamente
referenciado por muitos países desenvolvidos com relação ao tema, por outro lado a
implementação da proposta de legislação na prática acaba por não se concretizar na sua
plenitude, principalmente no que diz respeito às CR (Machado, 2018).

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Na Irlanda, foi aprovada uma lei (Misuse of Drugs Act (Supervised Injection
Facilities), 2017) com vista a permitir o licenciamento e a regulamentação destas
estruturas. No mesmo mês, foram anunciados em Lisboa, Portugal, as localizações
e a área de operação de dois equipamentos fixos e de uma unidade móvel de
consumo assistido de droga. Espera-se que os serviços entrem em funcionamento
no segundo semestre de 2018 e no início de 2019 (EMCDDA,2018, p.3).

O mesmo relatório lançado em dois mil e dezoito também com o propósito de


defender a utilização e implementação das CR, prova que com relação aos outros países,
Portugal ainda está consideravelmente atrasado na implementação de recursos de RR à
população de risco, a primeira CR a ser implementada no país foi inaugurada em dois mil
e dezenove e por agora temos apenas uma para todo o país localizada na cidade de Lisboa.
Contamos também com uma unidade móvel onde é possível consumir de forma digna e
segura na cidade de Lisboa, a funcionar desde abril do presente ano (de Castro, 2019).

Atualmente existem dois projetos para CR no Porto, o documento propõe a criação


de duas CR uma para consumo fumado e outra endovenoso, num ponto entre bairros para
adaptar-se a dinâmicas da cidade e a outra seria numa carrinha ao que possibilitaria
deslocar-se por Gaia e na zona oriental do Porto (Cardoso, 2018).

No entanto estas duas salas estão presentes apenas no papel, o programa foi a
votos em julho de dois mil e vinte, a ideia consistia em arrancar o terreno até o fim do
ano, a primeira fase duraria por um ano, seria marcada pela prestação de assistência numa
unidade amovível, estando presente para apenas dois mil e vinte e dois a disponibilização
de uma unidade móvel adaptada (Paulo, 2020).

6. Conclusão

Pois quando se pensa em redução de riscos muito se fala acerca dos serviços
ofertados, quais são realizados, tendo sido em grande parte idealizados por profissionais
da área da saúde, que já atuaram ou atuam no campo, não levando em conta o que as
especificidades e considerações daqueles que são beneficiados pelo serviço e dos que
trabalham no mesmo.

Partindo do viés histórico percebe-se que Portugal teve um grande papel na


política de descriminalização de drogas perante a Europa, porém nota-se que atualmente

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as técnicas utilizadas na RRMD e suas intervenções em Portugal acompanham as
tendências com relação as técnicas implementadas em outros países, no entanto percebe-
se uma implementação tardia quando comparada com outros com relação a saúde
proposta para população de risco ou em contexto de rua.

Nota-se a eficácia dos projetos implementados no país em questão de promoção


de saúde e de utilização do modelo de RR. Muito mais do que uma estratégia socio-
sanitária, a Redução de Riscos e Minimização de Danos pode, e deve ser, o contexto onde
se criam oportunidades de libertação e bem-estar (Domingues, 2018, p.48).

Como exposto no capítulo anterior existem vários projetos dedicados a


intervenções e notamos que elas vêm de uma estrutura governamental, ou seja, são
planejados e desenvolvidos em um certo tipo de estrutura, com um determinado tipo de
fundos, Pereira (2018, p. 68) aponta:

“gostava de ver mais em Portugal, a criação, a auto-organização e a criação de


respostas de forma autónoma e se calhar com outro tipo de financiamentos que
não o governamental, com outro tipo de equipas, autogeridas, que podem ser
profissionalizados ou não. No sentido de que seja uma resposta de base e
disseminada por vários contextos; que não seja tão formal e não tão dependente
da intervenção governamental, estatal, ou seja, haver outras estruturas que não as
governamentais a promoverem também este tipo de resposta.”

Tendo em conta o momento social e emergente da crise relacionada ao


coronavirus ou COVID-19, também é necessário observar de que forma a RR pode ser
impactada tendo em conta que existem várias contradições com relação as diretrizes para
conter a transmissão e a natureza altamente física, intima, social e emocional do uso de
drogas, especialmente as drogas injetáveis (Schlosser & Harris, 2020).

Com relação as limitações e dificuldades enfrentadas em termos de uma pesquisa


teórica, temos acesso apenas dados produzidos e tratados por outros pesquisadores, foram
encontrados poucos estudos que focam em avaliar as propostas de RR aplicadas em
Portugal, os projetos que já existem em funcionamento, ou mesmo questionar a demora
de aplicação de outros serviços.

Acredito também que necessário buscar a experiência dos profissionais atuantes


em conjunto da população beneficiada pelo serviço, e podemos observar que existe pouca
produção cientifica que busque avaliar ambos os lados, é necessário realizar pesquisas
onde seja possível comparar as duas opiniões, usuários do serviço e trabalhadores da

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aérea, para que assim haja a possibilidade de desenvolver um serviço que possa ser
completo e de maior qualidade.

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