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1 INTRODUÇÃO
Este trabalho enfoca a importância de mudanças nas concepções de Matemática
e de seus processos de ensino e de aprendizagem na formação inicial de professores. A
disciplina de Metodologia de Ensino de Matemática, semestral e com carga horária de
30 horas teóricas e 15 práticas, é ofertada aos alunos do 4º ano do curso de Pedagogia
da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e tem como objetivo promover
embasamento teórico-metodológico para a atuação pedagógica na Educação Infantil e
Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Um dos objetivos específicos da disciplina é
promover o registro e a reflexão sobre as concepções pessoais e teóricas de Matemática
e de seus processos de ensino e de aprendizagem. Este objetivo apoia-se na tese de que
a prática pedagógica desenvolvida pelo professor em sala de aula é reflexo das
concepções que possui e de que estas influenciam significativamente o seu modo de
ensinar (ABIB, 1996; ZIMER, 2008). Neste artigo apresentam-se dados relativos à
movimentação conceitual observada em uma turma sobre Matemática e seus processos
de ensino e aprendizagem.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
Para o desenvolvimento deste trabalho relacionado ao estudo de concepções,
adotou-se, como referencial teórico, aspectos da Teoria de Mudança Conceitual (MC).
Esta linha teórica, considerando o estudo de Posner et al (1982) como precursor, tem
como pressuposto a existência de conhecimentos prévios ou pré concepções e a
resistência a mudanças, ou seja, a tendência de os alunos terem dificuldades em
assimilar, incorporar, assumir, utilizar, mudar suas ideias pessoais para as concepções
veiculadas pela escola, as quais são concebidas como cientificas. A mudança nos
conhecimentos prévios é viabilizada, por meio das estratégias de ensino, mediante o
surgimento de perturbações conceituais e/ou emocionais, ou ainda, de conflitos
cognitivos e, também, pela tomada de consciência sobre o próprio modo de pensar. A
aprendizagem pelo viés da MC pode ser compreendida de duas maneiras, uma em que
se considera o processo de mudança conceitual como uma transformação radical dos
conceitos de partida ou do conjunto da estrutura conceitual, com rupturas e
reorganizações profundas das estruturas conceituais iniciais (POZO, 1997; CABRAL,
1998). Outra, que compreende o processo de MC como um modo de ampliar os
conceitos iniciais, os quais são mantidos em sua estrutura básica ou incrementados,
gradualmente, até atingirem uma evolução conceitual do perfil do conjunto de noções
sobre um conceito (MORTIMER, 1994; ABIB, 1996).
A ideia de Perfil Conceitual, em linhas gerais, “[...] se constitui em um
instrumento para a compreensão das relações entre os novos significados que são
gerados em sala de aula e aqueles que já existiam em função da vivência cotidiana dos
alunos, considerando as relações entre formas de pensar e modos de falar”. (AMARAL
e MORTIMER, 2006, p. 242). Nessa visão, não ocorrem rupturas bruscas entre o novo
conhecimento e o anterior, admitindo-se, inclusive, a coexistência entre ambos. Nesse
trabalho, consideraram-se como referência os perfis conceituais de Zimer (2008). Tais
perfis têm como referência aspectos da história da Matemática, de seu ensino e
aprendizagem, e de tendências de ensino-aprendizagem da Matemática. Cada Perfil
Conceitual foi constituído por zonas conceptuais, as quais foram organizadas
hierarquicamente em relação à evolução histórica do conhecimento científico. Frente a
isso, cada zona foi definida a partir de aspectos que caracterizam o conteúdo, a figura do
professor e a do aluno e, também, o modo de condução da aula (estratégias de ensino,
sequência didática), conforme apresentado a seguir:
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3 METODOLOGIA DE PESQUISA
O artigo tem como objetivo descrever a movimentação conceitual relativa às
concepções de Matemática e de seus processos de ensino e de aprendizagem, de alunos
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concepções, uma vez que a concepção Elaboração está presente nos planos de aula de
dois sujeitos e nos registros pictóricos de três sujeitos.
Em relação às mudanças nas concepções de cada sujeito da pesquisa, observa-se
que estas não ocorreram nem nos planos de aula, nem nos registros de dois sujeitos A2 e
A3. Nos planos de aula, seis não evidenciaram mudanças: A2, A3, A4, A7, A8 e A9.
Nos registros pictóricos, quatro sujeitos não mudaram suas concepções: A1, A2, A3 e
A7. Interessante observar que somente dois sujeitos mudaram suas concepções em
direção à zona de Elaboração em C3, tanto nos planos de aula como nos registros: A5 e
A6. Em A4, o mesmo se observa apenas no registro pictórico em C3.
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Matemática; - não houve movimentos e evolução dentro dos perfis conceituais, tanto
nos planos de aula como nos registros por parte dos sujeitos: A1, A3 e A9
(Matemática); A2 e A3 (ensino) e A1 e A3 (aprendizagem); - movimentos em direção a
mudanças efetivas nas concepções dos sujeitos ao longo da disciplina se deram apenas
nos sujeitos A5 e A6, que apresentaram evoluções tanto nos planos de aula quanto nos
registros pictóricos em relação às três concepções; - as mudanças foram mais evidentes
nos registros pictóricos e na maioria das vezes revelaram evolução dentro dos perfis
conceituais.
O modo de conceber a Matemática, evidenciado nas concepções iniciais dos
sujeitos é o mesmo, tanto nos planos de aula quanto nos registros pictóricos, ou seja, o
de Matemática com características do perfil conceitual das concepções Abstrata
Racionalista e Abstrata Empirista. A evolução das concepções de Matemática se dá em
direção à concepção Abstrata Empirista, ou seja, no sentido de considerar que sua
origem está na experiência sensorial para a maioria dos sujeitos. O que se observa nos
planos e nos registros é que as concepções se aproximam por considerá-la uma ciência
preexistente e diferenciam-se pela maneira como concebem sua origem, ou seja, como
algo criado por outro no passado (própria da concepção Abstrata Racionalista) ou nos
materiais de ensino (própria da concepção Abstrata Empirista).
A análise dos planos de aula e dos registros pictóricos permite observar um
desencontro entre as concepções efetivas dos sujeitos e os seus discursos sobre a prática
pedagógica. O discurso volta-se para elementos característicos de tendências mais atuais
do ensino da Matemática que envolve ideias, tais como o uso de materiais, relações com
aspectos socioculturais, atividades lúdicas e atividades em grupos. Do mesmo modo,
incorporam-se a esse discurso palavras como: diálogo, conversa, compreensão do
conceito, conforme tendências pedagógicas mais progressistas. No entanto, a forma
como encaminham a aula envolve práticas contrárias em relação a esse discurso. Isso se
revela nos planos de aula, nos papéis que atribuem ao professor e no encaminhamento
dado à aula. Por exemplo, nas falas atribuídas ao professor, nos planos de aula,
aparecem expressões como: “mostrar ao aluno”, “ pedir aos alunos que registrem”,
“mostrar através de objetos e cartazes”, “explicar a lógica do material”. Tais termos
evidenciam que o foco do processo ensino-aprendizagem está no professor, atitudes
próximas às zonas de Reprodução e Ilustração em relação ao ensino e Tradicional e
Comportamental em relação à aprendizagem.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A disciplina Metodologia do Ensino da Matemática é organizada com a intenção
de promover processos de mudança de concepções dos acadêmicos por entender-se ser
um aspecto fundamental na formação de professores. No entanto, o estudo reforça a
percepção de que tais mudanças não se dão em um espaço curto de tempo na formação e
gera a necessidade de pensar em ampliar os espaços para esta disciplina no currículo do
curso e/ou pensar em processos de formação continuada que contemplem essa
perspectiva. Isto fica evidente no fato de que, como mostra o estudo, as concepções
finais embora tenham se movimentado em direção a concepções mais próximas das que
se esperava (Dinâmica, Nova Cultura e Elaboração) não promoveram mudanças na
projeção de suas práticas pedagógicas, como era pretendido.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
___. El Cambio sobre el Cambio: hacia una nueva concepción del cambio
conceptual en la construcción del conocimiento científico. In.: La Construcción del
conocimiento escolar. Org. María José Rodrigo e José Arnay. Barcelona: Paidós, p.
155-176, 1997.
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APÊNDICES
Quadro 1 – Concepções sobre Matemática presentes nos planos de aula e registros pictóricos –
movimentação conceitual
Instrumentos SUJEITOS
A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9
Momentos
Planos C1 AE AR AE AE AR AE AR AE AE
de C2 AE AR AE AE AR AE AE AE AE
Aula C3 AE AR AE AE DI DI AE AE AE
Registro C1 AE AU AE AR AR AU AR AU AE
Pictórico C3 AE DI AE AE DI DI AR AE AU
Fonte: dados de campo
Legenda
C1 – Concepções iniciais; C2 – Concepções intermediárias; C3 – Concepções finais
AR - Racionalista; AE- Abstrata Empirista; DI – Dinâmica; AU – Ausente
Quadro 2 – Concepções sobre Ensino presentes nos planos de aula e registros pictóricos – movimentação
conceitual
A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9
Planos C1 IL IL IL IL RE IL IL IL RE
de C2 RE IL IL IL IL RE IL IL RE
Aula C3 RE IL IL IL EL EL IL IL RE
Registro C1 IL IL IL IL RE IL RE RE AU
Pictórico C3 IL IL IL EL EL EL RE IL IL
Fonte: dados de campo
Legenda
C1 – Concepções iniciais; C2 – Concepções intermediárias. C3 – Concepções finais
RE – Reprodução; IL – Ilustração; EL - Elaboração
Quadro 3 – Concepções sobre Aprendizagem presentes nos planos de aula e registros pictóricos –
movimentação conceitual
A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9
Planos C1 TR TR CO CO TR CO TR CO TR
de C2 TR TR CO CO CO CO TR CO TR
Aula C3 TR TR CO CO NC NC TR CO TR
Registro C1 TR CO CO CO TR CO TR NC AU
Pictórico C3 TR CO CO NC NC NC TR NC TR
Fonte: dados de campo
Legenda
C1 – Concepções iniciais; C2 – Concepções intermediárias. C3 – Concepções finais
TR – Tradicional; CO – Comportamental; NC – Nova Cultura; AU- Ausente
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