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A abordagem do tema específico representado pelo traba-

lho de planejamento de um hospital pode ser precedida,


com proveito, por algumas considerações de ordem con-
ceitual, tiradas da moderna visão empresarial.
Inicialmente é lícito salientar a importância que vem
assumindo, em ritmo crescente, a visão da empresa como
um sistema; trata-se de uma visão que vem enriquecer con-
sideravelmente a teoria da administração, sobretudo em
função de dois aspectos principais.
O primeiro deles corresponde ao fato de que, ao con-
siderar a organização como um conjunto de subsistemas
inter-relacionados, as funções de cada indivíduo ou setor
passaram a ser mais abrangentes; em conseqüência, o indi-
víduo não pode mais procurar otimizar apenas o resultado
de seu trabalho ou de seu setor, mas sim o resultado da
organização como um todo. Para tanto, ele deve sempre
considerar as mútuas influências entre seu setor e os
demais. Em organizações complexas, como são os hospi-
tais, a importância desta abordagem é facilmente eviden-
ciável.
Ernesto Lima Gonçalves * O segundo aspecto refere-se à importância dada ao
ambiente externo pela teoria de sistemas: a empresa não
existe isolada, mas é parte de um macrossistema, integrado
por outras empresas, pelo governo, por outros países, etc.
Portanto, a estrutura da organização, sua tecnologia e seus
recursos humanos afetam e são afetados pelo ambiente
externo de que participam. A organização que melhor
conhece suas interações com o ambiente externo tem mais
possibilidades de atingir seus objetivos. Para tanto, ela
deve ter plena consciência de que, ao lado dos produtos
que ela gera, existem os mecanismos de alimentação que
ela recebe do meio ambiente, bem como de outras orga-
nizações (1).
Outra consideração de ordem conceitual importante é
a de que o termo planejamento cobre uma ampla varie-
dade de atividades, das mais simples às mais complexas,
desde a solução de problemas correntes até a determina-
ção de ações que uma organização deve considerar para
enfrentar o futuro incerto. Existe um dado que é comum
a todas essas atividades: a necessidade de tomar decisões.
Por tudo isso é que se pode considerar o planejamento
como o processo de tomada de decisões que permite a
urna organização agir hoje com vistas a produzir resultados
no futuro. No caso de um hospital, essa decisão pode
assumir alta relevância, desde a envolvida na construção de
uma nova dependência até toda uma nova estrutura hos-
pitalar.
Esse processo de pensamento por antecipação como
base para saber-se o que deve ser é indicado por Sig-
mond (2) como integrado por três elementos: 1. o que
* Professor livre-docente da deve ser feito (definição de objetivos); 2. como deve ser
Faculdade de Medicina da USP; realizado o que tenha sido definido (programação);
diploma do curso de especialista em 3. permanente análise, à medida que o programa se desen-
Administração Geral da volve, da compatibilização entre os objetivos visados e a
Escola de Administração de programação proposta (reavaliação).
Empresas de São Paulo, da Operacionalmente, o processo todo pode ser melhor
Fundação Getulio Vargas; compreendido se for desdobrado em etapas, assim carac-
consultor médico-hospitalar. terizadas:

R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, 16(6): 31-36, nov./dez.1976

O planejamento hospitalar distribuição de funções


1. Definir claramente a tarefa a ser er.trentada: identi- como ampliar instalações do hospital ou construir um
ficar as razões primeiras da iniciativa, esclarecer as caracte- novo, ouvir seus integrantes, corpo clínico, elementos
rísticas das dúvidas surgidas, considerar os métodos alter- técnicos ou administrativos. Com isso, divide-se a respon-
nativos de procurar as respostas, selecionar um método sabilidade e garante-se a fidelidade. Desse trabalho resul-
objetivo de avaliação do custo-benefício, listar as informa- tará o programa básico a ser proposto à equipe que deverá
ções seguidas para a solução, especificar as ações requeri- agora desenvolver o planejamento da nova estrutura. Essa
das para desenvolver informações não disponíveis. equipe compreenderá diferentes áreas ou grupos, a que
corresponderão um ou mais consultores especializados, de
2. Desenvolver os mecanismos de alimentação: reunir os
acordo com a complexidade do projeto: área técnico-
fatos, prever as incertezas, desenvolver alternativas a serem hospitalar (incluindo equipamento); área administrativo-
consideradas. financeira; área arquitetônica; área de engenharia (com-
3. Avaliar os cursos alternativos de ação: converter as preendendo fundações, estrutura e instalações); área de
alternativas em termos que possam ser comparadas; esta- construção. Toda essa equipe deverá funcionar de maneira
belecer critérios para fazer uma seleção; comparar alter- harmoniosa e integrada, para o que será indispensável a
nativas. presença de um coordenador, com ampla experiência em
todas as áreas enumeradas. Esse coordenador desempe-
4. Decidir.
nhará ainda a tarefa de manter permanente e estreito con-
5. Transformar a decisão em definições de: por que a tato com os dirigentes ou proprietários do hospital, a fim
iniciativa é necessária? Quais os recursos envolvidos? Que de que se conserve a correspondência indispensável entre o
conseqüência esperar e quando? programa original por eles definido e o projeto que está
sendo gerado a partir de atividade dos consultores.
No caso de um hospital, o planejamento difere um Os integrantes da equipe técnico-hospitalar desem-
pouco do que acontece numa empresa comum, não no penham papel fundamental no trabalho de planejamento;
que se refere ao processo em si mesmo, mas em conse- sua participação inicia-se nas primeiras etapas do processo
qüência da peculiaridade da estrutura organizacional e da e pode, com grande utilidade, prolongar-se até depois de
multiplicidade de áreas profissionais envolvidas. instalado o hospital, em termos de acompanhar as fases
O que se disse a respeito da teoria de sistemas obriga a iniciais de sua implantação. A esta equipe cabem diferen-
quem - pessoa ou grupo de pessoas - for encarregado de tes e importantes tarefas: inicialmente, definido pelos pro-
planejar um hospital a pensar em dois grupos básicos de prietários do hospital o programa inicial pretendido, é
subsídios a serem procurados: programas e atividades em importante conhecer como esse programa irá inserir-se no
desenvolvimento por outras instituições de atendimento conjunto de atividades assistenciais que já vêm sendo de-
de saúde; o ambiente em que o hospital opera ou irá senvolvidas na comunidade, quais as repercussões que sua .
operar, o qual deve ser avaliado sob diferentes aspectos: presença irá desencadear, qual o órgão que poderá receber
demográfico, social, econômico, político, legal, tecnoló- de estruturas congêneres ou, inversamente, que tipo de
gico. restrições sua implantação irá gerar. Para bem avaliar
Em relação à própria instituição, muitas perguntas todos esses fatos, a equipe deverá examinar em profundi-
devem ser previamente consideradas ou respondidas: a dade todos os dados disponíveis, ou que possam ser elabo-
quem a instituição tem servido ou procura servir? Como a rados, sobre aspectos demográficos, sociais, educacionais,
instituição serve a comunidade? Deseja realmente envol- culturais, nosológicos, assistenciais, econômicos da comu-
ver-se com novos compromissos? Que valores sociais ou nidade (3). Todas essas informações permitirão o desen-
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profissionais básicos são aceitos? Que grupos ou interesses volvimento de um verdadeiro estudo de viabilidade técnica
pretende-se satisfazer? da iniciativa, na linha da assistência médico-hospitalar.
Responder a todas essas interrogações - as relacio- Será, então, possível dimensionar as proporções da inicia-
nadas com outras instituições, as relativas ao ambiente em tiva, as especialidades que deverão ser cobertas, a clientela
que se insere, as referentes ao próprio hospital - quando que deve ser preferencialmente visada. Todas essas defini-
se está falando da complexa estrutura como é o hospital, ções configuram o Plano Básico de Atendimento proposto
exige, como é fácil de se imaginar, a colaboração de uma para o novo hospital.
verdadeira equipe. A razão principal é que não existe um Este Plano Básico permitirá à equipe desenvolver um
só profissional capaz de dominar satisfatoriamente todas programa de necessidades físicas do hospital, o qual deve
as áreas de conhecimento envolvidas no processo. levar em conta o indispensável equilíbrio entre as áreas de
A primeira linha de participantes dessa equipe é diagnóstico, de tratamento e de internação, de adminis-
constituída por integrantes da própria instituição hospi- tração e de apoio. Esse programa permitirá a definição dos
talar; é fácil perceber que a alta administração da entidade espaços físicos necessários e corretos, informação básica
tem uma palavra decisiva a dizer, uma vez que lhe cabe, para o início do trabalho da equipe de arquitetura.
qualquer que seja o seu nome - Conselho de Administra- Simultaneamente, o Plano Básico permitirá à equipe
ção, Mesa Administrativa, Diretoria - definir as políticas as técnico-hospitalar desenvolver uma predefinição dos equi-
quais a instituição obedece. Mas agirá com sábia inteligên- pamentos, associada a uma primeira estimativa de seu
cia aquela direção que, ao tomar decisão de tal relevância, custo.

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Figura I

Predimensionamento das Predefinição dos padrões


Coleta de
necessidades de de atendi mento méd ico-
informações gerais assistência hospitalar hospitalar local

Programa tentativo
de atendi mento
pelo novo hospital

Predefinição dos elementos


de área flsico-funcional do
novo complexo hospitalar

Definição das necessidades Restrições


do novo complexo hospitalar legais

Com base nas necessidades físicas defmidas parao Também destas continuará participando a equipe
hospital naestimativa de custo dos equipamentos, a equi- técnico-hospitalar porque o desenvolvimento dos traba-
pe poderá desenvolver uma estimativa dos investimentos lhos dos administradores, economistas, arquitetos, proje-
necessários, em termos de projetos, obras e equipamentos, tistas e engenheiros deverá sempre ser acompanhado por
compreendendo sua aquisição e instalação. Estes dados ela.
serão naturalmente submetidos à alta administração, de Cabe aqui uma referência a um tópico sempre dis-
cujo assentimento dependerá o desenvolvimento de todas cutido e nunca defmido: a constituição dessa equipe
as tarefas seguintes. técnico-hospitalar. Deve ela ser integrada só por médicos?

Figura 2

Definição das necessidades Balanceamento entre diferentes


do novo complexo hospitalar áreas flsicas do hospital
33
" ~ ,,------program a de

Conceituação do Definição dos sistemas


~ ~'''~

1
hospital como um operacionais do
conjunto operacional complexo hospita lar
Predi mensionamento
do equipamento

Antevisllo programática ~.-------.


.»>
e espacial Estimativa de
investimentos

Anteprojeto do novo
<c
•...-----
~---'
complexo hospitalar
Definição de prazos
e investimentos
/

Pré-aprovação pelos
poderes públ icos

Planejamento hospitalllr
Deve ser multíprofíssíonal? A quem deve caber sua lide- comprimido até condicionamento de ar, tubulações espe-
rança ou coordenação? A experiência indica que as tarefas ciais para gases e sistemas sofisticados de comunicações
correspondentes só podem ser desempenhadas por elemen- e transportes.
tos que disponham da necessária capacitação acadêmica e Em princípio, deverá o arquiteto lembrar-se de que
profissional; essa capacitação revela-se mais importante do seu projeto deverá ser o mais compacto possível, para
que a categoria profíssíonal a que possa um técnico per- reduzir custos de construção e encurtar distâncias a serem
tencer. O ideal será compor uma equipe multiprofissional, percorridas durante a operação. Por outro lado, o projeto
com a coordenação de um médico, desde que ele atenda deverá permitir facilmente a ampliação de sua capacidade
aos referidos requisitos de capacitação. ou a construção de áreas complementares. Para tanto, ele
A equipe administrativo-financeira será encarregada deverá explorar eficientemente condições de terreno e dis-
de desenvolver, de início, uma tarefa absolutamente deci- ponibilidade de áreas. Limitando seu crescimento horizon-
siva: definir se a proposição apresentada pela alta adminis- tal, restará apenas a possibilidade de ampliação em sentido
tração tem viabilidade econõmíco-fínanceíra. Para tanto, é vertical, o que será viável apenas se o projeto tiver colo-
indispensável que a equipe obtenha os dados índíspensá- cado as áreas de atividade básica do hospital no subsolo e
.veis, manipulando-os no sentido de avaliar adequadamente no térreo, deixando os andares superiores para as unidades
o vulto dos investimentos necessários, o melhor esquema de internação. Inexistindo maiores restrições de terreno, o
de captação dos recursos correspondentes, as receitas projeto deverá ter caráter modular, permitindo a amplia-
operacionais ou diversas, as exigências de retomo ou de ção da capacidade de atendimento pelo acréscimo de
amortização; tudo isso deve ser pesado a fim de que seja novos módulos, seja em termos de unidades de internação,
possível definir para a alta administração o grau de viabili- seja de áreas reservadas a novos setores de diagnóstico e de
dade da iniciativa e o nível de sacrifícios ou restrições que tratamento.
a implantação do mesmo irá exigir. Por sua formação especializada, não cabe discutir a
Esta equipe administrativa deverá em seguida desen- composição desta equipe, mas apenas valorizar a experiên-
volver todo o modelo estrutural da organização, detalhan- cia does) arquiteto(s) que a compõe(m), ao lado da neces-
do os respectivos sistemas operacionais. Deverá também sária capacidade para trabalho em equipe.
liderar o processo de desenvolvimento das rotinas de fun- A área de engenharia compreende uma gama apreciá-
cionamento, chegando até o nível de pormenores que a vel de atividades, ~ue inclui fundações, alvenaria, acaba-:
alta administração do hospital desejar. Está visto que, mento, instalações elétricas e hidráulicas e instalações
nesta tarefa, haverá áreas técnicas específicas, para as especiais. Freqüentemente sua tarefa começa antes dos
quais a preparação de normas e rotinas de trabalho exigi- projetos específicos de construção, porque deve abordar a
rão a participação de profíssionaís especializados, de pre- preparação do terreno para receber o hospital, o que pode
ferência integrantes da equipe técnico-hospitalar. compreender movimento de terra, estaqueamento, urba-
Modernamente o desenvolvimento dos esquemas de nização, etc.
controle fínanceíro tem se revelado tão importante que se As tarefas seguintes corresponderão a defíníções rela-
chega hoje a desmembrar, dentro da estrutura administra- tivas a: fundações - tipo, características técnicas, esque-
tiva geral do hospital, a área de administração financeira. mas de preparação; estrutura geral - tipo, características
Essa é a razão pela qual a equipe que aborda os problemas de alvenaria (paredes, vergas, tacos, etc.), cobertura e
desta área tem sido referida como admínistratívo-fínan- impermeabilização, revestimentos comuns e especiais,
ceira. Para garantia de seu funcionamento eficiente, deverá pavimentação geral, esquadrias, vidros e ferragens, pintura;
34 ela ser integrada por elementos com formação e experiên- instalações elétricas - subestação, energia de emergência,
cia nos campos administrativo e financeiro, aplicadas à distribuição, aparelhos de iluminação; instalações hidráu-
área hospitalar, com suas peculiaridades e exigências. licas - redes de água e esgotos, sistema de proteção contra
A equipe de arquitetura deve conviver intimamente incêndio, aparelhos sanitários (tipos comuns e hospitala-
com a equipe técnico-hospitalar, a partir do momento em res); sistemas de transporte vertical - elevadores, escadas
que essa preparou o Plano Básico de Atendimento. Essa rolantes, montacargas; sistemas de comunicação - tele-
convivência permitirá ao(s) arquiteto(s) absorver uma série fones, sinalização e alarme, correio pneumático; instala-
de informações, nem sempre explicitadas ou possíveis de ções especiais - ar condicionado, vácuo, vapor, gases,
ser transpostas para relatórios, mas nem por isso de menor substâncias radioativas, etc.
importância para o desenvolvimento de um projeto arqui- É fácil imaginar que todas as tarefas descritas, envol-
.tetônico adequado. Está visto que a criatividade e a imagi- vendo atividades complexas e bastante especializadas,
nação do arquiteto são fatores de relevo em sua tarefa de exigirão a participação de técnicos e proflssíonaís capacita-
criação; contudo, ele deverá reconhecer que não pode pro- dos nas respectivas áreas de engenharia. Novamente aqui se
jetar um hospital exatamente como faz com um prédio de exigirão, além da capacitação técnica, as condições de rela-
apartamentos. Embora teoricamente possa fazê-lo, deverá cionamento indispensáveis a um trabalho em equipe (4).
ele reconhecer a complexidade de uma estrutura, misto de Por último, resta a área de construção, que deve fícar
hotel, lavanderia, farmácia, escola e até centro de assistên- igualmente a cargo de quem tenha experiência em seu
cia médica, que exige instalações e equipamentos espe- próprio terreno de atividades. Qualquer improvisação aqui
ciais, desde geração de vapor, produção de vácuo, ar poderá pôr em risco o sucesso da iniciativa e sacrífícar a

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eficiência ou a integridade de projetos, por mais bem ela- 4. Estabelecer prioridades: indispensáveis diante das de-
borados que possam ser. mandas crescentes e dos recursos disponíveis sempre limi-
Ao longo de todo o trabalho das equipes de engenha- tados.
ria e de construção, a assistência dos consultores técnico- 5. Determinar as condições de exequibilidade: quanto a
hospitalares será de permanente valia, em particular pessoal, quantitativa e qualitativamente falando, a equipa-
porque eles devem fazer a definição dos equipamentos a mento atual e futuro, a instalação e a rotinas de funciona-
serem instalados, bem como acompanhar a instalação mento.
daqueles que foram adquiridos e vão sendo entregues. A
importância dessa defíníção e desse acompanhamento é 6. Determinar as condições financeiras de operação: esti-
que apenas a participação de quem definiu o programa de mativa de custos diretos e indiretos, incluindo salários,
funcionamento do hospital e de quem participou do tra- gratificações e benefícios; estimativa de investimentos
balho do arquiteto de projetar as áreas do hospital é que referentes à construção, à aquisição e instalaçãode equipa-
poderá garantir que o equipamento escolhido seja o mais mentos; avaliação de alternativas referentes a fontes de
adequado e que sua instalação corresponde, na verdade, às fmanciamento ou a captação de recursos, em particular
especificações do fornecedor e às exigências de seu fun- quanto ao custo do dinheiro e à análise dos esquemas de
cionamento. retomo dos investimentos. Estes problemas de ordem
Tudo quanto foi dito coloca em relevo dois pontos financeira vêm assumindo importância tão grande que
fundamentais: de um lado, a necessidade de que todo o' merecem ser considerados separadamente aos demais pro-
trabalho de planejamento de um hospital deve ser desen- blemas envolvidos nos trabalhos de planejamento do
volvido por uma verdadeira equipe, não por um grupo de hospital.
especialistas, cada qual altamente credenciado, mas muito O produto final do planejamento, que é o projeto
preocupado em fazer valer seu prestígio profissional. Só a globalmente considerado, deve atender a algumas condi-
integração de todos, com vistas ao objetivo comum, per- ções fundamentais, em particular a flexibilidade, a funcio-
mitirá garantir o sucesso do empreendimento. nalidade e a concentração (5).
Em segundo lugar, é fácil imaginar que todo o pro- Entenda-se por flexibilidade a possibilidade de fácil
cesso será muito facilitado se houver um coordenador adaptação do hospital ao seu desenvolvimento futuro; o
capaz de equilibrar pontos de vista, de solicitar empenho objetivo é garantir permanente adequação da empresa hos-
especial, de suprir deficiências ou de corrigir distorções. pitalar com as últimas conquistas da assistência médica, da
Todo o processo de planejamento, cujas característi- tecnologia e da organização hospitalar. Para assegurar essa
cas procuramos definir até aqui, terá como produto final o flexibilidade é fundamental o agrupamento racional das
novo hospital. Para que esse produto seja o mais perfeito e áreas, de acordo com seu grau de variabilidade. Assim,
eficiente possível, algumas condições devem ser ainda como as unidades de internação têm vida útil muito mais
atendidas; algumas delas referem-se ao desenvolvimento longa do que as unidades de tratamento, aquelas devem
do processo de planejamento em si mesmo, outras corres- ser facilmente renováveis sem alteração da estrutura das
pondem ao projeto global preparado e outras, ainda, à instalações básicas do hospital.
capacidade e à personalidade dos consultores envolvidos O critério de funcionalidade implica o desenvolvi-
no procedimento todo. mento de um projeto global que permita a operação
O processo de planejamento deverá atender a certas racional do conjunto. Para tanto, deve-se lembrar que o
condições básicas. todas de extrema importância. Assim, hospital é uma empresa que procura uni máximo de efi-
deverá ele: ciência a um mínimo de custo operacional possível, o
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que não é condição excepcional dentro da área de admi-
1. Interpretar o programa oferecido pela alta administra- nistração empresarial; a única excepcionalidade aqui é
ção do hospital à luz dos objetivos e das necessidades
que esse objetivo deve ser buscado sem sacrifício da
presentes e futuras: o programa está proporcionado às mis-
qualidade do produto oferecido, que é o padrão de assis-
sões e objetivos atuais ou exige modificações de políticas
tência ao doente atendido. Para atender ao critério de
em vigor? Ele é apenas uma expansão das atividades pre-
funcionalidade, a disposição de cada serviço, dentro do
sentes ou prevê ampliações para acomodar evoluções
conjunto hospitalar, sua instalação e seu relacionamento
tecnológicas? com os demais serviços devem permitir a máxima econo-
mia de mão-de-obra e o melhor aproveitamento possível
2. Desenvolver alternativas sempre que necessário: espe-
dos recursos disponíveis.
cialmente aquelas referentes à clientela a ser atendida, aos
serviços a serem prestados, aos recursos fínanceíros que O critério de concentração corresponde a uma exigên-
suportarão os investimentos necessários, às inter-relações cia que ultrapassa os limites da área administrativa, para
entre todos os elementos apontados. estender-se até à área médico-assistencial; basta ver como
são hoje tratados os doentes em estado grave mas ainda
3. Avaliar as alternativas: principalmente sob o ponto de recuperáveis: em lugar de permanecerem distribuídos pelas
vista do impacto de cada uma delas sobre a eficiência do diferentes unidades de internação, multiplicando exigências
.funcionamento da organização. àssístencíais, quanto a pessoal e equipamento especiali-

Planejamento hospitalar
zado, são todos concentrados na Unidade de Terapia
Intensiva. O mesmo princípio deve presidir à instalação
dos diversos setores ou serviços do hospital - laboratórios,
ao organizar uma antologia
arquivos, setores de radiodiagnóstico ou de esterilização,
sobre liberdade de expressão
centro cirúrgico - os quais não podem, de maneira algu-
Nicholas Capaldireuniu autores
ma, constituir-se em pequenos reinados, com multiplica-
que jamais se cumprimentariam
ção de instalações e de equipamentos. Capaldi acha
Por último, a capacidade e personalidade dos consul- que ninguém pode ser imparcial
tores envolvidos no processo todo deve ser capaz de per- sem permitir a liberdade de.explorar,
mitir um trabalho sucinto, compreensível e apropriado, sistematizar e divulgar cada opinião.
incluindo conclusões, recomendações e sugestões para a para ele, sem liberdade de expressão
ação. Muitas vezes, o relatório fínal não corresponde a não pode haver discussão racional
toda a complexa tarefa desenvolvida: esta pode ter envol- sobre ela própria
vido até centenas de horas-homens de trabalho de consul- lá o for.
toria, mas a preparação final inadequada pode pôr tudo a
perder. Esta deve, em conseqüência, merecer o mesmo
cuidado que recebeu o restante dos trabalhos desenvolvi-
dos. Apenas dessa maneira estará ela em condições de
corresponder às expectativas de quem aguarda definições
técnicas adequadas mas, sobretudo, de quem está pagando
por um produto que nem sempre tem condição plena para
julgar, mas que terá crescente difículdade de avaliação se
ele deixar de ser cuidadosamente preparado e apresentado.
Trata-se, pois, de mais uma exigência a que devem
estar atentos os consultores que trabalham na área de pla-
nejamento hospitalar: a necessidade de expressarem seus
pontos de vista de maneira acessível, vestindo-os de uma
roupagem que, respeitando critérios técnicos, não seja her-
mética nem demasiadamente especializada. •

da Uberdade de expressão
de Nicholas Capaldi
reúne textos de
Hitler,
Marcuse,
.Robespierre
Robert Welch
36 fundador da John Birch Society
StuartMill
entre outros.
REFEIrnNCIAS BIBLIOGRÁFICAS à venda nas livrarias
Pedidos para editora da FGV -
1. Churchman, C. W. Introdução à teoria dos sistemas. praia de botafogo, 188-
trad. bras. Petrópolis, Editora Vozes, 1971. cp 9052 - zc - 02
2. Sigmond, R. M. Health planning, The Milbank Me- livrarias da FGV:
morial Fund Quartely, 1968. praia de botafoqo, 188
avograça aranha, 26 -lojas c e h -
3. Denny Jr., R. P. & Bloom, S. S. Systems approach to Rio de Janeiro
health care delivery. Ind. Engin., n. 6, p. 12-8, 1974. avonove de julho, 2029 - são paulo
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ment engineering in hospitaIs. Ind. Engin., n. 6, p. 44-8, loja 11- Brasília
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