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AE – CURSO NORMAL
Profª Maria Goretti Orth – gorettiorth@gmail.com
NÍVEL PRÉ - SILÁBICO
CARACTERÍSTICA DA ESCRITA E DA LEITURA
As crianças não vislumbram que a escrita tem a ver com a pronúncia das partes de cada palavra.
As crianças produzem riscos e/ou rabiscos típicos da escrita que tem como forma básica a letra de
imprensa ou a cursiva, podendo então realizar rabiscos separados com linhas curvas ou retas ou
rabiscos ondulados e emendados.
As crianças fazem tentativas de correspondência figurativa entre a escrita e o objeto referido.
Somente quem escreve pode interpretar o que está escrito.
A escrita ainda não está constituída como objeto substituto.
As crianças usam os mesmos sinais gráficos (letras convencionais ou símbolos, ou mesmo pseudoletras
- letras inventadas pela criança) para escrever tudo o que deseja.
As crianças acham que os nomes das pessoas e das coisas têm relação com o seu tamanho ou idade: as
pessoas, animais ou objetos grandes devem ter nomes grandes; os objetos ou pessoas pequenas,
nomes pequenos. Presença marcante do realismo nominal.
As crianças não separam números de letras, já que ambos os caracteres envolvem linhas retas ou
curvas.
As crianças acreditam que se escreve apenas os nomes das coisas (substantivos).
As crianças só entendem a leitura de desenhos, gravuras, não diferenciando texto de gravura.
A leitura é global.
A letra inicial é suficiente para identificar uma palavra ou nome.
As categorias lingüísticas - letra, palavra, frase, texto - não são claramente definidas pela criança.
As crianças acreditam que para poder ler não podem haver duas letras iguais, uma ao lado da outra.
Reconhecem que as letras desempenham um papel na escrita. Compreendem que somente com as
letras é possível escrever.
Surge a compreensão ampla da vinculação do discurso oral com o texto escrito.
Fazem distinções entre imagem, texto ou palavras, letras e números - o signo gráfico é desvinculado do
figurativo.
Estabelecem macrovinculações do que se pensa com o que se escreve.
A vinculação com a pronúncia ainda não é percebida.
A ordem e a qualidade das letras não são ainda fundamentais para a distinção de uma palavra de outra.
Duas palavras podem ser pensadas como sendo a mesma, porque possuem certas letras iguais.
As crianças já descobriram, quando lhes são apresentados materiais gráficos, que coisas diferentes têm
nomes diferentes. Imprimem, então, diferenças nas grafias das palavras, muitas vezes mudando apenas
a ordem das letras, principalmente quando possuem poucos recursos gráficos (usam poucas letras ou
pseudoletras).
Eixo qualitativo - para que seja possível ler ou escrever uma palavra, torna-se necessária uma variedade
de caracteres gráficos.
Eixo quantitativo - as crianças, de modo geral, exigem um mínimo de três letras para ler ou escrever uma
palavra.
Observação: Os critérios de variedade e quantidade permanecerão durante bastante tempo e
concorrerão para o aparecimento de muitos conflitos para as crianças; entretanto, eles são benéficos por
gerarem situações de incoerência e insatisfação, forçando a busca de novas formas de interpretação.
O rompimento da criança com um esquema anterior de interpretação, face aos conflitos que surgem,
constitui um momento precioso de evolução dentro do processo de construção, ou seja, da reinvenção do
sistema.
As crianças fazem sempre uma correspondência global quando lêem palavras ou orações; não percebem
ainda as partes. Também não fazem a correspondência, termo a termo, entre o que é falado e o que está
escrito.
A escrita das palavras não é estável.
A ordem das letras na palavra não é importante.
Categorias lingüísticas (letra, palavra, frase, texto) não são bem definidas.
PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS
SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA O NÍVEL PRÉ-SILÁBICO
As atividades sugeridas abaixo irão preparar a criança para um melhor desempenho nas
atividades escritas e darão suporte durante todo o processo de alfabetização.
Trabalho intenso com os nomes das crianças, destacando as letras iniciais - atividades variadas com
fichas, crachás e alfabeto móvel.
Contato com farto e variado material escrito - revistas, jornais, cartazes, livros, jogos, rótulos,
embalagens, textos do professor e dos alunos, músicas, poesias, parlendas, entre outros.
Observação de atos de leitura e escrita.
Audição de leitura com e sem imagem - notícias, propagandas, histórias, cartas, bilhetes etc.
Hora de leitura - livros, revistas e jornais à escolha da criança.
Atividades de escrita espontânea - listas, relatórios, auto-ditado.
Atividades para distinção de letras e numerais.
Manipulação intensa do alfabeto móvel.
Desenho livre, pintura, modelagem, recorte, dobradura.
Caixa com palavras ou nomes significativos - de cada aluno ou da classe.
Classificação de palavras ou nomes que se parecem - as que começam com a mesma letra, as que
possuem o mesmo número de letras, palavras grandes e pequenas etc.
Memorização de como se escrevem algumas palavras (fonte de conflito).
Jogos diversos
Bingo de letras, de iniciais de nomes, de nomes e outros,
Memória de letras, nomes, desenhos;
Dominós associando nomes e iniciais, desenhos, letras;
Baralho de nomes, figuras;
Quebra-cabeças variados com gravuras, nomes, letras;
Pescaria de nomes, letras iniciais ou de letras do alfabeto.
Jogos com cartões: parear cartões com nomes iguais; parear cartões com desenhos; parear cartões
com letras.
Jogos com o alfabeto móvel: cobrir fichas ou crachás; formar o próprio nome e os dos colegas à vista
do modelo; separar e agrupar letras iguais;
Classificar letras segundo número de aberturas e hastes, partes fechadas e hastes, curvas ou retas.
Álbuns: de rótulos e embalagens; de nomes e retratos ou auto-retrato; da história de vida da criança.
Jogos e brincadeiras orais: com rimas; adivinhações; telefone sem fio; hora de surpresa; recados
orais;
jornal falado.
Outras atividades e brincadeiras:
Leitura de poesias e quadrinhos, parlendas, músicas etc.
Planejamento da rotina do dia;
Avaliação dos trabalhos do dia;
Relatório oral de experiências;
Histórias mudas;
Produção de texto oral – coletivo;
Conversa informal;
Correio;
Etiquetação de objetos;
Estudo e interpretação de gravuras;
Jogos de atenção;
Análise e síntese de palavras;
Interpretação oral de textos;
Reescrita com representação através de desenhos do texto trabalhado;
Reconto e reescrita de histórias;
Auto ditado e escritas espontâneas.
É necessário imaginação pedagógica para dar às crianças oportunidades ricas e variadas de interagir
com a linguagem escrita.
NÍVEL SILÁBICO
Quando a criança sai do nível pré-silábico e entra no nível silábico, ela deixa de apoiar-se em
idéias de “aspectos figurativos” do referente à palavra que o representa, ou seja, cada palavra é
sempre escrita com as mesmas letras; começa a ver que tudo que se diz se escreve.
Neste nível, a criança encontra uma nova formula para entrar no mundo da escrita,
descobrindo que pode escrever uma letra para cada sílaba da palavra e uma letra por palavra na
frase.
CARACTERÍSTICA DA ESCRITA E DA LEITURA
A vinculação entre escrita e pronúncia – parte do que se fala corresponde a parte da escrita. A
criança trabalha com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala.
Correspondência quantitativa de sílabas orais – uma letra para cada sílaba na palavra, uma letra
para cada palavra na frase ou uma letra por sílaba oral também na frase. Há crianças que não
escrevem nada para verbos.
Compreensão da estabilidade da escrita das palavras. Tudo que se diz se escreve (não só os
substantivos).
Tentativa de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem uma escrita.
Correspondência entre partes do texto (cada letra) e partes da expressão oral (recorte silábico
do nome).
Essa hipótese silábica pode parecer com grafias distantes das formas das letras ou com grafias
já bem diferenciadas – às vezes pode parecer com sinais e não com letras.
A criança convive com as formas fixas fornecidas pelo mundo e a hipótese silábica que ela
constitui.
Podem desaparecer momentaneamente as exigências de variedade e de quantidade mínima de
caracteres.
Conflito cognitivo entre as exigências de quantidade mínima e a escrita silábica de palavras
dissílabas e monossílabas.
A criança busca sempre as unidades menores que compõem a totalidade que tenta representar
por escrito.
Leitura e escrita começam e ser vistas como duas ações com certo tipo de interligação coerente.
As crianças podem estar num nível na escrita e em outro na leitura.
PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS
O TRABALHO COM LETRAS, PALAVRAS, SÍLABAS E TEXTOS
Em todo processo de alfabetização, deve-se cuidar para que todas as atividades de leitura e
escrita propostas aos alunos apareçam contextualizadas e associadas a uma significação, isto é, ligadas
a aspectos da vida das crianças ou as atividades que realizam em sala de aula ou em casa.
Os jogos, as brincadeiras, as rodas de conversa, a troca de idéias entre os alunos, e mesmo um
pouco de competição entre eles, tornam a aprendizagem um processo de construção do conhecimento
por eles mesmos. É muito importante que o professor/alfabetizador saiba que tipos de atividades ou
situações pedagógicas deverão ser desenvolvidas para que as crianças avancem nos níveis conceituais
da escrita e da leitura e nos seus estágios de desenvolvimento cognitivo.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Jogos e atividades variadas com alfabeto móvel e sílabas móveis;
Caça-palavras e Cruzadinhas;
Jogos de memória, bingo, dominós diversos;
Leitura e interpretação oral de diferentes textos, poesias, músicas, parlendas, textos do aluno e do
professor, notícias, reportagens, bulas de remédio etc.;
Produção de textos coletivos;
Montagem e escrita de pequenas estruturas lingüísticas;
Adivinhações, trava-línguas, quadrinhas, anedotas;
Jornal falado;
Hora de surpresa;
Planejamento e avaliação do dia;
Relatório oral e escrito de experiências vivenciadas;
Histórias mudas;
Escrita de cartas, bilhetes, listas, anúncios, propagandas;
Análise e síntese de palavras significativas;
Escritas espontâneas, auto ditado; e leitura de livrinhos de literatura, jornais e revistas (em grupo ou
individual);
Classificação e seriação de palavras;
Jogos e atividades orais que permitam à criança brincar e recriar com a linguagem (rimas, acrósticos,
entre outros); trabalhos manuais - recortes, dobraduras, pinturas, encaixes - propiciam às crianças
novas formas de expressão e o uso, em sua linguagem, de novas palavras;
Oficina de histórias, reconto, reescrita;
Construção de relatos e descrições;
Diálogos, entrevistas e reportagens surgidos nas situações cotidianas; e transcrição de receitas,
brincadeiras, piadas; e recorte de figuras ou palavras para montagem de álbuns ou dicionários;
Recontar vídeos, excursões, experiências; e reestruturar frases de poesias, parlendas ou músicas que
os alunos já sabem de cor; e localizar palavras num texto, copiá-las separando suas sílabas num
diagrama.
São inúmeras as possibilidades de trabalhar a linguagem oral e escrita no nível silábico-alfabético,
pois, nesse nível, as crianças apresentam um desenvolvimento acelerado, já iniciando a leitura e a
escrita de forma mais independente. A criatividade do professor na seleção e elaboração das atividades
fará com que as crianças assimilem, gradativamente, a palavra escrita e falada de forma prazerosa e
natural. O professor, durante as atividades propostas, observa, acompanha, avalia e registra o que as
crianças dizem, explicam e perguntam entre si.
NÍVEL ALFABÉTICO
A hipótese silábico-alfabética também não satisfaz completamente a criança, e ela prossegue
sua pesquisa em busca de uma solução mais completa que só será alcançada, através da
fonetização da sílaba, ou seja a constituição alfabética de sílabas.
O aluno começa a escrever alfabeticamente algumas sílabas e, outras, permanece
escrevendo na hipótese silábica. São escritas silábico-alfabéticas, mas já fazem parte do nível
alfabético, mesmo se tratando do uso de dois tipos de concepção.
O nível alfabético se caracteriza pelo reconhecimento do som da letra.
Entretanto, a criança ainda não consegue, nesse nível, a solução de todos os problemas no
que se refere à leitura e escrita, entre eles:
Primeiro problema que a criança enfrenta se refere aos tipos de sílabas. As crianças, de modo
geral, generalizam que todas as sílabas têm sempre duas letras (isso se dá pela freqüência
de sílaba com duas letras na nossa escrita) e dificilmente concluem, automaticamente, que
existem silabas de uma, duas, três, quatro ou cinco letras. Devido à freqüência de sílabas
constituídas de consoante e vogal, os alunos acreditam que todas as sílabas são assim.
Quando deparam com palavras ou sílabas iniciadas por vogais, fazem a inversão na escrita e
também na leitura. Exemplo: ARMÁRIO > RAMÁRIO.
Segundo problema que as crianças vivenciam é a separação das palavras na produção de
textos. Durante a escrita de textos espontâneos, as crianças ora emendam palavras, ora
dividem palavras em duas ou três partes. Isso acontece porque, quando a criança escreve,
concentra-se na sílaba; assim, as palavras tendem a desaparecer como um todo. Aparecem
as primeiras junturas (quando escreve a criança várias palavras emendadas) e segmentações
(quando escreve separando, indevidamente, as palavras), muito comuns nas escritas dos
alunos ao ingressarem no nível alfabético, e que, nesse nível, serão trabalhadas visando,
desde já, a construção da base ortográfica.
Terceiro problema refere-se à ênfase sobre a escrita fonética. A criança, ao dar ênfase à
escrita fonética, ou seja, a adequação fonética do escrito ao sonoro, enfrenta as questões
ortográficas. Descobre que uma mesma letra pode ter som de outras letras, como, por
exemplo, X com som de CH, S com som de z etc., chegando a constatar que isso acontece
em muitas palavras. Exemplo: chave, chaveiro, chácara, xícara, xale, Elisabete, roseira etc.
Por último, a criança enfrenta dificuldades na escrita e na leitura de sílabas complexas. A
compreensão de grupos consonantais é fruto de muito esforço lógico de raciocínio e não de
memorização ou fixação mecânica.