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RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS

Henrique Furia e Mauro Noriaki Takeda


com consultoria de Renato de Brito Sanchez
SUMÁRIO

1 CONCEITO DE TENSÃO, COMPRESSÃO E CISALHAMENTO ....................... 3


2 ANÁLISE DAS TENSÕES E DEFORMAÇÕES .............................................. 10
3 TENSÕES E EQUILÍBRIO .......................................................................... 20
4 LEI DE HOOKE E MÓDULO DE YOUNG ................................................... 36
5 ESTRUTURAS EM BARRAS ...................................................................... 45
6 VIGAS E PÓRTICOS ................................................................................. 57

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1 CONCEITO DE TENSÃO, COMPRESSÃO E CISALHAMENTO

Você já ouviu falar em acidentes causados pela ruptura de alguma estrutura? Você
deve ter se perguntado: por quê? A resposta está no conceito físico aplicado na
engenharia, cuja denominação é “resistência dos materiais”. Alguns materiais resistem
mais do que outros, em função da sua estrutura e concepção de produção.

A resistência dos materiais é um ramo da mecânica que estuda as relações entre as


cargas externas aplicadas a um corpo deformável e a intensidade das forças que agem
no seu interior.

Você deve observar que o assunto também envolve o cálculo das deformações do
corpo, proporcionando o estudo de sua estabilidade quando sujeito a forças externas.

1.1 Tensão

A intensidade da força, ou força por unidade de área, que age perpendicularmente a


variação

da área, e definida como tensão normal, σ (sigma), uma vez que ∆𝐹𝑧 é normal à área,
ou seja:

∆𝐹𝑧
𝜎𝑧 = lim
∆𝐴→0 ∆𝐴

Agora, devemos observar o seguinte:

• Se a força normal ou tensão existir para tracionar o elemento de área ΔA, ela
será denominada tensão de tração;

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• se a força normal ou tensão existir para comprimir o elemento de área ΔA, ela
será denominada tensão de compressão.

E a tensão de cisalhamento? É importante analisar a seguinte situação: a tensão de


cisalhamento e a intensidade da força, ou força por unidade de área, que age tangente
a ΔA. Aqui, vamos designá-la pela letra grega ‘tau’, ou seja, a tensão de cisalhamento τ.
Vamos analisar os componentes da tensão de cisalhamento:

∆𝐹𝑥
𝜏2𝑥 = lim
∆𝐴→0 ∆𝐴

∆𝐹𝑦
𝜏2𝑦 = lim
∆𝐴→0 ∆𝐴

Atenção:

A notação do índice z em 𝜎𝑧 é usada para indicar a direção da reta normal dirigida para
fora, que específica a orientação da área ΔA.

Na tensão de cisalhamento, são usados dois índices para o eixo z especifica a


orientação da área e x e y referem-se às retas que indicam a direção das tensões de
cisalhamento.

Você deve lembrar que as unidades utilizadas no Sistema Internacional de Unidades


(SI) para os valores da tensão normal e da tensão de cisalhamento são especificadas
nas unidades básicas:

𝑁
= 𝑃𝑎
𝑚2

Agora, vamos analisar as reações de apoio. Note que as forças de superfície se


desenvolvem nos apoios ou pontos de contato entre os corpos.

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Figura 1.1 – Representação esquemática das forças e do momento aplicados ao
ponto

Em muitas situações, analisamos o corpo na condição de equilíbrio, exigindo um


equilíbrio de forças, para impedir a translação ou o movimento acelerado do corpo ao
longo de uma trajetória reta ou curva, e um equilíbrio de momentos, para impedir que
o corpo gire. Essas condições podem ser expressas pelas equações:

Para um sistema de coordenadas x, y e z, com origem no ponto o, os vetores força e


momento podem ser resolvidos em componentes ao longo dos eixos coordenados,
sendo as equações escritas da seguinte forma:

Na pratica da engenharia, muitas vezes, a carga sobre um corpo pode ser representada
através de um sistema de forças coplanares.

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1.1.1 Distribuição de tensão normal média

Vamos, agora, analisar uma barra que esteja submetida a uma deformação uniforme e
constante. Essa deformação e o resultado de uma tensão normal constante σ. Você
deve observar que cada área ΔA da secção transversal está submetida a uma forca
dada por:

ΔF =σ ⋅ ΔA

Observe que a soma dessas forças que agem em toda a área da secção transversal
deve ser equivalente a forca resultante interna P.

∫ 𝑑𝐹𝑃 = ∫ 𝜎 × 𝑑𝐴
𝑎

ou

𝑃 = 𝜎𝐴

A tensão normal média, em qualquer ponto da área da secção transversal, será dada
por:

𝑃
𝜎=
𝐴

1.2 Compressão

Enquanto na tensão de tração temos a aplicação de forças em uma relação uniaxial


com resultado de alongar o material, na compressão estas forças convergem para um
mesmo ponto, ou seja, o material tende a diminuir seu comprimento do sentido
uniaxial da aplicação destas forças. Isso contrasta com a tração, ou seja, a aplicação de
forças equilibradas. A resistência à compressão de materiais e estruturas é uma
importante consideração na engenharia.

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Na compressão uniaxial, as forças são dirigidas ao longo de apenas uma direção, de
modo que atuem no sentido de diminuir o comprimento da peça ou estrutura ao longo
dessa direção. Se o próprio vetor do stress é oposto a x, é dito que o material está sob
compressão normal ou tensão de compressão.

Quando posto sob compressão ou qualquer outro tipo de stress, todo o material irá
sofrer alguma deformação, mesmo que imperceptível, que faz com que as posições
relativas médias dos seus átomos e moléculas possam se alterar. A deformação pode
ser permanente, ou pode ser revertida quando desfeitas as forças de compressão.
Neste último caso, a deformação dá origem a forças de reação que se opõem às forças
de compressão, e pode, eventualmente, equilibrá-los.

Figura 1.1 – Gota de Rupert

Um exemplo de compressão é a gota de Rupert, quando se joga vidro derretido em


água fria o vidro se solidifica rapidamente em forma de gota, essa solidificação da gota
de vidro comprime o núcleo da gota (a parte grossa), desenvolvendo grande pressão e
resistência nessa área, isso se dá devido ao fato da compressão as forças convergirem
para o núcleo da gota, para um mesmo ponto, ou seja, o material tende a diminuir seu

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comprimento do sentido uniaxial da aplicação destas forças, mas devido a solidificação
da camada externa do vidro, não há variação ou deformação para que o vidro se
expanda, fazendo com que o núcleo permaneça sendo comprimido permanentemente
até esfriar, dando incrível resistência ao material, isso se dá devido a um estado
extremamente alto de estresse tensional no interior e um estado de compressão
extremamente alto no exterior da gota, mas, quando qualquer parte dessa gota se
quebra, a gota inteira explode, alimentando-se da própria energia armazenada, sendo
essa energia armazenada obtida pela tensão mecânica, e esta onda de energia é
chamada de limite de ruptura.

1.3 Cisalhamento

O cisalhamento define a presença de uma força tangencial que existe sobre uma
determinada área, definida por A, tal que a tensão de cisalhamento pode ser
expressa pelo símbolo .

Figura 1.3 – Cisalhamento

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Matematicamente a tensão de cisalhamento pode ser definhada como:

∆𝐹𝑥
𝜏𝑧𝑥 = lim (1)
∆𝐴→0 ∆𝐴

∆𝐹𝑦
𝜏𝑧𝑦 = lim (2)
∆𝐴→0 ∆𝐴

Conclusão

Neste capítulo, você estudou que a resistência dos materiais é um ramo da mecânica
que estuda as relações entre as cargas externas aplicadas a um corpo deformável e a
intensidade das forças que agem no seu interior. Se a força normal ou tensão existir
para tracionar o elemento de área ΔA, ela será denominada tensão de tração, mas, se
existir para comprimir o elemento de área ΔA, será denominada tensão de
compressão.

REFERÊNCIAS

“GOTA do Príncipe Rupert: O Vidro que não Quebra, mas explode”. In: Ciências e
Engenharia. Disponível em: <https://cientificaengenharia.blogspot.com/>. Acesso em:
10 de set. de 2020.

“MYSTERY of Prince Rupert’s Drop - Smarter Every Day”. In: YouTube. Disponível em: <
https://bit.ly/35UhNCe >. Acesso em: 11 de set. de 2020.

“Tração e Compressão”. In: Passei direto. Disponível em: <https://bit.ly/3mKpJMG>.


Acesso em: 10 de set. de 2020.
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2 ANÁLISE DAS TENSÕES E DEFORMAÇÕES

A resistência de um material depende de sua capacidade de suportar uma carga, sem


deformação excessiva ou ruptura. Essa propriedade é inerente ao próprio material e
deve ser determinada por métodos experimentais, como o ensaio de tração ou
compressão.

Uma máquina de teste e projetada para ler a carga exigida, para manter o
alongamento uniforme.

Figura 2.2 – Esquema de máquina de tração ou compressão

2.1 Tensão-deformação

A tensão nominal σ, ou tensão de engenharia, e determinada pela divisão da carga


aplicada P pela área original da secção transversal do corpo de prova A0.

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A tensão é dada pela equação:

A deformação nominal ε, ou deformação de engenharia, e determinada pela razão da


variação δ, no comprimento de referência do corpo de prova, pelo comprimento de
referência original do corpo de prova L0. A equação e dada por:

Para um comportamento elástico, temos que:

• a tensão é proporcional a deformação;

• o material é linearmente elástico.

O escoamento ocorre quando um pequeno aumento na tensão, acima do limite de


elasticidade, resulta no colapso do material, fazendo com que ele se deforme
permanentemente.

Você deve observar que pode ocorrer um endurecimento por deformação, quando o
escoamento tiver terminado. Aplicando uma carga adicional ao corpo de prova,
obtém-se uma curva que cresce continuamente, mas se torna mais achatada, até
atingir a tensão máxima, denominada limite de resistência.

Você vai constatar que, no limite de resistência, a área da secção transversal começa a
diminuir em uma região localizada do corpo de prova, causando o que denominamos
estricção.

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Figura 2.3 – Máquina de ensaio de tração da marca Panambra

Nesse caso, o corpo de prova quebra-se quando atinge a tensão de ruptura.

Devemos notar que os valores da tensão e da deformação calculados por essas


medições são denominados tensão real e deformação real.

Vamos analisar o comportamento da tensão-deformação de materiais dúcteis e


frágeis. Mas, o que é um material dúctil? Um material dúctil é aquele que pode ser
submetido a grandes deformações antes de sofrer ruptura. Já um material frágil exibe
pouco ou nenhum escoamento antes da falha.

Bônus:

Na figura 2.3, está sendo representado um exemplo de máquina de tração, para um


ensaio de tração como o nome da máquina indica.

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Figura 2.4- Exemplo de máquina de tração

Um ensaio de tração consiste aplicar uma força uniaxial no material, tendendo-o a


alongá-lo (tração) até o momento de sua fratura. Os corpos de prova ou CPs são
padronizados por normas técnicas e na maioria das vezes são circulares ou
retangulares.

Como pode ser visto na figura 2.3, o corpo de prova é fixado pelas suas extremidades
nas garras de fixação da máquina de tração, com isso o corpo de prova então é
submetido a um esforço, aplicando carga gradativa e registrando cada valor de força
correspondente a um tipo de deformação no material como pode ser visto na figura
2.4, na qual é apresentada a deformação no material até o limite de escoamento,
nesse caso a deformação resultante é um tipo de alongamento do material,
alongamento este sendo medido por um extensômetro.

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Figura 2.5- Variação da deformação de acordo com a tensão

2.2 Módulo de cisalhamento

Vamos, agora, pensar em fixar um parafuso na parede, utilizando uma chave de fenda.
Elementos de fixação, como pregos e parafusos, frequentemente estão sujeitos a
cargas de cisalhamento. Note que a intensidade de uma força de cisalhamento sobre o
elemento de fixação e maior ao longo de um plano que passa pelas superfícies
interconectadas.

A tensão de cisalhamento média distribuída sobre cada área seccionada e definida por:

Em que:

• τ média: tensão de cisalhamento média na secção, que consideramos a mesma


em cada ponto localizado na secção;

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• V: força de cisalhamento interna resultante na secção, determinada pelas
equações de equilíbrio;

• A: área na secção.

O comportamento de um material submetido a cisalhamento puro pode ser estudado


em laboratório, por meio de corpos de prova na forma de tubos finos submetidos a
carga de torção. Se o torque aplicado e os ângulos de torção resultantes forem
medidos, os dados podem ser utilizados para determinar a tensão de cisalhamento e a
deformação por cisalhamento.

Vamos admitir que a maioria dos materiais de engenharia apresente um


comportamento linear elástico; portanto, a lei de Hooke para cisalhamento pode ser
expressa por:

Em que:

• G: módulo de elasticidade ao cisalhamento ou módulo de rigidez.

Uma tensão de cisalhamento aplicada a um material homogêneo e isotrópico somente


produz deformação por cisalhamento no mesmo plano.

2.3 Círculo de mohr

O círculo de Mohr é um método gráfico bidimensional representativo da lei de


transformação do tensor tensão de Cauchy, sendo por isso utilizado para resolver um
estado de tensões, mas para que seja possível o uso desse método, é necessário que
cada plano seja representado por um ponto em um sistema de coordenadas (σ; τ). É
possível calcular com essa representação gráfica, momentos de inércia, deformações e

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tensões, adaptando esses cálculos a uma característica de um círculo, sendo também
possível calcular o esforço cortante máximo absoluto e a deformação máxima
absoluta.

Para que se faça o gráfico do círculo de Mohr é preciso se atentar a algumas condições:

• Os planos das tensões principais são representados por pontos que se


encontram no eixo σ, já que neles a tensão de cisalhamento é igual a zero;

• As tensões de cisalhamento, mínimo e máximo, são representadas por pontos


que são simétricos em relação ao eixo σ. Lembrando que nestes planos ocorre
a mesma tensão normal e que as tensões de cisalhamento são iguais e de sinais
opostos.

Figura 2.6 – Cisalhamento, máximo e mínimo

Fonte: Erik Chia, 2020.

• A tensão normal que atua nos planos das tensões de cisalhamento, máxima e
mínima, é igual à média aritmética das tensões principais;

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• Planos perpendiculares entre si são representados por pontos que à mesma
distância do eixo σ, porém em lados opostos. Note-se aqui que a tensão
normal média dos dois planos é igual à tensão média das tensões principais.

Figura 2.7 – Planos perpendiculares entre si

Fonte: Erik Chia, 2020.

Como pode ser visto na figura 2.7, ao possuir todas as condições simultaneamente foi
obtido um círculo que é denominado Círculo de Mohr, sendo que Mohr foi o nome do
idealizador e o Círculo a figura geométrica obtida.

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Figura 2.8- Círculo de Mohr

Fonte: Erik Chia, 2020.

Conclusão

Neste capítulo, você estudou que muitos materiais de engenharia exibem


comportamento inicial linear elástico, sendo a tensão proporcional a deformação e
definida pela lei de Hooke. Quando o material sofre tensão além do ponto de
escoamento, ocorre deformação permanente. O comportamento de um material
submetido a cisalhamento puro pode ser estudado em laboratório, por meio de corpos
de prova na forma de tubos finos submetidos a carga de torção. Também estudou
sobre o círculo de Mohr e seu método de utilização.

REFERÊNCIAS

CALLISTER JR., W. Ciência e Engenharia de Materiais Uma Introdução – Sétima Edição.


In: Apostila Telecurso 2000 – Mecânica.

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CLAROS, L. “Círculo de Mohr”. In: Prezi. Disponível em:
<https://prezi.com/n0c8bvn5lkgm/exposicion-circulo-de-mohr/>. Acesso em: 10 de
set. de 2020.

TRIGO, T. “Ensaio de Tração”. In: InfoEscola. Disponível em:


<https://tecnoblog.net/247956/referencia-site-abnt-artigos/>. Acesso em: 10 de set.
de 2020.

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3 TENSÕES E EQUILÍBRIO

Neste bloco serão tratados os conceitos de equilíbrio das estruturas, tensões e


deformações. Inicia-se o estudo dos vínculos estruturais e reações de apoio que
ocorrem nestas estruturas em consequência das ações sobre elas aplicadas.

As estruturas são projetadas para suportar cargas, mantendo o equilíbrio e com


deformações controladas, mantendo-se a estética e a funcionalidade do sistema.
Neste sentido, torna-se necessário criar modelos matemáticos para resolver estas
estruturas simples, utilizando conceitos físicos relacionados ao equilíbrio, às tensões e
às deformações.

3.1 Vínculos e reações. Modelagem matemática.

O equilíbrio das estruturas é a primeira verificação de qualquer projeto estrutural: é


necessário que a estrutura mantenha a sua estabilidade durante toda a vida útil, ou
seja, enquanto a estrutura for utilizada, não poderão ocorrer movimentações das suas
partes como corpos rígidos. Cada um destes movimentos pode ser considerado como a
combinação de uma translação com uma rotação.

Para garantir este comportamento de estabilidade, a resultante de todas as forças


externas a estrutura é nula e o momento destas forças em relação a qualquer ponto da
estrutura é nulo.

A estrutura deve ser construída para suportar os esforços externos ativos a ela, que
são gerados pelos carregamentos que surgem devido ao uso da estrutura. Tomam-se
como por exemplos: o peso do próprio da estrutura, o peso de pessoas e de objetos
sobre a estrutura, além de pressões externas ao sistema.

Um modelo matemático precisa ser construído para avaliar o efeito das ações e das
reações sobre a estrutura. Uma viga pode ser representada por uma estrutura de barra

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que esteja adequadamente vinculada para garantir o equilíbrio. Cada vínculo
corresponde a uma restrição ao movimento de parte da estrutura que é imposta por
um tipo de apoio. Os apoios são dispositivos que ligam os pontos do sistema a outros
pontos a fim de impedir determinados movimentos.

O apoio simples ou a articulação móvel impede o deslocamento na direção


perpendicular à reta de vinculação. A articulação fixa impede todos os deslocamentos
de translação. O primeiro modelo para estudo é o de uma viga simplesmente apoiada
sob as duas extremidades:

Desenho 3.1 – Viga sobre um apoio fixo à esquerda e um


apoio móvel à direita

Fonte: O autor.

Assim, qualquer carregamento que nela for colocado será equilibrado pelos apoios
colocados nas extremidades. Se um carregamento uniformemente distribuído de
intensidade 𝑝 for colocado sobre a viga de comprimento ℓ, a representação do modelo
da estrutura passa a ser o seguinte:

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Desenho 3.2 – Viga duplamente apoiada com carregamento uniformemente
distribuído

Fonte: O autor.

Os esforços sobre a viga migram em direção às extremidades, onde estão os apoios,


que absorverão estes carregamentos e manterão a estrutura em equilíbrio. Assim,
metade do carregamento será absorvido por cada um dos apoios. Um sistema de
forças mecanicamente equivalentes é mostrado abaixo:

Desenho 3.3 – Sistema mecanicamente equivalente ao Desenho 3.2, com as reações


de apoio

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As reações de apoio, uma em cada lado, garantem o equilíbrio da estrutura, de modo
que a soma vetorial de forças é nula, e o momento de rotação, em relação a qualquer
ponto da estrutura, também será nulo. É importante observar que, apesar de serem
estaticamente equivalentes, as estruturas acima deformam-se de maneiras diferentes.

Um vínculo de engastamento impede todas as translações e todos os movimentos de


rotação em torno do ponto vinculado, como apresentado no desenho abaixo:

Desenho 3.4 – Viga engastada com carregamento uniformemente distribuído

Os esforços sobre a viga migram em direção à extremidade engastada, onde está o


único apoio, que absorverá estes carregamentos, mantendo a estrutura em equilíbrio.
No Desenho 3.5 é aprestado um sistema mecânico estaticamente equivalente ao
sistema acima, incluindo as respectivas reações de apoio.

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Desenho 3.5 – Sistema mecanicamente equivalente ao Desenho 3.4, com as reações
de apoio

Fonte: O autor.

O apoio de engaste, na extremidade esquerda da barra, absorverá a resultante do


carregamento distribuído e o momento resultante destes carregamentos.

3.2 Tensões
Naturalmente, além do equilíbrio estrutural é também necessário avaliar os efeitos das
ações nos sólidos deformáveis, em especial as estruturas de barras. O conceito de
tensão em um sólido é apresentado na sequência.

Quando o sólido da Ilustração 1 é submetido a um conjunto de forças e momentos,


estes esforços ativos, aplicados na região 𝑆' do sólido, migram na estrutura até as
regiões Sμ dos vínculos, sendo então equilibradas pelas reações de apoio, assim como
fora mostrado no Desenho 3.2 para uma estrutura de barras.

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Figura 3.1 – Esforços ativos e reativos

Fonte: SILVA (2005).

Efetuando-se cortes como o plano 𝜋 representado, é possível determinar a distribuição


de esforços no interior do sólido, ao dividi-lo em duas partes {𝑉,; 𝑉,,}, conforme a figura
3.2.

Figura 3.2 – Partes do sólido em equilíbrio

Fonte: SILVA (2005).

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Para preservar o equilíbrio, esforços internos impedem que estas partes se separem.
Assim, as ações que agem de uma parte sobre a outra deverão ser de mesma
intensidade e sentidos opostos, conforme a lei da ação e reação.

Figura 3.3 – Representação das tensões

Fonte: SILVA (2005).

As resultantes ∆𝐹 das forças de superfície que agem na parte esquerda do sólido,


devida a ação da parte direita sobre ele, são apresentadas na figura 3.3, que contém a
representação da normal unitária 𝑛3 , externa à parte esquerda, em relação ao plano
de corte:

Assim, a tensão atuante no ponto 𝑃 é definida como sendo a razão entre cada
resultante ∆𝐹 e as respectivas áreas de influência ∆𝐴, tomada tão pequena quanto se
queira:

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Considerando-se a parcela da tensão 𝜌⃗ relativa à direção perpendicular ao plano 𝜋,
caracteriza-se a tensão normal 𝜎 . A outra componente atua no plano 𝜋, estando
associada ao corte; esta é a tensão de cisalhamento 𝜏 , como mostrado na figura 3.4.
As tensões total, normal e de cisalhamento, respectivamente (𝜌⃗ ; 𝜎 ; 𝜏 ), estão
vetorialmente relacionadas por:

Ilustração 3.4 – Tensão normal e tensão de cisalhamento

Fonte: SILVA (2005).

Em uma barra de comprimento inicial ℓ com seção transversal maciça de área 𝐴, como
representada na Ilustração 3.5, o modelo de cálculo é mais simples.

Ilustração 3.5 – Barra sólida

Fonte: O autor.
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Considerando-se 𝑁 a força aplicada longitudinalmente à barra, provocando tendência
de deslocamentos axiais, a tensão normal (uniforme) na respectiva seção vale:

𝑁
𝜎 =
𝐴

No caso em que uma força 𝑉 é aplicada transversalmente à barra, produzindo


tendência de corte em relação ao plano da seção transversal, a tensão (média) de
cisalhamento vale:

𝑉
𝜏 =
𝐴

Uma vez submetido a estes (e outros) esforços ativos, a barra, devido às tensões
internas que absorve, sofre deformações. No caso de esforços de tração, a barra sofre
alongamento, aumentando o seu comprimento em uma medida ∆ℓ, resultando em
um comprimento final ℓ + ∆ℓ. No caso de compressão, a barra sobre encurtamento,
que a deixa com comprimento final ℓ − ∆ℓ.

A deformação específica é taxa de alongamento da barra, estabelecida conforme a


relação:

∆ℓ
𝜀 =

Consequentemente, quando submetida à tração, a deformação da barra é


algebricamente positiva; no caso de compressão, o valor é negativo. Para avaliar a
relação entre as tensões e as respectivas deformações, é necessário estabelecer
modelos matemáticos, realizar ensaios e validar a teoria.

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3.3 Comportamento elástico linear

Trata-se do modelo físico em que as tensões variam linearmente com as deformações


sofridas pelo corpo, ou seja, como uma função linear. Neste caso, ao construir um
diagrama relacionando as grandezas de tensão (ou de força) por deformação (ou
deslocamento), obtém-se, para o respectivo material, a representação do desenho 3.6.

Desenho 3.6 – Regimes elástico e plástico

Fonte: O autor.

3.3.1 Elasticidade longitudinal

Em geral, um material tem comportamentos diferentes quando submetido à tração


(com valores algebricamente positivos no diagrama) ou à compressão (com valores
algebricamente negativos). O exemplo apresentado no desenho 3.6 corresponde a um
material que resiste menos à compressão que à tração.

As constantes físicas indicadas no desenho 3.6 têm as suas descrições apresentadas na


tabela abaixo.
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Os respectivos valores são estabelecidos a partir de ensaios, validados em modelos
matemáticos e apresentados em normas, específicas ao material de trabalho.

Tabela 3.1 – Tensões e deformações

SÍMBOLO SIGNIFICADO
𝑚 Material
𝜎 Tensão atuante no material
𝑓MN Tensão de escoamento na tração
𝑓MQ Tensão de escoamento na compressão
𝜀 Deformação sofrida pelo material
𝜀MN Limite de proporcionalidade na tração
𝜀MQ Limite de proporcionalidade na compressão
𝜀(N Limite último de ruptura por estiramento excessivo
𝜀(Q Limite último de ruptura por esmagamento
excessivo
𝐸 Módulo de elasticidade longitudinal

Fonte: O autor.

No modelo apresentado no desenho 3.6, o comportamento elástico linear é limitado


ao intervalo T𝜀MQ, 𝜀MNU. Este intervalo contém a origem dos eixos, uma vez que há
deformação na compressão.

Após este regime, o material continua a se deformar sem acréscimo de tensão; é o


regime plástico em que ocorre escoamento até o momento da ruptura 𝜀𝑢𝑡 por tração
ou 𝜀𝑢𝑐 por compressão.

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A relação linear entre deformação e tensão que ocorre no regime elástico é devida a
Robert Hooke:

𝜎K = 𝐸K ∙ 𝜀K

A constante física que faz o papel matemático de coeficiente angular no gráfico da


função apresentada no desenho 3.6 é o módulo de elasticidade longitudinal, devido a
Thomas Young. Cada material tem a sua propriedade. No caso da madeira,
representada, por exemplo, o módulo de elasticidade é diferente conforme a direção
de trabalho.

3.3.2 Efeito de Poisson


A contração natural ocorrida em diferentes direções em relação a direção de
alongamento em sólido, é denominada de Efeito de Poisson, em homenagem à Siméon
Denis Poisson.

Desenho 3.7 – Deslocamentos e efeito Poisson

Fonte: SILVA (2005).

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Ao submeter o sólido azul de volume 𝑑𝑉 = 𝑑𝑥 ∙ 𝑑𝑦 ∙ 𝑑𝑧 à tração axial, aparece o
alongamento 𝑑𝑢 nesta direção, representado na direção positiva do eixo 𝑥. Nas outras
direções, aparecem os deslocamentos {𝑑𝑣, 𝑑𝑤}, representados nas direções negativas
dos eixos {𝑦, 𝑧}, respectivamente. As taxas de variação destas grandezas definem as
deformações lineares específicas, uma em cada direção. Levando-se ao limite,
estabelecem-se as seguintes derivadas parciais:

3.3.3 Cálculo de deslocamento

Barras como a da figura 3.5, quando carregadas axialmente, sofrem alongamentos


conforme os carregamentos aplicados. Considerando-se o regime elástico de trabalho
apresentado no desenho 3.6, vale a lei de Hooke, que versa sobre a linearidade entre
tensão e deformação, apresentada com a nomenclatura da tabela 3.2.

Tabela 3.2 – Ensaio de tração


SÍMBOLO SIGNIFICADO
𝑁 Força normal de tração aplicada na barra
𝐴 Área da seção transversal da barra
𝜎 Tensão normal na barra
ℓ Comprimento inicial da barra
∆ℓ Alongamento na barra devido à tração
𝜀 Deformação sofrida pelo material
𝐸 Módulo de elasticidade longitudinal

Fonte: O Autor.

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Em um ensaio de tração, a força 𝑁 aplicada pela máquina é progressivamente
aumentada, e os alongamentos ∆ℓ obedecem a progressão linear, estabelecidas
conforme as relações:

Este regime elástico permanece enquanto a deformação respeitar a restrição:

𝜀 ≤ 𝜀MN

Depois disto, como mostrado no desenho 3.6, o material atinge o escoamento, e os


alongamentos continuam a evoluir sem acréscimo de tensão normal, que fica
estabilizada no valor:

𝜎 = 𝑓MN

A partir deste ponto, o material trabalha em regime plástico, preparando-se para


romper, o que efetivamente acontece quando a deformação atinge o limite último:

𝜀 = 𝜀(N

Obviamente o interesse é estabelecer as relações entre forças e tensões e


deformações ainda no regime elástico, antes da ruptura. Substituindo as definições
de tensão e deformação na lei de Hooke, obtêm-se as seguintes relações:

Em ensaios de compressão, realizadas com deformações controladas, a barra sofre


diminuição progressiva de comprimento, e algebricamente a força normal e as
deformações são negativas, permanecendo válido o desenho 3.6.
33
Conclusão

O equilíbrio das estruturas é a primeira verificação de qualquer projeto estrutural,


para garantir a sua estabilidade durante toda a vida útil. Para isto, vínculos devem
ser construídos a fim de restringir deslocamentos e rotações, e receber os esforços
que, aplicados sobre as estruturas, migram para as regiões dos apoios.

A estrutura do desenho 3.2, submetida a um carregamento uniforme, sofre


deslocamentos proporcionais ao carregamento nela aplicado. O apoio fixo da
esquerda restringe qualquer translação. O apoio móvel da direita restringe apenas
deslocamentos verticais. Ou seja, as reações de apoio, uma em cada lado, garantem o
equilíbrio da estrutura, de modo que a soma vetorial de forças é nula, e o momento
de rotação, em relação a qualquer ponto da estrutura, também será nulo.

É parte importante avaliar se a estrutura que está sob carregamento sofre com
deslocamentos excessivos que podem, por um lado, apenas causar desconforto ao
usuário, mas, por outro lado, prejudicar a estabilidade global e inviabilizar a
utilização da estrutura.

O cálculo de deslocamentos precisa ser realizado para estabelecer os limites


admissíveis para a estrutura. O modelo matemático de deformações em regime
elástico, apresentado no desenho 3.6, é fundamental para estabelecer as relações
entre forças e deslocamentos em barras carregadas axialmente com uma força
normal 𝑁.

A variação de temperatura precisa também ser considerada, conforme o material e


seu respectivo coeficiente 𝛼 de dilatação térmica, principalmente em estruturas de
precisão milimétrica. Somando-se estes efeitos, a deformação na barra é dada pela
relação:

34
𝑁∙ℓ
𝜀 = 𝛼 ∙ Δ𝑇 +

𝐸∙𝐴

No caso de tração, a força normal é algebricamente positiva; na compressão,


negativa. No caso de dilatação térmica, gerada por variação positiva de temperatura,
a contribuição na deformação é medida com o mesmo sinal algébrico.

REFERÊNCIAS

SILVA, H. F. Formulação do problema da torção uniforme em barras de seção


transversal maciça. Dissertação de mestrado. Escola Politécnica, 2005.

WOLFGANG, B. WESTFALL, G. D. DIAS, H. Física para Universitários – Mecânica. São


Paulo: McGraw Hill Brasil, 2012.

35
4 LEI DE HOOKE E MÓDULO DE YOUNG

Você já estudou a lei de Hooke. Nesse caso, vamos aplicá-la em resistência dos
materiais.

A lei de Hooke define a relação linear entre a tensão e a deformação dentro da região
elástica, sendo dada pela equação:

Em que:

• σ representa a tensão aplicada;

• E representa o modulo de Young;

• ε representa a deformação sofrida pelo corpo.

O módulo de Young somente pode ser utilizado se o material apresentar uma relação
linear elástica.

4.1 Energia de deformação e elasticidade volumétrica

Quando um material é deformado por uma carga externa, tende a armazenar energia
internamente, em todo o seu volume. Como essa energia está relacionada com as
deformações no material, ela é denominada energia de deformação.

Agora, vamos representar um corpo sofrendo uma deformação em função da carga


aplicada ao corpo.

36
A tensão desenvolve uma forca dada por:

Essa variação de força ocorre nas faces superior e inferior do elemento, após ele ter
sofrido um deslocamento εΔz.

Figura 4.1 – Face superior e inferior de um elemento

Agora, vamos relembrar o que é trabalho em física.

Você pode definir o trabalho pelo produto entre a força e o deslocamento na direção
da força. A deformação aumenta uniformemente de zero até seu valor final δF,
quando é obtido o deslocamento εΔz; nesse caso, o trabalho realizado pela força sobre
∆𝐹
o elemento é igual ao valor médio da força ( 2 ) vezes o deslocamento εΔz.

Note que esse trabalho externo é equivalente ao trabalho interno ou energia de


deformação armazenada no elemento ou corpo de prova, quando do ensaio real.

Agora, vamos considerar que nenhuma energia foi perdida na forma de calor. Nesse
caso, a energia de deformação é:

37
ou

Lembre-se de que o volume do elemento é dado por:

Vamos definir a densidade de energia de deformação, que é dada pela equação:

Se o comportamento do material for linear elástico, a lei de Hooke aplica-se e a


equação é dada por:

Veja que podemos expressar a densidade de energia de deformação em termos de


tensão uniaxial, como:

ou

38
Portanto, temos:

Quando uma barra é confeccionada em material homogêneo e isotrópico e submetida


a uma força axial que age no centro da área de secção transversal, o material no
interior da barra é submetido somente à tensão normal, admitindo-se que essa tensão
é uniforme ou média na área da secção transversal.

Quando um material homogêneo e isotrópico é submetido a um estado de tensão


triaxial, a deformação em uma das direções da tensão é influenciada pelas
deformações produzidas por todas as tensões.

4.2 Propriedades mecânicas dos materiais

Os materiais são identificados por algumas propriedades mecânicas, por exemplo,


resistência mecânica, rigidez, ductilidade, resiliência, dureza e tenacidade. Mas como
determinar as propriedades mecânicas dos materiais? Um exemplo seria através de
ensaios mecânicos, como ensaio de tração ou compressão, utilizando normalmente
corpos de prova, sendo que esses corpos de prova são padronizados por normas
técnicas, utilizando também as normas técnicas para o procedimento das medidas e de
confecção.

Nos ensaios mecânicos é possível obter dos materiais a resistência à tração,


compressão, torção, ao choque, ao desgaste e resistência à fadiga, além da dureza.

E a ductilidade? Bom a ductilidade é a deformação plástica total, até o ponto de


ruptura de um material.

39
Figura 4.9 – Exemplo de ductilidade

Como pode ser visto na figura 4.2, a ductilidade pode ser dividida entre duas
características, materiais frágeis e materiais dúctil, sendo um material considerado
dúctil quando se deforma sob tensão, em metais como ouro, cobre e alumínio, é
possível ver a formação de um cone característico na área de ruptura, típico dos
materiais dúcteis. E um material frágil quando se rompe com pouca ou nenhuma
deformação no processo de ensaio de tração.

40
Figura 4.3 – Exemplo de deformações nos materiais

4.3 Resiliência e tenacidade


4.3.1 Módulo de resiliência (μr)

Uma das propriedades mecânicas fundamentais para a análise de materiais se dá por


meio do módulo de resiliência, o qual descreve o ponto em que o material pode ser
carregado com tensões, tal que acumule energia associada a deformação por unidade
de volume sem que este cruze o limiar entre os regimes elástico e plástico, ou seja,
ocorre durante a região elástica da deformação.

Em particular, quando a tensão σ atinge o limite de proporcionalidade, a densidade de


energia de deformação é denominada módulo de resiliência. O módulo de resiliência é
dado por:

ou

41
Figura 3.4 – Curva de tensão-deformação

Atenção:

A resiliência de um material representa a sua capacidade de absorver energia, sem


sofrer qualquer dano permanente.

4.3.2 Módulo de tenacidade (μt)

Embora atue com os esforços associados à deformação, assim como a Resiliência, a


propriedade de Tenacidade difere por estar associado a capacidade do material em
absorver energia até o ponto de fratura, ou seja, está relacionado ao regime elástico e
elasto-plástico de cada tipo de material.

O modulo de tenacidade é representado pela área inteira no diagrama de tensão-


deformação; portanto, indica a densidade de deformação do material um pouco antes
da ruptura. Essa propriedade e importante no projeto de elementos de estruturas que
possam ser sobrecarregadas acidentalmente.

42
Figura 4.10 – Curva de tensão-deformação para a tenacidade

Materiais com alto modulo de tenacidade sofrem grande distorção devido à


sobrecarga, porém podem ser preferíveis aos que possuem baixo valor de modulo de
tenacidade; já os que possuem modulo de tenacidade baixo podem sofrer ruptura
repentina, sem nenhum sinal dessa ruptura iminente. Ligas de metais podem mudar
sua resiliência e tenacidade.

Conclusão

Nesse módulo foi estudada a aplicação da Lei de Hooke em resistência dos materiais,
também foi estudado energia de deformação e elasticidade volumétrica, além de ter
sido relembrado as propriedades mecânicas dos materiais, apresentando mais algumas
informações sobre o bloco 2, onde foi falado sobre os ensaios mecânicos nos quais é
possível obter dos materiais a resistência à tração, compressão, torção, ao choque, ao
desgaste e resistência à fadiga, além da dureza. Como também foi apresentado no
bloco 4 a ductilidade dos materiais.

43
REFERÊNCIAS

ALVARES, B. A.; LUZ, A. M. R. Física – ensino médio. São Paulo: Scipione, 2008.

AMALDI, U. Imagens da física – as ideias e as experiências do pêndulo aos quarks. São


Paulo: Scipione,1995.

BEER, F. P.; JOHNSTON, R. Resistência dos materiais. 3. ed. São Paulo: Makron Books,
1995.

BONJORNO, R. A. et al. Física fundamental – 2º grau, volume único. São Paulo: FTD,
1993.

BOTELHO, M. H. C. Resistência dos materiais. São Paulo: Edgard Blucher, 2008.

HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

______. Resistência dos materiais. Tradução de Arlete Símile Marques. 7. ed. São
Paulo: Pearson Education, 2011.

SERWAY, R. A. Física 1. [S.l.: s.n.], 1996.

SERWAY R. A.; JEWETT JR., J. W. Princípios de física. São Paulo: Pioneira Thomson,
2008. v. 1.

TIMOSHENKO, S. P. Resistência dos materiais. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1993. v. 1-2.

TIPLER, P. A. Física para cientistas e engenheiros. Rio de Janeiro: LTC, 2000. v. 1.

YOUNG H. D.; FREEDMAN R. A. Física IV. 12. ed. São Paulo: Pearson Education, 2008.

44
5 ESTRUTURAS EM BARRAS

Neste bloco serão estudadas as estruturas em barras, com relação ao equilíbrio,


esforços solicitantes, e distorções. As estruturas de treliça são muito utilizadas em
coberturas de galpões industriais ou nas estruturas de telhados, sendo construídas
com aço ou madeira.

5.1 Efeitos térmicos

Barras de alumínio como as da figura 5.1, ou de aço e outros materiais, sofrem


consideráveis deformações provocadas pelo efeito da temperatura.

Figura 5.1 – Trilho de alumínio

Sendo 𝛼 o coeficiente de dilatação térmica do material, e Δ𝑇 a variação de


temperatura, uma barra de comprimento inicial ℓ sofre expansão de acordo com a
relação:

(Δℓ)9 = ℓ ∙ 𝛼 ∙ Δ𝑇

45
A deformação específica devido à temperatura vale:

No caso de redução de temperatura, ou de congelamento, a variação de temperatura


é negativa:
ΔT < 0

Neste caso, a barra sofrerá contração conforme a mesma relação, produzindo uma
deformação algebricamente negativa. O efeito da temperatura soma-se às
deformações devidas a esforços aplicados:

5.2 Tensões de cisalhamento. Distorções.

As tensões de cisalhamento são as que atuam em um sólido na direção de um corte,


como apresentado no Bloco 1. Ao submeter o sólido de volume 𝑑𝑉 = 𝑑𝑥 ∙ 𝑑𝑦 ∙ 𝑑𝑧
simultaneamente a um corte no plano 𝑦𝑧 e outro no plano 𝑧𝑥, ocorrem as distorções
apresentadas no desenho 5.1.

46
Desenho 5.1 – Distorções

Fonte: SILVA (2005).

As distorções são as diferenças das medidas angulares entre duas arestas do sólido
antes e depois da deformação. No paralelepípedo da figura, todos os ângulos são,
JJJJ𝐴
originalmente, retos. Após a aplicação dos cisalhamentos, as arestas H𝑂 J ; J𝑂JJJ𝐵
J N deixam

de ser ortogonais e passam a ter medida angular igual a:

𝜋
− (𝛼 + 𝛽)
2
A variação da medida angular é a distorção apresentada devido aos cortes simultâneos
efetuados nos planos {𝑦𝑧; 𝑧𝑥} e vale:

𝛾0T = (𝛼 + 𝛽)

Consequentemente, são produzidos os deslocamentos infinitesimais {𝑑𝑢; 𝑑𝑣}


apresentados no desenho acima. Considerando-se a hipótese de linearidade
47
geométrica, podem ser utilizadas as relações métricas nos triângulos {∆𝑂𝐴𝐴∗;
∆𝑂𝐵𝐵∗}, produzindo as seguintes relações infinitesimais:

Para as funções trigonométricas pode-se utilizar a aproximação por polinômios de


Brook Taylor centrados na origem com resto em forma de Girolamo Peano (BENEVIERI;
2018a):

Utilizando o polinômio de ordem 1, resulta em tan 𝜃 = 𝜃. Assim, obtêm-se, para o


paralelepípedo do desenho 5.1, a distorção como a seguinte derivada parcial:

Considerando-se as outras direções, obtêm-se:

Cada tensão de cisalhamento varia linearmente com a respectiva distorção angular


pela lei de Hooke, que relaciona tensões com deformações:

𝜏0T = 𝐺 ∙ 𝛾0T 𝜏Tl = 𝐺 ∙ 𝛾Tl 𝜏l0 = 𝐺 ∙ 𝛾l0

O módulo de elasticidade transversal 𝐺 está relacionado ao módulo de elasticidade


longitudinal 𝐸, conforme o coeficiente de Poisson 𝜐 por:

𝐸
𝐺=
2 ∙ (1 + 𝜐)
48
5.3 Torção em barras

5.3.1 Seção Maciça

Quando submetida a um esforço de torção de intensidade 𝑀r, uma barra de seção


quadrada apresenta deformações como mostradas na figura 5.2.

Figura 5.2 – Torção em barra prismática de seção quadrada

Fonte: SILVA (2005).

Neste caso, ocorre empenamento da seção transversal, uma vez que aparecem
deslocamentos axiais em pontos de uma mesma seção, que deixa de ser plana,
invalidando a hipótese de Claude Louis Marie Henri Navier.

49
Desenho 5.2 – Deslocamentos na seção transversal

Fonte: SILVA (2005).

Na seção transversal de uma barra maciça, ocorrem deslocamentos conforme

mostrado no Desenho 8, em que fibras radiais J𝑂JJJ𝑃


J giram em torno do eixo longitudinal

da barra de um ângulo:

Θ=𝜃∙𝑧

Com este movimento, estas fibras radiais passam a ocupar a posição J𝑂JJJ𝑃
JJJ∗ . Sendo 𝜃 a

taxa de rotação da seção por comprimento de barra, Silva (2005) obtém o campo de
deslocamentos de pontos da seção transversal, conforme indicado no desenho acima
representativo da torção uniforme:

𝑢 = −𝜃 ∙ 𝑧 ∙ 𝑦 𝑣=𝜃∙𝑧∙ 𝑥

Submetendo-se uma barra com seção transversal maciça a um esforço de torção de


intensidade 𝑀r, a taxa de rotação por comprimento varia conforme a relação:

𝑀r
𝜃=
𝐺∙ 9

50
Considerando-se que a barra tenha comprimento ℓ, o ângulo de rotação vale:

𝑀r ∙ ℓ
Θ=
𝐺∙ 9

O momento de inércia à torção 9 depende da geometria da seção transversal.

Desenho 5.3 – Orientação do contorno de uma elipse

Fonte: SILVA (2005).

O problema da torção uniforme em barras com seção transversal elíptica (e, em


particular, o de seção transversal circular) possui solução analítica fechada. No
desenho 5.3 é mostrada uma elipse com semieixo maior de medida 𝑎 e semieixo
menor de medida 𝑏. Silva (2005) obteve o momento de inércia à torção
correspondente:

𝜋 ∙ 𝑎 ^𝑏

51
Nestas condições, os deslocamentos longitudinais 𝑤 de pontos da seção transversal
foram obtidos por Silva (2005) pela aplicação do método semi-inverso e valem:

O resultado deste empenamento pode ser observado abaixo:

Desenho 5.4 – Empenamento da seção transversal em barras de seção maciça


elíptica

Fonte: SILVA (2005).

5.3.2 Torção em eixos de seção circular

Em eixos de barras de sistemas mecânicos (com seção circular) de diâmetro 𝐷, a elipse


do desenho 5.3 é transformada em uma circunferência de raio:

𝐷
𝑎=𝑏=
2
Consequentemente, como 𝑎 = 𝑏, o empenamento da seção transversal desaparece,
uma vez que 𝑤 = 0. Por esta razão, as barras maciças de seção circular são de grande

52
interesse na engenharia aplicada a motores girantes, e os resultados, bem conhecidos.
Neste cenário, o momento de inércia à torção é reduzido a:

5.3.3 Torção em seções abertas de paredes delgadas

A principal característica de um perfil de paredes delgadas é que a espessura da seção


transversal é muito menor que sua largura, altura ou contorno. Porém, estas
dimensões são muito menores do que seu comprimento, de modo que ainda é
possível utilizar modelos de barra para sua análise. Usualmente temos que St 10t e L
10St   , onde L é o comprimento do elemento, St é o perímetro da seção e t é a
espessura das paredes do elemento.

Figura 5.3 – Perfil de secção aberta e paredes delgadas

Para a determinação das equações que permitem obter a posição do centro de


cisalhamento em seções transversais abertas e delgadas, são admitidas como válidas
as seguintes hipóteses simplificadoras:

• O contorno da seção transversal permanece rígido em seu próprio plano


durante a deformação;

• As deformações por cisalhamento na superfície média da barra podem ser


desprezadas.
53
Quando um perfil de seção aberta e paredes delgadas é submetido a um momento
torsor mx, as suas seções giram em torno do seu próprio eixo e empenam. Se o
empenamento for livre nas extremidades e o momento torsor (mx) aplicado for
constante, diz-se que o perfil está submetido a uma torção uniforme ou torção de
Saint-Venant. Se, por outro lado, o momento torsor for variável ou o empenamento
estiver impedido em alguma seção, diz-se que o perfil está submetido a uma torção
não uniforme.

No caso mais geral, de um perfil submetido a uma torção não uniforme, o momento
torsor resistente é constituído por duas parcelas, o momento devido à torção, Tt, e o
momento devido ao impedimento do empenamento, Te. Deste modo, o equilíbrio do
perfil corresponde a:

No caso da torção uniforme, apenas existe a primeira parcela.

As duas parcelas do momento torsor relacionam-se com o ângulo de torção θx do


perfil (em torno do eixo longitudinal que passa pelo centro de cisalhamento da seção
transversal) através das expressões:

Onde:

• X é o eixo do perfil e GJ e EIw designam, respectivamente, a rigidez a


torção e rigidez ao empenamento.

54
Aqui G e E são, respectivamente, os módulos de elasticidade transversal e longitudinal
do material e J e Iw são respectivamente as constantes de torção e empenamento do
perfil. Sabe-se, da resistência dos materiais que:

Onde:

• bi e ti são, respectivamente, a largura e a espessura da i-ésima parede do perfil.

O cálculo de Iw é próprio de cada perfil. Por exemplo, para um perfil “C”, a constante
de empenamento é obtida pela seguinte equação:

Onde:

• tf e tw são respectivamente as espessuras da mesa e alma da seção.

A resolução do problema da torção não uniforme de um perfil requer a solução da


seguinte equação diferencial de equilíbrio:

Conclusão

É possível construir treliças mistas, utilizando concreto armado onde é cabível. Assim,
os diferentes materiais são utilizados para atender aos requisitos de segurança e
estabilidade, aproveitando-se de suas melhores propriedades.

55
REFERÊNCIAS

SILVA, H. F. Formulação do problema da torção uniforme em barras de seção


transversal maciça. Dissertação de mestrado. Escola Politécnica, 2005.

BENEVIERI, P. Cálculo Diferencial e Integral I; registro das aulas. Instituto de


Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, 2018.

BENEVIERI, P. Análise Real; registro das aulas. Instituto de Matemática e Estatística da


Universidade de São Paulo, 2018.

FLEXO-TORÇÃO em perfis de secção aberta e paredes delgadas. PUC RIO. Disponível


em: <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/35617/35617_3.PDF>. Acesso em: 11 de
set. de 2020.

56
6 VIGAS E PÓRTICOS

Neste bloco serão estudadas as vigas e as estruturas de pórticos, que são as células
básicas para a construção de estruturas, em que serão determinadas as reações de
apoio necessárias para garantir o seu equilíbrio estático, assim como calculados os
esforços internos atuantes nas barras. Existem alguns programas que auxiliam o
engenheiro nestas tarefas e, uma vez validados os esforços, a partir de resultados
elementares da teoria, podem ser utilizados sem restrições.

6.1 Cargas e Reações. Esforços Internos.

No Desenho 6.1 é representada uma viga de comprimento ℓ simplesmente apoiada


sob um apoio fixo na seção 𝐴 e um apoio móvel na seção 𝐵.

Desenho 6.1 – Viga duplamente apoiada com carregamento uniformemente


distribuído

Fonte: O autor.

57
Como esta estrutura possui um ponto fixo (𝐴), é conveniente escolher um eixo de
referência 𝑥 passando por este ponto, com a origem do sistema de coordenadas sobre
este ponto. Assim:

𝑥% = 0 𝑥( = ℓ

O carregamento de intensidade 𝑝 +,-/, distribuído ao longo da viga, tem resultante


estática 𝑝 ∙ ℓ (𝑘𝑁), e migra igualmente para cada uma das extremidades {𝐴; 𝐵}, que
reagem com forças concentradas, de sentidos opostos à essa resultante, e com
intensidades:

Internamente, a viga sofre esforços internos de corte ou cisalhamento. No desenho


acima foram selecionadas duas seções para a análise dos esforços internos. A seção 𝐴<
foi locada imedia- tamente à direita da extremidade na qual foi construída o apoio fixo.
Portanto, à esquerda desta seção atua a força concentrada reativa 𝑅% que tende a girar
a estrutura no sentido horário. Portanto, a força cortante na seção 𝐴< vale:

𝑝∙ℓ
𝑉(0) =
2

A seção 𝐵; foi locada imediatamente à esquerda da extremidade na qual foi


construída o apoio móvel. Portanto, à direita desta seção atua a força concentrada
reativa 𝑅( que tende a girar a estrutura no sentido anti-horário. Portanto, a força
cortante na seção 𝐵; vale:

𝑝∙ℓ
𝑉(ℓ) = −
2

58
A seção 𝐶 foi locada exatamente no centro da viga, isto é:


𝑥? =
2

Observando à esquerda da seção, ou seja, na seção 𝐶;, existe a força 𝑅% que tende a
girar a estrutura no sentido horário. O carregamento distribuído de intensidade 𝑝
possui, neste trecho da viga, resultante de @∙ℓ/ , tendendo a girar a estrutura no
sentido anti-horário. Portanto:

Observando à direita da seção, isto é, na seção 𝐶<, existe a força 𝑅( que tende a girar a
estrutura no sentido anti-horário. O carregamento distribuído de intensidade 𝑝 possui,
neste trecho da viga, resultante de @∙ℓ/A tendendo a girar a estrutura no sentido
horário. Portanto:

Uma vez que os valores laterais da função são iguais, estabelece-se a continuidade da
função naquele ponto, e escreve-se:

Observando-se na seção 𝐶;, imediatamente à esquerda da seção 𝐶, a força


concentrada reativa 𝑅% tende a tracionar a mesa inferior da viga, com um momento
de:
59
O carregamento distribuído de intensidade 𝑝 possui, neste trecho da viga, resultante
de @∙ℓ, tendendo a tracionar a mesa superior da viga, com um momento de:
A

Considerando-se positivos os momentos que tracionam a mesa inferior da viga e


negativos os momentos que tracionam a mesa superior da viga, obtém-se, para esta
seção, o momento fletor de:

Observando-se na seção 𝐶<, imediatamente à direita da seção 𝐶, a força concentrada


reativa 𝑅( tende a tracionar a mesa inferior da viga, com um momento de:

O carregamento distribuído de intensidade 𝑝 possui, neste outro trecho da viga,


resultante de @∙ℓ, tendendo a tracionar a mesa superior da viga, com um momento de:
A

60
Para a seção 𝐶 < , o momento fletor obtido é:

Uma vez que os valores laterais da função são iguais, estabelece-se a continuidade da
função naquele ponto, e escreve-se:

Este é o momento fletor máximo atuante na viga, na seção central, sendo utilizado
para dimensionar a estrutura para que suporte este carregamento.

Nestas condições, os esforços internos, o carregamento e as reações de apoio são


compatíveis com o equilíbrio da estrutura do desenho 6.1.

No desenho 6.2 é representada uma viga de comprimento ℓ engastada na seção 𝐴 e


livre na extremidade da seção 𝐵.

61
Desenho 6.2 – Viga engastada com carregamento uniformemente distribuído

O carregamento de intensidade 𝑝 +,-


.
/, distribuído ao longo da viga, tem resultante
estática 𝑝 ∙ ℓ (𝑘𝑁), e os esforços dele decorrentes migram totalmente para a
extremidades engastada {𝐴}, que reage com força concentrada, de sentido oposto à
essa resultante, e com um momento concentrado com intensidades:

Internamente, a viga sofre esforços internos de corte ou cisalhamento. No desenho


acima foram selecionadas duas seções para a análise dos esforços internos. À esquerda
da seção 𝐴< atua a força concentrada reativa 𝑅% que tende a girar a estrutura no
sentido horário. Portanto, a força cor- tante na seção 𝐴< vale:

𝑉(0) = 𝑝 ∙ ℓ

62
Atua também o momento reativo 𝑀%, que tende a tracionar a mesa superior da viga.
Nesta seção, o momento fletor vale:

À direita da seção 𝐵; , não há forças cortantes e nem momentos fletores.


Consequentemente:

𝑉(ℓ) = 0 𝑀(ℓ) = 0

6.2 Construção de diagramas de esforços solicitantes

Para construir os diagramas de esforços solicitantes, é necessário determinar, para


cada seção da barra, as funções que representam os esforços internos de forças
normais, forças cortantes, momentos fletores e momentos torsor (torque).

Primeiramente, escolhe-se um eixo de coordenadas e coloca-se a origem


preferencialmente em um ponto fixo da estrutura, como mostrado no desenho 6.3.

Desenho 6.3 – Viga duplamente apoiada com carregamento uniformemente


distribuído

63
Em seguida, deve-se escolher uma seção 𝑆 de coordenada 𝑥 para escrever cada
função em função da respectiva coordenada. Olhando-se à esquerda de 𝑆, percebe-se
que a força concentrada reativa 𝑅% tende a girar a estrutura no sentido horário.

O carregamento distribuído de intensidade 𝑝 possui, neste trecho da viga, resultante


𝑝 ∙ 𝑥, tendendo a girar a estrutura no sentido anti-horário. Portanto:

O mesmo resultado é obtido se for efetuado a análise dos esforços à direita de 𝑆, pois a
força concentrada reativa 𝑅( tende a girar a estrutura no sentido anti-horário e a
resultante 𝑝 ∙ (ℓ − 𝑥) do carregamento distribuído neste trecho tende a girar a
estrutura no sentido horário. Portanto:

Conclui-se que em uma viga simplesmente apoiada com carregamento vertical


uniforme, a força cortante é uma função decrescente de primeiro grau definida para o
intervalo 𝑥 ∈ [0; ℓ] e que assume o valor máximo em 𝑥 = 0 e o valor mínimo em 𝑥 = ℓ,
sendo nula na seção central 𝑥 = Aℓ:

Portanto, o gráfico da função 𝑉(𝑥) é um segmento de reta.

64
Quanto aos momentos fletores, observando-se à esquerda da seção 𝑆, a força
concentrada reativa 𝑅% tende a tracionar a mesa inferior da viga, com um momento
de:

Considerando-se positivos os momentos que tracionam a mesa inferior da viga e


negativos os momentos que tracionam a mesa superior da viga, obtém-se, para esta
seção, o momento fletor de:

O mesmo resultado é obtido considerando-se os esforços à direita de 𝑆, pois a força


reativa 𝑅( tende a tracionar a mesa inferior da viga, enquanto que a resultante do
carregamento distribuído, de 𝑝 ∙ (ℓ − 𝑥) neste trecho tende a tracionar a mesa
superior da viga. Assim:

Conclui-se que em uma viga simplesmente apoiada com carregamento vertical


uniforme, o momento fletor é uma função de segundo grau definida para o intervalo 𝑥 ∈
[0; ℓ], com concavidade para cima e que assume o valor máximo em 𝑥 = ℓ e valores
A
mínimos em 𝑥 = ℓ:

65
6.3 Softwares gratuitos para cálculo estrutural

As treliças são estruturas formadas por barras construtivamente articuladas nos nós,
concebidas para trabalharem apenas a esforços axiais. Na figura 6.1 é mostrada uma
treliça de madeira com conexões por peças metálicas.

Figura 6.1 – Treliça plana de madeira

As diretrizes para dimensionamento e detalhamento destas ligações são estudadas na


disciplina de estruturas de madeira e metal, respeitando as diretrizes estabelecidas
pelas normas brasileiras correspondentes.

Na Figura 6.2 é mais fácil enxergar as conexões articuladas entre as barras de aço. É
uma treliça espacial construída para suportar uma cobertura.

66
Figura 6.2 – Treliça de aço galvanizado

Com relação à treliça plana da Figura 6.1 (por exemplo), um modelo matemático é
construído utilizando-se barras articuladas nas extremidades, permitindo rotação
relativa entre barras sucessivas.

Um apoio fixo que restringe todas as translações deve ser colocado, por exemplo, à
esquerda, e um apoio móvel, que restringe apenas deslocamentos horizontais, à
direita. Desta maneira, constrói-se um modelo de uma estrutura isostática com um
ponto fixo. É conveniente estabelecer a origem do sistema de coordenadas neste
ponto fixo (Desenho 6.4).

A versão 3.01 (21/12/2016) do software gratuito Ftool1 foi utilizada para construir
modelos matemáticos para a treliça da Figura 6.1.

1
Disponível em: <https://www.ftool.com.br/Ftool/>. Acesso em: 22 set. 2020.
67
Desenho 6.4 – Carregamento, forças normais e reações de apio em treliça plana
simétrica

Neste exemplo, foram colocadas cargas concentradas verticais de 6 𝑘𝑁 simulando a


ação de uma cobertura apoiada nestes nós. Obviamente, as reações de apoio, de 3 𝑘𝑁
cada, equilibram a estrutura. Uma vez que não há forças horizontais, nenhuma
componente nesta direção aparece na reação de apoio da esquerda.

Em vermelho, no centro de cada barra, aparecem os valores, em 𝑘𝑁, das forças


normais a que as barras estão submetidas. Neste caso, como trata-se de uma estrutura
simétrica com carregamento simétrico, as barras simétricas possuem solicitações
iguais. Para as barras horizontais:

𝑁 = 3 𝑘𝑁

Esta força normal algebricamente positiva confirma que a barra está tracionada. A
barra vertical está tracionada com 𝑁 = 2 𝑘𝑁. Portanto, para efeito de verificação da
segurança estrutural, toma-se a força interna de maior valor absoluto para estudo da
tração.

68
As outras barras estão comprimidas, com forças normais algebricamente negativas.
Toma-se a de maior valor absoluto para efetuar a verificação da segurança estrutural:

𝑁 = − 4,2 𝑘𝑁

Em barras comprimidas, além de se verificar a segurança quanto à resistência do


material, torna-se necessário verificar a estabilidade à flambagem.

Fica mais fácil perceber quais barras estão tracionadas e quais barras estão
comprimidas observando-se os deslocamentos que ocorrem na estrutura devidos às
solicitações aplicadas.

Desenho 6.5 – Deslocamentos em treliça sobre um apoio fixo à esquerda e um apoio


móvel à direita

O desenho 6.5 foi construído com auxílio da versão 3.01 (21/12/2016) do software
gratuito Ftool, que funciona em computadores com Windows. Em escala amplificada,

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mostram-se os deslocamentos que as barras sofrem em decorrência do carregamento
aplicado. O apoio da direita permite deslocamentos horizontais deste nó da estrutura.

Observa-se também que as todas as barras se mantêm retas na configuração


deformada. Isto ocorre porque, neste tipo de estrutura, não há cargas aplicadas no
corpo da barra, mas somente nos seus respectivos nós; além disto, todos os vínculos
permitem rotações, o que elimina a possibilidade de haver flexão nas barras deste
modelo.

Desenho 6.6 – Carregamento, forças normais e reações de apio em treliça plana


assimétrica

Na treliça do desenho 6.6 foi acrescentado carregamento lateral, simulação de vento.


Na análise do equilíbrio global da estrutura, o equilíbrio de momentos, estabelecido
em relação a cada um dos dois apoios, resolve a determinação das reações de apoio.
Observar que somente o apoio da esquerda possui vínculo horizontal e, naturalmente,
absorverá todos os esforços nesta direção.

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O equilíbrio dos nós e das seções efetuadas na direção de cada uma das barras permite
determinar as forças normais em cada barra, estabelecendo as barras comprimidas e
as barras tracionadas. O maior nível de compressão estabelecido é:

𝑁 = − 6,4 𝑘𝑁

Este valor é absolutamente superior ao encontrado na treliça do desenho 6.4. Por


outro lado, o maior nível de tração na treliça acima é:

𝑁 = 2,0 𝑘𝑁

Este valor é inferior ao da outra estrutura. Observa-se que os tipos de vínculos e os


carregamentos aplicados na estrutura eliminam as propriedades de simetria
inicialmente concebidas no modelo do desenho 6.4.

Desenho 6.7 – Deslocamentos em treliça com carregamento lateral

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No desenho 6.7 é apresentada a configuração deformada (em escala exagerada), na
qual observa-se que, mesmo tendo à direita um apoio móvel, não há deslocamento na
direção deste grau de liberdade. Isto ocorre porque os carregamentos laterais vão em
direção ao apoio fixo.

Desenho 6.8 – Carregamento, forças normais e reações de apio em treliça plana


assimétrica

No entanto, quando o sentido do carregamento lateral é invertido, o comportamento


muda significativamente. As reações verticais permanecem iguais no desenho 6.8
comparado com o Desenho 6.6, mas a mudança de sentido na reação horizontal do
apoio fixo gera alterações nas forças normais das barras:

𝑁,-. = −6,4 𝑘𝑁 𝑁,/0 = 7,5 𝑘𝑁

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Desenho 6.9 – Deslocamentos em treliça com carregamento lateral

Além disto, aparecem deslocamentos no apoio móvel e que não ocorriam no modelo
anterior.

As treliças são estruturas isostáticas construídas com barras articuladas nas


extremidades e concebidas para receberem apenas carregamentos nos nós. Com isto,
o modelo matemático permite obter como resultado a ausência de flexão e de
cortante nas barras, que estão sujeitas apenas a esforços axiais.

Isto simplifica a análise do problema, uma vez que, na ausência de solicitações


transversais, as deformações axiais das barras dependem apenas das forças normais
atuantes nas barras.

Conclusão

Neste bloco estudamos as vigas e as estruturas de pórticos, que são as células básicas
para a construção de estruturas, nais quais serão determinadas as reações de apoio
necessárias para garantir o seu equilíbrio estático, assim como calculados os esforços
internos atuantes nas barras.
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REFERÊNCIAS

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Paulo: Scipione,1995.

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1993.

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Paulo: Pearson Education, 2011.

SERWAY, R. A. Física 1. [S.l.: s.n.], 1996.

SERWAY R. A.; JEWETT JR., J. W. Princípios de física. São Paulo: Pioneira Thomson,
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