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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO-UFMA

DIRETORIA DE TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO


CURSO DE MATEMÁTICA

CLEUDE ANTONIO MARQUES DA SILVA

A HISTÓRIA DE PLATÃO E ARISTÓTELES NA MATEMÁTICA: UMA


REVISÃO DE LITERATURA
.

SÃO LUÍS – MA,


2024
CLEUDE ANTONIO MARQUES DA SILVA

A HISTÓRIA DE PLATÃO E ARISTÓTELES NA MATEMÁTICA: UMA


REVISÃO DE LITERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentando


à Coordenação do Curso de Matemática, da
Universidade Federal do Maranhão como
requisito parcial para obtenção do título de
Licenciado em Matemática.

Orientador: Prof. Dr. Nilson Santos Costa

SÃO LUÍS – MA,


2024
PÁGINA EM BRANCO PARA INSERIR FICHA CATALOGRÁFICA
CLEUDE ANTONIO MARQUES DA SILVA

A HISTÓRIA DE PLATÃO E ARISTÓTELES NA MATEMÁTICA: UMA


REVISÃO DE LITERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentando


à Coordenação do Curso de Matemática, da
Universidade Federal do Maranhão como
requisito parcial para obtenção do título de
Licenciado em Matemática.

Aprovação em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

ORIENTADOR

1º EXAMINADOR

2º EXAMINADOR
Dedico esta conquista aos meus pais e esposa
pelo o incentivo e paciência. Vocês foram
fundamentais nesta caminhada.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus que me deu paz e energia para que


este trabalho fosse concluído. Sem ele nada seria possível.
Agradeço a minha esposa pelo o apoio, compreensão e carinho.
Ao professor Alex pelo o incentivo e aprendizado durante o curso.
Aos meus colegas de turma Eliel, Marciano, Silvana e Gilcilene que
participaram de tantos momentos importantes.
A coordenadora Professora Lêda pelo o carinho e parceria.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que fizeram parte desta etapa
decisiva da minha vida.
“Que os vossos esforços desabem as impossibilidades, lembrai-vos de que as
grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível”
(Charles Chaplin)
RESUMO
O presente estudo trata-se de uma revisão literária que aborda a história de
Platão e Aristóteles na matemática, onde será discutido a respeito de suas
contribuições ao longo do tempo, destacando as influências de suas ideias
filosóficas no desenvolvimento desta ciência, apresentando uma análise
aprofundada da relação entre as ideias filosóficas de ambos. Esta pesquisa está
dividida em três capítulos, onde discutimos a filosofia platônica, tendo a teoria
das ideias como fundamento metafísico, e as contribuições matemáticas trazidas
a partir da linguagem das ideias; além de abordar questões relativas à filosofia
aristotélica, com ênfase para a observação, experiência e lógica, e a influência
deste personagem histórico dentro da matemática. Ademais são discutidas como
as visões filosóficas de Platão e Aristóteles foram reinterpretadas ao longo dos
séculos, nos períodos que compreendem a Idade Média, Renascença,
Iluminismo, Século XIX, XX e os dias atuais. Buscamos, a partir desse estudo,
proporcionar o conhecimento da história da matemática a partir dessas duas
correntes filosóficas ao longo do tempo.

PALAVRAS-CHAVE: Platonismo; Aristotelismo; Metafísica; Geometria.


ABSTRACT
The present study is a literary review that addresses the history of Plato and
Aristotle in mathematics, which will discuss their contributions over time,
highlighting the influences of their philosophical ideas on the development of this
science, presenting an in-depth analysis of the relationship between their
philosophical ideas. This research is divided into three chapters, where we
discuss Platonic philosophy, having the theory of ideas as a metaphysical
foundation, and the mathematical contributions brought from the language of
ideas; in addition to addressing issues related to Aristotelian philosophy, with an
emphasis on observation, experience and logic, and the influence of this
historical character within mathematics. Furthermore, it is discussed how the
philosophical views of Plato and Aristotle were reinterpreted over the centuries, in
periods that include the Middle Ages, Renaissance, Enlightenment, 19th and
20th centuries and the present day. We seek, from this study, to provide
knowledge of the history of mathematics from these two philosophical currents
over time.

KEYWORDS: Platonism; Aristotelianism; Metaphysics; Geometry.


LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Conversa entre filósofos..................................................................13


Figura 02 - Roma Antiga.....................................................................................15
Figura 03 - Filósofo Nietzsche escrevendo um livro em uma biblioteca.............16
Figura 04 – Representação da relação de separação e participação filosófica..17
Figura 05 - Cidade da Idade Média....................................................................19
Figura 06 - Ideias são realidades eternas e imutáveis.......................................20
Figura 07 - Representação gráfica de diferentes formas geométricas juntas.....21
Figura 08 - Percepção sensorial para compreensão..........................................22
Figura 09 - Livro da disciplina de Matemática....................................................23
Figura 10 - A origem do conhecimento está na razão........................................26
Figura 11 - Percepções sensoriais humanas......................................................28
Figura 12 - Representação do infinito.................................................................30
Figura 13 - Professor de filosofia ensinando em sala de aula............................33
Figura 14 - Alexandre, o Grande........................................................................35
Figura 15 - São Tomás de Aquino e Santo Agostinho........................................36
Figura 16 - Cidade Renascentista......................................................................37
Figura 17 - O filósofo Focault.............................................................................38
Figura 18 - Criança fazendo uso de objetos matemáticos..................................40
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................11

2 PLATÃO - A MATEMÁTICA DAS IDEIAS......................................................13

2.1 Filosofia Platônica - A teoria das Ideias como fundamento metafísico.........13

2.2 Contribuições Matemáticas - A importância da matemática como linguagem


das Ideias............................................................................................................18

3 ARISTÓTELES - A LÓGICA E A MATEMÁTICA EMPÍRICA........................25

3.1 Filosofia Aristotélica - Ênfase na observação, experiência e lógica..............25

3.2 Influência na Matemática - Reflexões sobre a natureza finita e infinita da


matemática..........................................................................................................30

4 IMPACTO NA MATEMÁTICA PÓS-ANTIGA.................................................36

4.1 Como as visões filosóficas foram reinterpretadas ao longo dos séculos......36

4.2 Contrastes entre o platonismo e o aristotelismo na matemática moderna...41

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................47

REFERÊNCIAS...................................................................................................49
11

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo busca trazer uma revisão literária a respeito da


história de Platão e Aristóteles na matemática, destacando suas contribuições
e principais ideias a respeito dessa ciência, bem como a influência destes dois
filósofos desde a Grécia Antiga até os dias atuais. A saber, Platão e Aristóteles
foram dois dos filósofos mais influentes na história da filosofia ocidental, e suas
teorias moldaram não apenas a maneira como enxergamos o mundo, mas
também exerceram forte influência em disciplinas como ética, política,
epistemologia e metafísica.
Platão e Aristóteles compartilharam um período de estudo sob a
orientação de Sócrates, contudo suas abordagens filosóficas diferiam em
determinados aspectos, dando origem a duas tradiçõesa duas linhas filosóficas
distintas: o platonismo e o aristotelismo.
Platão buscava pela verdade absoluta e universal. Em seus diálogos,
como "A República" e "O Banquete", Platão deu início a teoria das Ideias, onde
enfatizou que o mundo sensível é uma mera sombra do mundo das formas
eternas e imutáveis. Além disso, sua visão política propunha a governança por
filósofos-reis, que, ao conhecerem as Ideias, seriam os mais aptos a liderar. Já
Aristóteles, por meio de suas obras "Ética a Nicômaco", "Política" e
"Metafísica", trouxe uma abordagem mais empirista e sistemática, onde
valorizava a observação e a experiência como fundamentais para o
entendimento do mundo.
De modo geral, é possível inferir que Platão enfatizava o mundo das
Ideias, ao passo que Aristóteles concentrava-se na análise da realidade
concreta para chegar ao conhecimento, linhas de pensamento que
influenciaram fortemente a realidade da época e tem se perpetuado até os dias
atuais, em diversos ramos, inclusive da matemática.
É importante frisar que, mesmo nos dias atuais, tanto o platonismo e o
aristotelismo continuam a perpetuar o seu legado, sendo fontes de debate e
reflexão em diferentes eixos da sociedade, demonstrando assim a
grandiosidade da herança deixada por esses dois gigantes da filosofia.
Ressalta-se, ainda, que Platão e Aristóteles contribuíram
significativamente para a história da matemática. Suas ideias e abordagens
12

influenciaram o desenvolvimento da disciplina em seus mais diversos aspectos,


desde a geometria até a própria complexidade dos números.
Nesse sentido, o presente estudo consiste em uma revisão de literatura,
onde serão exploradas de forma ampla as contribuições de Platão e Aristóteles
para a matemática, destacando as influências de suas ideias filosóficas no
desenvolvimento desta ciência, apresentando uma análise aprofundada da
relação entre as ideias filosóficas de Platão e Aristóteles e o desenvolvimento
da matemática ao longo da história, proporcionando uma compreensão mais
ampla e contextualizada do papel desses filósofos na evolução da disciplina.
A saber, este estudo se divide em três capítulos, que consistem em:
‘’Platão: a Matemática das Ideias’’, no qual se discute a filosofia platônica,
tendo a teoria das ideias como fundamento metafísico, e as contribuições
matemáticas trazidas a partir da linguagem das ideias; ‘’Aristóteles: a lógica e a
matemática empírica’’, no qual são abordadas questões relativas à filosofia
aristotélica, com ênfase para a observação, experiência e lógica, e a influência
deste personagem histórico dentro da matemática, com destaque para as suas
reflexões acerca da natureza finita e infinita da matemática; e ‘’ Impacto na
Matemática Pós-Antiga’, onde são discutidas como as visões filosóficas foram
reinterpretadas ao longo dos séculos, nos períodos que compreendem a
influência na Idade Média, Renascença, Iluminismo, Século XIX, XX e os dias
atuais, e os contrastes entre o platonismo e o aristotelismo na matemática
moderna, trazendo um debate sobre a relevância contínua dessas filosofias.
Ademais, são feitas as considerações finais da pesquisa, destacando os
principais pontos abordados, permitindo ao leitor uma ampla reflexão das
observações realizadas e conhecimentos adquiridos na revisão literária
desenvolvida.
13

2 PLATÃO - A MATEMÁTICA DAS IDEIAS

Neste capítulo serão discutidas as teorias de Platão a respeito das


relações entre o mundo sensível e o mundo das ideias, destacando suas
principais contribuições acerca da filosofia envolvendo a disciplina matemática,
explorando a teoria dos números e a geometria dos sólidos platônicos.

2.1 Filosofia Platônica - A teoria das Ideias como fundamento metafísico

Nos diálogos platônicos, a metafísica platônica pode ser


caracterizada como um horizonte metodológico-conceitual de investigação que
continuamente tem de retomar a hipótese das Formas para delas apresentar
novos aspectos e sentidos, conforme o tema em debate em cada diálogo e
mesmo conforme a perspectiva em que os debatedores (Figura 01) se dispõem
em relação a este tema (Marques, 2010).
Segundo Moravcsik (2006), sobre a metafísica platônica destaca que
o método das Formas, proposto por Platão, busca aplicar essas Formas em
diversas áreas, como ética, política, lógica, epistemologia, ontologia e
cosmologia. Para compreender as Formas, é essencial considerar os contextos
de discussão nos quais são aplicadas. O método utilizado por Platão,
denominado dialética, envolve uma abordagem multifacetada que abrange
diversos aspectos do fazer filosófico, proporcionando uma visão ampla sobre o
que é a filosofia e como ela pode ser conduzida.

Figura 01 - Conversa entre filósofos

Fonte: O autor, 2024.


14

Embora a filosofia platônica não seja a primeira na Grécia Antiga e


haja debate sobre se Platão foi o primeiro a usar o termo 'filosofia', é plausível
argumentar que Platão e sua obra representam a primeira abordagem filosófica
que coloca o significado do ato de filosofar como um tema fundamental da
própria filosofia. A metafísica platônica, compreendida como o método dialético
das Formas, é indicativa dessa abordagem pioneira, caracterizando uma
"filosofia do filosofar" (Bloom, 2017).
Giannantoni (2005) destaca que, embora seja um tema controverso,
a maior contribuição da filosofia platônica para a filosofia e metafísica
subsequentes foi a introdução do filosofar como uma atividade que se volta
tanto para os conceitos quanto é dependente deles. Isso cria uma
"circularidade epistemológica" peculiar, onde filosofar consiste em buscar
compreender o que já está presente em nossas atividades, especialmente no
pensamento. Os conceitos, conforme delineados por Platão, não são meras
palavras ou objetos, mas algo que conecta palavras e objetos e, ao mesmo
tempo, explica por que estão necessariamente separados. O termo mais
comum utilizado por Platão para expressar esses conceitos é "forma" (eidos).
Dessa forma, a metafísica platônica, ao se concentrar na teorização
contínua das Formas e ao inaugurar uma abordagem filosófica que trata o ato
de filosofar como uma atividade que opera por meio de conceitos, não pode ser
compreendida apenas pela delimitação dos objetos e características de suas
Formas. Ela deve ser vista como um método de investigação que, em termos
epistêmicos, requer a postulação das Formas, principalmente (embora não
exclusivamente), como conceitos gerais. Esses conceitos são essenciais para
o pensamento e conhecimento, tanto no nível do inteligível instanciado nos
sensíveis quanto no domínio do puramente inteligível. Em resumo, a metafísica
platônica não apenas aborda a natureza das Formas, mas também reconhece
sua importância como elementos fundamentais para a cognição e
compreensão de qualquer entidade, seja no mundo sensível ou no reino
puramente inteligível (Marques, 2010).
De acordo com Paviani (2001), o aspecto fundamentalmente
metodológico da metafísica platônica permitiu compreender os diversos
desenvolvimentos do platonismo ao longo da antiguidade. Esses
desdobramentos incluíram a apropriação crítica por Aristóteles, a reformulação
15

"matematizante" por Espeusipo e Xenócrates, bem como a vertente cética


posterior da Nova Academia com Carnéades e Arcesilau. Essa influência
estendeu-se ao longo dos séculos na expansão neoplatônica, especialmente
após a sistematização realizada por Plotino no século III, chegando até os
momentos finais do neoplatonismo pagão na forma "cética" apresentada por
Damásio no século VI (Figura 02). A metodologia da metafísica platônica,
portanto, desempenhou um papel crucial na evolução e diversificação do
pensamento platônico ao longo da história filosófica antiga.

Figura 02 - Roma Antiga

Fonte: O autor, 2024.

Tudo isso, porém, não é mais do que a primeira etapa do platonismo


na filosofia ocidental, sucedida pelas metamorfoses do platonismo através das
filosofias teológicas (ou teologias filosóficas) cristã, judaica e islâmica, bem
como pelo ressurgimento do (neo)platonismo na Renascença e novamente em
parte do Romantismo e Idealismo alemães, tanto quanto nos sentidos em que
o platonismo ainda está presente na filosofia recente.

Parece que apenas tendo em vista o caráter “aberto” de um horizonte


conceitual, de um método das Formas podemos entender plenamente
esta história tão multifacetada quanto inegavelmente marcada pela
metafísica platônica, um horizonte tão abrangente que moldou
inclusive a fraternidade teórica necessária para a sobrevivência da
obra de Aristóteles antes mesmo de sua “canonização” na segunda
parte do medievo (Engler, 2018, p. 85).
16

De modo mais específico, na perspectiva interpretativa, Platão, ao


hipotetizar as Formas, propõe uma resposta à exigência de Parmênides quanto
à identidade entre ser e pensar, uma necessidade imperativa para o
conhecimento. Essa proposta, surgida como uma contrapartida geral e
necessária, tem um impacto significativo na história da filosofia, da metafísica
ocidental, bem como nas evoluções da ciência e da arte, que se desenvolvem
em consonância ou em reação a essa trajetória filosófica.
Para Cornford (1939), a identidade entre ser e pensar, estabelecida
por Parmênides como o critério primordial da verdade e do conhecimento,
percorre diversas fases na história da filosofia. Essa noção atravessa as
vicissitudes da metafísica platônica e aristotélica na antiguidade, influencia o
cogito cartesiano na era medieval e encontra uma expressão notável no
conceito nietzschiano (Figura 03) de 'vontade de verdade'.

Figura 03 - Filósofo Nietzsche escrevendo um livro em uma biblioteca.

Fonte: O autor, 2024.

Nietzsche formula essa vontade de verdade em "Assim Falou


Zaratustra" como o desejo de que a realidade se submeta ao poder do
pensamento, destacando uma continuidade ao longo das correntes filosóficas
ao longo dos tempos.

A metafísica platônica, neste sentido, é uma apropriação original e


duradoura do postulado imperativo da identidade entre ser e pensar;
podemos dizer que ela é uma “operacionalização” deste postulado
17

imperativo transformando-o no desiderato idealizado de identificação


entre ser e pensar (Fine, 1980, p. 197).

A identificação platônica entre pensar e ser, em contraste com a


completa identidade parmenídica entre ambos, abre um horizonte de
investigação das Formas como objetos inteligíveis. Estas são objetos de
conhecimento em sentido estrito, mas cujo ser não pode ser reduzido a
nenhum pensamento ou discurso específico. Isso implica em um processo
contínuo e potencialmente indefinido de identificação entre o pensamento com
a aspiração de se tornar conhecimento e o ser das Formas almejado por esse
mesmo pensamento. Em última instância, a identidade epistêmica completa
nunca é totalmente alcançada, de maneira semelhante à impossibilidade de as
propriedades instanciadas nos objetos sensíveis substituírem ou esgotarem as
Formas das quais participam (Fuchs, 2015).
Em virtude dessa dupla relação de separação e participação, a
identificação é um processo infinito (Figura 04) justamente porque estende a
pretensão do conhecimento para além do ser puro necessariamente distinto
das coisas sensíveis em direção à apreensão das formas enquanto
fundamento e, por isso, condição explicativa das coisas sensíveis, na medida
em que estas são o que são por instanciarem de vários modos as formas.

Figura 04 – Representação da relação de separação e participação filosófica

Fonte: O autor, 2024.


18

A contrapartida desta transformação exige um método que não seja


mais apenas dedutivo, como no caso dos eleatas, mas um método que é uma
mistura de procedimentos dedutivos e indutivos, o que sempre novamente traz
certo grau de indeterminação, incompletude e mesmo de incerteza para o que
se toma como conhecimento adquirido através deste mesmo método, dado que
as Formas não podem ser completamente distintas dos objetos sensíveis (e,
por isso, de sua multiplicidade e complexidade), sob pena de não poderem
contar como condições necessárias e suficientes da existência (causas) destes
mesmos sensíveis (Giannantoni, 2005). Neste aspecto, Platão reformula o
postulado imperativo de Parmênides enfraquecendo-o e, por conseguinte,
dando-lhe a legitimidade de uma posteridade milenar. Embora soe polêmico,
pode-se dizer que o postulado imperativo de Parmênides talvez não tivesse
adquirido toda a potência histórica há pouco mencionada sem sua
transformação platônica.

2.2 Contribuições Matemáticas - A importância da matemática como


linguagem das Ideias

Platão, além de filósofo, pode-se dizer que ele era também um


matemático, assim como alguns dos filósofos da antiguidade, pois ele
desenvolveu trabalhos relacionados às disciplinas matemáticas e dedicou
especial atenção a essa área.
Na época de Platão havia uma divisão das ciências bem diferente do
que temos hoje. Quanto à divisão das ciências na antiguidade, é verdade que
havia essa categorização em aritmética, geometria, astronomia e música,
consideradas como ciências matemáticas. Essas quatro áreas eram chamadas
de quadrivium na Idade Média (Figura 05) e eram parte essencial da educação
em disciplinas mais avançadas. Com o tempo, outras disciplinas surgiram e o
entendimento sobre as ciências evoluiu, resultando na subdivisão e na
emergência de novos campos, levando à definição de novas disciplinas e áreas
de estudo (Meneghetti, 2010).
19

Figura 05 - Cidade da Idade Média

Fonte: O autor, 2024.

Para Roque (2009), Platão foi, de fato, influenciado por Parmênides


e Sócrates, duas figuras que moldaram profundamente seu pensamento
filosófico. Parmênides contribuiu com a ideia de uma realidade imutável e
estável, onde o ser é permanente e o movimento é ilusório. Esse princípio da
imutabilidade influenciou a visão de Platão sobre a realidade das ideias.
Sócrates, por sua vez, não deixou escritos, mas sua abordagem filosófica
através do método dialético, onde buscava a verdade por meio do
questionamento e do diálogo, foi fundamental para Platão. Ele herdou e
expandiu essa metodologia, utilizando-a como uma ferramenta essencial em
seus diálogos filosóficos.
Para Saito (2015), o "logos", termo grego que pode significar razão,
discurso, argumento ou palavra, foi de fato um conceito importante para Platão.
Ele o usou para descrever a síntese ou a razão por trás das coisas,
especialmente no contexto das formas ou ideias. Segundo Platão, as ideias
são realidades eternas e imutáveis (Figura 06), que existem no mundo das
formas perfeitas e que se relacionam com as coisas do mundo sensível, as
quais são apenas sombras ou reflexos imperfeitos das formas ideais. Assim,
para Platão, as ideias representam as essências verdadeiras e permanentes
das coisas, enquanto o mundo sensível é uma realidade transitória e mutável.
Através do "logos" e da dialética, ele buscava compreender e explicar a relação
20

entre esses dois mundos, explorando a natureza da realidade e do


conhecimento.
Figura 06 - Ideias são realidades eternas e imutáveis

Fonte: O autor, 2024.

Platão deixou um legado duradouro que influenciou filósofos e


matemáticos ao longo dos séculos. Sua distinção entre o "mundo das ideias" e
o "mundo sensível" marcou seu pensamento. No mundo das ideias, tudo é
perfeito e verdadeiro, como formas geométricas ideais, enquanto no mundo
sensível, tudo é uma cópia imperfeita dessas formas.
Para Platão, o conhecimento verdadeiro residia no mundo das
ideias, enquanto no mundo sensível, as percepções eram apenas opiniões,
raramente alcançando a verdade. Essa divisão influenciou a forma como as
pessoas viam a busca pelo conhecimento e a compreensão da realidade,
mantendo-se relevante até os dias atuais (Saito, 2015).
No mesmo pensamento, Silva (2007) retrata que era algo baseado
no que é real, que é o que está presente no mundo das ideias. E esse
pensamento foi muito contestado posteriormente por um de seus alunos, e sem
dúvidas o mais destacado, Aristóteles, que veio a criar uma nova teoria que vai
de encontro à teoria de Platão.
Dessa forma, Platão acreditava que as formas geométricas (Figura
07) eram entidades eternas que existiam no mundo das ideias, não no mundo
físico. Ele argumentava que o estudo da geometria deveria se concentrar
nessas formas puras, as quais pertenciam ao reino inteligível, não às formas
21

imperfeitas encontradas no mundo sensível. Sua ênfase estava na busca pelo


conhecimento do que ele considerava como a verdadeira realidade, priorizando
o mundo das ideias sobre as manifestações concretas e mutáveis do mundo
físico.

Figura 07 - Representação gráfica de diferentes formas geométricas juntas

Fonte: O autor, 2024.

Para Silva (2007), a matemática contemporânea, em certa medida,


também se baseia no estudo de objetos ideais e abstratos que não existem no
mundo físico. Isso permite a compreensão de conceitos matemáticos de forma
mais geral e abrangente. Ao se concentrar em objetos matemáticos ideais e
perfeitos no mundo das ideias, os matemáticos desenvolvem teorias e
princípios que podem ser aplicados a objetos do mundo real, mesmo que estes
sejam imperfeitos ou aproximados.
Essa abordagem, de estudar a matemática em um domínio
separado do mundo físico e depois aplicá-la, ainda ecoa na prática matemática
contemporânea. A ideia de acessar um domínio de formas puras através do
pensamento continua a ser uma filosofia subjacente à forma como os
matemáticos abordam e desenvolvem conceitos e teorias, permitindo uma
compreensão mais profunda e universal da matemática e sua aplicação no
mundo real.
Platão acreditava que os objetos matemáticos residiam em um lugar
separado do mundo imperfeito. Esses objetos não estavam no mundo das
ideias, pois este era ocupado pelos objetos da filosofia, sendo a dialética a
22

disciplina mais elevada. Ele argumentava que para alcançar esses objetos
matemáticos, era necessário o uso do intelecto, não dos sentidos. Enquanto os
sentidos nos ajudavam a entender as coisas imperfeitas da natureza, era
através da inteligência que podíamos alcançar as entidades matemáticas
perfeitas. Assim, Platão valorizava o raciocínio sobre a percepção sensorial
para compreender (Figura 08) e acessar esses conceitos matemáticos mais
elevados (Meneghetti, 2010).

Figura 08 - Percepção sensorial para compreensão

Fonte: O autor, 2024.

Ainda nesse contexto, Roque (2009, p. 139), diz que Platão ampliou
a ideia dos eleatas de que o pensamento deve transcender a percepção
sensível. Platão defendia que, através da inteligência e do raciocínio, era
possível acessar conhecimentos mais profundos, especialmente no domínio
das matemáticas. Ele via as disciplinas matemáticas como ferramentas que
ajudam a desenvolver a capacidade de abstração, permitindo que os indivíduos
alcancem os objetos matemáticos em um domínio além do mundo sensível.
Platão considerava o conhecimento matemático como fundamental para uma
educação completa, pois acreditava que isso proporcionaria um entendimento
mais profundo e universal de todas as coisas. Sua filosofia influenciou a
importância atribuída à matemática na educação e contribuiu para a
compreensão de que o pensamento abstrato e a inteligência desempenham
papéis cruciais na busca do conhecimento. Segundo Saito (2015, p. 44):
23

Platão propôs o ensino das matemáticas com vistas a desenvolver


uma forma de pensamento abstrato. Assim, enfatizou nelas aquilo
que se aprendia pelo raciocínio e pela inteligência, mas não pelos
sentidos comuns (visão, audição e tato). Desse modo, ao referir-se à
aritmética reforçou a necessidade de estudá-la tendo em vista a
contemplação da natureza dos números unicamente pelo
pensamento.

Ou seja, através desta contemplação e da ênfase no raciocínio e na


inteligência, será possível um desenvolvimento do pensamento que vai
endossar esse processo evolutivo do indivíduo.
Platão via o estudo da matemática (Figura 09) como crucial para o
desenvolvimento completo do indivíduo e como uma ferramenta essencial para
alcançar a verdade e compreender o que é bom e correto. Ele recomendava
especialmente que homens que ocupassem cargos de governantes e líderes
se dedicassem às matemáticas, acreditando que esse conhecimento
contribuiria para uma administração mais justa e eficaz da sociedade. Para
Platão, as matemáticas não eram apenas disciplinas acadêmicas, mas eram
fundamentais para o aprimoramento moral e intelectual daqueles que
desejavam liderar e governar. Segundo Eves (2011, p. 131-132):

Figura 09 - Livro da disciplina de Matemática

Fonte: O autor, 2024.

A importância de Platão na matemática não se deve a nenhuma das


descobertas que fez mas, isto sim, à sua convicção entusiástica de
que o estudo da matemática fornecia o mais refinado treinamento do
24

espírito e que, portanto, era essencial que fosse cultivado pelos


filósofos e pelos que deveriam governar seu estado ideal.

Para ele o estudo daquelas permitiria o acesso a um estado de


evolução elevado, e a capacidade de abstração que as matemáticas
proporcionam necessária para que o indivíduo atinja esse objetivo de se
desenvolver plenamente e alcançar o bem, que para ele era o mais importante
na busca pela evolução. Ele pensava dessa forma, pois considerava que o
saber matemático permitiria a chegada ao conhecimento da filosofia, que para
ele era o conhecimento mais importante. Ou seja, a matemática é parte
essencial do caminho pelo qual se pode chegar a esse nível intelectual.
Platão via as matemáticas como uma disciplina propedêutica, não
apenas útil para aplicações práticas, mas também essencial para a formação
da alma, facilitando a transição da mutabilidade à verdade e à essência. Ele
acreditava que o conhecimento matemático não apenas forneceria habilidades
práticas, mas também desenvolveria a capacidade de abstração,
transcendendo as limitações dos sentidos. Platão argumentava que o estudo
da matemática levaria os filósofos a alcançar o conhecimento da verdade e do
bem, preparando-os para ocupar cargos de liderança e comando devido à sua
formação superior (Saito, 2015). Ele via a busca da verdade e do bem como o
objetivo supremo de um filósofo, e a matemática desempenhava um papel
crucial nesse caminho de ascensão ao conhecimento mais elevado.
25

3 ARISTÓTELES - A LÓGICA E A MATEMÁTICA EMPÍRICA

O presente capítulo traz reflexões acerca de Aristóteles e como suas


obras impactaram no entendimento da matemática, por meio de uma
abordagem mais empirista e sistemática. A saber, Aristóteles valorizava a
observação e a experiência como fundamentais para o entendimento do mundo
e sua lógica formal estabeleceu as bases para a investigação científica e
filosófica. Dessa forma, busca-se abordar a respeito de suas observações, com
base na lógica e o entendimento acerca de finito e infinito aplicado à ciência da
matemática.

3.1 Filosofia Aristotélica - Ênfase na observação, experiência e lógica

Aristóteles, discípulo de Platão, enfatizou a importância de observar


as coisas ao nosso redor para conhecê-las e entendê-las. Segundo ele,
"conhecer é conhecer as causas das coisas". A essência das coisas, ou seja, o
que elas realmente são, é imutável. Aristóteles propôs a observação das
causas das coisas e a subdivisão delas em quatro categorias: matéria (do que
é feito), forma (a potencialização da coisa), finalidade (o objetivo de sua
existência) e eficiência (quem ou o que fez o objeto). Em todas as coisas,
Aristóteles identificou uma substância (a essência, o que causa o ser) e um
acidente (o que determina, explica ou classifica o ser, sujeito a mudanças)
(Hessen, 2003).
A abordagem empirista de Aristóteles influenciou a geometria e a
astronomia. Seus estudos sobre a física do movimento e do espaço tiveram um
impacto direto no desenvolvimento da geometria euclidiana. Além disso, sua
teoria cosmológica, embora posteriormente tenha sido refutada, influenciou o
pensamento astronômico e geográfico de sua época, estimulando o
desenvolvimento de métodos observacionais mais rigorosos.
O "ser", para Aristóteles, é aquilo que define o que uma coisa é. A
substância, que é a essência do ser, é igual em todos, enquanto as diferenças
residem nos acidentes. Ao conhecer um objeto, observamos seus acidentes e
seu estado, que pode se potencializar. A potencialização envolve compreender
a distinção entre ato e potência. O ato representa o estado atual da coisa, e a
26

potência é a capacidade de se tornar algo em ato. A mudança desse estado de


potência para ato é denominada potencialização, destacando que não é uma
transformação, pois nada pode ser em ato que já não tenha sido em potência.
Aristóteles, ao manter uma preocupação constante com a observação da
realidade, percebe que a substância e o acidente podem ser universais
(características comuns a todos) ou particulares (específicas a determinados
tipos de seres) (Bacha; Saito, 2011).
Neste processo de observação para que possamos entender o ser
classificamos em causas investigamos nestas causas suas categorias: sua
substância (sua essência), qualidade (suas características), quantidade
(proporção numérica das coisas), onde (local em relação ao objeto), quando
(tempo em que se encontra), posição (forma em que o objeto se encontra), ter
(possuir em determinado tempo), fazer (finalidade ativa do objeto) e padecer
(finalidade passiva do objeto).
De acordo com Mora (2001), ao observar o ser humano,
independente de nossas crenças, a questão central é descobrir qual é a nossa
finalidade e como executá-la no mundo. Aristóteles, assim como a maioria dos
filósofos gregos, acreditava que cada um de nós tem um lugar no universo, e
ao descobrirmos e nos inserirmos nesse lugar, alcançamos nossa finalidade,
que, para ele, é encontrar a felicidade. No contexto do racionalismo, que
sustenta que a origem do conhecimento está na razão (Figura 10) e ocorre
independentemente da experiência, Platão oferece uma concepção original.
Ele argumenta que a experiência não é capaz de proporcionar o verdadeiro
conhecimento, mas apenas opiniões, devido à constante transformação da
experiência.
27

Figura 10 - A origem do conhecimento está na razão

Fonte: O autor, 2024.

Segundo Santos (1995), os empiristas, como Aristóteles, sustentam


que a única fonte de conhecimento é a experiência. Para o empirismo, a razão
não possui ideias apriorísticas, todas resultam da apreensão da realidade pelo
homem. O momento do conhecimento é visto como o da constatação, do
contato direto do sujeito com o objeto. Diante dessas perspectivas, destaca-se
que as principais características da ciência incluem a sistematicidade ou
ordenação, a refutabilidade, a fertilidade, a predição e a precisão.
A experiência, conforme concebida, envolve a unidade que integra a
multiplicidade de memórias sobre algo. A maneira como a coisa é retida na
memória e a natureza e o modo de operação da unificação que constitui a
experiência são temas explorados no pensamento de Aristóteles. No entanto,
conforme apontado por Barnes e Jonathan (2009), as passagens que
conduzem a essa noção de experiência indicam uma certa insuficiência no
tratamento dado por Aristóteles a esse conceito, o que naturalmente leva à sua
problematização.
Aristóteles, ao abordar a naturalidade do conhecimento, destaca a
importância da percepção pelos sentidos humanos, considerando-a como um
indício do desejo de conhecer. Ele estabelece uma associação entre as
sensações e o conhecimento, destacando a relevância delas não apenas na
ação, mas também na contemplação.
Essa associação adquire um caráter mais determinado quando
Aristóteles conclui que os sentidos desempenham um papel crucial no
28

conhecimento das coisas, com destaque para a visão, que possui o poder de
discriminar e revelar diferenças (Hessen, 2003).
Ao indicar a existência de um conhecimento com origem perceptiva,
Aristóteles inicia o desenvolvimento de sua concepção de experiência,
conforme observado por Tiro (2002). Essa experiência emerge das sensações
geradas pelo contato do sensível com o sensitivo, que é o detentor de órgãos
sensoriais. São essas sensações que, como princípio de certo conhecimento,
nos conduzem à noção de experiência.
Apesar de Aristóteles não fazer referência direta às percepções
sensoriais (Figura 11) ao introduzir esse conceito, parece implícito que a
aquisição de conhecimento pela experiência é de natureza empírica, sendo
valorizada tanto pelo seu utilitarismo quanto pela sua valia intrínseca para
aqueles que desejam conhecer.
Figura 11 - Percepções sensoriais humanas

Fonte: O autor, 2024.

Pode-se, então, concluir que a definição de experiência na


metafísica é, antes de ser explicitada, imediatamente precedida pelas
seguintes ideias: (1) os sentidos e as respectivas sensações são uma
importante fonte de conhecimento; (2) a viabilidade da aprendizagem precisa
tanto da memória quanto dos sentidos; (3) os conteúdos da memória são as
percepções sensoriais; e (4) a ausência ou privação de alguns sentidos diminui
a capacidade de aprendizagem empírica (Tiro, 2002).
29

O nexo entre a ideia (1) e as restantes ideias é estabelecido pela


relação entre o conhecimento e a capacidade de aprender. De fato, aprender é
ficar a conhecer, e isto leva-nos a concluir que a capacidade de aprender
visada é a de conhecer pela percepção. No entanto, para se ser capaz de
aprender é indispensável a memória; a possibilidade de conhecer a partir do
sensível depende do poder de recurso à recordação das percepções
sensoriais. E é através de sucessivas memórias das percepções de uma
mesma coisa que se chega, na sua unificação, à formação da experiência
(Pais, 2012).
Uma das maneiras pelas quais as obras de Aristóteles impactaram o
entendimento da matemática foi através de sua ênfase na lógica e no raciocínio
dedutivo. Ele desenvolveu uma estrutura rigorosa de argumentação lógica que
influenciou não apenas a filosofia, mas também a maneira como os
matemáticos pensavam e demonstravam teoremas e proposições
matemáticas. Seu trabalho sobre silogismos, por exemplo, forneceu uma base
sólida para a dedução matemática.
No estudo da lógica, o objetivo é organizar as ideias de maneira
rigorosa para evitar erros nas conclusões dos raciocínios. A lógica faz parte do
cotidiano, pois é utilizada sempre que se conversa, explica ou tenta-se
convencer alguém sobre algo, fundamentando-nos em argumentos lógicos. É
crucial compreender as bases do raciocínio.
O primeiro filósofo a abordar a lógica com rigor foi Aristóteles.
Embora antes dele Platão e os sofistas já utilizassem essa ideia na prática da
argumentação na Ágora, nenhum deles a explicou e analisou sistematicamente
como fez o estagirita, conforme registrado nos textos compilados no livro
Órganon (Jansen, 2007).
A lógica aristotélica, especialmente sua teoria do silogismo, exerceu
uma influência sem precedentes na história do pensamento ocidental. No
entanto, essa posição proeminente não foi sempre ocupada por ela. Durante o
período Helenístico, a Lógica Estoica, e particularmente as obras de Crisipo,
desfrutaram de destaque. No entanto, na antiguidade tardia, com a influência
dos comentadores de Aristóteles, a lógica aristotélica assumiu o domínio. Essa
tradição lógica aristotélica foi transmitida tanto para a tradição medieval árabe
quanto para a tradição latina, enquanto as obras de Crisipo não sobreviveram.
30

Esse cenário reflete uma mudança no status relativo dessas duas tradições
lógicas ao longo do tempo.
De acordo com Garcia (1988), a posição histórica única da lógica
aristotélica nem sempre contribuiu para uma compreensão apropriada de suas
obras. Kant acreditava que Aristóteles havia descoberto tudo o que poderia ser
conhecido em lógica, e Prantl, historiador da lógica, sugeriu que qualquer
pessoa que apresentasse algo novo em lógica após Aristóteles estaria confusa,
seria estúpida ou perversa. Durante a ascensão da lógica formal
contemporânea, com o advento de Frege e Peirce, os adeptos da Lógica
Tradicional (vistos como descendentes da Lógica Aristotélica) e da nova Lógica
Matemática muitas vezes se viam como rivais, com noções de lógica
consideradas incompatíveis.
No entanto, estudiosos mais recentes têm aplicado técnicas da
Lógica Matemática às teorias de Aristóteles, revelando, na opinião de muitos,
uma série de similaridades de abordagens e interesses entre Aristóteles e os
lógicos contemporâneos. Isso destaca uma mudança na percepção das
relações entre a lógica aristotélica e as abordagens lógicas mais modernas.

3.2 Influência na Matemática - Reflexões sobre a natureza finita e infinita


da matemática.

A questão da concepção de finito e infinito tem intrigado a mente


humana por muito tempo e continua a ser um tema de discussões e
questionamentos nos tempos atuais (Sampaio, 2008). A dificuldade de
representar algo infinito (Figura 12) através de coisas finitas, juntamente com a
impossibilidade de medi-lo, levanta questões sobre por que pensar no infinito.
No entanto, o conceito de infinito tem sido fundamental no raciocínio humano
desde os tempos antigos, especialmente na Matemática, apesar dos desafios
em sua representação e compreensão.
Desse modo, por conta da sua definição intrigar leigos e estudiosos,
sempre esteve presente em discussões no campo de estudo da Filosofia,
Matemática, Arte e Física, conforme cita Madeira; Costa (2014, p.9 apud
ROMANO, 1997, p.133), “O conceito de infinito surge, antes de mais, na
filosofia com o significado de que não existem limites. É a especulação
31

teológica que dá a este conceito um conteúdo positivo de perfeição (ou


grandeza) que é impossível superar”.

Figura 12 - Representação do infinito

Fonte: O autor, 2024.

Conforme Rucker (2005), o infinito é frequentemente representado


pelo símbolo da lemniscata, que é a curva em forma de oito na posição
horizontal. O termo lemniscata tem origem no latim, "lemniscos". O símbolo
começou a ser utilizado no século XVII, sendo creditado ao matemático John
Wallis, que o empregou principalmente ao tratar de conceitos relacionados ao
infinito ou à eternidade em diversos contextos matemáticos. Essa
representação simbólica é uma forma de visualizar o conceito abstrato do
infinito nas análises matemáticas.
As primeiras discussões sobre o infinito surgiram na antiguidade
grega entre os pré-socráticos. Machado (2013, p. 285) destaca que o infinito,
conhecido como "apeíron," era caracterizado como algo sem forma ou limite,
ou seja, algo sem começo ou fim, em contraste com tudo que é limitado
(péras). Essa definição implicava que o infinito era considerado como algo
ilimitado. Essa concepção perdurou por bastante tempo, chegando às escolas
de Pitágoras (582-500 a.C.) e Parmênides (515-450 a.C.). Entre os discípulos
de Parmênides, destaca-se Zenão de Eleia.
Nas primeiras tentativas de entender o infinito, a matemática e a
filosofia foram levadas a paradoxos, segundo Lorin e Nogueira (2015, p. 124),
32

Zenão, objetivando mostrar aos matemáticos da época as incoerências


decorrentes da tentativa de se completar grandezas contínuas com um número
infinito de pequenas partículas, apresentou alguns paradoxos.

Esses paradoxos permitiam antagonismos lógicos da consideração


do infinito, com isso, “contribuiu para que emergisse uma tendência
no cenário filosófico grego a fugir de uma abordagem quantitativa do
infinito, eliminando-o sistematicamente dos raciocínios matemáticos”
(Caraça, 1975, p. 197).

O infinito emerge como uma categoria filosófica na obra de


Aristóteles (384-322 a.C.), embora ainda não seja tratado como um objeto
matemático. Aristóteles reconheceu a possibilidade de descrever o infinito de
duas maneiras: em ato e em processo. No entanto, para ele, o infinito não
possui uma "existência física", mas sim uma realidade matemática. Ele
considera que uma sucessão pode ser aumentada infinitamente por meio de
adições ou multiplicações sucessivas, ou diminuída infinitamente por divisões
sucessivas (infinito potencial). Essa abordagem é fundamentalmente diferente
da consideração de uma totalidade composta por infinitas partes (um infinito
atual) (Lorin, 2018).

Assim, seja por redução (divisão), seja por adição, o infinito existe
apenas potencialmente. Contudo, findo em algum momento arbitrário
o processo de adição ou de divisão, o que se obtém, de fato, como
objeto atualizado por esse processo, é sempre uma magnitude finita,
nunca infinita. Isto é, seja in concreto, seja in abstrato, o infinito atual
não existe para Aristóteles (Santos, 2008, p. 62).

A concepção de Aristóteles a respeito do infinito na matemática


permanece na Idade Média, em que a ideia de infinito atual é considerada,
porém sob a forma de um poder absoluto, atributo ou essência apenas de
Deus, representando o distanciamento do plano divino com o plano humano.
Nos séculos XVI e XVII, houve questionamentos significativos em
relação às concepções aristotélicas. Esse período foi marcado por profundas
mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas, que culminaram na
necessidade de cálculos mais precisos. A matemática começou a ganhar uma
crescente autonomia de simbolismo, e novas concepções de número surgiram
com o desenvolvimento da álgebra (Machado, 2013). Essas transformações
33

contribuíram para uma revisão e reavaliação das ideias aristotélicas,


impulsionando avanços significativos em diversos campos do conhecimento.
No século XVII, Isaac Newton (1643-1727) e Gottfried Leibniz (1646-
1716) desenvolveram, de forma simultânea e independente, suas versões do
cálculo infinitesimal. No entanto, ambos não conseguiram definir exatamente o
que eram essas quantidades infinitamente pequenas. Cerca de um século
depois, como consequência desse impasse, Augustin-Louis Cauchy (1789-
1857) eliminou o conceito de infinitésimo, substituindo-o pela ideia de limite.
Embora os limites tenham resolvido o problema dos infinitesimais, ao mesmo
tempo trouxeram dúvidas sobre a natureza dos números irracionais e dos
números reais, levando a uma retomada das discussões sobre o infinito
(Machado, 2013).
A tradição filosófica (Figura 13) de abordar o infinito pela concepção
aristotélica do ser em potencial começa a ser rompida. Conforme Moreno e
Waldegg (1991), foi necessário admitir o infinito como um adjetivo para que o
infinito atual pudesse ser estabelecido. No entanto, tornou-se necessário
conceber novos objetos (conceituais), e esses objetos são os conjuntos (Lorin,
2018, p. 44). Esse rompimento com a tradição aristotélica foi fundamental para
o desenvolvimento de novas abordagens sobre o infinito, especialmente no
contexto da teoria dos conjuntos.

Figura 13 - Professor de filosofia ensinando em sala de aula

Fonte: O autor, 2024.


34

O conceito de infinito sempre foi objeto de questionamento para a


mente humana, principalmente entre os matemáticos, filósofos, poetas, físicos
e teólogos. Esses questionamentos não são novos, e conseguimos encontrar
discussões acerca do infinito desde civilizações antigas como, por exemplo, a
egípcia e a babilônica. De acordo com os estudos desenvolvidos por Carrilo e
Montes (2017), o autor afirma que:

A história do Infinito, ou seja, a história do conceito de Infinito, não é


somente uma história da Matemática; é antes uma história da
evolução do pensamento científico e de como é possível se pensar
em algo que transcende qualquer possibilidade de compreensão
(Carrilo; Montes, p. 10).

Segundo Machado (2013), os maiores representantes dessa


concepção foram Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1225-
1274). Nos séculos XVI e XVII, questionamentos acerca das concepções
aristotélicas deram-se em um cenário de profundas mudanças sociais, culturais
e econômicas, resultando, na necessidade de cálculos mais precisos, na
matemática com uma crescente autonomia de simbolismo e novas concepções
de número provenientes do desenvolvimento da álgebra.
Aristóteles (384 – 322 a.C.), filósofo grego e aluno de Platão, é
considerado um dos fundadores da filosofia ocidental. Ele foi o primeiro a
abordar de maneira lógica, sistemática e instrumental a questão do infinito sem
perder de vista suas considerações sobre seu fundamento na realidade
(Santos, 2008, p.56). Para Aristóteles, a compreensão do infinito estava
relacionada à descoberta de algo no mundo natural que também fosse infinito,
a fim de ser analisado. Ele associava a ideia de infinito à intransponibilidade,
representando algo que não pode ser transposto por não possuir um fim lógico
ou sensível à experiência. Aristóteles argumentava que era possível abstrair
uma cadeia temporal com duração infinita (Santos, 2008).
Santos (2008) aborda a negação de Aristóteles em relação à
existência do infinito atual. Para ele, o infinito deveria existir, pois a negação
levaria a problemas e soluções absurdas, como admitir um início e um fim para
o tempo. No entanto, Aristóteles restringiu a existência do infinito à sua
natureza potencial. Nesse sentido, ele via os paradoxos de Zenão como uma
35

confusão conceitual, atribuindo àquilo que só existiria potencialmente a


natureza atual. Para Aristóteles, o cerne dos paradoxos consistia em admitir a
existência de infinitas partes independentemente do processo.
Além disso, Aristóteles defendia a importância da observação e da
experiência sensorial na investigação científica. Embora a matemática seja
frequentemente considerada uma disciplina puramente abstrata, suas
aplicações no mundo real são fundamentais para seu desenvolvimento e
compreensão. Aristóteles reconhecia isso e acreditava que os matemáticos
deveriam estar atentos aos fenômenos naturais e às aplicações práticas de
suas teorias.
Em sua obra "Metafísica", Aristóteles discute a ideia de potencialidade e
atualidade. Ele discute que todas as coisas têm uma forma potencial e uma
forma atual. Por exemplo, uma semente tem o potencial de se tornar uma
árvore, mas só se torna uma árvore quando esse potencial é atualizado através
do crescimento e desenvolvimento. Essa distinção entre potencialidade e
atualidade pode ser interpretada em relação à natureza finita e infinita da
matemática (Machado, 2013).
Para Aristóteles, a matemática era uma disciplina que lidava com
abstrações e formas ideais. As formas geométricas, por exemplo, são ideais e
perfeitas, e existem independentemente de sua manifestação no mundo físico.
Essas formas são, em certo sentido, infinitas, pois podem ser concebidas
teoricamente em uma infinidade de configurações e escalas. No entanto, a
aplicação prática da matemática no mundo físico é finita. Por exemplo,
podemos calcular áreas e volumes de objetos físicos usando geometria, mas
essas medições são sempre aproximadas e limitadas pela precisão dos
instrumentos de medição e pela complexidade dos objetos reais.
Assim, podemos inferir que, para Aristóteles, a matemática tem uma
natureza dual: é infinita em seu potencial de concepção e abstração, mas finita
em sua aplicação prática no mundo físico. Essa dualidade reflete a distinção
aristotélica entre potencialidade e atualidade e oferece uma maneira de pensar
sobre a natureza finita e infinita da matemática dentro do contexto de sua
filosofia.
36
37

4 IMPACTO NA MATEMÁTICA PÓS-ANTIGA

Ao longo dos séculos, as visões filosóficas de Platão e Aristóteles foram


continuamente reinterpretadas e adaptadas por diferentes filósofos,
pensadores e estudiosos. As mudanças de contexto cultural, avanços
científicos e transformações sociais influenciaram a forma como essas visões
foram compreendidas e aplicadas, inclusive no que diz respeito à matemática.
Neste capítulo, são exploradas algumas das principais formas de
reinterpretação dessas visões ao longo da história.

4.1 Como as visões filosóficas foram reinterpretadas ao longo dos


séculos.

Ao fim do império de Alexandre o grande (Figura 14), os romanos


assumiram o papel de difundir a cultura grega e seu conhecimento, em
decorrência do próprio domínio de grande parte do território europeu. Após
esse período, com a queda do império romano e início da Idade Média, o
pensamento platônico continuou a ser perpetuado.

Figura 14 - Alexandre, o Grande

Fonte: O autor, 2024.


38

Após o colapso do Império Romano, a Igreja preservou os


ensinamentos da Grécia e de Roma (na verdade, ela já estava
fazendo isso desde antes) [...] Assim, quando o cristianismo começou
a ordenar e sistematizar suas crenças, se apoiou em pessoas
formadas na tradição greco-romana, que usavam a filosofia e a lógica
gregas para explicar e defender o cristianismo. (HIRST, 2018, p. 22).

Dessa forma, durante a Idade Média as obras de Platão e Aristóteles


foram redescobertas e integradas ao pensamento cristão. Personalidade
importantes, tais como Santo Agostinho e Tomás de Aquino (Figura 15), por
exemplo, interpretaram as ideias platônicas à luz da teologia cristã, buscando
conciliar a filosofia clássica com os princípios religiosos (Agostinho, 2008).

Figura 15 - São Tomás de Aquino e Santo Agostinho

Fonte: O autor, 2024.

Conforme explica Hearnshaw (1987), no início da Idade Média,


Aristóteles foi notado principalmente pela lógica empregada em suas ideias
filosóficas, além dos comentários de Boécio. O autor destaca que seus livros
chegaram até a Europa a partir da invasão de Constantinopla, em 1204 DC. O
pensamento de Aristóteles permaneceu dominante pelos próximos 400 anos,
se tornando particularmente influente, com suas obras sendo incorporadas à
escolástica, uma tradição filosófica que prevaleceu nas universidades
medievais.
39

De acordo com Hearnshaw (1987), Aristóteles teve uma influência


significativa durante a Idade Média, especialmente através das traduções de
suas obras do grego para o latim e da interpretação de seus ensinamentos
pelos filósofos e teólogos medievais.
Durante a Idade Média, muitas das obras de Aristóteles foram
redescobertas e traduzidas para o latim, principalmente através dos esforços
dos tradutores árabes. Isso permitiu que os estudiosos europeus tivessem
acesso ao vasto corpo de conhecimento aristotélico, que havia sido em grande
parte perdido para o Ocidente após a queda do Império Romano (Hirst, 2018).
Com relação à escolástica, Aristóteles desempenhou um papel central
no desenvolvimento dessa abordagem, que buscava conciliar a fé cristã com a
razão e a filosofia clássica. Os pensadores escolásticos, como Tomás de
Aquino, usaram os ensinamentos de Aristóteles, especialmente sua lógica e
metafísica, como base para elaborar argumentos filosóficos e teológicos
(Agostinho, 2008).
Ainda neste período, as universidades medievais, como a de Paris e a
de Oxford, tornaram-se centros importantes para o estudo e a disseminação do
pensamento aristotélico. As obras de Aristóteles eram frequentemente
ensinadas e discutidas nessas instituições, influenciando o currículo e a
abordagem educacional da época (Rubenstein, 2003).
É importante ressaltar que, embora Aristóteles tenha sido amplamente
respeitado na Idade Média, também houve debates e críticas em relação a
alguns de seus ensinamentos. Por exemplo, suas ideias sobre a eternidade do
mundo foram contestadas por alguns teólogos cristãos, que argumentavam que
elas entravam em conflito com a narrativa bíblica da criação.
Agostinho (2008) destaca que Aristóteles teve uma presença marcante
durante a Idade Média, exercendo uma influência profunda sobre a filosofia, a
teologia e a educação desse período. Suas obras foram estudadas, debatidas
e interpretadas de várias maneiras, moldando o pensamento e o
desenvolvimento intelectual da época.
No período conhecido como Renascimento (Figura 16), houve um
ressurgimento do interesse pelas obras antigas, incluindo as de Platão e
Aristóteles. Os humanistas, como Marsilio Ficino, destacaram a dimensão
espiritual e mística das ideias platônicas, enquanto a redescoberta das obras
40

de Aristóteles trouxe uma ênfase na lógica e na investigação científica


(Carvalho, 2012). A interpretação renascentista também buscou integrar as
visões filosóficas clássicas com os avanços da ciência e da arte da época.

Figura 16 - Cidade Renascentista

Fonte: O autor, 2024.

Durante o Iluminismo, as visões filosóficas de Platão e Aristóteles foram


frequentemente submetidas a críticas. Enquanto alguns pensadores, como
Voltaire, questionavam as ideias metafísicas e religiosas associadas a Platão,
outros, como Leibniz, buscavam conciliar elementos de ambas as filosofias,
enfatizando a razão e a harmonia (Cassirer, 1992). Reitera-se que o Iluminismo
trouxe uma ênfase na ciência e na razão, o que levou a uma apreciação
renovada pelas contribuições lógicas de Aristóteles.
No período que compreende o Iluminismo, Alguns aspectos da filosofia
de Aristóteles, como sua ênfase na tradição e autoridade, foram vistos como
contrários ao espírito crítico e inovador da época. Além disso, as teorias
aristotélicas sobre física e metafísica, que haviam sido aceitas durante a Idade
Média, foram rejeitadas por muitos pensadores iluministas devido à ascensão
do método científico e ao avanço da compreensão do mundo natural (Cassirer,
1992).
Contudo, apesar das críticas, Aristóteles ainda era amplamente
estudado e respeitado durante o Iluminismo. Muitos dos pensadores iluministas
41

reconheciam a importância histórica e a influência duradoura do trabalho de


Aristóteles na filosofia, na ciência e na política. Ademais, algumas ideias
aristotélicas, como sua ética e teoria política, foram reinterpretadas à luz dos
ideais iluministas de liberdade, igualdade e racionalidade (Gay, 1995).
Um exemplo de pensador iluminista que reinterpretaram as ideias de
Aristóteles foi o filósofo escocês David Hume, que, embora tenha criticado
muitos aspectos da filosofia aristotélica, reconheceu o valor de seus escritos e
fez referências a eles em suas próprias obras. Outro exemplo é Immanuel
Kant, cuja filosofia transcendental incorporou elementos da lógica aristotélica,
mesmo que ele também tenha desenvolvido críticas significativas à metafísica
aristotélica (Gay, 1995).
Dessa forma, durante o período do Iluminismo, as ideias de Aristóteles
foram objeto de crítica e revisão à luz dos ideais iluministas de razão e
liberdade de pensamento, porém seu legado continuou a ser reconhecido e seu
trabalho influenciou muitos pensadores importantes dessa época.
Já no período que compreende o século XIX, movimentos filosóficos
como o existencialismo passaram a questionar as composições e ideias mais
tradicionais. A saber, enquanto alguns personagens históricos como
Kierkegaard, criticavam o idealismo de Platão afirmando estar afastado da
experiência humana; outros, como Nietzsche, reinterpretaram ideias
aristotélicas em uma conjuntura de vontade de poder (Lobosque, 2010). A
crítica filosófica, exemplificada por pensadores como Hegel e Marx, também
trouxe novas interpretações das ideias de Platão e Aristóteles, frequentemente
em confronto com suas interpretações tradicionais.
No século XX, período que compreende o pós-modernismo
desencadeou reflexões frente às narrativas unificadoras e abordagens
sistemáticas. Filósofos como Derrida e Foucault (Figura 17) questionaram a
metafísica platônica e as estruturas conceituais aristotélicas, trazendo uma
ênfase na diversidade de perspectivas e na desconstrução das verdades
absolutas (Gomes, 2018). Isto influenciou a interpretação dessas visões
filosóficas à luz de uma multiplicidade de contextos culturais e sociais,
impactando diferentes aspectos da vida e da sociedade.
42

Figura 17 - O filósofo Focault

Fonte: O autor, 2024.

Atualmente, as visões filosóficas de Platão e Aristóteles continuam a ser


objeto de estudo e reinterpretação em diversas disciplinas, incluindo filosofia,
ciência, literatura, artes e mesmo a matemática. A riqueza trazida a partir de
suas ideias permite uma ampla gama de interpretações e reflexões, podendo
ser adaptadas às complexidades e desafios de cada época, mantendo viva a
influência desses pensadores clássicos ao longo da história da civilização
humana.

4.2 Contrastes entre o platonismo e o aristotelismo na matemática


moderna

O platonismo e o aristotelismo continuam a influenciar, mesmo que de


forma indireta a matemática moderna, ainda que estas visões filosóficas não
sejam sempre adotadas de maneira pura.
De acordo com Shintani (2018), podemos considerar que essas filosofias
se manifestam na matemática contemporânea de diferentes formas, por
exemplo: na própria natureza dos objetos matemáticos, onde no platonismo se
acredita na existência real e independente destes, a saber, números, formas
geométricas e outros conceitos matemáticos são vistos como entidades
atemporais e universais no "Mundo das Ideias" de Platão.
43

Para Platão, a geometria era um instrumento imprescindível na


compreensão da natureza das coisas. Em sua perspectiva, as formas
geométricas eram manifestações das ideias perfeitas presentes no
mundo das ideias. As formas geométricas eram utilizadas por Platão
como representações das ideias perfeitas existentes no mundo das
ideias (Martins et. al. 2023, p. 09).

Aristóteles, por outro lado, via os objetos matemáticos como abstrações


que derivam de objetos concretos no mundo sensível, trazendo um contraste
às ideias de Platão, onde os conceitos matemáticos não existem
independentemente, mas são uma extensão do mundo empírico (Shintani,
2018).

Na filosofia platônica, a Matemática era concebida como uma verdade


independente de qualquer verificação empírica, e os objetos
matemáticos serviam de modelo para as formas mundanas, ou seja,
apenas uma reprodução grosseira desses objetos aparecia no mundo
humano. O mundo em que vivemos seria como uma imagem
imperfeita refletida num espelho imperfeito do mundo das ideias.
(Mondini, 2008, p. 2).

Trazendo uma reflexão mais aprofundada, de acordo com Platão, os


objetos matemáticos são considerados entidades abstratas e eternas que
existem no "Mundo das Ideias" ou "Reino das Formas". Para ele, esse mundo é
composto por formas ideais ou arquétipos perfeitos, dos quais as coisas que
percebemos no mundo físico são apenas cópias imperfeitas e transitórias
(Shintani, 2018).
Platão argumentava que os objetos matemáticos, como números, figuras
geométricas e relações matemáticas, não são meras construções mentais ou
convenções humanas, mas sim entidades objetivas que têm uma existência
independente da mente humana.
Essa perspectiva platônica sobre os objetos matemáticos tem
implicações profundas para a epistemologia e a ontologia da matemática.
Platão via os matemáticos como filósofos que buscavam contemplar e
compreender as formas ideais através do exercício da razão pura. Ele
acreditava que o conhecimento matemático verdadeiro não vem da experiência
sensorial ou da indução, mas sim da contemplação das formas eternas que
constituem a essência do universo (Mondini, 2008).
44

Já para Aristóteles, os objetos matemáticos são concebidos de maneira


diferente em comparação com Platão. Aristóteles não compartilhava da visão
platônica de um "Mundo das Ideias" separado do mundo físico, no qual os
objetos matemáticos existiriam como entidades independentes. Em vez disso,
Aristóteles considerava os objetos matemáticos como abstrações que surgem
da mente humana em sua interação com o mundo físico e suas regularidades
observadas.
De acordo com Franklin (1995), Aristóteles via a matemática como uma
disciplina que se dedica ao estudo das quantidades e das relações entre elas,
baseando-se nas observações e experiências do mundo físico. Por exemplo,
para Aristóteles, os números surgem da contagem de objetos reais no mundo
empírico, e as formas geométricas são abstrações que descrevem as
propriedades de objetos materiais.
Enquanto Platão defendia a existência de formas ideais perfeitas e
eternas, Aristóteles considerava que os objetos matemáticos têm uma
existência apenas potencial, sendo abstrações que se manifestam na mente
humana em sua busca por compreender e explicar o mundo natural. Essas
abstrações são derivadas da experiência sensorial e da análise racional, e não
têm uma realidade independente além do mundo físico.
Além disso, outros contrastes podem ser observados nas ideias
expressas no platonismo e aristotelismo, por exemplo, enquanto os platonistas
acreditam que a verdade matemática é descoberta, não inventada, sendo esta
vista como uma busca pelas verdades eternas e imutáveis, independentes da
experiência empírica, Aristóteles enfatiza a experiência como base para o
conhecimento matemático, para os aristotélicos ela é uma ferramenta útil para
entender a realidade sensível e não apenas uma busca por verdades
universais (Da Silva, 2007).
É interessante ressaltar, a esse respeito, que a matemática, para os
platonistas, é uma busca pela verdade e pela compreensão das formas ideais
que subjazem ao mundo sensível. Os matemáticos estão envolvidos em um
processo de contemplação e investigação dessas formas, utilizando a lógica e
a dedução para revelar suas propriedades e relações, de acordo com Gray
(2008).
45

Nesse sentido, para os platonistas, o conhecimento matemático


verdadeiro não é uma criação da mente humana, mas sim uma descoberta das
verdades eternas que existem independentemente de nossa experiência
empírica. Os matemáticos estão envolvidos em uma busca pelo conhecimento
objetivo e universal, que transcende as contingências do mundo físico e reflete
as verdades eternas do Mundo das Ideias.
Por outro lado, dentro das concepções aristotélicas, é valorizada a
observação empírica e a indução como fundamentais para a obtenção do
conhecimento, uma vez que Aristóteles considerava a experiência sensorial
como a fonte primária de conhecimento. Ele acreditava que as sensações e
percepções derivadas da observação do mundo físico são a base para todo o
conhecimento humano, incluindo a matemática. Para Aristóteles, o processo de
conhecer começa com a experiência sensorial do mundo que nos cerca
(Bronstein, 2016).
Ainda nesse contexto, é importante frisar que Aristóteles valorizava a
indução como um método de raciocínio fundamental. A partir da observação de
casos particulares, ele acreditava que era possível inferir padrões e
regularidades que levavam a generalizações mais amplas. A saber, na
matemática, isso significa que a partir da observação de fenômenos concretos
e de sua representação quantitativa, os matemáticos podem desenvolver
teorias e princípios gerais (Santos, 2008).
Ainda, Aristóteles reconhecia a importância da matemática como uma
ferramenta útil para descrever e explicar aspectos do mundo físico. De acordo
com Bronstein (2016), ele via a geometria, por exemplo, como uma disciplina
aplicável ao estudo da natureza e das propriedades dos corpos físicos.
Portanto, uma compreensão precisa e fundamentada na experiência do mundo
físico é necessária para a aplicação eficaz da matemática.
Em suma, Aristóteles enfatiza a experiência como base para o
conhecimento matemático porque ele considera a observação empírica e a
indução como fundamentais para a obtenção de conhecimento confiável e
aplicável ao mundo real. Essa ênfase na experiência influenciou sua
abordagem filosófica e metodológica, moldando sua visão da natureza e do
alcance da matemática.
46

Um outro aspecto interessante a se notar quanto ao contraste das visões


platônica e aristotélica, é a relação entre forma e matéria, onde no platonismo
essa dualidade é refletida na visão de que a forma pura dos objetos
matemáticos (Figura 18) existe independentemente da matéria, como se fosse
uma realidade transcendental, enquanto no aristotelismo é feita uma
abordagem de maneira mais integrada, sendo os objetos matemáticos
considerados inseparáveis da matéria e da experiência concreta (Agnes e
Harres, 2016).

Figura 18 - Criança fazendo uso de objetos matemáticos

Fonte: O autor, 2024.

Conforme já discutido anteriormente, no platonismo é apresentada uma


visão mais favorável ao infinito matemático, visto que conceitos como a
infinitude dos números têm uma existência atemporal no Mundo das Ideias. Já
Aristóteles era cético em relação ao infinito, considerando-o apenas como uma
potencialidade, não uma realidade (Santos, 2008). Destacamos ainda que essa
visão influenciou a matemática medieval e renascentista.
Por fim, um aspecto a se considerar a respeito dessas duas correntes
filosóficas refletidas na matemática moderna é a própria influência na exercida
na metodologia científica, a saber, o Platonismo influenciou abordagens mais
teóricas e dedutivas na matemática, a partir da busca por estruturas e padrões
fundamentais, muitas vezes priorizando a beleza matemática, enquanto que o
aristotelismo contribuiu para a abordagem mais empírica e indutiva, dando uma
47

ênfase para uma aplicação prática da matemática para entender a realidade


concreta, conforme ressalta Machado (2013).
Considerando a matemática, ao longo de toda a sua história, e sua
concepção na realidade atual, nota-se que esses contrastes ilustram bem a
forma como as visões filosóficas de Platão e Aristóteles continuam a influenciar
o pensamento matemático contemporâneo, moldando as perspectivas sobre a
natureza e o propósito da matemática na atualidade vivenciada pela
humanidade.
48

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão literária realizada permite inferir que Platão e Aristóteles,


mesmo com suas visões filosóficas distintas, deixaram uma marca duradoura
na história da matemática: Platão visualizando a matemática como uma
linguagem universal que transcende o mundo físico, e Aristóteles contribuindo
com a ênfase na lógica e o ceticismo em relação ao infinito.
Platão, discípulo de Sócrates, desenvolveu uma teoria filosófica que
enfatizava a existência de ideias eternas e universais, vislumbrando a
matemática como uma forma de conhecimento verdadeiro, independente do
mundo físico. Suas principais contribuições matemáticas incluem a teoria dos
números, onde ele atribui significados profundos a conceitos matemáticos,
como os números e as proporções, fundamentando a ideia de que a
matemática é a linguagem subjacente à estrutura do universo. Além disso, sua
investigação sobre os sólidos platônicos (tetraedro, cubo, octaedro,
dodecaedro e icosaedro) trouxe forte influência sobre a geometria.
Aristóteles, por outro lado, embora tenha sido aluno de Platão, divergiu
em algumas perspectivas, tendo sua abordagem lógica influenciado o método
matemático, a partir da ênfase na importância da dedução e do raciocínio. Em
suas concepções, Aristóteles abordou questões fundamentais da matemática,
como o infinito e a continuidade, isto porque ele era cético em relação ao
conceito de infinito, argumentando que só podemos compreender o finito. Essa
visão teve implicações diretas na matemática, onde suas ideias moldaram
discussões sobre a natureza do infinito e limitaram o desenvolvimento de
certos ramos da disciplina por séculos.
Por fim, é importante ressaltar que a dicotomia existente entre a visão de
Platão, que via a matemática como uma realidade universal e eterna, e a
perspectiva de Aristóteles, que aplicava sua lógica e ceticismo, permitiu uma
evolução da matemática a partir da moldagem resultante de suas concepções.
A influência de suas ideias foi sentida desde a Idade Média, Renascença,
Iluminismo, até a idade moderna, à medida que suas ideias eram revisitadas e
reinterpretadas.
Destaca-se, ainda, que as ideias apresentadas por esses filósofos
continuam a inspirar, direcionar e desafiar os estudiosos da matemática até os
49

dias atuais, o que demonstra a importância que esses personagens históricos


apresentam ao longo do tempo, e a relevância duradoura de suas contribuições
para a disciplina, mesmo nos tempos modernos.
50

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