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Construindo a Imagem do Corpo

DISCIPLINA
Desenvolvimento Psicomotor

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Desenvolvimento Psicomotor |

Sumário

Sumário
Sumário ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 2
1 Construindo a Imagem do Corpo ---------------------------------------------------------------- 5
2 A Imagem do Corpo --------------------------------------------------------------------------------- 6
3 A Importância do Movimento no Desenvolvimento do Ser Humano ----------------- 7
4 Padrões de Movimento ---------------------------------------------------------------------------- 9
5 A Relação Entre Psicomotricidade e Desenvolvimento Motor ------------------------- 12
6 Psicomotricidade e Movimento: as Relações Entre Cognição, Afetividade e
Socialização ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 13
7 Psicomotricidade E Movimento: Fatores Que Interferem No Desenvolvimento
Motor 14
8 A Psicomotricidade na História ----------------------------------------------------------------- 14
9 Psicomotricidade: Conceitos e Significados ------------------------------------------------- 17
10 Objetivos da Psicomotricidade--------------------------------------------------------------- 20
11 As Áreas da Psicomotricidade ---------------------------------------------------------------- 20
11.1 Comunicação e Expressão ------------------------------------------------------------------------------------ 20
11.2 Percepção --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 21
11.3 Coordenação ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 21
11.4 Orientação -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 21
12 Habilidades Conceituais ----------------------------------------------------------------------- 22
13 Habilidades Psicomotoras e Processo de Alfabetização ------------------------------ 22
14 Psicomotricidade e Movimento: Fatores que Interferem no Desenvolvimento
Motor 23
15 Elementos Constituintes da Psicomotricidade ------------------------------------------- 23
16 Esquema Corporal ------------------------------------------------------------------------------- 24
16.1 Domínio Corporal ----------------------------------------------------------------------------------------------- 25
16.2 Conhecimento Corporal --------------------------------------------------------------------------------------- 26
16.3 Passagem para a Ação ----------------------------------------------------------------------------------------- 26

17 A Organização do Corpo no Espaço -------------------------------------------------------- 26


18 Dominância Lateral ----------------------------------------------------------------------------- 27
19 Equilíbrio ------------------------------------------------------------------------------------------- 29

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Sumário

20 A Organização Latero-Espacial -------------------------------------------------------------- 29


20.1 Orientação espacial -------------------------------------------------------------------------------------------- 30
20.2 Orientação temporal ------------------------------------------------------------------------------------------- 30
21 A Coordenação Dinâmica --------------------------------------------------------------------- 31
22 Estratégias Psicomotoras e Consequências Educativas ------------------------------- 31
23 Exercícios Psicomotores------------------------------------------------------------------------ 33
24 Exercícios de Pré-escrita ----------------------------------------------------------------------- 33
25 A Evolução Psicomotora da Criança -------------------------------------------------------- 34
25.1 Evolução Psicomotora até os Três Anos de Idade ----------------------------------------------------- 34
25.2 Características Psicomotoras da Criança de 0 a 3 Anos ---------------------------------------------- 34

26 Evolução Psicomotora dos Três aos Seis Anos ------------------------------------------- 38


27 A Evolução da Motricidade Gráfica--------------------------------------------------------- 39
28 Estratégias Pedagógicas e Consequências Educativas: Teorias e Exercícios para
Uma Educação Psicomotriz ---------------------------------------------------------------------------------- 40
29 Esquema Corporal ------------------------------------------------------------------------------- 41
29.1 Coordenação óculo-manual ---------------------------------------------------------------------------------- 42
29.2 Coordenação dinâmica geral -------------------------------------------------------------------------------- 43

30 Motricidade Fina das Mãos e dos Dedos -------------------------------------------------- 43


30.1 Cuidando das mãos--------------------------------------------------------------------------------------------- 44
30.2 Amassando a massa -------------------------------------------------------------------------------------------- 44

31 Organização e Estruturação Temporal ---------------------------------------------------- 44


32 Psicomotricidade: Um Enfoque Preventivo e Reeducativo --------------------------- 45
33 Psicomotricidade: Ação Preventiva e Reeducativa ------------------------------------- 45
34 A Psicomotricidade Pode ser Entendida a Partir da Filogênese, Ontogênese e
Retrogênese. ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 48
35 Os Transtornos Psicomotores da Infância ------------------------------------------------ 49
36 A Importância da Avaliação Psicomotora ------------------------------------------------ 54
37 Referências ---------------------------------------------------------------------------------------- 55

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Construindo a Imagem do Corpo

1 Construindo a Imagem do Corpo


O homem faz parte do universo, enquanto ação, gestualidades, atitudes e
expressões. Nossas expressões e atitudes são expressas pelo corpo, por meio de
movimentos suaves ou delicados, bruscos ou agressivos, no intuito de demonstrar
satisfação, prazer ou raiva, desejo ou desespero.

O corpo e sua gestualidade representam para o homem o reflexo de suas origens,


de sua cultura, enfim do meio ao qual pertence. Podemos ir além e dizer que o homem
estabelece, constantemente, uma íntima relação entre a situação e a ação que lhe é
posta. O movimentar do corpo, a forma e a postura, traduz quem é esse homem, sua
história e suas experiências.

Nesse sentido, falar do corpo envolve as mais variadas formas de concebê-lo, ou


como escreve Santin (1995), pensar o corpo e no corpo, “significa repensar o projeto
antropológico desse corpo construído desde os gregos, consagrado pelos teólogos
medievais, confirmado pelos filósofos modernos e aceito pelos pensadores
contemporâneos” (p.91).

É por meio da sua relação consciente em determinadas situações que o homem


se comporta, adapta-se ou dá significados ao meio no qual vive e interage. Um
exemplo claro dessa fala pode ser visto na relação simples existente entre o
entendimento de corpo pela mulher do oriente, comparado à do ocidente.

Portanto, abordar questões que tratam do corpo significa tratar dos paradigmas
do desenvolvimento humano, uma vez que um está amarrado ao outro, o que significa
dizer que corpo é movimento e vice-versa

Esse entendimento nos leva a realizar algumas reflexões, como por exemplo, será
que podemos conceber o movimento dissociado do corpo? Ou será que podemos,
em algum momento, pensar no agir do corpo sem que haja algum movimento
envolvido no contexto?

Percebemos, nessas reflexões, que todas as nossas ações se pautam, ou resultam


em movimento. Isto porque o movimento é uma das formas mais significativas de
adaptação ao mundo exterior, dado que a assimilação contínua do mundo no
indivíduo se processa por meio do movimento humanizado, portanto socializado
(FONSECA, 2009).

Kephart (1960) vai além e afirma que, para entender a relação corpo e
movimento, faz-se necessário entender a distinção entre o que ele chama de motor e

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A Imagem do Corpo

o que é movimento, existe uma diferenciação entre o motor e o movimento. Para o


autor, o movimento é qualquer ação externa observável e motor refere-se aos
impulsos internos referentes.

A atividade motora interna ocorre constantemente, não se pode observar,


enquanto o movimento ou os padrões de movimento são observáveis, como por
exemplo, sabemos que a criança aprendeu a andar, quando ela se desloca pelo espaço
sem que haja a necessidade de auxílio do outro, ou do objeto para se locomover, o
que significada dizer que observamos o desenvolver do andar de forma autônoma,
pois podemos visualizar a ação da criança executando a tarefa.

O movimento humano pode, nesse sentido, ser classificado como não locomotor
e locomotor. O primeiro refere-se a uma resposta observável executada pelo corpo
em uma posição estacionário, como por exemplo, bater palma. Já no segundo, as
respostas do corpo são observáveis por meio do movimento do corpo no espaço, de
um ponto a outro, por exemplo, dominar o andar ou o saltar (HARROW, 1983).

Negrine (1994) entende que, o movimento humano em sua totalidade considera


tanto os aspectos funcionais, como também os relacionais. Considera-o não somente
proveniente das atividades originárias dos exercícios físicos, mas considera a
expressão de sentimentos, emoções, manifestações de prazeres e desprazeres,
potencialidades e fragilidades pessoais.

Portanto, "a forma humana de sentir, pensar, emocionar ou compreender o


mundo que o circunda, é codificada através da expressividade motriz, demonstrada a
todo instante, em todo o gesto humano" (FALKENBACH, 1998), pois o corpo é
movimento.

2 A Imagem do Corpo
A criança desde a mais tenra idade prende-se a tarefas que lhes são instigantes,
desafiadoras. A noção de satisfação e autorrealização provocada pela execução e
finalização de uma tarefa sempre lhe surpreende. Seu sorriso de contemplação em
fração de segundos inunda o espaço que ocupa, e logo dissipasse. Por exemplo,
concentra-se ao máximo e interessa-se exageradamente, dedicando-se com grande
entusiasmo para montar um quebra-cabeça que lhe foi dado. No entanto, ao findar a
tarefa, admira-o por alguns instantes e o abandona rapidamente. Isso ocorre porque,
a criança está em constante movimento e necessita, constantemente, de
possibilidades que a permitam despertarem para suas potencialidades.

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A Importância do Movimento no Desenvolvimento do Ser Humano

E assim começa uma nova brincadeira, um novo estímulo, que resultam em um


novo conhecimento. Esse fato ocorre porque somos corpo e mente, estamos
interligados a um universo macro de informações de um meio repleto de estímulos e
aventuras.

Essa relação existente entre corpo e movimento vem, portanto, sendo alvo de
interesses e pesquisas em várias áreas do conhecimento, desde as biológicas até as
ciências humanas (DAMASCENO, 1996).

A partir de nossa convivência com as crianças é possível dizer que ao brincarem


satisfazem uma necessidade básica, que é viver a brincadeira.

Por exemplo, quando as crianças brincavam de montar o quebra-cabeça ou


quando estão pulando amarelinha, elas não estão preocupadas com a coordenação
necessária para que possam realizar com êxito a tarefa estabelecida, simplesmente
brincam, experimentam possibilidades que as permitam realizarem suas metas com
sucesso.

Essa experiência de jogar de diferentes formas produz um repertório de


movimentos que só pode ser conquistado pela própria experiência de jogar. Não faz
sentido para as crianças somente jogar a bolinha para “adquirir” coordenação manual,
como desejam muitos/as especialistas, fazendo-as repetir os movimentos até acertar.
O contexto deve ser educativo, mas acima de tudo prazeroso, pois de acordo com
Levin (2001) é por meio da imagem do corpo criada que ocorre a estruturação
subjetiva da criança.

A imagem que a criança tem de seu corpo se constitui a partir do outro, que pode
ser a mãe, a babá, ou a educadora, que coloca sua própria experiência para que a
criança construa seu próprio eu corporal.

3 A Importância do Movimento no Desenvolvimento do Ser Humano


Se retomarmos um pouco a história acerca dos estudos que tratam do
desenvolvimento humano veremos que, somente a partir de 1920, quando o bebê e
a criança passam a ser o foco de várias investigações, é que se começa a valorizar a
importância do movimento humano e do trabalho relacionado a ele para colaborar
no desenvolvimento integral da criança.

Esta tendência, conforme afirma Go Tani (1988), auxiliou no processo de criação

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A Importância do Movimento no Desenvolvimento do Ser Humano

de um conceito de desenvolvimento motor, que o entende como sendo um processo


natural e progressivo, que acontecia sem a necessidade de uma preocupação
específica no sentido de preparar um ambiente que o favorecesse.

Essa primeira proposição teórica acerca do processo de desenvolvimento foi a


hipótese maturacional, nela o desenvolvimento resultava de um mecanismo biológico,
endógeno (interno) e regulatório, denominada maturação (GESELL, 1929).

A visão maturacional enfatizava a necessidade de se conhecer a sequência em


que surgiam as mudanças no comportamento e, somente a partir da ocorrência de
tais mudanças, poderiam ser ensinadas tarefas específicas (GESELL E THOMPSON,
1929). Observamos que, segundo essa posição, a experiência, a experimentação e as
vivências não influenciavam no processo de desenvolvimento da criança.

No entanto, em 1946, McGraw investigou a relação entre o desenvolvimento e a


atuação das experiências, questionou a hipótese maturacional como sendo a única
explicação para o processo de desenvolvimento. E, em 1949, Hebb afirmou que as
experiências no desenvolvimento adquirem uma importância cada vez maior, na
medida em que subimos na escala animal filogenética, em direção à espécie humana.

Em 1982, Piaget demonstrou a importância dos movimentos no curso do


desenvolvimento intelectual do indivíduo. Lewin, no mesmo ano, também
demonstrou, em seu trabalho, a importância dos movimentos na evolução da espécie
humana.

Atualmente, podemos dizer que, para entendermos o movimento humano,


devemos considerar a maturação, as características individuais e as experiências
(HOTTINGER, 1973).

Connolly (1977) vai além e afirma que as mudanças no desenvolvimento motor


dependem das mudanças biomecânicas ocasionadas pelo crescimento físico,
maturação neurológica (estrutural) e às mudanças provenientes do desenvolvimento
cognitivo (funcional).

Assim, a organização do desenvolvimento se inicia na concepção e os domínios


motor, afetivo-social (conduta pessoal-social) e cognitivo (conduta adaptativa e
linguagem) vão se diferenciando, gradualmente, de acordo com as experiências e
vivências oportunizadas à criança.

Nesse sentido, entendemos que, por meio dos movimentos, o ser humano
aprende sobre o meio (social/afetivo/ motor) em que vive.

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Padrões de Movimento

O movimento é a essência da infância e no olhar de Wickstram (1977), na qual


existe vida, existe movimento, e onde existem crianças, o movimento se perpetua.
Portanto, não podemos deixar de conceituar e relatar a importância do
desenvolvimento motor para o processo de aquisição de informação, estímulos e
desenvolvimento da criança.

Go Tani et al. (1988) vão além e afirmam que o desenvolvimento motor é um


processo contínuo e demorado e, pelo fato de as mudanças mais acentuadas
ocorrerem nos primeiros anos de vida, existe a tendência em se considerar o estudo
do desenvolvimento motor como sendo apenas o estudo da criança. É necessário
enfocar a criança, pois, enquanto são necessários cerca de vinte anos para que o
organismo se torne maduro, autoridades em desenvolvimento da criança concordam
que os primeiros anos de vida, do nascimento aos seis anos, são anos cruciais para o
desenvolvimento integral da criança.

4 Padrões de Movimento
Para uma melhor compreensão e entendimento acerca dos padrões de
movimento humano, podemos dizer que está associado ao comportamento humano
e esse, por sua vez, pode ser classificado como sendo pertencente a um dos três
domínios, ou seja, pode pertencer ao campo cognitivo, afetivo-social e motor.

Lembramos que fazem parte do domínio cognitivo as operações mentais como


a descoberta ou reconhecimento de informação. Do domínio afetivo-social fazem
parte os sentimentos e emoções. E o domínio motor, do qual fazem parte os
movimentos.

Alguns estudos mencionam e entendem o domínio motor como sendo o


domínio psicomotor das atividades realizadas pela criança, isso porque para a
realização de um movimento (desde o mais simples ao mais complexo) envolvemos
também os aspectos cognitivos, para que esse possa ocorrer com sucesso.

O movimento tem sido definido de várias formas acatamos o entendimento de


Neweel (1978), que afirma que o movimento refere-se, geralmente, ao deslocamento
do corpo e membros produzidos como consequência do padrão espacial e temporal
da contração muscular.

As experiências que a criança tem durante este período determinarão, por grande
extensão, que tipo de adulto a pessoa se tornará (HOTTINGER apud GO TANI et al.,

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Padrões de Movimento

1988).

Com base na sequência de desenvolvimento, Harrow (1983) elaborou uma


taxionomia para o domínio motor que apresenta os seguintes níveis:

Movimentos reflexos: Referem-se às respostas automáticas e


involuntárias perceptíveis no recém-nascido que, em um momento seguinte,
possibilitará a interação do bebê com o ambiente, o que caracterizará, no futuro, atos
voluntários, como por exemplo, os reflexos de preensão, tônico do pescoço dentre
outros.

Habilidades básicas: Está ligada à questão das atividades voluntárias que


permitem a locomoção e manipulação em diferentes situações, caracterizadas por
uma meta geral, servindo de base para aquisição futura de tarefas mais complexas,
como andar, correr, saltar, arremessar, chutar e outras habilidades.

Habilidades perceptivas: São atividades motoras que envolvem a


percepção do executante, por meio das quais os estímulos visual, auditivo, tátil e
sinestésico recebidos são interpretados pelos centros cerebrais superiores que
emitem uma decisão como resposta, possibilitando o ajuste ao ambiente.

Capacidades físicas: São as características funcionais essenciais na


execução de uma habilidade motora. Quando desenvolvidas proporcionam ao
executante uma melhoria do nível de habilidade. Dentre essas capacidades estão a
força, a flexibilidade, a resistência e a agilidade.

Habilidades específicas: Atividades motoras voluntárias mais complexas


e com objetivos específicos, como um chute, um arremesso, ou outra atividade mais
específica a uma tarefa.

Comunicação não verbal: Atividades motoras mais complexas,


organizadas de maneira que a qualidade dos movimentos apresentados permita a
expressão de uma emoção, desejo ou necessidade.

Nesse sentido, para que possamos levar a criança a alcançar determinados


padrões de movimentos devemos ampliar o repertório de Informação a ela
experimentadas e vivenciadas no campo motor, para que ela possa, assim, organizar
e reorganização seus conhecimentos e responder, satisfatoriamente, a uma tarefa ou
estímulo a ela oferecido.

Gallahue (1982) propõe um modelo de padrões motores que apresentam como


ponto de vista o fato de que as mudanças, observáveis nas características do

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Padrões de Movimento

movimento, refletem o processo de desenvolvimento, orientadas ao nível mais


superior da sequência para a aquisição de habilidades. Esse modelo mostra que, para
se chegar ao domínio de habilidades, faz-se necessário um longo processo, no qual
as experiências com habilidades básicas, classificadas pelo autor como movimentos
fundamentais são de fundamental importância.

Gallahue e Ozmunn (2003) dividem a fase dos movimentos fundamentais em três


estágios.

Estágio inicial: representa a primeira meta orientada da criança na


tentativa de executar um padrão de movimento fundamental. A integração dos
movimentos espaciais e temporais são pobres. Tipicamente os movimentos
locomotores, manipulativos e estabilizadores de crianças de dois anos de idade estão
no nível inicial.

Estágio elementar: envolve maior controle e melhor coordenação


rítmica dos movimentos fundamentais.

Segundo o autor, crianças de desenvolvimento normal tendem a avançar para o


estágio elementar por meio do processo de maturação, embora alguns indivíduos não
consigam desenvolver além do estágio elementar em muitos padrões de movimento,
e permanecem nesse estágio por toda a vida.

Estágio maduro: é caracterizado como mecanicamente eficiente,


coordenado e de execução controlada. Tipicamente, as crianças têm potencial de
desenvolvimento para estar no estágio maduro perto dos 5 ou 6 anos, na maioria das
habilidades fundamentais.

Para que estas habilidades sejam desenvolvidas é necessário que se dê à criança


oportunidades de desempenhá-las. O movimentar-se é de grande importância
biológica, psicológica, social e cultural, pois, é por meio da execução dos movimentos
que as pessoas interagem com o meio ambiente, relacionando-se com os outros,
apreendendo sobre si, seus limites, capacidades e solucionando problemas. Pois, é
comum encontrar indivíduos que não atingiram o padrão maduro nas habilidades
básicas, nas quais apresentam um nível inicial ou elementar, o que prejudicará todo o
desenvolvimento posterior.

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A Relação Entre Psicomotricidade e Desenvolvimento Motor

5 A Relação Entre Psicomotricidade e Desenvolvimento Motor


É importante salientarmos que a Psicomotricidade é um campo de conhecimento
que se relaciona, diretamente, ao desenvolvimento motor e que, portanto, a
entendemos como sendo um componente do desenvolvimento da criança.

E o desenvolvimento motor pode ser entendido como o resultado da maturação


anátomo-fisiológica da criança que resultará na execução com destreza das
habilidades necessárias a determinadas tarefas.

Portanto, estamos nos referindo aos comportamentos não aprendidos que


surgem espontaneamente desde que a criança tenha condições adequadas para
exercitar-se.

Bee (1997) vai além e afirma que o desenvolvimento refere-se às mudanças, que
ocorrem como continuidade ao longo de toda variação de idade, da concepção até a
morte.

Percebemos, nesse sentido, que um bom desenvolvimento de nosso corpo


ocorre não somente mecanicamente, mas sim em parceria com as experimentações
que são aprendidas e vivenciadas junto à família, à escola, os grupos sociais, que a
criança está inserida e que lhe dá suporte para que possa formar a base da noção de
seu eu corporal.

Nesse processo de desenvolvimento, não podemos deixar de relatar a


importância dos sentimentos da criança na fase do conhecimento de seu próprio
corpo, pois um esquema corporal mal estruturado pode acarretar a criança
sentimentos de ordem psicológica, como a baixa na autoestima, que pode ser
resultante de outros problemas, como por exemplo, a falta de coordenação para
correr ou dominar uma bola. É possível que esse problema iniciado no componente
motor quando não sanado, com o passar do tempo, a tendência é que essa criança
passe a rejeitar as tarefas motoras, reagindo com agressividade, mau humor ou apatia
pela tarefa. Ou seja, o que para alguns, às vezes, parece ser algo tão simples poderá
originar sérios problemas de motricidade que serão manifestados por meio do
comportamento motor quando não trabalhados de forma satisfatória e condizente
com as necessidades da criança.

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Psicomotricidade e Movimento: as Relações Entre Cognição, Afetividade e


Socialização

6 Psicomotricidade e Movimento: as Relações Entre Cognição,


Afetividade e Socialização
Acreditamos que o desenvolvimento humano é um processo de extrema
relevância e que abarca os domínios cognitivo, efetivo e motor, entendemos e nos
apoiamos na fala de Oliveira (2007), isto é, o desenvolvimento psicomotor é de suma
importância na prevenção de problemas da aprendizagem e na reeducação do tônus,
da postura, da direcional idade, da lateralidade e do ritmo.

As práticas psicomotoras podem desenvolver-se em contextos de ação


diferenciados, em função de critérios que têm como referência a própria história dos
sujeitos, a origem e características das suas dificuldades.

Com a criança, a intervenção psicomotora pode desenvolver-se na forma de jogo


num contexto lúdico, em dinâmica individual ou grupal. Faz-se necessário tomar
alguns cuidados ao se iniciar as ações interventivas, devemos assumir e considerar
critérios como a idade (mental e cronológica), necessidades, anseios e aspirações da
criança. E, somente a partir deste momento, selecionar as atividades mais adequadas
ao contexto de necessidade da criança, portanto, temos que verificar a melhor forma
de proporcionar-lhe essa interação com o universo que a cerca.

Como entendemos que o movimento está, essencialmente, ligado às questões


psicomotoras, podemos perceber, por meio de atividades simples, essas relações.
Vejamos, por exemplo, essa relação se efetiva quando trabalhamos com atividades
expressivas, jogos sensório-motores e de estimulação sensorial. Nessas atividades, a
criança interage, participa e compreende o contexto da tarefa, pois requerem a
organização planificada e interiorizada da ação e sua representação por meio de
formas diversificadas de expressão (motora, gráfica; verbal, sonora; plástica dentre
outras).

Nas atividades de resolução de problemas e jogos de regras, a criança desenvolve


suas habilidades motoras, cognitivas e afetivo-sociais, pois ela brinca, experimenta,
questiona e explora as possibilidades para resolver os problemas.

É muito importante observar e interpretar as expressões da criança, buscando a


comunicação por meio da linguagem oral, gestual, o contato corporal tratando de
conseguir, progressivamente, uma participação igualitária. Analisando sempre, como
sugere Souza (2004), que tipo de relação se estabelece (visual, auditiva-visual, corporal
ou verbal) e procurar tornar esta relação cada vez mais completa e mais rica.

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Psicomotricidade E Movimento: Fatores Que Interferem No Desenvolvimento


Motor

Isso porque, no olhar da psicomotricidade, a criança constitui sua unidade a partir


das interações com o mundo externo e nas ações do outro (mãe e substitutos) sobre
ela. Portanto, enquanto educadores temos que buscar estratégias que nos possibilite
compreender as necessidades da criança e tornar significativa a aprendizagem para
ela.

7 Psicomotricidade E Movimento: Fatores Que Interferem No


Desenvolvimento Motor
Para entendermos melhor sobre o desenvolvimento psicomotor da criança, nesta
unidade teceremos reflexões teórico-prática acerca do entendimento da
psicomotricidade, seu percurso histórico e suas contribuições para o campo da ação
pedagógica. Em seguida, apresentaremos como leitura complementar a reportagem:
''O corpo ajuda o aluno a aprender'', de ESTEBAN LEVIN, publicada na Revista Nova
Escola, em 2008.

8 A Psicomotricidade na História
Historicamente, o termo "psicomotricidade" aparece a partir do discurso médico,
mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do século XIX,
nomear as zonas do córtex cerebral situadas além das regiões motoras. No entanto,
para Levin (2007), a história da psicomotricidade é solidária a história do corpo, o que
significa dizer que, para o autor, a psicomotricidade tem seu início desde que o
homem é humano. Consequentemente, se observarmos da antiguidade até os dias
atuais veremos que o significado do corpo sofreu inúmeras transformações ao longo
do tempo. Segundo Fonseca (1995), desde Aristóteles o corpo foi negligenciado em
função do espírito. Apenas no século XIX o corpo foi estudado por neurologistas e,
posteriormente, por psiquiatras com o intuito de compreender as estruturas cerebrais
e esclarecer fatores patológicos.

Numa análise da história vamos encontrar nos estudos de Enerst Dupré, em 1909,
que a psicomotricidade teve seu início, por meios dos estudos clínicos por ele
realizado em seus pacientes clínicos, definiu a síndrome da debilidade motora
caracterizada pela presença de sincinesias, paratonias e inabilidades, rompendo a
correlação entre a perturbação motora e a síndrome. Dessa forma, este

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Desenvolvimento Psicomotor

A Psicomotricidade na História

neuropsiquiatra francês evidenciou o paralelismo psicomotor, ou seja, uma estreita


relação entre o desenvolvimento da motricidade, da inteligência e da afetividade. Tal
paralelismo psicomotor definiu-se como uma tentativa de superação ao dualismo
cartesiano – corpo e mente (SOUZA, p. 18, 2004).

A Psicomotricidade, nesse sentido, é concebida como uma ciência terapêutica,


que contém conceitos teóricos e aplicações práticas de várias ciências como a
Psicologia, a Psicanálise, a Psiconeurologia, a Pedagogia, a Psiquiatria, entre outras,
que convergem os seus interesses no estudo do movimento, com o objetivo de dar
qualidade de vida ao ser humano.

Vários autores deram um contributo importantíssimo para as bases teóricas da


Psicomotricidade, analisando as relações complexas entre o movimento e o
pensamento, e entre o corpo e o cérebro, como: Dupré, Wallon, Piaget, Ajuriaguerra,
Paillard, Bernshtein, Luria, Sperry, Eccles, Gardner, Damásio, Fonseca entre muitos
outros.

Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começa a constatar-


se que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem
que a lesão esteja claramente localizada. São descobertos distúrbios da atividade
gestual, da atividade prática. Portanto, o "esquema anátomo-clínico" que determinava
para cada sintoma sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns
fenômenos patológicos.

É, justamente, a partir da necessidade médica de encontrar uma área que


explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez, o termo
Psicomotricidade, no ano de 1870. As primeiras pesquisas que dão origem ao campo
psicomotor correspondem a um enfoque eminentemente neurológico (SBP, 2003).

No Brasil, a Psicomotricidade foi norteada pela escola francesa. Durante as


primeiras décadas do século XX, época da primeira guerra mundial, quando as
mulheres adentraram firmemente no trabalho formal enquanto suas crianças ficavam
nas creches, a escola francesa também influenciou mundialmente a psiquiatria infantil,
a psicologia e a pedagogia. Em 1909, a figura de Dupré, neuropsiquiatra, é de
fundamental importância para o âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a
independência da debilidade motora, antecedente do sintoma psicomotor, de um
possível correlato neurológico. Nesse período, o tônus axial começava a ser estudado
por André Thomas e Saint-Anné Dargassie.

Em 1925, Henry Wallon, médico psicólogo, ocupa-se do movimento humano

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Desenvolvimento Psicomotor

A Psicomotricidade na História

dando-lhe uma categoria fundante como instrumento na construção do psiquismo.


Essa diferença permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio
ambiente e aos hábitos do indivíduo, e discursar sobre o tônus e o relaxamento. Em
1935, Edouard Guilmain, neurologista, desenvolve um exame psicomotor para fins de
diagnóstico, de indicação da terapêutica e de prognóstico.

Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, redefine o conceito de debilidade


motora, considerando-a como uma síndrome com suas próprias particularidades. É
ele quem delimita com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o
neurológico e o psiquiátrico. Ajuriaguerra aproveitou os subsídios de Wallon em
relação ao tônus ao estudar o diálogo tônico (SBP, 2003, ISPE-GAE, 2007).

A Psicomotricidade surgiu como prescrição da medicina psiquiátrica e a


utilização do movimento humano com fins educativos e terapêuticos, o qual foi
conquistando numerosos adeptos.

No Brasil, Antônio Branco Lefévre buscou junto as obras de Ajuriaguerra e


Ozeretski, influenciado por sua formação em Paris, a organização da primeira escala
de avaliação neuromotora para crianças brasileiras. Drª. Helena Antipoff, assistente de
Claparéde, em Genebra, no Institut Jean-Jacques Rosseau e auxiliar de Binet e Simon
em Paris, da escola experimental "La Maison de Paris", trouxe ao Brasil sua experiência
em deficiência mental, baseada na Pedagogia do interesse, derivada do conhecimento
do sujeito sobre si mesmo, como via de conquista social. Em 1972, a argentina, Dalila
de Costallat, estagiária de Ajuriaguerra e de Soubiran em Paris, é convidada a falar em
Brasília às autoridades do Ministério da Educação, sobre seus trabalhos em deficiência
mental (ISPE-GAE, 2007).

Na década de 70, do século passado, diferentes autores definem a


psicomotricidade como uma motricidade de relação. Começa, então, a ser delimitada
uma diferença entre uma postura reeducativa e uma terapêutica que, ao
despreocupar-se da técnica instrumentalista e ao ocupar-se do "corpo de um sujeito",
vai dando, progressivamente, maior importância à relação, à afetividade e ao
emocional.

Podemos dizer, nesse sentido, que, a princípio, a Psicomotricidade tinha seus


estudos voltados para a patologia. Wallon, Piaget e Ajuriaguerra tiveram a
preocupação de aprofundar esses estudos mais voltados para o campo do
desenvolvimento. Wallon se preocupou com a relação psicomotora, afeto e emoção,
Piaget se preocupou com a relação evolutiva da psicomotricidade com a inteligência
e Ajuriaguerra, que vem consolidar as bases da evolução psicomotora, voltou sua

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Desenvolvimento Psicomotor

Psicomotricidade: Conceitos e Significados

atenção mais específica para o corpo em sua relação com o meio. Para ele, a evolução
da criança está na conscientização do seu corpo. "O corpo é uma totalidade e uma
estrutura interna fundamental para o desenvolvimento mental, afetivo e motor da
criança. São experiências e vivências corporais que organizam a personalidade da
criança. A vivência corporal não é senão o fator gerador das respostas adquiridas, em
que se inscrevem todas as tensões e as emoções que caracterizam a evolução
psicoafetiva da criança" (FONSECA, 1994).

Os primeiros movimentos de trabalhos da psicomotricidade foram


impulsionados dentro de uma proposta reeducativa. A reeducação é uma forma de
estimular na criança suas funções psicomotoras, que foram contrariadas em seu
desenvolvimento. Piaget, em seus estudos, já se preocupava em estimular as crianças
de forma adequada, respeitando cada fase do seu desenvolvimento. Assim, ele
redimensionou as questões da Psicomotricidade e não a limita apenas a uma ação
reeducativa, mas a uma primeira instância educativa.

A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na


pré-escola. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares, leva a criança a tomar
consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo,
a adquirir habilidades de coordenação de seus gestos e movimentos (OLIVEIRA, 1997).

Segundo Barreto (2000), “O desenvolvimento psicomotor é de suma importância


na prevenção de problemas da aprendizagem e na reeducação do tônus, da postura,
da direcional idade, da lateralidade e do ritmo”. A educação da criança deve evidenciar
a relação através do movimento de seu próprio corpo, levando em consideração sua
idade, a cultura corporal e os seus interesses. A educação psicomotora para ser
trabalhada necessita que sejam utilizadas as funções motoras, perceptivas, afetivas e
sociomotoras, pois assim, a criança explora o ambiente, passa por experiências
concretas, indispensáveis ao seu desenvolvimento intelectual e é capaz de tomar
consciência de si mesma e do mundo que a cerca.

Bons exemplos de atividades físicas são aquelas de caráter recreativo, que


favorecem a consolidação de hábitos, o desenvolvimento corporal e mental, a
melhoria da aptidão física, a socialização, a criatividade; tudo isso visando à formação
da sua personalidade.

9 Psicomotricidade: Conceitos e Significados


O gesto motor, a vivência da criança pode ser traduzida como o significado e/ou
a forma de expressar o seu sentir, suas emoções e seus desejos. É nesse contexto que

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Desenvolvimento Psicomotor

Psicomotricidade: Conceitos e Significados

a psicomotricidade enquanto uma prática pedagógica contribui para o


desenvolvimento integral da criança.

Essa perspectiva se firma na fala de Le Boulch (1969), uma vez que o autor
defende que a Psicomotricidade “se dá por meio de ações educativas de movimentos
espontâneos e atitudes corporais da criança”. Esse conjunto de ações proporciona a
criança uma imagem de seu próprio corpo, bem como seus limites e potencialidades.

Portanto, a psicomotricidade pode ser entendida como sendo um processo de


melhoria no comportamento psicofísico da criança, observando o seu
desenvolvimento psicobiológico, por meio dela a criança chega ao domínio de seus
comandos motores e sensório motores (GESELL, 1977).

Acreditamos nesse sentido que a Psicomotricidade contribui para o


desenvolvimento integral da criança no processo de ensino-aprendizagem, tanto nos
aspectos físico, como mental, afetivo-emocional e sociocultural.

Outro aspecto importante, e pertinente a ser mencionado, refere-se ao fato de


que a Psicomotricidade reflete na criança um estado da vontade, que corresponde à
execução de movimentos. Esses movimentos, por sua vez, podem ser voluntários ou
involuntários.

Dos movimentos involuntários temos os automatismos elementares inatos e os


adquiridos.

Os inatos são aqueles que nascem conosco e são representados pelos reflexos,
que são respostas caracterizadas pela invariabilidade qualitativa de sua produção e
execução. Estes reflexos podem ser agonistas, antagonistas ou reflexos (alternantes),
que são mais hierarquizados que os reflexos puros, permitindo certo grau de
variabilidade, conforme a adaptabilidade individual. Refere-se às necessidades
orgânicas. Influindo, nestas respostas, temos os instintos, responsáveis pela
autoconservação individual. No Homem, eles são misturados com o afeto, produzindo
tendências ou inclinações.

Portanto, acolhemos a definição de que Psicomotricidade é a ciência que tem


como objeto de estudo o homem por meio do seu corpo em movimento e em relação
ao seu mundo interno e externo (FONSECA, 2008). Relaciona-se ao processo de
maturação, no qual o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.
E sustentam-se três princípios básicos: o movimento, o intelecto e o afeto.

A psicomotricidade, nesse sentido, é um termo empregado para uma concepção

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Desenvolvimento Psicomotor

Psicomotricidade: Conceitos e Significados

de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo


sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade, da sua linguagem e sua
socialização.

Os automatismos adquiridos são os reflexos condicionados, que ocorrem devido


à aprendizagem e nos forma hábitos, que, quando bons, nos poupam tempo e
esforço, porém se exagerados, eliminam nossa criatividade e nos deixam embotados.
Os hábitos podem ser passivos (adaptação biológica ao seu ecossistema) ou ativos
(comer, andar, tocar instrumentos etc.).

Os reflexos condicionados são produzidos desde as primeiras semanas de vida.


Esses reflexos condicionados, geralmente, começam como atividades voluntárias e
depois, por já estarem aprendidos, são mecanizados.

Os atos voluntários estão relacionados e dependem da inteligência e do afeto.

O ato volitivo envolve quatro etapas:

Intenção ou propósito - inclinações e tendência que fazem com


que surja;

Deliberação - onde ponderamos os motivos (razões intelectuais) e


os móveis (atração ou repulsão, vindas do plano afetivo);

Decisão - demarca o começo da ação, inibindo os móveis e motivos


vencidos;

Execução - há os movimentos físicos;

Podemos dizer, então, de forma sucinta, que a Psicomotricidade estuda o ser


humano por meio do seu corpo. Um corpo que é movimento e que se relaciona tanto
com seu mundo interno, quanto com o mundo que o cerca.

É um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e


integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de
sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.

Resumindo, conceitualmente a psicomotricidade é:

“Um meio inesgotável de afinamento perceptivo-motor que põe em jogo a


complexidade dos processos mentais, fundamentais para a polivalência preventiva e
terapêutica das dificuldades de aprendizagem” (FONSECA, 1995).

“A soma e a psique integram a unidade indivisível do homem. A

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Desenvolvimento Psicomotor

Objetivos da Psicomotricidade

psicomotricidade, como ciência da educação, enfoca esta unidade, educando o


movimento ao mesmo tempo em que põem em jogo as funções intelectuais.”
(COSTALLAT, 1971).

A psicomotricidade não é exclusivamente de um novo método, ou de uma escola,


ou de uma corrente de pensamento, nem constitui uma técnica, um processo, pois tal
pode levar-nos a um novo afastamento da concepção unitária do homem. Visa,
segundo a reflexão, os fins educativos e o emprego do movimento humano
(FONSECA, 1997).

10 Objetivos da Psicomotricidade
Na infância, a psicomotricidade tem como finalidade otimizar e maximizar o
potencial de aprendizagem e a adaptabilidade psicossocial da criança. Por meio de
experiências concretas, a psicomotricidade permite transformar o cérebro num órgão
com maior capacidade para captar, integrar, armazenar, elaborar e expressar
informação.

Desta forma, surge como um recurso crucial para o harmonioso desenvolvimento


da criança, pois é por meio do movimento que a criança se relaciona com o mundo,
com os objetos e com os outros e por meio do qual desenvolve a inteligência e pacífica
os seus estados emocionais.

O objetivo da reeducação Psicomotora consiste no fato de que essa é uma


técnica que constitui em torno de técnicas que têm por objetivo eliminar no indivíduo
mecanismos e hábitos, cuja aquisição deu lugar às perturbações que o conduziram à
reeducação. Devemos salientar que a psicomotricidade tem como objetivo
desenvolver o aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao indivíduo a
possibilidade de dominar seu corpo aperfeiçoando o seu equilíbrio.

11 As Áreas da Psicomotricidade
Didaticamente falando, a psicomotricidade, por meio das práticas psicomotoras,
estimula as áreas de conhecimento da criança, especialmente, a comunicação e
expressão, percepção e a coordenação.

11.1 Comunicação e Expressão


A linguagem tem como função primordial a expressão e a comunicação do
pensamento, além de possibilitar a socialização do grupo.

Permite ao indivíduo trocar experiências e atuar verbal e gestualmente no

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Desenvolvimento Psicomotor

As Áreas da Psicomotricidade

mundo. Uma vez que a linguagem verbal se encontra, intimamente, dependente da


articulação e da respiração, mas também das relações com o meio social que a criança
se encontra inserida.

11.2 Percepção
Percepção é a capacidade de reconhecer e compreender estímulos recebidos. A
percepção está ligada à atenção, à consciência e à memória (FONSECA, 2008). Os
estímulos que chegam até nós provocam uma sensação que possibilita a percepção e
a discriminação. Primeiramente sentimos, por meio dos sentidos (tato, visão, audição,
olfato e degustação). Em seguida, percebemos, realizamos uma mediação entre o
sentir e o pensar. E, por fim, discriminamos, ou seja, reconhecemos as diferenças e
semelhanças entre estímulos e percepções. A discriminação é que nos permite saber,
por exemplo, o que é verde e o que é azul e a diferença entre o 1 e o 7.

11.3 Coordenação
A coordenação motora está ligada ao desenvolvimento físico, pode ser entendida
como a união harmoniosa de movimentos. Supõe, ainda, a integridade e maturação
do sistema nervoso.

Por ser subdividida em: coordenação motora, coordenação dinâmica global ou


geral, viso manual ou fina e visual. A coordenação dinâmica global envolve
movimentos amplos, com todo o corpo (cabeça, ombros, braços, pernas, pés,
tornozelos, quadris etc.) e, desse modo, coloca grupos musculares diferentes em ação
simultânea, com vistas à execução de movimentos voluntários mais ou menos
complexos. A coordenação viso manual engloba movimentos dos pequenos músculos
em harmonia, na execução de atividades utilizando dedos, mãos e pulsos. A
coordenação visual refere-se aos movimentos específicos com os olhos nas mais
variadas direções (FONSECA, 2008).

11.4 Orientação
A orientação ou estruturação espacial/temporal é importante no processo de
adaptação do indivíduo ao ambiente, já que todo corpo, animado ou inanimado,
ocupa, necessariamente, um espaço em um dado momento.

Corresponde à organização intelectual do meio e está ligada à consciência, à


memória, às experiências vivenciadas pelo indivíduo.

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Desenvolvimento Psicomotor

Habilidades Conceituais

12 Habilidades Conceituais

A matemática pode ser considerada uma linguagem cuja função é expressar


relações de quantidade, espaço, tamanho, ordem, distância etc.

À medida que brinca com formas, quebra-cabeças, caixas ou panelas, a criança


adquire uma visão dos conceitos pré-simbólicos de tamanho, número e forma. Ela
enfia contas no barbante ou coloca figuras em quadros e aprende sobre sequência e
ordem; aprende frases: acabou, não mais, muito, o que amplia suas ideias de
quantidade.

A criança progride na medida do conhecimento lógico-matemático, pela


coordenação das relações que anteriormente estabeleceu entre os objetos. Para que
se construa o conhecimento físico (referente à cor, peso etc.), a criança necessita ter
um sistema de referência lógico-matemático que lhe possibilite relacionar novas
observações com o conhecimento já existente, por exemplo: para perceber que um
peixe é vermelho, ela necessita um esquema classificatório para distinguir o vermelho
de todas as outras cores e outro esquema classificatório para distinguir o peixe de
todos os demais objetos que conhece.

13 Habilidades Psicomotoras e Processo de Alfabetização

As habilidades psicomotoras são essenciais ao bom desempenho no processo de


alfabetização. A aprendizagem da leitura e da escrita exige habilidades tais como:

dominância manual já estabelecida (área de lateralidade);

conhecimento numérico suficiente para saber, por exemplo, quantas voltas


existem nas letras m e n, ou quantas sílabas formam uma palavra (área de habilidades
conceituais);

movimentação dos olhos da esquerda para a direita, domínio de movimentos


delicados adequados à escrita, acompanhamento das linhas de uma página com os
olhos ou os dedos, preensão adequada para segurar lápis e papel e para folhear (área
de coordenação visual e manual);

discriminação de sons (área de percepção auditiva);

adequação da escrita às dimensões do papel, reconhecimento das diferenças dos

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Desenvolvimento Psicomotor

Psicomotricidade e Movimento: Fatores que interferem no Desenvolvimento


Motor

pares b/d, q/d, p/q etc., orientação da leitura e da escrita da esquerda para a direita,
manutenção da proporção de altura e largura das letras, manutenção de espaço entre
as palavras e escrita orientada pelas pautas (áreas de percepção visual, orientação
espacial, lateralidade, habilidades conceituais);

pronúncia adequada de vogais, consoantes, sílabas, palavras (área de


comunicação e expressão);

noção de linearidade da disposição sucessiva de letras, sílabas e palavras (área


de orientação têmporo-espacial);

capacidade de decompor palavras em sílabas e letras (análise);

possibilidade de reunir letras e sílabas para formar novas palavras (síntese).

14 Psicomotricidade e Movimento: Fatores que interferem no


Desenvolvimento Motor

14.1 Elementos Constituintes da Psicomotricidade


A Psicomotricidade preocupa-se com o desenvolvimento neuromuscular que,
mais tarde, subsidiará a motricidade e por consequência, a execução de tarefas
motoras e cognitivas bem-sucedidas.

Dentro do estudo da psicomotricidade temos como elementos constituintes o


esquema corporal, representa a imagem que a criança tem de seu próprio corpo.
Estuda o surgimento de alguns distúrbios como a asquematia que é a perda da
percepção topológica do corpo, paraesquematia que é a confusão de diferentes
regiões do corpo ou a representação de partes que não existem.

O esquema postural para a psicomotricidade é a imagem tridimensional do


nosso corpo e a imagem do corpo humano é a imagem do nosso próprio corpo que
formamos em nosso espírito, que por outras palavras é o modo como o nosso corpo
se apresenta a nós mesmos.

A psicomotricidade interessa-se pelo movimento que certo comportamento


tônico subentende, quanto pela relação à diminuição do tono trará a descontração
muscular.

As manifestações emocionais que implicam a problemática da emoção, pois toda

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Desenvolvimento Psicomotor

Esquema Corporal

e qualquer emoção tem sua origem no domínio postural, por exemplo, como para
uma criança de 6 anos receber um grito de um adulto, fará com que ocorra um
aumento da tensão, por conseguinte desencadeará reações emocionais que são
traduzidas como mal-estar ou como sentir-se meio mole, sem coordenação nas
pernas.

A comunicação é uma função essencial na reeducação psicomotora, uma vez que


a psicomotricidade leva em conta o aspecto comunicativo do ser humano, do corpo,
da gestualidade, ela resiste a ser uma educação mecânica do corpo.

Assim, graças a linguagem, o homem vive num mundo de significações, os gestos


querem dizer alguma coisa, o corpo tem um sentido que ele pode sempre interpretar
e traduzir.

Existem os comportamentos inatos que a criança manifesta, pois variadas formas


desde o seu nascimento, por exemplo, o grito pode ser interpretado como dor que
pode também não ser de sofrimento. Por exemplo, bocejo, espirro, salivação que são
manifestações primitivas, também de emoções que devem ser orientadas e educadas
no sentido de controle das próprias modalidades do meio-familiar e social da criança.

Por entender que o corpo traduz os nossos desejos, e que o desenvolvimento


psicomotor da criança é de fundamental importância, para que possamos nos inserir
no meio ao qual pertencemos, de acordo com nossas potencialidades e destrezas,
apresentaremos os elementos constituintes da psicomotricidade que colaboram para
o desenvolvimento integral da criança.

15 Esquema Corporal
Conhecer as partes do corpo, suas funções e interações com ele mesmo e com o
meio que o cerca é de fundamental importância na construção do esquema corporal
e no desenvolvimento normal no âmbito motor, social e afetivo da criança para que
suas ações futuras sejam orientadas com sucesso.

O esquema corporal pode ser definido como “uma intuição de conjunto ou um


conhecimento imediato que temos de nosso corpo estático ou em movimento, na
relação de suas diferentes partes entre si e, sobretudo, nas relações com o espaço e
com os objetos que o circundam” (FONSECA, 2008).

Podemos dizer que o esquema corporal é um elemento básico indispensável para

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Desenvolvimento Psicomotor

Esquema Corporal

a formação da personalidade da criança, uma vez que é a representação da imagem


que a criança tem de seu próprio corpo. A criança se sentirá bem na medida em seu
corpo lhe obedece, em que o conhece bem, em que pode utilizá-lo não somente para
movimentar-se, mas também para agir.

Fica nítido para o professor diagnosticar a criança que se encontra com seu
esquema corporal mal constituído, ela não coordena bem os movimentos, sua grafia
é “feia”, na leitura não demonstra harmonia, o que significa dizer que não segue o
ritmo da leitura ou então, simplesmente, para no meio de uma palavra.

Segundo De Meur (1989), uma criança que domina o seu corpo sente-se à
vontade em explorar seu potencial, pois demonstra desenvoltura e eficácia para
realizar as tarefas que lhes são ofertadas, o que lhe proporciona bem-estar, tornando
fáceis e equilibrados seus contatos com os outros. Fazendo

com que os desafios não sejam vistos apenas como dificuldades, mas como uma
forma de demonstrar suas habilidades e potencialidades.

O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação física


e psicológica da criança. Nesse sentido, pode-se considerá-lo como sendo a
representação relativamente global, científica e diferenciada que a criança tem de seu
próprio corpo.

A importância em se trabalhar com o esquema corporal persiste no fato de que


quando a criança conhece seu corpo, seus limites, potencialidades e dificuldades,
reconhece e sabe que pode utilizá-lo não somente para movimentar-se, mas também
para agir, expressar-se, comunicar-se com o mundo que o cerca, sem medos e
frustrações. Portanto, para auxiliar no desenvolvimento do esquema corporal da
criança devemos considerar:

15.1 Domínio Corporal


Referimo-nos a capacidade da criança apresentar domínio e controle sobre suas
ações corporais. Por exemplo, uma criança corre durante o recreio e choca-se,
constantemente, contra seus companheiros. A tendência dessa criança é que em
pouco tempo não se sentirá à vontade em continuar no jogo, na brincadeira. Logo,
não ousará mais correr por não dominar bem seu corpo.

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Desenvolvimento Psicomotor

A Organização do Corpo no Espaço

15.2 Conhecimento Corporal


Conhecer seu corpo e suas dimensões. Imagine a seguinte situação: uma criança
quer passar por baixo de um banco, mas, esquecendo-se de dobrar as pernas, acaba
batendo as nádegas contra o banco. Possivelmente essa criança ainda não conhece o
seu corpo enquanto objeto que ocupa lugar no espaço, e o quão espaço se faz
necessário para deslocar-se ou realizar uma determinada ação.

15.3 Passagem para a Ação


A criança não transfere líquidos de uma vasilha para outra para brincar? Mas,
então por que ela entorna um copo de limonada para beber?

A explicação é simples, a ação motora, o gesto motor, possivelmente, ainda não


foi transferida de uma ação para outra.

Nesse sentido, é por meio do desenvolvimento do esquema corporal e de seus


constituintes que possibilitamos que a criança se sinta bem-disposta e capaz de situar
seu corpo em relação aos outros, aos objetos que a cercam e, portanto, terá condições
para transpor suas descobertas, pois a tendência é que ela, progressivamente,
localizará os objetos, as pessoas, os acontecimentos em relação a si, depois entre eles.

16 A Organização do Corpo no Espaço


Referimo-nos aqui a capacidade de movimentar o próprio corpo de forma
integrada, dentro de um ambiente contendo obstáculos, desviando, locomovendo-se
ou passando por eles.

Movimentos simples como o rastejar, engatinhar, e andar propiciam a criança o


desenvolvimento das primeiras noções espaciais: perto, longe, dentro, fora.

Descobrir e ter a noção de em cima, embaixo, acima, para a criança implica em


dizer que ela está apresentando um desenvolvimento integral de suas ações.

Para De Meur (1989), os problemas relacionados à orientação temporal e


espacial, como por exemplo, com a noção “antes-depois”, acarretam, principalmente,
confusão na ordenação dos elementos de uma sílaba. A criança sente dificuldade em
reconstruir uma frase cujas palavras estejam misturadas, sendo a análise gramatical
um quebra-cabeça para ela.

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Desenvolvimento Psicomotor

Dominância Lateral

Uma má organização espacial ou temporal poderá, por exemplo, acarretar


fracasso na matemática, uma vez que para calcular a criança deve ter pontos de
referência, colocar os números corretamente, possuir noção de “fileira”, de “coluna”;
deve conseguir combinar as formas para fazer construções geométricas.

Diante de problemas de percepção espacial, uma criança não é capaz de


distinguir, por exemplo, um “b” de um “d”, um “p” de um “q”, “21” de “12”, caso não
perceba a diferença entre a esquerda e a direita. Se não se distingue bem o alto e o
baixo, confunde o “b” e o “p”, o “n” e o “u”, o “ou” e o “on”, ou seja, não consegue
perceber, no abstrato, as questões que não lhe foram supridas no concreto. Portanto,
para trabalharmos com a organização do corpo no espaço devemos considerar a
estruturação espacial, que nada mais é do que a orientação, a estruturação do mundo
exterior referindo-se ao eu referencial, depois a outros objetos ou pessoas em posição
estática ou em movimento.

É nesse sentido, a tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em


um meio ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em relação às
pessoas e coisas, pode ser considerado a tomada de consciência da situação das
coisas entre si, ou ainda a possibilidade,

para o sujeito, de organizar-se perante o mundo que o cerca, de organizar as


coisas entre si, de colocá-las em um lugar ou de movimentá-las.

Resumindo, o esquema corporal é a tomada de consciência, pela criança, de


possibilidades motoras e de suas possibilidades de agir e de expressar-se.

17 Dominância Lateral
A dominância lateral é uma característica que buscamos perceber desde a mais
tenra idade, mas essa se refere muito mais do que escolher a mão (direita ou esquerda)
para escrever ou comer, refere-se ao esquema do espaço interno do indivíduo, que o
capacita a utilizar um lado do corpo com melhor desembaraço do que outro, em
atividades que requeiram habilidade, caracterizando-se por uma assimetria funcional.

O que significa dizer que a definição da lateralidade ocorre à medida que a


criança se desenvolve e, portanto, a lateralidade na criança não deve ser estimulada
até que não tenha sido definida, ou seja, quando a criança é forçada a usar um lado
do corpo torna-se prejudicial para a lateralidade.

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Desenvolvimento Psicomotor

Dominância Lateral

Quem nunca ouviu histórias de pais e mães, ou até mesmo de professores que
forçavam a criança a segurar o lápis ou o copo com a mão direita. Isso porque,
achavam errado, talvez por fatores culturais, escrever com a mão esquerda. Forçavam
a criança a utilizar a mão direita para tal ação, isso sim é errado, os pais devem
favorecer a escolha feita pelas crianças. Isto porque hoje sabemos que não existe certo
ou errado, e que a própria criança tem sua preferência, sua dominância lateral,
portanto, temos apenas que possibilitar a criança a desenvolver suas habilidades, mas
as escolhas devem ser feitas por ela.

No início da idade escolar ainda prevalece a bilateralidade na criança, mas se ela


ainda apresentar a tendência para o sinistrismo e os pais tentarem fazer algo para que
a frustre, possivelmente essa criança poderá apresentar danos na sua motricidade,
possibilitando o surgimento de possíveis problemas de aprendizagem.

Segundo Jean Claude, o hemisfério esquerdo do cérebro é quem governa o braço


direito de um destro, e não é habitual que possa mudar essa constituição cerebral.

Se o indivíduo amputar o braço direito, se for destro, continuará falando e

escrevendo com o cérebro esquerdo. A destralidade verdadeira é a dominância


cerebral que está à esquerda, sendo que todas as matrizes são determinadas a direita
(o hemisfério esquerdo comandará o hemicorpo direito que leva o indivíduo a uma
utilização preferencial desse hemicorpo na realização prática.

A falsa sinistralidade refere-se a um acidente sendo o sinistrismo (consequente


de uma paralisia, de uma amputação) que tornou impossível a utilização do braço
direito, para o indivíduo destro foi originalmente impedido de ser, para Jean Claude,
indivíduo canhoto.

Dominância lateral ocorre a partir do momento em que os movimentos se


combinam e se organizam numa intenção motora e que se impõe e justifica a presença
de um lado predominante que irá ajustar a motricidade.

Reconhecimento direita-esquerda decorre da assimetria direita-esquerda e


constitui uma primeira etapa na orientação espacial é precedida pela distinção frente
atrás.

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Desenvolvimento Psicomotor

Equilíbrio

18 Equilíbrio
Referimo-nos aqui a função em que os indivíduos mantêm sua estabilidade
corporal durante os movimentos e quando em estado de imobilidade.

Fonseca (2009) e Rosa Neto (2002) mencionam que obter um bom equilíbrio é
essencial para a conquista da locomoção e a independência dos membros superiores.

A dificuldade em equilibrar-se produz estados de ansiedade e insegurança, pois


a criança não consegue manter um estado estático ou de movimento e isto atrapalha
a relação entre equilíbrio físico e psíquico.

Pick e Vayer (1985) afirmam que, na presença de algum distúrbio do equilíbrio,


pode-se observar uma indisponibilidade imediata dos movimentos, desequilíbrio
corporal global, marcha não harmoniosa, tensões musculares locais, desalinhamentos
anatômicos e imprevisibilidade de atitudes.

Socialmente, a criança pode apresentar tendência à inibição ou desejo de


esconder, e falta de confiança em si mesmo. Nesse sentido, podemos dizer que o
equilíbrio não se resume, exclusivamente, a uma atitude referente ao tônus muscular,
mas que afeta psicologicamente a criança em suas relações sociais.

19 A Organização Latero-Espacial
Durante o crescimento, naturalmente, se define uma dominância lateral na
criança, resultando na tendência de ter maiores destrezas e habilidades de um lado
de seu corpo (poderá ser mais forte, mais ágil do lado direito ou do lado esquerdo)
em relação ao outro, isso ocorre porque mesmo a lateralidade correspondendo a
dados neurológicos, também é influenciada por certos hábitos sociais.

Diferença entre a lateralidade e o conhecimento "esquerda-direita"

Não devemos confundir lateralidade (dominância de um lado em relação ao


outro, a nível de força e da precisão) e conhecimento "esquerda-direita" (domínio dos
termos "esquerda" e "direita").

O conhecimento "esquerda-direita" decorre da noção de dominância lateral. É


entendido como sendo a generalização, da percepção do eixo corporal, a tudo que
cerca a criança. Esse conhecimento será mais facilmente apreendido quanto mais
acentuado e homogêneo for a lateralidade da criança. Com efeito, se a
criança percebe que trabalha naturalmente "com aquela mão",

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Desenvolvimento Psicomotor

A Organização Latero-Espacial

guardará sem dificuldade que "aquela mão" é à esquerda ou à direita (FONSECA,


2008).

Por essa razão não basta amarrar um lacinho ou fitinha na mão da criança e dizer-
lhe que essa é a mão direita se essa não for realmente trabalhada, estimulada, ela
precisa conhecer a terminologia como também dominar e distinguir direita de
esquerda.

Lembramos que por volta dos 6 anos, a criança tem conhecimento do lado direito
e esquerdo do seu corpo. Aos 7 anos reconhece a posição relativa entre dois objetos.
Com 8 anos reconhece o lado direito e esquerdo em outra pessoa. Quando chega aos
9 anos consegue imitar movimentos realizados por outras pessoas com o mesmo lado
do corpo no qual a pessoa realiza o movimento, isto é, transpõe o lado da pessoa para
o seu. Aos 10 anos reproduz movimentos de figuras esquematizadas e com 11 anos
consegue identificar a posição relativa entre 3 objetos (FONSECA, 2008).

Ressaltamos que esse processo ocorre gradativamente, e depende de cada


criança, de cada momento e dos estímulos que a ela são proporcionados.

19.1 Orientação espacial


Quando a criança domina os diversos termos espaciais, ensinamos a orientar se,
isto é, permitimos e oferecemos situações nas quais ela pode virar-se, ir para frente,
para trás, para a direita, para a esquerda, para o alto. Pode experimentar situações
para poder ficar em fila, enfim, executar movimentos diversos em espaços delimitados
ou não, contendo obstáculos ou não.

19.2 Orientação temporal


A estruturação temporal é a capacidade de a criança situar-se e depende do
entendimento e compreensão de fatores, como por exemplo:

• Sucessão dos acontecimentos: antes, após, durante;


• Noções de tempo longo: uma hora, um minuto, por exemplo, para
uma criança de três anos, três minutos podem parecer uma eternidade, enquanto para
uma criança de 10 anos, esse tempo já representa mais essa eternidade e passa muito,
entende que é algo rápido;
• Noções de ritmo: regular, irregular (aceleração, freada);

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Desenvolvimento Psicomotor

A Coordenação Dinâmica

• Noções de cadência: rápida, lenta (diferença entre a corrida e o


andar);
• Noção de renovação cíclica de certos períodos: os dias da semana,
os meses, as estações. Por exemplo, é comum vermos uma criança de 3 anos chegar na
escola, na segunda feira, e contar para a professora que “amanhã” ela foi na casa da
vovó. Mas, na verdade, ela está se referindo a um acontecido que já ocorreu no
domingo, no dia anterior.
• Noção de envelhecimento: do caráter irreversível do tempo: “já
passou... não se pode mais revivê-lo”, “você tem cinco anos... vai indo para os seus seis
anos... quatro anos, já passaram”.
• As noções temporais são muito abstratas, muitas vezes, bem
difíceis de serem adquiridas por nossas crianças, por isso faz-se necessário estar
constantemente estimulando a responder a essas ações.

20 A Coordenação Dinâmica
A coordenação dinâmica geral da criança, um bom domínio do corpo suprindo a
ansiedade habitual, diminui as tensões trazendo um controle satisfatório e a confiança
com relação ao próprio corpo.

Com relação à coordenação dinâmica das mãos, Le Boulch (1982) diz que a
habilidade manual ou destreza constitui um aspecto particular da coordenação global.
Reveste muita importância nas praxias, no grafismo, ao qual se deve dar uma atenção
em particular.

A criança, quando apresenta algum distúrbio no desenvolvimento da


coordenação (tanto global como da dinâmica das mãos), poderá apresentar
dificuldades escolares, como a disgrafia que ultrapassa linhas e margens do caderno,
pode ter dificuldades na apreensão de dedos e nos gestos.

21 Estratégias Psicomotoras e Consequências Educativas


Para uma ação interventiva, coerente as atividades, devem relacionar-se a
aspectos que são sempre uma constante na psicomotricidade.

São eles:

qualidade física: força, flexibilidade, agilidade, velocidade, coordenação motora,

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Desenvolvimento Psicomotor

Estratégias Psicomotoras e Consequências Educativas

equilíbrio, noções de espaço e tempo e lateralidade;

aspecto afetivo e social: socialização, organização, disciplina, responsabilidade,


coragem e solidariedade;

características cognitivas: capacidade de análise e desenvolvimento de memória;

Além desses fatores, podemos considerar como estruturas psicomotoras de base


para a intervenção as que seguem.

• Locomoção: habilidade referente à locomoção com destreza,


domínio e equilíbrio.
Exemplo de atividade: macaquinho mandou, amarelinha, dança da
cadeira, pegador.
• Manipulação: Habilidade de manuseio e controle de objetos.
Exemplo de atividade: lenço atrás, dança da laranja.
• Tono Corporal: Ajustamento e controle postural. Exemplo de
atividade: jogo das cinco Marias.
• Lateralidade: Noção de direita e esquerda.
Exemplo de atividade: brinquedos cantados: escravos de já.
• Coordenação Fina: habilidade de manejo e controle de objetos,
trabalhando com as extremidades dos segmentos (mãos).
Exemplo de atividade: bola de gude, pintura.
• Coordenação Grossa: Habilidade e destreza corporal para
responder a uma tarefa com a totalidade das mãos ou do corpo.
Exemplo de atividade: bola queimada.
• Coordenação da dinâmica geral: é a atuação conjunta do sistema
nervoso central e da musculatura esquelética, na execução do movimento. Temos a
coordenação motora ampla e seletiva.
Exemplo de atividade: pula carniça.
• Equilíbrio: É a capacidade de manter-se sobre uma base, pode ser
estático e dinâmico.
• Exemplo de atividade: amarelinha, bola ao túnel.
• Esquema Corporal: é o conhecimento que temos do corpo em
movimento ou em posição estática, em relação aos objetos e o espaço que o cerca.
Exemplo de atividade: A raposa que gostava de comer capim, elefante

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Desenvolvimento Psicomotor

Exercícios Psicomotores

22 Exercícios Psicomotores
No ambiente escolar os exercícios psicomotores devem ser uma constante, pois
colaboram para a efetivação da prática pedagógica tornar-se uma prática significativa
resultante em um aprendizado significativo para a criança.

Nesse sentido, algumas brincadeiras que trabalham com o engatinhar, rolar,


balançar, dar cambalhotas, se equilibrar em um só pé, andar para os lados, equilibrar
e caminhar sobre uma linha no chão e materiais variados (passeios ao ar livre),
possibilitam que as habilidades psicomotoras sejam desenvolvidas, alicerçando,
concomitantemente, às questões cognitivas tão essenciais as tarefas escolares para a
criança.

Outra possibilidade refere-se às atividades recreativas, por meio delas podemos


desenvolver os fatores afetivos em consonância com os psicomotores e que são
expressos na interação entre o espírito e o corpo, a afetividade e a energia, o indivíduo
e o grupo, promovendo a totalidade do ser humano.

23 Exercícios de Pré-escrita
Domínio do gesto, estruturação espacial e orientação temporal são os
fundamentos básicos para a aquisição com destreza da escrita. Uma vez que para
apresentarmos uma escrita legível e habilidosa, não basta fazer “caligrafia”, faz-se
necessário que tenhamos nossa coordenação motora fina, e demais domínios
psicomotores para que a performance seja realizada a contento. Assim, para a que a
escrita saia do plano da abstração e vá para o concreto, precisamos que às habilidades
abaixo descritas seja, desenvolvidas.

• Direção gráfica: escrevemos horizontalmente da esquerda para a


direita (lateralidade);
• Noções topológicas básicas: como em cima e embaixo (n e u), de
esquerda e direita, de oblíquas e curvas (g e q);
• Noção de antes e depois: sem o que a criança não inicia seu gesto
no lugar correto (escrita espelhada, flutuando entre as linhas).

Os exercícios de pré-escrita e de grafismo são necessários para a aprendizagem


das letras e dos números, sua finalidade é fazer com que a criança atinja o domínio
do gesto e do instrumento, a percepção e a compreensão da imagem a reproduzir.
Esses exercícios podem ser divididos em exercícios puramente motores ou exercícios

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Desenvolvimento Psicomotor

A Evolução Psicomotora da Criança

de “grafismo”, exercícios preparatórios para a escrita na lousa e no papel.

24 A Evolução Psicomotora da Criança

24.1 Evolução Psicomotora até os Três Anos de Idade


O bebê, ao nascer, tem seu primeiro contato com o mundo a partir de seu corpo,
seu choro, seus movimentos, traduzem suas necessidades, desejos e angústias. A mãe
reconhece o seu choro, é comum ouvir uma mãe que ao deixar a criança em meio a
outras distinguirem se é o seu bebê que está chorando, isso ocorre porque se firmam
laços de afetividade e a expressão gestual é a comunicação da criança com o mundo
que a rodeia.

No olhar de Fonseca (2008, p. 126) sustentado por Morin, o ser humano é o único
animal que se pode considerar psicomotor, por ser auto e eco-organizado no corpo e
no cérebro, por ser criado em uma dimensão cultural, na qual a comunicação não
verbal é um componente básico.

A criança se constrói por inteiro e de forma integrada, a totalidade do mundo em


que vive. A psicomotricidade, então, é a possibilidade de colaborarmos com esse
processo, por meio de uma educação que se paute no movimento.

De acordo com Le Boulch (1987, p. 15), o objetivo central da educação pelo


movimento é “contribuir ao desenvolvimento psicomotor da criança”. Nesse sentido,
podemos dizer que a psicomotricidade trata também das questões de uma educação,
por meio do movimento no qual busca melhorar concomitantemente a utilização das
capacidades psíquicas da criança. Acatando esses preceitos, nesta unidade
apresentaremos as principais características psicomotoras das crianças, do nascimento
até os seis anos de idade e, posteriormente, trataremos de relacionar esse
desenvolvimento ao desenvolvimento do grafismo pela criança.

24.2 Características Psicomotoras da Criança de 0 a 3 Anos


Para Fonseca (2008, p. 23), a atividade do bebê está, essencialmente, voltada para
as sensações internas, e essa interação sensorial, decorrente de sua relação com o
adulto e com as experiências que o rodeiam e o envolvem se transformaram em
sensações afetivas que serão expressas, posteriormente, por meio do movimento e da
motricidade da criança.

De acordo com Wallon (1962), a criança ao nascer se expressa por meio dos

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Desenvolvimento Psicomotor

A Evolução Psicomotora da Criança

deslocamentos exógenos (maturação tônica e sinergética).

Wallon afirma, ainda, que o desenvolvimento se processa a partir do Estágio


impulsivo – impulsivo expressivo emocional (0 – 3 meses). Dependência total em
relação à família; o bebê apresenta descargas ineficientes de energia muscular através
de espasmos, movimentos desorganizados.

Estágio emocional – (3 – 9 meses) A emoção é o meio de comunicação do bebê.


É o período da relação afetiva mais contundente, desempenhando papel importante
para a comunicação.

Estágio sensitivo-motor – (1 - 3 anos) A criança descobre o mundo dos objetos


e com o simbolismo, ela transforma esse objeto em uma imaginação. Surge a marcha,
a imitação e a linguagem são ampliadas.

Estágio projetivo - (faixa etária aproximada não definida pelo autor) A


criança age sobre o objeto, projetando-se nas coisas para se perceber.

Piaget entende que a criança, até o primeiro mês de vida, possui ações instintivas
e reflexas. Não apresenta nenhuma noção entre sujeito e objeto. A partir de reflexos
neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar o
meio. A inteligência é prática. As noções de espaço e tempo, por exemplo, são
construídos pela ação. O contato com o meio é direto e imediato, sem representação
ou pensamento. O pensar e agir estão estritamente ligados entre si. Os objetos só
podem ser reconhecidos na medida em que o indivíduo pode lidar com eles, agindo.

A partir dos 2 aos 18 meses começa a apresentar as primeiras percepções


organizadas, começa a manipular objetos. E quando chega por volto de 8-9 meses já
ocorre a diferenciação entre os fins e os meios. Quando chega nos 11-12 meses
apresenta uma boa coordenação de esquemas secundários, domina a locomoção,
explora os objetos, por isso as tentativas de subir na mesa, tentar alcançar objetos que
estão no alto. Começa as tentativas intencionais, e passa a diferenciar os fins e os
meios de interagir.

Já dos 18-24 meses começa a apresentar, segundo Piaget, uma coordenação de


ações que já exigem uma sequência espaço-temporal, possui uma inteligência prática,
o gesto é utilizado como pré-linguagem, e agora o sujeito passa a tornar-se um objeto
no meio dos outros.

Para Wallon (1962) dos 2 aos 3 anos, a criança passa a apresentar como
características as informações provenientes de dados proprioceptivos, expressa

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Desenvolvimento Psicomotor

A Evolução Psicomotora da Criança

deslocamentos autógenos, ou seja, domina a locomoção e a preensão.

Para Piaget (1964), nessa fase, a partir dos 2 anos, a criança torna-se pré-
operacional, o que significa dizer que ela tem já uma coordenação perceptivo-motora,
e interessa-se demasiadamente pelas operações concretas.

Le Boulch vai além e afirma que a criança apresenta fases distintas para seu
desenvolvimento, o autor considera que esse só ocorre a partir de etapas provenientes
do desenvolvimento do esquema corporal, são elas: corpo submisso (0 a 2 meses);
corpo vivido (2 meses a 3 anos); corpo descoberto ou percebido (3 a 6 anos) e corpo
representado (6 a 12 anos).

Na primeira etapa, a criança começa desenvolver sua imagem do corpo, que tem
seu início por um lado com conteúdos fantasmáticos e do outro com uma imagem
figurativa, sendo ainda imprecisa, e vai amadurecendo com o tempo, por meio da
confrontação com o real. Logo em seguida, aparece a etapa da imagem do corpo e
da estruturação espaço-temporal, na qual começa a acontecer a descentralização da
criança e o início das representações mentais dos eixos, aqui a criança começa a ter
noções de esquerda e direita, de acima e abaixo e de diante e atrás. E de
reconhecimento de figuras geométricas, ocorrendo por meio da exploração dos
objetos pelo estudo dos movimentos visuais. Na última etapa, que é do ajustamento
global ao ajustamento com representação mental, a criança está enriquecendo o seu
esquema corporal e, por isso, começa a ter condições de modificar os elementos de
um movimento em automatismos bem estabilizados, tornando-se capaz de tomar
certa distância em relação ao objeto prático do movimento para voltar sua atenção
perceptiva sobre as modalidades da ação, desenvolvendo, dessa maneira, sua
percepção sinestésica.

Nesse sentido, o explorar o ambiente para a criança é uma constante


necessidade, pois isso a levará a entender e a expressar suas necessidades. Esse meio
favorece para a criança firmar-se enquanto uma unidade afetiva e expressiva.

Le Boulch, (2001, p.88) afirma ainda que a criança de três anos, que tem se
beneficiado de um ambiente humano afetivo, tende a se confrontar com o mundo dos
objetos com sucesso.

A criança quando chega aos três anos apresenta características bastante distintas,
se seu desenvolvimento ocorreu de forma significativa, a tendência é que ela tenha
um deslocamento autônomo/seguro, um equilíbrio assegurado. E seus braços e
pernas já devem apresentar uma coordenação habilidosa, bem como suas habilidades

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Desenvolvimento Psicomotor

A Evolução Psicomotora da Criança

óculo manuais também devem estar já controladas.

Suas mudanças são observáveis, já bebe a água no copo, sem derrubar, consegue
segurar o talher entre o polegar e o indicador, começa a se vestir sozinho e começa a
se prontificar para ajudar nas tarefas, pois desperta para a necessidade de explorar
ainda mais suas potencialidades.

Portanto, vale lembrar que até por volta dos 3 anos, os interesses da criança estão
centrados no mundo exterior, principalmente, no aspecto prático do movimento, pois
nesse momento não há mudanças significativas, o aprendizado por insight é
dominante. A evolução dos seus gestos incide no ajustamento de sua postura,
beneficiando-se de uma regulação tônica muito

Mesmo não sendo da área da Psicomotricidade, Gallaheu e Ozumn (2003)


também apresentam contribuições bastante significativas, quanto ao
desenvolvimento motor, conforme estágios, considerar que na 1ª fase, chamada de
motora reflexiva, em que os reflexos são a base para as fases posteriores, divide-se
em:

Estágio de codificação: aqui as atividades motoras são involuntárias, do período


fetal até, aproximadamente, o 4º mês. Os centros cerebrais inferiores são mais
desenvolvidos do que o córtex motor; servem de meios primários pelos quais o bebê
é capaz de reunir informações, buscar alimento e encontrar proteção ao longo do
movimento.

Por exemplo, a criança descobre que toda vez que ela chora a mãe lhe tira do
berço e a coloca no colo.

Estágio de decodificação. Nesse momento, aproximadamente no 4º mês de vida,


as habilidades de informações começam a ser processadas, o desenvolvimento dos
centros cerebrais inferiores inibe muitos reflexos. Tem início a substituição da
atividade sensório-motora por habilidade motora-perceptiva, que envolvem o
processamento de estímulos sensoriais com informações armazenadas e não apenas
reações aos estímulos.

Nesse momento, temos, então, a utilização dos reflexos primitivos, que são os
agrupadores de informações, os mecanismos de sobrevivência e os reflexos posturais,
que podem ser entendidos como os equipamentos de testes neuromotores para
mecanismos estabilizadores, locomotores e manipulativos.

Já na 2ª fase, também conhecida como fase dos movimentos rudimentares,

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Desenvolvimento Psicomotor

Evolução Psicomotora dos Três aos Seis Anos

encontramos as primeiras formas de movimentos voluntários, podemos observar essa


característica do nascimento até, aproximadamente, 2 anos de idade. A maturação
sequencial que ocorre, nessa fase, varia de criança para criança, dependente de fatores
biológicos, ambientais e da tarefa, o que significa dizer que cada criança tem seu
tempo próprio para aprender e para se desenvolver.

Compõem essa fase os movimentos voluntários, especialmente os movimentos


estabilizadores, cuja função pode ser observada quando o bebê busca o controle da
cabeça, pescoço e músculos do tronco. Os movimentos manipulativos, referentes ao
ato de alcançar, agarrar e soltar. E movimentos locomotores, próprios da criança como
o arrastar, engatinhar e caminhar.

Na 3ª fase dos movimentos fundamentais, observamos que a criança começa a


se envolver com a exploração e experimentação das capacidades motoras de seu
Corpo. Busca experiência motora, especialmente, os movimentos estabilizadores,
manipulativos e locomotores, primeiro isoladamente e depois de modo combinado.

Nesse momento, devemos oportunizar tarefas que levem a criança desenvolver


seus movimentos fundamentais, como o correr, pular (locomotores), arremessar e
apanhar (manipulativos), andar com firmeza e o equilíbrio num pé só (estabilizadores).

Gallaheu e Ozumn (2003) especificam que a criança, então, desenvolve seus


movimentos fundamentais a partir dos estágios inicial, elementar e maduro. No inicial
ocorrem as primeiras tentativas de desempenhar uma habilidade fundamental restrita,
mas ainda faz uso exagerado do corpo, com ritmo e coordenação ainda deficiente. No
estágio elementar dos movimentos fundamentais, a criança já envolve maior controle
e melhor coordenação rítmica dos movimentos, começa o aprimoramento das
estruturas espaciais e temporais, por volta dos 3 anos, o que lhe dará suporte para
entrar no estágio maduro dos movimentos fundamentais, no qual a criança irá
desempenhar-se mecanicamente de forma eficiente, coordenado e controlado, isso
deve ocorrer por volta dos 5 ou 6 anos de idade.

25 Evolução Psicomotora dos Três aos Seis Anos


Podemos observar que a criança, dos 3 aos 6 anos, está vivendo um momento
cujo período é refletido em mudanças na sua estruturação espaço-temporal e no seu
esquema corporal.

Surge, nesse contexto, a ruptura do eu (individual), passando a ser valorizado o

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Desenvolvimento Psicomotor

A Evolução da Motricidade Gráfica

eu social. O outro começa a existir para ela, e a emoção, nesse contexto, torna-se
papel essencial, faz parte do seu desenvolvimento.

Para Fonseca (2008), nesse momento, a emoção ainda, é quase sempre o


detonador da ação, pois esse período constitui-se por dois meios paralelos do plano
afetivo, um refere-se à estruturação do espaço que permite a passagem do espaço
topológico para o espaço euclidiano; e o outro, refere-se à percepção das diferentes
partes do corpo e estruturação do esquema corporal, ou seja, é um período de
constantes mudanças para a criança. O corpo para a criança, nesse momento, é um
corpo que se comunica por meio da gestualidade e da mímica.

A partir dos três aos seis anos de idade, a criança ainda está num período
transitório, tanto na estruturação espaço temporal quanto na estruturação do
esquema corporal.

Para Piaget, a partir dos 3 anos, a criança entra no estágio pré-operacional,


caracterizado pela inteligência intuitiva, sua assimilação ocorre por meio das ações, e
entre 3-4 anos ocorre o início da interiorização. A preferência da criança, nesse estágio,
são os jogos e imitação em diferido, diverte-se e interessa-se por jogos de imaginação.

Aos 4 anos, a criança está consciente de suas atitudes, entra na fase da comédia,
ou seja, multiplica sua expressão, interage com o outro de forma constante.

A partir desse momento, a criança já começa a pensar em coisas para além dos
espaços espaciais e temporais do movimento, começa a apresentar as noções de
passado e futuro, e suas regulações tendem a ser representativas.

O fim deste período será mostrado pela possibilidade de uma relação coerente
entre as estruturas perceptivas, graças à representação mental.

26 A Evolução da Motricidade Gráfica


Quem nunca viu uma mãe ficando muito brava, por chegar à sala e ver que seu
lindo sofá de couro, ou sua parede que acabara de ser pintada, está toda

“rabiscada”. E ao perguntar para a criança quem foi o responsável ela,


simplesmente, vira e diz: “fiz um desenho”.

A partir dos 2 anos, isso é bem comum, e muito saudável para o


desenvolvimento infantil, claro que não precisamos deixá-la rabiscar todas as paredes
da casa, mas devemos instigá-la a exercitar suas habilidades. Isso porque ao falarmos

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Desenvolvimento Psicomotor

Estratégias Pedagógicas e Consequências Educativas: Teorias e Exercícios para


Uma Educação Psicomotora

do desenvolvimento da criança devemos lembrar que o desenho e, por consequência,


o grafismo, são elementos de extrema relevância para a criança, pois a evolução de
seus desenhos depende de sua percepção (PILLAR, 1996).

Os esquemas visuais postos em jogo no desejo estão coordenados pela conduta


motora e as propriedades do campo visual. Neste campo, são evidentes os problemas
encontrados no motor e no perceptivo. Estes dois planos não podem estar separados,
mas podem seguir em ritmos diferentes, prevalecendo em determinada hora da
evolução da capacidade de estruturação.

No começo, a dificuldade de expressão gráfica predomina mais na área motora


que na percepção, dando a impressão de que a execução trai a intenção. Piaget
considerava que a expressão mais elementar do grafismo da criança é o resultado do
vaivém contínuo sobre o papel e este jogo rítmico de movimento diferencia as
primeiras formas.

Portanto, o grafismo pode ser considerado como um ato impulsivo, que, a partir
dos dois anos e meio, o controle visual vai exercer mais precisamente o progresso do
grafismo, na medida em que as coordenações motoras se desenvolvem
paralelamente. É aí que o controle distal se torna proximal e permite a miniteirização
de traçados.

Vale lembrar que para que esse processo ocorra de forma significativa faz-se
necessário que se estejam já desenvolvidos a dominância lateral, a lateralidade
espontânea inata e a organização da prevalência e atividade prática.

27 Estratégias Pedagógicas e Consequências Educativas: Teorias e


Exercícios para Uma Educação Psicomotora
Para aplicação desses mediadores, por meio de exercícios psicocinéticos, é
preciso lembrar que as crianças não conseguem trabalhar, no início, com excesso de
informações e explicações, deixe a criança buscar seus próprios recursos, buscando
soluções no seu nível, permitindo que a criança descubra e sinta-se satisfeita com suas
próprias descobertas.

No início, dê a criança apenas o modelo de como se executa. Conversar sempre


com a criança sobre o que foi sentido, sobre as suas impressões a respeito dos
movimentos executados, sempre que o exercício permitir orientar a criança a fazê-lo

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Desenvolvimento Psicomotor

Esquema Corporal

de olhos fechados, favorecendo, assim, a interiorização do que foi vivido, exigindo


maior atenção e concentração.

É importante que quando realizado um exercício, devemos elogiar a todas as


crianças igualmente, pois aquelas que não atingiram o objetivo do exercício e que não
foram elogiadas podem levá-las a um estado de ansiedade e frustração.

Lembramos que apresentaremos, a seguir, algumas possibilidades de


intervenção, elas podem e devem ser modificadas para atender as necessidades de
cada contexto.

28 Esquema Corporal
Conhecimento intuitivo imediato que a criança tem do próprio corpo,
conhecimento capaz de gerar as possibilidades de atuação da criança sobre as partes
do seu corpo, sobre o mundo exterior e sobre os objetos que a cercam.

Exercício 1: Reconhecendo as partes essenciais do corpo

O profissional diz os nomes das seguintes partes do corpo: cabeça, peito, barriga,
braços, pernas, pés, explorando uma parte por vez. A criança mostra em si mesma a
parte mencionada pelo profissional, respeitando o nome que designa. Primeiramente,
o trabalho deverá ser realizado de olhos abertos, e a seguir de olhos fechados.

Olhos abertos: aprendizado. Olhos fechados: quando dominar as partes do


corpo.

Exercício 2: Reconhecendo seu rosto

A criança deverá reconhecer também as partes do rosto: nariz, olhos, boca,


queixo, sobrancelhas, cílios, trabalhar também com os dedos com a mão apoiada
sobre a mesa, a criança deverá apresentar o pulso, o dedo maior e o dedo menor, os
nomes dos dedos são ensinados a criança pedindo que ela levante um a um dizendo
os respectivos nomes dos dedos.

Exercício 3: Trabalhar com os olhos

Em pé ou sentada, a criança acompanha com os olhos sem mexer a cabeça, a


trajetória de um objeto que se desloca no espaço.

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Desenvolvimento Psicomotor

Esquema Corporal

Exercício 4: Automatizando a noção de direita e esquerda.

Conhecendo a direita e a esquerda do próprio corpo mostrar a criança qual é a


sua mão direita e qual é a sua mão esquerda. Dominando este conceito, realizar o
exercício em etapas:

• fechar com força a mão direita;


• depois a esquerda;
• levantar o braço direito;
• depois o esquerdo;
• bater o pé esquerdo;
• depois o direito; trabalhar com todas as partes do corpo.
• Trabalhar com os olhos abertos, e quando a criança estiver dominando o
exercício trabalhar com os olhos fechados.

Exercício 5: Localizando elementos na sala de aula.

A criança deverá dizer de que lado está à porta, a janela, a mesa da sala de aula
etc. em relação a si mesma. Durante a realização do exercício, não deixar a criança
cruzar os braços, pois isso dificulta sua orientação espacial.

28.1 Coordenação óculo-manual


A finalidade dos exercícios de coordenação óculo-manual é de desenvolver o
domínio do campo visual, associada à motricidade fina das mãos.

Exercício - Realizar este jogo em duas etapas:

A criança bate a bola no chão, apanhando-a inicialmente com as duas mãos, e


depois ora com a mão direita, ora com a mão esquerda. No início, a criança deverá
trabalhar livremente. Numa segunda etapa, o professor determinará previamente com
qual das mãos a criança deverá apanhar a bola.

A criança joga a bola para o alto com as duas mãos, apanhando-a com as duas
mãos também. Em seguida, joga a bola para o alto com uma só mão, apanhando-a
com uma só mão também. Variar o uso das mãos. Ora com a direita, ora com a
esquerda.

Jogo de Pontaria no Chão - desenhar um círculo no chão ou utilizar um arco. As


crianças deverão jogar a bola dentro do círculo. Aumentar, gradativamente, a
distância. Variar jogando a bola na frente, atrás, do lado esquerdo, do lado direito do

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Motricidade Fina das Mãos e dos Dedos

círculo.

28.2 Coordenação dinâmica geral


Estes exercícios possuem a função de equilíbrio que é a base essencial da
coordenação dinâmica geral que possuem a finalidade de melhorar o comando
nervoso, a precisão motora e o controle global dos deslocamentos do corpo no tempo
e no espaço. Constituem-se de exercícios de marchas e saltos. Apresentamos
exercícios em que a criança a nível de experiências vividas, manipula conceitos
espaciais importantes para o seu preparo para a alfabetização.

Os conceitos espaciais: direita, esquerda, atrás, na frente, entre, perto, longe,


maior, menor são vivenciados através de movimentos específicos. A partir daí,
propomos exercícios com maior intensidade. Coloca-se a medição de um raciocínio,
de uma reflexão sobre os dados vivenciados no primeiro nível. Dessa forma, permite
a criança passar para a etapa de estruturação temporal requerida para o aprendizado
da leitura e da escrita.

Exercício Andando, saltando e equilibrando-se.

Andando de cabeça erguida, a criança anda com um objeto sobre a cabeça (um
livro de capa dura ou outro objeto de fácil equilíbrio). Dominada esta etapa, a criança
para, levanta uma perna formando um angulo de noventa graus e coloca-se
lentamente no chão. O mesmo trabalho deverá ser feito com a outra perna.

Quem alcança? O professor segura um objeto a uma determinada altura (pode


ser um lápis, uma bola) a criança deverá saltar para alcançá-lo. Inicialmente, fazer o
exercício em pé, depois de cócoras.

29 Motricidade Fina das Mãos e dos Dedos


Os exercícios de motricidade fina são muito importantes para a criança, na
medida em que educam, é gesto requerido para a escrita, evitando a apreensão e a
prisão inadequadas que tanto prejudicam o grafismo, tornando o ato de escrever uma
experiência aversiva à criança.

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Organização e Estruturação Temporal

29.1 Cuidando das mãos


Exercício de Motricidade Fina: trabalhando só com os braços

Esse exercício tem como objetivo desenvolver a independência segmentar do


braço em relação ao tronco, o que beneficia e facilita o trabalho da mão no ato de
escrever. Apresentamos uma série de gráficos (traçados) que o professor deverá
reproduzir em tamanho grande no quadro de giz ou programá-los em cartões. As
crianças, por sua vez, deverão produzi-los com gestos executados no ar.

29.2 Amassando a massa


Exercício Fazendo Bolas de Massa –

O professor distribui para a classe bolas de massa de tamanhos variados (usar


massa para modelar), sentada, com o cotovelo apoiado sobre a carteira, a mão para o
alto, a criança aperta as bolas de massa com força, amassando-as. Orientar a criança
para que trabalhe com dois dedos por vez. Trabalhar primeiro uma das mãos, depois
com a outra e, finalmente, com as duas juntas. Fazendo as bolas de massa, realizar o
mesmo trabalho do exercício anterior, neste caso, porém a massa é apresentada em
forma de disco, com a qual a criança deverá fazer uma bola.

30 Organização e Estruturação Temporal


Esse mediador trabalha com noções importantes para o aprendizado da escrita
e, particularmente, da leitura, favorecem o desenvolvimento da atuação da memória.
A estruturação temporal fornecerá as possibilidades de alfabetizar-se.

Exercício: Reproduzindo ritmos com as mãos.

O professor executa um determinado ritmo, seguindo algumas estruturas


rítmicas, por exemplo, batendo a mão sobre a carteira, durante certo tempo, a criança
apenas escuta, depois reproduz o ritmo executado pelo professor, batendo a mão
sobre a carteira também. Variar o ritmo. Lento, normal e rápido. Fazer o exercício,
inicialmente, com os olhos abertos e, em seguida, de olhos fechados.

Exercício de organização e estruturação espacial

Deslocando um objeto no espaço, a criança coloca um objeto qualquer ora a sua


frente, ora atrás, ora a direita, ora a esquerda, segundo o comando do professor.

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Desenvolvimento Psicomotor

Psicomotricidade: Um Enfoque Preventivo e Educativo

31 Psicomotricidade: Um Enfoque Preventivo e Educativo


Em todo transtorno psicomotor há uma perturbação do esquema corporal, do
tônus muscular e da imagem corporal, o que determina simultaneamente confusões
espaciais (por exemplo, na lateralidade) e rítmicas (em relação ao movimento, as
coordenações da criança e ao equilíbrio da criança) (LEVIN, 2003, p. 154).

Nesta unidade, estudaremos os aspectos referentes à ação psicomotora como


uma possibilidade de reabilitação e prevenção e, posteriormente, quais os distúrbios
psicomotores que podem ocorrer na infância e, por fim, como detectar e avaliar o
desempenho da criança em suas atividades psicomotoras.

32 Psicomotricidade: Ação Preventiva e Reeducativa


A psicomotricidade é uma área que vem sendo aplicada no campo terapêutico e
de integração social, tais como, a debilidade motora, as dificuldades de aprendizagem
e a aprendizagem profissional (CHAZAUD, 1976, p. 99).

Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (1999), esta é a ciência que


estuda o homem por meio de seu corpo em movimento, em relação com o mundo
interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro,
com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, no qual
o corpo é origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. Desde o seu
surgimento até os dias atuais, a história e a evolução da psicomotricidade estão
relacionadas a três diferentes orientações que norteiam sua prática fazendo com que
está se torne cada vez mais peculiar e específica. A primeira está relacionada às
práticas educativas, seguida da terapia psicomotora e, por fim, a clínica psicomotora.

A primeira vertente foi influenciada pela neuropsiquiatria, cujo foco era o aspecto
motor, e aqui o corpo é visto como instrumento. Notamos, nesse momento, a tentativa
de superação do dualismo cartesiano (mente e corpo). De acordo com Levin (p.30,
2007), o corpo era a ferramenta de trabalho para o reeducador que se propõe a
concertá-lo.

Assim, a reeducação psicomotora enxerga o homem como dono de um corpo e


este corpo é visto como uma máquina de músculos que não funcionam e que, por

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Psicomotricidade: Ação Preventiva e Reeducativa

isso, devem ser reparados.

Com a contribuição da psicologia, em especial a psicologia genética, o foco da


psicomotricidade se modifica do ato simplesmente motor para o corpo em
movimento e, com isso, acontece o segundo corte epistemológico voltado a educação
psicomotora (OLIVEIRA, 2009).

Nesse sentido, percebemos que a terapia psicomotora se ocupa, observa e opera


num corpo em movimento que se desloca, que constrói a realidade, que conhece à
medida que começa a movimentar-se, que sente que se emociona e cuja emoção
manifesta-se tonicamente (LEVIN, p. 31, 2007).

Para Andrade (1984), a psicomotricidade é a “educação do movimento com


atuação sobre o intelecto, numa relação entre pensamento e ação, englobando
funções neurofisiológicas e psíquicas”. O que significa dizer que as ações interventivas
que a ela são direcionadas asseguram o desenvolvimento funcional, tendo em conta
as possibilidades da criança, e ajudar sua afetividade a se expandir e equilibrar-se, por
meio do intercâmbio com o ambiente humano.

Nesse sentido, a psicomotricidade também deve ser vista como uma


possibilidade, um meio de prevenção adequado para compensar a privação de
movimento que, por vezes, ocorre no ambiente escolar, pois como ação educativa
integrada e fundamentada na comunicação, na linguagem e nos movimentos naturais
conscientes e espontâneos da criança.

Como tem a finalidade de normalizar e aperfeiçoar a conduta global do ser


humano utiliza as ações psicomotoras como meio de comunicação através da
exploração do movimento consciente, intencional e sensível em sua evolução e
formação, sendo considerada como ponto total de apoio das experiências sensório
motoras, emocionais, afetivas, cognitivas, espirituais e sociais, como um todo. Estimula
a criatividade e as inúmeras formas de movimento por meio de suas praxias. Procura
ajudar a pessoa na melhor tomada de consciência de seu corpo integrada às emoções,
a fim de reencontrar o caminho da comunicação consigo mesma e com os outros.

A psicomotricidade, composta numa unidade dinâmica entre Educação,


Reeducação e Terapia Psicomotora que interatuam de forma integrada ao centro da
vida emocional e efetiva do ser humano, fundamenta-se na comunicação global.
Procura harmonizar o comportamento humano sob o enfoque do movimento e da
linguagem, meios pelos quais as pessoas se comunicam entre si e transformam o
mundo que as envolvem.

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Psicomotricidade: Ação Preventiva e Reeducativa

Como ação educativa a Psicomotricidade, por meio da Educação Psicomotora, é


essencialmente plástica e envolvente, sendo considerada por Barros (1992), como “a
alma do movimento” aquilo que não se vê, não se toca, porém se sente.

A educação psicomotora tem por objetivo permitir à criança viver em harmonia


com seu corpo, com os outros e com o ambiente envolvente.

Seus objetivos concretos são:

favorecer o desenvolvimento dos gestos e movimentos e a capacidade de


percepção;

desenvolver o equilíbrio;

aprimorar e desenvolver a percepção do corpo e permitir à criança adquirir o


sentimento de segurança;

favorecer e melhorar a psicomotricidade global e fina, sobretudo a grafo


motricidade por meio da manipulação;

revelar e reforçar o predomínio manual;

estimular a confiança em si;

atenuar os bloqueios que interferem na aprendizagem escolar;

sensibilizar o ambiente envolvente – família, escola - face às dificuldades da


criança.

O trabalho da reeducação privilegia, a princípio, três situações: o alívio do


problema, a redução do sintoma e a adaptação ao problema, através de jogos e
exercícios psicomotores.

As práticas educativas podem ser usadas por meio de:

técnicas específicas;

exercícios psicomotores e jogos;

Trabalho direto com o sintoma observado no exame psicomotor e pelas falas. As


atividades numa ação de prevenção ou reeducação devem de acordo com Lapierre
(1989), D´iancão (1988) e Gomes (1987), visar o desenvolvimento de capacidades
básicas: sensoriais, perceptivas e motoras, propiciando uma organização adequada de
atitudes adaptativas, atuando como agente profilático de distúrbios da aprendizagem.

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A Psicomotricidade Pode ser Entendida a Partir da Filogênese, Ontogênese e


Retrogênese.

33 A Psicomotricidade Pode ser Entendida a Partir da Filogênese,


Ontogênese e Retrogênese.
FILOGÊNESE

Filogenia – história genealógica de uma espécie ou grupo biológico,


fundamentada, principalmente, pela Anatomia Comparada, Paleontologia e pela
Embriologia.

ONTOGÊNESE

Transformações na evolução de um ser desde sua geração até seu completo


desenvolvimento individual (Gênese – do Latim Gênese e do grego Gênesis), evolução
de um ser, origem e formação dos seres organizados.

A Ontogênese da motricidade decorre de um desenvolvimento intrauterino,


assim como as origens do comportamento humano encontram-se na embriologia e
na neonatologia.

RETROGÊNESE

Mudança e adaptabilidade.

Inicialmente, se pensava nas mudanças dessa involução, como patologias e não


como decorrência do processo dialético da evolução e da adaptação humana.
Envelhecer pressupõe: inicialmente uma desorganização vertical descendente –
céfalocaudal evoluindo até a 3ª idade num inverso – do córtex à medula (do mais
complexo ao mais simples).

“O cérebro humano captou informações, integrou informações e elaborou


transformações” (FONSECA, p.167, 1998).

Ação – produto de uma organização central do cérebro. “O produto final da


evolução é a involução” (FONSECA, 1998, p. 169).

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Os Transtornos Psicomotores da Infância

34 Os Transtornos Psicomotores da Infância

A área Psicomotora compreende, como já mencionamos anteriormente, a


Coordenação Motora (utilização eficiente das partes do corpo), a Tonicidade
(adequação de tensão para cada gesto ou atitude), a Organização Espacial e
Percepção Visual (acuidade, atenção, percepção de imagens, figura fundo e
coordenação viso- motora), a Organização Temporal e Percepção Auditiva (atenção,
discriminação, memória de sons e coordenação auditiva-motora), a Atenção
(capacidade de apreender o estímulo), Concentração (capacidade de se ater a apenas
um estímulo por um período de tempo), Memória (capacidade de reter os estímulos
e suas características), Desenvolvimento do Esquema Corporal (referência de si
mesma) e a Linguagem.

Fonte: https://neurosaber.com.br/reabilitacao-de-disturbios-psicomotores/

A educação psicomotora possibilita uma formação de base indispensável a toda


criança, pois assegura o desenvolvimento funcional, tendo em conta possibilidades da
criança e ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se por meio do
intercâmbio entre o meio no qual se encontra inserida.

A terapia psicomotora refere-se, particularmente, a todos os casos-problemas


em que a dimensão afetiva parece dominante na instalação inicial do transtorno. Pode

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Os Transtornos Psicomotores da Infância

estar associada à educação psicomotora ou se continuar com ela.

Referimo-nos aqui aos distúrbios manifestados no corpo, mas que não


apresentam nenhuma relação com alterações neurológicas ou orgânicas aparentes.
Tratamos aqui como transtornos psicomotores, aqueles problemas provenientes de
transtornos que comprometem o esquema e a imagem corporal bem, como o tônus
muscular, impossibilitando a criança, por vezes, de apresentar domínio de seu próprio
corpo, resultando em dificuldades em todos os demais elementos psicomotores, e
comprometendo, assim, seu desenvolvimento nos domínios cognitivo, afetivo e
motor.

Ajuriaguerra (1986) descreve “a instabilidade psicomotora é a figura psicomotora


sobre um fundo desorganizado”. A figura é então o sintoma psicomotor, o transtorno.
Na busca pelo significado de transtorno alicerçamo-nos no entendimento de que
“Transtornar” significa alterar a ordem, desorganizar, agitar, perturbar, atrapalhar,
alterar o viver de fazer mudar de opinião (Novo Aurélio séc. XXI). Nesse sentido, o
transtorno psicomotor é uma inquietação corporal causada por uma emoção que
perturba, desorganiza, atrapalha, que altera o viver. O transtorno está à vista,
manifesta-se no próprio corpo (FONSECA, 2008).

A criança, muitas vezes, traz para a escola suas dificuldades traduzidas na forma
de agressividade, agitação, inibição, passividade, dependência, o que possivelmente
influenciará no processo de aprendizagem.

A Psicomotricidade, nesse contexto, oferece um espaço de jogo espontâneo com


o seu grupo, para que possa manifestar suas necessidades e desejos. O espaço a que
se propõe por meio do jogo, será um espaço no qual se busca potencializar e resgatar
o prazer corporal, por meio do movimento, reconhecendo uma unidade corporal, uma
unidade vital indivisível, que é a criança.

O jogo tem algumas premissas básicas, quais sejam: um espaço adequado, com
condições necessárias para movimentos amplos, preservando as seguintes
características:

espontaneidade;

permissividade - não diretivo;

de contenção;

com mediação corporal do adulto.

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Os Transtornos Psicomotores da Infância

Os transtornos do desenvolvimento psicomotor são muito difíceis de definir.


Refletem sempre alterações que afetam vários aspectos do desenvolvimento da
criança; daí a importância de intervir o quanto antes, pois o transtorno pode repercutir
negativamente em outras áreas, agravando e comprometendo todo o
desenvolvimento da criança.

Podemos dizer que, de modo geral, os transtornos psicomotores estão muito


ligados ao mundo afetivo da pessoa; por isso que, na avaliação, devemos contemplar
a globalidade do indivíduo. Normalmente, apresentam como características, de
acordo com Barreto (2000), Oliveira (1997) e Andrade (1984):

dificuldade em dar continuidade às brincadeiras e às produções corporais;

dificuldade para inibir movimentos;

necessidade de estar sempre em movimento;

atitudes expansivas e explosivas;

inquietação e agitação;

incapacidade para relaxar e permanecer quietas;

descontrole emocional e neurovegetativos: sudorese nas mãos, dores de barriga,


vontade de urinar, rubor. - Tiques: involuntário, súbito, rápido e repetitivo. existe nos
tiques um período de “luta”, de controle doloroso, seguido de uma explosão
“liberadora” do movimento, que se transforma em fonte de constrangimento;

paratonia: impossibilidade de relaxar voluntariamente um músculo;

Nesse sentido, podemos dizer que a psicomotricidade é uma possibilidade de


intervenção nos campos: - Físico, ou incidência corporal: aqui tratamos das dispraxia,
perturbações do esquema corporal, de lateralidade, de estruturação temporal e
espacial, problemas psicossomáticos, perturbações da imagem corporal, desarmonias
tónico-emocionais, instabilidade postural dentre outros.

Cognitivo: referentes a déficits de atenção, de memória, de organização


perceptiva, simbólica e conceitual, e outros problemas dessa ordem.

Socioafetivo ou incidência relacional: resultantes em inibição, hiperatividade,


agressividade, dificuldades de comunicação dentre outros.

Destacamos como principais transtornos psicomotores que influenciam os


processos educativos, a instabilidade psicomotora, a inibição psicomotora, a

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Os Transtornos Psicomotores da Infância

debilidade e a dispraxia. Vejamos:

a) Instabilidade psicomotora

Imagine se você conhece uma criança que nunca se contenta em ficar em uma
brincadeira, ela nunca para, e finaliza uma atividade ou brincadeira. Possivelmente, ela
nunca consegue começar e levar a brincadeira até o fim, e isso ela faz com todas as
suas outras produções corporais. Possivelmente, ela apresenta o que chamamos de
uma instabilidade psicomotora, que de acordo com Fonseca (2008) é uma dificuldade
em inibir seus movimentos, provocando ações explosivas e agressivas.

Normalmente, as características dessas crianças persistem no fato de serem


agitadas, ansiosas e inquietas, pois possuem uma grande necessidade em
movimentar-se. Por vezes, são diagnosticadas como hiperativas. Podem, ainda, ter
uma grande tensão muscular e paratonias severas caracterizando uma instabilidade
tensional, ou serem hipotônicas, elásticas e bastante flexíveis, o que chamamos de
estado de deiscência. Em ambos os casos, a causa do transtorno é a falta de limite, a
ausência de corte simbólico (YANEX, 1994).

Segundo Bérgès as Instabilidades Psicomotoras dividem-se em duas grandes


categorias, que se opõem em suas características clínicas:

estado tensional.

estado de deiscência.

Com duas formas de manifestação distintas, presentes em ambos os quadros


clínicos:

manifestação motora, na qual a ação da criança recai sobre os objetos.

- Manifestação postural, aqui a ação da criança recai sobre o próprio corpo.

b) Inibição psicomotora

Neste transtorno, a criança não usa seu corpo para relacionar-se com o mundo
ou com os outros. É o oposto da instabilidade, pois também há uma falta de limite,
mas esta falta barra o agir da criança. Ela mostra-se, então, sempre cansada,
demonstrando pouca expressão facial e corporal. Seu aspecto é de extrema fragilidade
e debilidade e é nele que se reconhece e é reconhecida. São crianças “quietinhas

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Os Transtornos Psicomotores da Infância

demais”. Segundo Levin (1995), “a criança inibida, diferentemente da instável, possui


outra estratégia para não se separar do outro, ser o ‘objeto bom’ de seus pais, os quais
usam expressar-se do seguinte modo: ‘É como se não estivesse’, ‘Nem dá para ouvir’,
‘Não briga com ninguém’, ‘Passa inadvertidamente”.

c) Debilidade

Debilidade motora no entendimento de Ajuriaguerra (1986) é o “estado de


insuficiência, de imperfeição das funções motoras consideradas em função de sua
adaptação aos atos ordinários da vida” (p.232).

É caracterizada pela presença de paratonias e sincinesias. A paratonia é a


persistência de uma rigidez muscular caracterizada por uma inadequada incontinência
das reações tônicas. Pode aparecer nos quatro membros ou apenas em dois. Há uma
instabilidade na posição estática ou quando a criança caminha ou corre devido à
rigidez.

A sincinesia é caracterizada pela ação de músculos que não atuam em


determinado movimento. Um exemplo desta situação é a criança fechar também a
mão esquerda quando pega um objeto com a mão direita. Isto a impede de realizar
atos coordenados e com ritmo devido a sua descontinuidade nos gestos e imprecisão
dos movimentos. Podem aparecer ainda outros sintomas como tremores na língua,
lábios, pálpebras e dedos quando estes são solicitados para a execução de um
determinado movimento. A afetividade e a intelectualidade também podem estar
comprometidas. A criança, geralmente, demonstra certa apatia e tem sonolência
maior que as outras crianças. A linguagem é atrasada e a atenção, prejudicada.

d) Dispraxia

É a dificuldade em associar movimentos para realizar uma tarefa. Há um


transtorno espacial (dificuldade de lateralizar, de nomear objetos, espelhamento de
letras, assimetria nos movimentos – todos estes aparecendo persistentemente). Há
também um fracasso nos jogos. Um desvio no desenvolvimento cognitivo no que diz
respeito à distinção de aspectos figurativos, o que impede que a criança atinja a fase
de operações concretas. Há uma perturbação do esquema corporal. Quando a
dispraxia é no olhar, além das perturbações perceptivas, há dificuldades posturais e
de equilíbrio.

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A Importância da Avaliação Psicomotora

35 A Importância da Avaliação Psicomotora


Quando pensamos em uma possibilidade de avaliação psicomotora, temos que
ter em mente que não estamos nos referindo a uma forma de classificar a criança, mas
sim estamos buscando uma alternativa, uma possibilidade que auxilie a criança,
principalmente, aquela no início de sua vida escolar, a conseguir alternativas que
colaborem durante esse processo, que permitam que o aprendizado ocorra de forma
significativa, mas acima de tudo prazerosa, que o ato de aprender não seja um
momento de sacrifício e esforço extremo, mas sim um momento no qual há uma
interação e um entendimento acerca do universo que a cerca.

De acordo com Bretas et al. (2005), a investigação do processo evolutivo da


criança e a identificação de problemas relacionados ao seu desenvolvimento
psicomotor possibilitam a intervenção precoce em atrasos evolutivos e a
implementação de programas de estimulação para crianças com distúrbios de
desenvolvimento, em risco, ou somente com a intenção de enriquecimento do
ambiente estimulador, isto porque o objetivo formal da intervenção precoce é reduzir
os efeitos negativos de uma história de alto risco, que, normalmente, caracteriza a
evolução de crianças deficientes ou de risco; pois muitas crianças sofreram a influência
de vivências empobrecidas, no meio familiar e em ambientes como creches e escolas
(BRETAS et al, 2001).

Nesse sentido, quando buscamos reconhecer os possíveis distúrbios que


acometem a criança, estamos buscando entender/conhecer/compreender quais as
necessidades que ela apresenta para o aprendizado.

Antes da alfabetização é necessário que a criança tenha em seu corpo a


experiência da cor, da espessura, da longitude, da latitude, da trajetória, do ângulo, da
forma, da orientação e da projeção espacial. Neste sentido, a educação psicomotora
é válida, tanto para o pré-escolar e escolar normal, assim como para crianças com
deficiência mental, pois o ponto de partida para todos é a noção do próprio corpo,
sua classificação e tomada de consciência que constituem o esquema corporal. Le
Boulch (1996) refere que a educação psicomotora deveria ser considerada como uma
educação de base na escola fundamental.

A identificação precoce de desvios do desenvolvimento exige que se abordem,


simultaneamente, as aquisições filogenéticas fundamentais da espécie humana e as
aquisições ontogenéticas da criança, pondo em jogo uma perspectiva evolutiva do
seu desenvolvimento (FONSECA, 1990).

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Referências

É por meio da avaliação psicomotora que organizamos e escolhemos as


estratégias para que os saberes possam ser realmente compreendidos pela criança,
uma vez que aqui consideramos sempre a individualidade, e o aprender a partir da
gestualidade, do movimento, do brincar, do jogo. Enfim organizamos um contexto no
qual a participação permite a construção de um conhecimento que extrapole o uso
de lápis e papel. Haja vista que a organização passa a ver a criança como um todo
integrado.

O que significa dizer que a organização psicomotora considera, em primeiro


lugar, a organização motora de base e, posteriormente, a organização proprioceptiva,
suspensão dos reflexos, produtos da maturação mesencefálica e medular; a
organização do plano motor, a melodia do movimento, o enriquecimento gnósico, a
socialização, a automatização, o ritmo, o espaço, a linguagem, a percepção do corpo
(FONSECA, 1994).

Nesse sentido, entendemos aqui que a avaliação motora é uma possibilidade de


trabalhar com a criança de tal forma que possamos prepará-la para o aprendizado,
favorecendo que haja sempre o respeito às necessidades e às individualidades de cada
criança envolvida no contexto.

36 Referências
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