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FILOSOFIA NA VEIA
FILOSOFIA NA VEIA
REFLEXÕES E EXPERIÊNCIAS
Organizador
Francisco Atualpa Ribeiro Filho
Diagramação: Marcelo Alves
Capa: Gabrielle do Carmo
247p.
ISBN 978-65-85725-97-2
DOI 10.22350/9786585725972
CDU 14/141
PREFÁCIO 9
Francisco Atualpa Ribeiro Filho
1 15
A COMUNICAÇÃO DE FELIZ ANO NOVO E A NECESSIDADE DO MAL: O ENCONTRO
ENTRE RUBEM FONSECA E GEORGES BATAILLE NA SALA DE AULA
Francisco Atualpa Ribeiro Filho
2 47
A CONCEPÇÃO DO VIVER E DO MORRER NAS OBRAS DE LÚCIO ANNEU SÊNECA
Adão Lopes da Silva
Francisco Atualpa Ribeiro Filho
3 69
A DÚVIDA METÓDICA EM RENÉ DESCARTES
Aline Silva Alves
Francisco Atualpa Ribeiro Filho
4 101
REFLEXÕES INSPIRADAS NA OBRA “PENSAMENTOS” DE BLAISE PASCAL
Lya Neanne Louzeiro Costa
Francisco Atualpa Ribeiro Filho
5 131
ÉTICA E POLÍTICA EM NICOLAU MAQUIAVEL
América Dayana de Carvalho e Guedes
Francisco Atualpa Ribeiro Filho
6 151
CISÃO ENTRE POLÍTICA E ÉTICA NA OBRA O PRÍNCIPE DE NICOLAU MAQUIAVEL
Arnon Santana Fernandes Gama
Francisco Atualpa Ribeiro Filho
7 179
O PROJETO KANTIANO DE PAZ PERPÉTUA
Weuller Carvalho Barreira Sales
Francisco Atualpa Ribeiro Filho
8 207
O CONCEITO DE VIOLÊNCIA NO ENSAIO SOBRE A VIOLÊNCIA DE HANNAH ARENDT
Sônia Maria de Aguiar Cana Verde
Francisco Atualpa Ribeiro Filho
PREFÁCIO
Francisco Atualpa Ribeiro Filho
Caros leitores,
INTRODUÇÃO
1
O presente artigo é um recorte da Pesquisa de Mestrado em Filosofia, tendo como título: As
manifestações da barbárie no ambiente escolar: o encontro entre a educação emancipadora de
Theodor Adorno e a literatura transgressora de Georges Bataille como práxis filosófico-literária.
2
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí; Licenciado em Filosofia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie; Licenciado em Sociologia pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER);
Bacharel em Administração Pública pela Universidade Estadual do Piauí. Especialização em: Docência do
Ensino Superior (UNOPAR); Gestão Pública Municipal (UESPI); Gestão Educacional em Rede EaD (UFPI);
Atualmente é orientador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da Faculdade
do Cerrado Piauiense (FCP) e Professor de Filosofia da SEDUC-CE. Lattes: http://lattes.cnpq.br/
1491096614911103. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2256-4336E-mail: farf25@gmail.com
16 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
televisivas, não passa apenas de uma notícia, tendo em vista que não
podem pertencer a esse mundo: “Vi na televisão que as lojas bacanas
estavam vendendo adoidado roupas ricas para as madames vestirem no
réveillon. Vi também que as casas de artigos finos para comer e beber
tinham vendido todo o estoque” (FONSECA, 2012, p. 13). As personagens
Pereba e Zequinha tentam superar a necessidade que possuem de se
encaixar na sociedade, de serem aceitos imaginado possuíram tais
objetos.
A cena do assalto sugere uma rotina que se alimenta da violência
por ser a única forma de continuar sobrevivendo. O que impressiona é
a consciência dos bandidos de seu estado marginal e do desprezo que a
classe abastada possui por eles. Isso pode ser constatado quando um dos
empresários resolve acalmar a situação e trazer conforto aos outros
reféns. Assim, os lances do assalto sugerem uma rotina que se
retroalimenta das agressões, sendo esta, a única forma de continuar
existindo e de conquistar flertes com o mundo das propagandas.
Quanto a esse cenário, Bataille salienta que a violência carrega em
si um drama paradoxal. Esses exemplos literários “de toda maneira,
afirmam, é o valor soberano das violências, dos excessos, dos crimes,
dos suplícios. Assim, infringem esse profundo silêncio que é próprio à
violência, a qual nunca diz que existe, e nunca afirma um direito de
existir, apenas existe sem dizê-lo” (BATAILLE, 2017a, p. 216). Nesse
sentido, Fonseca (2012) fala em nome da violência dos esquecidos,
mostra o assassino, a prostituta, o interesse financeiro e não obstante
terem vivido em épocas distintas, apesar do clima opressivo da ditadura
brasileira ou do totalitarismo do nazifascismo.
O autor de Feliz ano novo (2012) converge à postura batailliana,
haja vista que “deixou falar nele a revolta: falou, o que, sozinha, a
Francisco Atualpa Ribeiro Filho • 21
3
Na obra Sobre Nietzsche: a vontade de chance de 1945, Bataille, desloca a vontade de poder nietzschiana
para a vontade de chance. Os escritos de Bataille sobre Nietzsche constituem em grande medida uma
tentativa de desnazificação, ou seja, acabar com esse equívoco vulgar de encontrar semelhanças na
filosofia nietzschiana que justifiquem a eugenia nazifascista. É provável inclusive para o francês que
Nietzsche tenha dado um prognóstico da situação alemã. A filosofia de nietzschiana é incompatível com
qualquer ideia racista e antissemítica.
26 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
4
Nessa disputa “o declínio – corresponde aos momentos de esgotamento, de cansaço – atribui todo
valor à preocupação de conservar e enriquecer o ser. É dele que procedem as regras morais” (BATAILLE,
2017c, p. 57). A comunicação que Bataille fala refere-se ao crime da crucificação de Cristo. A condição
para que houvesse “comunicação” entre Deus e os homens, inundados no pecado, foi permitir o
assassinato de seu próprio Filho. Caso o homem permanecesse ensimesmado em seu isolamento – que
para o autor é um mal terrível e talvez maior – não haveria comunhão.
Francisco Atualpa Ribeiro Filho • 27
como mal ao bem. O ápice não é ‘aquilo que é preciso atingir’; o declínio,
‘aquilo que é preciso suprimir’” (BATAILLE, 2017b, p. 72, grifo do autor).
A hipermoral e para outros pensadores metaética não pode ser
definida simplesmente como “bem” que deve ser alcançado e “mal” que
deve ser evitada. Isto é inconsistente com as categorias tradicionais de
julgamento moral, tais como aquelas baseadas em dualismos, como
certo e errado, certo e errado. Bataille sugere, em vez disso, que a
metamoralidade representa uma dimensão da experiência humana que
transcende as categorias morais convencionais. É uma força que se
manifesta de formas imprevisíveis e muitas vezes perturbadoras,
desafiando os nossos entendimentos e noções tradicionais de
moralidade.
A busca por uma verdade absoluta, uma conduta ilibada, uma vida
sem falhas produz um clima inescapável às ações morais declinantes. O
ápice enquanto inacessibilidade aponta à descida do ser, porém isso não
impede que o ser deseja alcançá-lo, o que não pode significar uma
abolição ou revolta de regras morais, tendo em vista que se entende sua
aceitação como impotente ou como parte de um processo humanizador.
Bataille postula liberdade e autonomia como os desejos mais
intensos do ser, todavia não há autonomia sem a aplicação do máximo
de força possível, de excesso extremo de energia e, com isso, não há
sentido subordinar a moral às categorias de bem e mal, de resiliência ou
de dever, pois “é deixando a interrogação aberta em mim como uma
chaga que guardo uma chance, um acesso possível a ele”, ao ápice moral
(BATAILLE, 2017b, p. 77).
Nessa via dilacerante que a hipermoral extrapola na festa da
sensualidade e do prazer, caminhos para alcançá-la, Bataille faz um
alerta que o ápice moral não pode servir apenas a um grupo de pessoas
30 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
3. LOCUS DA PESQUISA
Esses são apenas alguns dos possíveis resultados que podem ser
alcançados com a aplicação dessa metodologia. É importante ressaltar
que cada aluno terá sua própria experiência e poderá extrair
aprendizados individuais, criando um ambiente enriquecedor para o
desenvolvimento intelectual, emocional e social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
FONSECA, Rubem. Feliz Ano Novo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
Francisco Atualpa Ribeiro Filho • 45
NUNES, Benedito. Poesia e filosofia, uma transa. In: Filosofia e literatura: uma relação
transacional. Luiz Rohden; Cecília Pires (org.). Ijuí: Unijuí, 2009.
INTRODUÇÃO
1
Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.
2
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí; Licenciado em Filosofia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie; Bacharel em Administração Pública pela Universidade Estadual do Piauí.
Especialização em: Docência do Ensino Superior (UNOPAR); Gestão Pública Municipal (UESPI); Gestão
Educacional em Rede EaD (UFPI); Licenciando em Letras Português pela Estácio. Atualmente é
orientador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da FCP e professor efetivo
da SEDUC-CE. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1491096614911103. E-mail: farf25@gmail.com.
48 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
[...] mármores, ouros, pratas, grandes mesas redondas e polidas — são pesos
terrenos que não podem atrair uma alma pura e que lembra sua natureza,
imune de tal vício e pronta para voar ao céu assim que liberta do corpo, e,
no entanto, observa as coisas divinas com pensamento incansável (SÊNECA,
2008, p. 09).
Estas coisas que vês nos cercarem: os ossos, os nervos, a pele que nos cobre,
a face, as mãos que nos servem e as outras coisas petas quais somos
envolvidos, são liames e trevas da alma. Por eles a alma é oprimida,
sufocada, manchada, afastada da verdade e do seu próprio mundo, presa no
ermo. Toda a sua luta é com esta carne que pesa para que não seja arrastada
e enfraquecida; esforçasse para retomar ao lugar de onde desceu: ali, a ela,
que do caos e da treva sai para ver as puras claridades, espera-a a paz da
eternidade.
[...] Portanto esse aí não é ocioso; dá-lhe outro nome: ele está doente, ou,
melhor ainda, está morto. É ocioso o que é também consciente de seu lazer.
Mas este semi- vivo, que precisa de alguém que lhe indique a postura do
próprio corpo, como poderia ser senhor de um momento sequer de sua
vida? (SÊNECA, 1993, p. 07).
[...] Vemos que chegaste ao fim da vida, contas já cem ou mais anos. Vamos!
Faz o cômputo de tua existência. Calcula quanto deste tempo credor,
amante, superior ou cliente, te subtraiu e quanto ainda as querelas
conjugais, as reprimendas aos escravos, as atarefadas perambulações pela
cidade; acrescenta as doenças que nós próprios nos causamos e também
todo o tempo perdido: verás que tens menos anos de vida do que contas.
Quantos não terão esbanjado tua vida, sem que percebesses o que estavas
perdendo; o quanto de tua vida não subtraíram sofrimentos desnecessários,
tolos contentamentos, ávidas paixões, inúteis conversações, e quão pouco
não te restou do que era teu! (SÊNECA, 1993, p. 02).
[...] mesmo se ele desejar essas coisas somente porque são necessárias, não
lhe faltará nem teto nem trapo para vestir. Como com pouco se nutre, assim
com pouco se veste o corpo humano: a natureza quis que as necessidades,
que ela deu ao homem, não fossem difíceis de satisfazer.
[...] qual é pois o motivo? Vivestes como se fósseis viver para sempre, nunca
vos ocorreu que sois frágeis, não notais quanto tempo já passou; vós o
perdeis, como se ele fosse farto e abundante, ao passo que aquele mesmo
dia que é dado ao serviço de outro homem ou outra coisa seja o último.
A vida nos foi dada para a realização das maiores coisas, se a empregamos
bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a
empregamos em nada de bom, então, finalmente constrangidos pela
fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos
percebido (SÊNECA, 1993, p. 01).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LI, Willian. Introdução. In: SÊNECA, Lúcio Anneu. Sobre a brevidade da vida. Disponível em:
<http://www.filosofia.com.br/livros_inteiros.php?pg=19>. Acesso em: 05 abril 2017.
Sobre a brevidade da vida / Sêneca: Tradução e notas Willian LI. São Paulo SP: Editora
Novalexandria, 1993.
RAYSA, Aryane Araujo dos Santos, O Conceito de Firmeza de Alma nas Cartas a Lucilio
de Sêneca, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Piauí, 2016,
repositorio.ufpi.br/xmlui/handle/123456789/710 – Acesso em 05 abril 2018
“Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os
haver tentado abrir”.
(René Descartes)
INTRODUÇÃO
1
Possui Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí (2018), pós-graduada do curso de
especialização em psicopedagogia clínica e institucional pela Faculdade Única, de Ipatinga MG (2022).
Aline Silva Alves. Lattes: http://lattes.cnpq.br/6705827590730106.
2
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí; Licenciado em Filosofia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie; Bacharel em Administração Pública pela Universidade Estadual do Piauí.
Especializações em: Docência do Ensino Superior (UNOPAR); Gestão Pública Municipal (UESPI); Gestão
Educacional em Rede EaD (UFPI); Licenciando em Letras Português pela Estácio. Atualmente é
orientador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da FCP e professor efetivo
da SEDUC-CE. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1491096614911103. E-mail: farf25@gmail.com.
70 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
1. O PROBLEMA DO MÉTODO
[…] tudo o que admitir até agora como o que há de mais verdadeiro, eu o
recebi dos sentidos ou pelos sentidos. Ora notei que os sentidos às vezes
enganam e é prudente nunca confiar completamente nos que, seja uma vez,
nos enganaram (DESCARTES, 2004, p. 22).
Desse modo, o maior proveito que tirava disso era que, vendo uma quantidade
de coisas que, embora nos pareçam muito extravagantes e ridículas, não
deixam de ser geralmente atacadas e aprovadas por outros grandes povos,
aprendia a não acreditar com demasiada convicção em nada daquilo que me
havia sido inculcado só pelo exemplo e pelo costume. Assim, aos poucos,
conseguia livrar-me de muitos erros que podem ofuscar nossa luz natural e
nos tornar menos capazes de ouvir a razão (DESCARTES, 2006, p. 15).
usuais, isto é, que estava aqui, vestindo essa roupa, sentado junto ao fogo,
quando estava, porém, nu, deitado entre as cobertas” (DESCARTES, 2004,
p. 95). O terceiro fundamento questionado, foi a matemática, por quem
ele acreditava ser verdadeira por possuir problemas exatos. Mas de outra
forma, sentiu a necessidade de pôr em dúvidas, para encontrar uma
verdadeira certeza. Nesse sentido,
não recearei dizer, porém, que penso ter tido muita felicidade de me haver
encontrado, desde a juventude, em determinados caminhos que me levaram
a considerações e máximas, por meio das quais formei um método, pelo qual
me parece que eu consiga aumentar de forma gradual meu conhecimento e
de elevá-lo, pouco a pouco, ao mais alto nível, a que a mediocridade de meu
espírito e a curta duração de minha vida lhe permitam alcançar
(DESCARTES, 2006, p. 11).
Fui instruído nas letras desde a infância e por ter sido convencido de que,
por meio delas, se poderia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo
o que é útil a vida, sentia extraordinário desejo de aprendê-las. Logo que
terminei, porém, todo esse curso de estudos, no fim do qual é costume ser
recebido na classe dos eruditos, mudei totalmente de opinião. Encontrava-
me enleado em tantas dúvidas e erros que me parecia não haver conseguido
outro proveito, procurando instruir-me, senão o de ter descoberto cada vez
mais minha ignorância (DESCARTES, 2006, p. 12).
82 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
2. O MÉTODO CARTESIANO
permanecer parados num local, mas caminhar sempre o mais reto possível
para um mesmo lado e não o mudar por qualquer motivo (DESCARTES,
2006, p. 25).
Chega um ponto em que Descartes dúvida até das coisas que para ele
era considerada como verdadeira. Assim sendo, observa Descartes que
supostamente Deus poderia ser uma espécie de um gênio maligno, já que
não o conhecemos por natureza. Em suas palavras: “Suporei, pois, que há
não um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte da verdade, mais certo
gênio maligno não menos ardiloso e enganador do que poderoso que
empregou toda a sua indústria em enganar-me” (DESCARTES, 2004, p. 96).
Acontece que, na primeira parte das “Meditações”, René Descartes
deixa uma pilha de dúvidas, que segundo ele são ideias de um gênio
maligno, meras contradições instituídas as percepções divinas. Sugere
a suposição de um Deus enganador, e outros fins, que considera fontes
de dúvidas a fim de encontrar uma certeza. “[...] eis porque tomarei
cuidado para não receber em minhas crenças nenhuma falsidade, a fim
de que esse enganador, por mais poderoso e por mais astuto que ele seja
nada possa me impor” (DESCARTES, 2004, p. 33).
No entanto, o gênio maligno é considerado por Descartes, uma
espécie de um suposto Deus enganador, que contrariou o seu passado, e
alimentou o seu pensamento com ideias ilusórias. Em meio a tantas
dúvidas o filósofo põe em cena a questão do gênio maligno sendo um
Deus enganador.
Não tenho por certa nenhuma ocasião de julgar que há um Deus enganador.
[...]Tão logo a ocasião se apresente, devo examinar se há um Deus e,
havendo, se pode ser enganador. Pois, na ignorância disso, não pareça que
eu possa jamais está completamente certo de nenhuma outra coisa”
(DESCARTES, 2004, p. 73).
[...] ao refletir sobre aquilo que eu duvidava e que, por conseguinte, meu ser
não era totalmente perfeito, pois via claramente que o conhecer é perfeição
maior do que duvidar, decidi procurar de onde havia aprendido a pensar em
algo mais perfeito do que eu era. Descobri evidentemente que fosse de alguma
natureza que fosse realmente mais perfeita (DESCARTES, 2006, p. 31).
O primeiro era nunca aceitar uma coisa como verdadeira que eu não
conhecesse evidentemente como tal, ou seja, de evitar cuidadosamente a
precipitação e a prevenção e de nada mais incluir em meus juízos que não
se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito, que eu não tivesse
motivo algum de duvidar dele (DESCARTES, 2006, p. 21).
O segundo preceito era a regra da análise, “[...] dividir cada uma das
dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quantas fossem
94 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
Porém, percebi que, enquanto eu queria pensar assim que tudo era falso,
convinha necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. Ao
notar que esta verdade “eu penso, logo existo”, era tão sólida e tão correta
que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes
de abalá-la, julguei que podia atacá-la sem escrúpulo como o primeiro
princípio da filosofia que eu procurava (DESCARTES, 2006, p.31).
Examinando com atenção o que eu era e notando que podia fingir que eu
não possuía corpo algum e que não havia mundo algum ou qualquer lugar
onde eu existisse, mais que nem por isso podia supor que não existia e que,
ao contrário, pelo fato mesmo de pensar em duvidar da verdade de outras
coisas, seguia-se de modo muito evidente e muito certo de que eu existia
(DESCARTES, 2006, p. 31).
não era motivo para acreditar que não existia. Notando que, seria capaz
de duvidar das verdades de outras coisas, garantiu-se, que
evidentemente existia. Isto é, Descartes procura radicalizar a dúvida
transformando em conhecimentos. Assim a dúvida deixa de ser
hiperbólica e passa a ser indubitável.
A expressão eu sou, eu existo é considerado por René Descartes,
como a afirmação da primeira certeza: o cogito. Segundo Jesus (1997, p.
46), “[...] o que garante do eu existo é o modo de pensar. O que dá a
certeza da existência é o fato de estar pensando”. Portanto, a garantia
da certeza é o fato da convenção de pensar. A certeza do cogito, uma vez
que para duvidar é necessário pensar, e para pensar é preciso existir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DESCARTES, René. Discurso do método. Ed. São Paulo. Editora. Escala educacional 2006.
INTRODUÇÃO
1
Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí – UFPI; Licenciatura em Ciências Biológicas
pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
2
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí; Licenciado em Filosofia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie; Bacharel em Administração Pública pela Universidade Estadual do Piauí.
Especializações em: Docência do Ensino Superior (UNOPAR); Gestão Pública Municipal (UESPI); Gestão
Educacional em Rede EaD (UFPI); Licenciando em Letras Português pela Estácio. Atualmente é
orientador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da FCP e professor efetivo
da SEDUC-CE. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1491096614911103. E-mail: farf25@gmail.com.
102 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
Para mim, confesso que logo que a religião cristã descobre este princípio:
que a natureza dos homens é corrompida e decaída de Deus, isso abre os
olhos a ver por toda parte o caráter dessa verdade; com efeito, a natureza é
tal que assinala por toda parte um Deus perdido, quer no homem, quer fora
do homem.
3
Deve-se pontuar que, Blaise Pascal “foi exceção em sua época. Enquanto a maioria dos filósofos vivia
quase exclusivamente de herança de Descartes, o autor que defendia o racionalismo e a especulação
lógica, fria, clara e precisa aplicados a toda e qualquer forma de ciência, seja ela exata ou humana, Pascal
moveu, então, uma guerra encarniçada contra esses conceitos” (KOGEYAMA, 2014, p. 44). Porém, o
apologista é sutil e cauteloso, pois não cita em nenhum momento o mentor da geometria cartesiana
(René Descartes) onde pretende condensar tudo às ideias “claras” e “distintas” (PASCAL, 2010, p. 19, fr.
76-79).
108 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
Confesso que um desses cristãos que creem sem provas não terá, talvez, com
que convencer um infiel que lhe alegra tal coisa. Mas, os que conhecem as
provas da religião provarão sem dificuldade que esse fiel é verdadeiramente
inspirado por Deus, embora não possa prová-lo ele próprio (PASCAL, 2010,
p. 33).
Existem certas pessoas que para fazer ver que estão errados quem não
estimá-las, que não se prive de alegrar exemplos de pessoas importantes
que se preocupam com elas. Eu vos queria responder: mostrai-nos o mérito
pelo qual essas pessoas vos estimam que nós vos estimemos igualmente.
Eis, pois, a guerra aberta entre os homens. É preciso que cada um tome
partido, que se renda ou ao dogmatismo ou ao pirronismo, pois quem
pensasse em conservar neutro será pirronista por excelência (157), essa
neutralidade será a essência do pirronismo, quem não está contra eles, está
certamente com eles (PASCAL, 2010, p. 82).
114 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
A primeira coisa que se mostra no homem, quando se olha para ele, é o seu
corpo, quer dizer certa porção de matéria que lhe é própria. Mas para
compreender o que ele é, precisa-se comparar com tudo o que existe ao
redor dele e o que o circunda a fim de conhecer os seus limites.
Pascal nos lembra que, embora o corpo seja a parte mais óbvia e
visível do ser humano, a verdadeira compreensão da natureza humana
requer a consideração de como os seres humanos se encaixam no
contexto do mundo ao seu redor. Essa abordagem relacional nos
convida a explorar as complexas interações entre os seres humanos e o
universo, destacando a importância de entender nossa existência em
relação ao mundo maior em que vivemos. É uma perspectiva que ecoa
muitos temas filosóficos, incluindo a relação entre o indivíduo e o
cosmos, a existência relativa e a busca da verdade. Diante disso,
Gouhier, (2005, p. 202) elucida que:
se onde é preciso. Quem não faz assim não entende a força da razão
(PASCAL, 2010, p. 29).
São através dos objetos que é transmitido sentimentos que vai para
o coração que percebemos e sentimos nossas percepções, do que nos
rodeia primeiramente parte das emoções e logo depois vem em forma de
sentimentos. Sendo Deus a fonte de inspiração de tudo, todavia, o que
sentimos, por exemplo, as emoções passam a instigar o nosso corpo; logo
depois chega ao nosso consciente, a seguir ele trabalha e reage de acordo
com os impulsos que são mandados, isto é, nós as sentimos, e por último
debatemos sobre esses determinados assuntos que foram sentidos.
Pascal (2010) destaca a importância dos “conhecimentos dos
primeiros princípios” que surgem do conjunto de percepções e emoções.
Esses conhecimentos fundamentais não são estritamente racionais,
Lya Neanne Louzeiro Costa; Francisco Atualpa Ribeiro Filho • 119
circunstâncias e das condições que vivem. Com isso, Pascal (2010, p. 86)
pontua que
O homem passa a reconhecer que este é tão infeliz pelo simples fato
de conhecer suas próprias condições naturais e fraquezas. Esses dois
instintos formam um projeto confuso no interior da alma, agindo como
um ser miserável e como um ser grandioso, ora um, ora outro. Pascal
sobre os instintos humanos revela uma dualidade inerente à natureza
humana. Ele descreve o homem como impulsionado por dois instintos
secretos. O primeiro, motivado pela insatisfação constante, leva as
pessoas a buscar distrações e ocupações externas, como uma forma de
escapar do vazio ou da falta que sentem. O segundo instinto, que
Lya Neanne Louzeiro Costa; Francisco Atualpa Ribeiro Filho • 123
Nós somos tão presunçosos que queríamos ser conhecidos em toda a terra
e mesmo daqueles que virão quando nós não estivermos mais aqui. E nós
somos tão vaidosos que a estima que nos rodeia nos ilude e nos deixa
contentes (PASCAL, 2010, p. 89).
Que não se limite, pois, a olhar simplesmente os objetos que o rodeiam. Que
se contemple a natureza na sua alta e plena majestade [...]. Ela se deixará,
acima de tudo, de conhecer o que a natureza lhe oferece. Tudo o que nós
vemos do mundo não é senão um traço imperceptível no amplo seio da
natureza (PASCAL, 2010, p. 85).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BESSA, Karla Cristina. Por que ser moral?. São Paulo: Loyola, 2006.
GOUHIER, Henri. Pascal: com dois ensaios sobre o paradoxo em Pascal. Edições 70, 2005.
PONDÉ, Luiz Felipe. Filosofia para corajosos. São Paulo: Leya, 2001.
ÉTICA E POLÍTICA EM NICOLAU MAQUIAVEL
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América Dayana de Carvalho e Guedes 1
INTRODUÇÃO
1
Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.
2
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí; Licenciado em Filosofia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie; Bacharel em Administração Pública pela Universidade Estadual do Piauí.
Especialização em: Docência do Ensino Superior (UNOPAR); Gestão Pública Municipal (UESPI); Gestão
Educacional em Rede EaD (UFPI); Licenciando em Letras Português pela Estácio. Atualmente é
orientador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da FCP e professor efetivo
da SEDUC-CE. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1491096614911103. E-mail: farf25@gmail.com.
132 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AMARAL, Márcia do. Maquiavel e as relações entre ética e política. In: Ensaios
Filosóficos, v. 5, p. 25-37, 2012.
GUIMARAES, Carlos Nunes. Maquiavel e Max Weber: ética e realismo político. In:
Argumentos Revista de Filosofia, Fortaleza, v. 2, n. 4, p. 38-45, 2010. Carlos
Alexandre Michaello Marques.
_______. O Príncipe. Tradução de Edson Bini. 12ª ed., São Paulo: Hemus, 1996.
NEDEL, José. Maquiavel: concepção antropológica e ética. Porto Alegre: Edipucrs, 1996.
VÁZQUEZ, Adolgo Sánchez. Ética. 24ª ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003.
6
CISÃO ENTRE POLÍTICA E ÉTICA NA OBRA O
PRÍNCIPE DE NICOLAU MAQUIAVEL
Arnon Santana Fernandes Gama 1
Francisco Atualpa Ribeiro Filho 2
INTRODUÇÃO
1
Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.
2
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí; Licenciado em Filosofia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie; Bacharel em Administração Pública pela Universidade Estadual do Piauí.
Especialização em: Docência do Ensino Superior (UNOPAR); Gestão Pública Municipal (UESPI); Gestão
Educacional em Rede EaD (UFPI); Licenciando em Letras Português pela Estácio. Atualmente é
orientador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da FCP e professor efetivo
da SEDUC-CE. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1491096614911103. E-mail: farf25@gmail.com..
152 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
Falamos num ‘poder maquiavélico’ para nos referir a um poder que age
secretamente nos bastidores, mantendo suas intenções e finalidades
desconhecidas para os cidadãos; que afirma que os fins justificam os meios
e usa meios imorais, violentos e perversos para conseguir o que quer [...]
esperando que os jogadores causem a si mesmos sua própria ruína e
destruição (CHAUÍ, 2012, p. 339).
Com isso, um dos diversos motivos pelos quais essa confusão tem
ocorrido é pelo pretexto de que Maquiavel está inserido em um grupo
de pensadores dos quais comumente se ouve falar, mas tampouco se
sabe sobre eles, ou seja, não se conhece a essência de seu conteúdo.
Nesse sentido, Martíns (1996, p. 23) acredita que:
principados novos (conquista do poder por aqueles que ainda não eram
príncipes).
Nas palavras de Maquiavel (2001, p. 03):
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BITTAR, E. C. B. Curso de Filosofia Política. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 145, 146.
178 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
CHAUÍ, M. Iniciação à Filosofia. Volume Único. São Paulo: Ática, 2012. p. 338, 339, 341,
342.
MARIA, S.; SOUZA, R. de. Um Outro Olhar. São Paulo: FTD, 1995. p. 154, 160.
MARTÍNS, C. E. “Vida e Obra”. In: Maquiavel. Col. Os pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 1996. p. 23.
SADEK, M. T. Nicolau Maquiavel: O cidadão sem fortuna, o intelectual sem virtù. In:
WEFFORT, Francisco (Org.). Os clássicos da política. 8. ed. v. 1. São Paulo: Ática, 1997.
p. 14, 20, 24.
WEFFORT, F. C. Os Clássicos da Política. v. 1. 14. ed. 6. reimp. São Paulo: Ática, 2010. p.
21.
INTRODUÇÃO
1
Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí – UFPI; Bacharel em Direito pela
Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
2
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí; Licenciado em Filosofia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie; Bacharel em Administração Pública pela Universidade Estadual do Piauí.
Especialização em: Docência do Ensino Superior (UNOPAR); Gestão Pública Municipal (UESPI); Gestão
Educacional em Rede EaD (UFPI); Licenciando em Letras Português pela Estácio. Atualmente é
orientador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da FCP e professor efetivo
da SEDUC-CE. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1491096614911103. E-mail: farf25@gmail.com.
180 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
Mas é em 1795 que Kant divulga um texto que serviria de base para
este trabalho de conclusão de curso, um projeto denominado de “A Paz
Perpétua”, com a finalidade de estabelecer um contrato nos diversos
estados europeus, e consequentemente em todo o mundo, desde a
extinção das guerras. Trata-se de uma obra de caráter legal, cujo
objetivo é instruir os homens em um estado de paz cessando todas as
hostilidades entres as nações.
O tratado aborda toda a normatização e os pressupostos para se ter
entre os estados o fim das guerras. O conteúdo do projeto se divide em
duas seções, a primeira, com seis artigos preliminares e a segunda três
definitivos. Os seis primeiros contendo normas de cunho proibitivo,
com a intenção de promover a paz. Há ainda na obra, dois suplementos,
o primeiro tratando de uma garantia da paz perpétua, e o segundo, um
artigo secreto para a paz perpétua. Os dois apêndices finais falam
respectivamente, da discrepância entre a moral e a política e da
harmonia da política com a moral.
Nessa perspectiva, este trabalho de cunho monográfico tem como
escopo fazer uma reflexão sobre a obra “A Paz Perpétua”. Inicialmente
descobrindo o objetivo que levou Kant, de propor este tratado.
Conjuntamente far-se-á a devida correspondência com assuntos
abordados neste trabalho com o que Kant aborda em “Metafísica dos
Costumes” e “Crítica da razão prática”, e tratar de temas como a moral
e o direito, essenciais para a compreensão da referida obra. Ao final
deste capítulo, serão observadas as normas que propôs o autor para se
ter paz entre os estados, os artigos preliminares.
No segundo momento, tratar-se-á sobre a importância do regime
republicano para a construção da paz perpétua, enfatizando
especificamente o conceito de republicanismo e de direito cosmopolita
182 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
em Kant. Por fim, nesta seção será proposto uma reflexão do que Kant
chamou de confederação dos estados livres. O último capítulo deste
trabalho monográfico, irá tratar da natureza intrínseca da moral e a
política para haver paz, irá discorrer ainda acerca da relação, muitas
vezes controversa entre a moral e a política e a influência do projeto “A
Paz Perpétua” nos vínculos internacionais do século XX, com a formação
da Liga das Nações e consequentemente a criação da Organização das
Nações Unidas em 1948.
Este trabalho de conclusão de curso será desenvolvido com base
um uma pesquisa exploratória através do desenvolvimento de um
modelo de descoberta de conhecimento a partir de bases textuais como
as obras Fundamentação da metafísica dos costumes, “Metafísica dos
Costumes” e especialmente “A Paz Perpétua”. Foi utilizado também
diversos exemplos de monografias de ótimas referências. A metodologia
de desenvolvimento deste trabalho é dividida em três etapas, num
primeiro momento buscando refletir a respeito da gênese da obra, como
também seus artigos que não admitiam concessões. Em seguida, foi
observado a importância do regime republicano para a construção da
paz perpétua, principalmente sobre a luz dos pensamentos de Norberto
Bobbio. Por fim, foi abordado neste trabalho temas como a moral e
política e a influência da obra na criação da ONU.
[...] Neste mundo, e até também fora dele, nada é possível pensar que possa
ser considerado como bom sem limitação a não ser uma só coisa: uma boa
vontade. Discernimento (1), argúcia de espírito (2), capacidade de julgar (3)
e como quer que possam chamar-se os demais talentos do espírito, ou ainda
coragem, decisão, constância de propósito, como qualidades do
temperamento, são sem dúvida a muitos respeitos coisas boas e desejáveis;
mas também podem tornar-se extremamente más e prejudiciais se a
vontade, que haja de fazer uso destes dons naturais e cuja constituição
particular por isso se chama carácter, não for boa.
A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão
para alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão somente pelo querer,
Weuller Carvalho Barreira Sales; Francisco Atualpa Ribeiro Filho • 185
É dito sempre que, as ações más e boas, não são mais ou boas em si
mesmas. O ser humano é o único ser que pode ter sentimentos de maldade
e bondade, visto que é o mesmo que realizará suas ações e tem vontade de
atingir um determinado fim. Ao homem, é dado pela razão a liberdade de
agir, portanto, suas condutas são boas ou más dependendo da vontade do
homem. Para falar sobre metafísica dos costumes, é importante
primeiramente conceituá-la. Norberto Bobbio (2000, p. 84) se refere a
metafísica dos costumes “como o estudo das leis que regulam a conduta
humana sob um ponto de vista meramente racional”.
Kant (2008, p. 13) aclara na introdução da FMC:
2.1 O REPUBLICANISMO
[...] Pelo contrário, numa constituição em que o súbdito não é cidadão, e que
portanto não é uma constituição republicana, a guerra é a coisa mais
simples do mundo, porque o chefe do Estado não é um membro do Estado,
mas o seu proprietário, e a guerra não lhe faz perder o mínimo dos seus
Weuller Carvalho Barreira Sales; Francisco Atualpa Ribeiro Filho • 193
banquetes, das suas caçadas, dos palácios de recreio, das festas cortesãs,
etc., e pode, portanto, decidir a guerra como uma espécie de jogo por causas
insignificantes e confiar indiferentemente a sua justificação por causa do
decoro ao sempre pronto corpo diplomático.
E uma vez que a posse de terra, sobre a qual pode viver um habitante da
terra, só pensável como posse de uma parte de um determinado todo, e
assim na qualidade de posse daquilo a que cada um deles originalmente tem
um direito, segue-se que todas as nações originalmente se acham numa
comunidade do solo, embora não numa comunidade jurídica de posse e,
assim, de uso dele ou de propriedade nele; ao contrário, acham-se numa
comunidade de possível interação física, isto é, numa relação universal de
cada uma com todas as demais de se oferecer para devotar-se ao comércio
com qualquer outra, e cada uma tem o direito de fazer esta tentativa, sem
Weuller Carvalho Barreira Sales; Francisco Atualpa Ribeiro Filho • 195
Toda a pretensão jurídica deve ter a possibilidade de ser publicada; por isso,
a publicidade, já que é muito fácil julgar se ela ocorre num caso concreto,
200 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1
Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí (2018) e graduação em Pedagogia
pela Faculdade Integrada do Brasil (2011). Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Piauí
(2021). Especialista em ensino de Filosofia para o Ensino Médio UFPI Especialista em Ciências da Religião
PROMINAS. Cursando Mestrado Profissional em Filosofia pela UFPI. Servidora efetiva da Secretaria
Estadual de Educação do Piauí - SEDUC. Tem experiência no ensino de Filosofia, Sociologia, História e
Ensino Religioso.
2
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí; Licenciado em Filosofia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie; Bacharel em Administração Pública pela Universidade Estadual do Piauí.
Especialização em: Docência do Ensino Superior (UNOPAR); Gestão Pública Municipal (UESPI); Gestão
Educacional em Rede EaD (UFPI); Licenciando em Letras Português pela Estácio. Atualmente é
orientador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da FCP e professor efetivo
da SEDUC-CE. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1491096614911103. E-mail: farf25@gmail.com.
208 • Filosofia na veia: reflexões e experiências
À Segunda Guerra Mundial não se seguiu a paz, mas sim uma guerra fria e
o estabelecimento de um complexo militar-industrial. Falar da prioridade
do potencial para a luta armada como a principal força de estruturação da
sociedade, sustentar que os sistemas econômicos e as filosofias políticas
servem e estendem o sistema bélico e não vice-versa, concluir que a própria
guerra é o sistema social básico, dentro do qual outros tipos de organização
Sônia Maria de Aguiar Cana Verde; Francisco Atualpa Ribeiro Filho • 213
2. ARENDT E A VIOLÊNCIA
revolução, nem o progresso, nem a reação, mas pode servir para dramatizar
reclamações trazendo-as à atenção do público.
descobriram que se confrontam não com homens, mas sim por artefatos
fabricados pelo homem, cuja desumanidade e força de destruição aumentam
em proporção à distância a separar os inimigos. A violência sempre é dada
para destruir o poder. O que jamais florescerá da violência é o poder.
O poder para Arendt faz parte das estruturas sociais, ou seja, onde
há sociedade, consequentemente também há poder, porém, na visão da
autora, o que se percebe é que na maioria das vezes a ideia de poder está
vinculada à ideia de violência, e Arendt não concorda com a equivalência
dessa linha de pensamento, pois mesmo sabendo que fatores históricos
contribuíram para disseminação dessa ideia, a autora acredita que a
coincidência histórica não pode fazer disso uma verdade. Com isso,
O poder não precisa de justificativas, sendo inerente à própria
existência das comunidades políticas; mas precisa, isto sim, de
legitimidade. [...] O poder é originado sempre que um grupo de pessoas
se reúne e age de comum acordo, porém sua legitimidade deriva da
reunião inicial e não qualquer ação que possa se seguir (ARENDT, 1969,
p. 33).
Em virtude disso é que se acredita que quanto mais poder, menos
violência, visto que o poder precisa apenas de legitimidade para se
sustentar, pois quando há união e acordo entre pessoas ou grupos
haverá também poder legítimo. Quando os grupos se reúnem e entram
em consenso abre-se aí a possibilidade de poder autêntico e
consequentemente a ausência de violência.
Silva e Bruno (2015. p. 11), destacam que:
se ameaçado de extinção, cedendo espaço para algo que lhe substitui, e que
não depende de consentimento, mas da capacidade técnica de gerar
sofrimento e submissão: a violência.
Política é a ciência que trata das relações do poder e para o poder ser
exercido, é preciso que se tenha força, entendida como instrumento para o
exercício do poder. Quando falamos em força, é comum pensar-se
imediatamente em força física, coerção, violência. Na verdade, este é apenas
um dos tipos de força.
Os resultados de uma pesquisa nas áreas das ciências sociais, como das
ciências naturais, tendem a considerar o comportamento violento como
uma reação mais natural do que estaríamos dispostos a aceitar na ausência
destas pesquisas. [...] Os instintos agressivos no reino animal parecem
independer de provocação é natural; se tiver perdido a sua base lógica,
fundamentalmente a sua função de autopreservação, torna-se irracional, e
é esta a suposta razão por que o homem pode ser mais “bestial” do que os
outros animais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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