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Ana Luiza Coelho Netto1, Monica Bahia Schlee2, Sonia Daniela Mena Jara3, Maria Isabel
Martinez4, Osmar Paulino da Silva Júnior5
RESUMO
O presente artigo apresenta resultados preliminares da pesquisa intitulada “Aplicação de
Tecnologias de Infraestrutura Inovadoras em Processos de Regeneração de Rios Neotropicais”,
que tem como objetivo desenvolver uma abordagem integral e local no tratamento de esgotos e
no controle de sedimentos, favorecendo a limpeza e a estocagem de água em bacias com
potencial de abastecimento local de água.
O problema da qualidade das águas e as altas variações da sua disponibilidade na bacia do rio
das Pedras demanda uma abordagem transdisciplinar no tratamento das questões sócio-
ambientais e de infraestrutura, a articulação de métodos e ferramentas complementares de
análise e intervenção e o envolvimento de atores sociais diversos.
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I SIMPÓSIO DE REVITALIZAÇÃO DE RIOS URBANOS
Propostas para o Ribeirão Jaguaré
26, 27 e 28 de outubro de 2015
1. INTRODUÇÃO
Os impactos da urbanização e o seu inadequado equacionamento, bem como a poluição
decorrente do progressivo adensamento e a consequente saturação da capacidade de suporte do
meio ambiente nas grandes cidades brasileiras indicam a necessidade de ampliar o debate sobre
a relação entre a infraestrutura de saneamento e a condição dos rios no Brasil.
A cada ano, toneladas de águas servidas são descarregadas nos rios da cidade Rio de Janeiro,
aportando enormes quantidades de carga orgânica, poluentes e agravando a deposição de
sedimentos e a erosão das margens dos rios, contribuindo para intensificar as inundações
periódicas nas porções inferiores dos vales e baixadas adjacentes. Além disso, a contínua
retração das florestas na cidade e eventos pluviométricos mais intensos contribuem fortemente
para o aumento dos processos erosivos, o assoreamento dos corpos hídricos e o
desencadeamento dos eventos catastróficos recorrentes. Para agravar esse quadro, as planícies
de inundação naturais às margens dos rios e córregos da cidade encontram-se muitas vezes
completamente ocupadas, dificultando as funções ambientais realizadas nas áreas ribeirinhas,
através da mata ciliar, relacionadas com atenuação dos fluxos líquidos, retenção do material
sólido carregado e limpeza das águas.
O lançamento indiscriminado de esgoto domiciliar nos rios e córregos da cidade está entre as
principais causas de poluição das suas baías e lagoas, com ocorrência de processos de
eutrofização, presença de altos níveis de coliformes fecais, sedimentação ou presença de metais
pesados. A situação de degradação destes corpos d’água traz impactos sociais e econômicos,
custos maiores para a saúde pública e um grande prejuízo à conservação e proteção do meio
ambiente e da paisagem e ao desenvolvimento do turismo na cidade.
Tabela 1: Situação do Saneamento Básico nas principais cidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro
Como ressaltaram Dias e Rosso (2011), a macro escala dos sistemas de saneamento
implantados na cidade do Rio de Janeiro, a fragmentação das soluções projetadas, a falta de
recursos para a sua implementação, operação e manutenção adequadas, as dificuldades
decorrentes das alternativas tecnológicas adotadas, associadas às especificidades da cidade,
resultaram em enorme complexidade e vulnerabilidade na gestão das águas urbanas no Rio de
Janeiro. Ao longo do processo de urbanização da cidade, inúmeras dificuldades de
operacionalização dos sistemas de esgotamento sanitário e pluvial se acumularam. Dentre as
principais limitações técnicas dos sistemas de esgotos adotados, destaca-se, por exemplo, a
interconexão de lançamento de efluentes sanitários no sistema de drenagem pluvial, e vice-versa.
Devido aos problemas gerados pela interconexão entre os sistemas de esgotamento sanitário e
drenagem das águas pluviais na Cidade do Rio de Janeiro, diversas estruturas e procedimentos
operacionais foram gradualmente implantados no sistema de esgotamento, de forma provisória ou
mesmo planejada, com a intenção de amenizar os impactos causados pelo déficit na ampliação
ou operação inadequada dos sistemas existentes. “Dentre eles destacam-se: a) os interceptores
oceânicos; b) as galerias de cintura; c) as captações de tempo seco; d) os aterros e desvios de
rios e canais; e) os extravasores permanentes; f) as estações de tratamento localizadas no
deságüe dos cursos d' água nas praias e lagoas (Dias e Rosso, 2011, 182).
As duas principais estações de tratamento (Alegria e Penha), não cobrem toda a cidade, uma vez
que estão ligadas apenas à parte da rede coletora instalada. A rede coletora, por sua vez, não
abrange toda a cidade e, mesmo nas áreas com ocupação consolidada, é mal dimensionada e
enfrenta constantes problemas de manutenção.
Poucas áreas da cidade contam com sistema separador absoluto de esgoto e águas pluviais. A
separação entre os dois sistemas ainda é considerada desnecessária e extremamente
dispendiosa. Um dos principais efeitos negativos do sistema compartilhado atualmente em vigor é
sua fragilidade e inadequação quando das intensas e frequentes tempestades de verão. Durante
os eventos de maior intensidade, os sistemas de coleta frequentemente entram em colapso,
devido à obstrução das tubulações e à prática recorrente de extravasamentos da rede de esgoto
na rede de águas pluviais. O problema é mais grave nas áreas ainda não infraestruturadas
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situadas ao nível do mar ou junto às lagoas costeiras, na zona de interconexão de águas, onde o
abastecimento de água, muitas vezes vem de poços expostos à água subterrânea contaminada.
O acesso aos serviços urbanos de infraestrutura na maioria das favelas do Rio de Janeiro está
ainda mais longe dos padrões exigidos para os bairros regulares nas áreas circunvizinhas.
Enquanto a maioria dos bairros tem acesso à água encanada, coleta de lixo e ao sistema de
esgotamento sanitário e de drenagem, mesmo que ainda inadequados e insuficientes; nas favelas
as condições são ainda mais precárias. O esgoto muitas vezes flui em valas a céu aberto através
das vias e vielas, que também servem como canais de drenagem para as águas pluviais,
aumentando o risco de doenças de vinculação hídrica. A coleta de lixo é intermitente. A
combinação de infraestrutura inadequada e acúmulo de lixo nas encostas muitas vezes induz a
deslizamentos de terra durante a estação chuvosa, potencializando a exposição aos riscos
ambientais pela parcela da população que habita as favelas da cidade.
2.1 Objetivo
O presente artigo apresenta resultados preliminares da pesquisa intitulada “Aplicação de
Tecnologias de Infraestrutura Inovadoras em Processos de Regeneração de Rios Neotropicais”,
que tem como objetivo desenvolver uma abordagem integral e local no tratamento de esgotos e
no controle de sedimentos, favorecendo a limpeza e a estocagem de água em bacias com
potencial de abastecimento local de água.
Este projeto pode vir a servir de base para um programa mais amplo para tratamento destas
questões em domínios de encostas e de interconexão de águas em baixadas lagunares,
especialmente necessárias em áreas densamente povoadas. Ao investigar os processos
alternativos de revitalização de rios e bacias hidrográficas, visa-se expandir o estado atual de
compreensão de como os processos de rios neotropicais podem acomodar tecnologias de
infraestrutura verde não convencionais. Desta forma, esta iniciativa visa complementar os
programas de saneamento do governo, e são especialmente necessárias em áreas densamente
povoadas, ocupadas por comunidades informais nas encostas do Rio de Janeiro.
A sub-bacia do Rio das Pedras insere-se na Baixada de Jacarepaguá, entre os paralelos 22° 56’ e
22° 59’ latitude sul e os meridianos de 43° 20’ e 43° 19’ de longitude oeste, e está limitada ao
norte pelo Maciço da Tijuca, a oeste pela sub-bacia do Rio Anil, a leste pelas sub-bacias do Rio
Muzema e do Rio Cachoeira, desaguando a sul na Lagoa da Tijuca. Esta sub-bacia é formada por
dois afluentes principais: Rio das Pedras e Rio do Retiro. Com área de com 5.438 km2, apresenta
distribuição espacial da ocupação desigual, concentrada em seu médio-baixo curso.
Figura 1 - Bacia da baixada de Jacarepaguá e área de influência da sub-bacia do Rio das Pedras
Fonte: Mena Jara, presente estudo.
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Segundo o Censo do IBGE de 2010, a favela Sertão do Rio das Pedras possui uma população de
284 pessoas (IBGE, 2010). A área de estudo apresenta vários problemas socio-ambientais e de
infraestrutura, como o despejo de esgoto in natura nos rios, períodos de escassez de água e
intermitência de abastecimento e ocupação irregular das margens. Além disso, eventos
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pluviométricos mais intensos, como o ocorrido em 1996, têm contribuído para o aumento da
erosão e deslizamentos na área.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa em andamento envolve duas fases distintas: 1) Criação de rede colaborativa e
caracterização da área de estudo e 2) Monitoramento hídrico e Implantação do sistema de
tratamento de esgoto e controle de sedimentos, conforme esquema abaixo:
A metodologia utilizada nesta etapa do trabalho (Fase 1) envolve a formação de uma rede de
trabalho colaborativa, a caracterização da área de estudo e a realização de diagnóstico da
problemática, através de várias reuniões com a população local e pesquisadores, revisão
bibliográfica, levantamentos de campo e elaboração de mapas temáticos em ArcGis 10.1.
Foram realizados mapeamentos das vias, becos e vielas internas; pontos de descarga de esgoto
nos rios e extravasamento do leito em eventos extremos de chuva; localização das captações de
água; usos e gabaritos das edificações. O mapeamento das edificações da Favela Rio das Pedras
foi elaborado sobre Ortofoto de 2013 (Armazém de Dados/IPP/PCRJ, 2013) sobre base em escala
1:2.000. Este mapeamento é de vital importância, uma vez que as bases cadastrais produzidas
pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP/ PCRJ) até o momento não incluem as
edificações das favelas da cidade. A classificação para o mapeamento das edificações em termos
de usos incluiu os usos residencial, misto, institucional, comercial, galpão, laje e terreno vazio. Em
termos de gabaritos (número de pavimentos), foram mapeadas edificações de 1 a 5 pavimentos.
(favela). Com base nos levantamentos realizados estão sendo realizados acertos no mapeamento
da rede de canais e delimitadas em detalhe as bacias de contribuição com relação direta com a
área de estudo.
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Com base no levantamento realizado evidenciou-se a discrepância dos dados populacionais que
dispúnhamos sobre a população da Favela Rio das Pedras (284 habitantes, de acordo com o
Censo do IBGE, 2010). Refazendo-se os cálculos: 378(Residencial) +20 (Misto) = 398 domicílios
ocupados com uso residencial ou misto na favela + 85 domicílios formais (não-favelas, ou não
aglomerados subnormais – AGSN/IBGE) = 483 domicílios com população residente no Alto Rio
das Pedras. Tomando-se por base a média de pessoas/domicílio adotada pelo Censo IBGE de
2010: 2,94 (Cidade do Rio de Janeiro como um todo); 2,86 (não-favelas, ou não aglomerados
subnormais – AGSN/IBGE); 3,26 (favelas (AGSN/ domicílios particulares ocupados). Desta forma,
verificamos que o contingente populacional no alto curso do Rio das Pedras equivale a: 1297
habitantes favela Sertão do Rio das Pedras + 243 habitantes área formal =1540 habitantes Alto
Pedras.
As edificações localizadas no interior da favela Sertão do Rio das Pedras, de modo geral,
acompanham as curvas de nível do terreno e a ocupação tende a se desenvolver de forma anelar.
Os pontos de despejo de esgoto, marcados em vermelho, se aglutinam em quatro áreas ao longo
do rio.
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O uso predominante na favela Sertão do Rio das Pedras é o residencial. Em seguida, destacam-
se o uso misto e o institucional. O uso comercial e o institucional localizam-se ao longo dos eixos
de circulação de veículos. Na favela predominam as edificações de dois pavimentos.
Considerando-se que:
Qtd média (m³/dia) = Pop x qpc x R
1000
ou
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Além disso, a análise e correlação preliminar entre dados relativos às cicatrizes de deslizamentos
e estágios sucessionais da vegetação, com base em trabalhos de pesquisa anteriores
(MARTÍNEZ, 2014) e observações de campo sugerem grande susceptibilidade da área a futuros
movimentos de massa, colocando em risco a população situada às margens dos rios. Desta
forma, a instalação de uma estação hidro-fluvio-sedimentológica que proporcione informações
sobre o comportamento e resposta do rio a eventos de chuva de forma contínua é o próximo
passo a ser dado.
O problema da qualidade das águas e as variações da sua disponibilidade na bacia do rio das
Pedras demanda uma abordagem transdisciplinar no tratamento das questões sócio-ambientais e
de infraestrutura, a articulação de métodos e ferramentas complementares de análise e
intervenção e o envolvimento de atores sociais diversos.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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26, 27 e 28 de outubro de 2015
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SPERLING, Marcos Von. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 1996. 243p. Disponível em
<https://drive.google.com/folderview?id=0B16o-
dcwGFHvfkhIVkxuVTBhcXNGQmJ3T0VGbUloZmJzaEt0dTRqNXViV2NrbkEyRjlFLUk&usp=sharin
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