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JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária de Santa Catarina
1ª Vara Federal de Joinville
Rua do Príncipe, 123, 1º Andar Bairro: Centro CEP: 89201002 Fone: (47)34513618 www.jfsc.jus.br Email:
scjoi01@jfsc.jus.br
SENTENÇA
Consta do inquérito policial em epígrafe, instruído com a Representação Fiscal para Fins
Penais (RFFP) nº 10920.004585/201099, oriunda da Delegacia da Receita Federal do
Brasil em Joinville, SC, que, no período compreendido entre janeiro de 2006 e junho de
2010, ARTUR KRIEGER e GUILHERME KRIEGER, na qualidade de sócios
administradores da empresa Arbeitec Tecnologia em Usinagem Ltda., inscrita no CNPJ sob
o nº 03.359.107/000119, com sede na rua Bento Torquato da Rocha, nº 274, bairro Vila
Nova, em Joinville, SC, agindo de forma livre e consciente, sonegaram contribuições
sociais previdenciárias devidas por meio da omissão de informações em Guias de
Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência
Social (GFIP) acerca de remunerações pagas a quinze segurados empregados mantidos a
seu serviço, quatro destes sem o respectivo registro em Carteira de Trabalho e Previdência
Social (CTPS), e contribuintes individuais, todos listados na RFFP, no que se refere às
competências fiscais de 01/2006 a 06/2010, incluindo os décimosterceiro salários dos anos
de 2006 a 2009, consoante apurado pela auditoria previdenciária mediante exame de
documentos e sistemas informatizados da Receita Federal do Brasil, tais como folhas de
pagamentos (FP), GFIP´s, Auto de Infração (AI) lavrado pelo Ministério do Trabalho e
documentos que o instruíram, ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do
Trabalho e reclamatórias ajuizadas por empregados em face da empresa.
As condutas narradas, que configuram o crime do art. 337A, incisos I e III, do Código
Penal, foram perpetradas de tal forma que, pelas condições de tempo (competências fiscais
sequentes, entre janeiro de 2006 e junho de 2010), lugar (ambiência diretiva da empresa,
sediada em Joinville, SC) e maneira de execução (conforme antes descrito), devem as
subsequentes serem consideradas como continuação da primeira.
Como consequência das aludidas condutas houve a constituição de crédito tributário por
meio da lavratura do Auto de Infração DEBCAD nº 37.281.4049, no valor total de R$
246.519,33, já incluídos os consectários legais de juros e multa, crédito esse inscrito pela
Procuradoria Seccional da Fazenda Nacional em Dívida Ativa haja vista a inexistência de
impugnação ao lançamento, inclusão do débito em regime de parcelamento fiscal ou o seu
pagamento integral, consoante fl. 430 da RFFP (Evento nº 1, OUT4) e ofício nº 336/2014
SACAT/DRF/JOI/SC (fl. 15 do IPL).
A existência material do crime em comento está demonstrada pelo antedito Auto de
Infração, pelos Relatórios Fiscal e Discriminativo de Débito, assim como pelos demais
documentos de interesse fiscal que embasaram a autuação, constantes da RFFP.
As condutas descritas, que configuram o crime do art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.137/90, foram
perpetradas de tal forma que, pelas condições de tempo (competências fiscais sequentes,
entre janeiro de 2006 e junho de 2010), lugar (ambiência diretiva da empresa, sediada em
Joinville, SC) e maneira de execução (conforme antes descrito), devem as subsequentes
serem consideradas como continuação da primeira.
Os réus foram citados nos termos do artigo 396 do CPP (evento 37 CERT1 e
evento 38 CERT1), tendo ambos apresentado resposta à acusação, mediante procurador
constituído.
É o relatório.
Decido.
II. FUNDAMENTAÇÃO
Vale destacar trecho do voto proferido pela Min. Cármen Lúcia, no AIAgr n.
675.619 acima elencado, publicado em 09/06/2009, que sintetiza o entendimento da
Suprema Corte sobre a matéria:
"(...) quanto ao argumento do agravante de que estaria submetido à prisão civil por dívida, a
jurisprudência do Supremo Tribunal, como asseverado na decisão agravada, firmouse no
sentido de que (...) em tema de crime decorrente de omissão no recolhimento de
contribuições previdenciárias, inaplicável é o Pacto de San José da Costa Rica, visto que
não se cuida de prisão civil, cuja finalidade é compelir o devedor de dívida alimentar ou o
depositário infiel a cumprir a sua obrigação, mas sim de prisão de caráter penal, que
objetiva a prevenção e a repressão do delito. Daí, também, a impertinência na alegação de
violação à Constituição Federal".
"116. Após descrição dos fatos e a subsunção destes às normas legais, e considerações
acerca de simulação, evação e elisão e do instituto do SIMPLES, podemos concluir que as
empresas NEUMATEC LTDA; KRIEGER & MEURER LTDA e WMM METROLOGIA E
USINAGEM LTDA:
b) Não possuem endereços nem estruturas próprias, uma vez que ocuparam e ainda
ocupam o mesmo imóvel. Conforme os dados do CNPJ, o endereço da Rua Bento
Torquato da Rocha, 274, que atualmente se encontra fechado, teria sido o endereço
da ARBEITEC eda NEUMATEC e da KRIEGER & MEURER, que atualmente junto
com a WMM ocupam (todas), o endereço da Rua Alfredo Bachtold, 111.
c) São todas administradas pelo real sócio Sr. Artur Krieger, que utilizase do
procedimento de colocar seus sócios próprios empregados na condição de sócio e
com isto infringir a legislação previdenciária, deixando de recolher de forma correta
as reais contribuições previdenciárias;
117. Desta forma, serão considerados ocorridos os fatos geradores das contribuições
previdenciárias, relativamente aos empregados formalmente registrados nas empresas
inexistentes de fato, NEUMATEC LTDA e KRIEGER & MEURER LTDA e WMM
METROLOGIA e USINAGEM LTDA para o correto enquadramento junto à empresa para a
qual os mesmos efetivamente laboraram, ARBEITEC TECNOLOGIA EM USINAGEM
LTDA, CNPJ 03.359.107/000119.
118. Esta Auditoria arbitrará os salários de contribuições dos fatos geradores ocorridos na
NEUMATEC LTDA; KRIEGER & MEURER LTDA e WMM METROLOGIA E USINAGEM
LTDA, com base nos valores declarados em GFIP's do mês de 06/2008 e projetados para
todo o período da ação fiscal, respeitadas as datas de emissões dos empregados, quando
conhecidas, para o correto enquadramento junto à empresa ARBEITEC TECNOLOGIA EM
USINAGEM LTDA, CNPJ 03.359.107/000119."
A escrituração fiscal de uma empresa, tarefa que não se confunde com a de contabilidade,
dispensa a presença de profissional habilitado legalmente e registro no Conselho Regional
de Contabilidade.
Dessa forma, quanto à direção da empresa, pode esta ser exercida pelo próprio
comerciante, quando de responsabilidade ilimitada ou firma individual, como pelos
gerentes, sócios ou não, naquelas mistas de capital e pessoas, tais como as classificadas,
não sem alguma divergência na doutrina, como de responsabilidade limitada, e pelos
diretores, contratados ou controladores, como acionistas nas sociedades anônimas, os
quais comandam todos os negócios sociais e atribuem funções, atividades e serviços aos
seus colaboradores.
Neste caso o sujeito ativo do delito pode ser o titular da empresa, o sóciogerente ou os
diretores que ordenem lançamentos inexatos por terceiros ou então a omissão de
lançamentos de fatos administrativos, com a finalidade de fraudar o fisco com a supressão
ou redução dos impostos, contribuições sociais e acessórios.
A responsabilidade penal do sócio, pela falta de recolhimento pela empresa, que reteve
descontando do salário dos empregados as contribuições destes, é questão difícil. A Lei
8.137 não tem regra a respeito mas a Lei 8212 estabeleceu no parágrafo 3º do art. 95 que o
sóciogerente é pessoalmente responsável e essa disposição ou é altamente questinável ou
impõe aplicação criteriosa. Assim, parece razoável compreender essa responsabilidade
sempre dependente de um mínimo de prova que demonstre a conexão lógica da vontade do
administrador da empresa e o resultado criminoso denunciado, pena de responsabilização
objetiva inaceitável (RESP nº 19.9250, STJ, RBCCrim 6/231), mesmo que se admita que
a denúncia nos chamados crimes societários não exija descrição miúda dos
comportamentos (v. por todos, mas com ressalva, HC 73.3247RJ, liminar, STF, DJ 06
121995, p. 42459).
Não escapa à percepção deste juízo que a ação fiscal que culminou com a
lavratura dos créditos tributários em face da empresa citada ocorreu na época em que o réu
Guilherme Krieger era o seu administrador e que, nessa condição, este réu compareceu à
sede da Receita Federal do Brasil para tomar ciência do início do início do procedimento
fiscal e apresentar documentos. Eis o que foi relatado nos itens 16 e 17 do Relatório Fiscal
do Auto de Infração DEBCAD n. 37.281.4395 (evento 1 OUT3, p. 53, do inquérito
policial n. 500812472.2014.4.04.7201):
"16. Após diversos contatos telefônicos sem sucesso, durante os dias 16 a 20/09/2010,
finalmente no dia 21/09/2010, atendeu o Sr. GUILHERME KRIEGER, que se prontificou a
tomar ciência do TIPF no endereço de seu escritório situado à RUA MARINHO LOBO, 512
Sala 38. Ao ali comparecer o mesmo informou que era filho do Sr. ARTUR KRIEGER e
que era o sócio gerente da empresa ARBEITEC.
17. Assim, no dia 21/09/2010, após haver sido devolvido pelos correios, tomou ciência do
início do procedimento fiscal da empresa ARBEITEC, o sócio Sr. GUILHERME
KRIEGER."
Esse fato foi confirmado em juízo pelo subscritor do relatório fiscal encimado,
o Auditor Fiscal Antônio Pereira Sobrinho. Não custa rememorar que este asseverou em seu
depoimento judicial que, embora não tenha logrado êxito em econtrar os gestores da
empresa Arbeitec nas oportunidades em que esteve na sede dela, o réu Guilherme Krieger
compareceu na Receita Federal para lhe apresentar alguns documentos, oportunidade em
que se identificou como administrador daquela empresa (evento 97 VÍDEO1).
Jairo Santos, que foi colega de faculdade do réu Guilherme e, depois, sócio
deste em escritório de advocacia constituído por ambos na cidade de Itajaí/SC, asseverou
que cursou algumas matérias da faculdade com o réu Guilherme, na Univalli em Itajaí/SC,
nos anos de 2006 e 2007. Ambos concluíram o curso em agosto de 2008. Disse se recordar
que no curso da faculdade Guilherme estagiava em um escritório de advocacia em Balneário
Camboriú/SC, cidade esta em que o réu também residia. Afirmou que logo depois que o
depoente e Guilherme obtiveram a carteira da OAB, ambos montaram um escritório de
advocacia na cidade de Itajaí/SC, a partir do ano de 2009. Nesse período, o réu Guilherme
passou a residir com o depoente em um apartamento de propriedade deste na cidade de
Itajaí/SC. Asseverou, por outro lado, que prestou um serviço pontual de consultoria
tributária para a empresa Arbeitec ou Meurer, porque esta passava por dificuldades
financeiras, tendo, na oportunidade, tratado com réu Artur Krieger, que era o responsável
pela administração da empresa (evento 127 VÍDEO1).
O réu Artur Krieger, por sua vez, asseverou em seu interrogatório judicial
que deixou de recolher os tributos e contribuições porque a empresa entrou em crise
financeira, mas sustentou que fazia as declarações das contribuições e tributos em GFIP.
Disse que era a contabilidade da empresa que preenchia as GFIP's, não tento, portanto,
informações exatas sobre o cumprimento das obrigações tributárias da empresa (evento 127
VÍDEO2).
Diante desse contexto, e à míngua de outros elementos aptos a indicar que o
réu Guilherme Krieger exercia atos de gestão no grupo econômico formado pela empresa
Arbeitec Tecnologia em Usinagem Ltda., cumpre reconhecer que, no caso concreto, o réu
Artur Krieger, e apenas ele, era responsável pela administração de fato da empresa referida
nos períodos narrados pela denúncia, detendo, assim, o domínio do fato na gestão dela.
Por consequência, cumpre absolver o réu Guilherme Krieger dos fatos que
lhe são imputados, com fundamento no artigo 386, V, do CPP, por não haver provas de que
ele concorreu para as infrações penais narradas pela exordial acusatória, porque as provas
amealhadas aos autos não foram suficientes a demonstrar que ele efetivamente concorreu
para administração empresa Arbeitec Tecnologia em Usinagem Ltda.
Nesse sentido:
Nessas condições, o réu Artur Krieger, e apenas ele, tinha o domínio dos
fatos relacionados à administração da empresa, de sorte que é dele a responsabilidade penal
dos fatos em comento.
"(...) Deve ser responsabilizado o réu ou réus que detinham o domínio do fato, isto é, quem
detém em suas mãos o curso, o 'se' e o 'como' do fato, podendo decidir preponderantemente
a seu respeito; dito mais brevemente, o que tem o poder de decisão sobre a configuração
central do fato (...)" (O Crime de Omissão no Recolhimento de Contribuições Sociais
Arrecadadas, Lei n. 8.212/91, art. 95, "d". Porto Alegre: Livraria do Advogado: ESMAFE,
2000).
Não há qualquer dúvida de que o réu Artur Krieger tinha o pleno domínio
sobre o que ocorreu na empresa nos períodos narrados pela denúncia. Destarte, reconhecida
a autoria pela sonegação de contribuições sociais previdenciárias, e sendo autor aquele que
tem o domínio do fato, que tem o poder de decisão sobre a realização do fato, o réu Artur
Krieger é o autor dos delitos que lhe são imputados pela exordial acustória.
O dispositivo legal em apreço foi introduzido no Estatuto Repressivo pela Lei 9.983, de 14
de julho de 2000, mas convém observar que os tipos penais nele contidos representam a
evolução de outros dispostos em leis anteriores.
De fato, a Lei 3.807, de 26 de agosto de 1960, com a redação dada pelo DecretoLei 66, de
21 de novembro de 1966, já tratava como crime de sonegação fiscal algumas das condutas
dos incisos I e II do artigo sub examine. Com efeito, o artigo 155, inciso I, da aludida lei
assim prescrevia:
Após, a Lei 8.137, de 27 de dezembro de 1990, também versou acerca dos crimes
previdenciários no Capítulo I Dos Crimes Contra a Ordem Tributária, em alguns dos
incisos dos artigos 1º e 2º, cuja redação segue abaixo:
"Com o advento da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991, que instituiu a Lei Orgânica da
Seguridade Social, inseriramse no seu artigo 95 tipos penais atinentes a condutas
atentatórias aos interesses da previdência social. Revelando, uma vez mais, o seu
despreparo quanto à tecnicidade peculiar à elaboração de uma norma penal, o
legislador se olvidou de estabelecer reprimendas para as condutas descritas nas
alíneas a, b, c, g, h, i e j,2 que por terem sido desqualificadas como normas penais,
ante a ausência da sanção elemento essencial da norma penal incriminadora , não
se revestiram de qualidade suficiente para inovar o ordenamento penal.3 Tais normas
foram tratadas como 'meras declarações de intenção de mudança legislativa que
não logram obter efeito por absoluta inépcia do legislador',4 e, portanto, os
preceitos da Lei 8.137/90 relativos aos crimes previdenciários continuavam em
vigor." (Curso de direito penal brasileiro, volume 3: parte especial. 7. Ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2010 grifei.)
Com efeito, somente após a edição da Lei 9.983/2000, que revogou o artigo 95 da Lei
8.212/91 na parte referente aos tipos previdenciários e acresceu diversas normas penais ao
texto do Estatuto Repressor, houve a derrogação dos tipos penais da Lei 8.137/90, no que
tange ao delito de sonegação de contribuição previdenciária, passando tal crime a ser
regido estritamente pelo artigo 337A, caput, e seus incisos, do Codex Penal, in verbis:
Ocorre que tal conduta, inobstante se amolde perfeitamente ao referido inciso III, enseja,
necessariamente, a redução de contribuições sociais a entes autônomos as quais não se
confundem com a espécie tributária contida no caput desse dispositivo, porquanto a base de
cálculo de ambas as exações é a mesma, vale dizer, os valores pagos ou creditados a título
de remuneração a segurados. Na hipótese sub examine, foram reduzidas as contribuições
sociais para o FNDE, INCRA, SEBRAE, SEST e SENAT (evento 01, PROCADM12, fls. 18 e
19, da ação penal).
Entretanto, não se pode tomar apenas essa consequência redução de contribuições sociais
a entes autônomos como um novo delito, já que na omissão de remunerações pagas das
GFIP, ao agente não é facultada escolha acerca de qual tributo sonegar, considerandose a
base de cálculo adotada e o modo de execução do crime. Logo, inexiste conduta de
sonegação fiscal, sob pena de ofensa aos princípios da especialidade e da vedação ao bis in
idem.
Daí que, praticada tãosomente uma das condutas previstas no artigo 337A do Código
Penal, como na situação dos autos (inciso III), remanesce atraída a incidência da norma
prevista no Estatuto Repressor, e afastada, à vista dos princípios da especialidade e da
proibição ao bis in idem, a aplicação do tipo penal do artigo 1º da Lei 8.137/90,
remanescendo configurada hipótese de crime único.
De todo o exposto, inexiste concurso formal na situação dos autos. Contudo, a redução das
contribuições sociais a tais entes, por conservarem relação direta com a prática delitiva,
apresentam natureza de consequências do delito, devendo ser valoradas de tal modo.
Esse mesmo entendimento foi reiterado pela 8ª Turma nos seguintes julgados:
TRF4, ACR 504849073.2011.404.7100, Oitava Turma, Relator p/ Acórdão Victor Luiz dos
Santos Laus, juntado aos autos em 23/11/2015; TRF4, ACR 000007127.2009.404.7214,
Oitava Turma, Relator Victor Luiz dos Santos Laus, D.E. 01/03/2016; e TRF4, ACR
501689072.2013.404.7000, Oitava Turma, Relator p/ Acórdão Leandro Paulsen, juntado
aos autos em 15/03/2016.
Considerando que o caso dos autos é análogo aos casos que serviram de
substrato fático para os precedentes encimados, tenho por bem aderir ao entendimento
firmado 8ª Turma da nossa Colenda Corte Regional, para o efeito de reconhecer a
atipicidade da sonegação das contribuições sociais ao entes autônomos, não havendo, assim,
a subsução das condutas omissivas relativas a tais contribuições no artigo 1º, I, da lei n.
8.137/90.
Ainda na linha dos precedentes citados, cumpre reconhecer que a redução das
contribuições sociais a tais entes, por conservarem relação direta com a prática delitiva,
apresentam natureza de consequências do delito de sonegação de contribuição
previdenciária, razão pela qual será valorada de tal modo, mais adiante, nesta sentença, nas
circunstâncias judiciais, como consequências do delito.
Vale ressaltar, uma vez mais, que a tese defensiva de causa supralegal de
excludente de culpabilidade, calcada em invencíveis dificuldades financeiras, somente se
aplica ao crime de omissão de recolhimento de contribuições previdenciárias. Ao passo que
o réu está sendo julgado nesta sentença pelo crime de sonegação de contribuições sociais
previdenciárias. Ora, neste tipo de crime, diversamente daquele, o dolo de pretender fraudar
e/ou ludibriar o Fisco afasta a dirimente. Por certo, não é a dificuldade financeira, ainda
invencível, que exculpará o réu de falsear a realidade dos fatos geradores do tributo
sonegado. Aliás, justamente pelo modus operandi, vale dizer, pela utilização de meios
fraudulentos para suprimir ou reduzir o tributo, é que não se aplica a exculpante em questão
nos casos de sonegação de contribuição previdenciária. Nesse sentido: TRF4, ACR
000127764.2008.404.7003, Sétima Turma, Relator Márcio Antônio Rocha, D.E.
04/02/2013.
Não custa repisar que a defesa não acostou cópias das declarações de imposto
de renda do réu, nem as da empresa em questão. Também não vieram aos autos cópias de
balanços e relatórios bancários e fiscais da empresa.
Arremate.
Por todas as considerações desenvolvidas, concluise que o réu Artur
Krieger, na condição de administrador de fato e de direito da empresa Arbeitec Teconologia
em Usinagem Ltda., de forma livre e consciente, suprimiu contribuição social
previdenciária, mediante a omissão de informações em Guias de Recolhimento do Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP) acerca de (i)
remunerações pagas a quinze segurados empregados mantidos a seu serviço, quatro destes
sem o respectivo registro em Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), e
contribuintes individuais, todos listados no processo administrativofiscal que integra a
vestibular acusatória, e de (ii) informações sobre incapacidade laborativa de segurados
empregados decorrente dos riscos ambientais do trabalho, no que se refere às competências
fiscais de 01/2006 a 06/2010, incluindo os décimosterceiro salários dos anos de 2006 a
2009. O réu, portanto, praticou o crime do artigo 337A, I e III, do CP.
De outro viés, observo que há notícia de que o réu Artur Krieger foi
condenado à pena de 02 (dois) anos e 06 (seis) meses de reclusão, pela prática do crime
previsto no artigo 168A, em combinação como o artigo 71, ambos do CP, nos autos da ação
penal n. 2005.72.01.0025848, tendo ocorrido o trânsito em julgado para a acusação em
16/09/2008 e para a defesa em 26/01/2009. Essa pena foi cumprida nos autos da execução
penal n. 2009.72.01.0027061, tendo sido extinta pelo cumprimento em 21/01/2014 (cf.
evento 133 CERTANTCRIM1). Como a condenação encimada é anterior aos fatos
apurados nestes autos, entendo aplicável na segunda fase da dosimetria da pena a agravante
da reincidência, prevista no artigo 61, I, do CP.
Por fim, observo que o réu Artur Krieger praticou a conduta de sonegação de
contribuições sociais previdenciárias por 58 (cinquenta e oito) vezes, no período de 01/2006
a 06/2010, incluindo nesse cômputo os décimosterceiros salários dos anos de 2006 a 2009.
Nesse passo, não merece prosperar a pretensão acusatória de reconhecimento de prática de
136 (cento e trinta e seis) condutas de sonegação previdenciária, uma vez que nesse cálculo
houve o somatório indevido de competências dos AI's n. 37.281.4395 e n. 37.281.4387,
que são relativos ao mesmo período de 01/2006 a 06/2010, divergindo um e outro apenas a
respeito da natureza de rubricas que lhes constituíram o objeto. Assim, cumpre reconhecer
que foram apenas 58 (cinquenta e oito) competências e cada uma delas correspondendo a
um crime. Ademais, como as condutas foram praticadas em diversas competências, todas
próximas, e, em cada uma delas, mediante o mesmo método, cabe aplicar para a série o
concurso do crime continuado.
PROVIMENTOS FINAIS
Documento eletrônico assinado por ROBERTO FERNANDES JÚNIOR, Juiz Federal, na forma do artigo 1º, inciso
III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A
conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
720001248458v323 e do código CRC dd9eb655.