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Guia do Episódio de Cuidado

Anestesia para Parto Vaginal

A dor do trabalho de parto e os métodos para aliviá-la são aspectos fundamentais para as parturientes e suas famílias, com
implicações na evolução, qualidade, desfecho e custo da assistência ao parto. Existem métodos não farmacológicos e farmacológicos
para o alívio da dor durante o trabalho de parto:
- Métodos não farmacológicos: hidroterapia, acupuntura e massagem.
- Métodos farmacológicos:
• analgésicos orais;
• analgesia intramuscular e intravenosa (principalmente opióides, com alívio limitado da dor e efeitos colaterais
significativos);
• analgesia inalatória com óxido nitroso (boa aceitação, praticidade e conforto relativo);
• analgesia regional (método mais eficaz, mas que necessita de maior monitorização. Ex: peridural, raqui e duplo
bloqueio).

1. INDICAÇÕES DE ANALGESIA REGIONAL


- Solicitação de alívio da dor por parte da parturiente e/ou após esgotados os métodos alternativos.

- Fase ativa do trabalho de parto, preferencialmente com dilatação cervical acima 8 cm.

- Correção de distocia funcional.

- Óbitos fetais.

- Doenças maternas específicas (cardiovasculares, pulmonares, neurológicas e neuromusculares).

2. CONTRA INDICAÇÕES
- Recusa da paciente.

- Distúrbios de coagulação.

- Uso de anticoagulantes: heparina baixo peso molecular dose profilática (aguardar 12h após última dose) e dose terapêutica
aguardar 24h após última dose).

- Hipovolemia ou sangramento ativo.

- Infecção no local de punção ou sepse.

3. EFEITOS COLATERAIS
- Náuseas e vômitos;

- Prurido;

- Tremores;

- Fadiga;

- Hipotensão arterial;

- Bradicardia fetal.
4. ANESTESIA COMBINADA RAQUI-PERIDURAL (DUPLO BLOQUEIO)

Esta é a técnica de escolha para a realização da analgesia de parto. Algumas considerações importantes: com a utilização de baixas
doses de anestésicos locais não há prolongamento do trabalho de parto; a técnica pode ser indicada em qualquer momento, desde
que a paciente esteja na fase ativa do trabalho de parto.

1. Venóclise preferencialmente com cateter 18G ou 20G no antebraço, após botão anestésico, evitando dobras.

2. Monitorização: cardioscopia, pressão não invasiva e oximetria de pulso.

3. Posicionamento em posição de Buda.

4. Anestesia da pele e subcutâneo com Lidocaína 1% sem vasoconstritor.

5. Punção:
• Punção peridural: *Linha mediana em L2-L3 ou L3-L4 ou L4-L5 com agulha Touhy 18G. * Identificação do espaço pela técnica da
perda da resistência ao ar (volume máximo de 3 mL, evitar injetar no espaço) ou resistência à solução salina.
• Punção subaracnóidea : *Agulha especifica de duplo bloqueio.

6. Injeção subaracnóidea:
Bupivacaína hiperbárica 0,5% 2,5 mg + Sufentanil 2,5 a 5 mcg ou Fentanil 20 mcg + Morfina 40-60 mcg. Associação de clonidina 15 a
30 mcg conforme experiência do anestesiologista.

7. Passagem do cateter peridural em direção cefálica e fixação deste. Observar quanto da agulha peridural foi introduzida até chegar
no espaço e fixar o cateter somando 3 a 5 cm da marcação. Fixar com curativo impermeável.

8. Posicionamento em decúbito dorsal horizontal; deslocamento manual do útero para esquerda se necessário.

9. Permanecer com a paciente nos primeiros 30min após instalação do bloqueio; e pelo menos de hora em hora até o término do
parto.

10. Manutenção da analgesia com bôlus intermitente: Bupivacaína 0,0625% + Fentanil 2 mcg/mL - 5 a 7 mL conforme demanda da
paciente.

Atentar para: seletividade para um lado ou exteriorização do cateter, fase do trabalho do parto, diferenciação da sensação de
“pressão” e “dor”. Caso haja refratariedade a 2 complementações, optar por repuncionar.

Complementação para cesariana: Bôlus subsequentes de lidocaína 2% 5 mL (com ou sem adição de bicarbonato) em intervalos de 10
-15 minutos até se atingir pelo menos o dermátomo de T6 (apêndice xifoide) – máximo de 7 mg/kg .
Falha da epidural: caso 2 bolus de lidocaína não forem eficazes (unilateral ou sem bloqueio) ou cateter não promoveu analgesia
satisfatória, optar por sacar o cateter e realizar raquianestesia com bupivacaína hiperbárica 0,5% 7,5 a 10 mg + repicar fentanil se >4h
da analgesia e complementar morfina para 80-100 mcg total.

5. RAQUIANESTESIA SIMPLES PARA PARTO VAGINAL


Indicada quando a analgesia for realizada durante período expulsivo do trabalho de parto (parto ocorrerá em menos de 1h) e
paciente tiver sido examinada por obstetra experiente.

1. Venóclise preferencialmente com cateter 20G ou 18G no antebraço, após botão anestésico, evitando dobras.

2. Monitorização: cardioscopia, pressão não invasiva e oximetria de pulso.

3. Posicionamento em posição de Buda ou em decúbito lateral esquerdo.

4. Anestesia da pele e subcutâneo com Lidocaína 1% sem vasoconstritor.

5. Punção subaracnóidea com agulha de Whitacre calibre 27G.

6. Injeção subaracnóidea: Bupivacaína hiperbárica 0,5% 2,5 mg + Sufentanil (2,5 a 5 mcg) ou Fentanil 20 mcg + Morfina 60 mcg.
TRABALHO DE PARTO
(sugestão de fluxo de analgesia)

Início fase ativa do trabalho de parto: sugere-se oferecer


métodos não farmacológicos para alívio da dor: hidroterapia,
acupuntura e massagem.

Acima de 6 cm de dilatação: sugere-se uso de óxido nitroso


no controle da dor com a paciente. Seguir protocolo
específico para uso do óxido nitroso.

Acima de 8 cm de dilatação e dor intensa: sugere-se oferecer


analgesia regional e discutir com equipe de anestesia a fase
do trabalho de parto e o tipo de bloqueio a ser realizado.

-Paciente permanece em leito de PPP


-A monitorização fetal deve ser evitada nos primeiros 20
minutos após analgesia regional
-Monitorização materna (a cada 5 minutos nos primeiros 15
minutos e de 15 em 15 minutos após esse período).
-A mobilidade da paciente pode ficar reduzida por cerca de
40 minutos após analgesia. Após isso, será avaliada a
capacidade de movimentação plena.

6. CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
A equipe médica precisa estar presente no momento da anestesia para parto, porém a equipe de enfermagem pode conduzir o
trabalho de parto.

Documentar em prontuário o tempo de cada método para alívio da dor.

A analgesia regional poderá ser realizada após 15 minutos da última inalação com óxido nitroso. Antes disso, apenas em casos de
emergência materno-fetal.

A analgesia regional deve ser previamente discutida com a gestante antes do parto, e seus riscos e benefícios devem ser
informados.

As seguintes informações devem ser oferecidas à mulher:

• é mais eficaz para alívio da dor que os opióides;


• não está associada com aumento na incidência de dor lombar;
• não está associada com primeiro período do parto mais longo ou aumento na chance de cesariana;
• está associada com aumento na duração do segundo período do parto e na chance de parto vaginal instrumentalizado;
• A monitorização fetal deve ser evitada nos primeiros 20 minutos após analgesia regional; necessita de nível mais elevado de
monitorização materna (a cada 5 minutos nos primeiros 15 minutos e de 15 em 15 minutos após esse período) e a mobilidade
pode ficar reduzida após analgesia por cerca de 40 minutos. Após isso, será avaliada a capacidade de movimentação plena.
7. COMPLICAÇÕES

- Cefaléia pós punção da dura-mate;

- Intoxicação por anestésico local.

- Lesões nervosas.

8. INDICADORES DE DESEMPENHO
• Taxa de satisfação no alívio da dor.

• Taxa de efeitos adversos: cefaleia pós punção.

• Taxa de partos instrumentalizados após indicação analgesia parto.

• Taxa de partos cesárea após indicação analgesia parto.

Referências:
[1] Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de
Tecnologias em Saúde. Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal: versão resumida [recurso eletrônico] / Ministério da
Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde.
– Brasília : Ministério da Saúde, 2017. 51 p. : il.
[2] American Society of Anesthesiologists. Practice Guidelines for Obstetric Anesthesia: An Updated Reported by the American
Society of Anesthesiologists. Task force on Obstetric Anesthesia e the Society for Obstetric Anesthesia and Perinatology.
Anesthesiology, v. 124, n. 2, p. 270-300, feb. 2016
[3] Likis F, et al. (2014) Nitrous oxide for the management of labor pain: a systematic review. Anesthesia & Analgesia;118:153–
[4] Baysinger C. (Sept 2012) Nitrous oxide for labor analgesia. Society for Obstetric Anesthesia and Perinatology Newsletter; p. 11.
[5]ACOG 2017. Medications for pain relief during labour and delivery.

Código Elaborador: Revisor:r: Aprovador: Data de Elaboração: Data de Aprovação:


Documento: Andréa Novaes Mauro Haggeas Da 06/12/2021 09/12/2021
CPTW 275.1 Romulo Negrini Dirlando Silveira Fernandes
Mariana Granado Conte de
Adolfo Liao Oliveira
Eduardo Borges

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