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133-S.

Luzia

Hoje, quero falar-vos de uma santa cristã: A santa Luzia, uma figura do início do século IV, morta, segundo a
história, a mando do imperador Diocleciano, no ano 304, a 13 de dezembro. Dois anos depois, em 306, seria
coroado o imperador Constantino que acabaria com a perseguição aos cristãos.

A sua história mitológica apresenta-nos uma jovem que, à semelhança de outras jovens cristãs deste
princípio do cristianismo

, ofereciam-se a Deus guardando a virgindade como um tesouro que tinha que ser defendido com sacrifício
da própria vida, se necessário. Santa Luzia é-nos descrita como uma dessas donzelas. Muito bonita, segundo
a história, despertou o interesse num jovem que a quis desposar. Como recusou, vingativo, o pretendente
acusou-a ao imperador Diocleciano que a mandou prender e matar. Vale a pena ler a história das tentativas
malogradas do martírio da santa que só conseguiram através da decapitação. Um dos martírios infligidos a
Luzia foi arrancarem-lhe os olhos que não adiantou uma vez que lhe apareceram outros dois ainda mais
bonitos.

Será talvez por este pormenor do martírio que a santa foi elevada a padroeira das vistas. A origem do seu
nome também invoca a luz. Em latim, «lucem». Lembremo-nos também do verbo «luzir». Atrevo-me a
associar esta ideia de luz às festas ao sol que, em Toma, começavam a 16 de Dezembro, três dias depois da
sua morte. O dia 13 de Dezembro também está, por sua vez, à distância de 12 dias do Natal. Ora, a crença
popular baseou-se nesta contagem para determinar que cada um dos dias se fazia corresponder a um mês,
perfazendo assim os 12 meses do ano. Ou seja, 13 de Dezembro corresponde-se a Janeiro e assim por diante.
A mesma contagem faz-se do Natal aos Reis, outros doze dias. A isto, o povo chama «quendas» corruptela do
termo Calendas.

Guimarães apropriou-se da festa desta santa, também ela ligada indirectamente ao amor para um costume
muito típico ligado à doçaria local. Já perceberam que estou a falar das «passarinhas» e dos «sardões». O
namorado oferece à amada o sardão e ele retorna-lhe com a passarinha. Este costume perde-se no tempo:
impossível saber há quanto tempo se pratica. Mas já é muito tempo, acreditem.

Este nosso costume, de qualquer maneira não é exclusivo de Guimarães. Na zona de Vila Real, os
transmontanos também praticam um costume idêntico. Enquanto em Guimarães, o sardão é oferecido na
festa da sra da Conceição e a passarinha é-lhe dada na Sta Luzia, em Vila Real é um bocadinho diferente. No
lugar de Vila Nova, na freguesia da Campeã, que me viu crescer e onde eu ia à missa, elas oferecem-lhes o
pito no dia de Sta Luzia, mas têm que esperar até dia 3 de Fevereiro, festa de S. Brás, para receberem a
galha, um doce semelhante ao sardão vimaranense. Naturalmente que a capela de Santa Luzia, pouco
distante da igreja paroquial, se ilumina e enche de devotos e de marotos, velhos e novos, à procura de algum
pito que lhes agrade, porque há-os de vários tamanhos e dos mais apertadinhos aos mais largões. Na cidade,
a galha toma o nome de gancha.

São costumes que remontam, embora de outra forma, a cultos a evocarem a fecundidade. S. Brás, embora
padroeiro dos males de garganta e, por arrasto, dos otorrinolaringologistas, também é protector dos
criadores de gado e das actividades agrícolas.

Remato com a canção a Sta Luzia de Viana do Castelo, a maior festa a esta santa no Minho. A interpretação é
do saudoso conjunto típico Maria Albertina.

https://freguesiapalme.blogspot.com/2014/01/dar-o-pito-que-docura.html
Falei, na semana passada, da festa romana ao Sol invencível que o cristianismo aproveitou para lhe
colar a comemoração do nascimento de Cristo. Mas passei por cima de uma festa também ela muito
popular e que à semelhança da festa do solstício de inverno, também a religião tentou apagar os
costumes que lhe são associados, invocando a padroeira das vistas, Santa Luzia. Santa Luzia ou santa
Lúcia, é a mesma santa!
Não vos vou maçar com a biografia desta figura que qualquer pesquisa no nosso amigo sábio Google
nos dá as informações que não temos. Prefiro avançar directo para o costume, sem data de origem,
das passarinhas e dos sardões.
Não é novidade para nenhum vimaranense esta festa de sardões e passarinhas que, por cá, acontece
no dia 13 de Dezembro, mas que também se aceita que comece no dia da Conceição de Maria, a 8 de
Dezembro.

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