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1.

INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 SOLUÇÕES IDEAIS, A LEI DE RAOULT E O CONCEITO DE SOLUÇÃO
IDEAL
3.2 O CONCEITO DE ATIVIDADE E DE ESTADO PADRÃO
3.3 SOLUÇÕES DILUÍDAS: A LEI DE HENRY E O COMPORTAMENTO DO
SOLUTO
4. CONCLUSÃO
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. INTRODUÇÃO

A metalurgia esteve presente na civilização humana desde os primórdios do


desenvolvimento. No início, o conhecimento limitado do comportamento dos metais
e soluções acarretavam perdas produtivas, ineficiência e produtos com qualidade
ruim. O que hoje em dia seria entendido como métodos precários, procedimentos
infundados e incorretos e técnicas arcaicas, em certos contextos, como a idade do
bronze entre 4.000 a.C. e 3.000 a.C., os frutos desses processos metalúrgicos,
como ferramentas e utensílios, cumpriam fidedignamente o seu propósito.

Com o passar do tempo, técnicas e extração e manipulação dos insumos minerais e


metais foram se aprimorando, e tem se tornado cada vez mais essenciais para o
progresso da indústria e ciência.

Processos metalúrgicos, então, demandaram e tem demandado um entendimento


cada vez maior das soluções e sistemas que compõem os ambientes fabris. Altos
fornos, convertedores e reatores são etapas essências no processamento metálico
que necessitam de soluções e substancias adicionadas meticulosamente para se
obter os resultados esperados.

Nesse sentido, cientistas e pesquisadores voltaram sua atenção cada vez mais para
o universo metalúrgico, a fim de entender o comportamento natural de substâncias
metálicas e desenvolver teorias e técnicas que ajudassem na produção em grande
escala.

François-Marie Raoult e Willian Henry são exemplos de pesquisadores voltaram


suas pesquisas para a elaboração de leis e modelos que auxiliassem na
compreensão do comportamento das substâncias químicas. A lei de Raoult e a lei
de Henry surgem nessa necessidade: observar padrões de comportamento traduzi-
los em modelos matemáticos e leis cientificas. Exemplificando, Raoult voltou-se para
o estudo das soluções e sua relação com as pressões de vapor. Desse cenário
surge sua lei que relaciona essas duas grandezas por ligação linear e proporcional.
Henry também inclina sua pesquisa nessa linha, e sua lei surge como um
complemento à Raoult e contribui fortemente para o estudo das soluções não ideais.
Os postulados desses dois grandes nomes têm enorme influência e exercem grande
ajuda para o desenvolvimento da indústria metalúrgica e siderúrgica atualmente.
Este artigo surge então, com o propósito de explicar alguns conceitos fundamentais,
como a atividade, estado padrão de substâncias químicas, idealidade das soluções
e relacioná-los com as leis de Raoult e Henry, estabelecendo uma ligação sólida e
permitindo que o leitor entenda a importância desses conceitos para elaboração
desses modelos matemáticos. Também, a fim de ajudar a fixar os conceitos, serão
propostos exemplos e exercícios de cada tema abordado, assim como as
respectivas soluções.

2. OBJETIVOS

Apresentar conceitos fundamentais para a compreensão e análise das soluções


metalúrgicas, como o conceito de atividade, o conceito de estado padrão, idealidade
e não idealidade soluções, comportamento do soluto em soluções ideias e não
ideias, a lei de Raoult, a lei de Henry e soluções diluídas. Ademais, o objetivo é
aprofundar e exemplificar cada conceito e estabelecer uma relação entre todos eles,
concluindo na importância de seu estudo e na dependência e conexão de cada um
dos temas.
3.1. SOLUÇÕES IDEAIS, A LEI DE RAOULT E O CONCEITO DE SOLUÇÃO
IDEAL

Para entender a lei de Raoult, é necessário antes relembrar e determinar o conceito


de solução.

A combinação de duas substâncias, sejam elas simples ou compostas, acarreta a


formação de misturas que podem ser classificadas em dois tipos: as misturas
heterogêneas e as misturas homogêneas.

As misturas heterogêneas são aquelas que apresentam mais de uma fase. Entende-
se fase como a porção uniformemente definida no aspecto visual, estrutural e
químico. Um exemplo de mistura heterogênea bastante frequente em indústrias de
processamento mineral é a polpa de hematita para a separação por flotação. Ela
consiste em hematita (Fe2O3) misturado à agua e amido ((C6H10O5)n), e é um
exemplo de mistura heterogênea por apresentar duas fases: uma fase sólida tendo
como principal componente o minério de ferro, hematita, e a outra fase líquida, a
solução de água e amido.

Já as misturas homogêneas, mais comumente chamadas de soluções, apresentam


somente uma fase, não sendo possível distinguir visualmente seus componentes. As
soluções podem existir no estado sólido, líquido ou gasoso, e não necessariamente
são compostas por apenas dois componentes, podendo serem constituídas por um
número grande de substâncias.
Ademais, os componentes de uma solução são classificados basicamente de duas
maneiras: o solvente e os solutos. O solvente é o constituinte presente em maior
quantidade enquanto os solutos são os constituintes de menores quantidades.
Segue um exemplo de solução:

Perfis de Aço carbono são um dos principais produtos da indústria siderúrgica


atualmente e exemplificam muito bem o conceito de solução sólida. Neles, átomos
de carbono, soluto, são adicionados ao ferro, solvente, a fim de obter ganhos nas
propriedades mecânicas do material. Como definido anteriormente, não há distinção
dos componentes e a liga é uniforme quanto à fase.

Discutido isso, vale destacar algumas ferramentas para a determinação do


componente majoritário nas soluções. A fração molar e a porcentagem em peso são
alguns destes mecanismos.

A fração molar (Ni) de um constituinte de uma solução pode ser definida como:

ni
N i=
nt

Em que:

Ni = fração molar do constituinte i

ni = número de mols do constituinte i


nt = número de mols totais da solução

A porcentagem em peso é dada por:

mi
% i= ∗100
mt

Onde:

%i = porcentagem em peso do constituinte i

mi = massa do constituinte i

mt = massa total da solução

Complementarmente, para a compreensão da lei de Raoult é necessário também


entender o que significa a pressão de vapor de uma substância.

Fala-se em pressão de vapor quando o vapor de uma substância A está em


equilíbrio com o seu líquido. A pressão de vapor de uma substância pode ser
entendida também em termos do potencial químico. Conceitualmente, potencial
químico é entendido como uma grandeza que mede o equilíbrio das substâncias em
processos químicos. Isso significa que ele é um indicador da energia livre do sistema
e mostra a tendência da transferência de substâncias de um lado para o outro da
reação. No que tange à pressão de vapor, como já visto, ambas as fases estão em
equilíbrio no sistema, portanto, os potenciais químicos das substâncias puras devem
ser iguais. Tem-se então a seguinte equação:

( )
¿
¿ ¿ 0 ρA
μ ( l )=μ ( g )=μ + RT ln
A A A ¿
ρ0

Na qual:
¿
μ A (l) = potencial químico da substância líquida pura

¿
μ A ( g ) = potencial químico da substância gasosa pura

0
μ A = potencial químico da substância no estado padrão

¿
ρ A = pressão de vapor da substância pura


ρ0 = pressão de vapor do sistema

Partindo disso, François-Marie Raoult demonstrou que, para certas soluções, a


pressão de vapor do líquido em solução (P A) se relaciona com a pressão de vapor
do líquido puro (P*A) pela seguinte equação, a lei de Raoult:
¿
P A =x A P A

Na equação acima, xA corresponde à fração molar do líquido A na solução. Por


desenvolvimento algébrico, a lei de Raoult também pode ser escrito da seguinte
maneira:

PA
=x A
P ¿A

Dessa forma fica mais fácil entender o efeito da adição de soluto não volátil à
pressão de vapor do líquido em solução. Uma vez que a fração molar é sempre
menor que 1 (caso o contrário não existiria solução e sim uma substância pura), a
pressão de vapor do líquido em solução será sempre menor do que a do líquido puro
e quanto maior a adição de soluto, ou seja, quanto menor o valor de x A, menor será a
pressão de vapor do líquido em solução.
Como já dito anteriormente, quando XA for igual à 1, a pressão e vapor do líquido em
solução será igual à pressão de vapor do líquido puro.

Agora, quando a solução é formada por um solvente e um soluto voláteis, a


relação se altera e poderá ser representada pelo seguinte gráfico:

O gráfico acima ilustra o resultado da alteração da composição de uma solução na


pressão de vapor dela. A linha preta indica a pressão de vapor total da solução e as
duas linhas verdes indicam as pressões de vapor parciais dos componentes.
Percebe-se que a pressão total é a soma das pressões parciais e que quanto maior
a composição de um determinado componente na solução mais a pressão total irá
se aproximar da pressão parcial desse determinado componente.
O abaixamento da pressão de vapor, discorrido acima, é apenas um dos efeitos da
adição de soluto não volátil à um solvente volátil. Além dele, pode-se observar o
abaixamento da temperatura de solidificação, a elevação da temperatura de ebulição
e a pressão osmótica. Esses efeitos são chamados de propriedades coligativas e
dependem apenas da quantidade de soluto adicionado, não sendo influenciados
pela natureza do componente.

Posteriormente foi comprovado que a lei de Raoult descrevia perfeitamente o


comportamento de soluções ideais, podendo descrever também soluções reais
(não ideais), entretanto nesses casos é necessário o uso de coeficientes para
correção do modelo matemático. Estabelece-se então que, as soluções ideais são
as soluções que obedecem a lei de Raoult em todo intervalo da faixa de
composição.

Microscopicamente falando, a obediência da lei de Raoult é determinada pelas


interações intermoleculares das soluções, e portanto, podem ser distinguidas em
três tipos de acordo com a comparação da intensidade dessas relações antes e
depois da formação da solução. Esses três tipos são:

 As interações entre as moléculas ou átomos iguais são idênticas às


interações entre as moléculas e átomos diferentes
 As interações entre as moléculas ou átomos iguais são mais fortes do que às
interações entre as moléculas e átomos diferentes
 As interações entre as moléculas ou átomos iguais são mais fracas do que
às interações entre as moléculas e átomos diferentes

Para as soluções que são do primeiro tipo, não ocorre atração nem repulsão entre
os componentes. Para o segundo tipo, ocorre o efeito da repulsão entre os
componentes diferentes. E para o terceiro tipo, há atração entre os componentes
diferentes. Essas características serão essenciais para estabelecer o conceito de
solução ideal.

Raoult baseou-se no pressuposto de que as soluções se comportam idealmente, isto


é, as interações moleculares de diferentes moléculas em uma solução são bastante
semelhantes às interações moleculares de moléculas iguais, ou seja, em uma
substância pura. Relacionando com os possíveis tipos de solução, abordados acima,
o primeiro tipo descrito explica as soluções ideais. Ela se comporta, no nível das
interações intermoleculares, como uma substância pura.

Desse modo, para que uma solução seja tida como ideal é necessário que alguns
critérios sejam obedecidos:

 O tamanho das moléculas do solvente e do(s) soluto(s) devem ser


suficientemente similares
 As interações moleculares do solvente e do(s) soluto(s) puros devem ser
suficientemente similares também.

Outro detalhe é que em uma solução ideal, as moléculas dos componentes devem
estar aleatoriamente distribuídas, fazendo com que os critérios sejam cumpridos em
toda a solução sem exceção e, portanto, fazendo valer a ideia de que se uma
molécula ou átomo for substituído por uma molécula ou átomo de um componente
diferente, nada aconteceria e a solução se manteria com as mesmas propriedades.
Um exemplo de solução ideal é a mistura de benzeno e tolueno.
A lei de Raoult pode, também, ser escrita em termos da atividade das substâncias.
Por definição, a atividade é a concentração efetiva da substância em uma solução,
ou seja, é uma medida do quanto tal componente está liberado em um sistema, e
consequentemente acaba por indicar o quanto uma solução não ideal desvia da
idealidade. A atividade é dada por:

a i=γ i∗x i

Assim, o coeficiente de atividade (γ i) é um fator utilizado para “equilibrar” o desvio da


idealidade. Para uma solução ideal, o coeficiente de atividade é aproximadamente
igual a 1. Logo, em um sistema ideal pode-se afirmar que:

a i=x i
E a lei de Raoult pode ser reescrita como:

¿
P A =ai∗P A

E, dessa maneira, é possível chegar em uma outra definição para a atividade de


sistemas ideais.

Como visto acima, a linearidade entre a atividade e a fração molar é provada e


demonstrada pela Lei de Raoult, sendo essa igualdade muitas vezes utilizada para
expressar essa lei.
Entretanto, devido a todos esses pré-requisitos, as soluções ideias são
extremamente incomuns, e o que acaba sendo mais frequente na natureza são as
soluções não ideais, aquelas que apresentam algum tipo de desvio da lei Raoult.
Relacionando novamente com os tipos de solução já abordados, o segundo e o
terceiro caso explicam as soluções reais, e em cada um desses casos será
observado um desvio diferente da lei de Raoult.
Os desvios positivos são observados quando se tem soluções do segundo caso, isto
é, quando as interações entre átomos e moléculas iguais são maiores do que as
interações entre os átomos e moléculas diferentes. Isso significa que, pela repulsão
entre os dois componentes, eles irão vaporizar mais rápido provocando uma maior
pressão de vapor do que a calculada pela lei de Raoult.
Já os desvios negativos são observados quando se tem soluções do terceiro caso,
isto é, quando as interações entre os átomos e moléculas iguais são menores do
que as interações entre os átomos e moléculas diferentes. Isso significa que, pela
atração entre os dois componentes, eles irão vaporizar mais devagar provocando
uma menor pressão de vapor em relação a calculada pela lei de Raoult.

O gráfico acima introduz o conceito de azeótropo. Para manter o foco, este artigo
não aprofundará neste conceito, mas resumidamente pode-se entender que um
azeótropo é uma mistura líquida que ao sofrer a vaporização, mantem a mesma
composição.

Outra característica importante das soluções não ideais é que, por possuírem
interações intermoleculares diferentes das interações dos seus componentes puros,
elas terão um coeficiente de atividade diferente de 1. Dessa forma, a relação entre a
atividade e fração molar (ou concentração) dessas soluções não será de igualdade,
mas sim maior ou menor do que. A relação entre essas duas grandezas dependerá
da comparação entre a distância das moléculas puras ou misturados, isto é, da força
das interações. Uma tabela apresentando e relacionando tudo isso será apresentada
mais tarde.

Exemplos:
1- Lei de Raoult
A pressão de vapor de água pura é de 3,2kPa a 25ºC. Qual será a pressão
parcial da água em uma solução à mesma temperatura que possui 0,4 mol de
glicose em 2,0 mol de água?

Solução:

Primeiro passo é usar a lei de Raoult:

¿
P A =x A P A

Sabe-se que a pressão de vapor do componente puro é:


¿
P A =3 , 2kPa

Para usar a lei de Raoult é necessário descobrir a fração molar da água nesse
sistema:

2 , 0 mol
x A=
2 , 0 mol+0 , 4 mol

x A=0,833 mol

Substituindo todos os valores encontrados na lei de Raoult tem-se:


¿
P A =x A P A
P A =0,833 mol∗3 , 2 kPa
P A =2 ,67 kPa

Logo, a pressão parcial da água no sistem é 2,67 kPa

2- Soluções ideais

Considere um componente que possui uma pressão de vapor igual à 760


mmHg. Na solução, ele representa 50% do peso total da solução e sua pressão
de vapor cai para 500 mmHg. Sabe-se que a massa molar desse componente é
igual à 128 g/mol e sabe-se também que o peso total da solução é de 1064 g e
existem 2,35 mols de outro componente na mistura. Determine se a solução é
ideal ou não, e caso não seja, especifique o tipo de desvio da lei de Raoult.

Solução:

Primeiro passo é calcular a atividade:

PA
=a A
P ¿A

500
=a A
760

0,658=a A

Calculando o número de mols do componente de interesse:

5∗1064 g
0, =n A
128 g /mol

4 , 16=x A

Calculando a fração molar do componente:

4 ,16 mol
x A=
4 , 16 mol+2 , 35 mol

x A=0 ,64

Comparando a fração molar calculada com a atividade:

a A=0,658

x A=0 ,64

a A=0,658 > x A=0 , 64

A partir da comparação, é possível perceber que a solução apresenta um


comportamento bem próximo da idealidade, entretanto os valores para a atividade e
para a fração molar não são iguais. Então, apesar do comportamento próximo do
ideal, ainda assim ocorrem desvios da lei de Raoult, sendo esse desvio levemente
positivo.

3- Soluções que fogem da idealidade:


Tem-se a seguinte reação e sua expressão Δ G 0:
0
Si( l) +O2( g)=SiO2( l) Δ G =−218230+ 48 , 55∗T

E se sabe que o silício está em uma liga com ferro e que atinge o equilíbrio
com 1950ºC com a sílica pura para uma pressão parcial de oxigênio igual à
−9
1 , 47∗10 atm.

Determinar se a solução apresenta desvio da idealidade, considerando que a


fração molar de silício no equilíbrio é 0,3.

Solução:

Para um determinar se a solução é ideal, avalia-se a atividade do silício em


equilíbrio e compare-se com o valor da fração molar.

No equilíbrio Δ G 0=0

Assim:

0 ( aSiO )e
Δ G =−RT ln K=−RT ln n
2

( aSi )e ( PO )e
2

[ ]=exp[ ]=6.983∗10
0
−Δ G −−110303.35
RT 1.9872∗2223 10
K=exp

Logo,

( a SiO ) e 12
=2.49∗10
2

( a Si) e ( PO ) e
2

Lembrando que:

−9
(P ¿ ¿ O2 )e=1.47∗10 atm ¿
a (Si O ) =1
2 e

( aSiO )e 1 −4
a (Si ) = = =2.732∗10
2

e
( PO )e∗K 1.47∗10 ∗2.49∗10
2
−9 12

3.2. CONCEITO DE ATIVIDADE E DE ESTADO PADRÃO

Observa-se que a discussão acerca da Lei de Raoult refere-se à sistemas e


soluções ideais. Conquanto, caso o sistema analisado não seja ideal, é necessário
incluir esta não-idealidade nas equações desejadas, afim de obter um resultado que
consiga descrever as aplicações do sistema da melhor forma possível.

Sistemas não ideais são as mais comuns em problemas relacionados à metalurgia,


e destarte na maioria dos problemas relacionados à metalurgia a não-idealidade do
sistema deve ser levado em consideração. A não idealidade de uma solução
corresponde à atração ou repulsão existente entre seus constituintes, o que indica
desvio negativo ou positivo da Lei de Raoult.

No caso de atração entre constituintes de uma solução, as distâncias interatômicas


são menores do que no estado padrão. Isto ocorre quando as forças de coesão
interatômicas são maiores que as forças médias dos constituintes da solução em
seu estado padrão. Dessarte, a solução no estado analisado ocupará volume menor
do que o esperado no estado padrão, e a disponibilidade de uma das substâncias
para reagir é reduzida pela presença do outro reagente. Assim, a atividade de um
componente tem valor menor que a sua fração molar, tal qual descreve a fórmula:

a i< N i

a i = Atividade do componente “i”.

N i = Fração molar do componente “i”.

Ademais, sistemas em que existe a tendencia de formação de compostos


apresentam desvio negativo à idealidade. Por fim, vale destacar que este desvio
negativo de idealidade é geralmente acompanhado por um decréscimo de entalpia,
ou seja, liberação de calor.

Um exemplo de desvio negativo da lei de Raoult é o sistema de acetona e


clorofórmio.

Observa-se no gráfico que a pressão de vapor total do sistema é menor do que às


pressões dos componentes em sua forma pura.

Já no caso de repulsão entre os constituintes, as distâncias intermoleculares dos


componentes são maiores do que no estado padrão, o que proporciona à estas
soluções um volume maior do que no estado padrão:

a i> N i

Existe a tendencia de elementos que possuem imiscibilidade de apresentarem


repulsão entre seus constituintes. Além disso, a formação deste tipo de soluções é
normalmente acompanhada por uma absorção de calor, o que indica uma entalpia
positiva. Por fim, salienta-se que neste tipo de sistema a disponibilidade das
moléculas é maior do que no estado padrão, por consequência de sua atividade.

Um exemplo de sistema com repulsão entre as moléculas é o sistema de acetona e


dissulfeto de carbono.
 É possível observar pelo gráfico que a pressão de vapor total exibe um
máximo maior do que a pressão de vapor dos seus constituintes.

Portanto, de maneira geral, pode-se definir a atividade como uma medida do quanto
interações entre as moléculas fogem do estado ideal.
Gilbert Newton Lewis, que incorporou os conceitos de Fugacidade: atividade,
coeficiente de atividade e força iônica.

Entretanto, para compreender esta conceituação, é de vital importância a


compreensão do que compõe o estado ideal no qual os componentes de uma
solução ideal estão submetidos.

O estado padrão de uma substância consiste na sua condição à pressão de 1 atm,


temperatura de 298 K. Para soluções líquidas, o estado padrão do soluto inclui que a
concentração do soluto tenha o valor de um mol, qualquer que seja a unidade de
concentração especificada. Já os solventes em soluções padrão tem as mesmas
características de um líquido no estado puro.

É possível observar na tabela acima a importância do estado padrão para


possibilidade de ter uma referência na definição de diversos conceitos, como por
exemplo a entalpia e a entropia.
Tal qual descrito anteriormente, o potencial químico de cada componente de uma
solução ideal pode ser obtido por:

id o
μi =μ i + RT ln x i

E além disso:

o
μi=μ i + RT ln ai

Assim, relacionando as duas equações, obtêm-se que:

id ai
μi −μ i=RT ln
xi

Assim, o coeficiente de atividade racional de i, é definido por:

ai
γ i=
xi

E por conseguinte:

id
μi=μ i + RT ln γ i

De acordo com Castellan, um coeficiente de atividade racional é conveniente para


os sistemas nos quais a fração molar de um dos componentes pode variar de 0 a 1,
como nas misturas de líquido, à exemplo, de acetona e clorofórmio.
Relacionando o conceito de coeficiente de atividade com os desvios positivos e
negativos da lei de Raoult, obtêm-se a seguinte tabela:

Variação de
Tipo de Coeficiente de Entalpia da
Atividade Volume na
Solução Atividade Mistura
mistura

Ideal a i=N i γ i=1 Δ H M =0 Δ V M =0

Desvio
a i< N i γ i <1 Δ H M <0 Δ V M <0
Negativo
Desvio
a i> N i γ i >1 Δ H M >0 Δ V M >0
Positivo

A atividade de um solvente real ou ideal pode ser definido como μi=μ oi + RT ln ai ,


sendo que:

pi
a i=
pi¿
Sendo:

- pi a pressão do gás i.
¿
- pi a pressão do gás i no estado padrão.

Já a atividade de um soluto, varia, pois em soluções diluídas o soluto tende a seguir


o comportamento ideal. Este comportamento será melhor descrito no tópico
referente à Lei de Henry e soluções diluídas. Dessarte, trataremos aqui de soluções
reais, e nelas, o potencial químico da solução é descrito por:

o
μi=μ i + RT ln ai

Em que:

pi
a i=
Ki

É importante também destacar a relação entre a energia de Gibbs padrão e a


atividade:

∆ Gi =RT ln ai

Lembrando que outra maneira de representar a energia de Gibbs padrão é:

∆ Gi =H i−T Si

H i= Entalpia padrão da substância 'i'.

Si = Entropia padrão da substância ‘i’.

Observa-se também que as propriedades coligativas de uma solução com solutos


não-voláteis podem ser expressas conforme a atividade racional de um solvente:

 Pressão de Vapor
Se o solvente de uma solução possui pressão de vapor p e atividade a,
temos:
p
a= o
p
 Abaixamento Crioscópico
Se o solvente puro estiver em equilíbrio com a solução, pode-se observar que
o o
μ ( s )=μ (l ) + RT ln a, logo:
o o

( )
−Δ G fus −Δ H fus 1 1
ln a= ou ln a= −
RT R T To

 Elevação Ebulioscópica.
De forma análoga ao abaixamento crioscópico, observa-se que a atividade de
um solvente e sua elevação ebulioscópica estão relacionados da seguinte
maneira:
o

( T1 − T1 )
−Δ H vap
ln a=
R o

 Pressão Osmótica
A pressão osmótica é obtida por:
o
V π=−RT ln a

Por fim, é possível estabelecer uma relação direta entre a temperatura e o


coeficiente de atividade da solução em análise. Observa-se que a energia livre de
Gibbs pode ser calculada por meio da atividade de um sistema e também pela
entalpia e entropia do mesmo, o que indica relação direta entre essas grandezas.
Assim:

RT ln a i=H i−T S i

Através de manipulações algébricas, é possível estabelecer um vínculo entre a


atividade a i em diferentes faixas de temperatura, da seguinte forma:

( )
Δ Hi 1 1
(ln ai ¿ T 2)−(ln ai ¿T 1 )= −
R T2 T1

A partir desta fórmula, é possível realizar algumas constatações:

- Para soluções com desvio negativo na lei de Raoult, Δ H i é negativo, afinal, existe
liberação de calor. Assim, quanto maior a temperatura T 2 em relação à temperatura
T 1, maior a atividade da solução, e mais próximo da idealidade ela está.
O Gráfico acima mostra como o aumento de temperatura aproxima uma solução de
Mg-Bi da idealidade.

- Para soluções com desvio positivo na lei de Raoult, Δ H i é positivo, afinal, existe
absorção de calor. Assim, quanto maior a temperatura T 2 em relação à temperatura
T 1, menor a atividade da solução, e mais próximo da idealidade ela está.
O Gráfico acima mostra como o aumento de temperatura aproxima uma solução de
Pb-Zn da idealidade.

Exemplo:

Tem-se uma liga ferro-alumínio, com a seguinte composição em fração molar:

N Fe=0.7 N Al=0.3

Determine, numa temperatura de 1873 K:

a- As atividades do ferro e do alumínio nessa liga.


b- Os valores de coeficientes de atividade para os dois metais.
c- Os valores de Δ Gi para os componentes da liga.
d- O tipo de desvio da idealidade que essa solução apresenta

a- Para:

N Fe=0.7 N Al=0.3

Tem-se:

a Fe =0,553 a Al=0,069

b- Os coeficientes de atividade são:

0.553 0.069
γ Fe = =0,790 γ Al = =0.230
0.7 0.3

c- Os valores de Δ Gi tabelados são:

Δ G Al =−9957 Δ G Al =−2203

Também é possível obter estes valores através de:

Δ G Al =RT ln a Al =1.9872∗1873∗ln 0.069=−9957

E também:

Δ G Fe =RT ln a Fe=1.9872∗1873∗ln 0.553=−2203


3.3. SOLUÇÕES DILUÍDAS: LEI DE HENRY E O COMPORTAMENTO DO
SOLUTO

É possível definir uma solução diluída como uma solução em que o soluto está em
concentração bastante diminuta em relação à concentração do solvente. Desse
modo, é possível caracterizar o aço como uma solução diluída de C, Mn, P e S no
ferro, haja vista que de maneira geral, o ferro possui porcentagem maior do que
93,3% na solução.

Além disso, constata-se que em soluções diluídas, numa temperatura constante, a


pressão parcial do soluto na fase de vapor é igual à sua fração molar na solução.
Assim, deduz-se a equação matemática da Lei de Henry, que é:

pi=K i∗N i

pi = Pressão parcial de vapor de ‘i’ na solução;

K = constante de proporcionalidade;

N i = Fração molar de ‘i’ na solução;

Portanto, conclui-se que, se o solvente e os constituintes na fase gasosa não


reagem quimicamente, a solubilidade dos gases nos líquidos costumeiramente é tão
pequena que é possível classificar esta solução como diluída.

Vale lembrar que, relacionando o conceito de atividade com a lei de Henry, é


possível expressar a lei de Henry da seguinte maneira:

0
a i=γ i ∗N i

0
γ i = Valor do coeficiente de atividade de i, quando N i = 0

Dessa maneira, é possível constatar que impurezas em metais estão, em sua


grande maioria, localizadas em soluções diluídas.

Ressalta-se que, sempre que o soluto segue a lei de Henry, ou seja, encontra-se em
baixas concentrações, o solvente segue a Lei de Raoult, o que significa que ele está
em altas concentrações. Tal afirmação pode ser observada a partir da equação de
Gibbs-Duhem, que descreve a relação entre mudanças no potencial químico em
componentes que estão em sistemas termodinâmicos.
Para uma solução binária, tem-se que:

N i∗d ln ai + N j∗d ln a j=0

Se assumirmos ‘i’ como soluto e ‘j’ como solvente, e considerando que o soluto
obedece à lei de Henry, após operações algébricas, obtêm-se:

a i=N i

Exemplo:

Avaliar a atividade do alumínio e do cobre em ligas com o ferro à 2100ºC,


considerando as seguintes composições:

a- Liga Al-Fe:

%Al = 0.078 %Fe = 99.922

b- Liga Cu-Fe:

%Al = 0.023 %Fe = 99.977

Solução:

a-

Considerando uma liga com massa de 100g:

m Al=0.078 g mFe =99.922 g

mAl 0.078
n Al = =
P . A . Al 26.98

n Al=0.00289

m Fe 99.922
n Fe = =
P . A . Fe 55.85

n Fe =1.78911

Calculando as frações molares:


n Al 0.00289
N Al = = =0.0016
n Al +n Fe 0.00289+1.78911

nFe 1.78911
N Fe= = =0.9984
n Al +n Fe 0.00289+1.78911

Supondo que o soluto e o solvente obedecem à Lei de Henry, realiza-se o seguinte


procedimento:

0
a Al=γ Al∗N Al

0
γ Al =0.058

Logo:

−5
a Al=0.058∗0.0016=9.28∗10

b-

Analisando uma liga de ferro-cobre, com a massa de 100g:

mCu =0.023 g mFe=99.977 g

m Al 0.023
nCu = =
P . A . Al 63.54

−4
n Al=3.62∗10

m Fe 99.977
n Fe = =
P . A . Fe 55.85

n Fe =1.79

Calculando as frações molares:

n Al 3.62∗10
−4
−4
N Cu = = −4
=2.022∗1 0
nCu +n Fe 3.62∗10 +1.79

n Fe 1.79
N Fe= = =0.9999
nCu + nFe 3.62∗10− 4 +1.79

Supondo a validade da Lei de Henry:


0
γ Cu =8.77

0
a Cu=γ Cu∗N Cu

−4
a Cu=8.77∗2.022∗1 0

−3
a Cu=1.773∗10

4. Conclusão

Destarte, conclui-se que a realização do trabalho sobre soluções metalúrgicas


possibilitou a compreensão da complexidade do assunto e da necessidade de
aprofundamento sobre o tema para compreensão de processos metalúrgicos, os
quais regem o cotidiano de um Engenheiro Metalurgista. Ademais, pôde-se observar
que o conhecimento de conceitos típicos da Metalurgia e da Físico-Química são de
vital importância para o trabalho, haja vista que a execução de processos
metalúrgicos só é possível a partir da execução de Leis e definições sobre diversos
tipos de soluções, as quais foram explicitadas no trabalho como tendo interferência
direta na metalurgia.

Assim, fez-se mister no trabalho a necessidade de conhecimento da Lei de Raoult,


uma vez que a interpretação de gases ideais, atividades químicas e pressões
parciais afetam a realização de diversos processos, e assim, compreender a
idealidade de um gás, e seus possíveis desvios, permitem a realização de cálculos
que forneçam o melhor resultado possível para a operação necessária.

Além disso, tal qual especificado no texto, é possível perceber o impacto da Lei de
Henry em soluções diluídas, à exemplo do aço, uma liga que possui papel vital na
indústria.

Logo, a compreensão de processos metalúrgicos ligados à soluções metalúrgicas


permite a clarificação acerca da importância deste assunto e sua relevância para a
indústria de maneira geral.

5. Referências Bibliográficas

https://www.youtube.com/watch?v=ElhsWpdrsr8

https://www.youtube.com/watch?v=YnCynwQFrXY

https://www.youtube.com/watch?v=69xbItiUDYQ
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4135683/mod_resource/content/1/Solu
%C3%A7%C3%A3o_ideal_Lei_Raoult__Henry.pdf
https://www2.ufjf.br/quimicaead/wp-content/uploads/sites/224/2013/09/FQ_II_Aulas-
1-e-2.pdf

https://ia904605.us.archive.org/10/items/Fsico-qumica_Levine_vol._1_6._ed._-
_www.meulivro.biz/Fsico-qumica_Levine_vol._1_6._ed._-_www.meulivro.biz.pdf

https://maestrovirtuale.com/lei-de-raoult-o-que-e-desvios-positivos-e-negativos/

http://zeus.qui.ufmg.br/~valmir/Notas_de_aula_QUI051.pdf

https://sites.usp.br/cdcc/wp-content/uploads/sites/512/2019/08/solubilidade.pdf

http://www.rastro101.com.br/arquivos/imagens/texto/FERRO-NO-COPO-
RASTRO101_rastro101.jpg

https://www.coladaweb.com/quimica/fisico-quimica/solucoes

https://brasil.arcelormittal.com/files/produtos-img/15f886aa-9659-4633-be1e-
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https://brasil.arcelormittal.com/produtos-solucoes/industria/perfil-udc

https://pt.wikipedia.org/wiki/Solu%C3%A7%C3%A3o_ideal

https://stringfixer.com/pt/Raoult's_Law

http://sites.poli.usp.br/p/luiz.terron/destilacao/3_paginas_termo/
3_2_destilacao_equilibrio_liquido_vapor.htm#:~:text=Um%20aze%C3%B3tropo
%20%C3%A9%20uma%20mistura,com%20ponto%20de%20ebuli
%C3%A7%C3%A3o%20m%C3%ADnimo.

https://philarchive.org/archive/CORADD-2

https://slideplayer.com.br/slide/363484/#:~:text=Ent%C3%A3o%3A
%20x1%2Bx2%3D%20(,em%20termos%20de%20fra%C3%A7%C3%A3o%20molar.

http://dequi.eel.usp.br/~acsilva/3%20%20Solucoes%20ideais%20e%20as
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Atividade_(qu%C3%ADmica)#:~:text=Em%20qu
%C3%ADmica%2C%20atividade%20%C3%A9%20uma,considera
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https://app.respondeai.com.br/aprender/topico/146/1736/exercicio/8699

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https://www.equilibriumtrix.net/refino/capitulos_acs_refino/
Capitulo3rev116042012.pdf

https://www.cimm.com.br/portal/verbetes/exibir/1372-estado-padrao#:~:text=Defini
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https://wiki.ubc.ca/Standard_State

https://pt.frwiki.wiki/wiki/%C3%89tat_standard

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CASTELLAN, G; Fundamentos de Físico-química

LEVINE, I. N. Fisico-Quimica. 6ª ed.

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