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Não há dúvidas de que estamos em dívida com o materialismo dialético por haver
projetado a luz mais poderosa sobre os problemas da situação da mulher, uma luz que nos
permite delimitar o problema da mulher dentro de um sistema generalizado de exploração.
O materialismo dialético define a sociedade humana, não como algo natural e imutável, mas
sim como contrária à natureza.
A humanidade não se submete passivamente ao poder da natureza. Toma o
controle deste poder. Esta tomada de controle não é uma operação interior e subjetiva.
Acontece objetivamente na prática, se a mulher deixa de ser considerada como um simples
organismo sexual e se toma consciência, além de suas funções biológicas, de seu valor na
ação. E mais, a consciência que a mulher adquire de si mesma não se define somente por
sua sexualidade. Reflete uma situação que depende da estrutura econômica da sociedade,
estrutura que traduz o grau de evolução técnica e de relações entre as classes que a
humanidade alcançou.
A importância do materialismo dialético reside em ter superado as limitações
essenciais da biologia, de haver fugido das teses simplistas sobre a a escravidão da
espécie humana ante a natureza, para colocar todos os acontecimentos dentro de um
contexto econômico e social.
Também, ao remontarmos à história humana, veremos que o domínio da natureza
pelo homem jamais se deu de forma direta, através apenas de seu corpo. A mão, com seu
polegar opositor, se estende através da ferramenta que multiplica seu poder. Não são,
portanto, apenas as características físicas - a musculatura, o parto, por exemplo - que
definiram a desigualdade entre a condição da mulher e do homem. Tampouco foi a
evolução tecnológica em si. Em alguns casos, e em certas partes do mundo, a mulher
conseguiu anular a diferença física que a separa do homem.
Foi a passagem de uma forma de sociedade a outra que serviu para justificar a
institucionalização desta desigualdade. Uma desigualdade produzida pela nossa mente
mente e pela nossa inteligência para a dominação e a exploração, refletidas e vividas nas
funções e papéis sociais que temos relegado à mulher desde então. A maternidade, a
obrigação social de se ajustarem aos padrões de beleza impostos pelos homens, impedem
que a mulher, que assim desejar, desenvolva a chamada musculatura masculina.
Durante milênios, do paleolítico à idade do bronze, as relações entre os sexos
foram, de acordo com os paleontólogos mais qualificados, de complementaridade positiva.
Este tipo de relações durou oito milênios, baseada na cooperação e interação, e não na
exclusão da mulher, própria de um patriarcado absoluto que se generalizou mais ou menos
durante essa época histórica.
Friedrich Engels, não só traçou a evolução da tecnologia mas também da escravidão
histórica da mulher que nasce com a apropriação da propriedade privada, em razão da
passagem de um modo de produção a outro e de uma organização social a outra.
Com o trabalho intensivo para desmontar os bosques, cultivar a terra, tirar a máxima
vantagem da natureza, se desenvolve o princípio da divisão do trabalho. O individualismo, a
preguiça, a indolência, em suma, a ideia de extrair o maior benefício com o menor esforço,
surge do mais profundo do homem e se transforma em princípio.
A ternura protetora da mulher com a sua família e o clã, transforma-se em uma
armadilha que a sujeita à dominação do homem. A inocência e a generosidade tornam-se
vítimas da dissimulação e dos cálculos inescrupulosos. Se ridiculariza o amor. Se mancha a
dignidade. Todos os sentimentos verdadeiros se transformam em objeto de barganha.
Desde esse momento, o sentimento de hospitalidade e companheirismo das mulheres
sucumbe ante a armadilha e o engano.
Ainda que consciente dessa traição, que lhe impõe uma divisão desigual das tarefas,
ela, a mulher, segue o homem a fim de cuidar e criar de tudo o que ama. O homem explora
ao máximo a abnegação da mulher. Mais adiante, o gérmen dessa exploração criminosa
estabelece normas sociais artroses, que vão além das conceções conscientes da mulher
historicamente traída.
A humanidade conhece a escravidão com a propriedade privada. O homem, amo de
seus escravos e da terra, passa também a ser proprietário da mulher. Esta, consiste na
grande derrota histórica do sexo feminino. A raíz dos novos modos de produção e de uma
revolução nos meios de produção se encontra nas grandes transformações na divisão do
trabalho.
É então que o direito paternal substitui o direito maternal. A transmissão da
propriedade se faz de pai a filho, e não, como anteriormente, da mulher a seu clã. Aparece
a família patriarcal fundada sobre a propriedade pessoal e única do pai, que se tornou chefe
de família. Nesta família, a mulher é oprimida. Rei e soberano, o homem sacia seus desejos
sexuais com as escravas e prostitutas. As mulheres se transformam em seu saque e sua
mercadoria. O homem ganha com a força de trabalho e a diversidade de prazeres que elas
lhe proporcionam.
Por sua parte, assim que o amo lhes dá oportunidade, as mulheres se vingam com a
infidelidade. Assim, o casamento se complementa, de maneira natural, com o adultério. É a
única defesa da mulher contra a escravidão doméstica a que é submetida. A opressão
social é aqui a expressão da opressão econômica.
Em um ciclo de violência como esse, a desigualdade não terá fim, se não com a
chegada de uma nova sociedade, ou seja, até que homens e mulheres gozem dos mesmo
direitos sociais, como resultado de uma transformação de sentimento. Sua ternura, o amor
à família, a meticulosidade com a qual a mulher realiza o seu trabalho, são usados contra
ela: tudo é utilizado contra ela enquanto ela cuida das debilidades que eventualmente
tenha.
Assim, através das épocas e dos diversos tipos de sociedade, a mulher suportou um
triste destino: o da desigualdade de gênero constantemente reforçada. Apesar de ter se
manifestado com características e perfis diversos, esta desigualdade não deixou de ser a
mesma.
Na sociedade escravista, o homem escravo era considerado como um animal, um
meio de produção de bens e serviços. A mulher, independentemente da sua posição, era
subjugada no seio da sua própria classe e fora desta, o mesmo acontecia com as mulheres
das classes exploradoras. Na sociedade feudal, baseado na suposta debilidade física ou
psicológica das mulheres, elas foram confinadas a uma dependência absoluta do homem.
Considerada frequentemente como objeto sujo ou como agente primário de atrevimento, à
mulher - salvo raras exceções - era negado o acesso aos lugares de devoção. Na
sociedade capitalista, a mulher, além de ser perseguida moral e socialmente, é também
dominada economicamente. Mantida pelo homem quando deixa de trabalhar, é então que
ela se mata de trabalhar. É impossível demonstrar com suficiente clareza a miséria que a
mulher vive, nem tampouco mostrar o quanto ela é solidária com a miséria de todo o
proletariado.
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Levirato é quando a viúva se casa com um irmão do defunto, o que se realiza de maneira coagida
de várias formas
mesma família. Uma casa suja e desagradável engendra relações da mesma natureza. Não
precisamos mais do que observar os porcos para nos convencermos disso.
Por outro lado, a transformação das mentalidades será incompleta se a mulher nova
tiver que continuar vivendo com um homem de mentalidade antiga. Onde é mais pernicioso
o complexo de superioridade do homem sobre a mulher e onde é mais decisivo do que no
lar, onde a mãe, cúmplice e culpada, cria seus filhos dentro de um sistema de regras
sexistas e de desigualdade? São essas mulheres que perpetuam os complexos sexuais,
desde o começo da educação e da formação do caráter.
Além disso, para que servirão nossos esforços de mobilizar um militante durante o
dia se à noite ele retorna para a companhia de uma mulher reacionária e desmobilizadora?
E o que dizer das tarefas domésticas, que absorvem e embrutecem quem as
cumpre, tendem a transformar este em um robô, sem permitir nem mesmo o menor respiro
para o pensamento! Por isso, devemos dirigir nossa ação de maneira resoluta entre os
homens,a fim de desenvolver, em grande escala, infraestruturas sociais tais como os
orfanatos, as creches e os restaurantes populares. Isso permitirá que as mulheres
participem com mais facilidade do debate revolucionário, da ação revolucionária. Tanto o
filho rejeitado como fracasso da mãe quanto o que dá orgulho a seu pai deverão ser motivo
de preocupação de toda a sociedade e beneficiários de sua atenção e seu afeto. A partir de
agora, o homem e a mulher deverão dividir todas as tarefas do lar.
O Plano de Ação a favor das mulheres deverá ser uma ferramenta revolucionária
para conquistar a mobilização geral de todas as estruturas políticas e administrativas dentro
do processo de libertação da mulher. Camaradas militantes, lhes repito: para que este plano
supra as necessidades reais das mulheres, ele deverá ser debatido democraticamente em
todos os organismos da UFB.
A UFB é uma organização revolucionária. Como tal, é uma escola de democracia
popular regida pelos princípios organizativos da crítica, autocrítica e o centralismo
democrático. Aspira a diferenciar-se daquelas organizações onde a mistificação se impôs
acima dos objetivos concretos. Mas essa diferenciação não será efetiva nem permanente a
não ser que as militantes da UFB façam uma luta resoluta contra os defeitos que,
lamentavelmente, ainda persistem em certos círculos femininos. Não se trata de agrupar
mulheres para as galerias ou para outros motivos ulteriores demagógicos, eleitoreiros ou
simplesmente repreensíveis.
Trata-se de agrupar as combatentes para obter vitórias. Trata-se de lutar
ordenadamente e em torno de programas e atividades aprovadas democraticamente no
seio de seus comitês, dentro do marco bem entendido da autonomia organizativa própria de
cada estrutura revolucionária. Cada dirigente da UFB deverá estar focada no seu papel
dentro da estrutura que lhe corresponda a fim ser eficaz na ação. Isso exige à União de
Mulheres de Burkina, empreender enormes campanhas de educação política e ideológica
entre suas dirigentes, para fortalecer a organização das estruturas da UFB em todos os
níveis.
Camaradas que militam na UFB, sua união - nossa união - deve participar
ativamente da luta de classes ao lado das massas populares. As milhões de consciências
adormecidas que se despertaram com a chegada da revolução representam uma força
pujante. No dia 4 de agosto de 1983, em Burkina Faso, escolhemos contar apenas com
nossas próprias forças, o que significa, em grande parte, contarmos com a força que vocês,
mulheres, representam. Para serem úteis, todas as suas energias deverão se conjugar para
liquidar as raças de exploradores, a dominação econômica do imperialismo. Como estrutura
de mobilização, a UFB deverá forjar em suas militantes uma consciência política à favor de
um compromisso revolucionário completo ao realizar as diferentes ações empreendidas
pelo governo para melhorar as condições da mulher.
Camaradas da UFB, são as transformações revolucionárias que vão criar as
condições necessárias para a sua libertação. Vocês estão duplamente dominadas, pelo
imperialismo e pelo homem. Em cada homem se esconde um senhor feudal, um machista
que se deve destruir. É imperativo,portanto, que adiram às consignas revolucionárias mais
avançadas para acelerar a concretização e avançar mais rápido à emancipação. É por isso
que o Conselho Nacional da Revolução contempla com alegria a sua intensa participação
em todos os grandes projetos nacionais e estimula a ir cada vez mais longe, a dar um apoio
ainda maior à revolução de agosto que é, sobretudo, sua revolução.
Ao participar de forma massiva nas grandes tarefas, vocês demonstram que são
mais valiosas do que as atividades secundárias que - mediante a divisão de tarefas a nível
de sociedade - lhes foram confiadas. Comprovamos também que sua aparente debilidade
física não era outra coisa se não a consequência das normas estéticas que esta mesma
sociedade lhes impõe pelo fato de serem mulheres.
Ao avançar, nossa sociedade deve deixar para trás as concepções feudais que
excluem da sociedade a mulher solteira, sem que percebamos claramente que é assim
como se traduz a relação de apropriação, que determina que cada mulher seja propriedade
de um homem. E assim depreciamos as mães jovens como se elas fossem as únicas
responsáveis pela sua situação, sem perceber que há sempre um homem que é culpado. É
assim que, com base em crenças antiquadas, se oprime as mulheres que não tem filhos,
quando na atualidade é algo que se explica cientificamente e que pode ser resolvido pela
ciência.
A sociedade impõe à mulher, normas estéticas que afetam a sua integridade física: a
ablação [mutilação genital feminina], cortar a pele, lixar os dentes, furar os lábios e o nariz.
A aplicação dessas normas estéticas tem um valor duvidoso. No caso da ablação, se põe
em perigo a capacidade de procriação e a vida afetiva da mulher. Outros tipos de mutilação,
ainda que sejam menos perigosos, como a perfuração das orelhas e as tatuagens, não são
menos expressão do condicionamento da mulher, condicionamento que lhe é imposto pela
sociedade se esta deseja casar-se.
Camaradas militantes, vocês se cuidam para merecer um homem. Perfuram suas
orelhas e violentam seus corpos para que os homens as aceitem. Se machucam para que o
homem lhes machuque mais ainda.
Mulheres, camaradas de luta, é a vocês que me dirijo.
Vocês, desprezadas tanto na cidade como no campo.
No campo, se dobram ante o peso de cargas diversas da vil exploração que é
“justificada e explicada”.
Na cidade, supostamente felizes, mas que no quotidiano são desprezadas e estão
sobrecarregadas de tarefas. Logo que se levanta, a mulher vai até seu guarda-roupa
perguntando o que vai vestir. Não para se proteger do frio, para se cobrir das intempéries,
mas sobretudo, para agradar os homens. Já que ela é sustentada, é obrigada todos os dias
a buscar satisfazer os homens.
Na hora do descanso, vocês, as mulheres, exibem a triste atitude de quem não tem
direito a descansar. São obrigadas à ração, impõe a si próprias a continência e a
abstinência a fim de manter um corpo que que agrade aos homens.
De noite, antes de se deitarem, se cobrem e se maquiam com os produtos que tanto
detestam - sabemos que é assim - mas que pelo menos ajudam a esconder uma ruda
indiscreta, inoportuna, um sinal que sempre se considera prematuro, a idade que começa a
se fazer visível. Lá estão, a cada noite, obrigadas a realizar um ritual de duas horas para
preservar um atributo, frequentemente mal recompensado por um marido desatento, para
começar tudo de novo no dia seguinte.
Camaradas militantes, ontem, através dos discursos dos membros do Diretório de
Mobilização e Organização da Mulher (DMOF), e seguindo o estatuto geral dos Comitês de
Defesa da Revolução2, o Secretariado Geral Nacional dos CDR propôs o estabelecimento
de comitês, subseções e seções da União de Mulheres de Burkina. A Comissão Política,
encarregada da organização e planificação, terá a responsabilidade de completar a
pirâmide organizativa ao criar o Bureau Nacional da UFB.
Não precisamos de uma administração feminina para controlar burocraticamente a
vida das mulheres, nem para falar esporadicamente da vida da mulher mediante
funcionários cautelosos. Precisamos de mulheres que vão à luta porque sabem que sem
batalhar não se poderá destruir a velha ordem e nem construir uma nova ordem. Não
queremos organizar o que já existe, mas sim destruí-lo e construir algo novo em seu lugar.
O Bureau Nacional da UFB deverá ser constituído por militantes convencidas e
resolutas, que estejam sempre disponíveis, pois a tarefa a se realizar é imensa e a luta
começa no lar. Estas militantes devem ter consciência de que, ante os olhos das massas,
elas representam a imagem da mulher revolucionária emancipada, e deverão comportar-se
de forma consequente.
Companheiras e companheiros militantes, ao mudar a ordem tradicional das coisas,
a experiência nos demonstra cada vez mais que somente o povo organizado é capaz de
exercer o poder democraticamente. A justiça e a igualdade são os princípios básicos que
permitem que as mulheres demonstrem que a sociedade está equivocada ao não confiar
nelas em um nível político e econômico. Portanto, a mulher que exerce o poder que
conquistou no seio do povo, é quem deverá libertar todas as mulheres condenadas da
história. Nossa revolução mudou de maneira qualitativa e profunda a nossa sociedade. Esta
mudança deve, necessariamente, levar em conta as aspirações da mulher burkinabe.
A libertação da mulher é uma exigência do futuro, e o futuro, camaradas, é por todas
as partes, portador de revoluções. Se perdermos o combate pela libertação da mulher,
perderemos todo o direito de almejar uma transformação positiva superior da sociedade.
Nossa revolução deixará de ter sentido. Este é o combate nobre ao qual todos estamos
convidados, homens e mulheres. Que nossas mulheres passem agora para a primeira fila!
A vitória final dependerá, fundamentalmente, da sua capacidade, da sua sagacidade para
lutar e da sua determinação para vencer. Que cada mulher combata o machismo em um
homem. E assim, que cada uma de nossas mulheres saiba encontrar - na imensidão de
seus tesouros de afeto e amor - a força e a sabedoria para nos dar coragem ao avançar e
renovar nosso ânimo quando nos desanimamos. Que cada mulher aconselhe um homem e
que cada mulher se transforme em mãe de cada homem! Vocês nos trouxeram ao mundo;
vocês nos educaram; vocês fizeram, a todos nós, homens.
Que cada mulher - vocês que nos guiaram para onde estamos hoje - continue
exercendo e aplicando seu papel de mãe, seu papel de guia. Que as mulheres se lembrem
do que são capazes, que cada mulher se lembre que está no centro da Terra, que cada
mulher se lembre que está no mundo e é para o mundo. Que cada mulher se lembre que a
2
Os Comitês de Defesa da Revolução eram organizações de massas desenvolvidas após o triunfo
revolucionário no nível dos bairros, povoados, centros de trabalhos, escolas e unidades militares por
todo o país, assim como entre os burkinabes no exterior. Os CDR mobilizavam a população para
participar dos programas sociais do governo revolucionário, estimulando e atraindo para a atividade
política.
primeira a chorar por um homem é uma mulher. Se disse, e vocês se lembram, camaradas,
que no momento de morrer, cada homem chama, com seu último suspiro, a uma mulher:
sua mãe, sua irmã ou sua companheira.
As mulheres precisam dos homens para vencer. E nós, homens, precisamos das
vitórias das mulheres para vencer. Porque, companheiras, ao lado de cada homem, sempre
se encontra uma mulher. A mão da mulher que balança o bebê no colo, é a mesma mão
que balançará o mundo inteiro. Nossas mães nos dão a vida. Nossas esposas trazem ao
mundo nossos filhos, os alimentam de seus seios, os criam e os transformam em seres
responsáveis. As mulheres asseguram a existência de nosso povo; as mulheres asseguram
o futuro da humanidade; as mulheres asseguram a continuação de nossa obra; as mulheres
asseguram o orgulho de cada homem.
Mães, irmãs, companheiras,
Não existe um homem orgulhoso que não tenha uma mulher a seu lado. Todo
homem orgulhoso, todo homem forte tira a sua energia de uma mulher. A fonte inesgotável
de virilidade é a feminilidade. A fonte inesgotável, a chave da vitória, se encontra sempre
nas mãos da mulher. É ao lado da mulher, irmã ou companheira, que cada um de nós
recupera o ímpeto da honra e da dignidade.
É sempre para o lado de uma mulher que cada um de nós retorna para procurar e
encontrar consolo, carinho e inspiração para voltar ao combate, para receber o conselho
que acalma nossos impulsos imprudentes ou nossa arrogância. É sempre ao lado de uma
mulher que voltamos a ser homens, e cada homem é um filho para uma mulher.
Portanto, quem não ama a mulher, quem não respeita a mulher, quem não honra a
mulher, despreza sua própria mãe. Em consequência, quem despreza a mulher, despreza e
destrói o próprio lugar onde nasceu. É como se cometesse um suicídio por não acretitar que
há razão de existir, de sair do seio generoso de uma mulher.
Camarada, infeliz é aquele que despreza as mulheres! A qualquer homem, daqui ou
de onde quer que seja, a qualquer homem de qualquer meio social, que ignore ou esqueça
o que elas representam, eu lhes digo: “Você bateu numa pedra, será esmagado”. 3
Camaradas, nenhuma revolução - começando pela nossa - será vitoriosa enquanto
as mulheres não forem livres. Nossa luta, nossa revolução não estará completa enquanto
compreendermos como libertação, exclusivamente a dos homens. Depois da libertação do
proletariado, ainda resta a libertação da mulher.
Camaradas, toda mulher é mãe de um homem. Como homem e como filho, não
pretendo aconselhar ou indicar a uma mulher qual deve ser o seu caminho. Seria pretender
aconselhar a própria mãe. Mas também sabemos que a indulgência e o carinho de uma
mãe fazem com que ela escute seu filho, assim como seus caprichos, seus sonhos e suas
vaidades. É o que me consola e me permite dirigir-me a vocês. Porque, camaradas, nós
precisamos de vocês para conquistar a verdadeira liberdade de todos. Eu sei que vocês
sempre vão encontrar a força e o tempo para ajudar-nos a salvar nossa sociedade.
Camaradas, não existe uma verdadeira revolução social se a mulher não é livre.
Que meus olhos não vejam nunca uma sociedade, que meus passos não me conduzam
nunca a uma sociedade onde a metade do povo se mantenha no silêncio. Escuto o clamor
do silêncio das mulheres. Pressinto o estrondo de suas tempestades e percebo a fúria de
3
Frase tomada de uma canção que ficou famosa na África do Sul em 9 de agosto de 1956, quando
20 mil mulheres, dirigidas pelo Congresso Nacional Africano, protestaram contra as infames leis de
passes do regime do apartheid, que obrigavam os negros a levarem consigo, a todo momento,
documentos especiais de identificação. O dia 9 de agosto é comemorado hoje, como o dia da mulher
Sul Africana.
sua rebelião. Eu espero ansioso pela erupção fecunda da revolução pela qual elas
transmitirão a força e a justiça rigorosa que surgem de suas entranhas oprimidas.
Camaradas, avancemos para conquistar o futuro.
O futuro é revolucionário.
O futuro pertence aos que lutam.
Pátria ou morte! Venceremos!
2 de outubro de 1983