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TEMA: Quando Chegamos ao Limite.

TEXTO: Mateus 26.36-56.


INTRODUÇÃO
Todos certamente já falamos alguma vez essa frase: “Cheguei no meu limite”.
Essa frase surge quando estamos esgotados, cansados...
E com desejos de desistir, dar-nos por vencidos.
Existem situações tão esmagadoras e difíceis que parecem não ter o que piorar.
Eu já vi de perto situações urgentes e desesperadoras chegarem no limite.
E vi também que Deus se levantou e agiu neste exato momento.
Nós temos um Deus de Pacto ― um Deus de Aliança.
O texto escolhido possui o tema da Aliança entre Deus e as pessoas.
A palavra Aliança não aparece explicitamente.
Porém é pressuposta nas expressões Cálice e Sangue.
(Mateus 26.27-28) ― Em seguida tomou um cálice, deu graças e o entregou aos seus
discípulos, proclamando: “Bebei dele todos vós. Pois isto é o meu sangue da aliança,
derramado em benefício de muitos, para remissão de pecados”.
Aponta para o sangue a ser derramado: Nova Aliança!
Jesus é o único intermediário, sacrifício que nos une ao Pai e aos irmãos.
Quando Chegamos ao Limite.
LER: (Mateus 26.36) ― Seguiu Jesus com seus discípulos e chegando a um lugar
chamado Getsêmani disse-lhes: “Assentai-vos por aqui, enquanto vou ali para orar”.
Getsêmani (em heb: “prensa de óleo”) é uma área localizada no monte das Oliveiras.
No v. 30, indica que Jesus e seus discípulos foram para lá após a ceia da Páscoa.
Nessa época do ano, havia grande número de pessoas em Jerusalém.
E não era incomum ir ao monte à noite.
Excepcional é o sentimento de tristeza e angústia. ARA Almeida Revisada Atualizada.
Ou tristeza e aflição (Nova Tradução Linguagem Hoje) que toma conta de Jesus.
A palavra grega para o segundo termo é pouco usada no Novo Testamento.
E poderia também indicar uma sensação de medo.
Em todo caso, a narrativa aponta para um momento dramático.
LER: (Mateus 26.37-38) ― Levou consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, e
começando a entristecer-se ficou profundamente angustiado. Então compartilhou com
eles dizendo: “A minha alma está sofrendo dor extrema, uma tristeza mortal. Permanecei
aqui e vigiai junto a mim”.
O sofrimento de Jesus diante do abandono e da missão é terrível.
Sua humanidade transparece.
A alma está triste até a morte.
Pedro, Tiago e João presenciaram o resplendor no monte da transfiguração (Mt 17.1-8).
E agora o trio testemunha o pavor diante da morte que se aproxima.
Jesus revela seu sofrimento com palavras dos ― (Salmos 42.11 e 43.5).
A tradução “profundamente triste” talvez seja ainda fraca para representar a condição
de Jesus.
Nessa situação de choque e de extrema necessidade.
Ele pede o apoio dos três discípulos.
Anteriormente, Pedro havia assegurado que o acompanharia até a morte.
E todos os outros disseram a mesma coisa.
(Mateus 26.35) ― Então Pedro lhe declarou: “Mesmo que seja necessário que eu morra
junto a ti, de modo algum te negarei! E todos os discípulos fizeram a mesma afirmação.
Jesus ora no Getsêmani”.
LER: (Mateus 26.39) ― “Seguindo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em
terra e orou: “Ó meu Pai, se possível for, passa de mim este cálice!”.
Não é a primeira vez que Jesus se retira para orar sozinho ― (Mateus 14.23).
Prostrar o rosto em terra era uma forma de demonstrar reverência a Deus.
A oração reflete a consciência do que está para vir: o cálice representa o sofrimento.
Jesus reconhece ser esse um plano divino, mas indaga a possibilidade de evitá-lo.
Embora tenha anunciado que seria crucificado.
(Mateus 26.2) ― “Como sabeis, daqui a dois dias, a Páscoa será celebrada; e o Filho
do homem será entregue para ser crucificado”.
Pede que, se possível, não precise passar pelo martírio.
Isso está de acordo com a tradição bíblica de que Deus pode mudar seus planos.
(2 Reis 20.1-5) ― Ezequias adoeceu e o profeta Isaías, foi visitá-lo: Põe ordem...
Ou ouvir essas palavras, o rei virou o rosto para a parede e orou: se possível...
Quando o profeta Isaías atravessava o pátio intermediário.
Eis que lhe sobreveio a Palavra do SENHOR, dizendo:
(2 Reis 20.5) ― Volta e declara a Ezequias, príncipe do meu povo: “Assim diz o
SENHOR Deus de teu pai Davi: Ouvi a tua oração, as tuas súplicas e vi as tuas lágrimas.
Eu te curarei; depois de três dias, subirás à Casa do SENHOR! Acrescentarei quinze
anos à tua vida na terra”.
A vontade pessoal é ser poupado de sofrimento e morte.
Entretanto Jesus se submeterá à primazia da vontade de Deus.
Conforme nos ensinou na oração do Pai-nosso – “Venha o Teu Reino e seja...”.
LER: (Mateus 26.40-41) ― Mas, ao retornar à presença dos seus discípulos os
encontrou dormindo e questionou a Pedro: “E então? Não pudestes vigiar comigo
durante uma só hora? Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, com
certeza, está preparado, mas a carne é fraca”.
Ao retornar da oração, Jesus encontra os discípulos dormindo.
A repreensão dirigida a Pedro inclui os outros.
Os discípulos não conseguiram colocar em prática...
O que foi requisitado no (versículo 38): “Vigiai comigo”.
Nesse contexto, “vigiar” significa estar no discipulado...
Tomar parte no sofrimento do mestre.
Dormir significa, em termos coloquiais, deixar Jesus na mão.
Os discípulos devem orar para não cair em tentação.
Essa orientação está associada ao sexto pedido do Pai-nosso.
Quem está no discipulado não está livre de tentações, mas precisa superá-las.
Nesse sentido deve ser entendida a contraposição entre carne e espírito.
Não se trata de uma divisão dualista da pessoa, mas do contraste entre:
A disposição para o seguimento e a dificuldade de sua efetivação.
Os discípulos estavam com o espírito pronto.
Ou seja, estavam dispostos a permanecer com Jesus para o que der e vier.
Na prática, não conseguiram sequer ficar acordados por uma hora.
Teriam condições de encarar algo mais?
A repetição da oração reforça a sujeição à vontade de Deus.
O desejo de afastar de si o cálice não é mais mencionado.
E Jesus ora exatamente como ensinou: “Seja feita a tua vontade”.
A cena do Getsêmani representou uma grande dificuldade para os cristãos do 1º século.
Jesus fora proclamado como Deus e vencedor sobre a morte.
Mas como afirmar a divindade de Jesus com essa narrativa?
Pode um Jesus amedrontado e angustiado...
Com a possibilidade de crucificação ser considerado Deus?
Um Jesus fraco e temeroso não coaduna com teologias da glória.
Procura-se, a todo custo, associar a pessoa e a atividade de Jesus a esplendor e vitórias.
Por nossa causa, ou seja, por carregar nossos pecados, Jesus estava nessa condição.
Não há dúvida de que Jesus Cristo nos deu a vitória.
Mas a vitória que recebemos é o triunfo do bem, reconciliação com Deus e as pessoas.
Não é conquista individual, orientada por padrões de grandeza e prosperidade.
O grande poder de Deus não se revelou em pompa, e sim na pobreza e morte atroz.
Em Jesus Cristo, Deus faz-se presente na miséria, na fraqueza, na dor, no sofrimento.
Deus não é somente força gloriosa, que a tudo subjuga.
Mas é também fraqueza e humilhação da cruz ― Leão e Cordeiro.
Jesus havia ensinado: “Tudo o que pedirdes em oração, crendo recebereis” (Mt 21.22).
Se ele não foi poupado da dor, teria ficado sem resposta a súplica “afasta de mim este
cálice”?
O complemento “seja feita a tua vontade” é a chave para entender a questão.
Pois deixa a critério de Deus decidir qual será a resposta.
Aceitar a vontade divina quando ela está de acordo com os próprios desejos é agradável.
Mas quão difícil é aceitar algo diferente daquilo que imaginamos ou esperamos.
Essa parte da oração é um grande exercício de confiança.
A disposição de Jesus para aceitar a vontade de Deus também coloca limites...
Em teologias e crenças que pretendem ordenar que Deus faça isso ou aquilo.
Nem tudo se pode atribuir à vontade divina.
Há coisas que são de responsabilidade humana.
Jesus foi crucificado porque a sua pregação e ação incomodaram pessoas e grupos.
Ao anunciar a proximidade do Reino de Deus.
Jesus atingiu interesses e perturbou a ordem estabelecida.
Por isso foi preso, condenado e crucificado.
A responsabilidade das forças políticas na morte de Jesus não pode ser omitida.
Ainda assim, a vontade de Deus manifesta-se no fato de que:
Jesus assumiu Sua morte como oportunidade de redenção para a humanidade.
(Isaías 53.5) ― “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por
causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados”.
Não apenas Jesus, mas também seus discípulos estavam sob pressão.
Virtudes e defeitos precisam ser observados a partir dessa perspectiva.
Sob que condições ou por quais motivos Judas traiu e delatou Jesus?
Poderia ser que suas intenções sobre o papel do messias não mais se compatibilizassem?
Enquanto grupos estavam dispostos a lutar em guerra santa para libertar Israel.
Jesus proclamava a renúncia à violência.
Talvez Judas estivesse mais próximo dos movimentos revolucionários...
E se tenha decepcionado com a atuação de Jesus.
Também Pedro não esperava por um messias que pudesse sofrer.
(Marcos 8.31-33) ― “Então, passou Jesus a ensinar-lhes que era imperioso que o Filho
do homem fosse vítima de muitos sofrimentos, viesse a ser rejeitado pelos líderes
religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei; então fosse assassinado,
para depois de três dias ressuscitar. E Jesus falou sobre esse assunto de maneira clara.
Mas Pedro, chamando-o em particular, começou a censurá-lo energicamente.
Entretanto, Jesus voltou-se, olhou para seus discípulos e repreendeu severamente a
Pedro, exclamando: Para trás de mim, Satanás! Pois não estais pensando na obra de
Deus, mas sim nas ambições humanas”.
Muitas vezes, havia discrepância entre o que Jesus falava:
E aquilo que era compreendido e efetivado por quem que o ouvia.
Em todo caso, chama a atenção que todos abandonaram Jesus no momento mais difícil.
Possivelmente, a fuga foi motivada pela ânsia de salvar a própria vida.
O que levou Judas a trair Jesus permanece um mistério.
É fácil recriminá-lo!
Porém convém lembrar que o julgamento de seus atos cabe unicamente a Deus.
Provavelmente estavam todos no limite de suas forças e convicções.
Os sentimentos de Jesus, a ação de Judas ou a reação dos discípulos diante da prisão.
O medo e o desejo de ser poupado de sofrimento fazem parte da encarnação...
“O Verbo se fez carne...” ― Faz parte da natureza humana que Jesus assumiu.
A temática das duas naturezas: “O espírito e a carne”, qual vai prevalecer?
Foi justamente a oração que permitiu a Jesus superar a inquietação e o pavor.

CONCLUSÃO
Você já se sentiu como Jesus no Getsêmani?
Será que não é assim que muitas vezes nos sentimos?
Sozinhos, abandonados e angustiados?
Parece que de uma situação de sofrimento não vemos esperança!
Mas é justamente a partir da Sexta Feira Santa...
Que se celebra a vitória do Domingo de Páscoa.
Sentir-se fraco? ― Quem gosta?
Dor, sofrimentos! ― Por quê?
Não é difícil encontrar pessoas que em momento de profunda dor.
Sofrimento e até desespero clamem: “Porque meu Deus?”.
Ou do mesmo modo que Jesus gritou lá no monte Calvário:
“Meu Deus, porque me abandonaste?”.
Isso seria uma prova da descrença? ― Não!
Pelo contrário: prova de fé! ― Sim, fé!
Talvez uma fé balançada, ferida, mas: FÉ!
Assim como Jesus em sua profunda dor não se torna “ateu”.
E nem “amaldiçoa o Pai que está no céu”.
Mas sofre justamente por sentir a AUSÊNCIA de Deus.
Mas isso não significa que Deus realmente tenha se afastado!
Deus está presente também nos momentos de extremo sofrimento!
Mas como reagir diante da maldade das pessoas?
Jesus resistiu contra qualquer ato de violência.
A história da Paixão de Jesus ensina que:
A não violência pode ser mais poderosa que a violência.
(Romanos 12.21) ― “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”.
Já a violência sempre produz mais violência.
Como, por exemplo, a vingança que é o oposto do perdão.
A violência nunca foi e nunca será a solução para conflitos da humanidade, só os
agrava!
Ao mesmo tempo em que a cruz é sinal de fracasso, dor, morte...
Ela também é sinal de vitória, ressurreição, amor, doação!
Que apesar dos sofrimentos existentes...
A alegria da ressurreição e esperança em Cristo, nos mantenham firmes na fé.
Amém.

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