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PESQUISA- UNISEPE
FACULDADES INTEGRADAS DO VALE DO RIBEIRA (FVR)
CURSO DE DIREITO
Registro – SP
2017
NUBIA FRANCIELLE MEY WOLF FORMES
Registro - SP
2017
TERMO DE APROVAÇÃO
Soraia Castellano
Banca Examinadora
Professor Orientador:
Professor Examinador:
Professor Examinador:
Registro, ___ de ________ de 2017.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a União das Instituições
de Serviços, Ensino e Pesquisa – UNISEPE – Faculdades Integradas do Vale do
Ribeira (FVR), a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador, de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
AGRADECIMENTO
INTRODUÇÃO......................................................................................................00
1. ASPECTOS HISTÓRICOS ..............................................................................00
1.1 ESTADO..........................................................................................................00
1.2 DICOTOMIA DO PÚBLICO E PRIVADO............................................... ........00
1.3 DIREITO POSITIVADO...................................................................................00
2. DIREITO PÚBLICO E PRIVADO......................................................................00
2.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..........................................................................00
2.2 SERVIÇOS PÚBLICOS...................................................................................00
3. TERCEIRO SETOR...........................................................................................00
3.1 TRAJETÓRIA EVOLUTIVA.............................................................................00
3.2 CATEGORIA DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL........................................00
3.3 IMUNIDADE E INSENÇÃO TRIBUTÁRIA.......................................................00
3.4 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA ENTIDADE......................................00
4. A UNIVERSALIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA FUNÇÃO CONTRIBUTIVA
NO TERCEIRO SETOR........................................................................................00
4.1 MINISTÉRIO PÚBLICO...................................................................................00
4.2 FUNÇÕES DO MINISTÉRIO PÚBLICO E A LEGISLAÇÃO............................00
4.3 APLICABILIDADE DA FUNÇÃO CONTRIBUTIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
NO SEGMENTO DO TERCEIRO SETOR............................................................00
4.4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS À LUZ DO PRINCÍPIO DA
EFICÁCIA..............................................................................................................00
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................00
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................00
11
INTRODUÇÃO
das organizações sociais, com vistas a que essas por meio desse instrumento
possam servir com maior eficiência aqueles que se utilizam dos seus serviços. Sem
dúvida, essa é a possibilidade do Estado estreitar laços com aqueles que estão sob
a sua proteção.
13
1. ASPECTOS HISTÓRICOS
1.1 ESTADO
1
Bobbio nos traz que em verdade, é quase impossível manter certo
distanciamento entre a figura do Estado e aqueles que estão sob a sua tutela. Prova
disso é a linha condutora que une, desde a formação da civilização, fundamentada
em hipóteses, por meio das teorias teológico-religiosas.
Segundo o autor há, no caso, a teoria mais antiga, derivada do núcleo
familiar, a qual com base no cunho religioso teria determinado a origem do Estado.
Assim, dessa concepção se estabeleceria a gênese da sociedade. No entanto, esse
é um ponto controvertido para alguns doutrinadores que pressupõem a formação do
Estado por meio de reunião de inúmeras famílias, quando da formação de “gens”,
compondo a “fratria” e destes grupos a “tribos”, constituída em “polis”, chamada
Estado-Cidade que evoluiu para o Estado nacional ou plurinacional 2.
Na sequência, a teoria patrimonial surgiu na sociedade, em razão da
necessidade do indivíduo estabelecer domínios próprios, em busca da proteção dos
seus próprios direitos. Portanto, a imposição da força sobrepunha a vontade dos
3
mais fracos. Comentando o assunto, dizia Maluf que o que dá origem ao Estado é
a violência dos mais fortes. Ademais, outro aspecto a ser considerado na época
eram as teorias teológico-religiosas, racionalistas (jusnaturalismo/contratualismo),
idealistas (panteísmo/organicismo/neopanteísmo), socialistas (totalitárias) e sociais
democráticas.
Na oportunidade mereceram destaque os pensadores Hugo Grocio,
Emmanuel Kant, Thomas Hobbes, Benedito Spinoza, John Locke, Jean Jacques
Rousseau, Edmundo Burke. É imprescindível que se faça referência à qualidade de
1
BOBBIO, Norbeto. Estado, Governo, Sociedade: para uma teoria geral da política. São Paulo:
Paz e Terra, 2007, p. 89.
2
BOBBIO, Norbeto.Ibidem.
3
MALUF, Sahid.Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 54.
14
4
CHAUI, Marilena. Iniciação a Filosofia. São Paulo: Ática, 2013, p. 43.
5
CHAUI, Marilena. Ibidem.
6
CHAUI, Marilena. Ibidem, p. 47.
7
CHAUI, Marilena. Ibidem
8
TOMAZI, Nelson Dacio. Iniciação ao estudo de Filosofia. São Paulo: LTD, 1993, p. 72
15
9
De acordo com Rezende em perspectiva diversa nasceu o Liberalismo na
Inglaterra, na busca por uma nova concepção de Estado. Com “Bill of Rights” (1689)
estabeleceram-se princípios que visavam proteger direitos do indivíduo assim como
restringiu os atos do soberano. Os E.U.A. passaram a receber influência, quando da
adequação desses princípios na Declaração de Virgínia (1776), na Constituição
Federal (1787) e nas Constituições Estaduais. A liderança do movimento na França
contou com a liderança de D’ Argenson, Montesquieu e Voltaire. A Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão foi promulgada e posteriormente, a primeira
Constituição da República (1791) e em seguida (1793) a segunda, denominada
Gerondina.
Com efeito, a partir desse momento o direito de liberdade passou a se
integrar a esses textos constitucionais.
Porém, é preciso enfatizar que, apesar das perspectivas serem as melhores
possíveis, essas não chegaram a atingir seu ápice, pois tudo aquilo que fora
proposto pelo Estado Liberal não passara de projeção perdendo-se no tempo 10.
Daí as consequências danosas, a exemplo da revolução industrial revestida
do desemprego em massa, o que condicionou a que mulheres e crianças se
lançassem no mercado de trabalho a procura da sua subsistência. A falta de uma
seguridade social impunha ao trabalhador a miséria, quando acometido de doença
e/ou no momento em que os anos arcavam seu corpo em consequência da velhice.
Há ainda, que considerar o domínio da economia dos monopólios, “trusts” e cartéis,
o que tornava o rico mais rico e o pobre a condição de miserabilidade. Com a
encíclica “Rerum Novarum” de Leão XIII (1891) esse quadro passou a ser
repensado com o propósito de procurar o equilíbrio social 11.
Já o Estado Liberal, face ao comunismo russo, em contraposição ao facismo
e ao nazismo que, de certa forma, procuravam reagir contra a decadência liberal,
levou a formação do Estado Social Democrático, capaz de intervir na ordem
econômica. A partir do século XVIII o socialismo surgiu como reação ao liberalismo.
9
REZENDE, Maria José de,. A liberdade e a igualdade nas teorias da democracia nos séculos
XVIII e XIX. São Paulo: Revista Mediações, 1997, p. 25-33.
10
REZENDE, Maria José de,. Ibidem.
11
CHAUI, Marilena. Iniciação a Filosofia. São Paulo: Ática, 2013, p. 52.
16
17
Conforme Odete Medauar o Estado do século XIX sob o ponto de vista
interno não pressupõe a imagem do soberano sob o domínio do monarca, mas sim:
18
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. São Paulo, RT, 2012, p. 220.
19
MEDAUAR, Odete. Ibidem, p. 222.
20
MEDAUAR, Odete. Ibidem, p. 245.
21
BOBBIO, Norbeto. Estado, Governo, Sociedade: para uma teoria geral da política. São Paulo:
Paz e Terra, 2007, p. 124.
18
22
Há ainda a considerar segundo Odete o neoliberalismo, associado à
globalização que sob a influência do banco Mundial e do FMI, estendeu-se para a\
Europa e países em desenvolvimento. A chamada privatização reduz o espaço do
Estado na sociedade, quando então se visualiza a:
22
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. São Paulo, RT, 2012, p. 220.
23
CHAUI, Marilena. Iniciação a Filosofia. São Paulo: Ática, 2013, p. 97..
24
BOBBIO, Norbeto. Estado, Governo, Sociedade: para uma teoria geral da política. São Paulo:
Paz e Terra, 2007, p. 248.
19
25
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. São Paulo, RT, 2012, p. 253.
26
BOBBIO, Norbeto. Estado, Governo, Sociedade: para uma teoria geral da política. São Paulo:
Paz e Terra, 2007, p. 102.
27
BOBBIO, Norbeto. Estado, Governo, Sociedade: para uma teoria geral da política. São Paulo:
Paz e Terra, 2007, p. 98.
20
da razão natural e da razão ética, aplicadas a todas as situações. Kant foi o grande
marco da racionalidade nessa questão.
A seguir, um outro grupo se inseriu na história. Ocorreu o surgimento o
empirismo, que tinha como significado a experiência. Nessa linha de conduta, a
racionalidade deu lugar à teoria voluntarista quando se passou a acreditar não mais
na função da razão, mas sim da vontade. Desse modo, foi possível se estabelecer o
racionalismo como norteador do direito natural, que acreditava na razão universal,
enquanto o voluntarismo acreditava na vontade, gerando o direito positivo 28.
Bobbio29 estabeleceu que o direito positivo tem interpretação restritiva, pois,
de acordo com ele não pode se utilizar de questões de ordem filosófica para compor
a sentença. Por conseguinte, ele advém do direito posto pelo poder do Estado
determinado por normas abstratas reguladoras codificadas e/ou, ainda, leis
esparsas. Assim, a partir do direito positivado é possível estabelecer a dimensão do
direito público e privado.
30
MAUKAD, Irene Batista. Op. cit., p.100.
22
propugnavam pela adoção de penas mais leves à mulher que matasse seu próprio
filho para ocultar desonra própria.
As ideias dos filósofos do direito natural ecoaram por todo o mundo e foram
responsáveis pela supressão da pena capital, primeiramente na Áustria (1803), e
posteriormente na Baviera, Alemanha (1813).
A partir desse momento histórico, mormente em virtude das ideias de
Beccaria, os ordenamentos jurídicos passaram a tipificar o infanticídio como um
homicídio privilegiado quando praticado por motivo de honra pela mãe ou por algum
parente próximo.
Diante dos inúmeros conceitos de honra, surgiu no conceito de Francesco
Antolisei31, apud Gláucio Vasconcelos Ribeiro, o norte para se tratar dessa matéria.
Segundo esse doutrinador, honra é:
Como se observa, a honra pode ser analisada sob dois aspectos: a honra
objetiva e a honra subjetiva. De acordo Vicente de Paula Maggio 32 a honra objetiva é
caracterizada pelo sentimento que o grupo social tem sobre seus atributos físicos,
morais e intelectuais. Resume-se no que os outros pensam a seu respeito. Já a sua
autoestima, amor próprio e o que você pensa de seus próprios atributos físicos,
morais e intelectuais é denominado honra subjetiva.
De acordo com o autor o conceito de honra traz consigo uma ideia de
patrimônio moral, determinado pela sua própria autoestima e pela consideração
social que cada indivíduo possui perante a sociedade. Nesse sentido, a honra pode
versar sobre os mais variados aspectos, honra religiosa, patriótica, familiar,
profissional, esportiva, sexual, entre outros.
Quando os defensores da corrente psicológica propugnam para que o
conceito de honra seja erigido como o fundamento para a incriminação autônoma do
infanticídio e consequente diminuição da pena em relação ao homicídio, fazem isso
com base exclusivamente na honra sexual, que nas palavras de Vicente de Paula
31
ANTOLISEI, Francesco – apud RIBEIRO Gláucio Vasconcelos. Op. cit., p.85.
32
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Op. cit., p.53.
23
33
RODRIGUES, Vicente de Paula. Op. cit., p.61.
34
PEDIO, Tommaso apud. MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Op. cit., p.26
35
FÁVERO, Flamínio. Medicina legal. 12ª ed., Belo Horizonte: Vila Rica, 1991, p. 765.
36
CARRARA, Francesco. Programa do curso de direito criminal: parte geral. Volume 1.Trad.
Ricardo Rodrigues Gama. São Paulo: LZN, 2002, p. 78.
37
PEDIO, Tommaso apud. MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Loc. cit..
38
GLEISPACH, W. apud HUNGRIA, Nelson. Op. cit., p. 70.
39
OLIVEIRA, Olávo. O delito de matar. Ceará: Imprensa Universitária do Ceará, 1959, p. 48.
40
ITAGIBA, Ivair Nogueira. Homicídio, exclusão de crime e isenção de pena. Rio de Janeiro:
IBGE, 1958, p. 102.
41
ANDREUCCI, Ricardo. Manual de direito penal. 10ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 73.
24
Para Gleispach, apud Nelson Hungria, o infanticida age no mais amplo sentido
de necessidade. Os autores Olávo Oliveira e Ivair Nogueira Itagiba propugnam pela
existência de uma lei da necessidade que atenuaria a pena imposta ao infanticida.
Ricardo Andreucci defende existir no infanticídio um verdadeiro estado de
necessidade entre dois bens jurídicos, quais sejam: a honra do agente e a vida do
nascente ou recém-nascido, prevalecendo a honra sexual do sujeito ativo.
Concluindo, a causa clássica do tratamento benevolente dado ao infanticida,
apoiou-se no critério psicológico, no motivo de honra; sendo esta exclusivamente
sexual, caracterizada pela incensurabilidade moral sob o aspecto sexual. Assim, o
critério psicológico relaciona o conceito de honra com a gravidez ilegítima,
procurando resguardar a moral sob o aspecto exclusivamente sexual.
Destarte, não tem direito a esse privilégio qualquer outro motivo, por
exemplo, a mãe que mata seu filho durante o parto ou logo após, porque a criança
possui um “defeito” que prejudicará sua sobrevivência. Outrossim, não será
beneficiada pela diminuição de pena em relação ao homicídio a mulher que, durante
o parto ou logo após, mata seu próprio filho porque, apesar de ter concebido a
criança legitimamente durante o casamento, seu marido a abandonou à própria sorte
pouco tempo antes dela dar à luz, sem condições de criar a criança.
Não eram acolhidas também pelo benefício legal as mulheres com sua
honra já deflorada, como as prostitutas.
O critério psicológico foi duramente criticado ao longo dos anos, mas o que
realmente fundamentou sua substituição pelo critério fisiopsicológico foi a injustiça
que se praticava no infanticídio da “honoris causa”, pois esse critério restringia o
benefício da diminuição da pena às mulheres que tinham engravidado
ilegitimamente, em detrimento das outras mulheres que, por exemplo eram
abandonadas pelos esposos pouco antes do nascimento da criança, sem qualquer
condição financeira de criar seu filho.
42
HUNGRIA, Nelson. Comentário ao Código penal. Rio de janeiro: Revista Forense: 1998, p. 71.
43
HUNGRIA, Nelson. Loc. cit.
44
ALMEIDA Júnior, Alberto e COSTA Júnior, Jonas Betti. de Oliveira. Lições de Medicina Legal.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979, p.362.
26
Hélio Gomes45. Para este autor, trata-se, por conseguinte, de um quadro fisiológico
comum a todas as mulheres que dão a luz, com começo, meio e fim determinado.
Os autores, frequentemente, utilizam o estado puerperal como sinônimo de
puerpério, gerando uma confusão conceitual muito grande. Pois, puerpério, segundo
Hélio Gomes46. é o período compreendido entre a dequitação (expulsão do feto e da
placenta) e a completa involução dos órgãos maternos, principalmente, os órgãos
genitais, às condições anteriores à gravidez. Ocorre geralmente em seis a oito
semanas, sendo comum a todas as mulheres que dão a luz. Já o estado puerperal,
não pode ser confundido com esse período. Posteriormente, será discutido a
existência ou ficção para a medicina desse estado fisiopsicológico, mas de início
pode-se traze a luz os ensinamentos de Gláucio Vasconcelos Ribeiro 47 que diz que
estado puerperal é:
45
GOMES, Hélio. Medicina Legal. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2004, p. 499.
46
GOMES, Hélio. Ibidem, p. 453.
47
RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Op. cit., p. 71.
48
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 251.
49
CROCE, Delton, Manual de medicina legal. São Paulo: Saraiva: 1998, p. 471.
27
involução dos órgãos genitais da mãe. Período esse, comum a todas as parturientes
e algumas vezes responsável por profundas alterações na psique da mulher.
Alterações essas, provocadas pelo fenômeno obstétrico e pelas alterações
hormonais, que para algumas mulheres pode ser maiores e outras não. Esse
fenômeno obstétrico é extenuante para a mãe que fica muito abalada pelo
sangramento, dor, esgotamento muscular e aflição. Ademais, as alterações nas
taxas de gonadotrofinas, estrógenos e progesterona são responsáveis pela
modificação do humor das mulheres que acabam de dar a luz50.
Assim, o estado puerperal e outros surtos e psicoses tem no puerpério uma
situação propícia para seu aparecimento.
Após essa breve diferenciação entre estado puerperal e puerpério, mister se
faz uma conceituação de estado puerperal. Há um grande número de autores que
discorrem sobre o assunto. Nada mais humilde e cauteloso para um aprendiz que
citar grandes mestres e seus conceitos para depois firmar um entendimento mais
aprofundado sobre a matéria.
Sobre o tema assim afirmou Almeida Júnior & Costa Júnior 51 que estado
puerperal:
Para corroborar, vale destacar a lição de Bonnet 52 que afirma que estado
puerperal nada mais é que:
54
MARANHÃO, Odon Ramos. Ibidem, p. 205.
29
55
MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. São Paulo: 1961, p. 142.
56
PRADO, Luiz Régis. Op. cit., p. 96.
57
MAGALHÃES, Edgard. Noronha. Op. cit., p. 58.
30
juristas e dos tribunais acata a tese de que a influência do estado puerperal não
pode ser presumida. Nesse sentido, cumpre transcrever:
[...] o estado puerperal é uma ficção jurídica – não existe tecnicamente para
a medicina legal. É um crime que depende de perícia para comprovar se a
mãe matou o próprio filho sob influência do estado puerperal. O estado
puerperal, criados pelos juristas, é um caso de responsabilidade atenuada,
tendo em vista o certo grau de perturbação que acomete a mulher ao ter
dado a luz recentemente. Para ele, contudo, o médico não reconhece este
estado puerperal. Do ponto de vista do médico, comprovados clinicamente,
são os males como surto psicótico, por exemplo, isto é, doenças
clinicamente diagnosticáveis, o que normalmente não acorre com o estado
puerperal.
Assim, podem surgir diferentes situações em que a mãe mata o próprio filho
durante o parto ou logo após, que serão tratadas diferentemente pelo nosso
ordenamento jurídico.
Como o eminente Almeida Júnior & Costa Júnior64 defende:
62
BRASIL, Decreto-Lei Nº 28487 DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Código Penal. Vade Mecum. 17
edição. Saraiva, 2014, p. 350.
63
GOMES, Hélio. Op. cit., p. 500.
64
ALMEIDA Júnior, Alberto e COSTA Júnior, Jonas Betti de Oliveira. Op. cit., p. 350.
32
65
GOMES, Hélio. Op. cit., p. 347.
66
CROCE, Delton. Op. cit., p. 271.
34
Daí surge a questão: por que se tutelar um mesmo bem jurídico com
diversas normas penais, já que a vida é tutelada por outros tipos penais,
notadamente o homicídio e o aborto?
A reposta surge no sentido de que o bem jurídico tutelado é o mesmo,
porém, cada tipo penal tem uma particularidade que os diferencia e torna
indispensável a incriminação dessas diversas formas para que o bem “vida” não
fique sem proteção.
Durante grande espaço de tempo, as legislações tutelavam apenas vida do
recém-nascido ou neonato, ou seja, protegiam apenas a vida autônoma extrauterina.
Assim, o ordenamento jurídico tutelava três momentos essenciais da vida
humana. Com o tipo de aborto a vida intrauterina do feto, depende da mãe; o
infanticídio tutelava a vida extrauterina do recém-nascido; vida humana, considerada
após a fase de infante, era tutelada pelo homicídio.
Mister lecionar que há duas formas de vida autônoma: a vida intrauterina,
também denominada vida intrauterina apnéica, que se inicia com a ruptura da
membrana amniótica, a popular “bolsa”, momento em que o feto deixa essa sua
condição para se tornar neonato; e a vida extrauterina, que se inicia com o
movimento pulmonar respiratório67.
A partir da intelecção do parágrafo acima se pode dizer que havia uma
lacuna legal nas normas penais, pois não se tutelavam a vida do nascente. Assim, o
momento que se iniciava com a ruptura da membrana amniótica e perdurava
durante todo o período do parto não era tutelado, e quem quer que fosse que
matasse tal ser não cometeria crime algum, pois o fato era atípico.
Diante dessa lacuna, alguns doutrinadores sugeriram a criação de um novo
tipo legal, o fetícidio, que tutelaria a vida do nascente, figura esta surgida na Itália
com o Código Rocco.
Porém, diante dos avanços da medicina legal, resolveu-se equiparar o
recém-nascido ao neonato. Dessa forma, o atual artigo 123 do Código Penal pátrio
tutela a vida tanto do nascente, como do recém-nascido, pois o elemento normativo
temporal do tipo é inequívoco ao afirmar que comete crime de infanticídio a mãe
que, sob influência do estado puerperal, mata o próprio filho durante o parto ou logo
após68.
67
MAUKAD, Irene Batista. Op. cit., p. 115.
68
MAUKAD, Irene Batista. Loc. cit.
35
Por ser um crime de ação livre, ele pode ser cometido por qualquer meio
comissivo ou omissivo de execução. Hélio Gomes70 aponta as causas criminais mais
frequentes de morte do nascente e do recém-nascido. São elas: fraturas do crânio,
resultantes de golpes ou da projeção da cabeça contra uma parede ou assoalho;
Sufocação, podendo ocorrer por diversos processos, tais como: obturar o nariz e a
boca com as mãos, travesseiros ou almofadas; comprimir o tórax com o peso do
69
MARQUES, José Frederico. Op. cit., p. 128.
70
GOMES, Hélio. Op. cit., p.114/115.
36
71
GOMES, Hélio. Op. cit., p.125.
72
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Op. cit., p. 35.
73
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Loc. cit.
37
74
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Loc. cit.
75
BRASIL, Decreto-Lei Nº 28487 DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Código Penal. Op. cit., p. 350.
76
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Op. cit., p. 28.
77
HUNGRIA, Nelson. Op. cit., p. 85.
38
78
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Op. cit., p. 131.
79
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Loc. cit.
80
MAGGIORE, Giusepe, apud HUNGRIA, Nelson. Op. cit., p. 87.
81
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Op. cit., p. 140.
39
82
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Op. cit., p. 135.
83
MAGGIO, loc. cit.
84
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Op. cit., p. 137.
40
85
JESUS, Damásio Evangelista. Direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 264.
86
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 257.
87
RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Op. cit., p. 115.
41
Código Penal, o que não é o caso do infanticídio. Assim sendo, o infanticídio só será
punível a título de dolo resultado.
Surge então a questão: qual será a punição para a mulher que, sob a
influência do estado puerperal, deixa de observar o dever de cuidado objetivo, e
mata seu próprio filho, durante o parto ou logo após?
A solução para esse caso é, de acordo com o autor, incriminar a mãe nas
sanções do artigo 121, §3º do Código Penal. Respondendo, assim, por homicídio
culposo, com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos.88
Alguns autores como Vicente de Paula Rodrigues Maggio 89 defendem que
deveria ser modificado o artigo 123 do Código Penal, incriminando também o
infanticídio culposo, prescrevendo uma pena mais branda em relação ao infanticídio
do “caput” do artigo 123, propugnando pela compatibilidade da culpa com o estado
puerperal. A outra corrente que se pode dizer majoritária, defende que a mãe deve
responder mesmo por homicídio culposo, pois o estado puerperal não se
compatibiliza juridicamente com a culpa “stricto sensu”90.
Pode-se inferir, portanto, que o infanticídio só é punível em sua modalidade
dolosa, quando a mãe quis matar o seu próprio filho, ou assumiu a possibilidade de
ocorrência do resultado danoso. Se a mãe dá causa a morte do filho por
inobservância do dever de cuidado objetivo, reponde por homicídio culposo,
independente se estava ou não sob a influência do estado puerperal.
88
RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Loc. cit.
89
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Op. cit., p. 99.
90
RIBEIRO, Gláucio Vasconcelos. Op. cit., p. 115.
42
Por fim, há um terceiro grupo de legislações em que podem ser sujeito ativo
do delito de infanticídio qualquer pessoa que dê causa à morte do pobre indefeso95.
No tema referente ao sujeito ativo do delito de infanticídio, não há grandes
dificuldades, em princípio, pois é um crime que em sua tipificação já delimita que,
somente, a mãe pode ser sujeito ativo desse delito. Porém, questão intrigante surge
quando terceira pessoa auxilia, instiga, ou realiza juntamente com a mãe os atos
91
CAPEZ, Fernando. Op. cit., p. 167.
92
MAUKAD, Irene Batista. Op. cit., p. 145.
93
ESTRANGEIRA, legislações. Disponível em <http://juareztavares.com/legislação.html> Acessado
em: 23 jul. 2015.
94
ZAFFARONI, Eugênio Raul. Derecho Penal: parte general. Buenos Aires: Editar, 2002. p. 128.
95
ZAFFARONI, Eugênio Raul. Loc. cit.
43
executórios que culminam com a morte da criança. Essa terceira pessoa responde
por infanticídio ou por homicídio?
Surge relevância a questão em virtude da teoria monista adotada pelo
Código Penal quanto ao concurso de pessoas. Pelo artigo 29 do Código Penal,
todos que concorrem para o crime incidem nas penas a estes cominadas96.
Porém, a circunstância que determina a diminuição da pena em nosso
Código Penal é a influência do estado puerperal. Circunstância essa de caráter
personalíssimo que só pode atingir a própria mãe. Diante dessa controvérsia, qual
tese adotar, da comunicabilidade ou da incomunicabilidade das circunstâncias?
É isso que será discutido quando tratar-se do concurso de pessoas no
infanticídio.
que criava uma grande lacuna legal. Nesse sentido, a vida do feto era tutelada pelo
aborto; a vida do recém-nascido tutelada pelo infanticídio. Porém, a vida do
nascente não era tutelada. Assim, não poderia ser sancionado quem matasse a
criança durante o parto, pois a conduta era atípica.
A evolução da medicina legal trouxe outros conceitos e ensinamentos,
desmistificando o brocardo de que viver é respirar, e se o ser humano não respirou,
ele não viveu.
Atualmente, o ser nascente é equiparado ao recém-nascido, pois ele já
adquire vida biológica no instante do início do parto, ou seja, com a ruptura da
membrana amniótica. O infanticídio exige que o ser esteja vivo, afinal não pode ser
incriminado alguém que mate outrem já morto100.
A prova de vida faz-se diferentemente tanto nos casos de vida intrauterina e
vida extrauterina. No caso de nascente, a prova de vida intrauterina faz-se através
do tumor de parto ou bossa serosanguinea. O nascente, apesar de ainda não ter
respirado, possui vida biológica, e essa vida já é demonstrada por outros elementos
que não a respiração. A vida intrauterina é demonstrada principalmente pela
circulação sanguínea e pelos batimentos cardíacos101. Para Oswaldo Pataro102 o
exame batizado de tumor de parto ou bossa serosanguinea consiste em observar se
há pequenas hemorragias no corpo do sujeito passivo.
100
GOMES, Hélio. Op. cit., p. 275.
101
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Op. cit., p. 97.
102
PATARO, Oswaldo. Medicina legal e prática forense. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 126.
103
NORONHA, Edgard Magalhães. Op. cit., p. 58.
45
Hélio Gomes104 explica que a prova de vida extrauterina, nos casos em que
a morte é dada ao recém-nascido ou neonato, é feita através das docimasias,
respiratórias e não respiratórias. Entre as respiratórias, observam-se as seguintes:
docimasia diafragmática; visual; docimasia tátil; docimasia óptica de Icard; docimasia
histológica; docimasia auricular; e, docimasia hidrostática ou pulmonar Com efeito,
todas as docimasia respiratórias buscam provar que houve respiração, e, para tal
feito, utilizam diversos meios, por isso há essa gama de docimasias.
Além da docimasia respiratória, há também as docimasias não respiratórias,
em que se procura provar a existência de vida através de outras atividades fetais,
independente da prova de respiração. Adquirem relevância tais exames quando não
há possibilidade de se provar a vida através da respiração, seja por qualquer motivo
que pode levar a erro diagnóstico nas docimasias respiratórias, a saber: quando há
insuflação de ar no recém-nascido, aparentemente morto, para chamá-lo à vida;
quando há putrefação ou congelamento do pulmão105.
Urge asseverar, conforme os ensinamentos de Vicente de Paula Rodrigues
Maggio106 que a vida extrauterina se distingue da vida intrauterina em três pontos: a)
cessação da circulação fetoplacentária; b) substituição da respiração placentária
pela pulmonar; e, c) substituição da alimentação via placentária, pela alimentação
via gastrintestinal.
Talvez o tema mais controvertido entre todos desse crime seja quanto ao
concurso de pessoas.
A pergunta que gera inúmeras dificuldades é a seguinte: quem concorre com
a mãe para a prática do infanticídio responde por esse crime ou pelo homicídio? A
elementar do estado puerperal comunica-se ao coautor ou não?
104
GOMES, Hélio. Op. cit., p. 278.
105
GOMES, Hélio. Loc. cit.
106
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Op. cit., p. 100.
46
Nem sempre o crime é cometido por uma pessoa apenas. Seja para garantir
a impunidade, a execução e até mesmo para assegurar o interesse de várias
pessoas em seu cometimento, às vezes o fato criminoso é realizado por várias
pessoas que assentem suas condutas. Nesse sentido, coautoria, codelinquência ou
concurso de pessoas ocorre quando duas ou mais pessoas concorrem para o
cometimento do mesmo crime. a autoria é tratada diferentemente, dependendo da
teoria adotada107.
Pela teoria restritiva, autor é somente aquele que realizou a conduta típica.
Nos dizeres de Fernando Capez108 “é apenas aquele que realiza a conduta principal
descrita no tipo”. Destarte, autor é aquele que mata, que subtrai, oculta cadáver,
constrange, enfim é a pessoa que pratica a conduta descrita como verbo núcleo do
tipo.
De acordo com o autor, partícipe, para a teoria restritiva é aquele que
concorre de qualquer forma para o crime, porém, sem realizar a conduta típica. É
quem induz, instiga ou auxilia o cometimento do crime. Assim, é partícipe para esta
teoria o mentor intelectual do crime. É neste ponto que surgem críticas a essa teoria.
107
JESUS, Damásio Evangelista. Op. cit., p. 300.
108
CAPEZ, Fernando. Op. cit., p. 288.
47
109
BRUNO, Aníbal. Direito penal: parte especial. Rio de Janeiro: Forense, 1992. p.142.
110
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Op. cit., p. 53.
111
MARQUES, José Frederico. Op. cit., p. 157.
112
JESUS, Damásio Evangelista. Op. cit., p. 128.
113
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Op. cit., p. 67.
114
CAPEZ, Fernando. Op. cit., p. 289.
115
CAPEZ, Fernando. Loc. Cit.
48
Para essa teoria, há dois delitos, um perpetrado pelo autor, e outro pelo
partícipe. Não é adotada pelo nosso Código.
116
JESUS, Damásio Evangelista. Op. cit., p. 135.
117
CAPEZ, Fernando. Op. cit., p. 290.
118
HUNGRIA, Nelson. Op. cit., p. 59.
119
BRASIL, Decreto-Lei Nº 28487 DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Código Penal. Op. cit., p. 351.
49
Tal teoria também não é, pelo menos em regra, adotada pelo Código Penal
Brasileiro.
Vicente de Paula Rodrigues Maggio121 assevera que não é regra porque há
casos em que se adota essa teoria. São casos dispostos expressamente no texto
legal. São as chamadas exceções pluralistas ou desvio subjetivo de conduta, tema
de grande importância para a análise do tema concurso de pessoas no infanticídio.
Nesse sentido, o Código Penal adotou como regra a teoria monista, pela
qual todas as pessoas que assentem para a prática de determinada conduta
realizam o mesmo crime. Assim, partícipes e autores são equiparados e cometem o
mesmo crime. Há casos, entretanto, em que o legislador resolveu por aplicar a teoria
pluralista122.
São exemplos em que o autor e partícipe da mesma conduta respondem por
crimes diferentes. O §2º do artigo 29 do Código Penal 123 determina que “se algum
dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena
deste (...)”.
É o caso do motorista do assalto que consentiu apenas com o roubo, e que
não sabia que um de seus companheiros estava armado, sendo que este, ao
adentrar no estabelecimento da vítima, retirou-lhe a vida. O motorista que não
consentiu com essa conduta anteriormente, nem assumiu a ocorrência desse
resultado, não pode ser responsabilizado por latrocínio, mas apenas por roubo.
120
JESUS, Damásio Evangelista. Op. cit., p. 412.
121
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Op. cit., p. 134.
122
HUNGRIA, Nelson. Op. cit. p. 70.
123
BRASIL, Decreto-Lei Nº 28487 DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Código Penal. Op. cit., p. 351.
50
124
BRASIL, Decreto-Lei Nº 28487 DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Código Penal. Ibidem., p. 358.
125
HUNGRIA, Nelson. Op. cit., p. 92.
51
126
HUNGRIA, Nelson. Op. cit., p. 131.
127
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Op. cit., p. 74.
128
SIQUEIRA, Galdino Direito penal brasileiro: parte especial. Rio de Janeiro: Jacinto Ribeiro dos
Santos, 1924, p. 51.
129
NORONHA, Edgard Magalhães. Op. cit., p. 93.
130
FERRAZ, Ester de Figueiredo. Os delitos qualificados pelo resultado no regime do Código
penal de 1940. São Paulo: Imprensa, 1948, p. 63.
131
GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal. 7 edição. Volume 1. São Paulo: Saraiva, 2008, p.
93.
132
MARQUES, José Frederico. Op. cit., p. 184.
133
SILVEIRA, Euclides Custódio da., Direito penal, crimes contra a pessoa. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1973. p. 153.
134
JESUS, Damásio Evangelista..Op. cit., p. 286.
52
135
HUNGRIA, Nelson. Comentário ao Código penal. Vol. V. Rio de janeiro: Revista Forense: 1958.
p. 266.
136
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Op. cit., p. 79.
137
MARQUES, José Frederico. Op. cit., p. 185.
53
próprio filho, logo após o parto, responderá por homicídio. Porém se, em outra
situação fática, o enfermeiro, que é coautor da conduta de outra mãe, que, sob a
prova de influência do estado puerperal retirar a vida do próprio filho, responderá por
infanticídio. Essa é também a opinião de Basileu Garcia140, que diz que:
Diante disso, percebe-se que a maioria dos autores, mesmo os que adotam
a tese da comunicabilidade do estado puerperal entre os coautores, consideram
injusta a possibilidade da pessoa que auxilia, instiga, induz e também a que realiza
conjuntamente a conduta com a mãe infanticida, responder pelo crime privilegiado.
Pode ser observado isso nos projetos de lei atualmente apresentados no
Congresso Nacional, bem como no anteprojeto da parte especial do Código Penal
de 1983.
O anteprojeto da parte especial do Código Penal foi elaborado em 1983 por
Everaldo da Cunha Luna, Jair Leonardo Lopes, José Bonifácio Diniz de Andrada,
Manoel Pedro Pimentel, Miguel Reale Junior, René Ariel Dotti, Ricardo Antunes
Andreucci, Eduardo Augusto Muylaert, com a colaboração de José Frederico
Marques e sob a coordenação de Luiz Vicente Cernicchiao. Por esse anteprojeto, o
partícipe do infanticídio sofreria as sanções cominadas ao crime de homicídio141.
Heleno Cláudio Fragoso142 explica que o artigo 123 desse anteprojeto
determinava:
Artigo 123: Matar o próprio filho, durante ou logo após o parto, sob a
influência perturbatória deste ou para ocultar a desonra própria.
Pena – reclusão, de dois a seis anos.
Parágrafo único – quem concorre para o crime incide nas penas do artigo
121 e parágrafos.
140
GARCIA, Basileu. Op., cit., p. 115.
141
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Op. cit., p. 136.
142
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Loc. cit.
55
143
HUNGRIA, Nelson. Comentário ao Código penal. Vol. IX. Rio de janeiro: Revista Forense: 1998.
p. 159.
144
BRASIL. In: Site da Camara. Projeto de Lei nº 3750/2004. Disponível em:
http://camara.gov.br/sileg/integras. Acesso em 14/07/2015.
56
145
BRASIL, Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Projeto de Lei nº 1262/2003. Disponível
em: http://al.sp.gov.br. Acesso em 27/10/2016.
146
BRASIL, Camara dos Deputados. Projeto de Lei nº 3398/2004. Disponível em:
http://camara.leg.br. Acesso em 27/10/2016.
57
147
BRASIL, Decreto-Lei Nº 28487 DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Código Penal. . Op. cit., p. 351.
148
HUNGRIA, Nelson. Op. cit., p. 305.
149
HUNGRIA, Nelson. Loc. cit.
58
150
LYRA, Roberto. Noções de direito criminal: parte especial. Rio de Janeiro: Ed. Nacional de
Direito, 1944, p. 92.
59
151
CROCE, Delton. Op. cit., p. 427.
152
CROCE, Delton. Loc. cit.
153
GOMES, Hélio. Op. cit., p. 369.
154
CROCE, Delton. Op. cit., p. 438.
155
CROCE, Delton. Op. cit., p. 439.
60
Cabe agora perquirir no que consiste o termo logo após o parto. Esse termo
dá ideia de imediatividade. É o posicionamento de Heleno Cláudio Fragoso 156 que
“esta expressão significa logo em seguida, imediatamente após, prontamente, sem
intervalo”. Porém, para Fernando Capez157. A opinião mais aceitada entre os juristas
é um pouco mais complacente. Em sua maioria defendem a expressão – logo após
– se mantém enquanto perdurar a influência do estado puerperal:
Nascida a criatura, pode ainda o delito ocorrer, desde que se dê logo depois
do parto. Esse outro período acha-se delimitado pela influência do estado
puerperal, isto é, aquele estado de angústia, perturbações e etc., que
justificam o delictum exceptum. A lei não fixou prazo, como outrora alguns
Códigos faziam, de modo que abranja o variável período do choque
puerperal. É essencial que a parturiente não haja entrado ainda na fase d e
bonança, em que predomina o instinto materno.
Pelo exposto o que se faz imprescindível é que a mãe não tenha entrado
ainda na fase da bonança e quietação, em que ela já trocou, deu banho,
amamentou, enfim, no momento em que já predomina o instinto materno. Se a mãe
matar o próprio filho durante este período cometerá homicídio e não infanticídio.
Esta também é a intelecção da lei por parte do notável Nélson Hungria 159, que
diz que:
156
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Op. cit., p. 110.
157
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. Vol. 2 e 3. São Paulo: Saraiva, 2004.p.
96.
158
NORONHA, Edgard Magalhães, Op. cit., p. 49.
159
HUNGRIA, Nélson. Op. cit., p. 226.
61
160
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Op. cit., p. 126.
161
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Ibidem., p. 129.
62
162
MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Loc., cit.
163
HUNGRIA, Nélson. Op. cit., p. 230.
164
CROCE, Delton. Op. cit., p. 502.
165
HUNGRIA, Nélson. Op. cit., p. 235.
63
166
HUNGRIA, Nélson. Loc. cit.
167
HUNGRIA, Nélson. Ibidem, p. 183.
64
De acordo com os artigos 5º, XXXVIII da Constituição Federal 168 e 74, §1º do
Código de Processo Penal169, o infanticídio consumado ou tentado, é crime de ação
penal pública incondicionada de competência do Tribunal do Júri.
No caso de crime consumado, é competente o juízo do local onde se
consumou o crime, onde ocorreu a morte do nascente ou recém-nascido. Já na
tentativa, é competente o juízo de onde se realizou a última atividade do agente
tendente à consecução morte do sujeito passivo.
A pena em abstrato cominada ao delito é de detenção de dois a seis anos 170.
A ação penal, sendo pública incondicionada, exige da autoridade policial imediata
instauração de inquérito, quando esta tiver conhecimento do fato, independente de
qualquer provocação, devendo agir de oficio.
168
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasilia, DF. Senado, 1988 {s.n.]
1988. p. 24.
169
BRASIL, Decreto-Lei Nº 3689 de 03 de Outubro de 1941. Código Processo Penal, Vade Mecum.
17 edição. Saraiva, 2014, p. 403.
170
BRASIL, Decreto-Lei Nº 28487 de 7 de Dezembro de 1940. Código Penal. Op. cit., p. 358.
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
relação ao homicídio por concorrerem causas que tomam a conduta da mãe menos
gravosa que a conduta de um homicida comum. Essas causas variam, de um país
para outro. Uns adotam o critério puramente psicológico de honra sexual, outros,
como o Brasil, adotam o critério fisiopsicológico, refletido na expressão influência do
estado puerperal.
Analisando especificamente o caso do nosso ordenamento jurídico, a
infanticida é tratada mais beneficamente pela nossa lei penal tendo por base a
conduta do homicida comum, pois ela sofre durante o parto e logo a após a
influência perturbadora e transitória do estado puerperal, resultante das dores, do
sangramento, das alterações hormonais e das alterações psicológicas decorrentes
do parto, que causam na parturiente uma obnubilação de sua consciência
culminando com a liberação de instintos maldosos que matam a criança indefesa.
O terceiro que auxilia a mãe, ou mesmo que executa a conduta descrita no
tipo penal, não pode, sob pena de afrontar todo nosso ordenamento jurídico,
responder por infanticídio.
O coautor do infanticídio nada mais é do que homicida. Quem mata alguém,
comete homicídio. O enfermeiro, o médico, o pai da parturiente, ou qualquer outra
pessoa que auxilia a mãe a matar seu próprio filho, não é mãe, tampouco está sob a
influência do estado puerperal e não pode, portanto, cometer infanticídio.
Poderia alguns argumentar que essa questão já está pacificada, que o
estado puerperal é elementar do crime de infanticídio e, por isso, deve se comunicar
ao coautor.
Primeiramente, é obvio que, para sepultar toda essa discussão seria
necessário que nossa legislação penal fosse mais clara quanto ao infanticídio. Duas
poderiam ser as alterações: ou se revogaria o delito de infanticídio e se colocaria a
conduta do artigo 123 como espécie de homicídio privilegiado, em que o estado
puerperal passaria a elementar para circunstância de caráter pessoa, incomunicável,
portanto; ou, somar-se-ia um parágrafo ao delito de infanticídio dizendo que o
coautor deste delito responderia por homicídio.
Porém, o nosso ordenamento jurídico atual, apesar de não ser inequívoco,
não comete a injustiça de se privilegiar um homicida com pena de infanticídio.
Apesar de não ter sido notada pela maioria doutrinária, o crime do artigo 123
constitui-se de uma exceção pluralística à teoria unitária ou monista do concurso de
pessoas.
67
O nosso Código Penal, em seu artigo 29, consagrou a teoria monista, pela
qual, quem de qualquer modo concorre para o crime, incide nas penas a este
cominadas. Exemplificando, quando duas pessoas imbuídas pelo mesmo desejo,
concorrem para a mesma consequência, juridicamente relevante para o direito
penal, elas devem responder pelo mesmo crime. Essa é a teoria genérica de nosso
Código Penal.
Ocorre que, apesar de ser uma teoria aplicável a toda a legislação penal, ela
também sofre restrições, haja vista os crimes de corrupção ativa e corrupção
passiva (artigos 333 e 317 respectivamente, do Código Penal), aborto provocado por
terceiro com o consentimento da gestante e aborto com o consentimento da
gestante (artigos 126 e 124 respectivamente, do Código Penal), e facilitação de
contrabando e contrabando (artigos 318 e 334 respectivamente, do Código Penal).
Nesse sentido, pode-se concluir que o infanticídio também é uma exceção
pluralística à teoria unitária, sendo que, a mãe que, sob a influência do estado
puerperal, mata seu próprio filho, durante ou logo após o parto, sempre responde
por infanticídio; enquanto aquele que de qualquer modo concorre para a conduta da
mãe, responde por homicídio.
Assim, pode-se aferir que o infanticídio é um crime próprio e de mão própria.
Próprio porque exige de seus sujeitos uma especial condição, qual seja, a de
parentesco entre mãe e filho. Não obstante, é também crime de mão própria , pois só
pode ser cometido pela própria mãe, não admite concurso de pessoas.
68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BOBBIO, Norbeto. Estado, Governo, Sociedade: para uma teoria geral da política. São Paulo:
Paz e Terra, 2007.
REZENDE, Maria José de,. A liberdade e a igualdade nas teorias da democracia nos séculos
XVIII e XIX. São Paulo: Revista Mediações, 1997.
TOMAZI, Nelson Dacio. Iniciação ao estudo de Filosofia. São Paulo: LTD, 1993.