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Destaque

Dia Internacional
da Mulher
P. 8-9
Ano II • n.º 44 • Quinta-feira, 4 de março de 2021 • Diretor: José Diogo Fernandes • Quinzenal • Assinatura 20€ • Unid. 1€

P. 2 a 3

Sociedade
O que mudou
num ano de
pandemia
P. 6-7

Sociedade
Dia de Luto
pelas vítimas

Teresa Valiñas: de violência


doméstica
P. 10

vida dedicada
à educação
Pub.

André & Diana Mediação Seguros, Lda

Penafiel Lousada
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2 Grandes Louzadenses 4 de março de 2021 | Ed. 44 | www.olouzadense.pt

Teresa Valiñas: vida dedicada


à educação
Nasceu em Porto Santo, na Madeira, mas cedo se mudou para S. Roque do Funchal. Define-se como uma pessoa
respeitável, íntegra, simples e que nunca foi de grandes aspirações. Dedicada e empenhada no que fazia, tentou
sempre cumprir os seus objetivos e o que entendia por bem fazer. A vida acabou por trazê-la até Lousada, onde
foi professora e delegada escolar.
que me faltava. Ainda tentei acabar o colegas todos os dias me apareciam
6.º e o 7.º ano, mas acho que já estava para eu fazer parte da lista. Como
cansada de estudar”, brinca. tinha estado no colégio e tinha aju-
Por isso, concorreu ao Magistério dado a freira na secretaria, já estava
Primário e foi para Coimbra, “que dentro do assunto. Então aceitei e fui
era onde havia o lar das Irmãs reli- para delegada escolar”, conta.
giosas a quem estávamos entregues”, Embora não estivesse em contac-
conta. Contudo, “a minha infância to direto com os alunos depois de ir
foi normal, não fui menina de muita para a Delegação Escolar, tem noção
riqueza”. de que o ensino está diferente. “Lem-
bro-me que chegámos a fazer muitas
A adaptação ao continente coisas na escola, trabalhos, canto co-
Apaixonada pelo mar, sofreu com ral, catequese e era tudo mais calmo.
a mudança de cidade e com as dife- Mesmo em Lodares, que fui apanhar
renças climáticas. “Eram só montes a uma turma de rapazes mais altos que
toda a volta e senti uma angústia de eu, nunca tive problemas. Trabalhei
não ver o mar. Tinha muitas sauda- 13 anos com os alunos”, manifesta.
des de ver o mar. Ia a uma janela e só
via montes, parecia que me cortava o As dificuldades e a falta de
coração. E outro problema maior foi a condições nas escolas
adaptação ao clima”, explica. E acres- Por aqueles dias, as dificuldades e
centa: “embora tenha um grande es- a falta de condições faziam-se sentir
pírito de adaptação, isso custou-me”. um pouco por todo o concelho. E,
Embora o sonho não fosse ser pro- nesta altura, a escola assumia um pa-
fessora, acabou por surgir a opor- pel muito importante na formação de
tunidade de ir para o Magistério cada indivíduo.
Primário. “Na altura abriram muitos
lugares para o curso do Magistério, “Tinha alunos que ador-
então, eu e outra colega do colégio fo-
mos para Coimbra. No fim do curso,
meciam na escola, por-
sugeriram que nos candidatássemos que se levantavam às
para o Porto, mas só concorri para cinco da manhã, uns para
sedes de concelho”, refere. ir para a padaria ajudar
“Não conhecia Lousada, mas con- os padeiros, outros para
corri para todas as sedes de concelho dar de beber aos animais,
onde havia instituições de freiras da outros porque tinham
mesma congregação. Fiquei coloca-
da em Lousada e lá vim eu. Mas gos-
de arranjar erva para os
Nasceu em Porto Santo, na Madei- dois ficaram com a minha avó ma- que ouvia os relatos das freiras das tei logo de Lousada, porque estava animais antes de ir para
ra, mas cedo se mudou para S. Roque terna. Mas íamos sempre passar fé- minhas irmãs mais novas. Eu é que cheia de flores, que fez-me logo lem- a escola.”
do Funchal. Define-se como uma rias juntos a casa dos avós maternos, teria de harmonizar um pouco, por- brar a minha terra e pensei que fosse
pessoa respeitável, íntegra, simples e onde os meus irmãos viviam com um que as mais novas eram um bocadi- gostar de ficar aqui”, conta. Acabou “Eram crianças mais educadas,
que nunca foi de grandes aspirações. tio Padre”, conta. nho mais rebeldes. Mas não foi difí- por ficar em Lousada, onde casou e com mais dificuldades. Em Lodares
Dedicada e empenhada no que fazia, cil”, explica. teve dois filhos e uma filha. até tínhamos o auxílio da ‘Cáritas’,
tentou sempre cumprir os seus obje- A chegada a Lousada aconteceu com farinha, queijo e leite. A funcio-
O percurso escolar foi realizado em
tivos e o que entendia por bem fazer. “Quando viemos para S. Roque do Funchal e, quando o pai em 1962 e ficou colocada na Escola nária, que vivia ali próximo, não se
A vida acabou por trazê-la até Lou- cá, para Lamego, eu é emigra para a Venezuela, então, “os de Cristelos, onde esteve três anos. importava de fazer uma sopa para
os que moravam longe. Nessa altura
sada, onde foi professora e delegada que ouvia os relatos das dois que estavam com ele, voltamos Quando teve possibilidade de ficar
escolar. tinham de trabalhar em casa. Tinha
freiras das minhas irmãs para a casa da minha avó materna, efetiva, procurou outras oportunida-
alunos que adormeciam na escola,
des dentro do concelho, porque tinha
Teresa Maria Camacho Fernandes mais novas. Eu é que com o meu tio Padre. Entretanto, fui
vontade de ficar. Assim, concorreu porque se levantavam às cinco da
Valiñas nasceu na ilha de Porto San- para o Colégio de Santa Teresinha, na
to, no arquipélago da Madeira, a 27
teria de harmonizar um Madeira”, onde frequentou o 5.º ano. para uma escola que tivesse meio de manhã, uns para ir para a padaria
de abril de 1940, mas, com dois anos, pouco, porque as mais Mais tarde, “o meu tio foi convo- transporte. ajudar os padeiros, outros para dar
de beber aos animais, outros por-
mudou-se para a Madeira, onde pas- novas eram um bocadi- cado para ir trabalhar para a emigra- Dessa forma, conseguiu um lugar que tinham de arranjar erva para os
sou a sua infância. Pessoa respeitá- nho mais rebeldes. Mas ção católica e entendia que não era em Lodares, onde ficou dois anos. animais antes de ir para a escola. Foi
vel, que não admite mentiras. Acima
de tudo, define-se como uma pessoa
não foi difícil.” muito bom deixar três meninas com Mais tarde, lecionou em Boim e re- uma altura difícil de fome, higiene e
aquela idade sozinhas com os avós gressou para Cristelos, onde ficou condições habitacionais”, descreve.
simples. Aos seis anos, acabou por na Madeira. O meu irmão tinha ido efetiva. Em 1975, passou a pertencer
perder a mãe e ver-se separada dos O facto de não ter tido uma infân- à Delegação Escolar. Umas das suas primeiras lutas foi
com o meu pai para a Venezuela. En-
irmãos. cia fácil definiu a personalidade que conseguir umas sanitas, “porque as
tão, conseguiu que viéssemos para o “Depois do 25 de Abril formaram-
viria a ter enquanto adulta. “Quando crianças usavam aquelas calças com
“Éramos quatro, dois ficaram com Colégio da Imaculada Conceição, em se listas para os órgãos diretivos da
viemos para cá, para Lamego, eu é peito e alças e voltavam molhadas.
o meu pai e a avó paterna e os outros Lamego. Acabei a secção de Ciências Delegação Escolar. Na altura, dois
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Em Lodares, tinha casa-de-banho, mas Terminou a sua carreira em 2001 e um pelo nosso Diretor Escolar, ‘Uma Escola,
não tinha fossa. O terreno que estava jun- grupo de amigas “resolveram fazer-me Uma Empresa’, baseado na lei do mece-
to da escola era da igreja e não havia hi- uma festa de despedida. Estiveram os nato – foi um trabalho muito gratificante,
pótese de fazer uma fossa”, lamenta. meus superiores do Porto e Penafiel, to- visitamos as empresas do concelho que
“Juntamente com a igreja, e a Câmara dos os elementos da Câmara Municipal, aceitaram a ideia. Terminamos o projeto
Municipal, conseguiu-se pôr a funcionar professores e auxiliares das escolas. Por- com uma sessão solene no salão nobre da
a fossa. Quando vim para a Delegação tanto, todas essas pessoas vieram à mi- Câmara Municipal de Lousada com a en-
Escolar, em 1975, o parque escolar tinha nha festinha. Estou muito tranquila e sa- trega de um diploma a cada empresário.
muitas necessidades, quer em material, tisfeita”, conta. Foi, ainda, homenageada Orgulho-me muito de ter conseguido este
quer em mobiliário, e até mesmo nos pelo Presidente da Câmara, tendo recebi- projeto”, refere.

Editorial
próprios edifícios. Tínhamos uma escola do uma medalha de prata pelos serviços Mais tarde, foi voluntária na Assistên-
em Santo Estevão, que por baixo tinha prestados. cia Médica Internacional (AMI), “mas
animais e o chão tinha buracos”, recorda. também tínhamos de dar a vez a outros
Trabalhar em prol do outro voluntários”, refere. Então, formou-se a
Mas será que os alunos davam mais
Depois de todo o trabalho em prol da Universidade Sénior de Lousada (USA- ▐ José Diogo Fernandes
valor à educação? Teresa Valiñas acredi- diretor@olouzadense.pt
ta que, “pelo menos, da parte da família, educação, dedicou o seu tempo a algumas LOU) e “era outro serviço que eu gostava,
embora quisessem os meninos para tra- atividades. “A certa altura, no fim do ano, porque tínhamos aulas. Mais recente-
começamos a fazer um almoço de encer- mente aceitei ser presidente”, revela. Um ano de pandemia! O que mudou? Muitas rea-
balhar, acho que sim. Se pedíssemos al- lidades!
guma coisa, mesmo com as dificuldades, ramento. Entretanto, um grupo juntou-se “Nunca fui uma pessoa aventureira,
eles faziam”. para fazer uma associação. Fizemos a ‘As- mas gostava de ter sido. De viajar pelo Desapareceram conhecidos, amigos e familiares, direta ou indire-
sociação Cultural e Etnográfica dos Pro- tamente devido a este episódio inesperado e transcendental. Quan-
“Eu penso que se estava melhor, pelo mundo. Nunca fui pessoa de me enervar”, do o país caminhava com passos lentos, mas seguros para algum
fessores de Lousada’ e surgiu o Orfeão. expõe, acrescentando que foi aceitando
que dizem os colegas. Depois, os próprios equilíbrio económico e financeiro, surge um fator completamente
Andámos por vários sítios. No momento todas as alterações que as mulheres fo- fora do nosso alcance e controle. Temos mais cidadãos desespera-
colegas começaram a ser fustigados com da fundação, tinham 41/42 professores.
papeladas e afins que lhes iam tirando a ram conquistando. No entanto, “ainda dos por não ter emprego, outros por não conseguirem abrir os seus
Agora somos só 19/20.”, explica. falta muito para conquistar”. espaços de trabalho, outros por não terem assistência médica que
paciência”, confessa. necessitam, outros por não conseguirem continuar ajudar os filhos,
Mas a associação mantém-se aberta há Sempre gostou de ser mulher e acredita
Atualmente, pensa que os alunos “co- outros por não terem esperança.
cerca de 30 anos: “somos os últimos, mas
meçaram a ter outra liberdade, outra continuamos. Chegamos a gravar um CD Acreditamos que as vacinas venham dar luz ao nosso futuro, mas
maneira de estar. Já não há aqueles pro- o verdadeiro balanço de todos estes meses, apenas será contabiliza-
blemas de higiene, mas falta a educação.
e fomos atuar em muitos sítios”. “Enquanto não houver o Dia do lá mais para a frente. Provavelmente com resultados sociológicos
Eu atendia os colegas que vinham fazer as “Fiz parte, ainda, da Associação Nacio- Mundial da Mulher, não é gravosos, que levarão bastantes anos a ultrapassar.
suas queixas”. nal dos Professores do Ensino Básico, que de descansar. Mas mentali- Este mês também tem um significado importante para a igual-
esteve sediada em Lousada alguns anos. dades não se mudam facil- dade de género. Todos os meses têm! Pois esta luta pela equidade
Enquanto Delegada Escolar, teve “bas- Também fiz parte de uma lista dos corpos de género na sociedade (por vezes desumana) deve ser constante e
tantes dificuldades” no princípio, “porque sociais da Santa Casa da Misericórdia e mente.” resiliente. Convém recordar, que está inscrito pela Organização das
as pessoas que estavam lá não aceitaram da Assembleia da Associação de Cultura Nações Unidas (ONU): “Acabar com todas as formas de discrimina-
que “todas as mulheres deviam saber ser ção contra todas as mulheres e meninas, em toda parte. Eliminar to-
muito bem serem substituídas, e muito Musical de Lousada.” mulheres”. “Enquanto não houver o Dia das as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas
mais, por gente nova. Deixaram-nos sem
Como delegada escolar, esteve integra- Mundial da Mulher, não é de descansar. esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual
ajudar a resolver qualquer problema”. e de outros tipos. Garantir a participação plena e efetiva das mu-
da na Comissão de Proteção de Crianças Mas mentalidades não se mudam. Vamos
“Como disse, já sabia resolver alguns vendo se ao Dia Internacional da Mulher lheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os
e Jovens (CPCJ). Como deixou a Delega- níveis de tomada de decisão na vida política, económica e pública.
problemas, mas havia outros que não ção Escolar, continuou na CPCJ como co- se vai juntando mais algum país. Porque Realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos
sabia, então tivemos a ajuda de um pro- optada e até completar 10 anos de servi- sabemos que a mulher é muito maltrata- económicos, bem como o acesso à propriedade e controle sobre a
fessor. Tínhamos dificuldade, principal- ço. “Foi um trabalho que gostei muito de da em muitos países”, lamenta. terra e outras formas de propriedade, serviços financeiros, herança
mente, com a folha de vencimentos dos fazer”, confessa. e os recursos naturais, de acordo com as leis nacionais”. Não será por
Não deixa nada por fazer e admite: acaso, que a ONU, em setembro de 2015, definiu um conjunto de
professores. Tínhamos de fazer aquelas
“Quero referir dois momentos impor- “agora estou numa qualidade de vida, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), entre os quais
contas que tinham de dar todas certi-
tantes na vida das escolas e dos alunos: mas, se for preciso, e se não for preciso está o número 5, que visa alcançar a igualdade de género, colocan-
nhas”, refere. do termo a todas as formas de discriminação, violência e quaisquer
primeiro, fizemos duas idas ao jardim muito do meu tempo, eu aceito o desafio.
Por isso mesmo, chegou a ir várias ve- Ainda continuo a ser mulher”, demonstra. práticas prejudiciais contra mulheres e raparigas nas esferas pública
zoológico de Lisboa num comboio freta- e privada. Apela igualmente à plena participação das mulheres e à
zes ao Porto, ao Banco de Portugal, “bus- do para nós; segundo, o projeto proposto igualdade de oportunidades para a liderança a todos os níveis da to-
car a folha para as Finanças fazerem os mada de decisões políticas e económicas.
pagamentos. Mas depois lá fomos acer-
tando”. Na posição de Delegada, conquis- Tudo isto será uma luta constante e permanente para a qual de-
vemos contribuir. Corremos o risco de nos envergonhar, enquanto
tou, ainda, novas instalações para a Dele- cidadãos de plenos direitos. Só o facto de ainda ter de se escrever e
gação Escolar. preconizar é sinal que há muito a construir neste sentido e em mui-
“Não tive grandes problemas. Fomos tas partes do mundo. O Louzadense pretende, de uma forma singela,
resolvendo tudo, porque a Câmara tam- simbólica, mas efetiva, contribuir para esta construção de igualda-
de, alvitrada por muitos, mas concretizada por poucos. Assim, temos
bém me ajudava a resolver. Quando havia uma edição onde se releva a condição feminina, não deixando de
qualquer problema entre os colegas, eu relembrar a violência que ainda é alvo.
sabia de tudo, mas ficava só para mim. A nossa “Grande Louzadense” é Teresa Valiñas. Professora bem
Conseguia dar a volta de maneira que não conhecida no concelho, foi durante muitos anos delegada escolar
houvesse depois problemas”, lembra. (responsável pela coordenação das escolas do 1º ciclo), bem como
figura ativa na sociedade lousadense. Personalidade discreta, dili-
gente, de trato fácil e empático, marca uma geração de mulheres que
“Conseguimos edifícios no- tiveram de se impor a uma sociedade machista e arcaica.
vos, mobiliário novo, conse- ▲ Inauguração da Escola Básica da Boavista de Sta. Margarida No “Louzadenses com Alma” recordamos Maria Emília Coelho
guimos melhorar a situação Alves, da freguesia de Sousela. Mulher destemida e determinada,
viu-se viúva com trinta e cinco anos e seis filhos para criar. Dedicou-
dos estudantes.” se ao comércio de calçado, tendo para isso que percorrer a pé com
um saco na cabeça e outro no braço, desde Moreira (Lousada) até
Sobrosa (Paredes). Mais uma figura feminina lousadense relevante
pela tenacidade e arrojo.
Durante os mais de 26 anos ao serviço
da Delegação Escolar, acredita que deixou O LouzaRock continua com a sua segunda homenagem ao rock
“uma boa impressão e que toda a gente lousadense, desta vez com a banda “Kriptons”, formada por Paulo
Natalino Barros, Alfredo Campos Alves, Augusto Freire, Rui Maga-
me estimava. Não posso dizer que toda lhães e Francisco Fernandes.
a gente gostava de mim, mas procurei
sempre resolver as situações sem grandes Edição dedicada fundamentalmente à Mulher, abordando tam-
bém a vertente da violência de que são alvo e que nos devia enver-
problemas. A Direção Escolar nunca teve gonhar, enquanto sociedade do século XXI.
de vir cá resolver problema nenhum, a
Câmara sempre deu o seu apoio. Conse- Desejamos prosseguir a nossa missão de proporcionar aos nossos
leitores uma outra perspetiva da nossa comunidade.
guimos edifícios novos, mobiliário novo,
conseguimos melhorar a situação dos es- Boa leitura!
tudantes”, orgulha-se. ▲ Um dos almoços de fim-de-ano dos professores
4 Louzadenses com alma 4 de março de 2021 | Ed. 44 | www.olouzadense.pt

“Emília Sapateira, uma mulher que


quebrou barreiras e preconceitos”
Às portas do dia internacional da mulher deste ano (8 de março), trago aos Louzadenses com Alma a história de uma mulher que foi um exem-
plo de defesa dos ideais femininos. Maria Emília Coelho Alves, do lugar de Moreira, da freguesia de Sousela, em Lousada, ficou conhecida por
Emília Sapateira ou pelo diminutivo “S’Mila”, que era a abreviatura de Senhora Emília.
conteve. Também iam ao cinema ao
Porto, igualmente de motorizada,
eventos esses que figuraram entre
as memórias prediletas desta se-
nhora.
Poucos anos depois de enviuvar,
Maria Emília decidiu mudar a estra-
tégia do negócio: passou a dedicar-
se ao comércio e deixou a indústria
do calçado, embora tenha mantido
a oficina de reparação, onde traba-
lhava o seu filho Leonardo.
Maria Emília orgulhava-se em di-
zer que, durante 22 anos percorreu
a pé, com um saco na cabeça e outro
no braço, desde Moreira (Lousada)
a Sobrosa (Paredes), passando por
Paços de Ferreira, Freamunde e Se-
nhora da Luz. Vendia todo o tipo de
calçado, que comprava à consigna-
ção em fábricas e fornecedores de
Lousada, Felgueiras e até Guima-
rães.
Foi casada com José Gonçalves da e empreendeu sozinha a função de vinha da família dele. Além do em- contribuiu decisivamente para a Maria Emília Coelho Alves fale-
Costa, industrial de calçado de Sou- mãe e de trabalhadora, com uma es- preendedorismo laboral, José ficou construção do campo de futebol ceu em 28 de novembro de 2019, a
sela, que faleceu em 12 de setembro toicidade e empenho notáveis. conhecido por ser um democrata e de Moreira, que tem o seu nome. menos de um mês de completar 90
de 1965, aos 39 anos de idade, num Desde muito nova que Maria contestatário do antigo regime. Di- Tal como o marido, também Maria anos.
acidente de motorizada que cho- Emília deu a entender que seria zem os seus contemporâneos, que Emília gostava de futebol em geral
cou a população daquele lugar, pois uma mulher destemida e determi- em certas noites ele juntava-se com e do Freamunde em especial. Em
além de ser pessoa muito estimada nada. Começou a namorar com José alguns empregados e amigos para finais da década de 1950 era difícil
deixava seis filhos todos menores aos 15 anos e casou aos 20. Eram ouvir às escondidas a Rádio Portu- ver uma mulher a assistir a um jogo
(a mais velha com 14 e a mais nova ambos progressistas no pensar e gal Livre, que atacava a ditadura de de futebol em Portugal e diz quem
com 1 ano de idade): Dina, Teresa, nos ideais. Ajudou José Gonçalves Salazar. A esposa partilhava desses sabe que em Freamunde a primeira
José, Ernesto, Leonardo e Laura. A da Costa a instalar uma oficina de ideais e com o marido chegou a ir a foi Maria Emília, que a convite do
viúva Maria Emília, que tinha 35 reparação de calçado usado e pro- um comício de Humberto Delgado, marido foi com ele de motorizada,
anos, viu-se de repente com seis dução de calçado novo, nos fun- em Guimarães, em 1958. mas não sem que antes ele a avisas-
crianças para criar e um negócio dos da casa, em Moreira, dando O futebol foi uma das paixões se que não havia mulheres a assis-
para gerir. Não se deixou atemorizar tir ao jogo, mas nem por isso ela se ▐ José Carlos Carvalheiras
seguimento a uma atividade que já de José Gonçalves da Costa, que

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Enfermagem e voluntariado: a vontade de servir o outro


A mais velha de quatro filhos, Emília Carvalho é fruto do amor entre uma moleira e um empregado fabril. Com eles aprendeu os valores da família
e o respeito pelo outro. Nasceu em 1970, em S. Miguel, em sua casa. Pessoa simples, que acha que a sua missão na terra é estar ao serviço do
outro. É enfermeira e pretende deixar a sua pegada, “nem que seja uma sementinha pequenina”.
Amiga do seu amigo, aprendeu
na família a respeitar o outro, o
espírito de entreajuda e a distribui-
ção de tarefas, através das longas
conversas que mantinham às re-
feições. Muito nova, foi viver para a
Alemanha, onde aprendeu o signi-
ficado de saudade e o acarretar as
consequências das suas escolhas.
“A minha infância passei na Ale-
manha, dos três até aos 10 anos.
Às vezes sinto que sou daqui, mas
não sou daqui, sou de todo o lado.
Conheço a realidade do que é ser
emigrante. Conheço a realidade do
que é uma criança crescer afastada
dos seus familiares. Tenho ideias
muito atuais de quando vínhamos
cá de férias, era a liberdade total.
Naquela altura, a vida de emigran-
te era complicada”, explica Emília
Carvalho.
E é essa experiência que acredita
ter transformado a sua mentalida-
de, “em termos de evolução do ser
e do estar em sociedade, porque
saía de Portugal onde se vivia em
casas em que o chão era terra e ia
para um país onde já era tudo alca-
troado, luminosidade, a que esta-
mos habituados hoje”. ▲ Emília Carvalho
Não havia água canalizada, laváva- uma estabilidade para suportar o dar mentalidades e dar o meu con- membro da Assembleia, é pessoa.
“O ser emigrante é mos a roupa no fontenário. Aqui, essencial, porque nunca liguei a tributo para a realização de ações e “Para ser melhor enfermeira e para
com a minha madrinha, aprendi a altas marcas. Não quero ser escra- obras que promovam a segurança ser melhor membro da assembleia,
pertencer a todo o ser mulher”, revela. va das coisas, quero é viver a vida e e a qualidade de vida de todos. E eu tenho de ser melhor pessoa ain-
lado e não pertencer ajudar os outros”, confessa. que todos sejam responsáveis pela da. Falta-me melhorar cada vez
a lado nenhum.” A dedicação à enfermagem E é com a vontade de ajudar os situação que vivemos em socieda- mais o meu eu. Falta-me abanar a
e o voluntariado outros que acaba por surgir na sua de, gerindo bem os recursos”. consciência das pessoas e fazê-las
“O distanciamento entre as pes- Licenciou-se na Escola Supe- vida a Juventude Mariana Vicen- “Fazer parte e ter visibilidade é perceber que o que fazemos não é
soas e a falta de pensar no bem co- rior de Enfermagem do Porto, mas tina (JMV). “Encontrei a minha ingrato, porque tão depressa so- para termos visibilidade, mas para
mum entre todos, sempre mexeu nunca sonhou ser enfermeira. missão na Terra. A JMV é uma cul- mos colocados num pedestal como o bem de todos”, garante.
um bocadinho comigo. O ser emi- Hoje adora o que faz e considera tura de vida a nível mariano, seguir de repente somos bombardeados”, “Queria trazer para a política lo-
grante é pertencer a todo o lado que o seu contributo é “dignificar a o exemplo de cultura de vida de afirma. Desde 2017, é membro da cal esta forma de estra: o executivo
e não pertencer a lado nenhum. classe pelo saber ser, saber estar e Maria a quatro níveis: vicentino Assembleia na União das Fregue- que ganha é o que faz, mas temos
Quando vínhamos cá, as pessoas saber fazer com o foco sempre no (promover e fazer caridade organi- sias de Cernadelo e Lousada (São a Assembleia que também deve
daquela altura achavam sempre utente, valorizando a sua autono- zada) , missionária (missão nos vá- Miguel e Santa Margarida). estar envolvida, mesmo sendo
que as raparigas que eram emi- mia e fazer valer o seu papel numa rios campos nacionais) e ad-gentes elementos da oposição. Devíamos
“Faço as coisas porque gosto, por
grantes que eram ‘mais à frente’, equipa multidisciplinar”. eclesial (pertencemos à comuni- fazer em conjunto algo para o bem
altruísmo, não esperando nada em
que eram ‘mais fáceis’. Era a cultura O percurso profissional come- dade, somos Igreja)”, conta. comum”, afirma.
troca. O que eu espero do outro é que
de educar as meninas para o casa- çou no Hospital de Fafe, onde per- Uma das grandes marcas que pelo menos não digam mal. E quando Neste momento, “estou na fase
mento, não havia aquela cultura de maneceu durante 15 anos. “Foi precisamos que haja pelo menos res-
deixou no voluntariado foi a mis- da vida em que estou a trabalhar
investir na educação”, afirma. o prolongar de tudo o que tinha peito e não manifestem o ódio”, refere.
são que realizou em Moçambique, a minha flexibilidade pessoal para
Desde muito nova que aprendeu aprendido no curso. Naquela fa- de 16 de abril a 15 de julho de 2001. Emília Carvalho pensa que an- ultrapassar a falta de noção do ridí-
a ser responsável e independente. culdade já nos incutiam o digni- Após alguns anos na JMV, julga tes de ser enfermeira, antes de ser culo do que se diz”, expõe. Na vida,
“Aos sete anos aprendi a cozinhar ficar a profissão e a autonomia da que essa é a sua missão: “dar mo- acredita que cada um é responsá-
com o meu pai e a tratar dos meus enfermagem. Era como se fosse tivação aos jovens e conseguirmos vel pela sua felicidade e o que pre-
irmãos. A forma de vida na Alema- uma escola. Ainda hoje recordo fazer várias coisas na vida em prol “Falta-me melhorar tende “é incutir nos jovens que te-
nha era diferente. Ao fim-de-sema- com muita saudade aqueles anos”, do bem comum com organização cada vez mais o meu mos de estar nos locais por mérito
na fechava tudo, que isso era tem-
po dedicado à família”, conta.
expressa. e entrega. Sinto muito orgulho nos eu. Falta-me abanar e não pelo fator cunha”.

Também a escola primária ale-


“Não sou materialista, quero jovens que viveram esta filosofia de
vida e hoje são licenciados e mem-
a consciência das “Com a covid-19, devemos
é uma profissão que me permita
mã já era diferente. “Eram várias bros ativos na comunidade”.
pessoas e fazê-las aprender a cumprir com os direi-

salas e vários professores para as perceber que o que tos e deveres cívicos, respeitando o

diferentes disciplinas. Quando, aos


“Não quero ser es- Entrada na política: a mis- fazemos não é para
ambiente e promover o humanis-

10 anos, voltei para cá e fiquei na crava das coisas, são de mudar mentalidades termos visibilidade,
mo”, termina.

casa da minha madrinha, era tudo quero é viver a vida e Não se considera política, mas mas para o bem de
muito diferente, era mais duro. ajudar os outros.” aceitou o desafio “para tentar mu- todos.”
6 Sociedade 4 de março de 2021 | Ed. 44 | www.olouzadense.pt

Um ano de covid-19: o que mudou?


As marcas da pandemia continuam vivas naquele que foi o primeiro concelho a registar casos positivos de covid-19. Um ano depois, a insegurança ainda assombra o
quotidiano dos lousadenses, os primeiros a lidar com o desconhecido. Da indústria à economia, do comércio ao turismo, do desporto à cultura, do emprego à saúde, sem
esquecer a educação: Lousada está diferente. Mas o que mudou?
em setembro passado, onde partici-
param 12 alojamentos turísticos, oito
restaurantes, seis agências de via-
gem, um museu e quatro empresas
de outros setores de atividade.
Pedro Machado reflete que há áre-
as “que sofreram e estão a sofrer mui-
to mais do que outras. Infelizmente,
algumas atividades empresariais não
vão conseguir sobreviver, mas acre-
dito que, vencendo o problema de
saúde pública, o dinamismo e o em-
preendedorismo dos nossos empre-
sários farão a diferença e que a curto
prazo, nem que tenham de nascer de
novo, eles não vão desistir”.

Desemprego cresceu
Se em termos de saúde púbica “já
vemos a luz ao fundo do túnel com
esta campanha de vacinação e va-
mos conseguir a imunidade de gru-
po”, no que respeita ao emprego as
dúvidas “são muito maiores e tudo o
que dissermos é um exercício quase
de adivinhação, se efetivamente es-
tes números vão piorar ou não”, ex-
pressa.
Em Lousada, segundo dados do
Os dois primeiros casos de co- Parecia que os cidadãos de Lousada vos. O grupo etário mais afetado pelo um tempo máximo para a utilização Instituto do Emprego e Formação
vid-19 foram reportados pela minis- e Felgueiras tinham lepra. Foi neces- SARS-CoV-2 foi a faixa etária entre os das vacinas e tem de ser tudo muito Profissional (IEFP), em janeiro de
tra da Saúde a dois de março de 2020. sário tomar uma posição de grande 40 e os 49 anos, seguindo-se as pes- bem programado e delineado”, aler- 2020 estavam registados 1 400 de-
Mas o novo coronavírus entrou em contestação junto dos reitores das soas entre os 50 e os 59 anos. ta. sempregados. Um ano depois, o
território nacional a 21 de fevereiro. universidades, por exemplo. Os pró- concelho regista 1 776 desemprega-
Paços de Ferreira foi o concelho
A nove de março, começaram a ser prios hospitais cancelaram consultas com mais casos (8.461), seguindo-se Setores mais afetados dos. A maior diferença encontra-se
anunciados em todo o país cancela- de cidadãos de Lousada e Felgueiras Da indústria à economia, do co- no número de inscritos à procura de
Lousada (6.369) e Felgueiras (6.323).
mentos de eventos, feiras e festas. Em justamente por esse receio”, lamenta. mércio ao turismo, do desporto à um novo emprego (+ 338) e nos que
Nos últimos 14 dias, Lousada regista
Felgueiras e Lousada, a situação agu- cultura, do emprego à saúde e sem se inscreveram há menos de um ano
um nível de risco “moderado”, o que
dizava-se e a Direção Geral da Saúde Casos positivos e mortes re- significa que tem menos de 240 ca- esquecer a educação, muitos foram (+ 203).
(DGS) recomendou a limitação de gistadas sos por 100 mil habitantes. os setores que registaram uma que- “São números em demasia. Mas
deslocações. A 11 de março, a Orga- No norte do Vale do Sousa, mor- bra nas vendas, lucros e qualidade confesso que no início pensei que ia
nização Mundial de Saúde decreta o reram 251 pessoas desde o início da Plano de vacinação do serviço. Ao longo deste ano, “O ser muito pior.”
surto como pandemia mundial. pandemia, com novembro a registar O plano de vacinação “é a nossa Louzadense” tem auscultado alguns “Nunca pensei que, um ano de-
“Foram os piores dias de vida au- o maior número de óbitos. No con- grande esperança e aposta”, confir- dos intervenientes destes setores, pois, pudéssemos ter apenas mais
tárquica que todos tivemos”, afir- junto dos concelhos de Felgueiras, ma o autarca. A autarquia colocou ao que não traçaram um futuro risonho 300 desempregados. São muitos, não
ma Pedro Machado, presidente da Lousada e Paços de Ferreira, que dispor do ACeS o Espaço AJE de for- para os seus negócios. estou a desconsiderar, são números
Câmara Municipal. “Fomos muito correspondem ao Agrupamento de ma a ser utilizada para uma vacina- No que diz respeito à educação, “já em demasia. Mas confesso que no
incompreendidos pela generalida- Centros de Saúde (ACeS) Tâmega III, ção massiva. “Neste momento, por estamos em risco moderado e é ur- início pensei que ia ser muito pior”,
de das pessoas, porque não tinham morreram 119 pessoas em novembro ainda haver falta de vacinas, ainda gente o regresso às aulas presenciais, menciona.
consciência do que estava a aconte- e 48 em outubro, no período mais não foi utilizado e, portanto, a vaci- nem que seja, numa primeira fase, Segundo os dados da PORDATA,
cer e da gravidade da situação. Fo- crítico até ao momento da pandemia nação está a decorrer no Centro de nos alunos mais pequenos que são em 2020 foram dissolvidas por escri-
ram dias muito complicados”, refere. neste território. Em dezembro, o nú- Saúde de Lousada e Meinedo. Quan- aqueles que têm mais dificuldades tura pública 71 sociedades, menos
A primeira preocupação, ao re- mero de óbitos baixou para 32 e, em do houver um reforço a nível nacio- no ensino à distância”, alerta, refe- seis que em 2015, registando um nú-
gisto do primeiro doente, foi: “estas janeiro de 2021, para 26. nal está pronto a ser usado”, garante. rindo que esta modalidade pode ter mero maior no setor de atividade dos
pessoas vão precisar de retaguarda e No total, segundo o autarca e da- Por esta altura, estão vacinados consequências no futuro das crian- serviços (36).
não queremos que aqueles que estão dos da Administração Regional de com a segunda dose os utentes e fun- ças.
mais próximos se coloquem em risco Saúde (ARS) Norte, no concelho de cionários ilegíveis dos lares, e com a Relativamente ao desporto, “vai Os novos hábitos de consu-
para dar ajuda as estas pessoas”. Por Lousada morreram cerca de 80 pes- primeira dose os militares da GNR e deixar também marcas, mas creio mo e apoios
isso, foram criadas equipas de reta- soas vítimas da covid-19. A taxa de Bombeiros. Os utentes com mais de que aí será mais fácil a recuperação Com o fecho de alguns estabeleci-
guarda e que poderiam ser “impres- letalidade é, atualmente, de 1,19% 80 anos estão também a receber a se conseguirmos ultrapassar este mentos, os hábitos de consumo dos
cindíveis”. na região, abaixo da região norte primeira dose. problema, este ano. Acho que vai lousadenses foram-se reinventando,
“O que mais me chocou foi sentir- (1,41%) e nacional (1,71%). “A grande dificuldade é chegar ao haver condições para se iniciar uma privilegiando o comércio local e o
me discriminado, sentir que os meus Até 30 de dezembro, o grupo etário contacto com estes utentes. Poucos nova época desportiva já sem gran- digital. “Não era um hábito generali-
concidadãos foram discriminados, com mais óbitos estava compreendi- terão telemóvel ou um contacto re- des constrangimentos”, reflete o au- zado no concelho, mas agora já co-
logo no início.” do entre os 80 e 89 anos, com 94 mor- gistado nos ficheiros da ARS e ACeS. tarca. meça a ser normal vender-se online
Em forma de balanço, “o que mais tes, seguindo-se o grupo entre os 70 Já estávamos a antever que houvesse No setor do turismo, 89,9% dos e já temos imensos exemplos de su-
me chocou foi sentir-me discrimina- e os 79, com 65 óbitos. No conjunto esta dificuldade, porque este tipo de agentes económicos conseguiram cesso de empresários e comerciantes
do, sentir que os meus concidadãos dos três concelhos, foram contabi- vacinação tem de ser muito rigoroso, evitar despedimentos, segundo um que estão a conseguir escoar o seu
foram discriminados, logo no início. lizados cerca de 20 mil casos positi- no que diz respeito à marcação. Há inquérito realizado pela autarquia produto por via das vendas online e
www.olouzadense.pt | Ed. 44 | 4 de março de 2021 Sociedade 7
serão tendências para ficar”, comen- pessoas que estavam a fazer esse tra-
ta Pedro Machado. balho podiam fazer muito mais. Se,
Esta alteração de hábitos, por par- em novembro, tivemos 956 casos, é
te dos portugueses em geral, teve humanamente impossível dar con-
especial enfoque nas mulheres e nos ta de tantas solicitações. Tínhamos
mais jovens (entre os 18 e 24 anos), vindo a demonstrar essa disponibili-
de acordo com o inquérito realizado dade, mas houve sempre resistência
pela Ageas Portugal e a Eurogroup por parte das Autoridades de Saúde,
Consulting Portugal, com o intuito porque entendiam que esse trabalho
de identificar tendências emergentes devia ser feito por técnicos de saúde.
no contexto da covid-19. E, de facto, foi uma luta que só con-
seguimos ganhar com a vinda do Sr.
Para fazer face às dificuldades de
Primeiro Ministro à região”, esclare-
empresas, famílias e associações, a
ce.
autarquia tem disponibilizado algu-
mas receitas. O valor disponibilizado Nessa altura, o que estava crítico
ao associativismo ronda os 400 mil “era a quantidade de pessoas que es-
euros, mas era o comum e manteve- tavam ansiosas, em casa, há alguns
se o valor dos anos anteriores. dias, à espera de um contacto sem
ninguém as contactar. Sinalizamos
“Relativamente à pandemia, deve
esse problema e dissemos qual era
rondar os cerca de 200 mil euros o
a solução. A solução passaria por
valor que disponibilizamos para fa-
se criar equipas multidisciplinares
zer face a um conjunto de necessi-
e que, após uma orientação da En-
dades, como a de equipamentos de
tidade Reguladora da Saúde (ERS),
proteção individual para um con-
pudessem fazer perguntas e escla-
junto generalizado de instituições”,
recessem situações que deviam ser
explica.
verificadas”, revela.
As plataformas criadas No regresso à normalidade, Pe-
Em março passado, foi criada a dro Machado acredita que o grande
linha telefónica covid-19 para escla- desafio “é que as pessoas percebam
recer qualquer questão, mas sobre- que mais vale fazermos mais algum
tudo direcionada para quem estava sacrifício durante mais algum tempo
infetado ou em isolamento e que e quando começarmos a desconfi-
precisasse de ajuda. nar estejamos em condições de não
pôr em risco todo o trabalho que foi
Quando os números começaram feito. A experiência diz-nos que para
a crescer exponencialmente, em ou- melhorarmos os indicadores preci-
tubro, “fomos insistindo com a Auto- samos de várias semanas, mas para
ridade de Saúde para rentabilizarem piorar é num instante”.
os recursos que tínhamos, porque as
Pub.
8 Destaque 4 de março de 2021 | Ed. 44 | www.olouzadense.pt

As lutas femininas que ainda estão


por conquistar
Desde sempre que os livros contam histórias de heróis, homens conquistadores, inventores e pioneiros e, atrás desses homens, pode até ter havido algumas mulheres.
No entanto, existiram outras que se recusaram a ficar na sombra e lutaram pelos seus direitos. Na semana em que se celebra o Dia Internacional das Mulheres, a oito
de março, conhecemos três mulheres lousadenses que lutaram pelo seu lugar e por aquilo que as faz feliz.

Não há muito tempo, as mu- dando muitas voltas. O meu pai damental. As mulheres têm de ser 2015, e atleta, juntamente com a
lheres não podiam participar nas
competições de desporto, não ti-
sempre teve a ideia de nos dar a
formação em tudo e mais alguma
“Há muitos preconcei- fortes. Não se menosprezar, não
duvidar do valor que têm. Têm de
irmã, que também é licenciada
em Desporto.
nham cargos de poder e tinham coisa. Achava que tínhamos de tos que acabam por ser ser fortes. Os homens sempre do- “Desde sempre que adoro des-
profissões intituladas “apenas estar na escola, de ter música, ter aspetos culturais, vi- minaram tudo por causa da força. porto, não só o atletismo. Na-
para mulheres”. Desde a Imple- formação em computadores. No vemos numa sociedade No geral, as mulheres são capazes quela altura, como a minha irmã
mentação da República à Revo- fundo, eu até gostava de muita em que esta diferença de fazer muitas coisas ao mesmo também gostava muito de correr,
lução dos Cravos, têm sido várias coisa”, comenta. tempo.”
as associações e feministas que
está muito vincada.” sugeriu que nos inscrevêssemos
“Ser professora foi um com- num clube de atletismo para le-
lutam pelos direitos das mulhe- plemento à carreira que tinha
Fernanda Alves A mulher no desporto var as coisas mais a sério. Até nem
res. Durante o Estado Novo, esse enquanto músico. As atividades Fernanda acredita que depende As Nações Unidas começaram ligava muito, mas a paixão foi au-
ativismo foi silenciado, mas as complementam-se, porque conti- de cada um chegar ao que deseja. a celebrar o oito de março como mentando ao longo do tempo”, re-
protagonistas não desistiram. Mas nuo a achar que um bom músico “Se as pessoas forem aceites nos o Dia Internacional das Mulheres, vela.
são ainda muitos os percursos es- se tiver uma grande atividade mu- cargos e nas suas profissões só que simboliza a vontade de pro- Das conquistas como atleta re-
quecidos e por conhecer. sical consegue influenciar os seus porque são empenhados e bons mover a igualdade entre mulheres corda uma “há cinco anos, que es-
O Ano Internacional das Mulhe- alunos e, ao mesmo tempo, ensi- trabalhadores, acho que isso será e homens a todos os níveis da vida tava na minha melhor forma, que
res foi proclamado, pelas Nações nar”, acrescenta. o ideal. Apesar de que, acho que a cívica, política, económica, social fui 5.ª classificada no nacional e
Unidas, em 1975, tendo-se segui- Inicialmente, quando começou sociedade está tão formatada nes- e cultural. 5.ª classificada no Corta-Mato de
do a Década das Nações Unidas a carreira na música e, nomea- tas desigualdades que vão sempre Em dezembro de 1977, a Assem- Apuramento para o Campeonato
para as Mulheres. Neste mesmo damente, na Banda de Música, pôr dúvidas”, lamenta. bleia Geral da ONU adotou uma Europeu”.
ano, realizou-se a “I Conferência “eram sempre muito poucas rapa- “Há muitos preconceitos que resolução que proclamou um Dia Como treinadora, “todos os
Mundial Sobre as Mulheres”, na rigas, sempre me vi no meio dos acabam por ser aspetos culturais, das Nações Unidas para os Di- anos, em todas as provas, temos
Cidade do México, na qual Por- homens. E sempre fui muito aca- vivemos numa sociedade em que reitos das Mulheres e para a Paz sempre pelo menos uma criança
tugal esteve representado através rinhada, nunca tive qualquer pro- esta diferença está muito vincada. Internacional a ser celebrado nos ou duas que sobem ao pódio. Mas
de um grupo de trabalho da Co- blema. Aliás, no 9.º ano, até tirei Nos próprios textos das bíblias, Estados Membros num dia esco- uma das maiores conquistas, foi a
missão para a Condição Feminina um curso de eletrotecnia”, brinca. por exemplo, que são documentos lhido de acordo com as suas tradi- minha irmã, que em 2018 foi vice-
(CCF), atualmente Comissão para essenciais na nossa cultura, isso ções nacionais. Para a ONU, o dia
Chegar a um cargo de poder, campeã nacional de Corta-Mato
a Cidadania e a Igualdade de Gé- está muito vincado. Que a mulher é comemorado a oito de março,
“foi um desafio em espírito de e, nesse mesmo ano, uma atleta
nero (CIG). deve ser submissa e isso está de tal celebração esta a que Portugal se
missão”, explica, “porque a escola foi 3.ª classificada no Corta-Mato
Fernanda Alves, 50 anos, é pro- estava a passar um período menos forma na nossa sociedade que é associou desde 1975. escolar nacional”.
fessora de saxofone e, ao mesmo bom. Mas foi um bocadinho sem difícil mudar”, reflete. Carla Nunes, 24 anos, é treina- O desporto é uma meta longín-
tempo, é Diretora Pedagógica do querer. Nem estava nos meus pro- Para atingir a igualdade, a pro- dora e fundadora da modalidade qua para a igualdade de género,
Conservatório do Vale do Sou- jetos e objetivos. Preferia dar aulas fessora acredita que falta “respei- de atletismo na Associação Des- ainda dominado pela discrimina-
sa, desde 2003. “A minha vida foi a estar enfiada num gabinete”. to, que é o princípio e valor fun- portiva de Lustosa (ADL), desde ção e pelos estereótipos. Será que
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as mulheres algum dia vão vencer cer profissões que continuam a lo que fazemos. Por exemplo, na em que “realmente fazem um re- mo. Olham para a mulher como
a corrida pela igualdade no des- ser associadas aos homens e a que minha empresa não se nota isso, conhecimento às mulheres”, mas um ser inferior. Falta reconhecer
porto? Por enquanto, apenas 30% poucas mulheres têm acesso. Se, não há desigualdade salarial. O acrescenta: “por tudo aquilo que que é mulher, mas não é por isso
dos desportistas federados em antigamente, o mundo laboral era que um maquinista masculino re- ela faz, tudo aquilo que ela de- que não tem as mesmas qualida-
Portugal são mulheres. constituído por homens e as mu- cebe por desempenhar a função, sempenha, tem de ser mãe, dona des ou capacidades”, afirma.
lheres ficavam responsáveis pela exatamente recebo eu por desem- de casa, esposa, trabalha fora de Às mulheres, deixa a mensagem
“Se formos fazer uma casa, hoje não é assim. Se traba- penhar a mesma função. Mas sei casa. Faz tudo. Acho que não é só que as mulheres “devem sempre
lham lado a lado e cuidam da casa que há muitas empresas onde as um dia por ano, devia ser todos os
competição de 10 juntos, faz sentido continuarem a mulheres sentem desigualdade dias”.
lutar por aquilo que querem, por
aquilo que gostam. Que devem se-
quilómetros de estra- existir diferenças salariais no final começando logo pela parte sala- “Ainda há aqui uma grande guir o seu coração e fazerem sem-
da, existem prémios do mês? rial”, afirma. fronteira, por parte dos homens, pre mais e melhor. É sempre isso
monetários. O prémio Rosa Mendonça, 39 anos, foi Sobre o Dia Internacional da que olham para nós como o elo que tento fazer e luto pelos meus
carteira, durante cerca de um Mulher, considera que é um dia mais fraco. Um pouco de machis- ideais e pelos meus sonhos”.
para as mulheres é ano. Por força de um acidente
sempre, ou 90% das rodoviário, acabou por procurar
provas, menor que o outra profissão. Por coincidência,
ou não, ingressa na profissão de
dos homens.” Carla maquinista do Metropolitano de
Nunes Superfície do Porto no dia oito de
março de 2004, onde se mantém
“Infelizmente, em pleno 2021, até hoje.
ainda existem algumas diferen- “Sempre fui muito acarinhada
ças entre homens e mulheres. O pela população, achavam graça
exemplo mais estrondoso é nos ao facto de andar uma mulher
prémios. Se formos fazer uma de mota a distribuir correspon-
competição de 10 quilómetros de dência. Senti-me sempre muito
estrada, existem prémios monetá- acarinhada. Ainda hoje é o dia
rios. O prémio para as mulheres é que encontro pessoas dessa fase
sempre, ou 90% das provas, menor da minha vida que dizem ‘olha a
que o dos homens. Nunca perce- menina carteira’ ou ‘olha a nossa
bi isso se correm os dois a mesma carteira’. Sempre fiquei conhecida
distância, têm os dois o mesmo por ser a carteira”, recorda.
mérito”, lamenta. Por isso, nas cor-
Hoje em dia, no Porto “é igual.
ridas organizadas pela ADL, ten-
Numa fase inicial, havia quem
tam que isso não aconteça.
achasse engraçado, quem aplau- ▲ Fernanda Alves
Uma outra situação que a in- disse. E havia, mais a parte mas-
comoda, e que acredita não se culina, que preferia esperar pelo
conseguir mudar de um dia para veículo seguinte. Fui das primei-
o outro, é: “eu e a minha irmã ras, acho que a segunda mulher a
vamos a correr na rua, se for um entrar para a parte da condução”,
homem está tudo bem, se estiver explica.
calor e formos de calções não nos
Mas continua a ser difícil para
livramos dos piropos, apitadelas e
uma mulher chegar a um cargo
essas coisas que incomodam. In-
superior: “vejo isso na empresa
felizmente, acontece quase todas
onde eu trabalho. A nível de ma-
as vezes em que vamos correr para
quinistas não somos muitas, mas
a rua”.
já somos algumas, mas noto que
Para a jovem, “este é um dia passar deste patamar para cima,
bastante importante que marca que a ascensão de maquinista
as conquistas que todas tivemos para responsável direto ainda há
até hoje e acho que é um dia que aqui uma resistência”.
deve ser celebrado. E deve ser um
São 16 mulheres, no meio de
direito de todas as mulheres cele-
quase 300 maquinistas. “Mas pela
brá-lo”.
lei da paridade, já merecíamos ter
A mudança, considera, “deve uma mulher num cargo de mais
começar pela educação que os responsabilidade. Para poder
pais dão aos filhos e filhas desde mandar”, lamenta.
pequenos que não existem coisas ▲Carla Nunes
para homens ou mulheres. Que o
futebol não é para homens e o bal- “O que um maquinis-
let para as mulheres”.
“Gostava que pensassem que
ta masculino recebe
não é um género ou a ligação de por desempenhar a
um género a uma modalidade função, exatamente
que deve ser um entrave para elas
praticarem o que elas gostam. Se recebo eu por de-
gostam de futebol, joguem. Se sempenhar a mesma
gostam, façam. Não interessa o
que os outros pensam, o que os
função. Mas sei que
outros dizem. O que interessa é o há muitas empresas
que nos faz feliz”, acrescenta Carla onde as mulheres
Nunes, numa mensagem dirigida
às meninas que queiram seguir os sentem desigualdade
seus sonhos. começando logo pela
A mulher na “profissão para parte salarial.” Rosa
homens” Mendonça
Nos dias que correm, já é fre- “Acho que é muito desigual, não
quente ver-se uma mulher a exer- somos reconhecidas por aqui-
▲ Rosa Mendonça
10 Sociedade 4 de março de 2021 | Ed. 44 | www.olouzadense.pt

Violência doméstica: a realidade de


um crime (pouco) público
Como serão os dias de quem ouve o insulto a toda a hora e vive no medo de denunciar com receio do que pode advir? Como serão as noites de
quem dorme sem dormir, de quem vive na angústia? Será o medo de que os filhos sofram é maior do que o amor próprio? São variadas as questões
que se colocam quando reconhecemos um caso de violência doméstica e aí, paira a dúvida: o que poderíamos ter feito para ajudar esta vítima?
Em 2020, o Governo contabilizou 32 achava que era gostar. Achamos sempre do para a vítima. “É muito complicado
homicídios em contexto de violência que vai mudar e que vai ser diferente”, a nível psicológico, tem de se enfrentar
doméstica: 27 foram mulheres, duas lamenta. medos. Quando fiz a denúncia senti-me
crianças e três homens. Nota-se uma desprotegida pelas autoridades, porque
tendência que já se vinha a desenhar a morada não foi notificada como ur-
nos dados trimestrais de julho a setem- “O problema da vio- gente. Não estava feita essa notificação.
bro: o aumento do número de homens lência psicológica é E é preciso mesmo muita força”, expõe.
que frequentaram programas para “Sofri muito, porque surgiu o medo
agressores. As estatísticas revelam ainda que não nos aperce- do que poderia acontecer. Vivia com
a subida de 26% de presos preventivos bemos que estamos a uma pessoa que sabia que era violenta,
e de 28% das medidas de afastamento
com pulseira eletrónica.
ser metidas no meio mas achamos sempre que nunca acon-
tece a nós. Quando eu vi que começa-
A violência doméstica constitui uma do jogo. Na altura, eu ram a acontecer ameaças psicológicas à
realidade social intolerável e inadmis- achava que era gos- minha filha começou-me a fazer ver que
sível, exigindo uma ação determinada
e a congregação de esforços de toda a
tar.” eu poderia vir a ser essa vítima”, confes-
sa.
sociedade para defender, de forma in- E acrescenta dirigindo uma mensa-
transigente, a integridade e a dignidade Frequentemente, as vítimas de vio- gem a todas as vítimas: “o medo é psi-
das mulheres. Por isso, o Conselho de lência doméstica têm medo do agressor, cológico. Nada pode ser pior que conti- ▲Vera Reis é presidente da CPCJ
Ministros aprovou o decreto que decla- da sua reação quando não partilham a nuar numa relação que não tem futuro.
ra o dia sete de março como Dia de Luto mesma opinião, de dizer “não”. Podem Esqueçam tudo e vivam o momento em méstica deverá fazer uma participação”. mais respostas do ponto de vista da saú-
Nacional, em homenagem às vítimas de sentir-se ignoradas, gozadas, humilha- que têm de fazer as denúncias, em que Entre 2018 e 2020, o número de co- de mental, e que as pessoas que passam
violência doméstica e às suas famílias. das, ameaçadas, forçadas a justificar têm de procurar ajuda. Não pensem em municações de violência doméstica a por essa situação tivessem um programa
Entre 30 de março e 7 de junho de tudo o que fazem ou acusadas de esta- nada e não desistam, porque eles [agres- esta comissão triplicou. Passaram de 27, dirigido às vítimas e agressores, acredito
2020, a Rede Nacional de Apoio a Víti- rem envolvidas com outras pessoas. sores] não vão mudar. Nada do que pen- em 2018, para 89, em 2020. “Isto é um in- que a prevalência desta problemática
mas de Violência Doméstica atendeu O primeiro passo é denunciar, mas, sem que pode acontecer é pior do que dicador de que quer a comunidade que tenderia a diminuir”, termina,
cerca de 16 mil pedidos de ajuda. As três para as vítimas, esse ainda é um pas- ficar”. ouve está alerta e sanciona, quer as pró-
linhas de apoio nacionais receberam so difícil de conseguir. “Primeiro tens prias vítimas já recorrem à justiça para Se é vítima de violência e
698 pedidos de ajuda; houve 161 soli- aquele sentimento de que chega, de sair A violência doméstica é crime pedir ajuda”, reflete. precisa de ajuda:
citações de auxílio por email e 194 por da relação. Na psicológica, leva-se muito público e deve ser denuncia- A situação de violência acaba, natu-
SMS. tempo a perceber que aquilo é um jogo. da ralmente, por causar um impacto no Esteja atenta/o aos sinais que ajudem a
Na física, há uma tendência mais rápida, desenvolvimento das crianças. “Impac- prever comportamentos violentos, como
Após o fim do período de confina- A violência doméstica já é consi-
mas surge mais o medo. Na primeira vez o aumento do tom de voz, gestos brus-
mento, o número de pedidos de ajuda derada crime público há alguns anos, to esse que vai ser diferente de acordo
não dás importância, nem na segunda, cos e alterações na linguagem.
à Rede Nacional de Apoio a Vítimas de mas, segundo Vera Reis, presidente da com o tipo, a intensidade e a duração
Violência Doméstica (RNAVVD) dupli- nem na terceira”, recorda. Comissão de Proteção de Crianças e dessa violência e das características da Quando identificar sinais de alarme pro-
cou: atingiu a marca dos 4.500 por quin- “Tinha medo do que ele me poderia Jovens (CPCJ) de Lousada, “na perspeti- própria criança. Existe a probabilidade cure espaços seguros.
zena. fazer depois de eu denunciar. E isto só va de quem a sofre e de quem a exerce de uma criança que é exposta a violên-
ia agravar, e vai-se deixando passar. Até continua a ser sentido como algo que é cia doméstica estar sujeita a desenvolver Alerte os/as vizinhos/as para que, caso
Mariana, nome fictício, que prefere
que surgiu uma denúncia, por parte de privado e que deve ser vivido e resolvi- diversas perturbações, quer físicas, quer ouçam gritos ou barulhos suspeitos, te-
não ser identificada, tem 38 anos e co-
alguém que se apercebeu. Quando as psicológicas”, alerta a presidente. lefonem para o 112. Defina com as pes-
nhece bem a realidade da violência “que do dentro da família, o que torna uma
autoridades chegaram, com medo, eu soas que coabitam consigo um código
começa por pequenas coisas, que pare- problemática muito insidiosa e de difícil As crianças que estão expostas a pa-
disse que ele não me estava a bater, só (palavra, gesto) para que contactem o
cem banais”, conta. No seu caso, come- intervenção”. drões de violência podem, a longo pra- 112, chamem um/a vizinho/a ou aban-
çou ainda muito jovem, no namoro. foi uma discussão, não quero fazer quei- zo, “fazer a identificação ao agressor, donem a casa.
xa”, afirma. que permite à criança sentir-se forte.
“O facto de não gostar que vás ter com
as amigas, ou porque demoras mais um O receio, hoje, é que a filha cresça com “Sempre que existam Ou tornarem-se extremamente retraídas Envie uma mensagem para a Linha 3060
bocado te interroga, fica-se na sensação a ideia: “é errado, mas a minha mãe ia indícios que apontem e pouco confiantes no mundo. Podem ou ligue 800 202 148. É uma linha gra-
aceitando, ia ficando e vir a fazer o mes- desenvolver esse espectro de comporta- tuita de informação às Vítimas de Violên-
‘deve mesmo gostar de mim’. E comecei
mo, achar que isso fazia parte do amor.
para a existência mentos”, menciona. cia Doméstica da Comissão para a Cida-
a namorar muito cedo, ainda pior. A par-
tir daí, quando já se sentia seguro, come- Foi ver a minha filha a crescer nesse am- de uma situação de “Esta situação de violência está asso- dania e Igualdade de Género e funciona 7
dias por semana, 24 horas por dia.
çaram as ameaças. ‘Se também foste eu biente que me deu força para denunciar. violência doméstica ciada ao consumo de álcool. Em Lousa-
também vou. Eu fui porque tu foste’. Que Ficava alguns dias sem querer ter uma da, é a situação mais prevalente.”
vai gerar uma discussão, onde vai surgir ligação com o pai, procurava-me muito”. [a sociedade] deverá Faça uma participação às autoridades
“Não raras vezes, esta situação de vio- da sua zona de residência. Em Lousada,
um empurrão ou um estalo”, explica. Mariana explica, ainda, que o início fazer uma participa- lência está associada ao consumo de ál- pode contactar a GNR – 255810470 e a
O tipo de violência mais relatada é a da denúncia é um processo complica- ção”. Vera Reis cool. Em Lousada, é a situação mais pre- CPCJ - 255 820 500.
psicológica, com 13%, seguindo-se a se- valente. Não existe um perfil único, mas
o abuso do consumo de álcool é muito Tenha consigo um telemóvel com con-
xual, com 1%, e a física, com 0,9%, exis-
A sociedade “deve passar uma men- tactos importantes e memorize alguns.
tindo coocorrência de diferentes tipos “Quando eu vi que sagem clara de intolerância”, afirma,
incidente e, ainda, situações de saúde
Pode ainda recorrer a outros números e
de violência. mental, como alterações de persona-
começaram a acon- explicando que esta sociedade são os lidade e outros traços patológicos, aí a
serviços disponíveis como a Associação
Segundo a vítima, “é um processo que Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) -
só tem tendências a piorar”. A violência tecer ameaças psico- vizinhos, os que ouvem os gritos, o pro- psiquiatria é fundamental”, testemunha. 21 358 7900 / 116 006, a linha de emer-
fessor que percebe a criança disse que
começou por ser psicológica e foi-se lógicas à minha filha o meu pai estava a ralhar com a minha
O que poderá estar a faltar “é uma gência social através do 144, o 112 se
agravando até à violência física. “O pro- maior consciencialização da sociedade sentir que a sua vida está em risco e o
blema da violência psicológica é que
começou-me a fazer mãe, ou o contrário. “Sempre que exis-
civil. Perceber que deverá ter uma par- SOS criança através do 116 111, deve
tam indícios que apontem para a exis-
não nos apercebemos que estamos a ser ver que eu poderia vir tência de uma situação de violência do-
ticipação ativa para comunicar este tipo ensinar também às crianças como fazer.
metidas no meio do jogo. Na altura, eu a ser essa vítima.” de fenómenos. Acredito que se houvesse
www.olouzadense.pt | Ed. 44 | 4 de março de 2021 Educação 11

CNL e Plano Municipal unidos para


promover hábitos de leitura nos jovens
A Fase Municipal do Concurso Nacional de Leitura (CNL) aconteceu nos dias 22 e 24 de fevereiro, onde foram escolhidos três alunos de cada ciclo
de ensino, num total de 12, que vão representar o concelho na fase intermunicipal. Para promover a leitura e a literacia ambiental, o Município
criou o Plano Municipal de Leitura Ambiente, onde já foram oferecidos cerca de 26 mil livros.
Os alunos fizeram as suas presta- Plano Municipal de Leitura “Dizer que isto é
ções perante um júri composto por Ambiente suficiente para pôr
três elementos, nomeadamente, Rui
Festa, coordenador interconcelhio
Em 2015, nasceu o Plano de Lei-
os jovens a ler, não é.
tura Ambiente, de forma a promo-
das bibliotecas escolares, Adelaide
ver os hábitos de leitura e a literacia Temos de encontrar
Pacheco, da Biblioteca Municipal de
Lousada, e Luiz Oliveira, encenador
ambiental. Em articulação com os outras ferramentas.”
parceiros locais, como as escolas, Manuel Nunes
do grupo Jangada Teatro.
bibliotecas, famílias e coletividades,
Margarida Pinto Nunes, 11 anos, e as entidades externas como as uni- Ao longo dos seis anos, o pro-
frequenta o 6.º ano e adora ler des- versidades, museus e organização grama publicou 11 obras originais.
de muito nova. “A minha mãe tinha não-governamentais, constituiu-se “Dizer que isto é suficiente para
de me contar sempre histórias antes um instrumento de leitura. pôr os jovens a ler, não é. Temos de
de ir dormir, sempre gostei muito.
“Quando o projeto nasce, em 2015, encontrar outras ferramentas. Em
Mesmo quando ainda não sabia ler”,
nasce para combater a iliteracia, seja cinco anos, já quase 26 mil pessoas
conta.
ela qual for. Mas em bom rigor, quan- foram tocadas, só da comunidade ▲Margarida Nunes
Gosta de ler todo o tipo de livro, do temos alguma iliteracia, ela acaba escolar. Se virmos isto do ponto
mas adora os de mistério e aventu- por se refletir em todas as áreas e, de vista das famílias, cada crian-
ra, “porque cria uma expectativa, dá portanto, não é apenas na questão ça com a sua família, já são mais
vontade de ler até ao fim para desco- ambiental. Embora seja um progra- três ou quatro pessoas. Não have-
brir o que vai acontecer. Entro num ma direcionado para as questões rá grandes famílias em Lousada
mundo que é só meu. Onde posso científicas e do ambiente, é também que não tenham, pelo menos uma
imaginar tudo, voar, viajar”. um plano, em suma, cultural, porque vez, contactado com alguns destes
ao elevar o nível de conhecimento e livros. Quando falamos em pôr os
formação, eu capacito as crianças e jovens a ler, falamos também em
“Cria uma expectati- jovens para conhecerem o mundo à envolver a família e a comunida-
va, dá vontade de ler volta delas”, afirma Manuel Nunes, de”, refere.
até ao fim para des- vereador do ambiente e cultura. Mas acredita que o desafio não
cobrir o que vai acon- A dinâmica estabelecida incorpo- se esgota na produção do livro: “es-
ra a edição e divulgação de obras li- gota-se quando o número de livros
tecer.” Margarida Nunes terárias, conhecimento do território requisitados nas bibliotecas esco-
▲Clara Pereira
local e reforço do fundo documental lares, o número de alunos a
Como apaixonada pela leitura, das bibliotecas escolares e dos espa- levar livros para a escola ou
conseguiu, em 2019, um 2.º lugar ços de leitura disponibilizados em a partilhar livros e o número
a nível nacional, com o “Diário de todo o concelho por estabelecimen- de alunos que mantém o há-
Anne Frank”. “Continuei para saber tos comerciais e coletividades. bito de ler vai aumentando”.
os meus limites no mundo da leitu-
Biodiversidade, alterações climá- No total, mais de uma de-
ra e fiquei muito contente por saber
ticas e sustentabilidade dos recursos zena de autores e outros tan-
que cheguei até ali”, revela.
naturais são assuntos versados nas tos ilustradores, escolhidos
Já Maria Clara Pereira, 9 anos, fre- diversas obras que, concluído o pro- após auscultação a professo-
quenta o 4.º ano e aos seis anos já lia. cesso de edição, são oferecidas anu- res e professores bibliotecá-
“Gosto de ler porque me deixa feliz almente a todos os alunos do sistema rios em função da bibliogra-
e aprendo muitas coisas”. Prefere os público e privado que, em Lousada, fia relevante nos respetivos
contos de fadas para conseguir ima- frequentem o ensino pré-escolar, o escalões etários, colabora-
ginar o que se passa na história. 3.º e 4.º anos do 1.º ciclo de ensino, ram no projeto editorial.
o 6.º ano do 2.º ciclo de ensino, o 9.º No caso do programa
ano do 3.º ciclo de ensino e o 10.º e científico, foram editadas
“O que mais gosto 12.º anos do ensino secundário. duas publicações: Lousada
é de saber como as Todas as obras refletem, de alguma Geológico (2016) e revista
histórias se passam, forma a realidade local do concelho. Lucanus – Ambiente e Socie-
dade (1.º volume em 2017),
“Decidimos abarcar os vários tipos
onde, quando e o de literatura associados às escolas e esta última de caráter peri-
que se sente.” Clara aos jovens, daí termos exemplos com ódico, com quatro números
Pereira textos dramáticos, prosa, epístolas, editados, com a chancela
contos, o romance e, num próximo da Secretaria de Estado do
passo, a poesia. Para dar a conhecer Ambiente, da Agência Por-
Nesta altura de confinamento, já as diferentes áreas de trabalho e per- tuguesa do Ambiente e do
leu quatro livros. “O que mais gosto mitir aos jovens contactar com estas Instituto de Conservação
é de saber como as histórias se pas- realidades. À medida que contactam da Natureza e das Florestas.
sam, onde, quando e o que se sente”. com elas, desenvolvem mais o gos- No total, foram produzidos
É a primeira vez que participa no to pela leitura, adquirem hábitos de 2.750 exemplares destas
Concurso Nacional de Leitura, mas leitura e tornam-se mais capazes do obras.
isso não a assusta. “Não é difícil par- ponto de vista da literacia”, reflete.
ticipar. Gostava de ganhar”, afirma.
12 Sociedade 4 de março de 2021 | Ed. 44 | www.olouzadense.pt

Infusões que contam histórias


A “Infusões com História” é uma marca conhecida pela produção de chás biológicos. O projeto nasceu em 2017, pensado por Valdemar Sousa e
Miguel Moreira, dois apaixonados por atividades de Natureza e Montanha e por tudo o que estas vertentes têm para oferecer.
A marca é “um sonho tornado realida-
de”, explica Miguel Moreira, um dos fun-
dadores, e é uma empresa que se dedica
“à criação e desenvolvimento de tisanas
associadas a cada um dos territórios, no-
meadamente do Norte de Portugal, é esse o
propósito da nossa empresa. Paralelamen-
te, somos pessoas muito sensíveis à eco-
nomia local, entendemos que a “Infusões
com História” deve ser um estímulo a essa
economia, na medida em que, trabalhos
apenas plantas locais, portuguesas e plan-
tas destes territórios”.
A partir de várias caminhadas e viagens
pelos montes e vales da região do Români-
co e do Douro, a inspiração necessária sur-
giu e os dois encontraram o caminho certo,
que os levou a criarem misturas exclusivas
a partir de espécies autóctones.

“Os nossos produtos


têm de ser obrigatoria-
mente 100% portugue- “Misturas do Românico” para remeter para Para além disso, têm como missão a va- Muitas outras foram as parcerias que medalhas gourmet com a infusão aromá-
o território da Rota do Românico. lorização e o respeito pelo meio ambiente, foram desenvolvendo ao longo do tempo tica e montanha de sensações do Româ-
ses, 100% biológicos, Atualmente, são duas gamas num total pelo Produtor e o património vegetal. e com diversas marcas das mais distintas nico.”
100% naturais e 100% de nove referências, três no Românico e áreas. “Combinamos infusões com rebu- O fundador mostra-se satisfeito por,
locais.” seis no Douro. Os seus aromas exploram Rota do Românico como çados “Dr. Bayard”, com chocolates com mesmo em pandemia, “termos crescido
as emoções, sentimentos com prazeres e ponto de partida a “Pedaços de Cacau”, com bolachas do tanto em 2020 e, acima de tudo, ter aberto
sensações que se prolongam numa via- Assim, surge uma parceria com a Rota “Atelier do Doce”, com perfumes, procura- tantas portas para 2021 continuar esse ca-
“Respeitamos um triângulo que é, si- gem. Mais do que uma criação que espelha do Românico, “que serve de inspiração”. mos diversificar o nosso leque de parcerias minho”. A marca também já foi premiada
multaneamente, a base do nosso trabalho a região Norte de Portugal, os produtos da Pelo facto de Miguel Moreira viver em Lou- para que não tenhamos só infusões com com quatro prémios internacionais. “Uma
e um canal de comunicação. Os nossos marca pretendem ser bilhetes de identida- sada, conhece a Rota do Românico e iden- infusões, mas infusões com outros produ- medalha de ouro com a infusão vibrante
produtos têm de ser obrigatoriamente de únicos. tifica-se com esse trabalho de valorização tos que complementam este mundo das do Douro, uma medalha de bronze com a
100% portugueses, 100% biológicos, 100% do património e território. infusões”, garante. infusão subtil do Douro e duas medalhas
naturais e 100% locais, poderíamos acres- “Por isso, fazia todo o sentido eu sen- Apesar de ter sido pensada em 2017, gourmet com a infusão aromática e mon-
centar este vértice, já não seria um triângu- “O facto de ser bio, o sibilizar o meu sócio que, ao criar a nossa chegaram ao mercado apenas no último tanha de sensações do Românico”, orgu-
lo, seria um quadrado, mas na base do nos- trimestre de 2019, ou seja, “os primeiros lha-se.
so triângulo é ser 100% bio, 100% natural, facto de ser natural, empresa, o primeiro território que iriamos
trabalhar seria este que tão bem conheço. produtos que comercializamos foi nessa No futuro, pretende-se “aumentar a
100% português. Progressivamente, fomos não é, de todo, um Paralelamente, sei da sensibilidade da di- altura e temos pouco mais de um ano. Esta notoriedade e visibilidade da marca, quer
acrescentando ao nosso canal de comu- é a montra que nos podemos basear para
nicação estes 100% local, que faz todo o trabalho adicional. retora da Rota do Românico para apoiar,
fazer um balanço. Em 2020, vendemos 10
no mercado interno, quer no mercado
externo. Então, estamos a trabalhar para
alavancar, projetos de desenvolvimento
sentido, tendo em conta que trabalhamos É uma opção, uma local e estimulem a economia local, tudo vezes mais do que em 2019, também não exportar cada vez mais, exportar para a
plantas de um determinado território. seria difícil, porque só trabalhamos um
Quando falamos de plantas do Românico,
dinâmica, são princí- isto associado com o enorme potencial
trimestre e em 2020 foram quatro. Por isso,
Europa Central, América do Sul e até mes-
que tem a Rota, começamos precisamente mo África. Acreditamos que temos muito
não vamos buscar plantas ao Algarve”, es- pios de trabalho.” por aí”, conta. podemos dizer que multiplicamos por 10 potencial para exportar Portugal, exportar
clarece. o volume dos nossos negócios, mas, aci- a qualidade dos produtos portugueses e
Para o fundador, “o nosso design de ma de tudo, multiplicamos diversas vezes
No território da Rota do Românico, no Os mesmos contribuem para que as tra- produto, que também vive no território da exportar os aromas de Portugal”, afirma.
Vale do Sousa, Tâmega e Douro, “traba- dições, a cultura, a produção biológica e o número de produtos que comercializa-
Rota, em Paços de Ferreira, colheu muito Sobretudo, desejam aumentar o portfó-
lhamos cinco plantas: a urze, a carqueja, até os parceiros recebam visibilidade e se- mos, o número de parcerias, o número de
bem esta ideia e visitou imensos monu- lio de infusões e já estão a trabalhar infu-
a cidreira, a hortelã comum e a prunela. jam projetados a nível nacional e interna- eventos feitos”.
mentos para se inspirar para criar o logó- sões para a região do Côa e para a região
Com estas plantas fazemos misturas que cional. Desta forma, apresentam-se atra- tipo, escolher as cores, por isso todo um “Uma medalha de ouro com a infusão das Beiras. “Queremos dinamizar outros
revertem em três infusões distintas: a Infu- vés dos seus ingredientes 100% naturais. O conjunto de circunstâncias fez com que vibrante do Douro, uma medalha de bron- territórios e outras plantas que não estão
são do Mato, a Montanha de Sensações e objetivo é a recuperação da História e do começássemos por este território, que nos ze com a infusão subtil do Douro e duas representadas neste momento”, termina.
Românico Português”, explica. Património dos territórios, partindo de ex- inspirássemos”.
Mais recentemente surgiram os Chás periências sensoriais.
“Em Portugal, culturalmente, é muito
BIO do Douro, onde 6 misturas exclusivas “O facto de ser bio, o facto de ser natu- válido, chamarmos chás a tudo, quer seja
permitem a quem prova, sentir o Douro, o ral, não é, de todo, um trabalho adicional. É para as infusões, quer seja para as tisanas.
rio, os socalcos e as vinhas, como mais ne- uma opção, uma dinâmica, são princípios Tivemos de necessidade de comunicar so-
nhuma outra marca o permite fazer. de trabalho, porque misturar plantas que bre a chancela do chá, mas, em bom rigor,
“O Douro tem uma diversidade maior sejam biológicas ou não sejam dá exata- a “Infusões com história” tem infusões e ti-
e dentro deste perfil que nos interessa, o mente o mesmo trabalho. O que na base sanas. Desde o início, a Infusões começou
aromático. Lá encontramos a folha de oli- nos deu imenso trabalho foi identificar as a diversificar aquilo que comercializa, as
veira, a folha de videira, o tomilho bela-luz, plantas, selecionar as plantas, misturar as plantas à volta das infusões e das tisanas,
os orégãos, a folha de framboeseira, a er- plantas para que aromaticamente fossem mas também os acessórios para as prepa-
va-peixeira, as calêndulas e muitas outras diferenciadores”, menciona, reiterando rar”, comenta.
que são características do Douro”, como o que “no mercado português, já existem
empresas que fazem produtos interessan- Nos catálogos, plataformas digitais e
alecrim, louro, nogueira e funcho. “Aí te- loja online é muito comum encontrar-se o
mos seis misturas que desenvolvemos sob tíssimos e não queríamos mais um, que-
ríamos ser a “Infusões com História”, com bule, o infusor, o jarro elétrico e muitos ou-
a chancela das “Misturas do Rio & da Vi- tros produtos que estão “associados a uma
nha” para remeter para o Douro, enquan- misturas distintas e que, aromaticamente,
fizessem diferença”. experiência de 360º à volta do chá, do ritual
to que a nossa primeira gama chama-se das infusões e das tisanas”, explica. ▲Valdemar Sousa (à esquerda) e Miguel Moreira (à direita)
www.olouzadense.pt | Ed. 44 | 4 de março de 2021 Louzadenses Lá Fora 13

Trilhar o caminho para dar asas ao


um espírito livre
Natural de Lustosa e com um espírito aventureiro, Patrícia Martins embarcou no desafio de sair de Portugal. O objetivo era ficar na Europa, mas
os horizontes foram mais longe. A viver no Brasil desde dezembro de 2019, criou o seu próprio negócio, “A Portuguesa”, com peças pensadas
e confecionadas pela própria.
Patrícia Martins é uma apaixonada por viajante como eu e chegamos a fazer algu-
conhecer o mundo, normalmente a pé. mas férias juntas. Nessas viagens formou-se
Mais recentemente, já no Brasil, encontrou uma cumplicidade, ela deu-me aquela con-
a paixão pela bicicleta, que tem utilizado fiança de ouvir o que ela me dizia, aceitar
para conhecer o país. A vontade de conhe- as informações que ela me passava. Como
cer o mundo vem desde muito cedo e, em não estava a conseguir ter trabalho na Eu-
Portugal, praticava Trekking, que significa ropa, que eu queria muito sair de Portugal
seguir um trilho ou percurso pedestre. “O e ir para outro país, ela abriu-me as portas.
facto de praticar trekking e ser peregrina Pensei pouco sobre o assunto”.
dos caminhos de Santiago fez-me estender A adaptação ao novo país
os horizontes e a vontade de andar pelo
A vontade de viajar e os conhecimentos
mundo”, conta Patrícia.
que já tinha no Brasil falaram mais alto. “Já
A chegada ao Brasil aconteceu em de- tinha estado em S. Paulo, em 2018, já conhe-
zembro de 2019, pouco antes de ser de- cia a vida da Camila, a família dela e outros
clarada a pandemia de covid-19, que, amigos que conheci através dela. Marquei
“atrasou um bocadinho os planos”, lamen- encontro com pessoas que tinha contacto
ta. Embora sem grandes planos, Patrícia aqui, através de um grupo de poesia que
embarcou na aventura, “Quando somos fazia parte na internet, e quando vim de fé-
aventureiras, gostamos de conhecer novas rias formou-se logo um contacto com quem
culturas e andar pelo mundo, atiramo-nos falava virtualmente e isso deu-me força para
um pouco de cabeça, acho que as coisas aceitar a sugestão da Camila”, confirma.
não são muito planeadas. Então, às vezes,
E a decisão foi fácil de tomar: “vendi os
quando acontece alguma coisa na nossa
meus bens materiais em Portugal e resolvi
vida que nos deixa mais perdidas, quem é
começar uma nova vida num novo país e
aventureira procura sempre ir para novos
com novas culturas. Para dar oportunidade
horizontes”, refere.
a outras pessoas para entrarem na minha
vida”.
“Quando decidi mudar Patrícia acabou por partir para a aventu-
ra sem contrato de trabalho ou familiares.
de Lousada para outro “Atirei-me como uma verdadeira viajante, ▲Patrícia Martins
país, a minha ideia era vim sem trabalho, por isso é que me desfiz
porque eram trabalhos temporários, de en- amiga a parte do design e divulgação. Foi- E, por isso, continua a sonhar. “Cheguei
dos bens materiais e fiz dinheiro para trazer
a Europa, mas aí as para cá. Depois de chegar cá é que ia decidir
tregas ao domicílio. Para além de não estar se espalhando e já tenho clientes no Rio de aqui e o que quero agora é conhecer o má-
tão adaptada à cidade, ia-me expor demais, Janeiro. E estou super feliz. As minhas en- ximo possível da América Latina. Estou a
coisas não correram o que fazer. Lógico que com tudo isto veio a
ainda não sabia o à vontade que eu podia comendas durante a pandemia têm viajado aproveitar para conhecer aquilo que posso
vontade de conhecer a América Latina, veio
como eu queria, por- e continua a estar cá. Continuo a fazer turis-
circular na cidade”, recorda. por quatro estados e isso deixa-me satisfei- aqui mais próximo. Assim que as coisas fo-
ta”, conta. rem melhorando, dá-me mais abertura para
que na Europa é ou- mo por cá, embora com algumas restrições Por isso, começou a trabalhar e reinven-
ir a outros estados e fazer viagens mais lon-
tou-se com a ajuda da colega de casa. “Eles Porém, a jovem tem consciência que
tra língua, não ajuda devido à pandemia”, conta.
disseram-me: ‘porque não fazes umas bol- “não é um país para ganhar dinheiro para gas, para conhecer outras culturas. E o Bra-
“É tudo diferente quando vimos de férias sil tem muitas, não é apenas uma. E levar
muito.” e quando vimos para começar uma nova
sas, que em Portugal fazias as tuas próprias chegar rica a Portugal, porque há a diferen-
para a frente o meu projeto”, conta, referin-
bolsas para ires de férias, porque não?’. Faço ça de câmbio. Mas, para viver cá, deixa-me
vida, porque de férias é tudo perfeito, quan- do que nunca imaginou, mas que pretende
as coisas sem pensar muito e aceitei essa su- satisfeita e chega” e sonha com mais, “muito
“Eu estava a pensar em ir para outro do começamos uma nova vida as dificulda- consolidar o projeto e levá-lo mais além e,
gestão. Comprei uma máquina doméstica e mais, mas, considerando que comecei um
país e nunca sonhei vir para o Brasil, não des aparecem.” até, para Portugal.
comecei a fazer bolsas básicas para colocar projeto no meio da pandemia, para mim é
era dos meus países de eleição, nunca fui O primeiro passo foi regularizar a situ- livros. De seguida, comecei a fazer másca- o suficiente da forma como está”. “Não tenho aquela vontade de ficar aqui
aquela pessoa que tinha o sonho de fazer ação do visto e um emprego. No primeiro ras”, conta. o resto da minha vida. Apaixonei-me por S.
Embora nunca tivesse sonhado ir para o
uma viagem ao Brasil. Quando decidi mu- mês, optou por instalar-se e tentar conhecer Paulo e quero ficar cá, porque foi a cidade
Brasil e, muito menos, ter o seu próprio pro-
dar de Lousada para outro país, a minha a cidade. “É tudo diferente quando vimos A criação de um negócio jeto, “aqui estou eu, em S. Paulo, no melhor que me trouxe oportunidades e me abriu
ideia era a Europa, mas aí as coisas não de férias e quando vimos para começar uma Apesar de todas as adversidades da pan- as portas e me acolheu. Nunca tive tanto
estado do país, na cidade que traz as melho-
correram como eu queria, porque na Euro- nova vida, porque de férias é tudo perfeito, demia, Patrícia Martins acredita que “foi tempo longe de Portugal e a saudade vai
res oportunidades, a cidade onde podemos
pa é outra língua, não ajuda muito”, afirma. quando começamos uma nova vida as difi- o que deu o arranque ao meu projeto. Co- aumentando. Tenho muita vontade de levar
ter a melhor qualidade de vida a nível finan-
À medida que o sonho ia aumentando, culdades aparecem. Entretanto, o meu visto mecei a vender máscaras e foi isso que me o projeto para Portugal e ficar entre os dois
ceiro, porque a nível de segurança há outras
iam surgindo palavras de apoio de todos os demorou um pouco para sair. Assim que sustentou nos primeiros meses aqui em S. países”, explica.
cidades fora do centro que têm uma melhor
amigos. Em 2019, quando decidiu terminar saiu o visto, duas semanas depois entrou a Paulo”. qualidade de vida”. De Lousada, restam as saudades da mãe
os estudos no Centro Qualifica – Profisou- pandemia”, lamenta.
Mais tarde, começou a confecionar bol- e sobrinhos. “Incuti muito aos meus sobri-
sa, encontrou uma equipa que alimentou a Pandemia que veio dificultar todo o pro- nhos a vontade de conhecer a natureza, de
vontade de viajar e fez com que se “atirasse cesso de adaptação. “Fiquei assustada, per-
sas, carteiras e, agora, fabrica produtos de
ioga. “Criei o meu pequeno atelier ‘A Portu-
“Não tenho aquela fazer turismo, embora que, com a idade
de cabeça para o mundo”. dida, sem saber que decisões tomar. Todo guesa’ com a ajuda das pessoas daqui. Aqui vontade de ficar aqui deles, não sei se eles dão valor ou não, mas
mundo ficou perdido, então quando é uma pelo menos eu fiz a minha parte e deixava-
E como acredita que ninguém consegue
nada sozinho, a partir daí, “comecei a en- pessoa que ia começar uma vida do zero
tem muita gente que acolhe muito o povo o resto da minha vida. me muito feliz eles acompanharem-me. É o
português. Por isso é que surgiu o nome ‘A
trar em contacto com amigos que estavam num país muito longe, as coisas pioraram, Portuguesa’, porque aqui chamam-me as- Apaixonei-me por S. que me deixa mais saudosa”, termina.
o medo aumentou bastante”, revela a jovem.
na Europa e a resposta que me deram foi
que não era uma boa altura para eu sair
sim, não me chamam pelo nome. E deram- Paulo e quero ficar cá, Veja a entrevista completa
“As pessoas que tenho aqui deram-me a me muita força, os amigos começaram a
de Portugal, porque a crise estava a afetar maior força e disseram ‘não, tu vais-te rein- comprar os meus produtos, começou-se a porque foi a cidade aqui:
toda a Europa a nível de emprego”. ventar. Trabalhas com a costura, porque não espalhar e pedi parceria a esta minha amiga que me trouxe oportu-
começares a criar as tuas peças?’. Embora na parte do marketing e design”, explica.
Nos caminhos de Santiago acabou por
conhecer a amiga que viria a ajudar com tivesse aqui, no início da pandemia, dava nidades e me abriu as
“É tudo feito a partir de casa. É tudo feito
a tomada de decisão. “Ela também é uma para conseguir trabalho, mas ia expor-me, por nós. Eu faço a parte da costura e a minha portas e me acolheu.”
14 Desporto | Cultura 4 de março de 2021 | Ed. 44 | www.olouzadense.pt

Sintético na AD Lustosa será realidade brevemente


A Associação Desportiva de Lustosa foi criada a 14 de fevereiro, de 2013, onde começou a participar no campeonato da AFALousada. Atualmente,
faz todas as suas competições na AFPorto e AAPorto, das quais Futebol, Futsal e Atletismo, respetivamente.
Lustosa estava sem equipa de futebol e, a Taça JOMA, a Supertaça e o Campeona- de “Já andávamos há muito tempo a lutar jogar num pelado todo enlameado, no in- formação esta época. É triste vermos atle-
por isso, um grupo de amigos decidiu rea- to. O primeiro ano na AFP não correu tão para isso, tal como a antiga direção. Por um verno, e cheio de pó, no verão. Se não têm tas nos clubes vizinhos que vão à procura
tar o clube e formar uma direção. “Muda- bem, mas este ano queríamos fazer uma motivo ou outro não se conseguiu concre- condições aqui e recebem uma proposta de melhores condições, porque aqui não
mos o nome e começamos novas equipas. equipa mais competitiva”, afirma. tizar. Agora as partes chegaram a acordo e de outro clube, vão optar por ir. É um medo há condições nenhumas. Acabamos por
No primeiro ano foi só futebol, no segundo As principais dificuldades do clube são tenho a certeza que é desta que vai aconte- que tenho este ano.” compreender a situação dos pais”, lamenta.
fundamos o futsal feminino. No terceiro a nível financeiro: “é o mais grave e tenta- cer”, garante. “É muito complicado para uma crian- Durante muitos anos, a ADL teve todos
ano, o Atletismo de Codessos, Paços de mos combatê-lo através dos patrocínios, Segundo Rui Teixeira, a Câmara Mu- ça jogar num pelado todo enlameado, no os escalões de formação. Com o encerra-
Ferreira, veio falar com o, na altura, presi- dos sócios, dos eventos e os apoios da Câ- nicipal de Lousada e a União das Fregue- inverno, e cheio de pó, no verão. Há dois mento do clube, acabaram por se perder
dente Joaquim Couto, se poderiam juntar- mara Municipal de Lousada e da União sias de Lustosa e Barrosas Santo Estevão anos perdemos muitos atletas para o Eiriz, os atletas. Com a melhoria das condições,
se ao Lustosa. Aproveitamos e hoje temos das Freguesias de Lustosa e Barrosas Santo chegaram a acordo para a sua construção, para o Vizela, para o Paços de Ferreira, o a direção pretende voltar às conquistas e
as três modalidades”, explica Rui Teixeira, Estevão” com as obras a poderem arrancar até ao fi- Vitória de Guimarães, o Benfica, é normal. ter, novamente, todos os escalões.
presidente da Associação Desportiva de nal deste ano. Numa reunião, que colocou Se não têm condições aqui e recebem uma
Neste momento, “não pagamos aos atle- O objetivo com a mudança para o sinté-
Lustosa (ADL) frente a frente Pedro Machado, Presidente proposta de outro clube, vão optar por ir. É
tas, só à equipa técnica. Mas os gastos são tico é ter mais receitas, “porque as pessoas
A ADL é relativamente recente, mas elevados, porque temos as taxas de jogos, da autarquia, Armando Silva, Presiden- um medo que tenho este ano. Se não tiver- vêm mais para assistir aos jogos. E se tiver-
conta com um crescimento gradual. Atu- inscrições de jogadores, seguros, desloca- te da União das Freguesias de Lustosa e mos o sintético, vai ser muito difícil manter mos mais formação também angariamos
almente, assenta a sua atividade nas mo- ções e as lesões”, menciona. Barrosas Santo Estevão, e em que esteve a formação”, alerta. mais sócios”, relata. Para já, ficam por rea-
dalidades de Futebol Sénior e nos escalões também presente António Augusto Silva, Depois de concluído o sintético, o obje- lizar o sonho de subir de divisão, devido à
“A nível de formação estávamos a cres-
mais jovens de Formação, no Futsal com vereador do desporto e Rui Teixeira, todas tivo é captar, novamente, os atletas da terra paragem imposta pela covid-19, e a funda-
cer bastante, seguramente muitos dos atle-
uma equipa Sénior Feminina e no atletis- as partes conseguiram chegar a acordo, que acabaram por sair em busca de melho- ção de uma equipa de futsal masculino e
tas que tínhamos já não querem jogar fu-
mo Masculino e Feminino. que ainda falta ser assinado e oficializado. res condições. “Os que andam fora vamos outra de formação de futsal feminino.
tebol. Foi o que nos afetou mais. Tememos
No total, são cerca de 130 atletas, ins- que alguns não voltem.” Neste momento, decorre o concurso pú- tentar cativá-los para tentar fazer uma boa
critos na Associação de Futebol do Porto blico da obra que ronda os 450 mil euros. A
“A nível de formação estávamos a cres-
(AFP) e na Associação de Atletismo do data prevista para o início das obras é 2021,
cer bastante, seguramente muitos dos atle-
Porto (AAP). O grande objetivo “é ficar nos no entanto, a obra só deverá ficar concluí-
tas que tínhamos já não querem jogar fu-
primeiros três classificados, porque vai ha- da no início da próxima época 2021/2022.
tebol. Foi o que nos afetou mais. Tememos
ver um alargamento de divisões e estamos O valor da obra ronda os 450 mil euros, que
que alguns não voltem. Já estão desinteres-
a tentar subir. A pandemia veio afetar mui- irá mudar totalmente o Campo dos Escra-
sados. Pode ser que agora com o sintético
to a equipa. Jogadores que fomos buscar vos.
consigamos captar mais atletas”, manifesta.
acabaram por fazer só um jogo e outros até O recinto será dotado de um relvado
nenhum”, lamenta. A formação é composta pelos escalões
sintético, com construção de novos bal-
de sub-9, sub-11, sub-13 e sub-15, com
“Em todas as provas que entramos o neários e melhorias nos existentes, de
cerca de 60 atletas, mas pretendem criar
objetivo é ganhar troféus, como temos iluminação LED e de um parque de esta-
mais uma equipa na próxima época.
feito até agora. No futsal, na Federação de cionamento, infraestruturas que servirão
Futebol do Concelho de Penafiel, já fomos Sonho realizado sobretudo para potenciar o crescimento da
campeões da Associação de Futebol de No meio da tempestade, surge a boa no- Formação do futebol.
Penafiel, ganhamos a Taça dos Campeões, tícia: sintético vai mesmo ser uma realida- “É muito complicado para uma criança ▲Rui Teixeira, presidente da Associação Desportiva de Lustosa (ADL)

Os Kriptons (1970-72)
Nos primeiros anos da década de 1970 já se faziam sentir alguns ventos de mudança políticos e sociais em Portugal. A mú-
sica era um veículo fortíssimo dessa mudança, transportando ideais e desejos de modernidade e de transição para a demo-
cracia. Os jovens com conhecimentos de música ou, em último caso, com vontade de aprender, juntavam-se para dar asas à
imaginação e à criatividade. Em Lousada a música moderna da época surgia através dos Kriptons.
Esta banda era formada por Paulo Além dos referidos componentes bispo do Porto”. Este antigo relojo-
Natalino Barros (baixo e voz), Alfre- da banda, havia outros que por ve- eiro e ourives explica que “quando o
do Campos Alves (guitarra ritmo), zes se juntavam aos Kriptons. “Era o conjunto estava a atingir alguma ma-
Augusto Freire (guitarra solo), Rui caso do Fernando Campos, que por turidade musical os seus membros
Magalhães (bateria) e Francisco Fer- vezes aparecia em convívios e alguns foram para a tropa e para a guerra do
nandes (saxofone). O primeiro nome ensaios, para dar uns acordes e tinha Ultramar e nunca mais nos voltamos
escolhido foi Ritmo 4, mas depressa muito jeito. Quem era fabuloso na a juntar”.
mudaram para Kriptons, designação guitarra e em qualquer instrumento Augusto Freire era um guitarrista
retirada dos livros de banda desenha- de cordas era o também saudoso Au- apaixonado pela música e levou essa
da sobre o Super-homem. gusto Freire. Fui muito ligado a ele, paixão para a tropa, tendo fundado o
Paulo Natalino Barros, um dos im- para além da banda. Já não sei em que grupo dos Blusões Negros.
pulsionadores do grupo, lembra que ano, mas participamos num projeto
Os Kriptons duraram dois anos e
“a banda foi formada com grande sen- da Câmara Municipal de Lousada…
deixaram memórias na adolescên-
tido de companheirismo e cumplici- Fomos os dois convidados para dar
cia e juventude lousadense de 1970 a
dade e esforço na compra de todo o aulas de iniciação à viola a crianças e
1972, tocando temas célebres da épo-
instrumental das famosíssimas casas jovens em várias freguesias do conce-
ca. ▲ Os Kriptons_Augusto Freire e Fernando Campos
“Só Música” e “Castanheira”, na rua do lho. As aulas eram dadas nos centros
paroquiais ou na sede da Junta de Fre- “Também tínhamos alguns origi- Também tocavam versões de “A início da década de 1980 o rock lou-
Almada, no Porto”.
guesia”, refere Paulo Barros. nais, mas o nosso forte eram certos whiter shade of pale”, dos Procol Ha- sadense ganhou um forte impulso. Na
“Tocávamos em bailes, sobretudo temas consagrados de música inter-
Rui Magalhães, que tocava bateria rum, “Samba pa ti” e “Black magic wo- próxima publicação far-se-á referên-
na Assembleia Louzadense, e em fes- nacional... Lembro-me bem que a
neste grupo, recorda que “a nossa pri- man”, de Carlos Santana, entre outros. cia a três bandas dessa época: Baco,
tas particulares de familiares e ami- primeira canção que nós tocamos foi
meira atuação aconteceu em Boim, na A semente musical estava a germi- Flash e Delta 4.
gos”, acrescenta aquele artista lousa- “Monia”, de Peter Holm”, afirma Paulo
dense. Casa da Fonte, que foi do digníssimo nar e em finais da década de 1970 e ▐ José Carlos Carvalheiras
Barros.
www.olouzadense.pt | Ed. 44 | 4 de março de 2021 Cultura - Opinião 15

A CULTURA Os jogos tradicionais populares (VI)


POPULAR po dos bois ou das vacas que puxavam
o veículo, o que se tornava ainda mais
é de aprender a dominar uma técnica,
educar a mente e o corpo e desenvolver
Oito malhas de ferro completam os
objetos necessários à execução do jogo.
tuação máxima, caso pretenda continu-
ar o jogo, pode pagar nova partida, mas

E AS perigoso quando usado com força contra


a outra pessoa.
capacidades de decisão e rapidez de re-
flexos para atacar, mas principalmente
para se saber defender usando o seu pró-
Por edital, é anunciada a data, a hora
do começo e a hora do término da “cor-
não lança uma das malhas (portanto só
atirará mais 7) e inicia essa jogada com
o número de pontos que indica o meco,
TRADIÇÕES As esperas em locais ermos e escuros;
as desordens nas tabernas; o “varrer de
feiras”; os bailaricos que terminavam
prio pau.
Nas exemplificações atuais, usa-se um
rida”, bem como o local ou locais onde
se vai realizar e o valor de cada jogada.
Pode demorar um ou dois dias.
em vez dos 5 da 1ª“corrida”. Pode fazê-lo
sempre que o queira mas na sequência
da 1ª. Se entretanto jogarem outros joga-
quase sempre em “porrada” por causa pau ou uma vara, da altura do nariz do
O jogador adquire mediante o paga- dores, terá de iniciar nova “corrida”.
das raparigas e dos ciúmes; a cobiça de jogador e com objetivos bem definidos
mento em dinheiro da quota estipulada,
uma mulher; as desordens motivadas não magoando ninguém e normalmente Este jogo “aquecia” no final. O último
o direito de ir a jogo com as 8 malhas.
por negócios de gado e o “ajuste de con- “arbitrado” por pessoa responsável. jogador, já perto da hora de acabar, com-
Atira uma malha de cada vez, contra o
tas”, resultavam em valente uso dinâmico prava corridas sucessivas, com a regra
CORRIDA DO GALO OU DA GALI- meco, e, quando o atirar ao chão, é con-
da vara, às vezes de homem para homem de jogar menos uma malha, mas com o
NHA tabilizado para a conta pessoal, o núme-
mas muitas vezes de muitos contra um, intuito de, ao chegar a hora de terminar
ro que ficar virado para cima. Se o meco
ou de grupo contra grupo. Este jogo tradicional era executado (nem mais um segundo), não dar a opor-
ficar “esquinado” é somado o ponto (nú-
principalmente nas festas e romarias ou tunidade de ninguém o derrotar.
A dada altura, as autoridades proibi- mero) mais baixo.
então nos dias de cortejos e encontros
ram a entrada de paus nas feiras e ro- No edital informativo também é esti-
para angariação de fundos, para a Igreja No início da corrida começa-se sem-
marias para evitar lutas sangrentas e os pulado um valor total da corrida do Galo.
ou alguma obra social. pre com 5 pontos.
homens começaram a perceber que era No fecho da corrida, caso o dinheiro não
▐ Altino Magalhães demasiado perigoso para a vida huma- É um jogo muito similar ao jogo das De cada vez que haja empate entre os chegue a esse valor, o jogador com maior
Professor na. Também o aparecimento de armas malhas. dois primeiros classificados o jogo vai pontuação e para levar o galo para casa,
de fogo, para defesa pessoal, tornaram a baixo (volta ao inicio) para esses dois terá de completar com a diferença. Se
JOGO DO PAU este “jogo” ilegal. Atualmente é “usado” Está em jogo um galo ou uma gali- este não pretender dar a diferença, rece-
jogadores, tendo que começar de novo,
simplesmente como amostra (herança nha. Preso por uma pata, à árvore junto berá metade do apuro que se encontra
Antigamente os homens andavam comprando novas partidas e o 3º clas-
cultural) dos tempos passados, ou como da zona do jogo, a ave espera que o seu numa saca de pano, mas o galo fica para
sempre munidos de um varapau para se sificado, nesse momento, fica como o
desporto ou recreação, com determina- futuro dono alcance a maior pontuação a organização. (A recolha deste jogo teve
defenderem do inimigo ou dos animais mais pontuado. Empatando-se com este,
das regras aproximadas ao jogo do “es- possível. a colaboração de António Moreira (RE-
que andavam à solta. Por vezes, faziam- caem também novamente, passa ao se-
se acompanhar de uma vara com um grima”. Terá de haver um meco de madeira, guinte e assim sucessivamente… MAX ATITUDE 2) e elemento da direção
aguilhão na ponta, usada pelos “condu- normalmente em forma de prisma re- do Grupo Folclórico As Lavradeiras do
Atualmente, por outro lado, a recrea- Ao atirar a sétima malha, e atirando o
tores” dos “carros de bois” para discipli- tangular com quatro faces e cada face Vale do Sousa - Meinedo - Lousada)
ção que se pretende apresentar, nome- meco ao chão, o jogador faz a sua conta
nar os animais com espetadelas no cor- adamente através dos Grupos Culturais, numerada com os números 5, 10, 15 e 20.
e se ainda não tiver ultrapassado a pon-

EDUCAÇÃO Chega de mentiras!


argumento do líder do Chega é completa- bres e não se preocupe com os milhões de mos gastar este ano para atribuir RSI aos com a “questões” que representam meio
mente falso. Diz ele que está revoltado euros que os mais ricos do mundo nos le- mais pobres com os mais de cem milhões milhão de euros no OE. Como calculam,
porque anda “meio país” (os que traba- vam de juros. Entendo que devemos pagar de euros que a EDP resolveu não pagar eu sou dos que se incomodam mais com a
lham e que ele supostamente quer repre- todas as nossas dívidas até ao último cên- em impostos, através de um “esquema” de “distribuição” de muitos milhões de euros
sentar) a trabalhar e a descontar para “a timo, mas esses 7 mil milhões são só para engenharia financeira, relativos à venda aos acionistas de grandes multinacionais,
outra metade” (os que não trabalham). Em pagar juros, não a dívida. Estes dados estão de seis barragens no Douro. Esses cem mi- subtraídos com habilidades financeiras ao
primeiro lugar, a matemática do Sr. Ventu- disponíveis na “Nota Mensal sobre Dívida lhões de euros vão servir para que os donos nosso Orçamento de Estado, do que com a
ra está errada: os que receberam subsídios Pública, UTAO, Assembleia da República, da EDP, maioritariamente estrangeiros, fi- “distribuição” de meio milhão de euros a
▐ Pedro Araújo não eram metade dos portugueses, eram dezembro, 2017, em www.parlamento.pt . quem ainda mais ricos e que Portugal fique gente pobre. Julgo que os milhares e milha-
Professor cerca de 250 mil pessoas e custaram me- bastante mais pobre. E o que disse o Che- res de trabalhadores, bem como as milha-
profpedro2019@gmail.com Em terceiro lugar, a comparação do Sr.
nos de meio milhão de euros em 2017, o ga/Ventura sobre isto? Nada. Mais uma vez res de micro, pequenas e médias empresas
Ventura entre o país que “trabalha” e o
que é uma gota de água no nosso Orça- é muito estranho que se preocupe com o que contribuem para o nosso OE deveriam
país que “não trabalha” também é muito

E
mento de Estado (OE). Estes dados estão dinheiro do RSI para os mais necessitados estar preocupados com estas questões e
screvo este texto porque fiquei infeliz porque alguns dos que trabalham
disponíveis em www.pordata.pt. e que não se preocupe com um roubo des- não com outras.
impressionado com o núme- e deviam pagar IVA conseguiram evitar o
carado, provavelmente bem arquitetado
ro de pessoas que acredita nas Em segundo lugar, a comparação entre pagamento de 2 mil milhões de euros em Resumindo: já Chega de mentiras! Não
por advogados “especializados”, de cento
mentiras do Chega do Sr. Ven- os dados apresentados é absolutamente impostos no ano a que nos estamos a refe- anda metade do país a trabalhar para a
e dez milhões de euros, como muito bem
tura, a avaliar pelo resultado esclarecedora. Fazendo as contas, o que rir (2017). Também é muito estranho que outra metade! A nossa triste e pesadíssima
denunciou o Bloco de Esquerda. Esses
que conseguiu na eleição presidencial. nós pagamos só de juros (mais de 7 mil mi- o Chega/Ventura não se preocupe com a verdade é esta: anda o país inteiro, pelo
cento e dez milhões de euros davam para
Antes das minhas reflexões sobre esse lhões de euros), pelo dinheiro que empres- chamada “economia paralela” e com a res- menos os que pagam regularmente os seus
pagara o RSI, com os valores atuais, duran-
fenómeno, aqui ficam três conjuntos de taram a Portugal em 2017, é cerca de 20 000 petiva fuga aos impostos que em 2017 terá impostos, a trabalhar para que os donos de
te duzentos anos!!!! Leram bem: duzentos
dados: em 2017, os “portugueses que não (vinte mil, é verdade, vinte mil!!!) vezes (!!!) representado mais de dois mil milhões de algumas empresas ou grupos internacio-
anos!!!
trabalharam” custaram ao país €350.000 o que gastamos com o Rendimento Social euros e mostre grande revolta por causa de nais dos países mais ricos fiquem cada vez
(trezentos e cinquenta mil euros); no mes- de Inserção. E os 350 mil euros do RSI fo- menos de meio milhão de euros distribuí- Como calculam, eu estou muito mais mais ricos. E todos os que podiam resolver
mo ano de 2017, Portugal pagou, como ram parar, na esmagadora maioria dos ca- do pelos mais pobres. (Ver comunicado de perto dos que denunciam estas situações estas questões que realmente nos empo-
juros da dívida pública portuguesa, mais sos, às mãos das pessoas mais pobres que imprensa da EU sobre fuga ao IVA, 2017, do que do Chega e de todos os que “asso- brecem (abusos como o da EDP, fuga aos
de €7.000.000.000 (sete mil milhões de eu- viviam em Portugal nesse ano. Os 7 mil em www.ec.europa.eu ). biam para o lado”, incluindo o Sr. Ministro impostos, corrupção, usura internacional,
ros); nesse mesmo ano de 2017, a fuga de milhões de euros de juros da dívida foram do Ambiente e da Ação Climática, quando etc…) e não resolvem, como os políticos,
Regressando agora a 2021, ano em que
impostos em relação ao IVA no nosso país parar às contas dos grandes bancos inter- estão em causa desvios desta grandeza. todos os que deviam denunciá-las e não
os dados se vierem a ser muito diferentes
foi calculada em €2.000.000.000 (dois mil nacionais, europeus e não só, que nos em- Como calculam, eu sou dos que se preo- denunciam, como os jornalistas, estão a
dos de 2017 será por causa dos impactos
milhões de euros) pela União Europeia. prestaram dinheiro, aumentando os lucros cupam mais com “questões” que repre- ajudar o Sr. Ventura a crescer… Eu estarei
da pandemia, temos uma outra compara-
milionários dos acionistas desses bancos. sentam sete mil milhões por ano, ou dois sempre no polo oposto.
Estes dados demonstram claramente, ção que se impõe neste contexto. Devemos
É muito estranho que o líder do Chega se mil milhões de euros por ano, ou cem
para quem ainda não sabia, que o principal comparar o meio milhão de euros que va-
preocupe com o dinheiro atribuído aos po- milhões de euros de uma só vez, do que

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