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Capítulo 1.

Conceitos gerais
OBJETIVO

- Compreender os conceitos fundamentais e básicos ligados às condições de


trabalho, assim como determinar suas possíveis repercussões na segurança e
na saúde dos trabalhadores e as técnicas preventivas de necessária aplicação
a sua avaliação e melhoria.

1.1 Introdução

Há até relativamente pouco tempo, as atividades realizadas pelo homem


deixavam implícito que necessariamente se assumisse a existência de
determinados perigos ou riscos à segurança física ou à saúde das próprias
pessoas, inerentes ao posto de trabalho. Afortunadamente, a sociedade evoluiu
ao ponto de, na atualidade, não se pressupor, do mesmo modo que antes, a
presença desses riscos associados ao trabalho, mas se exigindo algumas
melhorias substanciais das condições nas quais esse trabalho se realiza.

Essas melhorias foram e continuam sendo de tal magnitude que tornaram


possível a eliminação de um número muito importante de riscos associados ao
âmbito profissional. Prova disso é que, à medida que nossa sociedade evolui
em muitos e diferentes aspectos, vai adquirindo maiores cotas de segurança e
saúde nos locais e postos de trabalho, chegando os trabalhadores a considerar
como um direito fundamental tanto a manutenção da saúde nos termos
assinalados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto adequadas
condições de trabalho.

Porém, basta analisar, ano após ano, as estatísticas sobre acidente de trabalho
para observar que a realidade cotidiana nos mostra que em muitas ocasiões
não se conseguiu atingir as cotas perseguidas nesse campo.

A partir desse ponto, há que considerar que, em virtude de a saúde estar


intimamente relacionada ao trabalho, e mais concretamente ao modo com que
ele é executado, seria conveniente estudar detalhadamente aquelas que
seriam as condições a ele relacionadas, a incidirem diretamente na saúde dos
trabalhadores.

Em primeiro lugar, depois de conceber a saúde como um conceito a ser


necessariamente considerado sob uma perspectiva integral, não parece o mais
acertado analisar as condições de trabalho e seus repercussões na saúde
apenas com o estudo de uma série de disciplinas sobre prevenção de riscos de
trabalho, isoladas entre si e voltadas principalmente à luta contra os acidentes
de trabalho ou contra as enfermidades profissionais, respectivamente, mas
parecendo mais óbvio estudá-las sob uma ótica global.

Essa ótica global é a que hoje se costuma conhecer como, condições de


trabalho, conceito ao qual nos referiremos mais adiante.
Nesse contexto, na hora de realizar os estudos voltados à melhoria das
condições de trabalho, devem ser levadas em consideração não só aquelas
condições destinadas a evitar acidentes de trabalho e enfermidades
profissionais, como também aquelas outras condições destinadas a fazer com
que o trabalho se realize em condições tais a não representarem prejuízos de
tipo físico, mental ou social, ao mesmo tempo que as distintas exigências das
tarefas realizadas estejam em perfeita consonância com as próprias
capacidades das pessoas que as realizam.

Agora bem, convencionalmente se veio utilizando uma série de disciplinas


preventivas dirigidas basicamente a identificar, prevenir e controlar aqueles
riscos que poderiam chegar a provocar acidentes de trabalho e enfermidades
profissionais:

- Segurança laboral ou no trabalho considerada como aquela


disciplina preventiva que estuda todos os riscos e as condições materiais
relacionadas ao trabalho que podem chegar a afetar direta ou
indiretamente a integridade física dos trabalhadores; seu objetivo é
melhorar as condições de trabalho, até conseguir tornar impossível ou,
no mínimo muito difícil, a ocorrência de um acidente;

- Higiene lndustrial1 considerada como aquela disciplina preventiva cujo


objetivo fundamental é identificar, avaliar e controlar 2 as concentrações
dos diferentes contaminantes, no caráter físico, no químico ou no
biológico, presentes nos postos de trabalho e que podem chegar a
provocar determinadas alterações na saúde dos trabalhadores;

- Medicina do Trabalho considerada como aquela disciplina que,


partindo do conhecimento do funcionamento do corpo humano e do meio
em que ele desenvolve sua atividade, nesse caso o profissional, tem
como objetivos a promoção da saúde (ou prevenção contra a perda de
saúde), a cura das enfermidades e a reabilitação.

Apenas com o concurso dessas disciplinas, seja independentemente ou


conjuntas, não é possível enfrentar as condições de trabalho que podem afetar
a saúde dos trabalhadores, considerando-se como saúde o equilíbrio dos
aspectos físicos, psíquicos e sociais.

Por isso, considera-se necessário ampliar essas disciplinas preventivas


aplicando-se outras como a Ergonomia, definida como aquela disciplina que
trata de adequar as diferentes exigências ou demandas das tarefas, nos níveis
físico, mental e social, às correspondentes capacidades dos trabalhadores.
Essa definição pode ser ampliada considerando-se ser uma disciplina cujo
objeto não se circunscreve a determinadas matérias preventivas, porém
englobando todo o conjunto dessas matérias.

A Ergonomia se volta à prevenção contra as possíveis


consequências a ocasionarem carga física e mental.
Posteriormente, as novas exigências das tarefas conduziram a ergonomia a
considerar em seu campo de aplicação aspectos muito diversos; por exemplo,
os relacionados ao tempo de trabalho (horário, pausas, ritmos...), assim como
os temas associados à própria organização do trabalho, que por sua vez
podem influir no próprio comportamento humano (Psicossociologia do
Trabalho).

Ainda que cada uma dessas técnicas preventivas tenha objetivos perfeitamente
definidos e um campo de atuação totalmente delimitado, na prática se
estabelece o grande problema de não se poder considerar fronteiras precisas
entre cada uma delas, tendo-se que ampliar os citados limites para poder
enfrentar a problemática existente em cada situação.

A partir dessas novas necessidades se dá a incorporação ao estudo das


condições de trabalho de outras ciências ou disciplinas convencionais como a
engenharia, a arquitetura, a física, a química, a biologia, a sociologia e a
psicologia, entre outras, que permitem abordar esses estudos sob a visão
integral requerida pelo próprio conceito de saúde em seu sentido
multidisciplinar, assim como o poder desenvolver novos modelos de métodos
de trabalho que permitam avançar de modo adequado no desenvolvimento
integral dos trabalhadores.

Contudo, a todos esses elementos de trabalho falta um fundamental que não é


outro senão o próprio trabalhador visto como elemento ativo nesses modelos,
razão pela qual, para que possa integrar-se à participação em prol da melhoria
das condições de trabalho, torna-se necessário, por sua vez, possam se
articular todas aquelas ações voltadas à criação de uma cultura nesse campo,
que o permita avançar continuamente na ideia de uma melhoria contínua das
condições de trabalho.
1
A Higiene Industrial foi considerada até relativamente pouco tempo como aquela ciência técnica não-médica a se
encarregar de prevenir contra as enfermidades profissionais. Essa definição, que afortunadamente já não se utiliza,
atua contrariamente ao conceito de multidisciplinaridade, indicado como fundamental para que se possa abordar a
prevenção aos riscos em toda a sua extensão.
2
Entende-se como controle a redução do grau de contaminação dos distintos agentes ou contaminantes aos menores
níveis possíveis ou até alguns índices considerados aceitáveis.

1.2 Conceito de trabalho

Ainda sendo um termo difícil de explicar, tem-se chegado a definir o trabalho


como aquela atividade social convenientemente organizada, que por meio da
combinação de uma série de recursos de matérias diferentes, como o são,
principalmente, os próprios trabalhadores, os materiais, os produtos, os
equipamentos, as máquinas, a energia, as tecnologias e a organização,
permite ao ser humano alcançar alguns objetivos prefixados e satisfazer
algumas necessidades.

A realização do trabalho por parte do homem tem significado e continuará


significando, com os consequentes aspectos tanto positivos como negativos
que isso comporta, uma importante modificação ou transformação da própria
natureza, mediante o concurso de dois elementos fundamentais nesse âmbito:
a tecnificação e a organização do trabalho.
Por tecnificação se entende o processo pelo qual o homem elabora e fabrica
todas aquelas ferramentas, máquinas e equipamentos materiais dirigidos à
realização de uma atividade específica, permitindo-lhe, posteriormente, realizar
o trabalho de um modo muito mais cômodo e rentável.

Por outra parte, entende-se como organização do trabalho aquele processo


pelo qual o homem, como animal social que é, planeja e distribui as diversas
atividades a desenvolver, buscando geralmente extrair os maiores benefícios
econômicos.

A conjunção perfeita desses dois elementos, aliados ao progresso tecnológico


e social, deve comportar uma importante melhoria da qualidade de vida no
trabalho e, consequentemente, das condições em que se realiza esse trabalho,
eliminando ou reduzindo muitos dos problemas ou riscos que possam pôr em
perigo a saúde dos trabalhadores. Todavia, a realidade é que ainda nos postos
de trabalho continuam se apresentando muitos desses riscos e, portanto,
sendo estritamente necessário identificá-los, avaliá-los e controlá-los.

Como se pode observar, os termos trabalho e saúde estão intimamente


relacionados, independentemente de ambos estarem condicionados a um
importante número de fatores, como aqueles relacionados a determinados
aspectos de tipo social, econômico ou cultural, entre outros.

1.3 Conceito de saúde

A fim de compreender com suficiente clareza o conceito de trabalho e suas


consequentes implicações na saúde, faz-se necessário, agora, explicar o
sentido e o conteúdo do conceito geral de saúde.

Mesmo que o termo saúde pareça ter, em princípio, uma acepção simples, ou
seja, fácil de compreender, em realidade não é assim, pois há que matizar
previamente a sua definição sob os diferentes pontos de vista a partir dos quais
se pode abordá-lo.

Dessa maneira, caso se queira considerar a saúde sob o ponto de vista


médico, tal conceito pode ser interpretado como sendo "a ausência de
enfermidade, ou o preservar, manter ou recuperar a saúde coletiva". Do
mesmo modo, do ponto de vista social, a saúde pode ser considerada como
sendo "um direito das pessoas, como um resultado social ou como um mero
resultado econômico".

Caso se queira analisá-lo sob uma concepção muito mais idealista, teremos
que levar em conta a definição estabelecida de saúde pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) em 1948, e que continua vigente até hoje, dado
ultrapassar a ideia de um resultado social ou o conceito único de ausência de
enfermidade:

"a saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social completo e


não meramente a ausência de dano e enfermidade".
No sentido que essa definição tem, precisamos ressaltar alguns aspectos que a
nosso ver parecem fundamentais:

- a orientação positiva conferida pela OMS à saúde, ao considerá-la


como a ausência de todo sintoma de enfermidade; e

- a concepção de saúde de maneira integral e multidisciplinar, ao


incorporar nela não só os meros aspectos relacionados à saúde física,
como também por contemplar simultaneamente outros fatores psíquicos
e sociais, que desgraçadamente a cada dia se apresentam com maior
frequência.

1.4 Condições de trabalho

Aprofundando-nos um pouco mais nesse conceito, podemos dizer, de um


modo muito esquemático, que as condições de trabalho englobam todo aquele
conjunto de variáveis que definem a realização de uma tarefa específica e o
ambiente no qual ela é realizada, de tal maneira a serem essas variáveis
aquelas a permitirem determinar a saúde do trabalhador sob a tríplice
dimensão apontada pela OMS.

Tampouco convém esquecer que a Revolução Industrial do século XIX trouxe


consigo uma série muito importante de modificações na execução do trabalho,
motivada em grande medida pela mecanização e pela divisão do trabalho,
fazendo com que em muitas empresas se apresentasse a necessidade de
adoção de medidas voltadas à redução e ao controle dos acidentes de trabalho
provocados pelas novas máquinas e pela organização do trabalho. Inclusive
em muitas empresas se considerou oportuno o estabelecimento de serviços
médicos destinados principalmente à atenção àqueles trabalhadores que
sofressem acidentes.

A experiência na implementação das medidas citadas no parágrafo anterior


permitiu chegar a uma primeira conclusão sobre esses aspectos, no sentido de
se afirmar serem totalmente insuficientes à manutenção e à proteção da saúde,
como consequência da incorporação de novas fontes de energia, substâncias,
processos, etc., que acarretavam uma série de riscos muito mais complexos e,
portanto, mais difíceis de avaliar e controlar que aqueles convencionalmente
verificados nas empresas.

Tudo isso levou à necessidade de se efetuarem estudos em torno dos


problemas relacionados à prevenção contra os riscos derivados do trabalho,
por meio de definições muito mais severas e amplas que o simples e mero fato
do estudo isolado das causas técnicas e humanas que haviam produzido os
acidentes.

Ao mesmo tempo, começou a apresentar-se uma série de novos riscos ou,


pelo menos, desconhecidos até esse momento; por exemplo, os ocasionados
pelo trabalho por turnos, pelos ritmos de trabalho, pela organização científica
do trabalho, entre outros, que não só influíam para o aumento e a
potencialização dos acidentes de trabalho convencionais, como também
podiam afetar a falta de equilíbrio psicofisiológico, ao influir sobre aspectos
como a atenção e a vigilância, as capacidades de percepção, etc., aspectos
muito mais amplos e complexos ligados ao trabalho, a seus riscos e à saúde,
que os que até então eram convencionalmente estudados.

Por outra parte, a rápida evolução do mundo empresarial como consequência


de um ambiente eminentemente cambiante e competitivo implica que as
empresas precisam introduzir contínuas mudanças em seus processos para
que possam sobreviver e, em consequência, também nas condições de
trabalho, o que implica não só se melhorem ostensivamente tais condições,
como também que em determinadas ocasiões se possam apresentar novos
riscos a prevenir ou controlar.

Atualmente, pode-se dizer que as condições de trabalho abrangem todos


aqueles elementos e circunstâncias que envolvem a atividade profissional e
que, entre outros fatores, são:

- as condições materiais correspondentes à própria realização do


trabalho:

- esforço;
- fadiga;
- temperatura; e
- ventilação, entre outros.

- as condições de segurança;

- a presença de contaminantes no local de trabalho, que por sua vez


podem ser:

- contaminantes de tipo físico;


- contaminantes de tipo químico;
- contaminantes de tipo biológico;

- as características da tarefa, destacando-se seu conteúdo psicológico e


profissional, em razão, entre outros aspectos, de seu caráter repetitivo,
da monotonia, da tensão e da carga mental que ela possa comportar,
possibilidades de comunicação, etc.;

- as características da jornada de trabalho, entre cujos aspectos podem


ser considerados:

- duração da jornada;
- distribuição de horários;
- grau de flexibilidade, etc.

Independentemente de tudo isso, há que ter em mente que o estudo das


condições de trabalho e que as ações destinadas a sua melhoria dependem,
em grande medida, do âmbito social em que se move, o que implica,
consequentemente, que o próprio Estado promova uma série de legislações ou
atuações voltadas a seu estudo e aperfeiçoamento.

Essas obrigações ou recomendações partem da consideração da


saúde dos trabalhadores no trabalho como um bem que é
preciso proteger e manter.

1.4.1 Avaliação das condições de trabalho

Na hora de abordar o problema das condições de trabalho e suas repercussões


na saúde, torna-se necessário avaliar os distintos elementos ou situações que
podem influir no modo com que se realiza o trabalho e que podem afetar a
saúde, sob uma ótica conjunta, ou seja, estudando o posto de trabalho e os
trabalhadores.

Para uma maior clareza no momento de efetuar esse estudo, as condições de


trabalho podem ser classificadas em cinco grupos de diferente índole, e que
em um número muito importante de ocasiões podem afetar simultaneamente
os trabalhadores:

- condições de segurança; nesse grupo podem ser consideradas todas


aquelas condições materiais que guardem uma relação direta com a
possível ocorrência de acidentes de tipo laboral; nelas há que incluir os
elementos móveis, cortantes, submetidos à tensão, combustíveis, etc.;

Para poder controlar todos esses elementos, é preciso estudar sob esse
ponto de vista máquinas e ferramentas, equipamentos de transporte,
instalações elétricas, sistemas contra incêndios, etc.

- ambiente físico de trabalho; nesse grupo, contempla-se o ambiente


de trabalho relacionado fundamentalmente às condições físicas:
acústica, vibrações, iluminação, radiações ionizantes e não-ionizantes,
condições termo higrométricas, entre outras, visando estabelecer não só
alguns níveis de exposição a esses agentes abaixo daqueles que se
podem considerar como prejudiciais à saúde dos trabalhadores, mas
que também permitam desenvolver as tarefas de maneira eficiente sem
afetar o seu rendimento;

- contaminantes químicos e biológicos; esse grupo engloba aqueles


contaminantes de caráter químico ou biológico que possam estar
presentes no ambiente de trabalho, provocando não apenas efeitos
negativos à saúde, como também moléstias e alterações no
desenvolvimento das tarefas, motivos pelo qual seja necessário
identificá-los, avaliá-los e controlá-los;

- carga de trabalho; nesse grupo são englobados todos aqueles


aspectos relacionados a exigências tanto de tipo físico quanto mental
para a realização de uma determinada tarefa, como os esforços e as
forças aplicadas, as posturas de trabalho, os movimentos (repetitivos), a
manipulação manual de cargas, os níveis de atenção, os níveis de
responsabilidade, etc., e que podem chegar a implicar uma determinada
carga de trabalho para a pessoa, seja essa carga física, seja mental;

- organização do trabalho; nesse grupo são estudados todos aqueles


fatores pertencentes à organização, como os relacionados à distribuição
de tarefas, à distribuição de funções e responsabilidades, à distribuição
horária, à velocidade de execução, às relações interpessoais, etc, que
podem chegar a trazer consequências negativas à saúde do trabalhador,
não só no nível físico, como também nos níveis social e mental.

Na figura 1.1 são graficamente ilustradas as condições de trabalho e sua


identificação com as técnicas de segurança laboral, de higiene industrial, de
ergonomia e de psicossociologia aplicada.

Figura 1.1: Condições de trabalho

Os aspectos contemplados nesses grupos podem não influir de maneira


independente nas condições de trabalho, ou seja, o mais habitual na prática é
deverem ser considerados simultaneamente fatores contidos em dois ou mais
grupos, e inclusive, a possibilidade de um determinado elemento poder ser
considerado como pertencente a vários dos grupos indicados e, portanto,
afetando cada um deles as condições de trabalho.

Assim, por exemplo, alguns níveis de iluminação inadequados não só afetam o


desenvolvimento da tarefa, provocando fadiga visual como consequência de se
ter que forçar excessivamente o órgão da visão, mas, em muitas
circunstâncias, podendo chegar a aumentar o risco de acidentes, sendo um
parâmetro muito importante a considerar necessariamente na hora de avaliar
riscos, assim como também podendo influir negativamente no aparecimento de
fadiga física, como consequência de se ter que adotar posturas inadequadas
visando evitar os possíveis reflexos ou deslumbramentos.
Igualmente, devem ser considerados outros fatores como o tempo de
exposição a determinados agentes químicos tóxicos, que redundam numa
maior ou menor repercussão na segurança e na saúde dos trabalhadores,
ainda que não se tenha conhecimentos suficientes para saber, por exemplo,
como as possibilidades de comunicação afetam o ritmo de trabalho.

Em resumo, as consequências de certas condições de trabalho deficientes


sobre a saúde dos trabalhadores podem ser assim resumidas:

- acidentes de trabalho;
- enfermidades profissionais e derivadas do trabalho;
- fadiga física ou muscular;
- fadiga mental;
- transtornos decorrentes de trabalhos por turnos ou noturnos;
- falta de autonomia temporal;
- falta de autonomia decisional;
- dificuldades de comunicação;
- falta de interesse;
- relações conflitivas;
- incerteza com relação ao futuro.

A partir de todos os conceitos considerados até o momento, na hora de se


definir a manutenção e a melhoria das condições de trabalho com o objetivo de
proteger a saúde dos trabalhadores, pode-se considerar bastante justificado
ser estritamente necessária a incorporação de todas as disciplinas preventivas
globais como a segurança no trabalho, a higiene industrial, a medicina do
trabalho e a ergonomia, que por sua vez devem trabalhar conjuntamente
buscando objetivos e metas comuns.

Analogamente, considera-se como um elemento indispensável à melhoria das


condições de trabalho a participação dos trabalhadores, que são os que se
submetem, dia a dia, a essas condições e que, consequentemente, podem
apresentar algumas soluções baseadas na experiência cotidiana.

Por último, cabe considerar que a melhoria das condições de trabalho, mesmo
que precisando da contribuição conjunta das disciplinas preventivas básicas já
mencionadas, e por ser uma atuação a se desenvolver na própria empresa
visando melhorar não só a segurança e a saúde do trabalhador, como também
a produtividade e a competitividade da própria empresa, exige a colaboração
de outras técnicas preventivas específicas diferentes das preventivas básicas e
que são utilizadas habitualmente na organização para o desenvolvimento de
outras atividades empresariais: engenharia, arquitetura, física, química,
biologia, anatomia, fisiologia, psicologia, direito, economia, entre outras.

Com isso, reforça-se a ideia de o estudo e a melhoria das condições de


trabalho serem considerados como conformando uma atuação multidisciplinar
a se desenvolver no âmbito da empresa, por meio da atuação conjunta e
coordenada de uma série de técnicas preventivas de distinta índole.
1.5 Conceito de risco laboral

Ao se levar em conta que um dos principais objetivos normalmente visados


pela legislação é a possibilidade de controlar os riscos à segurança e à saúde
dos trabalhadores no trabalho a partir de uma avaliação inicial desses riscos,
precisa-se ter claro o que se entende por risco laboral.

Na prática, estabelece-se um problema derivado do sentido e do significado do


termo risco em nosso entendimento e aqueles que esse termo tem em sua
acepção inglesa.

O primeiro e principal problema se estabelece na hora de tentar traduzir e


compreender os significados que na terminologia anglo-saxã dois conceitos tão
diferentes quanto o os de hazard e risk têm, para os quais em nosso
entendimento não se estabelece uma tradução diferente, razão pela qual seja
habitual traduzi-los erroneamente sob um mesmo termo (risco), usando-o
indistintamente, ainda que na língua inglesa hazard e risk tenham significados
e sentidos técnicos totalmente diferentes.

O termo hazard, que na tradução para o nosso idioma não deve assumir o
sentido de risco, mas o de perigo, representa:

"Aquela fonte ou situação com capacidade de causar danos em termos


de lesões, de danos à propriedade, de danos ao meio ambiente ou de
uma combinação disso tudo".

Já o termo risk, que deve ser traduzido para o nosso idioma utilizando-se o
vocábulo risco1, tem como significado:

"Combinação da frequência, da probabilidade e das consequências que


podem derivar-se da positivação de um perigo".

Assim sendo, o conceito "risco" sempre traz associado dois elementos: a


frequência com que um perigo se positiviza e as consequências que disso
possam derivar-se.

Do exposto pode-se dizer, sem medo de errar, que o termo risco sempre
implica a possibilidade ou a probabilidade de algo redundar num perigo,
trazendo consequências negativas à segurança e à saúde dos trabalhadores.

Cabe destacar que o conceito "probabilidade", necessariamente associado ao


conceito risco, não implica uma probabilidade eminentemente matemática, mas
considerada em seu sentido mais amplo como o de uma possibilidade de que
possa chegar a ocorrer um determinado dano à segurança ou à saúde das
pessoas.

O conceito "risco" implica sempre a eventualidade de poder ocorrer um fato


futuro não desejado, de caráter negativo, a significar sempre uma realidade
possível.
A partir dessas explicações, pode-se deduzir, simplesmente, que o risco zero
ou nulo não existe, visto ser a probabilidade zero ou nula, na realidade,
praticamente impossível de alcançar, com o que se podendo dizer que sempre
existe para cada situação de trabalho, um risco, por pequeno que ele seja.

Mas, independentemente de cada situação de trabalho trazer consigo um certo


risco, ele pode ser considerado aceitável ou como situação com base na qual
não se faz necessário aplicar qualquer atuação de controle de riscos, quando a
probabilidade existente é considerada como aceitável ou sumamente pequena
por uma determinada sociedade.

Assim, por exemplo, tendo um trabalhador a exposição diária a um ruído de 72


dBA durante o trabalho, essa exposição pode ser considerada uma situação de
trabalho aceitável no que se refere ao risco de perda de audição. Não obstante,
isso não significa dizer que não exista risco ou probabilidade de esse
trabalhador ter sua capacidade auditiva reduzida em consequência dessa
exposição; o que se quer dizer é que se assume como aceitável ou tolerável o
pequeno risco ou probabilidade de o trabalhador ter sua capacidade auditiva
reduzida como consequência da mencionada exposição.

Ter esclarecidos os significados dos conceitos "perigo" e "risco" é de grande


ajuda e importância ao se efetuar a avaliação de riscos e o planejamento da
atividade preventiva no âmbito das empresas.

Para uma maior compreensão desses conceitos, tomemos como exemplo


disso a situação de um trabalhador que está efetuando uma determinada
atividade a três metros de altura. O perigo a que está exposto é o da queda em
diferente nível ou queda dessa altura, tanto que o risco de queda em distinto
nível poderá ser, por exemplo, baixo, médio ou alto, dependendo de muitos
fatores como o estar trabalhando ou não com elementos de proteção coletiva
e/ou individual, ter ou não a formação e a informação adequada quanto a riscos
e medidas preventivas a adotar, etc.
1
Nessa mesma linha, a lei espanhola 31/95 de Prevenção de Riscos Laborais se refere ao risco em seu artigo 4, ponto
2 "Se entenderá como risco laboral a possibilidade de um trabalhador sofrer um determinado dano derivado do
trabalho. Para qualificar um risco do ponto de vista de sua gravidade, serão avaliados conjuntamente a probabilidade
de se produzir o dano e a severidade desse dano".

1.6 Conceito de prevenção

Pode-se suscitar o problema de saber o que se entende como medidas


preventivas e quais são elas. Tradicionalmente, são as medidas tendentes a
eliminar as consequências negativas que os riscos podem trazer à segurança e
à saúde dos trabalhadores, sendo implementadas de duas diferentes maneiras:

- mediante a utilização de técnicas de prevenção; e


- mediante a utilização de técnicas de proteção.

Como ilustradas na figura 1.2, as técnicas de prevenção (ou a prevenção) são


aquelas voltadas a atuar diretamente sobre os riscos antes de chegarem a se
positivar em acidentes e, portanto, de poderem chegar a trazer as possíveis
consequências negativas à segurança e à saúde dos trabalhadores.
Figura 1.2 Aplicação de uma técnica preventiva.

As técnicas preventivas (ou prevenção) têm uma natureza ativa em


relação à atuação no campo da segurança e da saúde.

O conceito de prevenção1 implica se atue necessariamente sobre o risco, seja


atuando sobre a probabilidade (o mais habitual), seja, em algumas ocasiões,
sobre as consequências ou sobre ambas as condições simultaneamente.

A implementação da prevenção na empresa faz com que ela deva se


desenvolver seguindo um modelo que cumpra as seguintes características:

- Prevenção Científica e Interdisciplinar; é um modo de entender a


prevenção como consequência de os distintos riscos que possam se
apresentar na empresa serem de muito diversa índole; em certas
ocasiões, tanto em razão disso como em razão da complexidade dos
riscos, faz-se necessário o concurso conjunto de vários especialistas nas
distintas disciplinas científicas da segurança e saúde;

- Prevenção Integral; implica devam ser enfrentados todos os possíveis


riscos que possam haver na empresa, independentemente da
dificuldade no abordá-los e de seu grau de importância;

- Prevenção Integrada; o conjunto de atividades preventivas realizadas


na empresa deve constituir uma atuação a mais entre todas as que se
realizam, ao mesmo tempo, representando uma atuação coerente e
interconectada com as demais atividades da empresa;

- Prevenção Participativa; permite que os trabalhadores exercitem o


direito concedido pela legislação trabalhista em matéria de informação e
formação pertinente aos riscos existentes e às medidas preventivas
adotadas ou a adotar, assim como os de participação via canais
estabelecidos legalmente (delegados de prevenção e comitês de
segurança e saúde) e o direito de serem consultados na forma
igualmente estabelecida por lei.
1
A lei espanhola 31/95 define prevenção em seu art. 4, ponto 1, como o "conjunto de atividades ou medidas adotadas
ou previstas em todas as fases de atividade da empresa com o fim de evitar ou diminuir os riscos derivados do
trabalho". Trata-se, pois, de uma lei com caráter ativo que busca atuar sobre os riscos laborais antes de ocorrerem.

1.6.1 Ações e atuações preventivas


O primeiro e mais importante princípio de ação que se deva aplicar na empresa
quando da realização de ações preventivas não deve se voltar à realização da
avaliação inicial dos riscos, mas a evitar os riscos à segurança e à saúde dos
trabalhadores. Daí se deduzir ser aconselhável, em muitas ocasiões, adotar
medidas voltadas ao controle dos riscos, sem necessidade de se efetuar uma
avaliação formal desses riscos.

O segundo dos princípios de ação preventiva consiste em avaliar os riscos à


segurança e à saúde dos trabalhadores que não possam ser evitados.

Isso deve permitir ao empresário priorizar e temporizar todas aquelas


atividades preventivas que tenha que realizar.

Finalmente, o terceiro princípio de ação preventiva consiste em combater os


riscos em sua origem. Esse princípio, assim como o anterior, volta a incidir de
modo muito claro no conceito de prevenção, ou seja, de adoção de medidas
adequadas a se poder atuar sobre os próprios riscos, sobre os distintos
elementos que intervêm na hora de qualificar os riscos ou, o que dá no mesmo,
sobre a probabilidade, sobre as consequências, ou sobre ambas
simultaneamente.

Essa forma de atuação, considera-se, deve ser realizada por meio de uma
ação planejada e organizada, antepondo-se sempre a proteção coletiva à
individual, ao mesmo tempo se devendo definir e implantar sistemas de gestão
da prevenção a englobarem, como elemento muito importante, a formação dos
trabalhadores quanto aos riscos a que estão submetidos e às medidas
preventivas a adotar.

As atuações preventivas na empresa, (considerando apenas as medidas de


prevenção e não as de proteção) podem ter naturezas muito distintas,
dependendo do tipo e da prioridade em sua adoção, dos resultados e da
informação que se tenha obtido durante o processo de avaliação dos riscos.

Do ponto de vista particular, essas atuações podem ser:

- de tipo material; consistem, fundamentalmente, na adoção de uma ou


de várias medidas de tipo técnico ou material, voltadas principalmente a
evitar ou reduzir a possibilidade de risco, atuando-se sobre a
probabilidade de o dano ocorrer;

- de formação e informação aos trabalhadores; trata-se, também, de


uma medida de tipo técnico, ainda que nem sempre considerada dessa
natureza; consiste em fazer com que os trabalhadores possam ter
conhecimento da existência e da importância de determinados riscos
suscetíveis de se apresentarem em seus postos e centros de trabalho e
das medidas a tomar visando-se combatê-los ou eliminá-los.

Independentemente dessa classificação e dos modos de atuação preventiva,


na prática, há que se ter presente que as medidas preventivas tomadas de
modo isolado geralmente não são muito eficazes, motivo pelo qual se tenha
que recorrer à adoção de uma série de medidas complementares umas com
relação a outras. Nessas condições, as empresas podem se mostrar com a
disposição apropriada de manter os níveis de risco dentro de certos limites
considerados aceitáveis.

Não raro, faz-se necessário complementar as atuações preventivas com uma


série de atuações cotidianas nas empresas, e que por razões de distinta índole
não são implementadas com a frequência necessária: atuações de
manutenção preventiva de máquinas, equipamentos, instalações, centros e
locais de trabalho, entre outros, sem cujo concurso torna-se muito difícil efetuar
uma prevenção eficaz dos riscos na maioria das empresas.

Convém destacar algumas atuações preventivas de grande importância:

- a avaliação dos riscos, que permitirá obter toda aquela informação que
se considere necessária para que a empresa se mostre em condições
de tomar uma decisão apropriada quanto à necessidade ou não de
adotar medidas preventivas, e sendo o caso, do tipo de medidas
preventivas de necessária adoção;

- as inspeções ou rondas de prevenção de riscos, que basicamente


consistem na realização de uma análise observando-se, direta e
ordenadamente, instalações e processos, máquinas, equipamentos, etc.,
buscando-se avaliar os riscos que possam afetar a segurança e a saúde
dos trabalhadores.

Entretanto, como mencionado no início do capítulo, a maioria das atuações


desse tipo é efetuada estruturando-se em várias técnicas preventivas
(segurança no trabalho, higiene industrial, medicina do trabalho, ergonomia e
psicossociologia aplicada à prevenção), e que são aquelas disciplinas dirigidas
a prevenir contra os possíveis danos à segurança e à saúde dos trabalhadores,
derivados das distintas condições de trabalho que se podem apresentar em
cada um dos postos de trabalho.

1.7 Conceito de proteção

Apesar de as atuações em matéria de segurança e saúde no trabalho deverem


ser realizadas sempre que possível utilizando-se técnicas preventivas, ou seja,
com caráter prévio à positivação dos riscos laborais, em certas ocasiões, essas
atuações não são de possível realização, ou são insuficientes, razão pela qual
se deva recorrer à aplicação das denominadas técnicas de proteção.

As técnicas de proteção são as atuações que, mesmo também consideradas


como técnicas ativas, visto se realizarem com caráter prévio à positivação do
risco, têm como objetivo fundamental atuar apenas sobre as possíveis
consequências, seja reduzindo-as, seja eliminando-as, ainda que sempre com
a particularidade de não realização de qualquer tipo de atuação sobre a
probabilidade de produção do risco.
Assim, por exemplo, um trabalhador que esteja submetido a alguns níveis de
ruído considerados inaceitáveis estará exposto a um risco mais ou menos
importante de redução de sua capacidade auditiva. Se utilizando unicamente
um protetor auditivo que atenue o nível de ruído que chega a seu órgão da
audição, até níveis considerados como aceitáveis, terá diminuído
sensivelmente o risco de redução de sua capacidade auditiva por incidência de
ruído, mesmo que o nível registrado no ambiente ou posto de trabalho continue
sendo aquele inicialmente incidente (figura 1.3).

Figura 1.3 Aplicação de uma técnica de proteção

Ou seja, o procedimento de atuação seguido não alterou a probabilidade do


risco, havendo-se modificado contudo suas consequências, com o que a
qualificação do risco se reduziu.

Como se pode facilmente deduzir do próprio conceito de proteção, essa técnica


de atuação deve ser implementada depois da aplicação das técnicas de
prevenção destinadas à eliminação ou à redução do risco, ou como técnica
complementar.

Entre as técnicas de proteção, as mais aplicadas normalmente são as coletivas


e as individuais.

- As técnicas de proteção coletivas são aquelas que protegem os


trabalhadores de modo geral, ou seja, que eliminam ou reduzem as
consequências de um risco que afeta um determinado número de
trabalhadores.

Um exemplo que pode servir para esclarecer esse conceito são as redes
de proteção utilizadas em construção, que não eliminam ou diminuem o
risco, mas que o fazem sobre suas consequências, de tal maneira a não
protegerem apenas um trabalhador, mas um indeterminado número
deles.

Outro exemplo pode ser o das cabines acústicas em centrais térmicas


que, sem eliminar o nível sonoro, evitam que os operários de controle de
uma zona trabalhem num ambiente barulhento toda a jornada, com
exceção dos momentos nos quais tenham que sair para realizar tarefas
de controle propriamente ditas.

- As técnicas de proteção individual são aquelas que servem para


proteger um trabalhador de forma individual ou particular, ou seja, que
eliminam ou reduzem as consequências de um determinado risco para
um trabalhador. Esses equipamentos costumam ser específicos para a
proteção contra determinados tipos de riscos. Alguns exemplos desses
equipamentos de proteção individual são capacetes, luvas, botas,
protetores auriculares, entre outros.

1.8 Técnicas de segurança

As técnicas de segurança podem ser classificadas atendendo a diferentes


aspectos, mas ao se tomar como ponto de referência o momento em que se dá
o acidente, podem ser estabelecidos três grupos: técnicas ativas, técnicas
reativas e técnicas complementares (figura 1.4).

Figura 14 Classificação das técnicas de segurança

1.8.1 Técnicas ativas

São aquelas que planejam a prevenção visando impedir a ocorrência de um


acidente. Para isso, são identificados, em princípio, os perigos existentes nos
postos de trabalho e, posteriormente, são avaliados os riscos, tentando-se
controlá-los com a aplicação de ajustes técnicos e organizacionais.

Entre essas técnicas se podem encontrar, por exemplo, a avaliação de riscos e


as inspeções de segurança, entre outras.

- A avaliação de riscos é um processo pelo qual se obtém a informação


necessária para que a organização esteja em condições de tomar uma
decisão apropriada sobre a oportunidade de adotar ações preventivas e,
em tal caso, sobre o tipo de ações a ser adotado.

Essa avaliação se realizará efetuando-se, em primeiro lugar, uma


análise qualitativa de riscos dirigida a identificar e descobrir os riscos
existentes em um determinado trabalho e, posteriormente, uma análise
quantitativa cujo objetivo final é dar um valor à periculosidade desses
riscos de modo a se poder compará-los e ordená-los entre si por sua
importância.

- A inspeção de segurança é basicamente uma análise que se realiza


observando direta e ordenadamente as instalações e os processos
produtivos visando avaliar os riscos de acidente presentes.

1.8.2 Técnicas reativas

São aquelas técnicas que atuam assim que ocorrido o acidente, tentando-se
determinar suas causas para, posteriormente, propondo e implantando
algumas medidas de controle, evitar que um acidente semelhante possa
ocorrer.

Entre elas, destacam-se a investigação de acidentes e o controle estatístico da


acidentalidade.

- A investigação de acidentes tem como ponto de partida o próprio


acidente, e pode ser definida como a técnica utilizada para a análise
profunda de um acidente de trabalho ocorrido, buscando-se saber o
desenvolvimento dos acontecimentos e determinar porque ocorreu.
Devem ser investigados todos os acidentes mortais, graves e leves,
inclusive se devendo investigar aqueles acidentes que se repitam
frequentemente, a implicarem um potencial risco de danos às pessoas
ou aqueles acidentes que apresentem causas desconhecidas.

- Por outro lado, no que tange ao controle estatístico da


acidentalidade, a compilação detalhada dos acidentes é uma valiosa
fonte de informação a ser convenientemente aproveitada ao máximo,
para isso sendo importante se registre uma série de dados referentes a
eles e a seu âmbito para a posterior análise estatística, que servirá para
conhecer a acidentalidade e suas circunstâncias de maneira
comparativa entre seções, empresas ou setores produtivos.

1.8.3 Técnicas complementares

As técnicas complementares são constituídas por normas e sinalizações (ótica,


acústica e comunicação verbal).

1.8.3.1 Normalização

Sob o conceito de "segurança integrada" é preciso normalizar os procedimentos


de trabalho, integrando os aspectos de segurança a todas aquelas situações
nas quais os desvios com relação ao previsto possam gerar erros, avarias ou
incidentes potencialmente causadores de danos.

Com a normalização dos procedimentos de trabalho, busca-se regular e


padronizar todas as suas fases operacionais nas quais determinadas
alterações possam ocasionar perdas ou danos, que é preciso evitar.

O conceito de norma de segurança atende a diferentes definições:

a) recomendações preventivas recolhidas formalmente em documentos


internos a indicarem modos obrigatórios de atuação, recolhidas na
"convenção";

b) diretrizes, ordens, instruções dirigindo o pessoal que trabalha na


empresa quanto a riscos que se podem apresentar no desenvolvimento
de sua atividade e ao modo de prevenção;
c) regra que precisa ser promulgada e difundida com a antecipação
adequada e que deve ser seguida visando-se evitar os danos que
possam decorrer em consequência da execução de um trabalho.

A norma de segurança não deve substituir outras medidas


preventivas prioritárias ao se visar eliminar riscos nas instalações,
devendo ter em tal sentido um caráter complementar.

Do ponto de vista de seu campo de aplicação, são classificadas como:

a) normas gerais: dirigidas a todo o centro de trabalho ou a amplas


zonas desse centro, estabelecendo genericamente as diretrizes;

b) normas específicas: dirigidas a atuações específicas, assinalando a


maneira segura de realizar determinadas operações.

Conteúdo

Para que uma norma seja eficaz, deve conter:

a) objetivo: breve descrição;

b) redação: desenvolvimento em capítulos dos diferentes tópicos;

c) campo de aplicação: especificação de lugar, zona e trabalho;

d) grau de exigência: especificação quanto a sua obrigatoriedade ou


sua mera recomendação, indicando, sendo o caso, a gravidade da falta;

e) reforço: normas legais ou particulares que ampliam, mediante


citação, o conteúdo da norma, às quais se deve submissão.

Princípios básicos

A norma deve ser:

a) pedagógica;
b) disciplinar;
c) complementar à atuação profissional;
d) justa;
e) necessária;
f) possível;
g) clara, breve e específica;
h) aceita e exigível; e
i) atual.

Fases de implantação

Da concepção até a implantação da norma, há as seguintes fases:


a) criação: intervindo todas as partes interessadas;

b) redação, supervisão e correção por parte da direção da empresa e do


comitê de segurança;

c) difusão ou divulgação: a difusão se efetuará mediante a entrega de


textos contendo as normas, além de reuniões informativas; do mesmo
modo, fixando-se anúncios, avisos ou cartazes;

d) vigilância de seu cumprimento, analisando em caso contrário as


causas, buscando-se adotar as medidas corretivas oportunas;

e) atualização da norma por mudança na legislação ou nos métodos de


trabalho.

1.8.3.2 Sinalização

Entende-se por sinalização o conjunto de estímulos que condicionam a atuação


daquele que os recebe frente a circunstância que se pretende ressaltar. Mais
concretamente, a sinalização de segurança é aquela que dá uma indicação
relativa à segurança de pessoas e/ou bens.

Todos estamos conscientes da importância da sinalização na vida urbana e na


circulação de veículos de todo tipo: terrestres, marítimos e aéreos, de modo
que sem ela, em muitas ocasiões se dariam o caos e os acidentes.

Assim, no mundo laboral se dão situações de perigo nas quais é conveniente


receba o trabalhador uma determinada informação relativa à segurança e que
denominaremos sinalização de segurança1.

A sinalização de segurança e saúde no trabalho deverá ser utilizada sempre


que a análise dos riscos existentes, das situações de emergência previsíveis e
das medidas preventivas adotadas evidencie a necessidade de:

a) chamar a atenção dos trabalhadores para a existência de


determinados riscos, proibições ou obrigações;

b) alertar os trabalhadores quando se produzindo uma determinada


situação de emergência a exigir medidas urgentes de proteção ou
evacuação;

c) facilitar aos trabalhadores a localização e a identificação de


determinados meios ou instalações de proteção, evacuação, emergência
ou primeiros socorros; e

d) orientar ou guiar os trabalhadores que realizem determinadas


manobras perigosas.

A sinalização não deve ser considerada medida substitutiva das medidas


técnicas e organizacionais de proteção coletiva, sendo utilizada quando por
meio destas últimas não tenha sido possível eliminar os riscos ou reduzi-los
suficientemente. Tampouco deve ser considerada uma medida substitutiva da
formação e da informação aos trabalhadores em matéria de segurança e saúde
no trabalho.

A sinalização de segurança é uma técnica de segurança complementar, que


não elimina o risco por si mesmo e sua colocação em prática não dispensa, em
nenhum caso, a adoção das medidas de prevenção e controle
correspondentes.
1
No campus virtual, na pasta correspondente ao capítulo de Segurança Laboral, encontra-se um documento intitulado
"Disposiciones mínimas de sefialización" com mais informação e referente, em alguns aspectos, ao Real Decreto
485/1997, de 14 de abril (Espanha), sobre disposições mínimas em matéria de sinalização de segurança e saúde no
trabalho.

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