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29/02/2024, 15:31 A ocupação israelense e a operação Al Aqsa inundada - Congresso em Foco

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

A ocupação israelense e a operação


Al Aqsa inundada
CONGRESSO EM FOCO
13.10.2023 11:17 1

 OPINIÃO
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Em MUNDO

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Bruno Beaklini * e Robson Valdez **

A operação Al Aqsa inundada começou no último sábado (7) e


não tem previsão para término. A mesquita Al Aqsa foi
anexada por Israel ao resto de Jerusalém Oriental na guerra de
1967. Assim como na anterior, a operação Espada de Al Quds
(maio 2021), a motivação foi evidente: a apostasia e
profanação da Esplanada das Mesquitas e dos sítios sagrados
para muçulmanos e cristãos; a expansão da limpeza étnica na
Cisjordânia sob controle militar israelense e a absoluta
ausência de saída para a população palestina. O cotidiano da
Faixa de Gaza, uma estreita linha de terra na costa do
Mediterrâneo, é terrível, sob cerco militar e bombardeio
inimigo.

No único pedaço de chão sob controle palestino, tem-se um


fornecimento médio de 13 horas de energia por dia e são
constantes apagões de luz de 8 a 12 horas, chegando muitas
vezes a 20 horas, além de racionamento de víveres e
combustíveis e permanente agressões do lado externo. Não é
incomum ver ação conjunta de soldados e colonos israelenses
atirando contra palestinos. A fronteira com o Egito – por onde
entrariam os bens de primeira necessidade – é controlada por
uma potência financiada pelo Tesouro dos Estados Unidos e
os bombardeios (através da supremacia aérea) são muito
frequentes.

L E I A TA M B É M

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Quem pode mexer no meu queijo?


ANDRÉ SATHLER

Netanyahu está nu!


CEZAR BRITTO

Violência e insegurança são


características mais associadas a
brasileiros em Portugal, aponta pesquisa
CONGRESSO EM FOCO

Na Cisjordânia, jovens palestinos são assassinados quase que


diariamente. São 5.200 presos políticos e a punição do invasor
costuma ser a demolição das casas palestinas. De forma
absolutamente ilegal para o Direito Internacional, fundos
imobiliários seguem tomando terreno nos territórios ocupados
em 1967 (a Naksa) e a origem desse fluxo financeiro é diversa,
ultrapassando muito as instituições israelenses. A extrema
direita religiosa estadunidense opera como fomentadora da
ocupação e o neopentecostalismo nos países da América
Latina incide diretamente na popularização do apoio
incondicional ao apartheid promovido de forma sistemática
por sucessivos governos israelenses.

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Em tese, os acordos de Oslo poderiam criar uma situação em


que 95% do território da Cisjordânia estaria sob controle
palestino, com a instalação de um aeroporto internacional;
100% de Gaza com um porto e outro aeroporto além de uma
estrada formato “highway” com quatro pistas de cada lado,
igualmente sob controle da população palestina originária.
Nada disso ocorreu e, de fato, a única libertação da Palestina
se deu após as eleições internas de 2006, cujo resultado Tel
Aviv não aceitou e que resultou no enclave ao sul do projeto
colonial chamado Estado de Israel.

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Se as proclamas do Estado usurpador de territórios palestinos


e a presença militar dos Estados Unidos forem confirmadas, a
ideia é realizar uma nova Nakba – a catástrofe de 1948 na qual
800 mil pessoas foram expulsas de casas e terras onde viviam
há mais de 3.000 anos – desta vez forçando um êxodo
palestino. Considerando que mais de 75% da população de
Gaza já é egressa de campos de refugiados e a grande maioria
nunca saiu de lá em 75 anos, a perspectiva é nenhuma.

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Escrevemos estas palavras enquanto assistimos ao vivo, na Al


Jazeera em inglês (manhã de quarta-feira, 11 de outubro de
2023), ao comentário do jornalista israelense Gideon Levy,
editor do Haaretz. Ele afirma: “a única ideia fixa da elite
política de Israel é se livrar da população palestina, de uma
forma ou de outra”. Tampouco devemos nos iludir com a
diferença entre a extrema direita israelense ou a social-
democracia (hoje minoritária). Os massacres coloniais em
consonância com a ocupação britânica na década de 1930, a
Nakba entre 1947 e 1951 e a Naksa em 1967, além da ameaça
de ataque nuclear contra o Cairo em 1973, e as operações de
assassinato das lideranças palestinas nos anos seguintes
foram todas sob gabinete “trabalhista”.

A direita de Israel chega formalmente ao poder em 1977 e,


desde então, há uma inclinação para esta orientação política.
Mas esse fator incide no arranjo interno de Israel e na
influência das entidades promotoras do ideal expansionista
dos sucessivos governos israelenses que atuam nos países
ocidentais. Para os palestinos que são cidadãos de segunda
categoria nos territórios ocupados de 1948, para os milhões de
refugiados ao redor do Mundo Árabe e em outros países, para
a população da Cisjordânia e Gaza não há saída possível.
Assim como não há nenhuma condição de estabilidade em
todo o oeste da Ásia (chamado de Oriente Médio pelos
cruzados) sem uma solução para a questão palestina.

Se depender das elites políticas de Israel, tomando como


exemplo Yair Lapid e Benny Gantz (este sendo o general
carniceiro de Gaza em 2012 e 2014), a diferença substantiva
com Netanyahu e seus fascistas assumidos é o nível de
sinceridade. O paradoxo do momento é esse: o ideal do
expansionismo territorial israelense sobre terras palestinas é
cada vez mais “sincero” em seu supremacismo racista e,
proporcionalmente, as capacidades militares da resistência
palestina (lideradas por partidos islamistas e não por forças
laicas, como na formação histórica da Organização pela
Libertação da Palestina, OLP) são cada vez maiores e

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versáteis. Assim como esta é a constatação, é importante


ressaltar que a maioria da população palestina não é
apoiadora do integrismo. Ainda se trata de um sistema político
multifacetado, com a maior parte das pessoas sem filiação
partidária e as simpatias inclinadas para as forças laicas, com
uma esquerda minoritária. O tradicional pan-arabismo e sua
vertente socialista que é fundadora da OLP não são
hegemônicos mas estão longe de ser extintos.

A outra condição fática é que os planos de remoção em


massa e de terra arrasada não vão conseguir expulsar as mais
de 2,2 milhões de pessoas em Gaza e 3 milhões na Cisjordânia
e menos ainda deslegitimar a condição de refugiados
palestinos no Líbano, na Síria e na Jordânia. Não há saída para
o Mundo Árabe e nem para o Mundo Islâmico sem a criação
de um Estado palestino ou de um Estado binacional com
direitos iguais em escala universal. É isso ou o apartheid
israelense e as mais diversas formas de resistência possíveis.

Os cenários do curtíssimo prazo são imprevisíveis

O desenrolar da guerra de Israel e dos Estados Unidos contra


o povo palestino representado pela frente de Gaza é algo
imprevisível. A presença do porta-aviões Gerald Ford, mais ao
menos quatro navios de guerra, a liberação por Antony Blinken
(secretário de Estado da administração Biden) de US$ 5
bilhões menos de 12 horas após o ataque comandado pelo
Hamas demonstram que a dimensão da luta de libertação
nacional pode ser ampliada para um conflito regional. Israel
ocupa ilegalmente territórios na Síria e no Líbano, e o próprio
Acordo de Camp David com o Egito colocou o governo do
Cairo em posição subordinada no controle do Sinai e do Mar
Vermelho. Logo, demandas dos vizinhos não faltam.

Se houver um ataque por terra do exército israelense, apoiado


por aviação e a artilharia naval estadunidense, a probabilidade
maior é o envolvimento do Hezbollah a partir da fronteira
norte do Estado colonial e de zonas ainda em disputa em
Golan. Se o envolvimento das forças militares dos Estados
Unidos for direto, e explícito, a dimensão deste conflito será
incomensurável, podendo envolver outros países. A maior
parte dos comentaristas militares israelenses alega ser
impossível, nos dias atuais e com a capacidade da artilharia
móvel dos adversários, lutar em duas frentes simultâneas,
quiçá em três ou mais. A única certeza é de que a solução não
está próxima e menos ainda passa por uma ação militar sem
limites.

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Tel Aviv aponta para a “punição coletiva” contra a população


de Gaza, cortando água, eletricidade e a chegada de alimentos
e medicamentos. Qualquer semelhança com uma campanha
de extermínio não é coincidência. O Sistema Internacional vai
aceitar isso em pleno século 21? A depender das vontades
políticas dos EUA, da Otan, da União Europeia e do lobby
israelense (e seus aliados neopentecostais em países
ocidentalizados), realmente parece que sim.
Simultaneamente, apesar da pouca confiança gerada pelos
governos nacionais dos países árabes, as ruas clamam pela
Palestina. A Palestina ainda é a causa mãe de toda uma
comunidade cultural e territorial do mundo árabe e isso não
vai mudar.

Existe alguma vontade real de qualquer setor do Estado


israelense e suas elites financeiras e militares em buscar uma
saída para o povo palestino? Realisticamente parece que não.
Por mais conflitos e contradições internas que o mítico
projeto israelense de expansão territorial sobre terras
palestinas a qualquer custo tenha na atualidade, a
condicionante de sua existência é o paradigma do general
Moshe Dayan (um dos heróis da social-democracia colonial
sionista):

“Chegamos aqui para um país que foi preenchido pelos árabes


e estamos construindo aqui um hebraico um estado judeu;
Em vez das aldeias árabes, as aldeias judaicas foram
estabelecidas. Você nem sabe os nomes dessas aldeias, e eu
não o culpo porque essas aldeias não existem mais. Não há
um único assentamento judaico que não foi estabelecido no
lugar de uma antiga vila árabe.”

Se isso não for limpeza étnica, então é o quê? Se não há


nenhum gesto concreto do ocupante em deixar ao menos as
parcelas ocupadas segundo o moribundo Acordo de Oslo, a
única saída é o fim do apartheid israelense e a criação de um
Estado para dois povos. Para alcançar este objetivo, com o
direito de retorno dos refugiados e a reparação econômica
pelo roubo de suas casas e terras, será preciso qual caminho?
Por que a mídia hegemônica nos países ocidentais se recusa a
abordar o tema de frente e com a coragem que a busca da
verdade demanda?

Diariamente, a população palestina é massacrada, com ou


sem operações e guerras formais contra Gaza. A guerra é
contra o povo palestino, iniciou com a ocupação do mandato
britânico na Palestina em 1920, se tornou opressão
institucional com a “guerra antiárabe de 1947” e desde então o

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cotidiano é esse. O que esperar de pessoas que vivem sob


opressão de uma máquina de guerra financiada pelos EUA há
pelo menos 75 anos? A única certeza é de que nem os
palestinos, nem as populações árabes ou sua diáspora vão
abandonar a Palestina à sua própria sorte.

* Bruno Lima Rocha Beaklini é jornalista profissional, doutor


em ciência política e professor de relações internacionais
(blimarocha@gmail.com)

** Robson Valdez faz estágio pós-doutoral em Relações


Internacionais no Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (IREL/UnB). É doutor em Estudos
Estratégicos Internacionais (UFRGS) e pesquisador do Núcleo
de Estudos Latino-Americanos/IREL-UnB.

AUTORIA
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 congressoemfoco@congressoemfoco.com.br

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