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DAVIS, Natalie Zemon.

Decentering History:
Local Stories and Cultural Crossings in a
Global World. History and Theory, v. 50, n. 2,
p. 188-202, 2011.
O texto é um ensaio de Natalie Zemon Davis intitulado Decentering History: Local Stories and
Cultural Crossings in a Global World, que foi apresentado no ano de 2010, em Bergen, Noruega
durante o Ludwig Holberg Prize Sumposium.
Introdução

● O objetivo principal de Natalie Zemon Davis na apresentação


deste texto é apresentar um estudo historiográfico que tem
como ponto central uma história “descentralizada”.
○ Apresenta ideias de descentralizar a história por meio de três
importantes momentos (que ela chamará de ondas):
■ (1) após a segunda guerra mundial com um estudo mais próximo do
marxismo;
■ (2) após a década de 1960 quando se inicia uma perspectiva das
discussões de gênero e por fim;
■ (3) um momento cuja descentralização foi geográfica.
Introdução

● Apresenta dois estudos de casos, com os quais ela trabalha,


como exemplos de descentralização histórica.
○ (1) Apresenta uma análise comparativa entre as obras de Ibn Khaldun –
Muqaddima (1403), Introdução ao seu livro de exemplos em Árabe sobre a
história de todas as civilizações e de Christine de Pizan – Paris (1405), o livro
da Cidade das Damas.
○ (2) Descreve como “uma segunda maneira de ampliar a consciência global
do historiador sem que este perca o seu apreço por relatos concretos”
consiste em focar em casos de cruzamentos culturais e no qual ela
apresenta um cruzamento entre as práticas dos escravos na África (Guiné) e
Caribe (Suriname).
● A autora inicia o texto descrevendo os dois livros com os
quais trabalhou e como ocorreu a sua aproximação com
eles.
○ Localiza temporalmente os dois livros, ambos do início do século
XV, o de Ibn Khaldun de 1403 e o de Cristina de 1405.
○ Apesar da contemporaneidade, não havia muita similaridade no
objeto dos dois textos, principalmente em relação às mulheres.
○ A ligação principal entre os dois textos ocorre pela questão da
“história ‘descentralizada’, mas ainda assim mantida em um
‘mundo globalizado’.” “history ‘decentered’ but yet held together in
a ‘globalized world’” (DAVIS, 2011, p. 190).
● Definição e descrição de descentralizar a história
é apresentada:
○ “Descentralizar envolve a postura e o assunto do
historiador. O historiador descentralizador não conta a
história do passado apenas do ponto de vista de uma
única parte do mundo ou de elites poderosas, mas
amplia seu escopo, social e geograficamente, e
introduz vozes plurais no relato” (DAVIS, 2011, p. 190).
● Momentos importantes de descentralização da história:
○ A primeira ocorre logo após a segunda guerra mundial com a
inclusão das classes menos abastadas (operários, trabalhadores,
etc.) que ela chamou de classes exploradas ou oprimidas.
○ A segunda na década de 1960 que trouxe mulheres e gênero à tona,
pois passou-se a entender que a mulher era parte integrante da
narrativa histórica.
■ As noções rígidas das estruturas centrais de poder foram abaladas,
pelo estudo de questões da vida familiar e sexualidade, locais “onde
a relação entre intimidade e dominação é especialmente inquietante.
Até mesmo as governantes femininas tinham uma relação paradoxal
com o poder” (DAVIS, 2011, p. 190).
● É importante compreender que a história é relacional, assim:
Bem feita, a história envolve as partes atuantes da história, ou
seja, a história das mulheres envolve os homens, dos
camponeses o proprietário, e assim por diante. Mas um
historiador que busca descentralizar a história deve “deixar que
os subalternos e suas práticas e crenças carreguem a
narrativa” (DAVIS, 2011, p. 190).
● Após esta afirmação a autora relata a importância dos estudos
“pós-coloniais” no final do século XX por meio da onda
geográfica, este conceito equivale à terceira onda.
● Ademais ela ressalta que não basta a descrição das políticas e
das ações das nações dominadoras, mas é necessário dar voz
para os povos colonizados.
● Para corroborar esta ideia são citadas duas advertências:
○ Em 1983, Johannes Fabian diz que pesquisadores não devem ver culturas
não europeias como uma versão anterior ao estágio da sua própria cultura e;
○ Em 2000, no livro Provincializing Europe de Dipesh Chakrabarty de 2000 que
diz que o pensamento histórico “tomou o padrão europeu como modelo
exclusivo de modernização, e outras partes do mundo sempre foram
descritas em termos de ‘recuperação’ ou ‘ainda não chegaram’. Mas o
Ocidente, ele insistiu, representava apenas um caminho para o presente”
(DAVIS, 2011, p. 191).
● A história global ainda não é uma história eurocêntrica?
● A autora diz que os seus estudos levaram a uma
descentralização dos estudos não em termos geográficos, mas
em termos de apresentar a questão do feminino na sua
perspectiva de estudos da história a partir do texto Cidade das
Damas.
● Importante atentar ao ponto que ela diz não descentralizar
geograficamente o tema, mas sim, dentro do próprio espaço
europeu.
● Para finalizar a primeira parte Natalie volta aos dois autores do
começo do texto, com uma descrição biográfica de ambos.
● Nesta parte a autora faz um relato sobre a sua pesquisa e a
sua formação que envolve os dois livros citados na primeira
parte.
● O ponto central desta parte é a sua busca sobre as formas de
escrever história em um mundo globalizado.
● A segunda parte do texto começa com a seguinte afirmação:
“Uma segunda maneira de aumentar a consciência global do
historiador enquanto sustenta seu amor pela história concreta é
focar nos casos de cruzamento cultural” (DAVIES, 2011, p. 197).
● O objeto de debate envolve as práticas de adivinhação, detecção
e curandeirismo africanas que são transportadas para o
Suriname, uma colônia holandesa na América no século XVIII.
● Suas primeiras fontes são os relatos e as memórias dos escravos
e ex-escravos e as crônicas publicadas por alguns observadores
europeus dos séculos XVII e XVIII.
● Descreve como funcionava a invocação dos Deuses da cura,
detecção e adivinhação pelos curandeiros e adivinhos.
● Os curandeiros eram chamados para rituais de cura e
adivinhadores para as primeiras fases de investigação de
assassinatos. O adivinhador era quem fornecia as provas para a
sentença e no relato da autora é perceptível como o adivinhador
tinha o poder de manipular o julgamento.
● As punições variavam, desde leves até a pena de morte e em
algumas vezes, a venda do acusado para os senhores de
escravos.
● Toda essa cultura foi transportada pelos escravos para o Suriname
(local de estudo) e ela relata como tais africanos eram introduzidos
em uma sociedade com outras regras e colocados em contato com
os europeus e africanos de outras etnias.
● Criou-se um idioma que possibilitava a comunicação no Suriname,
conhecido como Neger Engelsche, atualmente Sranan, que surgiu a
partir das interações dos escravos, europeus e crioulos.
● A autora passa a descrever como os rituais de cura e os julgamentos
são transportados da África para o Caribe e como eles são
requalificados nesta nova sociedade.
● De fato, a autora acredita que os procedimentos de
detecção e determinação de culpa no Suriname foram
variações daqueles realizados na África.
● Como conclusão, a autora diz que “De fato, o intercâmbio
direto entre estudiosos além das fronteiras é um dos
melhores caminhos para a descoberta em nossos tempos
globalizados dos últimos dias” (DAVIS, 2011, p. 202)

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