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em Platão e Aristóteles
por intuito analisar alguns temas políticos recorrentes aos pensadores da Grécia clássica, tendo como
lítica de Platão e Aristóteles, cujas paradigmáticas discussões ainda são legítimas no contexto estatal
vés da revisão bibliográfica destes autores e de alguns de seus intérpretes, o texto desenvolve os temas
formas de governo, fortalecendo a atualidade destas filosofias no cotidiano jurídico e político dos
research
bers
cations
ojects
C BY-NC 4.0
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t to copyright.
DOI: 10.219
Organizaçã
Double Blin
Recebido e
Aprovado
evista de Teorias e Filosofias do Estado
Resumo
O presente artigo tem por intuito analisar alguns temas políticos recorrentes aos p
Grécia clássica, tendo como enfoque a filosofia política de Platão e Arist
aradigmáticas discussões ainda são legítimas no contexto estatal contemporâne
evisão bibliográfica destes autores e de alguns de seus intérpretes, o texto d
emas da liberdade, justiça e formas de governo, fortalecendo a atualidade destas
otidiano jurídico e político dos Estados.
Abstract
his article is meant to examine some recurrent political issues to the philosop
Greece, with special focus in political think of Plato and Aristotle, whose
iscussions are still legitimate even in the contemporary context. Through literat
hese authors and some of his best readers, the text develops the themes of fre
nd forms of government, strengthening the actuality of these philosophies in th
nd political States.
Doutor em Direito pela UFSC. Mestre em Direito pela USP. Conselheiro Federal da OAB. Presi
onselho Fundador da Academia Brasileira de Direito Constitucional. Professor da PUCPR. Adv
ansieri@pansierikozikoski.com.
Mestre em Filosofia Política pela UEL. Especialista em Direito Constitucional pelo IDCC. Espec
ilosofia Política pela UEL. Bacharel em Direito pela UEL. Professor e Advogado. E-mail:
enesampar@msn.com
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Flávio Pansieri
NTRODUÇÃO
O presente artigo tem por escopo analisar alguns temas políticos tra
latão e Aristóteles, pensadores da Grécia clássica que estabeleceram verdadeiro
o estudo da política. Sua forma de pensar se tornou preponderante durante a Id
inda serve de matriz para diversas discussões. Através de uma metodologia qu
evisão bibliográfica de suas obras e de alguns de seus comentadores, o objetivo
razer à tona a relevância do trabalho destes dois titãs do pensamento do mundo a
Sem olvidar da extensão de suas análises e dos diferentes eixos temá
ompõem, escolheu-se abordar temas no que toca à filosofia política, em especi
ustiça, a ideia de liberdade e as formas de governo para os dois pensadores. De
entre as formas de governo, são conhecidas as suas críticas à democracia, crí
recisa ser analisada no bojo e no contexto de suas escolas de pensamento e de
istórico, sob pena de se cometer anacronismos.
Deste modo, o presente artigo se divide de modo estratégico em du
rimeira trabalha o pensamento platônico. O foco está em demonstrar como Pla
onstruir a sua ideia de justiça a partir do arquétipo da cidade idílica, denomina
ara tanto, sua forma de governo ideal é a aristocracia, tendo como governante o
, aquele que mais tempo dedicou à educação. A segunda parte do artigo desenv
ensamento aristotélico, com enfoque especial em suas noções de governo e na
ociedade que ele considerava hábil à conquista da liberdade.
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Ernst-Wolfgang Böckenförde (2012, p. 97) traça o quadro de Atenas no período de Platão: prog
egemonia de Atenas para Esparta por conta da Guerra do Peloponeso, ausência de unidade
ntensas disputas partidárias em favor de lobbies e ainda o enfraquecimento da democracia.
O maior emblema da teoria das ideias de Platão está no Mito ou Alegoria da Caverna. A bu
mutável das coisas se dá pela razão, que é adquirida progressivamente. No mito citado, que e
vro VII de A República (2012, p. 315-320), Platão representa o mundo sensível como imagens
omente pela razão, se conhece a verdade que está fora da caverna. Os que evadem a caverna são
omens de razão, aqueles aptos a governar a polis.
No diálogo entre Sócrates (Platão) e Glauco (Livro V de A República), Sócrates diz ser capaz
struturas dos Estados com uma simples mudança: transmitir o comando do governo para os
entido: “enquanto não forem, ou os filósofos reis nas cidades, ou os que agora se chamam r
lósofos genuínos e capazes, e se dê esta coalescência do poder político com a filosofia, enquan
aturezas que atualmente seguem um destes caminhos com exclusão do outro não fo
orçosamente de o fazer, não haverá trégua dos males, meu caro Gláucon, para as cidades, nem s
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aracteres que lhes eram peculiares. Imiscuído a este discurso, opõe-se o ideal
usca pelo mundo das ideias eternas. Com isso, antecipa-se que nenhum dos trê
ara o governo da cidade, pois Céfalo, Polemarco e Trasímaco não se mostravam
ranscender à sua realidade terrena e se colocar em busca do bem comum.
ócrates, por óbvio, discorda de todas estas compreensões de justiça, sobre
ratarem de disposições individuais frente a um determinado evento e, em
locarem o ideal de justiça em uma tábula teleológica.
Para demonstrar sua oposição, Sócrates6 conclui que não há problem
parentar ser justo mesmo sendo injusto. Assim, conta-lhes o mito do anel de Gi
ara o gênero humano, nem antes disso será jamais possível e verá a luz do sol a cidade
escrevemos” (PLATÃO, 2012, p. 251).
Sócrates não deixou escritos. Seu discípulo, Platão, utilizava-o em meio a diálogos para transmi
or isto se utiliza o nome de Sócrates neste ponto do artigo que trata de Platão.
Este mito é contado por Platão no Livro II de A República. Giges é um pastor de ovelhas que e
ue o torna invisível. Tendo este poder literalmente nas mãos, Giges deixa de ser um homem ho
m criminoso, a ponto de matar o rei. O questionamento fundamental por detrás da lenda é uma
ócrates aos seus opositores: é mais vantajoso ser justo ou aparentar ser justo?
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Como ficará mais claro adiante, a ideia de justiça em Platão é cada pessoa viver dentro do seu e
eterminado pelo tempo de estudos de cada um.
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ão o que são”. Deste modo, “não devemos esperar ter melhores Estados e
vermos homens melhores”. Somente um cidadão livre de vícios e em harm
mesmo poderia construir uma polis igualmente livre, numa espécie de quid pro q
Este é o foco do pensador ao instituir todo um complexo sistema estru
rigido sobre a educação igualitária. Seguindo os passos de Sócrates, a instruçã
ontínua dos indivíduos é a mola propulsora que possibilitaria a fuga
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Will Durant nomeia como aristocracia democrática (2000, p. 55) a forma criada por Platão pa
ela não reside o caráter hereditário. Contudo, democracia é um conceito chave de conotaç
losofia platônica de modo que não será utilizada esta expressão cunhada por Durant.
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Neste comentário, acredita-se que Platão está fazendo menção a sua cidadã natal, Atenas. Segu
inveja era o seu pecado capital.
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Os filósofos, no período de Platão, eram qualificados como inábeis para o mundo político po
e conhecimento em busca de resposta para as grandes questões da humanidade. Por outro lad
trauss (2013, p. 53-54), também os filósofos de modo geral não se sentiam motivados a pen
emocrática e, portanto, eivada de opiniões –, uma vez que sua busca transcendia o senso co
roblemas mundanos seria se manter preso na escuridão da caverna. Com interesses opostos, fil
e opunham em profunda distância. Platão resolve esta questão ao alocar o seu filósofo no com
ssevera Werner Jaeger que “a vida predominantemente contemplativa que o filósofo se vê o
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entro do mundo presente que o cerca não aparece na República como seu destino último”. Sob
filósofo transcenderá do seu estado contemplativo ao mundo “real” da política? Explica
epública ideal, o filósofo deixará o estado de mera contemplação para abraçar um estado de cria
e-á em “demiurgo” e trocará a única tarefa criadora que nas circunstâncias atuais lhe é dado
rópria formação pela formação de caracteres humanos, tanto no campo da vida privada com
úblico. Converter-se-á assim no grande pintor que estruturará a imagem da polis autêntica à
ivino que traz dentro de si” (JAEGER, 1995, p. 861).
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Contudo, para Platão, a liberdade na democracia impera de tal modo que não se
e substancial para a sociedade. Ou seja, a concepção ampla liberdade dialoga de
róximo à anarquia, contexto em que não há justiça.
Com efeito, na regra já esboçada anteriormente, homens despreparados nã
polis adequada. A proximidade que Platão estabelece entre liberdade e an
recedentes em virtude de sua leitura da Atenas que condenara o seu mestre Sóc
Assim, este é o quadro humano na passagem da oligarquia para a democraci
ujeitos não possuem aptidão para as artes mais elevadas – filosofia, física, mús
o que culminaria em uma organização política semelhante12. Os valores pro
emocracia são a insolência como boa educação, a anarquia como liberdade, a p
omo generosidade e a desfaçatez como coragem (PLATÃO, 2012, p. 390). Lo
om virtudes pouco cultivadas não são cidadãos virtuoso e não formarão uma e
ue os conduza para a liberdade e para a justiça. Este é o quadro da democracia e
Neste panorama, como não há regras fundadas nas leis, na autoridade ou
mas se impera a liquidez indelével da excessiva liberdade individual sem lastro
u na virtude, tem-se como resultado a aproximação da democracia com
roporcionada pela tolerância em demasia e falta de limites. Para Platão, c
empre se direciona para o equilibro e a contenção, a causa de vários males é e
usência de limites. A democracia é o píncaro da liberdade anárquica e a tir
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e uma mesma moeda. O processo de transição entre liberdade e sua priv
correria pela divisão da sociedade democrática em políticos, ricos e pobres (as
lasses são legado da oligarquia).
Valendo-se de uma espécie de populismo, o tirano formaria o corpo de se
por meio do perdão de dívidas e distribuição de terras de grupos opositores
liminaria seus adversários com apoio irrestrito de setores volumosos da sociedad
ngodo o alçaria ao governo. A liberdade seria progressivamente subtraída dos c
manutenção do estrito controle do poder e do governo. Deste modo, é tênue
ntre democracia e tirania e dramático o seu resultado. O caminho mais seguro, s
latão, seria a aristocracia do pensamento, em que todos participam ativamente d
a polis a partir de sua classe social.
Segundo Platão, “a liberdade em excesso, portanto, não conduz a mais nada que não seja a
xcesso, quer para o indivíduo, quer para o Estado” (PLATÃO, 2012, p. 396). Jaeger (19
omenta que a liberdade democrática para Platão consiste sobretudo em se sentir livre de todo tip
ão em se submeter por si próprio a certas normas interiores. Cada um organiza a sua vida c
praz [...]. A democracia surge aos olhos de Platão como um Estado em que pululam os hom
pos, como um armazém de todos os tipos de constituições, onde cada um toma o que está mais
s seus gostos particulares. Quem não quiser participar no Estado em nada, pode seguir
xatamente como poderia seguir o outro. Quem não quiser intervir na guerra, pode continuar
nquanto outros guerreiam. Aquele que se vir destituído do seu cargo pela lei ou por uma d
ontinua apesar disso a governar, sem que ninguém lhe impeça. O espírito de tolerância impe
ustiça.
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Böckenförde (2012, p. 133) disseca o método de Aristóteles em uma tríade: após verificar a oc
ato digno de aprofundamento, é preciso primeiro levantar os fenômenos, o que significa reunir e
s opiniões correntes para em seguida, segundo ponto, trabalhar as dificuldades, resolvendo as
eixando de lado os pontos que não passíveis de uma estrutura interna de coerência lógica. Por f
onteúdo e a verdade das concepções mais importantes que se aproximam da verdade.
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Tércio Sampaio Ferraz Junior lembra, contudo, que a noção de liberdade do indivíduo
nterioridade, não era uma categoria grega. A liberdade estava na polis. Segundo o autor, “
iberdade) continua localizado na possibilidade de o homem conduzir-se por suas virtudes ao
róprio. Não há, ainda, a hipótese de o homem, por ser livre, ser imputável e responsável. A libe
nda, com a conduta humana na polis e não com a voluntariedade ou involuntariedade dos ato
ltima hipótese ocorresse, seria necessária uma decidida subjetivação do tema, isto é, a proposiç
omo uma questão do sujeito em sua própria interioridade. A filosofia grega não chegou a e
UNIOR, 2002, p. 82).
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ensações e apetites – por possuírem sistema nervoso central – e o fim do h
omunidades humanas é utilizar a razão e agir moralmente na presença de outros
o ambiente da polis. Portanto, a natureza humana é afeita a vida comunitári
nclinação natural. Esta é a emblemática tese aristotélica do zoon politikon, o h
nimal político, isto é, sua dignidade se completa quando está na presença de
quele que for incapaz de viver na presença de outros “será uma besta o
ARISTÓTELES, 2000, p. 145-147 e 222).
Böckenförde (2012, p. 131 e 154) esclarece que a noção de polis, p
xistência da justiça e liberdade, é diametralmente oposta se comparados os pen
latão e Aristóteles: o primeiro tem a cidade como condição primeira para a vid
voluirá a partir do controle da estrita divisão do trabalho e formação de class
Aristóteles vê na polis um constante processo de evolução, da família até o Es
ltimando as faculdades e capacidades humanas rumo ao bem viver que só é
onvivência com os demais. Tal noção constitutiva do espaço público permite ao
ue o essencial para a cidade de Platão é a unidade, à medida que Aristótel
Amartya Sen comenta que este ideal da vida boa pode ser um bom indicativo do gérmen
conomia. Segundo ele: “a origem da economia foi significativamente motivada pela necessida
valiação das oportunidades que as pessoas têm para levar uma vida boa e as influências cau
portunidades. Além do emprego clássico dessa ideia de Aristóteles, noções semelhantes foram
os primeiros textos sobre contas nacionais e prosperidade econômica, cujo pioneiro foi William
VII”. (SEN, 2000, p. 40)
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umana.
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ossuir o controle sobre o lar que lhe guarnecesse de bens, eles poderiam se
rabalho e ter o lazer para assumir, além da esfera privada de suas vidas, o b
ARENDT, 2010, p. 28). Somente desta maneira seriam verdadeiramente livres18
O grupo de cidadãos livres eram os homens, senhores de uma casa co
dosos e escravos, que trabalhavam e possibilitavam a sua liberação para as
olis. Contudo, a conquista da liberdade não era consectário da mera liberação. N
a filósofa Hannah Arendt, os fatores que possibilitavam a liberdade eram a c
utros homens em igual condição – senhores liberados da necessidade de prov
ubsistência – e um espaço político para a qual pudessem se reunir. Neste contex
utora, ser livre significava “ser isento da desigualdade presente no ato de gover
e em uma esfera na qual não existia governar nem ser governado” (ARENDT, 2
Isto significa que no espaço político todos os cidadãos dispunham
homoioi), não havendo relações fundadas em situações de mando e obediência.
bserva-se a existência de panoramas opostos: o da casa, locus em que pr
espotismo por vezes draconiano do chefe de família, e a polis, espaço composto
estituído de modelos hierárquicos, com exceção apenas para os momentos de gu
m líder militar era essencial.
Dentre as duas concepções expostas, para Hannah Arendt, a verdade
berdade era a política. Segundo esta pensadora, “o que todos os filósofos g
omo certo, por mais que se opusessem à vida na polis, é que a liberd
xclusivamente na esfera política”, isto é, livres eram os cidadãos que participa
ARENDT, 2010, p. 37). Já a força e a violência eram os traços marcantes da es
or serem os únicos meios de se vencer a necessidade imposta pelos fatore
Consoante se denota, a centelha política na Grécia clássica era oposta a noçã
ontemporânea. Para os gregos, a possibilidade de participação nas discuss
ompunha o quadro legitimador para a aquisição da liberdade, benesse income
quela sociedade, um contexto oposto a partir da ascensão do Estado moderno li
Segundo Hannah Arendt, “a liberdade como fenômeno político nasceu com as cidades-Estado
eródoto, ela foi entendida como uma forma de organização política em que os cidadãos v
ondição de não dominação, sem divisão entre dominantes e dominados. Essa noção de n
xpressava na palavra “isonomia”, cuja principal característica entre as formas de governo, t
numeradas pelos antigos, consistia na ausência completa da noção de domínio. A polis seria um
ma democracia” (ARENDT, 2011, p. 58).
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Esta diferença fica muito clara no clássico texto de Benjamin Constant, Da liberdade do
odernos.
Esta diferença é expressa por David Ross nos seguintes termos: “a concepção aristotélica de
randemente da concepção moderna, pois tem em vista, não um governo representativo, mas s
ireto. O seu cidadão não tem somente a sua palavra a dizer a respeito da escolha dos seus legisl
ada cidadão deve realmente governar na sua vez, e não meramente no sentido de ser um membr
mas no sentido, bem mais importante para Aristóteles, de ajudar na elaboração das leis do seu est
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o executivo apenas compete a função, comparativamente mais pequena, de completar as leis q
nadequadas devido a sua generalidade. É com base nesta concepção elevada dos deveres
ristóteles restringe estritamente o corpo dos cidadãos. O camponês ou o lavrador, que pode
omo capazes de escolher os seus representantes, são naturalmente julgados incapazes de gove
ROSS, 1987, p. 253)
Flávio Pansieri
á forma ideal de governo. Aristóteles não olvida que todas elas possuem parcel
egativas e que em dado momento podem se desviar do rumo delineado. Em r
melhor é aquela que possa ser implementada, senão por todos, pela grande
idadãos, de modo a favorecer ao bem comum de todos e permitir que a po
bjetivo. E isto somente será possível pela forma mista, o meio termo entre a ari
emocracia.
O panorama político ideal seria a centralização no homem mais virtuoso,
ue viva para a polis e propicie o melhor para todos os cidadãos. Contudo
onsidera a monarquia inadequada por não conseguir unir força e virtude. A ar
melhor forma de governo, mas seu desarranjo ocorre pela facilidade com que
olíticos por não possuir base econômica permanente. Por outro lado, a democra
aristocracia por se pautar em uma noção falsa de igualdade plena. A virtude
stá na decisão tomada por grande número de pessoas, uma vez que a dec
majoritária é melhor que a minoria virtuosa. Desta forma, o governo constitucio
er o ideal, é aquele capaz de oferecer o melhor modo de vida aos cidadãos,
espeito a lei que salvaguarda a liberdade política.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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xercido pelos mais sábios, que deverão retornar à escuridão da irracionalidade p
s seus demais e comandar a política. Nesta arquitetura fundamental que
Callipolis, a cidade idílica que proporcionará a verdadeira justiça e tornará os cid
O regime de governo mais adequado aos seus desideratos é o aristocrático
onhecimento: Platão desenvolve uma cidade dividida por classes, em que todos
mesma educação e a divisão social ocorre pelo tempo em que cada indivíduo s
studos. A liberdade encontrará respaldo neste sistema, uma vez que livre
esempenha suas atividades na exata dimensão de suas capacidades, e a justiça es
uando cada um agir no seu domínio preestabelecido. Surge com esse pensado
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Flávio Pansieri
REFERÊNCIAS
_____, Hannah. Entre o Passado e o Futuro. 7 ed. São Paulo: Perspectiva, 201
_____. Ética a Nicômaco. 3 ed. São Paulo: Abril, 1984 (Os Pensadores).
eferences (1)
erraz. Estudos de Filosofia do Direito: reflexões sobre o Poder, a Liberdade, a Justiça e o Direito. São Paulo:
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