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Estudo da degradação de fachadas com rochas ornamentais

Study of the degradation of facades with ornamental stones

Carlos Cordeiro da Silva Santos Junior (1); Vinícius Almeida Coelho (2); Luanne Bastos de Britto
Barbosa (3); Milena Borges dos Santos Cerqueira (4); Francisco Gabriel Santos Silva (5).

(1) Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Bahia, Brasil.


(2);(3) Mestrandos no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPEC) pela Universidade
Federal da Bahia, Brasil.
(4) Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPEC) pela Universidade
Federal da Bahia, Brasil.
(5) Professor Doutor, Departamento de Construção e Estruturas, Universidade Federal da Bahia, Brasil.
Rua Prof. Aristídes Novis, 2 – Federação, Salvador, BA, 40210-630
fgabriel.ufba@gmail.com

Resumo
Mesmo diante do grande avanço nas técnicas de execução de acabamentos em fachadas, ainda existem
manifestações patológicas associadas ao assentamento de placas pétreas em revestimentos externos, cuja
solução eficaz ainda é de difícil alcance. Observando as diversas fachadas pelo Brasil, é possível identificar
que suas ocorrências se destacam em áreas litorâneas e centros de cidades. A presente pesquisa tem como
objetivo apresentar detalhes e procedimentos adequados para um projeto de fachada, revestido com placas
de pedras de mármore ou granitos, levando em consideração levantamento de dados feito em edificações da
cidade de Salvador-BA, com o propósito de aprofundar os conhecimentos e auxiliar profissionais do ramo de
Engenharia Civil no que diz respeito a prevenção, manutenção e reabilitação de fachadas, aumentando
assim, o grau de satisfação dos usuários e o conhecimento dos projetistas e engenheiros para futuros
edifícios. A metodologia adotada consta de coleta de dados através de visita técnica, com registros
fotográficos em diferentes edifícios da região metropolitana de Salvador-BA, com o intuito de auxiliar na
análise do objeto de estudo e na obtenção de soluções para enfrentar os problemas encontrados. Dentre as
principais manifestações patológicas identificadas, destacam-se os manchamentos, fissuras, colônias
biológicas e mudança de coloração. É significativa a necessidade do conhecimento das manifestações
patológicas nas fachadas com rochas ornamentais, para que assim, possa ser evitada sua ocorrência no
presente, bem como problemas futuros.
Palavra-Chave: Manifestações patológicas; fachadas; pedras ornamentais.

Abstract
Even in the face of the great advance in finishing techniques in facades, there are still pathological
manifestations associated with the settlement of stone plates in external claddings, whose effective solution is
still difficult to reach. Looking at the different facades in Brazil, it is possible to identify that their occurrences
stand out in coastal areas and city centers. The aim of this research is to present details and project procedures
for a facade covered with slabs of marble or granite, taking into account data collection made in buildings of
the city of Salvador-BA, with the purpose of deepening the knowledge and assist professionals in the field of
civil engineering with regard to the prevention, maintenance and rehabilitation of facades, thus increasing the
degree of user satisfaction and the knowledge of designers and engineers for future buildings. The
methodology adopted consists of data collection through a technical visit, with photographic records in different
buildings of the metropolitan region of Salvador-BA, with the purpose of assisting in the analysis of the study
object and in obtaining solutions to face the problems encountered. Among the main pathological
manifestations identified are staining, fissures, biological colonies and color change. There is a significant need
in knowing the pathological manifestations in the facades with ornamental stones, so that their occurrence in
the present, as well as future problems, can be avoided.
Keywords: Pathological manifestations; façades; ornamental stones.
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1 Introdução
Desde a pré-história, o homem utiliza de rochas para diversos fins construtivos, tanto para
áreas externas como internas. Tal utilização dava-se inicialmente pelos bons resultados
estéticos e ornamentais, posteriormente, pela grande resistência mecânica e durabilidade.
Até pouco tempo atrás, o uso das rochas ornamentais era restrito às construções luxuosas;
hoje está mais difundido nas residências e registra um acréscimo considerável, não só
pelas vantagens já explicitadas, mas também pelo preço que se tornou mais acessível. Este
aumento no consumo de placas pétreas para revestimento aumentou, em concomitância,
o consumo de argamassa para assentamento e rejuntamento, fazendo com que houvesse
um maior interesse nos procedimentos construtivos envolvendo rochas, bem como da
qualidade de aderência, tanto da argamassa com a placa quanto da mesma com o
substrato.
Mesmo diante do grande avanço tecnológico atual, ainda existem patologias associadas ao
assentamento de placas pétreas em revestimentos externos cujas soluções são de difícil
obtenção. Ribeiro e Barros (2010), salientam que a crescente série de problemas
patológicos ocorrentes nesses revestimentos vem prejudicando a sua utilização. Entre os
problemas mais usuais estão os manchamentos, fissuras, desplacamentos,
incompatibilidade entre produtos impermeabilizantes e escolha do tipo adequado de rocha.
Segundo Kondo (2003) vários critérios devem ser bem planejados para o sucesso do
sistema de revestimento, incluindo desde o custo e condições do meio ambiente até os
valores culturais dos usuários e capacitação de mão de obra.
Dada a necessidade de consolidar, organizar e ampliar os conhecimentos nesta área, este
estudo tem como foco identificar os principais tipos de manifestação patológicas associadas
ao uso de rochas ornamentais (mármore e granito) nas fachadas de edifícios com base em
levantamento de dados feito em edificações na cidade de Salvador-BA.

2 Fachadas
2.1 Sistema de revestimento
Os revestimentos das fachadas são de grande importância para as edificações. Segundo
Goldberg (1998), o principal objetivo deste sistema é separar o ambiente externo do interno
e atuar como uma barreira ou filtro seletivo, que permite o controle de uma série de forças
e ocorrências na edificação. Tal narrativa é complementada pelo exposto na NBR 13755
(ABNT, 1996), onde a função do revestimento externo é proteger a edificação da ação de
chuva, umidade, agentes atmosféricos, desgaste mecânico oriundo da ação conjunta do
vento e partículas sólidas e dar acabamento estético à edificação.
Para fachadas moldadas in loco tem-se dois modelos de execução: Aderentes e Aeradas.
O primeiro grupo é aquele onde as placas de rocha têm ligação direta com o substrato,
sendo composto pela base (substrato), chapisco, emboço, camada de argamassa de
assentamento e as placas de rochas com posterior preenchimento das juntas de
assentamento com rejunte. Tais camadas são descritas detalhadamente na NBR 13755
(ABNT, 1996), sendo um esquemático do sistema apresentado na Figura 1.

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Figura 1 – Camadas constituintes do modelo de revestimento aderente (CCB,2009)

As fachadas aeradas são aquelas onde as placas pétreas são fixadas no substrato por meio
de inserts metálicos (Figura 2), dispensando o uso de argamassa para sua aderência. Tal
grupo também é conhecido como fachadas respirantes pelo fato de ficarem afastadas do
substrato e permitirem o fluxo de ar entre as placas e a alvenaria, favorecendo o isolamento
térmico do edifício.

Figura 2 – Inserts metálicos do modelo de revestimento aerado (NASSIF, 2015)

2.2 Rochas ornamentais


Segundo a NBR 15012 (ABNT, 2003), as rochas ornamentais para revestimento são
aquelas que passam por processo de beneficiamento, em diferentes vertentes, a fim de
atender os diversos requisitos solicitantes, tanto para fins arquitetônicos como estruturais.
As rochas ornamentais necessitam passar por diversas análises que verifiquem a
compatibilidade da mesma com o ambiente proposto para sua instalação, sendo necessário
um aprofundamento de conhecimento de suas características mecânicas, químicas e
físicas, para a correta utilização de forma adequada.
A Tabela 1 apresenta os ensaios de caracterização aplicáveis a rochas ornamentais e as
respectivas normas técnicas que os regulamentam em diferentes institutos.

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Tabela 1 – Normas técnicas aplicáveis para caracterização de rochas ornamentais
Ensaio ABNT ASTM DIN AFNOR UNI AENOR
Análise petrográfica 12768 C-295 B-0301 9724/1
Coeficiente linear de dilatação térmica 12765 E-228
Desgaste Amsler 6481 C-241 52108 B-10518 2232 23183
Índices físicos 12766 C-97 52102 B-10503 9724/2 22182
52103 B-10504
Micro dureza Knoop 9724/6 22188
Módulo de deformabilidade elástica D-3148 2234
Resistência à compressão 12767 D-2938 52105 B-10509 9724/4 22185
C-170
Resistência à flexão 12763 C-99 52112 B-10510 9724/5 22186
C-880
Resistência ao impacto de corpo duro 12764 C-170 22189
Resistência à compressão após gelo e degelo 12769 52104 B-10513

2.2.1 Análise petrográfica

A descrição petrográfica de uma rocha é importante pois nela procura-se descrever as


características intrínsecas, analisando sua origem. Conhecimento da textura, estado de
alteração, quantidade de minerais constituintes, bem como sua natureza e
descontinuidades são características determinantes para entender o comportamento da
mesma perante determinadas agressões física e químicas (CHIOSSI, 1983). Todas essas
características, eventualmente podem comprometer a durabilidade da rocha.

2.2.2 Índices físicos

Os índices físicos de uma rocha são referentes às propriedades de peso especifico


aparente seco e saturado, porosidade efetiva e absorção de água. Conforme Grillo (2010),
uma rocha, em suas condições naturais, mostra-se como um agrupamento de minerais
interligados, sendo formada por seus minerais propriamente dito e pelos vazios entre eles.
É a variação da quantidade destes vazios que determinará características como a massa
específica e porosidade, influenciando diretamente na absorção de água.
O ensaio de índices físicos descrito pela NBR 12766 (ANBT, 1992) recomenda que seja
feito o aquecimento da rocha em estufa para a total retirada de água, seguindo-se com a
saturação da mesma em água à temperatura ambiente.
2.2.3 Resistência à compressão axial

É o ensaio que determina a tensão que provoca a ruptura da rocha quando solicitada por
esforços compressivos. Sua finalidade é avaliar a resistência da rocha quando utilizada
como elemento estrutural e obter um parâmetro indicativo de sua integridade física.

2.2.4 Resistência à flexão

Neste ensaio é determinada a tensão que provoca a ruptura da rocha quando submetida a
esforços de flexão. Com o resultado é possível aferir sua aptidão para uso em
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revestimentos, sendo particularmente importante para fins de dimensionamento das placas
a serem utilizadas no revestimento das fachadas onde a pressão do vento constantemente
gera esforço perpendicular à área da placa, especialmente quando do uso de ancoragem
metálica para sua fixação.
2.2.5 Resistência ao impacto de corpo duro

A NBR 12764 (ABNT, 1992) determina o ensaio a resistência ao impacto de corpo duro, em
uma placa de rocha de 20 x 20 x 3 cm, através de queda de uma esfera de aço com 6 cm
de diâmetro e massa de 1 kg, assentada sobre um colchão de areia. A esfera é solta, de
uma altura inicial de 20cm, em queda livre e, o procedimento é repetido aumentando a
altura de 5 em 5 cm até que a mesma provoque a fissuração ou quebra da placa. Este
ensaio visa fornecer um indicativo da firmeza da rocha.
2.2.6 Resistência à compressão após gelo-degelo

É um ensaio recomendado para as rochas ornamentais utilizadas em regiões de clima


temperado, nos quais é importante o conhecimento prévio da vulnerabilidade da rocha a
este processo de alteração. Segundo a NBR 12768 (ABNT, 1992) é o ensaio em que se
submete a amostra a 25 ciclos de congelamento e de degelo e verifica-se a queda de
resistência à compressão.
2.2.7 Ensaio de desgaste abrasivo Amsler

A resistência ao desgaste abrasivo está relacionada ao estado de desagregação dos


minerais das rochas e a dureza na escala de Mols. O ensaio avalia a redução de espessura
de placas de rocha após exposição a um percurso abrasivo de 1000 m no abrasímetro
Amsler. Este é um ensaio que visa simular a solicitação por atrito devido ao trânsito de
pessoas e veículos sobre as rochas.
2.2.8 Coeficiente de dilatação linear

A determinação do coeficiente de dilatação das rochas é importante para o


dimensionamento adequado do espaçamento das juntas em revestimentos de grandes
áreas, uma vez que o coeficiente de dilatação da rocha é diferente da argamassa, e isso
pode ocasionar, em últimos casos, o deslocamento da placa ou mesmo sua queda.

3 Patologias em rochas ornamentais


O estudo de patologias nas rochas é de significada importância para a durabilidade da
placa, uma vez que não existe atualmente técnicas de restauração e recuperação do
material rochoso (GRILLO, 2010). As manifestações patológicas em revestimentos pétreos
estão relacionadas à variação das rochas da qual se originam as placas, sendo
consequência da influência das propriedades de natureza da rocha e de parâmetros
induzidos pelo beneficiamento ou agentes ambientais (FLAIN; FRAZÃO; RIGHI, 2014).

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Este tipo de revestimento apresenta por muitas vezes deformidades de caráter estético,
que afeta o seu visual, ou de caráter funcional, quando não se obtém o desempenho
esperado (BRANCO, 2010).
Com o intuito de minimizar ou evitar a ocorrência de degradações no material rochoso
aplicado em fachadas, faz-se necessário o estudo de suas patologias para diagnosticar as
causas dessas adversidades, que em geral estão ligadas à incompatibilidade das condições
de utilização com as especificações dos materiais (propriedades e características das
rochas), emprego de técnicas de execução inadequadas, falta de projeto construtivo e falta
de controle de qualidade durante as etapas de produção.
Podem ser atribuídas à deterioração das edificações e de seus materiais, causas
relacionadas a fatores humanos, químicos, físicos e biológicos, incluindo a poluição
ambiental, vibrações, vandalismo e outros. Um exemplo típico da ação conjunta de agentes
degradantes é a chuva e vento incidindo sobre a parede externa, a qual pode oferecer
condições propícias para desencadear mecanismos de degradação, tais como fissuras de
retração, deficiência de aderência, fungos e bolor (SOUZA, 2005).
No Brasil, as principais causas da degradação destes materiais rochosos podem ser
agrupadas em:

 Intensas variações de temperatura e umidade;


 Ações químicas advindas de produtos de limpeza;
 Poluentes dispersos na atmosfera (SO2, CO2, CO, etc.)
 Adoção de procedimentos inadequados

3.1 Tipos de patologias mais comuns


3.1.1 Falhas de aderência

Diz-se que houve ruptura do sistema de ancoragem do revestimento quando a aderência


não é suficiente para suportar as solicitações impostas às placas da fachada, tendo como
possíveis causas a técnica de aplicação, dilatação térmica ou uso de argamassa
inadequada para fixação da placa.
O assentamento de placas de rochas de elevado peso e baixa porosidade, exige da
argamassa colante ou argamassa de cimento e areia, alto desempenho, em razão de
submeter o elemento de aderência a altos esforços cortantes e cargas de arrancamento.
Pela baixa deformabilidade das argamassas, as tensões tendem a provocar sua fissuração
e/ou seus desprendimento do substrato ou da placa de rocha (Figura 3).

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Figura 3 - Fissuração da argamassa de assentamento provocando desplacamento.

Outra situação corriqueira é a aplicação de argamassa com plasticidade inadequada ao


assentamento. Neste caso, as falhas e vazios têm resistência nula, o que auxilia a reduzir
a chamada extensão da aderência, que é definida como a área de efetivo contato entre
uma camada de argamassa no estado endurecido e a base sobre e sob a qual ela foi
aplicada. Com o intuito de enriquecer a plasticidade da argamassa, industrias incluem
aditivos em sua composição, para aumentar a capacidade de resistir à deformação e
facilitar a moldagem. A aplicação imprecisa das argamassas industrializadas pode também
diminuir a extensão da aderência por meio dos vazios entre os cordões de argamassa
(Figura 4).

Figura 4 - Aplicação deficiente de argamassa colante.

A variação térmica diária que o material é exposto também contribui para o destacamento
da placa, visto que, como exposto anteriormente, a movimentação térmica de um material
está relacionada às suas propriedades físicas e com a intensidade das variações de
temperatura, provocando assim variação dimensional (Figura 5).

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Figura 5 – Desplacamento por dilatação térmica.

3.1.2 Mudança de coloração

A mudança de coloração original das placas está associada a diversos fatores, sendo os
principais:

 Desgaste e/ou lixiviação de minerais pela ação das intempéries (chuva ácida,
rajadas de vento com partículas de areia em suspensão, etc.) e, principalmente,
por agentes de limpeza agressivos (Ex.: ácido muriático);
 Deposição de sujeira na superfície que pode produzir aspecto encardido;
 Amarelecimento em função de aplicação de produtos impermeabilizantes.

Figura 6 – Granito amarelo em avançado processo de perda de cor.

3.1.3 Manchas por umidade

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A água deslocando-se pela rocha, quer pela superfície, quer pelos canais internos, podem
ocasionar manchas e, com o decorrer do tempo, modificações dos minerais da rocha. As
variações do teor de umidade provocam movimentações de dois tipos:

 Irreversíveis: Sucedem geralmente após a produção das placas e são provocadas


devido à perda ou ganho de umidade até que o material atinja a umidade
higroscópica de equilíbrio.
 Reversíveis: Ocorrem por inconstância de umidade do material no decorrer do
tempo, limitando a certo período em que a placa estiver entre os limites seco e
saturado.

Esta umidade relaciona-se com:

 Existência de água adjunto à construção, como muros de arrimo (Figura 7);


 Elementos de fundação com impermeabilização ineficaz;
 Características tecnológicas da rocha conflitante com o uso. Por exemplo: elevada
porosidade e permeabilidade, presença de minerais impróprios, etc.

Figura 7 – Manchamento causado pela presença de umidade.

3.1.4 Manchas por presença de materiais secundários

As rochas são compostas por diversos minerais e, a presença de outros minerais podem
acabar modificando as características originais da rocha, podendo interferir na estética da
fachada. Com o contato, o mineral transforma-se em outro por decomposição, podendo
haver a liberação de certos elementos químicos. Os minerais mais susceptíveis à alteração
são os sulfetos de ferro amarelos, granadas ferríferas e as magnetitas. Todos adquirem um
tom avermelhado semelhante à coloração usual de ferrugem (Figura 8).

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Figura 8 - Manchamento devido à liberação de óxidos de ferro.

3.1.5 Umidade da argamassa

Devido a abundância de água de amassamento, que por exudação permeia nos poros no
sentido da argamassa para o meio externo, pode ocorrer manchas escuras com aspecto
molhado nas placas pétreas. Está água, por não estar quimicamente relacionada ao
cimento, está livre para preencher os poros das rochas, e se não dispuser da oportunidade
de se comunicar com o meio externo ela ficará aprisionada e dará o efeito de sombreamento
à placa.

Figura 9 – Contaminação generaliza por umidade advinda da argamassa.

3.1.6 Resinas de preenchimento

Frequentemente utilizada para a calefação de falhas, fissuras e rachaduras na superfície,


as resinas são utilizadas principalmente nos mármores, por se tratar de material muito
poroso. Entretanto pode haver ressecamento e destacamento da rocha, mesmo este
produto sendo especifico para tal uso.

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Figura 10 - Cavidade surgida pela perda de resina de preenchimento.

3.1.7 Fissuração

Irregularidades entre a camada de revestimento e o substrato em conjunto com o elevado


coeficiente de dilatação térmica das placas que são sujeitas as amplitudes térmicas
consideráveis e limitadas por juntas indeformáveis podem acarretar em trincas. Tem como
possíveis fatores: dilatações e contrações devido às variações de temperatura; atuação de
sobrecargas; presença de umidade; movimento de fundações; vibrações produzidas por
transito e descontinuidade entre a camada de revestimento e substrato.
Além da presença de fissuras na Figura 11 a seguir em que houve a tentativa de
preenchimento, no qual o material não apresentou o desempenho adequado, vale destacar
a calefação dos componentes de ancoragem que ficaram muito visíveis.

Figura 11- Fissuras generalizadas em revestimento de mármore.

3.1.8 Deterioração

Deterioração é definida como o conjunto de modificações nas características dos materiais


ao longo do tempo quando em comunhão com o ambiente no qual está inserido.
Inicialmente caracterizada por mudanças que implicam na sua degradação estética, a
deterioração pode chegar a determinados patamares que podem ser considerados
intoleráveis. A deterioração é uma linguagem subjetiva, mas com o avanço destas
modificações, o comprometimento, que até então é apenas estético, pode se traduzir em
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perda de resistência. Quando se tem a ocorrência de várias patologias, pode-se dizer que
o revestimento está deteriorado.
A utilização de minerais de fácil ou em estado avançado de decomposição, são uma das
possíveis origens de problemas generalizados, isso acontece por falta de uma correta
especificação. Um exemplo é a utilização do mármore “Bege Bahia”, muito utilizado no
Brasil como material para fachada, fato esse que não é recomendado, visto que o mesmo
é colmatado com resina e pode se decompor.

3.1.9 Falhas nos selantes

Os selantes são essenciais para vedar juntas contra infiltrações e também possibilitar alívio
de tensões térmicas experimentais pelas fachadas em detrimento de alterações térmicas.
Com o uso incorreto ou insuficiente pode ocorrer entrada de água e de agentes agressivos
causando infiltrações, e com o uso em excesso, ocasionar manchamento ao seu redor. Os
selantes, portanto, devem ser capazes de se manter íntegro e capaz de absorver
deformações durante sua vida útil.

Figura 12 - Manchamento por uso de selante inadequado.

3.1.10 Eflorescências

É corriqueiro o aparecimento de eflorescências em revestimentos de pedras porosas ou no


rejuntamento de revestimentos em contato com água de chuva, molhagem ou umidade, e
este fato ocorre devido ao elevado teor de hidróxidos, principalmente de cálcio, encontrados
no tipo de cimento utilizado na argamassa da execução do assentamento dos próprios
revestimentos.
A água ao permear pelos revestimentos e/ou seus rejuntes e trincas, dissolve os hidróxidos
do cimento, tornando-se alcalina. Ao encontrar condições de aflorar por percolação ou
evaporação, ocorre a formação das eflorescências (Figura 13).

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Figura 13 – Eflorescência em revestimento de granito.

3.1.11 Reforços por ancoragem

Na tentativa de criar maior aderência das placas ao substrato, muitas vezes são
empregadas soluções impróprias que podem trazer danos ao revestimento. Um exemplo
disso, é a tentativa de reforço com o uso de arame não galvanizado no verso das placas,
que, com o tempo ocorria a corrosão deste e consequentemente dano das placas (Figura
14).

Figura 14 – Manchamento por corrosão do arame de fixação.

3.1.12 Produtos de proteção superficial

Em fachadas é comum a aplicação de produtos ditos como impermeabilizantes para


prevenir a infiltração de água e suas consequências. Mas a falta de conhecimento por falta
de especificação, pode causar um efeito de fotodegradação causado pela exposição do
produto ao sol (Figura 15). Pode ocorrer ainda uma reação deletéria, que é uma
incompatibilidade do produto de proteção com os componentes mineralógicos da rocha.

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Figura 15 - Incompatibilidade entre produto de proteção superficial e a rocha.

3.1.13 Colônias biológicas

Nas fachadas, o surgimento de fungos, e de outros organismos como algas e líquens, causa
o aparecimento das manchas com tonalidades de acordo com a deterioração do substrato.
Pelo fato das fachadas receberem água de chuva e o possível desagregamento do material
do rejuntamento, é possibilitada a existência de plantas em pequenas fendas. Com o
crescimento da planta haverá um esforço de expansão das raízes que comprometerá a
estabilidade da fachada.

Figura 16 – Crescimento de plantas em nichos de rejuntamento.

4 Conclusão
Dado o exposto, observa-se que é significativa a necessidade do conhecimento das
manifestações patológicas nas fachadas com rochas ornamentais, sendo necessário a
análise desde a fonte da matéria-prima, sua produção, utilização e manutenção para que
assim se evite a ocorrência de problemas futuros e seja possível realizar a manutenção
mais adequada nas estruturas já existentes.

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5 Referências

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