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28º tema: Os avanços científicos e sociais contra a AIDS.

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máximo, 30 linhas.

Preconceito prejudica debate sobre aids no Brasil, diz pesquisadora


Isabela Palhares e Juliana Diógenes - O Estado de S. Paulo 05 Agosto 2015 | 03h 00

Enquanto em cidades dos Estados Unidos, 60% decidiu tomar o medicamento; no Brasil, 51,2% se interessou
pelo método
A coordenadora nacional da PrEP Brasil, Beatriz Grinsztejn, diz que, em comparação com outros países, falta
informação sobre aids no Brasil. Em algumas cidades norte-americanas, por exemplo, onde também são
desenvolvidas PrEPs, o engajamento dos voluntários é maior do que em São Paulo e no Rio de Janeiro. Estudos
realizados em São Francisco, Miami e Washington mostraram que a decisão de tomar o medicamento foi de 60% -
nas cidades brasileiras o envolvimento de participantes é 51,2%.
“Lógico que temos diferenças culturais. A nossa população tem menos informação em relação à PrEP do que outras
comunidades”, afirma a infectologista. Segundo ela, a decisão de tomar PrEP em outros locais do mundo é maior
entre pessoas que são mais conscientes e têm mais percepção do seu próprio risco. “O que nos traduz que precisamos
ter trabalho continuado de educação comunitária para que as pessoas tenham mais conhecimento e possam tomar
decisões informadas”, disse Beatriz.
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Apesar da aceitação maior em outros países, infectologista e coordenador médico do projeto PrEP Brasil, Ricardo
Vasconcelos, lembra que o uso do medicamento como forma de prevenção sofreu preconceito quando foi aprovado
para esse uso nos Estados Unidos, em 2012. Alguns grupos previam que o Truvada estimularia o não uso da
camisinha, o que poderia levar ao aumento de ocorrências de outras DSTs, como sífilis e gonorreia.
“A ideia não é que se deixe de usar a camisinha, mas nós sabemos que existe um grupo que já não usa o preservativo,
apesar das campanhas e da indicação. Se a pessoa não vai usar de maneira alguma, é melhor ter outra opção de
prevenção, que é o Truvada, que previne uma doença sem cura, que tem estigma e preconceito”, disse Vasconcelos.
Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto Emílio Ribas, também disse acreditar que na batalha contra a aids todas
as armas são válidas. “Se nós queremos trilhar na prevenção contra a doença temos que usar todos os meios. É muito
mais caro você tratar uma pessoa com aids, fora as complicações que traz pra vida do indivíduo, do que investir em
qualquer medicação.”
No Brasil, o medicamento, que é fabricado nos Estados Unidos, chegou a custar R$ 2 mil por 30 comprimidos.
Segundo Vasconcelos, no entanto, na última semana uma parceria entre o fabricante e o importador fez com que o
preço caísse para R$ 420,15.

Jovem Soropositivo - Pseudônimo de um jovem paulistano nascido em 1984, heterossexual, que


descobriu ser portador do HIV em outubro de 2010. Tenho HIV. Não posso entrar em 15
países (MAPA)
Publicado: 25/02/2014 11:41 BRT Atualizado: 27/04/2014 06:12 BRT

Com um tratamento que funciona perfeitamente e uma vida que é plenamente normal, o preconceito e a
discriminação acabam por ser a pior parte da vida de um soropositivo. No entanto, pela minha experiência desde o
diagnóstico, posso dizer que hoje eles são pontuais. E vou tentar apontar exatamente aonde estão.
Muitos juntam discriminação e preconceito num mesmo grupo. Mas aqui eu vou separá-los, por entender que existe
uma diferença sutil entre as duas definições. Segundo o dicionário, preconceito é um "conceito ou opinião formados
antes de ter os conhecimentos adequados". É o famoso "pré conceito", termo autoexplicativo. É até ingênuo, pois
presume que o agente teve pouca matéria-prima para emitir seu parecer mas, por alguma razão, emitiu assim mesmo.
Por sua vez, discriminar é "tratar de modo preferencial, geralmente com prejuízo para uma das partes". Em
certo sentido, é mais grave, pois não é preciso falhar em ter os conhecimentos adequados. Na discriminação não há
ingenuidade: é possível discriminar mesmo possuindo conhecimentos que sugiram o contrário.
As razões que levam alguém a discriminar me escapam. Entretanto, é o que acontece. E é situável geograficamente.
Segundo o relatório da Unaids de outubro passado, 41 países ou territórios restringem o tempo de estadia, impedem a
entrada ou deportam viajantes com HIV. Fazem parte deste grupo: Austrália, Cuba, Emirados Árabes Unidos, Egito,
Israel, Líbano, Nova Zelândia, Paraguai, República Dominicana, Rússia, Singapura, Síria, Taiwan e o território
britânico das Ilhas Turks e Caicos, entre outros.
Isso quer dizer que todo portador do vírus, seja com o intuito de turismo ou trabalho, não pode simplesmente comprar
uma passagem e arrumar as malas. Antes disso, deve verificar em sites como o HIV Restrictions ou no último mapa
compilado pela Unaids (abaixo) se o seu destino é um país em que ele ou ela é bem-vindo, permitindo a sua entrada e
permanência pelo tempo desejado.
A ONU classifica essas medidas segregatórias como uma violação às Diretrizes Internacionais sobre HIV/Aids e
Direitos Humanos. Segundo a organização, "qualquer restrição à liberdade de movimento ou escolha de residência
com base na suspeita ou real status de HIV, incluindo triagem de viajantes internacionais, é discriminatória. Nos
países que envolvem testes obrigatórios e falta de confidencialidade, há também a violação dos direitos à liberdade e
privacidade. Muitos migrantes não são informados que estão sendo testados para o HIV, não são informados dos
resultados, se informados não são aconselhados e não são encaminhados a serviços médicos -- um impacto
devastador sobre a saúde e bem-estar".
Sobre o preconceito, o primo ingênuo da discriminação, há relatos de casos graves, especialmente no começo da
epidemia. Já ouvi histórias de casais soropositivos que se viram obrigados a mudar de cidade. Crianças portadoras do
HIV tiveram de ser tiradas da escola. Indivíduos que vivem com HIV, ao revelarem sua condição, perderam o contato
com amigos e parentes.

Entretanto, nada disso se passou comigo. Foi apenas em dois únicos e pontuais momentos que senti em minha própria
pele o que poderia ser o preconceito. No primeiro, um médico dermatologista já com seus 70 anos de idade, a quem
visitei a certa altura após o diagnóstico. Uma vermelhidão que irritava a minha pele foi imediatamente diagnosticada
pelo doutor como decorrente do HIV, assim que contei ser soropositivo. "É do vírus", disse ele, olhando de longe,
sem me examinar ou tocar. O segundo caso foi com uma jovem estudante de 24 anos, com quem saí no ano passado.
Quando contei a ela sobre o HIV sua reação inicial foi de pânico, que perdurou por uma longa semana. O final não
foi tão feliz, com uma carta que deixou na portaria de meu prédio, recheada de palavras chorosas de despedida.
Por me enxergar como igual, um semelhante ao médico e à jovem, eu simplesmente não entendia por que a
compreensão deles era tão diferente da minha. Afinal, não há HIV na superfície da pele -- aliás, com a alta eficácia
dos antirretrovirais, o vírus mal está no sangue! Além disso, com camisinha e os conhecimentos médicos que descrevi
em meu primeiro post, eu sabia que poderia me relacionar amorosa e sexualmente com qualquer pessoa sem oferecer
risco algum de transmissão do vírus.

Dito isso, num insight, eu compreendi o que se passava: ambos o médico e a jovem sentiam medo, que é aquele
sentimento que habita nos lugares sombrios da nossa mente. Para resolvê-lo, era preciso trazer luz -- e rápido, antes
que este se tornasse maior. Era preciso esclarecer as coisas. Explicar e me fazer entender, com conhecimentos sólidos
a respeito da realidade do HIV e mostrando a vida normal que um soropositivo tem hoje. E foi isso o que eu fiz.
Insisti com o dermatologista que ele estava errado, explicando que seu colega infectologista já havia descartado
completamente a possibilidade da vermelhidão ter sido causada pelo vírus. Afinal, minha contagem de células CD4
do sistema imunológico e meu quadro clínico descartavam completamente a possibilidade de doenças oportunistas.
Vencido pelos meus argumentos, o doutor finalmente decidiu me examinar e a pomada que terminou por me receitar,
contra uma dermatite típica dos meses de verão, funcionou perfeitamente! A jovem, por sua vez, entrou em contato
comigo alguns meses depois. Me contou que leu, aprendeu e confirmou o que eu havia dito a ela a respeito do estudo
HPTN 052, o mesmo que citei em meu primeiro post, e sobre a abrangente margem de segurança oferecida pelo uso
da camisinha. Com isso, ela estava disposta a me reencontrar. (Mas não continuamos o relacionamento por motivos
que devo contar num outro momento.)

Com a conclusão dessas histórias, ficou evidente para mim que existe remédio para o preconceito. E esse remédio é a
informação. Do mesmo modo, para a discriminação também há tratamento. Em 2012, 40 CEOs, presidentes,
executivos e diretores de empresas se uniram na defesa dos portadores de HIV em nossa luta contra as restrições
segregatórias de viagem. Nessa lista, diga-se de passagem, figuram representantes de empresas que são verdadeiros
pesos pesados, como: Coca-Cola, Gap, Getty Images, Heineken, Johnson & Johnson, Levi Strauss & Co., National
Basketball Association (NBA), Pfizer, Thomson Reuters, Y&R e MTV International, entre outros. É tarde demais
para ser pessimista.
Os avanços
científicos e sociais
contra a AIDS

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