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HIV/AIDS:
CURITIBA
2016
JOÃO PEDRO DE CASTRO NASCIMENTO
HIV/AIDS:
CURITIBA
2016
Aos meus pais, meus mestres e meus amigos.
RESUMO
1
TRIDAPALLI, Elidia. Aids e Seus Impactos nas Relações de Trabalho: Uma Discussão
Doutrinária e Jurisprudencial. Florianópolis: Editora OAB/SC, 2003. p. 19.
2
A história da descoberta da AIDS. Disponível em <http://www.cienciahoje.org.br > (Acesso em
20 out. 2016)
11
3
TRIDAPALLI, Elidia. Aids e Seus Impactos nas Relações de Trabalho: Uma Discussão
Doutrinária e Jurisprudencial. Florianópolis: Editora OAB/SC, 2003. p. 27.
4
Informações disponíveis no site da UNAIDS, que tem por objetivo ampliar as forças
combativas e preventivas para promover qualidade de vida aos portadores.
<http://unaids.org.br/estatisticas/>
5
Disponível em <http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2016/59291
boletim_2016_1_pdf_16375.pdf> Acesso em 20/11/2016.
12
ao Rio Grande do Sul (10,2 óbitos\100 mil habitantes) e Rio de Janeiro (8,7
óbitos\ 100 mil habitantes).
6
Disponível em < http://unaids.org.br/informacoes-basicas/> Acesso em 22/11/2016.
13
7
Disponível em <http://abiaids.org.br> Acesso em 20/12/2016.
8
Scheffer, M.; Salazar, A. & Grou,K. (2005). O Remédio via Justiça: Um estudo sobre o acesso
a novos medicamentos e exames em HIV/ Aids no Brasil por meio de ações judiciais.Brasília:
Ministério da Saúde
9
BRASIL. Lei nº 9.313 de 14 de Novembro de 1996. Dispõe sobre a distribuição gratuita de
medicamentos aos portadores do HIV e doentes de AIDS. Lei. Brasília, DF. D.O.U. de
14.11.1996.
15
13
Supremo Tribunal Federal - STA: 175 CE, Relator: Min. Gilmar Mendes, Data de Julgamento:
16/06/2009, Data de Publicação: DJe-117 DIVULG 24/06/2009 PUBLIC 25/06/2009.p. 23.
14
GODOY, Miguel Gualano de. Constitucionalismo e democracia: uma leitura a partir de
Carlos Santiago Nino e Roberto Gargarella. São Paulo: Saraiva, 2012. P. 152.
18
15
STA 162/RN, DJU: 25/10/07; SL 188/SC, DJU: 01/02/08; STA 138 RN, DJU19/09/07; SS
3345/RN, DJU 19/09/07.
19
16
BARBOSA, Magno Luiz. AIDS: O Direito e Algumas Reflexões Sobre seu Impacto nas
Relações de Emprego. 1. ed. (ano 2007). 1. reimpr. Curitiba: Juruá, 2011.p 29.
17
Disponível em < http://unaids.org.br/terminologia/> Acesso em 21/11/2016.
20
vivendo com HIV. Ainda indica que não existe teste de AIDS e sim de HIV,
além de não existir indivíduo infectado com AIDS.
A entidade ainda traz outros termos que devem ser evitados. Tal
abordagem é importante para acabar com o preconceito inclusive no ambiente
laboral, sendo importante ao passo de que pessoas descriminadas ou que
vejam descriminação ao seu redor podem ficar inertes em procurar
tratamentos, ajuda de profissionais, informar o parceiro sexual de sua situação,
usar preservativos com receio de que desconfiem de sua sorologia, dificultando
o combate a epidemia que assola o mundo.
Vemos em nossa sociedade alguns estigmais, que são fatores de
diferenciação normalmente injustificados, gerando a exclusão social e a
neutralização das qualidades do indivíduo18.
18
BACILA, Carlos Roberto. Estigma – um estudo sobre preconceitos. Rio de Janeiro: Lúmen
Júris, 2005. p. 28.
21
19
GODOY, Miguel Gualano de. Op. cit.,p. 151.
22
23
ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de. Os direitos do trabalhador portador do HIV. In Revista
eletrônica [do] Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região : Vol. 3, n. 27 (jan./fev. 2014) p.9.
24
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar
perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista
neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o
quarto grau.
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando
importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma
estabelecida em lei especial.
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo,
no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico
ou a intervenção cirúrgica.
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção
da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a
exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu
requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama
ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. (Vide ADIN 4815)
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer
essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado,
adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
25
REALE, Miguel. Os direitos da personalidade. Disponível em
<http://www.miguelreale.com.br /artigos/dirpers.htm> Acesso em: 24 nov. 2016.
24
Desta feita, tem-se, por exemplo, que o trabalhador não pode ter seu
direito de pleitear um emprego, cargo público ou colocação apenas pelo motivo
de ser portador de HIV. Praticas discriminatórias são largamente rechaçadas
por lei que serão abordadas em momento posterior deste trabalho.
26
GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1998. P 131.
27
AZEVEDO. Marcos de Almeida Villaça. AIDS e Responsabilidade Civil. São Paulo: Editora
Atlas S.A, 2002. P. 59.
28
SILVA. José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 21ª ed. São Paulo:
Melheiros Editores, 2002. p. 200
25
29
BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional
contemporâneo: natureza jurídica, conteúdos mínimos e critérios de aplicação. Versão
provisória para debate público. Mimeografado, 2010. Disponível em:
<http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/uploads/2010/12/Dignidade_texto-
base_11dez2010.pdf>. Acesso em 25 nov 2016
30
SARLET, Ingo Wolfgang. A dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais na
Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. P. 60
31
SILVA. José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 21ª ed. São Paulo:
Melheiros Editores, 2002. p. 204.
32
J, Matos Pereira, Direito de Informação, p.15 in SILVA. José Afonso da. Curso de Direito
Constitucional Positivo. 21ª ed. São Paulo: Melheiros Editores, 2002. p. 205.
26
33
Disponível em < http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/1992/1359_1992.htm>
Acesso em 24 nov. de 2016.
27
Que o portador de HIV deve ser protegido largamente por conta de suas
condições mais frágeis não temos dúvidas, porém quando estes direitos entram
na esfera de proteção de outrem, do Direito Fundamental de terceiros, qual é a
resposta que temos frente às proteções existentes?
34
SILVA. José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 21ª ed. São Paulo:
Melheiros Editores, 2002. p. 207.
35
SILVA. José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 21ª ed. São Paulo:
Melheiros Editores, 2002. p. 208.
36
AZEVEDO, Marcos de Almeida Villaça. AIDS e Responsabilidade Civil. São Paulo: Editora
Atlas S.A., 2002. p. 114.
37
TRIDAPALLI, Elidia. AIDS e seus impactos nas relações de trabalho, uma discussão
doutrinária e jurisprudencial. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003. p. 154.
28
38
Art. 131 do Código Penal: “Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que
está contaminado, ato capaz de produzir o contágio – Pena: reclusão, de 01 (um) a 04 (quatro)
anos, e multa.”
39
AZEVEDO. Marcos de Almeida Villaça. AIDS e Responsabilidade Civil. São Paulo: Editora
Atlas S.A, 2002. P. 67.
40
Acordo Coletivo da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos 2014/2015. Disponível em
<http://blog.correios.com.br/acordocoletivo/wp-content/uploads/2014/11/Proposta-da-ECT-para-
o-Acordo-Coletivo-de-Trabalho-2014-2015-16-09-2014.pdf> Acesso em 01/12/2016.
29
41
Definição em <https://www.dicio.com.br/preconceito/> Acesso em 20 nov. 2016
42
Declaração Política sobre HIV e AIDS: Acelerar a Resposta para lutar contra o HIV e acabar
com a epidemia de AIDS até 2030. Disponível em <http://unaids.org.br/wp-
content/uploads/2016/11/2016_Declaracao_Politica_HIVAIDS.pdf> Acesso em 24 nov. 2016.
30
43
BRASIL. Lei nº 12.984, de 17 de junho de 2014. Define o crime de discriminação dos
portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e doentes de aids. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12984.htm> Acesso em 22 nov.
2016.
31
o
Art. 1 É proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e
limitativa para efeito de acesso à relação de trabalho, ou de sua
manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil,
situação familiar, deficiência, reabilitação profissional, idade, entre
outros, ressalvadas, nesse caso, as hipóteses de proteção à criança
o
e ao adolescente previstas no inciso XXXIII do art. 7 da Constituição
Federal.
Art. 2º Constituem crime as seguintes práticas discriminatórias:
44
Organização Internacional do Trabalho (OIT). Convenção nº 111: Convenção sobre
Discriminação (Emprego e Ocupações), 1958. Disponível em:
<http://www.oitbrasil.org.br/node/472>. Acesso em 23 nov. 2016
32
Porém, tal lei não foi capaz de abarcar o tema AIDS e HIV em seus
incisos, não sendo utilizada por juízes para promover a reintegração de
portadores de tal doença quando da dispensa discriminatória, como prevê os
artigos 4º desta Lei, que foi capaz de proteger apenas as discriminações
taxadas em lei46.
Mais tarde, no ano de 2010, a OIT voltou a tratar do tema discriminação,
agora com enfoque especial sobre o HIV com a Recomendação 200, lançando
cartilha contendo várias diretrizes a serem tomadas pelos países signatários.
Vejamos algumas delas47:
45
BRASIL. Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995. Proíbe a exigência de atestados de gravidez e
esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos admissionais ou de permanência
da relação jurídica de trabalho, e dá outras providências. Disponível em <http://www.
planalto.gov.br/cCivil _03/LEIS/L9029.HTM> Acesso em 23 nov. 2016.
46
GUALAZZI, Alexandre Augusto. “AIDS” e direito do trabalho – questões de direito
material e processual – São Paulo: LTr, 2005. P. 46.
47
Organização Internacional do Trabalho (OIT). Recomendação Sobre o HIV e a AIDS e o
Mundo do Trabalho, 2010. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/content/recomendação-
sobre-o-hiv-e-aids-e-o-mundo-do-trabalho>. Acesso em 23 nov.2016
33
50
Consolidação das Leis do Trabalho- “Art. 168 - Será obrigatório exame médico, por conta do
empregador, nas condições estabelecidas neste artigo e nas instruções complementares a
serem expedidas pelo Ministério do Trabalho:
I - a admissão;
II - na demissão;
III – periodicamente.
§ 1º - O Ministério do Trabalho baixará instruções relativas aos casos em que serão exigíveis
exames:
a) por ocasião da demissão;
b) complementares.
§ 2º - Outros exames complementares poderão ser exigidos, a critério médico, para apuração
da capacidade ou aptidão física e mental do empregado para a função que deva exercer.”
51
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora
Objetiva, 2001.
52 a
CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 2 . Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.
35
sendo tido como uma indenização inconcebível. Porém com o tempo, viu-se
que o que estava indenizando era à vítima lesada, balanceando os danos
sofridos com algo reparado em troca deste dano53.
O direito à personalidade tem papel central na indenização por dano
moral, devendo ser protegidos aspectos interiores e exteriores da pessoa a fim
de proteger a dignidade da pessoa humana.
No âmbito laboral as ofensas capazes de gerar dano moral estão
presentes pela própria estrutura que se dão as relações de emprego.
Geralmente ocorrem em relação ao empregado, o que não obsta que ocorram
com o empregador.
Tais ofensas podem ser através do assédio moral, que se caracteriza por
toda e qualquer conduta abusiva em forma de comportamentos, palavras, atos
e gestos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou a integridade
física ou psíquica da pessoa54.
O quantum indenizatório é avaliado de caso a caso, não havendo um
parâmetro pré-estabelecido, pois cada caso é diferente e deve ser analisado,
cada ser humano absorve uma ofensa de maneira diferente do outro.
No Direito do Trabalho o dano moral é caracterizado com a constatação
de três premissas, são elas: o impulso do agente, o resultado lesivo e o nexo
etiológico ou causalidade entre o dano e a ação alheia55.
Pode ser caracterizado também por força de abuso de direito, no caso do
empregador, um abuso comumente visto no Direito do Trabalho é a dispensa,
que para não ser considerada abusiva e imotivada deve fundar-se em
motivação disciplinar, técnica, econômica ou financeira. Dispensas por justa
causa sem fundamentos são as que mais geram direitos a danos morais.
Quando o empregador despede o empregado com acusações de
incompetência, desonestidade, insubordinação, entre outras, ele ofende o
crédito, o bom nome, o conceito social e até o lar do trabalhador56.
53
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à pessoa humana. Uma leitura civil-
constitucional dos danos morais. Rio de Janeiro : Editora Renovar, 2003, p. 146.
54
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral: a violência perversa no cotidiano.Tradução de
a
Maria Helena Kuhner. 12 . edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010, p. 65.in MIKOS, Nádia
Regina de Carvalho. Indenização Para Reparação De Dano Moral Sofrido Pelo Empregado:
Incertezas E Efeitos Dos Critérios Doutrinários e Jurisprudenciais. Curitiba, 2011. p 58.
55
BARBOSA, Magno Luiz. Op. Cit..p 94.
56
BARBOSA, Magno Luiz. Op. Cit..p 96.
36
57
PARANÁ; Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. Acórdão 2ª Turma. Des. Marlene T.
Fuverki Suguimatsu. Disponível em <http://www.trt9.jus.br/internet_base/
jurisprudenciaman.do?evento =Editar&chPlc=4065408> Acesso em 24 nov. 2016.
58
BARBOSA, Magno Luiz. Op. Cit..p 102.
37
62
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito contemporâneo do trabalho. São Paulo. Saraiva,
2011, p. 405
63
CERVO, Fernando Antônio Sacchetim. A livre iniciativa como princípio da ordem
constitucional econômica. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/26778/a-livre-iniciativa-
como-principio-da-ordem-constitucional-economica> Acesso em 01 dez. 2016.
64
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. 2 ed. São Paulo. Malheiros, 2011, p. 92.
65
BELMONTE, Alexandre Agra. Ministro Alexandre Agra Belmonte fala sobre liberdade de
expressão no trabalho. Brasilia, 18 nov. 2012. Entrevista concedida a Carmem Feijó e
Ricardo Reis. Disponível em <http://www.tst.jus.br/web/guest/pmnoticias/-
/asset_publisher/89Dk/content/ministro-alexandre-agra-belmonte-fala-sobre-a-liberdade-de-
40
Podemos ainda recorrer a análise da Lei nº 9.029/95 em seu art. 2º, que
trata da gestante, considerando crime a exigência de testes ou exames
relativos à esterilização ou o estado de gravidez, em uma interpretação
analógica pode servir aos testes para detecção de vírus HIV na corrente
sanguínea do candidato.
Os exames admissionais devem se pautar a avaliar a aptidão do
candidato aquela função pretendida, visando a manutenção e promoção da
saúde e da qualidade de vida, garantindo que a saúde do empregado seja a
mesma no momento da contratação e da possível futura dispensa67, para fins
de comprovar possível desenvolvimento de doença laboral ou provar que tal
estado já era presente antes da contratação, servindo de escudo para
possíveis processos. Ainda a boa relação de trabalho deve ser regida pela boa-
fé e pela ética, aspectos que o portador de HIV não teve afetação alguma pelo
simples fato de sua infecção.
Uma vez contratado, a infecção pelo HIV não constitui justa causa,
tampouco motivo justificado para interrupção no contrato de trabalho, como
atenta Alice Monteiro de Barros68. Sendo refutadas quaisquer práticas que
venham a configurar ato preconceituoso ou discriminatório contra o individuo
portador do HIV.
No mesmo passo, não podem ser exigidos exames sorológicos durante a
vigência do contrato, apesar da previsão da CLT de exames periódicos para
avaliação física do empregado, que devem se restringir, como já dito, às
aptidões do funcionário ao exercício de suas funções laborais, sendo uma
afronta aos princípios constitucionais a obrigatoriedade de submissão dos
funcionários à exames de HIV.
A responsabilidade social da empresa é essencial para promover a saúde
e segurança de seus funcionários. Quando se trata de empregados portadores
de HIV esta responsabilidade aparece de maneira mais forte ainda. Esta
responsabilidade está expressa em várias Convenções e Recomendações da
OIT, em Declarações da Organização Mundial da Saúde e de ONG’s
espalhadas pelo mundo.
67
BARBOSA, Magno Luiz. Op. Cit.p 124.
68
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 6. ed.São Paulo: LTr, 2010.p.
1202.
42
69
BARROS, Alice Monteiro de. Proteção à Intimidade do Empregado. 2. Ed. São Paulo: LTr,
2009. p. 96.
70
Repertório de recomendações práticas da OIT sobre o HIV/Aids e o mundo do trabalho
/ Organização Internacional do Trabalho, [Programa da OIT sobre HIV/AIDS e o Mundo do
Trabalho].—3ª ed. - Brasília: OIT, 2010. Disponível em
<http://www.oit.org.br/sites/default/files/topic/hiv_aids/pub/repertorio_hivaids_2010_278.pdf>
Acesso em 01 dez. 2016.
71
In: Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. Revista Eletrônica Trabalho e HIV, v.3,
n.27, jan/fev. 2014. p. 169.
43
72
CRUZ, Paulo de Tarso Rocha da; ARAÚJO, Hellom Lopes. Estigma ou Preconceito? Uma
análise crítica da Súmula 443 do TST à luz da condição jurídica do empregado portador
do Vírus HIV ou de outra doença grave. Revista Pensar Direito, v.5, n. 2, Jul./2014. p. 6.
44
73
CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 3. ed. rev. e atual. Niterói: Impetus, 2009. p.
357 in GUNTHER, Luiz Eduardo. O HIV e a AIDS : preconceito, discriminação estigma no
trabalho : aplicação da Súmula 443 do Tribunal Superior do Trabalho. Revista eletrônica [do]
Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Curitiba, PR, v. 4, n. 42, p. 46-67, jul. 2015.
74
ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de. Os Direitos da Personalidade e o Trabalhador Portador
do Vírus HIV. Revista Eletrônica Trabalho e HIV. Tribunal Regional do Trabaho 9ª Região. n.
27 – Jan/Fev 2014. p. 15. Disponível em
https://ead.trt9.jus.br/moodle/pluginfile.php/24243/mod_ resource. Acesso em 23 nov. 2016.
75
Lei nº 7670/88: “O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o Congresso Nacional
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA/AIDS fica considerada, para os efeitos
legais, causa que justifica:
I - a concessão de:
a) licença para tratamento de saúde prevista nos artigos 104 e 105 da Lei nº 1.711, de 28 de
outubro de 1952;
b) aposentadoria, nos termos do art. 178, inciso I, alínea b, da Lei nº 1.711, de 28 de outubro
de 1952;
c) reforma militar, na forma do disposto no art. 108, inciso V, da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro
de 1980;
d) pensão especial nos termos do art. 1º da Lei nº 3.738, de 4 de abril de 1960;
e) auxílio-doença ou aposentadoria, independentemente do período de carência, para o
segurado que, após filiação à Previdência Social, vier a manifestá-la, bem como a pensão por
morte aos seus dependentes;
II - levantamento dos valores correspondentes ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -
FGTS, independentemente de rescisão do contrato individual de trabalho ou de qualquer outro
tipo de pecúlio a que o paciente tenha direito.
Parágrafo único. O exame pericial para os fins deste artigo será realizado no local em que se
encontre a pessoa, desde que impossibilitada de se locomover.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.”
76
Lei nº 8.213/91: “Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças mencionada no inciso II
do art. 26, independe de carência a concessão de auxílio-doença e de aposentadoria por
invalidez ao segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido das seguintes doenças:
45
Maria Inês de Assis Romanholo81 fez uma análise com base na obra de
Robert Alexy de alguns casos em que os princípios de liberdade de iniciativa e
da dignidade da pessoa humana tiveram que ser confrontados, como dito
anteriormente, um princípio deverá ceder, não significando a invalidade do
cedente, em relação ao outro em determinada situação e sob determinadas
condições.
De um lado está o direito do empregador de dirigismo de seus negócios,
exercendo a livre iniciativa e demitindo sem justa causa. De outro, a proibição
de discriminação e a igualdade de tratamento. Qual deveria prevalecer?
Na análise feita sob a ótica da presente monografia a resposta pode ser
fácil, porém se trata de um hard case, onde não temos um princípio que se
mostre absoluto em relação ao outro, devendo ser analisado a fundo e
79
MUÇOUÇAH, Renato de Almeida Oliveira. A educação em direitos humanos pelo direito ao
trabalho: o reconstruir do signo de estar soropositivo. Revista LTr. Legislação do Trabalho, v.
71,2007, p. 590.
80
PIMENTA, Raquel Betty de Castro. A Súmula nº 443 do TST e a reintegração do
empregado portador do vírus HIV ou de doença grave. Revista do TST, volume. 79, nº 3 de
jul/set 2013. Brasilia. p. 231.
81
ROMANHOLO, Maria Ines de Assis. A Colisão entre livre iniciativa e Direito Fundamental
à Igualdade de Tratamento, com Proibição de Discriminação, Na Súmula 443 do TST.
Revista de Direito da Universidade Federal de Viçosa. Jul/Dez 2014. V.6. n. 2, p. 168 e
seguintes. Disponível em <http://www.seer.ufv.br /seer/revdireito/index.php/RevistaDireito-
UFV/article/view/83> Acesso em 24 nov. 2016.
47
82
TRIDAPALLI, Elidia. AIDS e Seus Impactos nas Relações de Trabalho: Uma Discussão
Doutrinária e Jurisprudencial. Florianópolis: Editora OAB/SC, 2003. p. 114.
83
Ibidem, p. 114.
49
[...]
o
§ 1 Consideram-se doenças graves, contagiosas ou incuráveis, a
que se refere o inciso I deste artigo, tuberculose ativa, alienação
mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira posterior ao
ingresso no serviço público, hanseníase, cardiopatia grave, doença
de Parkinson, paralisia irreversível e incapacitante, espondiloartrose
anquilosante, nefropatia grave, estados avançados do mal de Paget
(osteíte deformante), Síndrome de Imunodeficiência Adquirida - AIDS,
e outras que a lei indicar, com base na medicina especializada.
84
TNU aprova súmula 78. Brasilia, 12/09/2014. Disponível em
<http://www.cjf.jus.br/cjf/noticias/2014/setembro/tnu-aprova-sumula-78> Acesso em 28 nov.
2016.
85
TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS.
Disponível em < http://www.jf.jus.br/phpdoc/virtus/sumula.php?nsul=78> Acesso em 02 dez.
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contribuinte para que sua dignidade seja respeitada mesmo que sua saúde
exterior, seu físico não demonstre fraquezas.
A pensão por morte é outro direito previdenciário previsto aos
dependentes do portador de HIV, também presente no art. 1º, I, “e” da Lei
7.670/88.
Outro importante auxílio ao soropositivo é o Saque do FGTS, que
independe da rescisão do contrato de trabalho, assim como o saque do PIS-
PASEP, em interpretação ampliativa do dispositivo expresso no artigo 1º, II da
Lei nº 7.670/88:
Art. 1º A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA/AIDS fica
considerada, para os efeitos legais, causa que justifica:
II - levantamento dos valores correspondentes ao Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço - FGTS, independentemente de rescisão do
contrato individual de trabalho ou de qualquer outro tipo de pecúlio a
que o paciente tenha direito.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Tribunais, 2000.
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à pessoa humana. Uma leitura
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2003.
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STA 162/RN, DJU: 25/10/07; SL 188/SC, DJU: 01/02/08; STA 138 RN,
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PUBLIC 10/05/2010.
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