Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE


FEDERAL DE JUIZ DE FORA

Tipo do POP.UR.FON.025 - Página 1/5


PROCEDIMENTO / ROTINA
Documento
Título do AVALIAÇÃO DE PACIENTES ADULTOS E IDOSOS Emissão: 14/05/2021 Próxima revisão:
Documento COM DISARTRIA NO SERVIÇO DE Versão: 01 14/05/2023
FONOAUDIOLOGIA

1.OBJETIVOS
Descrever e padronizar as condutas de avaliação para adultos e idosos com disartria
no Ambulatório de Fonoaudiologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora
(HU-UFJF) – Unidade Dom Bosco.

2.INTRODUÇÃO
A avaliação é fundamental para prática clínica com o objetivo de caracterizar
qualitativamente os aspectos para os quais o paciente apresenta maiores dificuldades.
Para contextualizar a necessidade de intervenções nessa área, cabe destacar que a
disartria é um distúrbio de fala, de origem neurogênica, ou seja, resultado de uma lesão no
mecanismo nervoso (central e/ou periférico), que regula os movimentos da fala, caracterizado por
fraqueza, lentidão, imprecisão, além de afetar a respiração, fonação, ressonância, articulação e
prosódia. Com sua etiologia podendo ser secundária ao acidente vascular cerebral; traumatismo
crânio encefálico; tumor benigno ou maligno no cérebro, cerebelo ou tronco cerebral; enfermidades
infeciosa, metabólica, tóxica ou degenerativa do sistema nervoso central ou periférico, cresce a
necessidade de que o tempo adicional acrescido à expectativa de vida seja vivido em condições de
saúde adequada, boa qualidade de vida e, em especial, que o desempenho articulatório continue
preservado (HUANG, 2019).
Na literatura são encontrados diferentes tipos de disartria, e suas características
podem variar de acordo com o local e o tamanho da lesão neurológica ou a doença que provoca o
problema. Os principais tipos incluem:
 Disartria flácida: é uma disartria que, geralmente produz uma voz rouca,
monótona, hipernasalidade, pobreza da inteligibilidade e consoantes imprecisas (devido flacidez),
pobre abertura labial, sialorréia e redução dos movimentos alternados de língua. Costuma
acontecer em doenças que provocam lesão no neurônio motor inferior, como miastenia gravis ou
paralisia bulbar, por exemplo.
 Disartria espástica: provoca uma voz anasalada, imprecisão consonantal e
vocálica, gerando uma voz tensa e “estrangulada”. Pode estar acompanhada de espasticidade e
reflexos anormais dos múculos da face. Mais frequente em lesões do neurônio motor superior,
como na esclerose lateral amiotrófica e traumatismo crânio encefálico.
 Disartria atáxica ou cerebelar: lesão no cerebelo em que os movimentos se
tornam incoordenados, fala lentificada, monótona, imprecisão articulatória, fadiga nos aspectos
articulatórios e prosódicos, tremores nos lábios e língua. Pode lembrar a fala de alguém alcoolizado.
Costuma surgir na situações em que há lesões relacionadas à região do cerebelo.
 Disatria hipocinética: imprecisão articulatória (devido flacidez), voz rouca,
soprosa e trêmula, havendo também alteração na velocidade da fala e tremor de lábios e língua.
Pode ocorrer em doenças que provocam alterações na região do cérebro chamada gânglios de base,
mais comum na doença de Parkinson.
 Disartria hipercinética: ocorre uma distorção na articulação das vogais,
provocando uma voz rouca-áspera e com interrupção na articulação das palavras. Movimentos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE JUIZ DE FORA

Tipo do POP.UR.FON.025 - Página 2/5


PROCEDIMENTO / ROTINA
Documento
Título do AVALIAÇÃO DE PACIENTES ADULTOS E IDOSOS Emissão: 14/05/2021 Próxima revisão:
Documento COM DISARTRIA NO SERVIÇO DE Versão: 01 14/05/2023
FONOAUDIOLOGIA

voluntários mioclônicos (espasmos). Pode acontecer em casos de coréia, tiques ou distonia, por
exemplo.
 Disartria mista: apresenta alterações características de desordens do sistema
nervoso que afetam mais de um tipo de disartria, e pode acontecer em diversas situações, como na
esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica, doença de Wilson ou traumatismo crânio
encefálico, por exemplo.
O presente protocolo pretende traçar os critérios de avaliação que norteará o
fonoaudiólogo no tratamento de cada caso, auxiliando-o na escolha das estratégias a serem
utilizadas, a fim de minimizar os comprometimentos articulatórios, favorecendo a sua comunicação.

3.MATERIAIS NECESSÁRIOS

Materiais visuais (figuras), auditivo (reconhecimento pelo som) e verbal (fala


espontânea).

4.DESCRIÇÃO DOS PROCEDIMENTOS

4.1 Responsáveis pela execução


Fonoaudiólogo.

4.2 Atribuições
Inicialmente, os pacientes passam por uma triagem, para verificar a elegibilidade
para a terapia fonoaudiológica. Além disso, quando necessário, são encaminhados para outras
especialidades e/ou para realização de exames.
Quando o atendimento do paciente é agendado no Ambulatório de Fonoaudiologia,
inicia-se a aplicação de uma anamnese detalhada e em seguida realiza-se a avaliação da disartria
por meio de protocolo específico.
Os atendimentos são individuais, realizados no Ambulatório de Fonoaudiologia, no
setor de Métodos Gráficos – Unidade Dom Bosco, ocorrem semanalmente e têm duração de 30
minutos.
Na anamnese, serão investigadas a história pregressa da doença, sendo especificados
o tipo e a data da lesão, as sequelas e/ou alterações observadas, os antecedentes individuais e
familiares, as habilidades e dificuldades de articulação na disartria, e os aspectos motor, psicológico
e sociocultural.
Na avaliação serão propostas atividades para que sejam observadas as habilidades e
déficits do paciente a respeito dos sistemas respiratórios (ressonância, escape de ar, velofaringe e
velocidade, cansaço), fonatório (rouquidão, ritmo de fala, fluência, cansaço e observar adaptações).
Com os dados obtidos, deverá ser levantada a hipótese diagnóstica do tipo da
disartria. O resultado dessa avaliação será registrado no sistema AGHU (Aplicativo de Gestão para
Hospitais Universitários).
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE JUIZ DE FORA

Tipo do POP.UR.FON.025 - Página 3/5


PROCEDIMENTO / ROTINA
Documento
Título do AVALIAÇÃO DE PACIENTES ADULTOS E IDOSOS Emissão: 14/05/2021 Próxima revisão:
Documento COM DISARTRIA NO SERVIÇO DE Versão: 01 14/05/2023
FONOAUDIOLOGIA

5.PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO
Sistemas respiratório e fonatório devem ser testados juntos já que anormalidades na
fonação afetam a respiração e vice-versa.

5.1. Prolongar A Vogal (A) E Observar


 Qualidade (clara ou velada, com escapes ou não, áspera ou estridente)
 Duração (quanto mais escapes de ar mais curta a duração do som)
 Tonalidade (muito baixa pode ser sinal de patologia neurológica, muito alta
só é significativa com falsete)
 Estabilidade (os tremores são importantes)
 Sonoridade (se muito rouca anormal se muito fraca também)
 Nasalidade (indica velo fraco ou não funcional)

5.2 Diadococinesia
Pedir para repetir PA TA KA para observar a velocidade na alternação dos movimentos de um
estrutura a outra (/PA/ bilabial /TA/ linguodental e /KA/ palatal.
5.3 Restrição Nos Movimentos
Pedir um /TA/TA/TA/ bem rápido e observar as possibilidades mandibulares
TDTDTDTD.
5.4 Pedir Para Repetir Palavras
Observar o ritmo de fala, prosódia, as emissões nasais, articulação, os movimentos
da língua.
tornado - gengibre - artilharia - catástrofe - impossibilidade - análise estatística
igreja episcopal presbiteriana – lixo lixeira - cidade cidadão cidadania - gato catapulta - porta porteiro portaria - O rato
roeu a roupa do rei de Roma.

Tabela 1: Verbalização de palavras e frases.

5.5 Resistência Vocal


Contar sem parar até 100 e observar a deteriora progressiva da voz nos casos de
cansaço.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE JUIZ DE FORA

Tipo do POP.UR.FON.025 - Página 4/5


PROCEDIMENTO / ROTINA
Documento
Título do AVALIAÇÃO DE PACIENTES ADULTOS E IDOSOS Emissão: 14/05/2021 Próxima revisão:
Documento COM DISARTRIA NO SERVIÇO DE Versão: 01 14/05/2023
FONOAUDIOLOGIA

5.6 Leitura Em Voz Alta De Um Trecho


Observar adaptações, cansaço, ritmo, entonação, fluência, prosódia, articulação.
O sol é a estrela central do sistema solar. Todos os outros corpos do sistema solar, como planetas, asteroides, cometas
e poeira, bem como todos os satélites associados a ele, giram ao seu redor.

Tabela 2: Reconhecimento de fala.

5.7 Fala Espontânea


Observar a elaboração linguística, a sequenciação das ideias, a lógica e coerência.

5.8 Praxias (Buco-Línguo-Faciais)


Grau de resposta às ordens dadas para avaliar as praxias: 1. Resposta imediata; 2.
Resposta certa depois de ensaio e erro; 3. Resposta parcial, falta uma parte de resposta; 4. Resposta
só depois de uma demonstração do examinador; 5. Perseverança na resposta; 6. Resposta errada;
7. Nenhuma resposta.

PRAXIAS SIM NÃO

Colocar a língua para fora

Soprar

Morder os lábios de baixo

Tocar o nariz com a ponta da língua

Assobiar

Estalar a língua

Inflar as bochechas

Tocar as bochechas coma ponta da


língua

Lamber os lábios

Mostrar como se dá um beijo

Ficar triste e depois rir

Tocar o nariz com a ponta da língua

Tabela 3: Praxias Buco-línguo-faciais.


Fonte: MUDOCH, 2005.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE JUIZ DE FORA

Tipo do POP.UR.FON.025 - Página 5/5


PROCEDIMENTO / ROTINA
Documento
Título do AVALIAÇÃO DE PACIENTES ADULTOS E IDOSOS Emissão: 14/05/2021 Próxima revisão:
Documento COM DISARTRIA NO SERVIÇO DE Versão: 01 14/05/2023
FONOAUDIOLOGIA

OBSERVAÇÃO
O profissional poderá utilizar outros testes de acordo com a especificidade do quadro
clínico do paciente.

6.REFERÊNCIAS

FERREIRA, L. P., BEFI-LOPES, D. M., LIMONGI, S. C. O. Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca,
2004.

HUANG, J. Memory impairment and neurodegenerative dementia (MIND). University of Mississippi


Medical Center, 2019.

MURDOCH, D. E. Desenvolvimento da fala e distúrbios da linguagem. Revinter, 1997.

MUDOCH, D. E. Disartria: uma abordagem fisiológica para avaliação e tratamento. Lovise, 2005.

Procedimento Operacional Padrão (POP). Triagem da Linguagem em Clientes Adultos e Idosos.


Unidade de Reabilitação do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro –
Divisão de Apoio Diagnóstico e Terapêutico - Uberaba – MG. EBSERH – Empresa Brasileira de
Serviços Hospitalares, p. 1-15, 2019.

RUAS, D. P. A., SAMPAIO, N. F. S., PACHECO, V. Reorganização da linguagem na disartria. v. 8, n.15,


2018. Disponível em: <file:///D:/Downloads/8882-Texto%20do%20artigo-25308-3-10-
20190318.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2020.

7.HISTÓRICO DE REVISÃO
VERSÃO DATA DESCRIÇÃO DA ALTERAÇÃO
01 14/05/2021 Elaboração inicial do documento

Elaboração/Revisão

Juliana Xavier de Paula Data: 12/05/2021

Análise

Helga Dias Mendes Data: 12/05/2021


UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE JUIZ DE FORA

Tipo do POP.UR.FON.025 - Página 6/5


PROCEDIMENTO / ROTINA
Documento
Título do AVALIAÇÃO DE PACIENTES ADULTOS E IDOSOS Emissão: 14/05/2021 Próxima revisão:
Documento COM DISARTRIA NO SERVIÇO DE Versão: 01 14/05/2023
FONOAUDIOLOGIA

Serviço de Fonoaudiologia

Maycon de Moura Reboredo Data: 12/05/2021


Unidade de Reabilitação

Validação

Marcela Leite dos Santos Jaernevay Data: 13/05/2021


Núcleo de Qualidade Hospitalar

Aprovação

Maycon de Moura Reboredo Data: 14/05/20219


Unidade de Reabilitação

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que indicada a fonte

Você também pode gostar