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ANÁLISE DOS ASPECTOS URBANOS DO LIVRO DE ATOS

Deus criou o homem para uma relação plena não apenas com o criador
e seu habitat, mas também consigo mesmo e seu próximo. Ao fazer isto, Deus
estabelece as bases para a existência das cidades que se apresentam como
fonte de refúgio, berço de cultura e lugar para se buscar a Deus. Não foi o
homem quem inventou a cidade, o próprio Deus é o responsável por sua
existência. As cidades são dádivas divinas ao homem.
Partindo do pressuposto da cidade como bênção de Deus para o
homem, o livro de Atos registra como o evangelho se propagou ancorado em
suas características. O livro inicia sua caminhada no contexto urbano de
Jerusalém logo após o ministério de Jesus, sua morte e ressurreição, quando
os discípulos foram orientados a permanecerem na cidade à espera da
“promessa do Pai” (1:4).
Partindo de Atos 1.8, percebe-se claramente que o autor desejava
descrever como o evangelho se propagou de Jerusalém até aos confins da
terra. Ao fazer isto, o evangelho atingiu as cidades, que já tinham grandes
estruturas para a sua época (Jerusalém, por exemplo, tinha cerca de 90.000
habitantes em mais ou menos 1,6 Km2). Certamente, Jerusalém tinha todos os
problemas de uma cidade, tais como abastecimento, esgoto, pobreza, moradia,
violência e promiscuidade.
Ao levantar a sua voz com uma proclamação desafiadora, a igreja
possibilitou aos moradores da cidade encontrarem segurança na comunhão
verdadeira dos irmãos em Cristo Jesus. Esta comunhão foi suficiente para
transformar paradigmas e estabelecer novos conceitos. Agora estavam juntos e
tinham tudo em comum (2:44). Mais tarde, quando as necessidades
persistiram, a igreja estabeleceu o ofício do diaconato para servir aos irmãos
de forma eficaz. Nas cidades, a igreja ainda enfrentou problemas diversos.
Enfrentou o status estabelecido como, por exemplo, com o mágico Elimas em
Pafos 13:4-12; também em Icônio e Listra no capítulo 14. Enfrentou o sistema
econômico que se aproveitava da religiosidade pagã (16:16-26), a inveja e a
necessidade de aprovação (como no caso de Ananias e Safira – 5:1-11).
As cidades são o cenário de todo o livro. A primeira perseguição à igreja,
executada por Saulo, recebe o seu destaque visivelmente urbano (“Saulo...
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entrando pelas casas... encerra-os no cárcere” – 8:3). Os discípulos foram se


espalhando de cidade em cidade e quando o evangelho chegava numa,
imediatamente os apóstolos enviam um representante para instruir os novos
naquele lugar (8:14 – 11:22).
Mas a igreja não apenas reagiu às dificuldades enfrentadas pelas
cidades. Elas tinham alguma coisa a oferecer. E a igreja fez uso de suas
características positivas para a propagação do evangelho. Aproveitou as
aglomerações usando lugares como sinagogas, praças (17:17), Areópago
(17:19), prisões (16:27-34), escola (19:8-20), Sinédrio (23:1), fortaleza e palácio
(23:31-35) para pregar o evangelho. Aproveitou-se da mobilidade das cidades
para fazer a mensagem correr com rapidez. Usou meios de transporte e
comunicação comuns da época. Paulo faz uso da estrutura das cidades
quando apela para Cesar (25:11) na tentativa de chegar no centro da
civilização daquela época. Dali poderia usufruir de todos os benefícios que a
mobilidade, densidade e diversidade poderiam lhe oferecer no exercício de seu
ministério.
O contexto das cidades alavancou o anuncio do evangelho que de outra
forma não seria possível. O livro de Atos é um rico manual de ministérios
urbanos. Mostra uma igreja que nasce num contexto urbano, discute os
problemas urbanos e apresenta soluções à luz da vontade de Deus.

OS DESAFIOS MODERNOS DO PASTOR URBANO

Baseado no livro “O Pastor Urbano” organizado por Jorge H. Barro,


vamos elencar 10 desafios que o pastor urbano tem nos tempos atuais:
1. O pastor urbano deve ser um pesquisador da sua cidade.
2. O pastor urbano deve ser um intérprete das transformações culturais e
sociais da cidade.
3. O pastor urbano deve ser um analista da alma urbana.
a. O pastor é aquele que cuida das almas e não das coisas.
b. O pastor é aquele que reune, guia e lidera o rebanho e não
apenas resolve problemas.
c. O papel do pastor é assegurar a salvação do seu rebanho.
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d. O papel do pastor é exercer bondade ao alimentar o rebanho no


pastor e prover sua segurança ao reconduzi-las ao aprisco.
4. O pastor urbano deve ser um líder contemplativo
a. Um líder que se rende em oração ao seu Senhor - Salmo 13.1-6.
b. Um líder que confia no pastor celestial - Salmo 23.1-6.
c. Um líder que adora a Deus sem restrições - João 4.1-29.
i. Adoração exige exclusividade (v.16-18)
ii. A adoração não se restringe a uma localidade (v.19-22)
iii. A adoração é um estilo de vida (v.23-24).
d. Um líder que tem o Filho de Deus como espelho - Mateus 9.35-38
i. A missão de Jesus é realizada com a prática de ensinar,
proclamar e curar (v. 35).
ii. A missão de Jesus é realizada com paixão para com os
que necessitam (v. 36).
iii. A missão de Jesus é realizada com foco na colheita
(v.37-38).
e. Um líder cuja espiritualidade produza ações libertadoras
i. Não tem uma espiritualidade legalista
ii. Tem uma espiritualidade libertadora
5. O pastor urbano é um servo compassivo e solidário
6. O pastor urbano é um servo da missão redentiva na cidade
7. O pastor urbano é um teólogo da missão urbana
a. O fundamento da ação pastoral: Jesus Cristo.
b. A missão da ação pastoral: serviço a Deus no mundo.
c. A meta da ação pastoral: o reino de Deus e a sua glória.
d. A hermenêutica da ação pastoral: o processo para se desenvolver
uma teologia de missão urbana.
i. A proposta de Charles van Engen
1. Acercar-se da realidade
2. Escutar a realidade
3. Examinar a realidade
4. Fazer nova leitura
5. Adotar nova perspectiva
6. Empreender nova ação
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7. Contar novas histórias (nova realidade)


ii. O círculo pastoral de Joe Holland e Peter Henriot
1. Inserção
2. Análise social
3. Reflexão teológica
4. Planejamento pastoral
8. O pastor urbano é um pesquisador da sua igreja
9. O pastor urbano é um capacitador multidisciplinar
10. O pastor urbano é um estrategista para a transformação

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