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UNIP- UNIVERSIDADE PAULISTA

COARI – AM

LICENCIATURA EM HISTÓRIA

O PRIMEIRO PERÍODO DA BORRACHA NO BRASIL: DISCUTINDO QUESTÕES


SOCIAIS TRABALHISTAS DA ÉPOCA

Trabalho de Curso

Orientação: Profa. Esp. Fabiana Aparecida Célia Freire.

Juciney Alves DANTAS RA: 1922753

Coari – AM

2022
Juciney Alves DANTAS RA: 1922753

O PRIMEIRO PERÍODO DA BORRACHA NO BRASIL: DISCUTINDO QUESTÕES


SOCIAIS TRABALHISTAS DA ÉPOCA

TRABALHO DE CURSO – LICENCIATURA EM HISTÓRIA

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial
para a obtenção do título de
Licenciatura em História da
Universidade Paulista – Coari.

Orientação: Profa. Esp. Fabiana


Aparecida Célia Freire.

COARI- AM

2022
Dantas, Juciney Alves.
....O primeiro período da borracha no brasil : discutindo questões
sociais trabalhistas da época / Juciney Alves Dantas. - 2022.
....32 f.

....Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao


curso de História da Universidade Paulista, Coari-AM, 2022.

....Orientador: Prof. Esp. Fabiana Aparecida Célia Freire.

....1. Período da Borracha. 2. Exploração e Domesticação. 3. Havea


Brasiliensis. 4. Trabalho Forçado. 5. Resistência. I. Freire, Esp.
Fabiana Aparecida Célia (orientador). II. Título.

Elaborada de forma automática pelo sistema da UNIP com as informações fornecidas pelo(a) autor(a).
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que me deu vida, saúde e força para superar meus
desafios. Agradeço também à minha família, esposa e filhos, que são minha
inspiração aqui na terra. Gratidão também a todos os meus amigos e colegas que
tiveram experiências inesquecíveis.

À Universidade Paulista quero agradecer aos tutores a distância e aos do suporte


presencial, que sempre estiveram dispostos a responder minhas dúvidas. Agradeço
a minha orientadora da monografia que me deu orientações específicas sobre o meu
trabalho, ainda que eu não tenha alcançado as condições ideais e plenas.

A todos, muito obrigado! Desejo que as bênçãos de Deus caiam sobre suas vidas, e
que possam continuar suas vidas com saúde e alegria. Abraço forte!
RESUMO

Este trabalho monográfico investiga o primeiro período econômico da borracha


na região amazônica. Mais especificamente, analisar a exploração da borracha da
Havea Brasilienses e as causas sociais trabalhistas entre seringalistas e seringueiros.
Objetivou-se, portanto, promover uma reflexão sobre o sistema escravista que
perdurou no primeiro período da borracha. Ou seja, refletir sobre as condições de
trabalho em que os seringueiros foram expostos. O trabalho foi baseado em pesquisa
analítico-bibliográfica, que se caracteriza pela coleta de produções e estudos já
realizados e publicados em centros de pesquisa e divulgação científica ou acadêmica.
A pesquisa resultou em saber que a domesticação ou exploração da borracha é
secular e que sua exploração foi impulsionada pelas descobertas de pesquisadores
em conhecer o potencial do composto látex. Dessa forma, a exploração de Havea
Brasiliensis foi potencializada e isso gerou um sistema de trabalho forçado para os
seringueiros. Na verdade, um sistema de trabalho que ficou conhecido como sistema
de aviamento, mas dentro desse sistema também havia muita resistência dos
seringueiros.

Palavras-chave: Primeiro período econômico da borracha; Exploração e


domesticação de Havea Brasiliensis; Condições de trabalho forçado; Sequência
Didática.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 6

1 CAPÍTULO I – REFERENCIAL TEÓRICO .................................................. 9

1.1 A exploração do látex e o trabalho submisso dos seringueiros ............ 9

1.2 A realidade do trabalho forçado ......................................................... 11

2 CAPÍTULO II – METODOLOGIA .............................................................. 15

2.1 Sobre a pesquisa ............................................................................... 15

2.2 Sobre as obras e autores ................................................................... 16

3 CAPÍTULO III – ARGUMENTAÇÃO E DISCUSSÃO ................................ 19

3.1 Análise da exploração do trabalho no período econômico da borracha


19

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 21

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ............................................................... 23

APÊNDICE ..................................................................................................... 24

3.2 SEQUÊNCIA DIDÁTICA..................................................................... 24

3.3 Identificação ....................................................................................... 24

3.4 Aula 1 ................................................................................................. 24

3.5 Aula 2 ................................................................................................. 28


6

INTRODUÇÃO

Este projeto visa abordar um tema muito importante na história brasileira, pois
esse período marcou a economia do país, principalmente na região norte. Fala-se do
Primeiro Período da Borracha, que ocorreu entre 1879 e 1912, no final do século XIX.
Esse período da borracha teve início devido a uma indústria automobilística que
alavancou o uso do látex da borracha da seringueira, após o surgimento do automóvel.

O primeiro período da borracha refere-se ao período histórico brasileiro em que


a extração e comercialização do látex foram essenciais para a economia brasileira. A
borracha era feita de látex, que por sua vez era obtido da seringueira, árvore nativa
da Amazônia brasileira. Dessa forma, no século XIX Manaus tornou-se um centro
mundial de comercialização de borracha.

Nesse período, a Amazônia recebeu um grande contingente de nordestinos.


Esses trabalhadores vinham trabalhar na extração do látex e desempenhavam um
trabalho semelhante ao dos escravos. Esses trabalhadores chegavam aos seringais
com dívidas aos “Patrões da Borracha”, que incluíam as despesas de viagem e as
ferramentas usadas para extrair o látex.

É nesse contexto que esta pesquisa se debruça sobre as questões sociais


trabalhistas da época. Ou seja, objetivando discutir as condições em que eram sujeitos
trabalhadores braçais, nordestinos, amazônicos e indígenas. Sobre isso, Fernandes
e Pereira (2022) explicam que durante os períodos da borracha muitos trabalhadores
vieram do Nordeste para a região Norte do país, e encontraram uma forma de
exploração do trabalho, ou seja, uma situação totalmente adversa ao que imaginavam.

O sistema escravocrata poderia ser definido basicamente por três partes, o


seringal, o patrão e o seringueiro. O seringal era o lugar onde viviam patrões e
seringueiros. O patrão era o dono dos meios de produção e quem comandava todo o
trabalho e os trabalhadores. Os seringueiros eram a parcela mais pobre da sociedade,
em sua maioria nordestinos.

Com base nesse sistema, os empregadores eram atraídos pelos gastos que os
trabalhadores tinham que fazer para trabalhar e pelo incentivo do próprio governo
brasileiro. Ou seja, com a falta de mão de obra nos seringais e a busca de melhores
7

condições de vida para os nordestinos, os trabalhadores foram seduzidos a se


aventurar em longas jornadas e nos seringais, que eram lugares selvagens aos quais
os nordestinos não estavam acostumados.

Isso significa que os trabalhadores tinham que comprar a crédito, pois não
podiam comprar mantimentos, remédios, ferramentas de trabalho, roupas, etc., com
o patrão para que pudessem sobreviver ao meio ambiente e ao trabalho. Dessa forma,
os patrões geraram enormes e eternas dívidas com os trabalhadores, colocando-os
sob seu comando e aceitando todas as condições prejudiciais de trabalho.

Nesse contexto, a pesquisa busca responder à seguinte questão: que reflexões


podem ser extraídas desses episódios do primeiro período da borracha, em que
existia o sistema escravocrata do patrão sob o trabalhador? Em outras palavras, um
sistema que beneficia apenas uma das partes, o patrão, e a outra foi submetida a
trabalhos forçados para pagar dívidas que nunca terminaram não pode ter outra
definição senão a de sistema escravista.

Assim, a pesquisa tem como objetivo principal: promover a reflexão sobre o


sistema escravocrata no primeiro período da borracha, sob a análise das condições
em que os trabalhadores/seringueiros eram expostos ao trabalho. Quanto ao
propósito de promover tal reflexão, foram estabelecidos os objetivos específicos:

 Mostrar os acontecimentos ocorridos no período de exploração da


borracha, visando a exploração dos patrões de acordo com seus
interesses;
 Analisar como ocorriam as condições de trabalho forçado em que os
seringueiros eram submetidos na época, beneficiando apenas os
patrões;

A principal reflexão a ser feita é sobre como esse sistema de trabalho escravo
se perpetua até hoje, mesmo que silenciosamente na sociedade. Para Mattos
(2012), o trabalho escravo não é uma herança colonial direta, mas uma prática que
se perpetua até os dias atuais, e que vem ocorrendo desde o primeiro período da
borracha.

Fernandes e Pereira (2022, p. 24) também contribuem para esta reflexão:


8

[...] as estratégias de dominação utilizadas para restringir a liberdade desse


trabalhador bem como esvaziar todos os seus direitos humanos e
trabalhistas, demonstrando como e através de quais atividades essa prática
tem se mantido nos dias atuais, expondo seus aspectos violadores a
dignidade da pessoa humana.

Diante desse aspecto, o que se pode pensar ao analisar o período da borracha


e as práticas de trabalho na atualidade é que ainda deve ser promovida a discussão
das questões exploratórias do trabalho que permeiam a atualidade. São questões
que tendem a acontecer com pessoas mais fragilizadas em relação à defesa de
seus direitos trabalhistas.

No Capítulo I, a partir desse ponto de vista, propomos um trabalho que visa


demonstrar os acontecimentos enfrentados pelos seringueiros na época do
primeiro período da borracha na Amazônia. Para, então, analisar como ocorreram
as explorações de trabalho forçado em benefício dos empregadores. Em outras
palavras, explorar como surgiu o sistema imperativo da seringa para que se possa
pensar nas atuais condições de trabalho.

No Capítulo II, segue a apresentação da metodologia adotada para a


realização deste trabalho de pesquisa, podendo-se dizer que se trata de uma
pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica é um método que envolve o
conteúdo de materiais já disponíveis sobre determinado tema, para que
posteriormente possa ser lido e analisado visando as considerações finais do
trabalho. (SOUZA, OLIVEIRA e ALVES, 2021).

Posteriormente, no Capítulo III, foi desenvolvida a discussão envolvendo os


conceitos trazidos para a fundamentação desta pesquisa. Em outras palavras, foi a
hora de conduzir as teorias encontradas a explicações que possam ser utilizadas
para demonstrar a validade científica do trabalho realizado.

Por fim, foi feito um aparato de tudo o que pode ser considerado sobre o que
foi desenvolvido a partir do trabalho, reafirmando as ideias defendidas e abrindo
espaço para novas discussões sobre o assunto. Isso demonstra que a obra não é
um ponto de conexão para a discussão, mas um ponto de reflexão e construção
em torno do assunto em questão.
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1 CAPÍTULO I – REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 A exploração do látex e o trabalho submisso dos seringueiros

Enfaticamente, o primeiro período de exploração da borracha teve início no


final do século XIX e início do século XX, mais aproximadamente entre os anos de
1870 e 1909. (EMMI, 2010; FLEXA, 2014; TAVARES, 2017; ALENCAR, 2018;
FERNANDES E PEREIRA, 2022). Os períodos da economia da borracha ficaram
popularmente conhecidos como “Ciclos da Borracha”.

Para alguns autores, como Flexa (2014) e Tavares (2017), esse momento foi
visto como o “boom” da borracha. Para outros, como Fernandes e Pereira (2022)
ou mesmo Tavares (2017), o momento também pode ser descrito como “Belle
Époque”. No entanto, como explicam Gonçalves e Cardoso (1987), a exploração
da seringueira amazônica remonta logo após a descoberta da América.

Segundo os autores, Gonçalves e Cardoso (1987), não se sabe ao certo


quando a borracha foi descoberta. Mas, segundo os primeiros registros literários
sobre o assunto, a exploração da seringueira remonta à viagem de Cristóvão
Colombo à América.

Com base nesses registros, pode-se dizer que os nativos do continente já


espalhavam esse conhecimento sobre a borracha entre si. Portanto, acredita-se
que os primeiros artefatos de borracha, encontrados pelos visitantes, tenham sido
usados há séculos. Gonçalves e Cardoso (1987, p. 278) explicam:

Antônio de Herrera, historiador da Espanha Imperial de Carlos V, relatou que


Colombo, no curso de sua viajem, observou nativos do Haiti brincando com
bolas feitas de borracha de algumas árvores (WILSON, 1943). Cronistas
espanhóis referiam-se a ela em 1529 (Sahagur: “História Geral dos produtos
da nova Espanha”) ao descrever particularidades dos grupos indígenas do
México (REIS, 1953). Na Amazônia ela foi mencionada pelo jesuíta Samuel
Fritz e pelo frei carmelita Manoel de Esperança, entre os índios Camibebas
ou Omáguas (WISNIEWSKI, 1978).

Também se expõe, segundo Gonçalves e Cardoso (1987), que em 1776,


Charles Marie De La Condamine, cientista francês, estava realizando estudos
geodésicos da América do Sul quando encontrou borracha, e em carta datada de
24 de junho enviou as amostras de borracha da Academia de Ciências de Paris.
10

Charles Condamine disse que a árvore encontrada estava localizada na


província de Esmeraldas, no Equador, e que os nativos a chamavam de Hhevé, da
qual extraíam uma resina branca com a qual faziam tochas para acender. Já em
1743, Condamine escrevia que em Quito e nas margens do rio Marañon, em
conexão com uma árvore, os indígenas se referiam a Hhevé de Cau-chu (que
significa “Pau que dá leite”).

Como mostrado, a seringueira, ou Hhevé, como os nativos a chamavam, foi


domesticada e explorada há muito tempo. No entanto, o “ciclo” da borracha, o
“boom” ou a “Belle Époque”, assim como o sistema de aviamento, duraria pouco
tempo.

Em 1871, uma famosa instituição britânica, o Royal Botanic Gardens of Kew,


de estudos botânicos, contratou o inglês Henry Alexander Wickham (1846-1928)
com o objetivo de roubar a seringueira brasileira. Em acordo com a empresa, Henry
viajou e por quatro anos se estabeleceu como seringueiro e agricultor, mas sem
sucesso.

Nesse período de permanência no Brasil, Henry conseguiu selecionar as


melhores sementes e, em 1876, Wickham voltou a Londres contrabandeando cerca
de 70.000 sementes de Hevea brasiliensis. Esse caso, segundo Pontes (2014),
ficou conhecido como biopirataria. No entanto, essa história é discutível entre os
autores, Pontes (2014, p. 120):

No porto, quando interrogado sobre os produtos que transportava em cestos


trançados cobertos com folhas de bananeira, Wickham explicou apenas que
eram espécies exóticas para os jardins da rainha Vitória, monarca do Reino
Unido.

As divergências também estão presentes nas versões estudadas para explicar


o declínio dos seringais, ou seja, a queda na produção de borracha e,
consequentemente, a falência dos patrões, diz Alencar (2018). Segundo a autora,
os descendentes de seringueiros criticam o governo brasileiro por não se posicionar
contra a liberação de sementes de seringueira.

O fato é que Wickham significou a derrota dos seringalistas brasileiros, por


causa das 70 mil sementes, cerca de 2.600 germinaram. Devido ao clima diferente,
11

as mudas foram transportadas para o Sudeste Asiático, especificamente Ceilão, Sri


Lanka, Indonésia e Malásia. O resultado foi um sucesso e em menos de 40 anos a
exportação da borracha brasileira já estava comprometida.

Mas não foi apenas esse roubo que contribuiu para a derrubada da borracha
brasileira. Segundo Alencar (2018, p. 145): “para os ex-seringueiros a queda na
produção da borracha estava associada à redução da procura por um produto que
estava cheio de impurezas”.

Como foi possível observar, havia, no período econômico da borracha, muitas


dificuldades para a exploração da borracha como a falta de mão de obra (COSTA,
2019; EMMI, 2010; FERNANDES e PEREIRA, 2022, etc.), que forçavam a
migração na população nordestina e, consequentemente, trabalho escravo,
condições de trabalho deploráveis e dificuldade de adaptação dos seringueiros ao
ambiente hostil de trabalho, entre outros.

Portanto, essas condições tornavam a exploração do látex um custo elevado.


Dessa forma, os comerciantes internacionais viram que o monopólio brasileiro era
difícil. Em outras palavras, isso favoreceu a domesticação da seringueira em outros
países. No entanto, vale destacar que a região amazônica ganhou altos
investimentos com a exploração do leite da seringueira, tornando-se uma região
com grandes centros urbanos, como Manaus e Belém.

1.2 A realidade do trabalho forçado

Entrando nas condições a que os trabalhadores ou seringueiros foram


expostos, é possível destacar a exploração, sujeição e violência que vivenciaram nas
mãos dos seringueiros.

[...] a exploração, a sujeição e a violência que permeavam essas relações [de


trabalho], [...] aponta as dificuldades que os seringueiros, migrantes de
origem nordestina, encontravam para se adaptar a um ambiente hostil [os
seringais]. (ALENCAR, 2018, p. 134).

Segundo Fernandes e Pereira (2022), devido às condições típicas do sertão,


como seca e fome, os nordestinos viviam na pobreza e, por isso, viam na
exploração do látex a possibilidade de migrar para o Norte em busca de melhores
condições de vida. Para aumentar ainda mais essa esperança no Nordeste, o
12

governo também incentivou a mobilização na época diante da falta de mão de obra


para extrair leite da seringueira.

Consequentemente, a chegada de muitos nordestinos se deu em massa para


o trabalho de extração do látex, que na época se tornou o principal meio de fomento
da economia brasileira. (FERNANDES e PEREIRA, 2022). Segundo os autores:

Na região amazônica, o trabalho em condições análogas à escravidão, teve


seu início no período conhecido como Ciclos da Borracha, onde os
‘seringalistas’, empregadores e donos das terras onde se encontravam os
seringais, adotavam mecanismos de controle e dominação para restringir a
liberdade de seus empregados, os ‘seringueiros’ os quais ficavam em débito
eterno com seu empregador, por terem que custear com sua força de
trabalho, desde a sua viagem de ida para as novas terras, até a alimentação,
moradia, instrumentos de trabalho, só sendo dispensados quando já estavam
inválidos para desempenhar uma função. (FERNANDES e PEREIRA, 2022),
p. 25).

No entanto, como é apresentado, os “patrões” foram seduzidos pelos gastos


dos trabalhadores e intermediaram a exploração do trabalho com a ajuda do
governo brasileiro. Logo, fazendo com que os trabalhadores encontrem uma
realidade totalmente adversa do que imaginavam.

Em outras palavras, condições de trabalho degradantes, jornada de trabalho


extenuante, violência física e psicológica, além das dívidas eternas com sustento
que foram feitas pelo único meio, o próprio patrão.

O fato é que esse primeiro momento exigiu a exploração da “Hevea


Brasilienses”, como a árvore é cientificamente conhecida, e muitos trabalhadores
foram seduzidos ao trabalho submisso dos “Barões” da borracha, ou simplesmente
“Patrões”.

Para Fernandes (©2006 – 2022), o “sistema de aviamento” na economia da


borracha pode ser visto por três elementos: o seringal, o seringueiro e o seringueiro.
O seringal era onde se concentravam patrões e trabalhadores, o seringueiro era
como era conhecido o “patrão” e, por fim, os seringueiros, trabalhadores das
camadas mais pobres da sociedade, em grande parte da região nordeste.

De acordo com Alencar (2018, p. 134-135):


13

Os seringalistas são descritos como um “tipo opulento” que comanda “a mais


criminosa organização do trabalho que ainda engenhou o mais desaçamado
egoísmo” (CUNHA, 1999 p. 10-17), impondo aos seringueiros um contrato de
trabalho com regras duras que, ao serem descumpridas, resultavam em
pesadas multas ou até morte.

Por outro lado, o seringueiro era descrito como:

[...] “um homem apático, solitário, imprevidente” e “que trabalha para


escravizar-se” e que está preso a um sistema econômico marcado pela
violência da exploração da sua força de trabalho. Mesmo quando salda suas
dívidas, não consegue fugir do domínio do patrão, pois desconhece a região
e também porque não encontrará trabalho em outro seringal, uma vez que
“há entre os patrões acordo de não aceitarem uns os empregados de outros
antes de saldadas as dívidas”. (Alencar, 2018, p. 135).

Marinho (2013) também comenta a situação dos seringais nos primórdios da


exploração de gomas exóticas. Na visão do autor, o seringueiro compunha a força
de trabalho, e vivia em um verdadeiro regime escravocrata da borracha. Nas
palavras do autor: “[os seringueiros] eram espoliados pelos patrões coronéis,
presos a estes por um sistema de dependência baseado em relações de
endividamento, do qual dificilmente conseguiam se livrar”. (Marinho, 2013, p. 41)

Segundo Marinho (2013), o seringueiro não tinha alternativa, pois se tentasse


fugir sua punição seria a morte certa. No entanto, os seringueiros também
resistiram, pois segundo Pontes (2014) e Alencar (2018), destaca-se que uma das
formas de resistência dos seringueiros, fugindo às ordens dos coronéis da
borracha, era sabotar as “pélas” de borracha adicionando areia e/ou argila junto ao
látex.

Além disso, os seringueiros vendiam e compravam produtos dos Regatão que


passavam pelos diferentes seringais da época, oferecendo produtos a preços mais
justos. (PONTES, 2014). Assim, como já mencionado, dava-se a resistência dos
seringueiros que não foram totalmente inativos ou passivos às situações que lhes
foram impostas.

Embora os seringueiros estivessem em desvantagem, pois, em lugares hostis


e distantes dos quais conheciam, alimentação regulamentada, condições mínimas
de moradia, sem acesso à saúde e expostos a doenças, também resistiam.
(ALENCAR, 2018; FERNANDES e PEREIRA, 2022).
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Como aponta Alencar (2018), os seringueiros, no sistema de aviamento, nunca


tiveram o saldo a seu favor na hora de vender suas mercadorias (látex). Bem, os
seringueiros sempre descontavam o peso ao pesar a borracha. No entanto, como já
mencionado, havia formas de resistência por parte dos seringueiros. Então:

[...] existiam também várias estratégias desenvolvidas por eles para resistir
ao poder estabelecido a partir do barracão. Uma delas consistia em adicionar
impurezas ao látex, como bolas de barro, para aumentar o peso e, assim,
compensar a adulteração das balanças que sempre favorecia aos patrões;
ou entregar a borracha ainda molhada. (Alencar, 2018).

Marinho (2013) também retrata essa situação entre seringalista e seringueiros.


E para o autor, chama muito a atenção a resistência dos seringueiros contra os
“patrões” da borracha. Resistência que faz menção à trapaça, fraude e coerção
inerentes a uma economia em rápido crescimento. Essa resistência consistia, entre
outros, no comércio ilegal entre seringueiros e os chamados “regatão”, comerciantes
de fora dos seringais.

Nas palavras do autor: “O comércio com o regatão, então, foi um ato de


resistência, parte de uma luta contínua entre comerciantes e seringueiros para
controlar a mão de obra e extrair o excedente dos produtores rurais”. (MARINHO,
2013, p. 80). No entanto, segundo Marinho (2013), esse comércio custou caro para
os seringueiros, pois:

O regatão explorava a luta entre seringueiro e patrão para o seu próprio


benefício vendendo para estes trabalhadores produtos cujos dividendos
comumente iriam para os comerciantes das casas aviadoras e/ou para o
comércio local. Consequentemente, essa forma de resistência dos
seringueiros, embora danosa para os interesses do patrão, findava por
reforçar as relações que perpetuam o sistema. (MARINHO, 2013, p. 81)

Marinho (2013) explica que, embora os regatões não tenham tido um papel
significativo no comércio ou na acumulação de capital no período, os impactos foram
consideráveis para o sistema de navegação, bem como para o desenvolvimento
amazônico. Segundo o autor: “os seringueiros e regatões constituíam uma força
revolucionária controlada com “penas” duras e que encarecia muito o sistema de
abastecimento”. (MARINHO, 2013, p. 81).
15

2 CAPÍTULO II – METODOLOGIA

2.1 Sobre a pesquisa

Conforme mencionado na introdução, a pesquisa definida para este trabalho foi


a pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica ou analítico-bibliográfica é onde são
levantadas obras de autores já publicados ou não impressos. Ou seja, a pesquisa é
baseada em trabalhos já desenvolvidos e publicados e registrados em universidades
ou centros de pesquisa.

Segundo Souza, Oliveira e Alves (2021, p. 64) a pesquisa bibliográfica é:

[...] elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de:


livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais,
boletins, monografias, dissertações, teses, material cartográfico, internet,
com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo material
já escrito sobre o assunto da pesquisa.

Em geral, a pesquisa bibliográfica está presente nos mais diversos campos da


ciência, pesquisa ou acadêmicos. A pesquisa bibliográfica é sempre voltada para a
investigação, que trata de um problema a ser resolvido. Nesse contexto, são feitas e
aprofundadas questões sobre um determinado estudo ou fenômeno, seja ele físico ou
social. (SOUZA, OLIVEIRA e ALVES, 2021).

Como Souza, Oliveira e Alves (2021) já apontaram, a pesquisa bibliográfica


está intimamente presente no meio acadêmico, com o objetivo de atualizar e aprimorar
o conhecimento. Ou seja, possibilitar a construção e desconstrução do conhecimento
sobre novas visões e/ou caminhos. Em outras palavras, a pesquisa agrega novas
abordagens e perspectivas sobre teorias e conceitos.

Permeando os estudos de Souza, Oliveira e Alves (2021, p. 67), destaca-se a


criticidade da pesquisa analítico-bibliográfica:

[...] a pesquisa bibliográfica busca o levantamento e análise crítica dos


documentos publicados sobre o tema a ser pesquisado com intuito de
atualizar, desenvolver o conhecimento e contribuir com a realização da
pesquisa. Com a temática definida e delimitada, o pesquisador terá que trilhar
caminhos para desenvolvê-la.

Dentre as vantagens da pesquisa bibliográfica, destaca-se a facilidade que o


pesquisador encontra, pois com esse tipo de pesquisa o custo é baixo. Por exemplo,
não é necessário viajar para encontrar pesquisas científicas publicadas ou em
16

andamento. Isso é possível com a internet, onde o pesquisador já tem acesso a uma
ampla gama de trabalhos realizados e publicados em diversos centros de informação
e comunicação do conhecimento. (SOUZA, OLIVEIRA e ALVES, 2021).

Nesse sentido, buscamos realizar a investigação sobre “O primeiro período da


borracha no Brasil: discutindo questões sociais trabalhistas da época”. Assim, com
base no levantamento de trabalhos já realizados e publicados sobre o tema. Com isso,
o trabalho se direciona ao foco de investigação e estudo: que reflexões podem ser
extraídas desses episódios do primeiro período da borracha, em que existia o sistema
escravocrata do patrão sob o trabalhador?

2.2 Sobre as obras e autores

Entre as obras mais citadas está “As raízes históricas das condições de
trabalho análogas à escravidão na Amazônia: um breve ensaio sobre a escravidão
contemporânea e seus aspectos violadores ao princípio da dignidade da pessoa
humana”, de Thiago Fernandes e Emília Pereira (2022).

Fernandes (2022) cursou Direito no Centro Universitário do Pará (CESUPA). É


também membro da Linha de Pesquisa Processo, Teoria do Direito e Jurisdição do
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu do CESUPA. Ao lado de Fernandes está
Emília Pereira (2022), formada em Direito pela Universidade da Amazônia, 1989.

Pereira (2022) é Mestre em Direito pela Universidade da Amazônia - UNAMA.


Até então, ocupa o cargo de presidente da Comissão Examinadora da Ordem dos
Advogados do Brasil-Seção Pará. O autor é professor adjunto da Faculdade Estácio
do Pará, FAP, bem como professor do Centro Universitário do Estado do Pará e
coordenador do vice-núcleo de prática jurídica do NPJ do Centro Universitário do
Estado do Pará.

Nessa obra, os autores procuram expor uma prática secular na região


amazônica, a exploração do trabalho em condições análogas às de escravos. Desta
forma Fernandes e Pereira (2022) explicaram como se deu a exploração do trabalho
no início dos “Ciclos” da Borracha. Ao final, defenderam a necessidade de garantir
efetivamente o trabalho decente na região amazônica.
17

Marília Emmi (2010) também contribuiu para o desenvolvimento desta pesquisa


monográfica. A autora possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade
Federal do Pará (1973), e mestrado em Planejamento do Desenvolvimento pela
Universidade Federal do Pará (1985).

Pela Universidade Federal do Pará (2007) também obteve doutorado em


Ciências Sociais e Ambientais. Em 2013, tornou-se professora associada da
Universidade Federal do Pará, no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos-NAEA. Emmi
(2010) tem experiência em Sociologia do Desenvolvimento, atuando principalmente
nos seguintes temas: migrações internas e internacionais na Amazônia, movimentos
sociais, poder local, elites regionais e conflitos agrários.

Em seu artigo, intitulado “A Amazônia como destino das migrações


internacionais do final do século XIX ao início do século XX: o caso dos portugueses”,
Emmi (2010) buscou mostrar a imigração portuguesa na Amazônia a partir das últimas
décadas do século XIX às primeiras décadas do século XX.

Dessa forma, Emmi (2010) diz que a imigração faz parte do conjunto de
correntes migratórias europeias que se dirigiram para a região. O principal motivo foi
a busca por riquezas decorrentes do auge da exploração da borracha. Para a autora,
na Amazônia, “terra de imigrantes”, a corrente portuguesa foi o foco de sua análise.

Por outras palavras, Emmi (2010) procurou analisar as características


sociodemográficas desta corrente portuguesa, a sua inserção socioeconómica e as
suas contribuições para o processo de desenvolvimento regional.

O Mestre em História, Cultura e Poder pela Pontifícia Universidade Católica de


Goiás (PUC), 2010, Paulo Mattos (2012) é outro autor que veio embasar esta pesquisa
monográfica. O autor é formado em História pela Universidade Federal de Goiás
(UFG, 1993), e em Ciência Política pela Universidade Nico Lopes (Havana-Cuba,
1991).

Mattos (2012) também estudou Sociologia na UNIP (Universidade Paulista), é


especialista em História Regional do Tocantins pela Universidade Estadual do
Tocantins (Unitins, 1997). O pesquisador atua como professor de Sociologia na
Universidade de Gurupi UnirG.
18

Entre outras qualificações, Mattos (2012) é formado em Antropologia e História


pelos cursos de Psicologia, Engenharia Civil, Administração, Contabilidade,
Pedagogia e Direito. Em seu artigo, intitulado “A escravidão ontem e hoje no brasil:
uma barbárie de longa duração”, procurou demonstrar que o trabalho escravo não é
uma herança colonial direta, mas como uma prática de exploração do trabalho se
perpetua, principalmente na Amazônia.

Segundo Mattos (2012), desde o primeiro período econômico da borracha, o


tipo de trabalho escravo vem ocorrendo e continua sendo praticado na expansão das
atividades do agronegócio contemporâneo. A pesquisadora também contou com
pesquisa bibliográfica, podendo concluir que, com a crise econômica mundial, esta é
uma realidade social que ameaça se aprofundar nos próximos anos, caracterizando o
aprofundamento de uma situação de barbárie.

Aqui, apenas alguns trabalhos e autores foram destacados, mas todos os


demais foram de suma importância para o processo de desenvolvimento deste
trabalho. Portanto, todos têm seus méritos e, com isso, são reconhecidos por suas
obras e feitos.
19

3 CAPÍTULO III – ARGUMENTAÇÃO E DISCUSSÃO

3.1 Análise da exploração do trabalho no período econômico da borracha

Conforme discutido no Capítulo I – Fundamentação Teórica, a exploração do


látex trouxe ambições de todo o mundo, principalmente por parte dos britânicos,
que não ficaram satisfeitos até tirarem as sementes do Brasil, segundo Pontes
(2014), Marinho (2013) e Alencar (2018).

Embora as explorações por recursos naturais permeiem séculos e séculos,


não só pelos portugueses, mas também pelos holandeses, ingleses, espanhóis e
outros povos. A descoberta da seringa teve um marco especial, pois não foi
valorizada imediatamente quando foi descoberta, mas quando a indústria
automobilística precisava de matéria-prima para completar seus produtos.

Conforme apontado por diversos estudos, entre eles os de Gonçalves e


Cardoso (1987), por exemplo, através da exploração da Hevea Brasiliensis
descobriu-se as diversas utilidades dessa matéria-prima. Porque, entre os produtos
naturais, a resina aquosa da seringueira é a única que combina elasticidade,
praticidade, resistência ao desgaste (fricção), propriedades de isolamento elétrico
e impermeabilidade a líquidos e gases.

Ou seja, o potencial da goma de borracha fez com que o mercado


internacional se interessasse pela árvore brasileira. E, assim, não poderia ser
diferente com os patrões do Brasil, que, movidos pelo lucro, iniciaram um processo
de exploração de trabalho análogo ao escravo, ou seja, o trabalho forçado.

E foi exatamente no período econômico da borracha que muitas situações


ocorreram. De um lado, os avanços dos grandes centros urbanos como Manaus e
Belém, que ganham energia elétrica e pavimentação, teatros e prédios históricos.
Mas, por outro lado, houve muitos conflitos, violências e até mortes como apontam
Marinho (2013), Pontes (2014), Mattos (2012), Fernandes e Pereira (2022), entre
outros autores.

Em referência ao artigo de Alencar (2018, p. 145):


20

As narrativas descrevem o modo de vida e as condições de trabalho nos


seringais do Alto Solimões, a partir do olhar dos descendentes dos
seringalistas e também de ex-seringueiros, daqueles que praticaram os
lugares, que vivenciaram a dor e o sofrimento, seja de forma direta ou indireta,
ao partilhar a dor de seus ancestrais.

Com base em Alencar (2018), a percepção dos seringais remete a uma


identidade social inicialmente marcada pelas noções de cativos, sujeição e
dependência dos trabalhadores aos barões da borracha. É evidente que as
migrações promovidas por um ideal de vida que atraiu os nordestinos para o
sistema de seringais não podem ser desprezadas.

Para Fernandes e Pereira (2022), esse período retrata as raízes históricas da


exploração de mão de obra deplorável na região amazônica, que nasceu da
necessidade de atender à crescente demanda pela extração e produção de
borracha. Tal assunto foi visto como alicerce para um período de prosperidade e
riqueza, e que ficou conhecido como “Belle Époque”.

O período da borracha configura-se assim para muitos autores como um


período obscuro na região amazônica. Como postula Pontes (2014):

[Para o período econômico da borracha] “sendo este um período pequeno”


no que concerne ao tempo, mas grandioso no que se refere aos fatos
históricos, políticos, econômicos e sociais ocorridos dentro do curto” espaço
de tempo.

Mas se o período econômico da borracha foi tão impactante assim, ainda é


possível que exista marcas e práticas desse período? De acordo com Pontes
(2014), desde o período de colonização a escravidão está presente nas relações
trabalhistas nos dias de hoje, principalmente com o sistema de extrativismo da
seringa brasileira.

Compreende-se através de Pontes (2014) que o segundo período econômico


da borracha, considerado de 1941 a 1945, foi um caso concreto de escravidão. Ou
seja, onde migrantes pobres eram subjugados a regimes de trabalhos semelhantes
ao escravocrata. Dessa forma, são analisadas as condições e situações durante o
primeiro “boom” da borracha.
21

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho veio abordar o tema “O primeiro período da borracha no


Brasil: discutindo questões sociais trabalhistas da época”. Em que se propôs a
refletir os fatores ocorridos no referido período de extração da borracha. Ou seja,
analisar as condições que os trabalhadores (seringueiros) viviam nas relações com
seus potros.

Propôs-se também neste trabalho analisar como funcionavam essas


condições de trabalho forçado na época, ou seja, apresentar o sistema de trabalho,
que ficou conhecido como sistema de aviamento e como ficou conhecida a política
da borracha. Para isso, diversos autores e obras foram trazidos como base para a
elaboração deste trabalho de pesquisa monográfico.

Por meio dessas pesquisas, é possível verificar a exploração e domesticação


da seringueira, cientificamente chamada de Havea Brasiliensis. Assim, descobriu-
se que sua exploração e domesticação já é secular, mesmo antes da chegada dos
portugueses ao Brasil.

Essa exploração da borracha ocorreu com os nativos do continente


americano, que fabricavam utensílios e bolas de borracha para usar. Mas a
realidade mudou quando ocorreram as explorações de estrangeiros, pelos
espanhóis, ingleses, portugueses, entre tantos outros povos.

O objetivo com a busca pela borracha ocorreu principalmente com a


automobilística que precisava de um material com as características exatas do látex
da seringueira. Claro que, além das invenções da automobilística do carro, havia
também outras invenções como sapatos, bolas, cadeiras e até capas de chuva.

O problema da exploração estrangeira, ou melhor, do comércio internacional


de borracha, era a exploração de mão de obra análoga à de escravo. Nesse período
que ficou conhecido na Amazônia como a “Belle Époque”, tida como promissora e
que a prosperidade vingaria para o povo brasileiro, foram muitos os conflitos,
sofrimentos e dores.
22

Obviamente, não se pode negar que muitos avanços ocorreram, não só na


economia brasileira, em que a borracha passou a representar cerca de 40 a 60%
do capital, mas também nos avanços tecnológicos e elétricos. A civilização da
região amazônica também foi muito influenciada pela chegada dos portugueses e
outros estrangeiros, que passaram não apenas a usar roupas parecidas com os
europeus, mas também a se comportar como eles.

O fato é que entre essas ocorrências, os seringueiros, e principalmente os


nordestinos, seduzidos por propagandas enganosas, sofreram muito no período da
borracha. Na explicação do sistema de aviamento, esses trabalhadores ficavam
presos por seus patrões com dívidas impagáveis, e se tentassem fugir o resultado
seria a morte.

Através desta pesquisa, embora os seringueiros tenham sofrido muito, com o


trabalho vassalo, com o clima e o ambiente hostil da região amazônica, doenças e
insetos, houve resistência. Os seringueiros também trapacearam contra os
seringueiros. Sabotaram as “péles” de borracha com barro/argila e também fizeram
negócios com Regatão, que eram comerciantes fora dos seringais.

Em suma, pode-se considerar que o período da borracha apresentou muitos


avanços para a região amazônica, principalmente para as capitais do Amazonas e
Pará, Manaus e Belém. No entanto, os maiores ganhos foram para os patrões da
borracha. E não apenas esses marcos foram destacados, mas vale destacar a
resistência dos seringueiros contra o trabalho escravo.

Entre outros fatos, vale destacar que a borracha brasileira foi roubada e
cultivada em outros países como Malásia, Japão, Tailândia, Indonésia, entre outros
países. Isso significou uma queda irreparável para o Brasil, assim como para todo
o sistema político da borracha. Mas não se pode dizer que essa queda tenha
reparado todos os danos causados aos trabalhadores da região amazônica, aliás,
ainda hoje é possível encontrar reflexos dessa época.
23

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

ALENCAR, E. F. Patrões e cativos: relações de trabalho e estratégias de


resistência nos seringais do Alto Solimões, Amazonas. Vivência: Revista de
Antropologia, [S. l.], v. 1, n. 51, 2019. DOI: 10.21680/2238-6009.2018v1n51ID17177.
Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/vivencia/article/view/17177. Acesso em: 22
out. 2022.

COSTA, F. P. Normatização das relações de trabalho na economia da borracha:


uma análise comparada do termo de compromisso e a clt (1940-1945). South
American Journal of Basic Education, Technical and Technological, [S. l.], v. 6, n. 2,
p. 512–524, 2021. Disponível em:
https://periodicos.ufac.br/index.php/SAJEBTT/article/view/2579. Acesso em: 22 out.
2022.

EMMI, M. F. A Amazônia como destino das migrações internacionais do final


do século XIX ao início do século XX: o caso dos portugueses. XVII Encontro
Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, Universidade Federal do Pará-UFPA.
2010. Disponível em:
http://www.abep.org.br/publicacoes/index.php/anais/article/view/2305. Acesso em:
28 out. 2022.

FERNANDES, F. Roque. Ciclo da borracha. Infoescola, © 2006 – 2022. Disponível


em: https://www.infoescola.com/historia-do-brasil/ciclo-da-borracha/. Acesso em: 22
out. 2022.

FERNANDES, T.; PEREIRA, E. DE F. da Silva Farinha. As raízes históricas das


condições de trabalho análogas à escravidão na Amazônia: um breve ensaio
sobre a escravidão contemporânea e seus aspectos violadores ao princípio da
dignidade da pessoa humana. Revista Jurídica do Cesupa, v. 3, n. 1, p. 24-46, 8
ago. 2022. Disponível em:
http://periodicos.cesupa.br/index.php/RJCESUPA/article/view/44. Acesso em: 23 out.
2022.

GONÇALVES, P de S.; CARDOSO, M. Origem e domesticação da seringueira. O


agronômico, Campinas, SP, 39(3), 1987. Disponível em:
https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/668666/1/Domesticacaodaseringu
eira.pdf. Acesso em: 11 out. 2022.

MARINHO, J. L. do Nascimento. Seringueiros do médio Solimões: fragmentos e


memórias de vida e trabalho. 2013. 127 f. Orientação: Profa. Drª. Iraíldes Caldas
Torres. Dissertação (Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia) -
Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2013. Disponível em:
https://tede.ufam.edu.br/bitstream/tede/2288/1/Jos%c3%a9%20Lino%20do%20Nasc
imento%20Marinho.pdf. Acesso em: 11 out. 2022.

MATTOS, P. H. C. A escravidão contemporânea e o agronegócio. Revista


Cereus, v. 4, n. 2, p. 98-113, 26 set. 2012. Disponível em:
http://www.ojs.unirg.edu.br/index.php/1/article/view/232. Acesso em: 22 out. 2022.
24

PONTES, C. J. de Farias. O primeiro ciclo da borracha no acre: da formação dos


seringais ao grande colapso. Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Acre
– Vol. 1, N.1, p. 107-123, 2014. Disponível em:
https://periodicos.ufac.br/index.php/SAJEBTT/article/view/100. Acesso em: 26 set.
2022.

RICARDO, Láecio. A escravidão nos seringais da Amazônia. Fundação Perseu


Abramo, Fortaleza/CE, 06 de julho de 2007. Disponível em:
https://fpabramo.org.br/2007/07/06/a-escravidao-nos-seringais-da-amazonia/.
Acesso em: 26 set. 2022.

SOUSA, Angélica Silva de; OLIVEIRA, Guilherme Saramago de; ALVES, Laís
Hilário. A pesquisa bibliográfica: princípios e fundamentos. Cadernos da Fucamp,
v.20, n.43, p.64-83/2021. Disponível em:
https://revistas.fucamp.edu.br/index.php/cadernos/article/view/2336. Acesso em: 05
set. 2022.

APÊNDICE

3.2 SEQUÊNCIA DIDÁTICA


3.3 Identificação

Nível de ensino: Ensino Fundamental II (6º ano).


Disciplina: História.
Tema: As atividades econômicas na Amazônia no primeiro período econômico da
borracha.
Tempo de aula: 45 minutos.
Observação: os vídeos deveram ser transmitidos durante a aula ou ao final.

3.4 Aula 1

a) Conteúdos
 O extrativismo;
b) Objetivos
 Conhecer o processo de extrativismo do leite (látex) de seringueira;
 Indicar a finalidade da matéria-prima denominada látex ou leite de
seringueira;
c) Recursos
 Impressões em papel de pesquisas sobre a extração do látex para os
alunos;
25

 Caderno, Lápis, caneta e borracha;


 Vídeos de seringueiros extraindo o leite de seringa;
d) Etapas da aula
 Introdução ao tema

Apresentar aos alunos o tema “Atividades econômicas na Amazônia no


primeiro período econômico da borracha” e fale sobre a extração da seringueira.
Explicar as condições em que as atividades são realizadas, os cuidados e utensílios
utilizados e a finalidade dada ao látex, leite da seringueira.

Contextualize aos alunos que o extrativismo ocorreu no primeiro período


econômico da borracha de forma exploratória ao trabalho humano. Ao mesmo tempo,
explicando que tipo de árvore é a seringueira e por que seu leite era tão cobiçado e
extraído pelos patrões da borracha.

 Desenvolvimento

A seringueira

A seringueira, cientificamente conhecida como Hevea brasiliensis, é uma


árvore tropical nativa da região amazônica. (©Croplife, 2019). A verdade é que a
seringueira Hevea brasiliensis é a mais famosa entre as 11 espécies existentes. A
Hevea brasiliensis é mais importante devido ao seu látex de melhor qualidade,
portanto, é a mais procurada pela indústria.

O látex

O látex, como é chamado o leite de seringa, é uma substância aquosa que


contém de 30 a 40% de sólidos em forma de partículas, visíveis apenas ao
ultramicroscópio. Dentre os recursos naturais, a seringueira é a única que produz látex
de forma que combina elasticidade, plasticidade, resistência ao desgaste (atrito),
propriedade isolante elétrica e impermeabilidade a líquidos e gases. (GONÇALVEZ e
CARDOSO, 1987, p. 278).

A extração
26

O processo de extração do látex da seringueira é chamado de “sangria”, é um


processo que consiste em fazer alguns cortes em linhas no tronco da árvore para que
os vasos produtores de látex fiquem expostos e comecem a liberar o produto líquido.
Esse processo deve ser feito de forma técnica para que a seringueira não seja
impedida de se desenvolver. (©Croplife, 2019).

Os locais onde são feitos os cortes são chamados de painéis, e devem ser
substituídos de tempos em tempos para que não interfiram no crescimento da Hevea
brasiliensis. Claro que abaixo dos painéis devem ficar os recipientes que captam todo
o leite da seringueira. E quando estão cheios, são levados para um depósito maior,
que terá que passar por outro processo de tratamento. (©Croplife, 2019).

Utilização do látex

A matéria-prima do látex faz parte do nosso dia a dia, sendo utilizada na


fabricação de bolas, calçados, grafite, pneus, cintos, entre inúmeros produtos. O Brasil
produz cerca de 180 mil toneladas de borracha natural, sendo o maior produtor da
América Latina, embora importe 63% da borracha e produza apenas 1% do total
mundial.

A seringueira é cultivada principalmente na Tailândia, Indonésia e Malásia, que


são responsáveis por 80% da produção mundial de borracha. No Brasil, a seringueira
está presente nos estados de São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerias, Goiás,
Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Pará, Paraná, Pernambuco, Acre, Rio
de Janeiro, Amazonas, Tocantins e Rondônia.

 Atividades para os alunos

Questão 1

Com base no que você aprendeu, como é chamada cientificamente a principal


espécie de seringa amazônica?

Questão 2

Defina como se chama e como ocorre o processo de extração do látex da


seringueira?
27

Questão 3

Explique se qualquer pessoa pode realizar o processo de extração do látex?

e) Avaliação

Questão 1

Leia o texto abaixo.

Os locais onde são feitos os cortes são chamados de painéis, e devem ser
substituídos de tempos em tempos para que não interfiram no crescimento da Hevea
brasiliensis. (©Croplife, 2019).

O texto faz referência a:

a) Seringueira.
b) Borracha.
c) Extração do látex.
d) Seringal.

Questão 2

Diga com suas palavras para quais fins a borracha é utilizada?

f) Referências

GONÇALVES, P de S.; CARDOSO, M. Origem e domesticação da seringueira. O


agronômico, Campinas, SP, 39(3), 1987. Disponível em:
https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/668666/1/Domesticacaodaseringu
eira.pdf. Acesso em: 11 out. 2022.

Manual de Orientação das Atividades da Disciplina Prática de Ensino: Vivência


no Ambiente Educativo. Coordenadoria de Estágios em Educação (CEE),
Universidade Paulista – UNIP, 2020. Disponível em: ava.ead.uni.br. Acesso em: 23
out. 2020.

MELILI, Nilza. Seringueira matéria-prima da cola látex da borracha e outros...


Youtube, 2020. Disponível em:
https://www.youtube.com/results?search_query=como+ocorre+a+extra%C3%A7%C
3%A3o+da+borracha. Acesso em: 01 nov. 2022.
28

Tudo sobre o Látex: da seringueira até a borracha natural. ©Croplife, 2019.


Disponível em: https://croplifebrasil.org/noticias/fonte-de-latex-a-seringueira-e-uma-
planta-de-alto-valor-para-a-industria/. Acesso em: 05 out. 2022.

3.5 Aula 2

a) Conteúdos
 Força de trabalho: os seringueiros
b) Objetivos
 Demonstrar quem são os seringueiros e sua história nos seringais;
 Informar a importância da atividade seringalista para os alunos;
c) Recursos
 Impressões em papel de pesquisas sobre a extração do látex para os
alunos;
 Caderno, Lápis, caneta e borracha;
 Vídeos de seringueiros extraindo o leite de seringa;
d) Etapas da aula
 Introdução ao tema

Começar apresentando quem são os seringueiros e suas histórias. Falar como


são os locais de trabalho, ou seja, os seringais, e quais são suas rotinas de trabalho.
Também é bom abordar os benefícios da atividade e sua importância da produção
para a indústria.

 Desenvolvimento
Os seringueiros
O seringueiro é responsável pela extração do látex, ou leite da
seringueira. São os seringueiros que possibilitam a transformação do látex em
borracha natural. O seringueiro não pode ser confundido com o seringalista, e
também com o seringal. O seringalista é o dono dos seringais, e as áreas de
plantio, onde os seringueiros trabalham, são chamadas de seringais.
A história dos seringueiros
Os seringueiros têm uma história de luta, foram muitos os fatos e
conquistas em protesto contra a política da borracha nativa, principalmente no
primeiro período econômico da borracha. Os seringueiros lutaram contra a
fome e a devastação da floresta amazônica.
29

A luta dos seringueiros estava relacionada ao reconhecimento oficial do


governo federal por seu trabalho nas reservas extrativistas. Além disso,
evidentemente lutaram por melhores condições de trabalho de forma definida
e regularizada.
A luta dos seringueiros foi um marco na extração do látex no primeiro
período econômico da borracha. E tanto para os seringueiros quanto para seus
apoiadores, as reivindicações e resistências ficaram conhecidas como
“empate”. Os primeiros empates aconteceram na região do Acre.
Os locais de trabalho
Os seringais, como são chamados os locais de trabalho dos
seringueiros, são compostos basicamente por: barracões, armazéns e
depósitos.
Os barracões são os locais onde vivem os seringueiros. Os armazéns,
por sua vez, são os locais de comércio e que fornecem materiais aos
seringueiros. O depósito é onde fica localizada toda a borracha produzida, além
de outras extrações, como castanhas, cacau, etc.
A Importância da atividade seringalista
A própria borracha já é de enorme importância, pois é a partir dela que
são produzidos diversos produtos de consumo. A Havea Brasiliensis é a maior
fonte de borracha natural do mundo, é utilizada em mais de 40 mil artigos em
todo o mundo. Além disso, a borracha é a matéria-prima para
aproximadamente 400 dispositivos médicos.
Conforme apresentado na primeira aula, o composto de borracha é o
único que apresenta resiliência, elasticidade, plasticidade, resistência ao
desgaste e ao impacto, propriedades isolantes elétricas e impermeabilidade a
líquidos e gases.
Devido à importância no comércio o cultivo da seringueira é de extrema
importância. Segundo dados do Instituto Agronômico (ICA, 2022):

[...] em 2012 foi de 11.327 mil toneladas, para um consumo de 11.005 mil t.
do qual mais de 7.390,5 mil toneladas é originária do Sudeste Asiático,
envolvendo países como a Tailândia (31,00%), Indonésia (26,61%), Malásia
(7,63%), Índia (8,11%) e Vietnã (7,60%). Em 2012, a Tailândia produziu
3.511,70 mil toneladas, Indonésia 3.014,80mil t. e Malásia 864 mil t. No
mesmo ano, o Brasil produziu 171,5 mil t., cerca de 1,51% da produção
mundial.
30

Diante disso, contempla-se a importância da atividade seringueira para


os dias atuais. Ou seja, é de extrema importância que as lavouras sejam
cultivadas e que sejam feitos incentivos para que essa atividade se torne cada
vez mais benéfica para o ser humano.
 Atividades para os alunos

Questão 1

Como você classifica o trabalho do seringueiro e sua importância para a


produção de borracha?

Questão 2

Observe a imagem:

FIGURA 1: GRÁFICO DE PRODUÇÃO DE BORRACHA NO BRASIL

Fonte 1: ICA, 2022.

Com base no gráfico, onde se concentra a maior produção de borracha no


Brasil?

Fonte 2: ICA, 2022.

e) Avaliação
31

Questão 1

Leia com atenção:

I – Os seringais são locais de plantações e trabalho dos seringueiros;

II – O seringueiro é quem domina e manda nos seringais;

III – Os armazéns são depósitos de borrachas prontas para transportar.

Das afirmações quais estão incorretas:

a) Apenas a I.
b) Apenas II e III.
c) Apenas I e III.
d) Apenas I e II.

Questão 2

Leia o texto a seguir.

Os seringueiros têm uma história de luta, foram muitos os fatos e conquistas


em protesto contra a política da borracha nativa, principalmente no primeiro período
econômico da borracha. Os seringueiros lutaram contra a fome e a devastação da
floresta amazônica.

Com base no texto, a que se deu a luta dos seringueiros?

f) Referências

ANDRADE, Maria do Carmo Gomes de. Seringueiros. Pesquisa Escolar, 2022.


Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/seringueiros/.
Acesso em: 22 set. 2022.

CHEROBIM, Mauro. Trabalho e comércio nos seringais amazônicos.


Perspectivas, São Paulo, 6:102-107. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br.
Acesso em: 22 set. 2022.

Manual de Orientação das Atividades da Disciplina Prática de Ensino: Vivência


no Ambiente Educativo. Coordenadoria de Estágios em Educação (CEE),
Universidade Paulista – UNIP, 2020. Disponível em: ava.ead.uni.br. Acesso em: 23
out. 2020.

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