Você está na página 1de 24

A APLICABILIDADE RETROATIVA DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO

PENAL APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA

Alcides Leite de Amorim


Arilson Fidelis de Azerêdo
Jerry Adriano Prudêncio da Silva Júnior
Larissa Lampert Licht

1 INTRODUÇÃO

No ano de 2019 ocorreu a promulgação de um diploma legislativo cujo conteúdo alterou


disposições de diversas normas penais e processuais penais. Esta foi a chamada “Lei Anticrime”
ou “Pacote Anticrime” (Lei nº 13.964/2019), que introduziu no ordenamento jurídico brasileiro
o inovador instituto do Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), um instrumento de
concretização da chamada “justiça consensual” e que possui um nítido fim de reduzir o volume
de demandas processuais que sobrecarregam o judiciário brasileiro. Nesse sentido, logo após o
início de sua vigência entrou em pauta na seara acadêmica e judicial o tema relativo à sua
aplicação no direito intertemporal, especificamente quanto ao momento processual de sua
retroação.
Assim, a discussão levantada no presente trabalho adquire relevância a partir da
constatação de divergências quanto a aplicação retroativa do Acordo de Não Persecução Penal.
O debate e a reflexão acerca destas posições são essenciais para que se consolide um
entendimento que se coaduna melhor com o tratamento equânime dos sujeitos envolvidos nos
casos em que há o cabimento de tal instituto. Dentro dessa perspectiva, esta pesquisa possui
como objetivo geral analisar a aplicabilidade retroativa do ANPP aos casos em que já foi
recebida a denúncia e como objetivo específicos apresentar os elementos do instituto, esclarecer
quanto à natureza da norma que o disciplina, além de expor as posições existentes na doutrina
e jurisprudência quanto ao momento processual de sua aplicação retroativa.
O problema que será aqui analisado, se resume, basicamente, na seguinte pergunta: o
Acordo de Não Persecução Penal pode ser aplicado retroativamente aos casos em que já foi
oferecida denúncia antes da entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019? Dessa maneira, serão
analisadas as correntes de ideias que defendem a sua retroação até o momento da denúncia ou
após esta para que se compreenda melhor a discussão e se delimite o alcance do problema.
Nesse sentido, tem-se como hipótese a noção de que, de fato, tal aplicação intertemporal pode
ocorrer aos casos em que já foi oferecida denúncia, além disso, uma segunda proposição seria
a de que o marco final para seu cabimento seria o momento em que sentença é proferida.
Posto isso, a presente pesquisa se classifica como exploratória, pois visa aprofundar
conceitos e ideias acerca do tema, além de possuir um delineamento da modalidade qualitativa,
analisando o problema de forma interpretativo-descritiva. O método de abordagem utilizado foi
o dedutivo, onde se parte de premissas gerais para ideias específicas, e foram utilizados os
métodos de procedimento analítico, interpretativo e o comparativo a fim de destrinchar a
problemática. Por fim, foram utilizadas técnicas de pesquisa de documentação indireta, ou seja,
de pesquisa bibliográfica e documental, tendo como fontes livros, monografias, teses, artigos,
revistas, entre outros.
Destarte, o trabalho é dividido em três capítulos, onde o primeiro aborda os contornos
legais do Acordo de Não Persecução Penal, confere uma visão do instituto no direito comparado
e discute quanto a obrigatoriedade de sua proposição. O segundo tópico dispõe acerca dos
princípios incidentes na aplicação intertemporal do art. 28-A do Código de Processo Penal
(CPP) - tempus regit actum e novatio legis in mellius -, bem como de sua natureza e consequente
possibilidade de retroação. Já o último capítulo expõe as três posições assumidas após a entrada
em vigor da Lei nº 13.964/2019 na discussão quanto ao momento processual da aplicação
retroativa do instituto.

2 O ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL E A JUSTIÇA CONSENSUAL:


ANÁLISE DO ART. 28-A DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

O Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) foi instituído pela Lei nº 13.964/2019 e
positivado no Código de Processo Penal (CPP) com a inserção do art. 28-A que trouxe mais
uma possibilidade de justiça consensual na seara criminal, orientação presente no bojo dos
instrumentos da transação penal e da suspensão condicional do processo, dispostos na lei nº
9.099/95, e da colaboração premiada, previsto na Lei nº 12.850/2013.

O consenso na esfera criminal, pautado na simplificação procedimental, na autonomia


do indivíduo e no acordo de vontades deste com o órgão acusador, rompeu com o
modelo clássico de processo, baseado no princípio da obrigatoriedade da ação penal
e na noção de confrontação inexorável entre as partes, permitindo a aplicação da lei
penal de modo mais célere e satisfatório (ANDRADE, 2019, p. 23).

Compreende-se, destarte, que o ANPP é o ajuste obrigacional celebrado entre o órgão


de acusação e o investigado, no qual este assume sua responsabilidade, aceitando cumprir as
exigências do acordadas. Ou seja, a justiça criminal consensual está fundamentada na ideia de
negociação e concordância de pensamentos entre as partes. Desta maneira, a criação deste
mecanismo de consenso na esfera criminal assenta-se pela necessidade de mais celeridade e
eficiência no funcionamento dos sistemas de justiça criminal, visto a grande demanda de
processos e consequente sobrecarga do poder judiciário (ANDRADE, 2019).
O projeto de lei nº 882/2019 (Pacote Anticrime) que deu azo à Lei 13.964/2019, de
autoria do ex-Ministro da Justiça Sergio Moro, continha uma versão mais próxima do modelo
“plea bargain” adotado nos Estados Unidos, que acrescia o art. 395-A ao Código de Processo
Penal, com a seguinte redação: "Art. 395-A. Após o recebimento da denúncia ou da queixa e
até o início da instrução, o Ministério Público ou o querelante e o acusado, assistido por seu
defensor, poderão requerer mediante acordo penal a aplicação imediata das penas” (BRASIL,
2019b, on-line). Esse mecanismo permitiria que o acusado fizesse um acordo com o Ministério
Público no qual se declara culpado do crime em troca de vantagens, como uma pena mais
branda, por exemplo, abreviando o processo judicial e em muitos casos evitando até que o caso
seja levado a julgamento, essa hipótese apresentaria mais uma espécie de justiça consensual.
Contudo, essa previsão não passou pelo crivo legislativo.
Faz-se mister o ensinamento de Rogério Sanches da Cunha et al. (2019, p. 177) sobre a
justiça consensual:

[...] o modelo consensuado: tem o propósito de trazer à justiça criminal modelos de


acordo e conciliação que visem a reparação de danos e a satisfação das expectativas
sociais por justiça. Pode ser dividido em (1) modelo pacificador ou restaurativo,
voltado à solução do conflito entre o autor de crime e a vítima (reparação de danos) e Comentado [JJ1]: Seria interessante fazer um link
(2) modelo de justiça negociada (plea bargaining), em que o agente, admitindo culpa, dessa citação com o parágrafo anterior, pra manter a
negocia com o órgão acusador detalhes como quantidade de pena, forma de fluidez da leitura. Deu pra entender a pertinência dela
cumprimento, perda de bens e reparação de danos. pelos parágrafos seguintes, mas numa primeira leitura
ficou meio brusca a inserção, como se tivesse sido
jogada aleatoriamente.
Nesse liame, a justiça consensual mostra-se como uma alternativa ao falimento do Comentado [JJ2R1]: Ficou bem melhor essa citação
aqui. Eu só passaria esse trecho final do parágrafo
sistema burocratizado do processo penal clássico, qual seja: denúncia, processo, provas, ampla anterior que fala do direito comparado pra depois
desse, pra não ficar cortada a parte dos modelos
defesa, contraditório, sentença, duplo grau de jurisdição etc. (CUNHA et al., 2019). Esse internacionais

mecanismo também resta presente nos ordenamentos jurídicos alienígenas, tais quais a Comentado [LL3]: tem q colocar em italico as palavras
estrangeiras
“Absprache” (barganha) no direito alemão e o “plea bargain” no direito americano. Comentado [LL4R3]: ne?
Pois bem, a “Absprache”, conceitualmente, é um mecanismo que exige a renúncia à Comentado [JJ5R3]: sim, vou ajeitar qnd for lendo

defesa através da aceitação pelo réu da acusação, mediante sua confissão, recebendo em troca Comentado [LL6R3]: vou pondo tb
Comentado [UC7R3]: ihuuuu
algum benefício, em regra, a redução da pena. Nesta medida, por ser um acordo no curso do
Comentado [AA8R3]: quem eh esse que disse
processo penal e por exigir a ausência de oposição à acusação, “assemelha-se mais ao nolo "ihuuuu"?

Comentado [LL9R3]: e eu sei?? KKKK


contendere (sem contestação) americano, na medida em que a confissão tem mais o formato de
uma não contestação à imputação penal feita pela acusação” (MOTA, 2021, p. 178).
Por seu turno, no “plea bargain” há a negociação acerca da pena a ser aplicada, a
quantidade de crimes, a forma do cumprimento das penas e reparação dos danos. Com efeito,
consiste em um procedimento negocial em que o réu se admite culpado para receber em
contrapartida benefícios por parte do Estado. Pressupõe a formalização da acusação, podendo
ocorrer inclusive até o momento da execução da sentença penal condenatória (MOTA, 2021).
Frisa-se que o abreviamento do processo penal é tendência em vários países, não só de
tradição de “common law” – sistema de precedentes – no caso dos Estados Unidos (plea
bargain), como nos países atrelados constitucionalmente ao princípio da legalidade de tradição
de “civil law”, situação da Alemanha (Absprache) e Brasil com o novo ANPP.
Diante do cenário brasileiro, onde a justiça criminal se encontra em meio a um colapso
com o aumento da criminalidade e da impunidade, a justiça vinha perdendo credibilidade. “A
morosidade dos processos criminais, o elevado custo econômico e de pessoal e a baixa eficácia
dos objetivos da prevenção geral e especial da pena têm conduzido a uma nova orientação de
política criminal” (SANTOS, B., 2020, p. 7-8). Comentado [JJ10]: Sobrenome igual ao de Marco
Paulo Dutra Santos, que eu utilizei na minha parte:
Arremata Bruno Santos (2020, p. 26): "Quando houver coincidência de sobrenomes de
autores, acrescentam-se as iniciais de seus
prenomes". Vou modificar os meus tbm.
O acordo de não persecução penal, desde a sua concepção, foi baseado em uma
decisão político criminal – que tem como objetivo a melhora e a racionalização do
direito vigente, por intermédio de fórmulas legislativas adaptáveis às necessidades
sociais – com o principal objetivo de dar celeridade a justiça brasileira, sendo que ao
criar uma nova forma de solucionar o alto nível de processos de forma consensual nos
casos de menor reprovabilidade, estará ajudando o judiciário a poder se empenhar nos
casos mais graves.

Em razão disso, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), a priori, através


da Resolução nº 181/2017, com alterações pela Resolução nº 183/2018 dispôs sobre a
instauração e tramitação do procedimento investigatório a cargo do Ministério Público.
Alude o preâmbulo da referida resolução:

Considerando a necessidade de permanente aprimoramento das investigações


criminais levadas a cabo pelo Ministério Público, especialmente na necessidade de
modernização das investigações com o escopo de agilização, efetividade e proteção
dos direitos fundamentais dos investigados, das vítimas e das prerrogativas dos
advogados, superando um paradigma de investigação cartorial, burocratizada,
centralizada e sigilosa;
Considerando a carga desumana de processos que se acumulam nas varas criminais
do País e que tanto desperdício de recursos, prejuízo e atraso causam no oferecimento
de Justiça às pessoas, de alguma forma, envolvidas em fatos criminais; Considerando,
por fim, a exigência de soluções alternativas no Processo Penal que proporcionem
celeridade na resolução dos casos menos graves, priorização dos recursos financeiros
e humanos do Ministério Público e do Poder Judiciário para processamento e
julgamento dos casos mais graves e minoração dos efeitos deletérios de uma sentença
penal condenatória aos acusados em geral, que teriam mais uma chance de evitar uma
condenação judicial, reduzindo os efeitos sociais prejudiciais da pena e desafogando
os estabelecimentos prisionais (BRASIL, 2017a, on-line).

Logo, é possível inferir que o Acordo de Não Persecução Penal tem o objetivo de
fortalecer a justiça penal negocial no país, desafogando e aprimorando o sistema punitivo
nacional. Além disso, é latente a presença do instituto como ferramenta de resolutividade de
demandas criminais consideradas de médio potencial ofensivo com foco na reparação do dano
experenciado pela vítima.
Sendo assim, inicialmente, através das Resoluções do CNMP e, em seguida, da Lei nº
13.964/2019, – por meio do art. 28-A do Código de Processo Penal – foi conferido ao Ministério
Público brasileiro um instrumento útil ao amparo de uma política criminal que abarca a
concretização de um processo penal célere, eficiente, econômico e, em consequência, justo,
bem como salvaguarda os interesses da vítima lesada.
Essa atribuição otimiza a atuação do Parquet em persecuções penais de maior impacto
social. O processo penal carecia de um instrumento como o ANPP. Inegavelmente, o Acordo
de Não Persecução Penal trará economia de tempo e recursos para que o sistema de justiça
criminal exerça, com a atenção devida, uma tutela penal mais efetiva nos crimes que merecem
esse tratamento (CUNHA, 2020). Comentado [JJ11]: Parágrafo desconexo com os
demais
Cumpre agora tecer algumas considerações sobre o art. 28-A do Código de Processo
Penal, que assim dispõe em seu caput:

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal
e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e
com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor
acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e
alternativamente (BRASIL, 2021c, on-line).

Pois bem, a celebração do Acordo de Não Persecução Penal depende da observância


dos requisitos que estão enumerados no art. 28-A e suas disposições. São requisitos essenciais
para aplicação do ANPP: a) pena mínima inferior a quatro anos; b) prática de infração penal
sem violência ou grave ameaça; c) não ser caso de arquivamento; d) confissão formal e
circunstancial da prática da infração; e) ser considerado necessário e suficiente para reprovação
e prevenção do crime, vide art. 28-A, caput, CPP (BRASIL, 2021c, on-line).
Por seu turno, existem ainda hipóteses impeditivas da aplicação do Acordo de Não
Persecução Penal que são trazidas pelos incisos do §2º do art. 28-A do Código de Processo
Penal. Quais sejam: a) não cabimento do ANPP no caso de ser possível a aplicação da transação
penal (art. 76 da lei nº 9.099/95 do Juizado Especial Criminal); b) se o investigado tiver sido
beneficiado nos cinco anos antecedentes ao que a infração foi cometida por Acordo de Não
Persecução Penal, transação penal, ou suspensão condicional do processo; c) “se o investigado
for reincidente, ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual,
reiterado ou profissional” (BRASIL, 2021c, on-line), excetuando as infrações penais
insignificantes pretéritas e, por fim, d) em “crimes praticados no âmbito de violência doméstica
ou familiar, ou praticado contra mulher por razoes da condição do sexo feminino, em favor do
agressor” (BRASIL, 2021c, on-line).
Conforme todo o explanado, observa-se que o Acordo de Não Persecução Penal mitiga
a obrigatoriedade do procedimento penal, exigindo do agente, em troca de benefícios, o
cumprimento de algumas condições trazidas pelos incisos I a V do art. 28-A do Código de
Processo Penal. Todavia, este rol não é taxativo, visto que o inciso V traz: “cumprir, por prazo
determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e
compatível com a infração penal imputada” (BRASIL, 2021c, on-line).
O procedimento para efetivação do acordo perpassa a avaliação dos requisitos legais
exigidos pelo dispositivo e deverá ser formalizado por escrito e na presença do membro do
Ministério Público, do investigado e seu defensor (art. 28-A, §3º, CPP). Posteriormente a essa
fase, o judiciário, após audiência de verificação dos requisitos com o investigado, decidirá sobre
a homologação do acordo (art. 28-A, §§3º ao 9º, CPP). Caso considere inadequadas,
insuficientes ou abusivas as condições, poderá o juiz devolver os autos ao Ministério Público
para reformulação (BRASIL, 2021c, on-line).
Configurado o Acordo de Não Persecução Penal, cumpre salientar que o seu
descumprimento injustificado acarretará a comunicação do Ministério Público ao juízo para
fins de rescisão e posterior oferecimento da denúncia (art. 28-A, §10, CPP). Por outro lado,
cumpridas as exigências, o juízo decretará a extinção da punibilidade, assim versa o art. 28-A,
§ 13, CPP.
Posto isso, interessante salientar, ainda, que insta na doutrina o debate acerca da
obrigatoriedade do Ministério Público em ofertar o Acordo de Não Persecução Penal caso
cumpridos os requisitos necessários para o privilégio. Nesse sentido, Jorge Henrique Schaefer
Martins (2020) entende que, desde que preenchidos os requisitos legais, tratar-se-ia de direito
público subjetivo do imputado, isto é, um direito processual que não lhe pode ser negado.
Leciona:

Sendo todos iguais perante a lei, não se pode admitir que pessoas que se encontrem
em situações idênticas ou similares venham a receber tratamento penal diferenciado.
Tendo sido a elas reconhecido o direito de não se submeter ao processo criminal,
mediante a satisfação de requisitos objetivos e submissão a condições, incogitável a
possibilidade de diferenciação sem razão legal própria e definida. Neste contexto,
tem-se que a condição de permitir a cada promotor de justiça a possibilidade de
oferecer ou não o ANPP representa afronta à segurança jurídica [...] (MARTINS,
2020, on-line).

Em tal conformidade, falece ao representante ministerial, no momento em que se depara


com situação que preencha os requisitos objetivos, optar por negar o direito ao Acordo de Não
Persecução Penal ao seu livre arbítrio. Bem como, haja vista o Ministério Público, enquanto
instituição, ser uno e indivisível, soa injusto admitir-se que a aferição da condição subjetiva do
denunciado fique adstrita a empatia ou antipatia do representante ministerial, à sua adesão ou
não da figura do acusado ao instituto da ANPP.
De outro lado, considera-se que o Acordo de Não Persecução Penal é um poder-dever
do Ministério Público. Como bem versa o art. 28-A do CPP, este permite ao Ministério Público
a capacidade em que “poderá propor Acordo de Não Persecução Penal, desde que necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições”. (BRASIL,
2021c, on-line). Além disso, o art. 129, caput, I da Constituição Federal de 1988 vem a
complementar: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover,
privativamente, a ação penal pública, na forma da lei” (BRASIL, 2021a, on-line). Comentado [JJ12]: Acho que esse trecho não é pra
estar aqui
Ademais, interessante ainda observar que o Acordo de Não Persecução Penal e
suspensão condicional do processo, ou melhor, sursis processual, tem a mesma característica
instrumental da justiça penal consensual, sendo assim, o mesmo raciocínio poderia ser aplicado
para ambos institutos. Comentado [JJ13]: Ficaria melhor esse explicação
antes de falar da posição da doutrina com relação ao
Assim sendo, caminhou nesse sentido a jurisprudência no tocante ao Acordo de Não sursis

Persecução Penal (ANPP), em que a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) no
Agravo Regimental no Habeas Corpus 191.124 - RO, decidiu que:

[...] se estiverem presentes os requisitos descritos em lei, esse novo sistema acusatório
de discricionariedade mitigada não obriga o Ministério Público ao oferecimento do
acordo de não persecução penal, nem tampouco garante ao acusado verdadeiro direito
subjetivo em realizá-lo. Simplesmente, permite ao Parquet a opção, devidamente
fundamentada, entre denunciar ou realizar o acordo de não persecução penal, a partir
da estratégia de política criminal adotada pela Instituição (BRASIL, 2021f, p. 10).
Tal afirmação baseia-se ainda no posicionamento adotado em relação sursis processual.
Na mesma direção decidiu a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do
Agravo Regimental no Habeas Corpus 74.464 - SP, que teve como relator Min. Sebastião Reis
Júnior no qual: “a suspensão condicional do processo não é um direito subjetivo do acusado,
mas sim um poder-dever do Ministério Público, titular da ação penal, a quem cabe, com
exclusividade, analisar a possibilidade de aplicação do referido instituto, desde que de forma
fundamentada” (BRASIL, 2017b. p. 1).
No tocante a possibilidade de proposição do Acordo de Não Persecução Penal, perdura
na doutrina divergência sobre a aplicação da ANPP a processos em curso, isto é, sobre a
retroatividade do instituto. O tema será analisado de maneira pormenorizada em seguinte.

3 A NORMA MATERIAL E PROCESSUAL NA ANÁLISE DA RETROATIVIDADE


DA LEI PENAL: TEMPUS REGIT ACTUM E LEI PENAL MAIS BENÉFICA

No que toca à análise da retroatividade do instituto regulamentado no art. 28-A do CPP,


é, primeiramente, necessário o estudo acerca da natureza de tal norma com a finalidade precípua
de definir o princípio penal orientador, qual seja: tempus regit actum ou retroatividade da lex
mitior.
De um lado, o sistema jurídico estipula como normas processuais aquelas que vêm a
regulamentar assuntos concernentes ao procedimento bem como à forma dos atos processuais
(AVENA, 2021). Nesse viés, no que concerne à lei processual penal no tempo, importante se
faz a leitura do art. 2º do CPP, o qual dispõe: “A lei processual penal aplicar-se-á desde logo,
sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior” (BRASIL, 2021c,
on-line).
Nessas normas, verifica-se o princípio tempus regit actum, ou princípio do efeito
imediato, no qual estabelece como determinante da forma do ato processual e de seus efeitos,
o tempo do ato. Assim sendo, a nova lei processual tem aplicação imediata, enquanto que os
atos processuais anteriormente realizados não serão invalidados (AVENA, 2021). Nesse
mesmo sentido, explica Eugênio Pacelli (2020, p. 5): Comentado [JJ14]: O ano e a pg ficam aqui.

[...] uma vez proferida a sentença ou outro ato decisório do juiz, eventual impugnação
(recurso) terá que obedecer ao prazo vigente na data do aludido ato judicial, ainda que
outro tenha sido previsto na nova legislação. E assim será porque se cuidará de prazo
recursal já em curso, com início a partir da decisão. Do mesmo modo, e pelas mesmas
razões, quando se tratar de modificação de todo o rito procedimental, dever-se-ão
respeitar as regras anteriores, se já iniciado o processo, com o fim de se evitar a
fragmentação da Lei.

Assim, no que tange a extratividade da norma processual, isto é, a incidência da lei fora
de sua vigência, seja anterior à entrada em vigor, fenômeno denominado como retroatividade,
ou ainda posteriormente, através da ultratividade, entende-se, majoritariamente, a
impossibilidade da retroação, haja vista o tempus regit actum (AVENA, 2021). Nesse diapasão,
a jurisprudência vem a complementar: “[...] os atos realizados na vigência da lei processual
anterior não são prejudicados ou devem ser repetidos sobre as balizas da nova lei adjetiva, uma
vez que no processo penal vige o princípio tempus regit actum, nos termos do art. 2º do CPP”
(BRASIL, 2018, on-line) (Agravo Regimental no Habeas Corpus n. 463.386-SP, STJ, 5ª Turma, Comentado [JJ15]: Eu adicionei a citação aqui. Mas tá
faltando nas referências esse julgado.
unânime, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 18.10.2018, publicado no DJ em 23.10.2018).
Contudo, este entendimento não é universal. A doutrina minoritária vem a discordar do
Princípio da Imediatidade contido no art. 2º do CPP, uma vez entendê-lo inconstitucional, em
confronto com o art. 5º, XL, CF (LOPES JÚNIOR, 2019). Nesse viés, as regras da
retroatividade da lei penal mais benéfica deverão ser estendidas também à norma processual
penal, mediante interpretação sistêmica (LOPES JÚNIOR, 2019). Nesse caso, a lei processual
mais gravosa incidirá apenas nos crimes praticados após a vigência da lei, enquanto que a lei Comentado [AA16]: MUDA O CONECTIVO, FICOU
IGUAL
mais benéfica retroagirá (LOPES JÚNIOR, 2019).
A partir disso, a ANPP, como modelo de justiça consensual, busca a simplificação do
procedimento da persecução penal, objetivando o não ajuizamento da ação penal (FERREIRA;
PEREZ, 2020). Portanto, é entendido como negócio jurídico processual, uma vez a produção
de efeitos anteriores ao processo em si, além de trazer requisitos para a sua celebração como
também as condições que poderão ser ajustadas entre as partes (FERREIRA; PEREZ, 2020).
Por outro lado, são observadas normas que asseguram e instituem direitos e garantias,
denominadas de normas materiais (AVENA, 2021). Estas disciplinam o poder punitivo estatal
através da tipificação de delitos, penas e regimes (LOPES, 2019). Via de regra, no conflito das
leis penais no tempo, tais normas regem-se pelo princípio da irretroatividade das leis penais
mais severas, em flagrante respeito ao princípio da legalidade e anterioridade da lei penal
(BITENCOURT, 2020).
Ocorre, entretanto, a aplicação retroativa da lei penal quando esta for a mais benéfica,
tal como constitucionalmente disposto no art. 5º, XL: “a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu” (BRASIL, 2021a, on-line). Ademais, o art. 2º, parágrafo único do Código
Penal vem a complementar: “A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-
se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”
(BRASIL, 2021b, on-line).
Destarte, qualquer alteração in mellius deverá retroagir, aplicando-se aos processos em
andamento, às decisões condenatórias transitadas em julgado e aos fatos delituosos na qual os
processos ainda não se iniciaram (BITENCOURT, 2020). Acerca do que vem a ser entendido
como lei penal mais benigna, Cezar Roberto Bitencourt (2020, p. 467) vem a entendê-las como:

Toda lei penal, seja de natureza processual, seja de natureza material, que, de alguma
forma, amplie as garantias de liberdade do indivíduo, reduza as proibições e, por
extensão, as consequências negativas do crime, seja ampliando o campo da licitude
penal, seja abolindo tipos penais, seja refletindo nas excludentes de criminalidade ou
mesmo nas dirimentes de culpabilidade, é considerada lei mais benigna, digna de
receber, quando for o caso, os atributos da retroatividade e da própria ultratividade
penal.

Analisando-se o disposto no art. 28-A, CPP, percebe-se que, o Acordo de Não


Persecução Penal atinge, também, o próprio direito de punir pelo Estado e a extinção da
punibilidade do agente com cumprimento integral das condições, como elucidado no § 13, e,
portanto, traz consequências ao direito penal material (FERREIRA; PEREZ, 2020).
Dito isso, não obstante a clara diferença entre normas processuais e materiais, verifica-
se a existência de leis que venham a promover modificações tanto no âmbito do Direito Penal
como do Processo penal, entendidas como normas de natureza híbrida ou mista (PACELLI,
2020). Estas possuem duplicidade de conteúdo versando concomitantemente de assuntos
processuais e materiais, daí decorre a necessidade de se averiguar, nessas normas, o aspecto
relacionado à eficácia da lei no tempo, ante a visão antinômica entre o princípio geral de efeito
imediato e a retroatividade (AVENA, 2021).
Dentre as orientações existentes, ressalta-se a corrente em que não se admite a cisão da
norma em material e processual, assim sendo, caso o conteúdo material for considerado mais
benéfico ao réu aplicar-se-á sua retroatividade, incidindo também a disciplina processual,
independentemente de esta ser ou não favorável (AVENA, 2021). Acerca disso, a
jurisprudência vem a pacificá-la no Informativo nº 0509, de 5 de dezembro de 2012, 6ª Turma:

A norma que altera a natureza da ação penal não retroage, salvo para beneficiar o réu.
A norma que dispõe sobre a classificação da ação penal influencia decisivamente o
jus puniendi, pois interfere nas causas de extinção da punibilidade, como a decadência
e a renúncia ao direito de queixa, portanto tem efeito material. Assim, a lei que possui Comentado [JJ17]: Faltou colocar nas referências
normas de natureza híbrida (penal e processual) não tem pronta aplicabilidade nos bibliográficas.
moldes do art. 2º do CPP, vigorando a irretroatividade da lei, salvo para beneficiar o Comentado [LL18R17]: simm era isso que ia pergutar
réu, conforme dispõem os arts. 5º, XL, da CF e 2º, parágrafo único, do CP (BRASIL, pra vcs, vou mandar aqui essa refer;ência mas n sei se
2012, p. 19). ta certa
Nesse viés, o art. 28-A do CPP é, indubitavelmente, norma de natureza mista uma vez
que, além de estar situada no âmbito do processo penal, traz consequência de direito penal
material haja vista prever a extinção da punibilidade, como dispõe o § 13 do art. 28-A do CPP
(FERREIRA; PEREZ, 2020). Portanto, ao estabelecer causa extintiva da punibilidade, deverá
ocorrer a retroação com o fito de beneficiar o agente, tal como versa o art. 5º, XL da
Constituição, haja vista o maior benefício em relação a uma condenação criminal (LOPES
JÚNIOR, 2020).
Nesse mesmo sentido, Laurita Vaz, no agravo regimental no Habeas Corpus nº 628.647
- SC, acerca da retroatividade da ANPP, estabeleceu:

[...] por mais que se trate de norma de conteúdo híbrido, mais favorável ao Réu – o
que não se discute –, o deslinde da controvérsia deve passar pela ponderação dos
princípios tempus regit actum e da retroatividade da lei penal benéfica, sem perder de
vista a essência da inovação legislativa em questão e o momento processual adequado
para sua incidência (BRASIL, 2021d, p. 9). Comentado [JJ19]: Faltou colocar nas referências. Eu
coloquei esse mesmo julgado, só que tratei do voto do
Min. Rogerio Cruz. Tu pode só copiar a referência que
Portanto, a ANPP, como norma de natureza híbrida e na figura de novatio legis in eu coloquei, trocar o link pelo do arquivo que tu citou e
a data de acesso. Trocar também a observação que
mellius, deverá retroagir, haja vista o princípio da retroatividade. Soma-se a isto a análise do está entre colchetes no final da minha referência.

momento processual adequado, em respeito ao tempus regit actum, verificando-se a incidência


da conjugação dos dois princípios ora elucidados (FERREIRA; PEREZ, 2020). A problemática
ocorre, dessa forma, na estipulação do momento em que o benefício deverá ser ofertado ao
agente, qual seja: desde que não haja denúncia oferecida e recebida; ou ainda até a prolação de
sentença; até grau de recurso; bem como se é aplicável após o trânsito em julgado (FERREIRA;
PEREZ, 2020).

4 A APLICABILIDADE RETROATIVA DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO


PENAL AOS CASOS CUJA DENÚNCIA FOI RECEBIDA ANTES DA VIGÊNCIA DA
LEI Nº 13.694/2019

As discussões acerca da aplicação do Acordo de Não Persecução Penal no âmbito do


direito intertemporal ganharam relevância assim que o “Pacote Anticrime” entrou em vigor. E
para entender essa questão, fez-se essencial a apresentação conceitual realizada nos capítulos
anteriores, especialmente o ponto que trata do caráter híbrido da norma. Nesse viés, este tópico
estará dedicado a aprofundar o debate de forma mais específica, trazendo delineamentos acerca
do problema central do presente trabalho: a aplicabilidade retroativa do instituto do ANPP aos
casos em que o recebimento da denúncia ocorreu antes da vigência da Lei nº 13.964/2019.
A partir dessa perspectiva, o enfoque aqui proposto perpassa pela abordagem de três
principais posições que a doutrina e a jurisprudência adotaram quanto à retroatividade deste
instituto após a “Lei Anticrime” entrar em vigor. A primeira delas é a que defende a
possibilidade de celebração do acordo somente até o recebimento da denúncia – posição que
vem ganhando especial força nas decisões dos tribunais superiores. As outras duas posições,
por outro lado, aceitam a retroação mesmo após o recebimento da denúncia: a segunda corrente
sustenta que o instituto só pode ser aplicado até a sentença, enquanto o último grupo defende
sua realização em qualquer fase do processo antes do trânsito em julgado.
A ideia da aceitação da celebração do Acordo de Não Persecução Penal somente até o
recebimento da denúncia se apoia na premissa de que este é o ponto inicial da persecução penal
e, sendo o ANPP um instituto pré-processual, não caberia após esta etapa. Nesse sentido,
embasam também esta corrente argumentos que decorrem de interpretações literais da norma,
bem como de fatores históricos que envolvem a tramitação legislativa que culminou neste Comentado [LL20]: aqui tu vai referenciar da onde
tirou?
instituto, além daqueles que apontam uma predominância do caráter processual de seu conteúdo
Comentado [JJ21R20]: isso eu tirei da minha mente
com relação ao seu aspecto material, apesar de se tratar de uma norma híbrida. kkk fui compilando os argumentos de vários
doutrinadores dessa corrente
No que se refere à interpretação literal dos dispositivos da Lei nº 13.864/2019, tem-se,
primeiramente, um foco exegético no próprio título conferido ao instituto, o que desemboca na
noção já citada de que sua aplicação só seria válida enquanto não houvesse o início da
persecução penal, cujo marco inicial é o recebimento da denúncia. No entanto, esta defesa não
se esgota nesta perspectiva, trazendo elementos da norma, tais como o tratamento do
beneficiado pelo acordo como “investigado”, o que indicaria novamente sua inaplicabilidade
aos processos em curso. Somado a isso, os adeptos desse posicionamento também apontam a
atribuição da competência para homologação do acordo conferida pelo art. 3º-B, XVII do
Código de Processo Penal ao juiz de garantias como um atestado de que este instituto é pré-
processual, haja vista que as atribuições deste magistrado se restringem a essa fase.
No tocante ao argumento histórico utilizado por aqueles que sustentam esta primeira
corrente, diz respeito ao fato de que na formulação do Projeto de Lei nº 882/2019 havia, junto
ao Acordo de Não Persecução Penal, o Acordo de Não Continuidade da Persecução Penal, que
não avançou nos trâmites das casas legislativas. Isto se configuraria, dessa forma, um indicativo
de que o legislador buscou restringir o instituto aprovado somente aos casos em que a
persecução penal não foi iniciada. O Min. Reynaldo Soares sustentou esse ponto no julgamento
do Recurso Especial nº 1.664.039/PR:
O Projeto de Lei 882/2019 também previa a figura do "Acordo de Não Continuidade
da Ação Penal" – não aprovado pelo Congresso Nacional –, o qual apenas poderia ser
proposto após o recebimento da denúncia ou queixa e até o início da instrução
processual, o que revela a especificidade de cada instituto, a depender do momento
processual. Nessa linha de intelecção, não tendo ocorrido a implementação integrada
dos institutos, ou mesmo a indicação de regra de transição, cabe ao Judiciário firmar
compreensão teleológica e sistemática, que melhor reflita a coerência e o alcance da
norma trazida no art. 28-A do Código de Processo Penal. Assim, é possível sua
aplicação retroativa apenas enquanto não recebida a denúncia. (BRASIL, 2020b, p. 2)

Há, ainda, aqueles que defendem, a despeito de se tratar de uma norma híbrida, uma
sobressalência de seu caráter processual, o que justificaria sua limitação ao recebimento da
denúncia do Parquet. Este é o entendimento exposto pelo Ministro Rogerio Schietti Cruz do
Superior Tribunal de Justiça em seu voto no Agravo Regimental no Habeas Corpus nº 628.647
- SC:

Sem embargo, na espécie, o caráter predominantemente processual – em que pese,


evidentemente, ter algum reflexo penal, e, especialmente, a própria razão de ser do
instituto – evitar a deflagração de processo criminal –, conduzem a se sustentar, a meu
aviso, que sua retroatividade, diversamente do que ocorre com as normas híbridas com
predominante conteúdo material (de que é exemplo o dispositivo que condiciona a
ação penal a prévia representação da vítima), deve ser limitada ao recebimento da
denúncia do Ministério Público, isto é, à fase pré-processual da persecutio criminis.
(BRASIL, 2021e, p. 4-5)

No entanto, Gomes e Teixeira (2020), adeptos de posição divergente desta, entendem


que tais argumentos revelam tão somente que este instituto é meramente pré-processual,
entendimento do qual eles não discordam. Complementam que o debate em tela não está
centrado na normal aplicação do instituto, mas de sua celebração no contexto do direito
intertemporal, arrematando que, apesar destes pontos, “força é concluir que não cumprem o
objetivo de afastar a retroatividade da lei penal material mais benéfica” (GOMES; TEIXEIRA,
2020, on-line).
Como dito anteriormente, este entendimento da primeira corrente tem recebido o
respaldo da jurisprudência, especialmente das Cortes Superiores do país. É o caso do voto
supracitado do Ministro Rogério Cruz, que representou uma situação de mudança de
posicionamento da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que anteriormente, com a
relatoria do Ministro Nefi Cordeiro, entendia pelo cabimento do Acordo de Não Persecução de
forma retroativa até o trânsito em julgado da condenação (BRASIL, 2020c). A Quinta Turma
desta Corte também comunga deste entendimento. Também foi essa a posição do Supremo
Tribunal Federal no julgamento do Agravo Regimental no Habeas Corpus 191.464, que teve
como relator Min. Roberto Barroso, onde se firmou a seguinte tese: “o acordo de não
persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019, desde que
não recebida a denúncia” (BRASIL, 2020d, p. 1).
As outras duas posições que estão envolvidas no debate aceitam a aplicação
intertemporal após a denúncia, divergindo quanto ao marco final para que possa ser possível a
celebração do acordo. Determinada corrente aceita a sentença como marco final para o
cabimento. Já o outro grupo entende ser possível a celebração do ANPP a qualquer momento
antes do trânsito em julgado.
Nessa perspectiva, acreditam ser possível a realização do acordo até a sentença, por
exemplo, o Tribunal de Justiça e o Ministério Público de Minas Gerais (MINAS GERAIS,
2020) que na Portaria Conjunta nº 20/2020 determinaram a identificação dos processos em
curso ainda não sentenciados e inquéritos em andamento que se amoldavam aos requisitos do
ANPP para que fosse intimada a defesa quanto ao interesse em sua realização. Na seara
doutrinária se posicionam desta forma Aury Lopes Jr. e Higyna Josita (2020), assim como
Linhares Júnior (2020), além de Junqueira, Vanzolini e Pardal (2021, p. 68), que assim
arrematam sobre a questão: “se a satisfação do direito de punir do Estado foi alcançada por
meio de decisão penal condenatória (processo), não mais teria cabimento a aplicação da pena
(consensual) por meio da negociação penal (acordo de não persecução penal)”. Tal
entendimento está sustentado na noção de que uma vez proferida a sentença estaria esvaziada
de sentido a realização do acordo, tendo em vista que seu objetivo primordial seria de evitar a
persecução penal, a qual já se consumou com a conclusão da referida etapa processual.
A posição que entende pelo cabimento do instituto a qualquer momento antes do trânsito
em julgado se sustenta primordialmente na retroatividade alargada pela força do art. 5º, XL da
Constituição Federal, aplicável a situação em virtude do caráter híbrido da norma, que possui,
portanto, um aspecto material, conforme já discutido em tópico anterior. Este dispositivo da
Carta Magna dispõe, por sua vez, que: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”
(BRASIL, 2021a, on-line).
Entre os que compõem esta corrente está Assumpção (2020), no âmbito doutrinário. No
campo jurisprudencial, esta foi a posição inicial da Sexta Turma do Superior Tribunal de
Justiça, antes da mudança de entendimento para o mesmo sentido da Quinta Turma, conforme
já tratado. Em decisão proferida sob a Relatoria do Ministro Nefi Cordeiro (BRASIL, 2020c,
p. 1) entendeu a Sexta Turma que:
[...] o cumprimento integral do acordo de não persecução penal gera a extinção da
punibilidade (art. 28-A, § 13, do CPP), de modo que como norma de natureza jurídica
mista e mais benéfica ao réu, deve retroagir em seu benefício em processos não
transitados em julgado (art. 5º, XL, da CF). (AgRg no HC 575.395/RN, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 08/09/2020, DJe 14/09/2020)

Contudo, essas duas posições apresentam alguns pontos comuns que as embasam, os
quais serão aqui apresentados. Estas questões dizem respeito, de forma geral: a natureza mista
da norma e a aplicação da lei penal mais benéfica com base no art. 5º, XL da Constituição; há
aqueles que apontam uma possível ofensa ao princípio da isonomia, caso não seja aceita tal
cabimento após o recebimento da denúncia; também se aponta a noção de que a oferta do ANPP
é um poder-dever de agir do Estado; finalmente, argumenta-se pela similaridade deste novo
instituto com a transação penal e o sursis processual, que já possuem jurisprudência firmada na
ADIn 1.719-9 com relação a sua aplicação intertemporal convergindo no sentido de sua
aceitação em processos em curso.
Quanto ao primeiro ponto, seu pilar está assentado na concepção já discutida de que,
por se tratar de um causa que extingue a punibilidade, a norma do Acordo de Não Persecução
Penal possui um caráter híbrido, sendo dotada, por isso, de um aspecto material que proporciona
a aplicação da lei penal mais benéfica no âmbito do direito intertemporal que envolve o
instituto. Conforme já comentado, se encontra na Carta Magna tal preceito, no inciso XL de seu
art. 5º, configurando um dos direitos fundamentais assegurado pela Constituição.
No que se refere a ofensa ao princípio da isonomia ao não ser aplicado retroativamente
o ANPP aos processos em que já foi recebida a denúncia, está embasado da noção de que a
celeridade ou a morosidade no trâmite de um caso pode causar uma disparidade de tratamento
quanto a oferta do acordo. José Jairo Gomes e Danielle Torres Teixeira (2020, on-line) ilustram
tal afirmação com o seguinte exemplo:

Veja-se: duas pessoas que cometeram delitos na mesma data, a depender do


andamento do inquérito policial e do processo penal, poderiam estar ou não
acobertadas pela possibilidade do acordo. Ou seja, se para um dos agentes o
procedimento ocorreu de forma célere e houve oferecimento de denúncia antes da
vigência da lei 13.964/19, para ele o acordo restaria prejudicado. A afronta à isonomia
seria ainda mais evidente - e grave - na hipótese de concurso de pessoas, em que
houvesse aditamento da denúncia para incluir coautor ou partícipe, pois, nesse caso,
o corréu por primeiro denunciado não faria jus ao benefício que teria de ser oferecido
ao seu parceiro na empreitada criminosa.

Já no tocante ao argumento de que o oferecimento do Acordo de Não Persecução Penal


constitui um poder-dever de agir do Estado, ele implica reflexamente na existência de um
direito subjetivo do investigado/réu. Ou seja, uma vez que sejam cumpridos os requisitos legais,
o Estado não pode se negar a celebrar tal acordo. Este ponto é bastante controvertido na doutrina
conforme já discutido anteriormente, e, embora embase a defesa de alguns estudiosos como
Gomes e Teixeira (2020) e Aury Lopes (2020) quanto à possibilidade de aplicação retroativa
do instituto nos casos em que já foi oferecida a denúncia, há outros que divergem desta
concepção de direito subjetivo, mas ainda assim continuam defendendo sua aplicação
intertemporal de forma alargada, como, por exemplo, Higyna Josita (2020).
Por sua vez, o ponto que trata da aplicação por analogia da decisão da ADIn 1.719-9 aos
casos na aplicação intertemporal do Acordo de Não Persecução Penal se baseia numa ideia de
similaridade entre o ANPP e a transação penal. A decisão da referida Ação Direta de
Inconstitucionalidade deu interpretação conforme a Constituição ao art. 90 da Lei nº 9.099/95
para determinar sua retroatividade sob a égide do princípio da lei penal mais benéfica,
envolvendo os institutos da transação penal e sursis processual, que passaram a retroagir
independentemente da fase processual.
Quanto à similaridade entre o Acordo de Não Persecução Penal e a transação penal,
aponta-se que em ambos: o objetivo é o não oferecimento da denúncia; a sentença judicial
apenas homologa o acordo; o descumprimento restitui o direito de ação do Ministério Público;
além de que o cumprimento não gera maus antecedentes, reincidência ou admissão de culpa,
sendo registrada apenas para impedir nova concessão do benefício no prazo de cinco anos
(SANTOS, M., 2019). Marco Paulo Dutra Santos (2019, p. 194) ressalta que “a identidade
ontológica e teleológica entre os dois institutos é tamanha que, no caso de justaposição, o art.
28-A, § 2º, I do CPP ordena que se observe a transação penal”. Em virtude dessas semelhanças
entre os institutos que autores como Marco Santos (2019), Gomes e Teixeira (2020) sustentam
a aplicação do entendimento consolidado na ADI 1.719 ao ANPP para justificar o cabimento
do ANPP aos processos em curso, mesmo após o recebimento da denúncia.
Porém, entendimentos do próprio Supremo Tribunal Federal com relação a Lei nº
9.099/95 foram utilizados pelo Ministro Roberto Barroso para fundamentar seu voto no Agravo
Regimental no Habeas Corpus 191.464 de Santa Catarina onde procurou restringir a aplicação
retroativa do Acordo de Não Persecução Penal ao recebimento da denúncia, ou seja, para se
posicionar de forma contrária à de Santos, Gomes e Teixeira. O Magistrado citou o Habeas
Corpus 74.305 de Relatoria do Ministro Moreira Alves, onde foi enfrentada a aplicação
retroativa da suspensão condicional do processo e definido que, para adequá-la aos objetivos
ao qual foi formulada, a oferta do benefício só poderia ocorrer até a sentença. Assim, ficou
firmado neste precedente paradigmático que a retroatividade penal benéfica deve se adequar às
finalidades para as quais foi editada a lei penal. Nesse viés, aplicando tal entendimento ao
ANPP, explica Barroso (BRASIL, 2020d, p. 5):

Dito de outro modo, enquanto o ANPP se situa na fase pré-processual, que ocorre
entre a investigação e o recebimento da denúncia, a suspensão condicional do
processo se situa na fase processual, notadamente entre o recebimento da denúncia e
a sentença penal. Assim, aplica-se a argumentação extraída do HC nº 74.305 (ação do
tempus regit actum conforme a finalidade da inovação processual), mas não
necessariamente o resultado em termos práticos (de viabilizar a oferta do benefício
até que seja proferida a sentença).

Dessa forma, para Barroso, este entendimento fundamenta a restrição da aplicação


retroativa da ANPP somente até o recebimento da denúncia, tendo em vista a fase pré-
processual em que o instituto se situa, adequando-se, assim, aos seus fins.
Todavia, a discussão desse tema ainda não foi esgotada no âmbito da Suprema Corte
haja vista que o Ministro Gilmar Mendes remeteu o Habeas Corpus 185.913/DF para
deliberação pelo Plenário do Tribunal, delimitando as seguintes questões-problemas acerca do
tema aqui debatido: “O ANPP pode ser oferecido em processos já em curso quando do
surgimento da Lei 13.964/19? Qual é a natureza da norma inserida no art. 28-A do CPP? É
possível a sua aplicação retroativa em benefício do imputado?” (BRASIL, 2020e, p. 2).
Complementa ainda com a seguinte pergunta: “É potencialmente cabível o oferecimento do
ANPP mesmo em casos nos quais o imputado não tenha confessado anteriormente, durante a
investigação ou o processo?” (BRASIL, 2020e, p. 2).
Destarte, os debates acerca da aplicação retroativa do Acordo de Não Persecução Penal
ainda renderão diversos entraves de ideias tanto no campo doutrinário quanto na seara
jurisprudencial. Portanto, as questões aqui expostas tiveram o intuito de aprofundar o tema
visando fomentar tais diálogos para que esta inovação legislativa tenha sua eficácia realizada
da forma mais justa.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inclusão do Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) no ordenamento jurídico


brasileiro através da Lei nº 13.964/2019 segue a tendência do direito comparado de adoção de
soluções consensuais na esfera criminal. A necessidade de promoção de um procedimento mais
célere e eficiente de justiça em detrimento do procedimento penal clássico que, notadamente,
não tem a capacidade para dar uma tempestiva solução adequada a todos, justificou a resposta
de índole político-criminal com a implementação do ANPP.
O instituto consta do art. 28-A do Código de Processo Penal, o qual dispõe sobre os
requisitos, vedações e regras concernentes à aplicação do ANPP. Ademais, no tocante a
obrigatoriedade de propositura do Acordo de Não Persecução Penal, evidente não se tratar de
direito subjetivo do investigado, uma vez que a capacidade de postulação do Ministério Público
- fundamentada no princípio da oportunidade - é consubstanciada pela legislação, doutrina e
jurisprudência. Comentado [AA22]: vejam se eu preciso aumentar
aew
Outrossim, no que tange a problemática da natureza da norma, e, consequentemente, a
Comentado [JJ23R22]: tá top, amigo
questão de sua retroatividade do instituto regulamentado no art. 28-A do CPP, verifica-se a sua
natureza híbrida bem como a possibilidade de retroação. Dá-se tal conclusão uma vez o claro
viés processual que o Acordo de não Persecução Penal assume, através da regulação de assuntos
de ordem procedimental. Como também sua parte material, traduzida pela extinção da
punibilidade do agente, o que interfere diretamente na esfera punitiva estatal. Logo, é flagrante
sua hibridez. Ademais, em decorrência disto, constata-se a viabilidade da retroatividade do
instituto em análise haja vista a conjugação dos princípios tempus regit actum e novatio legis
in mellius, tendo em vista o maior benefício em relação a condenação criminal.
Nesse viés, após o início da vigência da Lei nº 13.964/2019 despontaram três posições
na doutrina e jurisprudência acerca da aplicação do ANPP no âmbito do direito intertemporal.
A primeira delas sustenta sua retroatividade somente aos casos em que não foi recebida a
denúncia e foi adotada pelas instâncias superiores, inclusive em decisão do STF, cuja posição
definitiva será tomada em julgamento remetido ao plenário. As outras duas posições aceitam
sua aplicabilidade retroativa após a denúncia, porém discordam quanto ao marco final: uma
delas defende ser possível até a sentença - partindo do pressuposto de que satisfeito o direito de
punir do Estado, estaria esvaziado de sentido seu cabimento; já a outra acredita ser aplicável o
instituto até o trânsito em julgado, apoiando-se sobretudo na disposição do art. 5º, XL da
Constituição Federal que trata de retroação da lei penal mais benéfica, tendo em vista o caráter
material já apontado da norma disciplinadora do instituto.
A segunda posição parece ser a que oferece uma solução mais justa para este imbróglio
da retroatividade do Acordo de Não Persecução Penal. Isto porque, levando em consideração
que se trata de uma norma híbrida e fazendo a ponderação dos princípios do tempus regit actum
e novatio legis in mellius, ela se coaduna melhor com o direito fundamental assegurado no art.
5º, XL da Carta Magna. Somado a isso, confere um tratamento mais isonômico aos sujeitos,
haja vista que não possibilita uma disparidade na sua aplicação em função da celeridade do
Ministério Público na oferta da denúncia. Finalmente, atende melhor aos objetivos do instituto
ao apontar a sentença como marco final, tendo em vista que aqui já estaria encerrada a
persecução penal e esgotado o sentido primordial da realização do acordo.
Dessa forma, o problema proposto neste trabalho quanto a aplicabilidade retroativa do
Acordo de Não Persecução Penal aos casos em que já foi oferecida denúncia antes da
promulgação da Lei nº 13.964/2019 foi destrinchado através do apontamento acerca dos
elementos essenciais acerca da questão, além da exposição das posições do meio acadêmico e
judicial referentes ao tema. A partir disso, chegou-se à conclusão de que as hipóteses
formuladas se confirmaram, haja vista que, como ficou demonstrado, o instituto é aplicável de
forma retroativa mesmo após a denúncia, tendo como marco final para seu cabimento a
sentença.
No que tange os objetivos, a análise da aplicabilidade retroativa do ANPP, nos casos em
que a denúncia já foi recebida, foi realizada mediante extensa pesquisa da jurisprudência
brasileira e seus embates, bem como do que vem a dispor a doutrina e a legislação. De forma
mais específica, foram apresentados os elementos da ANPP através do regulamentado pelo CPP
juntamente com o estudo do direito comparado, que ensejou melhor compreensão do instituto,
além disso, tentou-se esclarecer a natureza de tal norma por meio do estudo de diferentes
doutrinadores e seus posicionamentos. Finalmente, no que toca o momento processual da
aplicação retroativa do acordo foram analisadas as diferentes posições doutrinárias e
jurisprudenciais.
Destarte, pode-se afirmar que o presente trabalho contribui de maneira substancial com
o debate acerca do ANPP. Primeiro, por apresentar as balizas legais do instituto e, também, a
importante mudança estrutural conferida pela tendência da justiça consensual. A modificação
atingiu pilares antes reputados inalteráveis como a obrigatoriedade e a indisponibilidade da
ação penal, contudo, tal tratativa encontra legitimação nos princípios constitucionais da
proporcionalidade, efetividade, celeridade e economicidade. Nesse sentido, por se tratar de uma Comentado [JJ24]: O parágrafo ficou bom, mas essa
frase aqui ficou mt longa, melhor dividir ela em
temática ainda controvertida, resta evidente que os argumentos, análises e métodos trazidos algumas.

nesta pesquisa colaboram para elucidação e construção do conhecimento sobre a matéria. Comentado [AA25R24]: nunkero

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Flávio da Silva. Justiça penal consensual: controvérsias e desafios. 2. ed. São
Paulo: JusPodivm, 2019.
ASSUMPÇÃO, Vinícius. Pacote Anticrime: comentários à Lei n. 13.964/2019. São Paulo:
Editora Saraiva, 2020. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591514/. Acesso em: 07 jul. 2021.

AVENA, Norberto. Processo Penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Método, 2020. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530992767/cfi/6/2!/4/2/2@0:52.3.
Acesso em: 12 jul. 2021.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 26. ed. São Paulo:
Saraiva Jus, 2020.

BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Resolução nº 181 de 07 de agosto de


2017. Dispõe sobre instauração e tramitação do procedimento investigatório criminal a cargo
do Ministério Público. Brasília, DF: Conselho Nacional do Ministério Público, 2017a.
Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/Resoluo-181-1.pdf.
Acesso em: 10 jul. 2021.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Brasília, DF: Presidência da República, [2021a]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm. Acesso em: 11 jul. 2021.

BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF:


Presidência da República, [2021b]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 11 jul.
2021.

BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal.


Brasília, DF: Presidência da República, [2021c]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm. Acesso em: 11 jul.
2021.

BRASIL. Lei nº 9.099 de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais


Cíveis e Criminais e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2020a.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm. Acesso em: 7 jul. 2021.

BRASIL. [Pacote Anticrime]. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Aperfeiçoa a


legislação penal e processual penal. Brasília, DF: Presidência da República, 2019a.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13964.htm.
Acesso em: 11 jul. 2021.

BRASIL. Projeto de lei nº 882 de 19 de fevereiro de 2019. Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de


7 de dezembro de 1940 - Código Penal, o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 -
Código de Processo Penal, a Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal
[...]. Brasília, DF: Ministério da Justiça, 2019b. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1712088&filenam
e=PL+882/2019. Acesso em: 11 jul. 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). AgRg na PET no Agravo em Recurso
Especial nº 1.664.039 - PR (2020/0035842-6). PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO
REGIMENTAL NA PETIÇÃO. 1. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL. PEDIDO
DE APLICAÇÃO RETROATIVA. NÃO CABIMENTO. INSTITUTO PRÉ-PROCESSUAL.
DIRECIONADO AO INVESTIGADO [...]. Agravantes: Adjair Fernando Buturi, Maria Inês
Buturi Trierweiler e Rosana Aparecida Buturi Machado. Agravado: Ministério Público do
Estado do Paraná. Relator: Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, 20 de outubro de 2020b.
Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequenci
al=116573283&num_registro=202000358426&data=20201026&tipo=5&formato=PDF.
Acesso em: 16 jul. 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). AgRg no Habeas Corpus nº 463.386 - SP
(2018/0201074-6). PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS
CORPUS. INEXISTÊNCIA DE NOVOS ARGUMENTOS HÁBEIS A DESCONSTITUIR A
DECISÃO IMPUGNADA. CRIMES DO ART. 1º, INCISO II, DA LEI 8.137/90 E ART.
299, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL [...]. Agravante: Cesar Luis Menegasso. Agravado:
Tribunal Regional Federal da 3a Região. Relator: Ministro Felix Fischer, 18 de outubro de
2018. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequenci
al=89029871&num_registro=201802010746&data=20181023&tipo=5&formato=PDF.
Acesso em: 12 jul. 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). AgRg no Habeas Corpus nº 628.647 - SC
(2020/0306051-4). AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL. ART. 28-A DO
CPP, INTRODUZIDO PELA LEI N. 13.964/2019. NORMA HÍBRIDA: CONTEÚDO DE
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. RETROATIVIDADE. POSSIBILIDADE
ATÉ O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
Agravante: Andrei Silva. Agravados: Ministério Público Federal e Ministério Público do
Estado de Santa Catarina. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina.
Relator: Min. Nefi Cordeiro. Relator para o Acórdão: Min. Laurita Vaz, 09 de março de
2021d. Disponível em:
https://jurisprudencia.s3.amazonaws.com/STJ/attachments/STJ_AGRG-
HC_628647_c05b1.pdf?AWSAccessKeyId=AKIARMMD5JEAO67SMCVA&Expires=1626
222987&Signature=jvgLhhXZYSTNde%2FO8L%2B4ahkCb3w%3D . Acesso em: 12 jul.
2021. [Voto da Min. Laurita Vaz]

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). AgRg no Habeas Corpus nº 628.647 - SC
(2020/0306051-4). AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL. ART. 28-A DO
CPP, INTRODUZIDO PELA LEI N. 13.964/2019. NORMA HÍBRIDA: CONTEÚDO DE
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. RETROATIVIDADE. POSSIBILIDADE
ATÉ O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
Agravante: Andrei Silva. Agravados: Ministério Público Federal e Ministério Público do
Estado de Santa Catarina. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina.
Relator: Min. Nefi Cordeiro. Relator para o Acórdão: Min. Laurita Vaz, 09 de março de
2021e. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequenci
al=122808932&num_registro=202003060514&data=20210607&tipo=2&formato=PDF.
Acesso em: 07 jun. 2021. [Voto do Min. Rogerio Schietti Cruz]
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6. Turma). AgRg no Recurso em Habeas Corpus nº
74.464-SP. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS.
DESCAMINHO. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. AUSÊNCIA DE
OFERECIMENTO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
Agravante: Enoque Alves de Almeida. Agravado: Ministério Público Federal. Relator: Min.
Sebastião Reis Júnior, 09 de fevereiro de 2017b. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/433511251/agravo-regimental-no-recurso-ordinario-
em-habeas-corpus-agrg-no-rhc-74464-pr-2016-0208584-1/inteiro-teor-433511261. Acesso
em: 13 jul. 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6. Turma). AgRg no Habeas Corpus nº 575.395 -
RN (2020/0093131-0). AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. FRAUDE À
LICITAÇÃO. FALSIDADE IDEOLÓGICA. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL.
PACOTE ANTICRIME. ART. 28-A DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. NORMA
PENAL DE NATURA MISTA. RETROATIVIDADE A FAVOR DO RÉU. NECESSIDADE
DE INTIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DECISÃO RECONSIDERADA.
AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO. Agravante: Severino Sales Dantas. Agravado:
Ministério Público Federal. Impetrado: Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Relator: Min.
Nefi Cordeiro, 08 de setembro de 2020c. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequenci
al=113037316&num_registro=202000931310&data=20200914&tipo=5&formato=PDF.
Acesso em: 11 jul. 2021.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Informativo de jurisprudência nº 509/STJ. Brasília,


DF: Secretaria de Jurisprudência do STJ, 2012. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/docs_internet/informativos/PDF/Inf0509.pdf. Acesso em: 12 jul.
2021.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal (1. Turma). Agravo Regimental no Habeas Corpus nº
191.124 Rondônia. AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. ACORDO DE NÃO
PERSECUÇÃO PENAL EM RELAÇÃO AO DELITO DE ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO DE DROGAS (ART. 35 DA LEI 11.343/2006). INVIABILIDADE. [...]. Relator:
Alexandre de Moraes, 08 de abril de 2021f. Disponível em:
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1192709340/agreg-no-habeas-corpus-hc-191124-ro-
0102541-2720201000000. Acesso em: 10 jul. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (1. Turma). Ag. Reg. no Habeas Corpus 191.464 Santa
Catarina. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM
HABEAS CORPUS. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (ART. 28-A DO CPP).
RETROATIVIDADE ATÉ O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. Agravante: Mario Cesar
Sandri. Agravado: Presidente do Superior Tribunal de Justiça. Relator: Min. Roberto Barroso,
11 de novembro de 2020d. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15345082439&ext=.pdf. Acesso em:
08 jun. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus 185.913 Distrito Federal. Paciente:
Max Willians de Albuquerque Vilar. Impetrante: Abel Gomes Cunha. Coator: Superior
Tribunal de Justiça. Relator: Min. Gilmar Mendes, 22 de setembro de 2020e. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15344488197&ext=.pdf. Acesso em:
11 jul. 2021. [Decisão Monocrática]
CUNHA, Rogério Sanches. et al. Acordo de Não Persecução Penal. 2 ed. Salvador, BA:
JusPodivm, 2019.

CUNHA. Rogério Sanches. Pacote anticrime - Lei 13.964/2019: comentários às alterações


no CP, CPP e LEP. 1. ed. Salvador, BA: JusPodivm, 2020.

FERREIRA, André; PEREZ, Stephanie Carolyn. Acordo de não persecução penal: é possível
a sua celebração nos inquéritos policiais e ações penais que já estavam em andamento após a
publicação da lei? É possível a sua celebração nos inquéritos policiais e ações penais que já
estavam em andamento após a publicação da lei?. Migalhas. 28 jul. 2020. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/arquivos/2020/7/3B790C0123D8C1_Acordodenaopersecucaop
enal-Epo.pdf. Acesso em: 12 jul. 2021.

GOMES, José Jairo; TEIXEIRA, Danielle Torres. Acordo de não persecução penal e sua
aplicação a processos em curso. Migalhas. 27 abr. 2020. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/depeso/325403/acordo-de-nao-persecucao-penal-e-sua-
aplicacao-a-processos-em-curso. Acesso em: 06 jun. 2021.

JUNQUEIRA, G.; VANZOLINI, P.; PARDAL, P.H.F.R. Lei anticrime comentada: artigo
por artigo. São Paulo: Editora Saraiva, 2021. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555595512/. Acesso em: 15 maio
2021.

LINHARES JÚNIOR, João. Efêmeras digressões sobre o acordo de não persecução penal -
parte 2. Revista Consultor Jurídico. São Paulo, 27 set. 2020. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2020-set-27/linhares-junior-efemeras-digressoes-anpp-parte2.
Acesso em: 09 jul. 2021.

LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

LOPES JÚNIOR, Aury; JOSITA, Higyna. Questões polêmicas do acordo de não persecução
penal. Revista Consultor Jurídico. São Paulo, 6 mar. 2020. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2020-mar-06/limite-penal-questoes-polemicas-acordo-nao-
persecucao-penal. Acesso em: 09 jul. 2021.

MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Acordo de não persecução penal: direito subjetivo do
inculpado. Migalhas. 28 mai. 2020. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/depeso/327866/acordo-de-nao-persecucao-penal--direito-
subjetivo-do-inculpado. Acesso em: 08 jul. 2021.

MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais; Ministério Público do


Estado de Minas Gerais. Portaria Conjunta nº 20/PR-TJMG/2020. Dispõe sobre a
aplicação do acordo de não persecução penal, de que trata o art. 28-A do Decreto-Lei nº
3.689, de 3 de outubro de 1941, Código de Processo Penal, no âmbito do Tribunal de Justiça
do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG: Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais, 2020. Disponível em:
https://www.tjmg.jus.br/data/files/2F/27/DF/EF/31D017102A890D075ECB08A8/port%20co
nj%2020-pr-tjmg-2020.pdf. Acesso em: 11 jul. 2021.
MOTA, Ludmilla de Carvalho. Acordo de Não Persecução Penal e Absprache: análise
comparativa da justiça penal negocial no processo penal brasileiro e germânico. Revista do
Ministério Público do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, LTr, n. 77, p. 161-194, set. 2020.

PACELLI, Eugênio. Comentário ao Código de Processo Penal. 12. ed. São Paulo: Atlas,
2020. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597024937/cfi/6/10!/4/2/4@0:0.
Acesso em: 12 jul. 2021.

SANTOS, Bruno de Hungria. O acordo de não persecução penal como forma de política
criminal. 2020. 31 f. Artigo Científico - Graduação em Ciências Jurídicas, Universidade
Católica de Goiás. Goiás, 2020.

SANTOS, Marco Paulo Dutra. Comentários ao Pacote Anticrime. São Paulo: Grupo GEN,
2020. 9788530991814. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530991814/. Acesso em: 27 abr. 2021.

Você também pode gostar