RESENHAS
VARGENS, João Baptista M. et al. língua portuguesa, pois é preciso ter uma no-
Português para falantes de Árabe.
Rio de Janeiro: Almádena, 2007,
248 pp.
MONA MOHAMAD HAWI*
Os processos de produção e implemen-
tação de materiais didáticos para o ensino de
línguas estrangeiras têm fortalecido o desen-
volvimento de professores envolvidos em to-
madas de decisões curriculares e engajados na
criação de conhecimento em todas as áreas do
saber. Essa preocupação com a organização
mais criteriosa do conhecimento ocorre, pro-
vavelmente, porque as práticas de produção
de material didático estão se transformando
em uma necessidade socialmente criada pelas
demandas contemporâneas.
Partindo do pressuposto apresentado,
o livro didático Português para falantes do
Árabe, produzido pelo professor João Bap-
tista M. Vargens e pelas professoras co-auto-
ras Geni Harb, Suely Ferreira Lima, Bianca
Graziela da Silva e Heloisa Ellery de Mene-
zes, do Setor de Estudos Árabes da Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro, chega ao
mercado editorial para suprir, parcialmente,
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essas necessidades, por meio da editora Al-
mádena, do Rio de Janeiro. Resultante das
aulas oferecidas na UFRJ, os capítulos do li-
vro foram estudados, aplicados, re-organiza-
dos e adequados à realidade local.
Fundamentalmente, a obra apresenta
questões relevantes aos aprendizes conhece-
dores dos sistemas lingüísticos árabe e latino,
desejosos de um melhor aprofundamento na
ção, mínima que seja, dos idiomas citados,
para acompanhar as lições propostas, uma
vez que, pelos conteúdos oferecidos e pela
densidade das questões propostas, não se trata
de um livro para iniciantes.
Distribuídos em 26 capítulos, os as-
suntos apresentados procuram contemplar
situações do vivido, datas comemorativas
–nacionais e internacionais– questões folcló-
ricas e regionais. Os autores tiveram a preo-
cupação em seguir uma ordem cronológica,
destacando todos os meses do nosso calen-
dário, de janeiro a dezembro, com suas prin-
cipais datas comemorativas. Desta forma, os
interessados não só aprendem a língua, mas
têm a oportunidade de conhecer histórias do
nosso folclore, além de algumas datas nacio-
nais importantes, como o Dia do Índio, ou a
Folia de Reis, para citar alguns exemplos.
A apresentação de cada capítulo se
faz por meio de um texto, em que se perce-
be nas escolhas dos assuntos a preocupação
dos autores em passar a realidade cotidiana,
pois pela forma como as questões são apre-
sentadas observa-se nitidamente o papel da
Lingüística Aplicada em que a materiali-
dade lingüístico-discursiva é ponto fulcral,
sendo este um diferencial de outras obras
didáticas, pois o aprendiz, ao entrar em con-
tato com a realidade das situações propos-
tas, pode, a partir delas, criar outras e, as-
sim, ampliar seu conhecimento de mundo e
de linguagem.
As lições de cada capítulo seguem
uma organização genérica textual: há um
texto introdutório, seguido de um vocabu-
lário composto de elementos gramaticais da
língua portuguesa (substantivos, adjetivos,
artigos, pronomes, verbos, advérbios, con-
junções e expressões frasais) que supera o
limite do texto abordado; depois, na seção
III, estuda-se a parte gramatical da língua
(acentuação, uso dos tempos verbais sim-
ples e compostos, tipos de pronomes, adje-
tivos comparativos, dentre outros); a seção
IV é a extensão vocabular, seguida de exer-
cícios na seção V e, finalizada, pela seção
VI com a informação cultural, escrita em
português e traduzida para o árabe até a li-
ção 12, pois a partir dos demais capítulos
o estudante tem de “dar conta” de compre-
ender essas informações sem o auxílio da
língua de suporte. Há ainda um glossário e
um CD com a leitura dos textos, ou seja, o
estudante, lê, escreve e depois ouve o que
leu, aperfeiçoando, assim, sua fala.
Essa estrutura genérica da organiza-
ção dos capítulos e a gradação do nível de
dificuldade de cada lição provocam o apren-
diz, levando-o a refletir e a pensar as ques-
tões propostas, preparando-o para o que vem
depois. Nos três últimos capítulos, há uma
variação dessa organização, mas a essência
da padronização se mantém.
À primeira vista, o livro é instigante do
ponto de vista do estrangeiro, pois a sensação é
de que o conhecimento necessário para a inte-
ração com o outro está nas 248 páginas. No en-
tanto, um olhar mais atento traz uma reflexão
provocativa e, em parte, questionadora.
Até que ponto o falante de uma língua
estrangeira precisa dominar os aspectos gra-
maticais da língua estudada? Não digo que
não há necessidade de um conhecimento es-
trutural, mas trago a seguinte questão: é pre-
ciso todo um conhecimento gramatical para
nos comunicarmos? Essa questão leva a olhar
para as necessidades do aprendiz: ensinamos
o estrangeiro a ser um usuário da língua ou um
acadêmico da língua? Um exemplo dessa si-
tuação encontra-se à página 117, na exposição
da formação dos tempos verbais compostos,
ou ainda, na explanação do uso dos prono-
mes de tratamento (p. 150). Em que momento
usamos essas estruturas, considerando toda a
variação lingüística existente no país? Os au-
tores poderiam ter substituído alguns pontos
gramaticais e exercícios e ter acrescentado
outros voltados à prática oral, incluindo-os,
inclusive, no CD, que traz tão somente a lei-
tura dos textos.
Essa observação, entretanto, não ex-
clui a riqueza da obra, pois é um livro que
foge do formato tradicional do que se conhe-
ce por livros didáticos, haja vista as originais
questões situacionais, como o dia dos namo-
rados, a bienal dos livros, o dia nacional da
consciência negra, apenas para citar algumas
situações. O último capítulo é um presente a
todos, uma vez que as informações ali cons-
tantes cobrem as dúvidas do estrangeiro e
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também do brasileiro, pois normalmente co-
nhecemos a extensão territorial, a população,
a moeda de nosso país e talvez do país vizi-
nho, mas dificilmente de todos os países de
língua árabe.
Português para falantes de Árabe é
uma obra necessária a todos os árabes que
sentem a necessidade de um aprimoramento
na língua portuguesa, bem como aos brasilei-
RESENHAS

ros que desejam conhecer questões mais es-
pecíficas do árabe. Um ponto favorável aos
leitores brasileiros está no fato de agora con-
templarmos os dois lados da moeda: por um
lado, a já disponível no mercado Gramática
do Árabe Moderno: uma introdução, de Da-
vid Cowan, com tradução e adaptação ao por-
tuguês de Safa Jubran e, por outro, este livro
de Vargens e colaboradoras, para quem quer
aprender o português moderno e atual. Para-
béns, portanto, aos autores dessa iniciativa.
* UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.

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