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A história secreta da bruxaria

09.04.2022

BBC News
A história secreta da bruxaria (msn.com)´

O que nós sabemos sobre as bruxas? Ou bruxos?

Conhecemos bem aquela imagem da mulher com poderes mágicos e feitiços,


com um chapéu pontudo, uma vassoura e um gato preto.
Por trás desse estereótipo, no entanto, existe uma história sombria de tortura e
perseguição.

© Getty Images Pessoas acusadas de bruxaria na Inglaterra eram executadas


na forca, e não em fogueiras, como no restante da Europa

Muito do que achamos que sabemos sobre bruxaria vem dos séculos 16 e 17
na Europa - especialmente o trabalho do caçador de bruxas e bruxos Matthew
Hopkins.
Suas ações levaram à morte de cerca de cem pessoas e ainda ecoam sobre a
realidade atual.

Nos séculos 16 e 17, os europeus viviam naquilo que historiadores chamam


de "um universo mágico",
em que o mundo material e suas instituições eram muitas vezes influenciados
pela crença em Deus e no Diabo.

A vida na Inglaterra da época era muito difícil. As pessoas estavam


frequentemente passando fome, indignadas e temerosas.
A maioria vivia em pequenas comunidades rurais - e o país viu sua população
mais que dobrar entre 1530 e 1630.
Havia ainda surtos de doenças e eventos climáticos ligados à "pequena era
do gelo" pela qual passava a região, e que com frequência levava as colheitas
ao fracasso.

Acontecimentos ruins do cotidiano podiam ser interpretados como punição de


Deus, puro azar ou reflexos de atos de bruxaria.
Havia uma disseminada crença de que bruxos e bruxas eram capazes de
causar tempestades, destruir rebanhos, levar pessoas à loucura ou mesmo
matá-las.

A terrível história da baronesa que torturou e matou um garoto negro de 8


anos no Maranhão em 1876

Qual era a missão do Endurance, o navio encontrado na Antártida 107


anos depois de afundar

Processos jurídicos

Os julgamentos de pessoas acusadas de bruxaria seguiam um rito legal, e as


taxas de absolvição eram relativamente altas.
No sudeste da Inglaterra, apenas 22% daqueles processados foram
executados.
Apesar de a morte na fogueira ser comum na Europa na época, na Inglaterra
os condenados por bruxaria eram executados na forca.
© Getty Images Matthew Hopkins liderou caças a bruxos e bruxas na Inglaterra

Na década de 1640, durante o caos causado pela Guerra Civil Inglesa, surgiu
o caçador de bruxas Matthew Hopkins, acompanhado de seu colega John
Stearne.

Conhecido como o "descobridor-geral de bruxos", Hopkins viajava para vilas


na região de East Anglia,
geralmente convidado por moradores preocupados para ouvir suas suspeitas.

Com seus assistentes, ele procurava a chamada "marca de bruxa", também


conhecida como "tetina", no corpo de acusados,
de onde acreditava-se que "familiares" chupassem sangue.
Acreditava-se que tais "familiares", que eram meio humanos e meio demônios,
faziam companhia às bruxas ou bruxos - as criaturas apareciam nas formas de
sapo, furão ou gato.

Hopkins mantinha a suspeita - ou suspeito - de bruxaria em observação


durante dias para ver se seu animal "familiar" vinha a seu encontro.
A conduta acabava funcionando como mecanismo de privação de sono,
desenhada para quebrar a resistência de um suspeito e fazê-lo confessar.
O caçador de bruxas também usava o teste do nado, que envolvia amarrar os
dedões das mãos aos dedões dos pés do suspeito e lançá-lo na água,
submerso.
Acreditava-se que uma bruxa - ou bruxo - pudesse flutuar, por ser rejeitada
pela água pura. Se o suspeito fosse inocente, afundaria.

Bruxos do sexo masculino

Naquela época, mulheres eram consideradas mais vulneráveis às tentações do


Diabo.
Algumas eram particularmente vulneráveis a acusações de bruxaria devido à
ausência de proteção em uma sociedade patriarcal.

Entretanto, embora a maioria das pessoas acusadas de bruxaria nos tempos


da perseguição de Matthew Hopkins fossem mulheres,
em outras partes da Europa um número maior de homens foram perseguidos
como bruxos.

Alguns também acabaram vítimas da caça protagonizada por Hopkins na


Inglaterra.

O clérigo John Lowes, de idade avançada, foi acusado de bruxaria em sua


cidade, Brandenston, na região de Suffolk.
Ele foi examinado por Hopkins, que disse ter encontrado duas tetinas em sua
cabeça e uma terceira sob sua língua.

Sob tortura, ele confessou ter seis familiares, que ele, segundo acusações,
ordenou que afundassem um navio, matando 14 homens à bordo.
Embora ele tenha posteriormente retirado sua confissão, no dia 27 de agosto
de 1645 Lowes foi enforcado na cidade de Bury St Edmunds.

A oposição às ações de Hopkins, porém, cresceu. Várias pessoas começaram


a condenar seus métodos.
Sua influência diminuiu, e ele acabou morrendo em casa, em 1647, após ter
ficado doente.

No total, em toda a Inglaterra, cerca de 250 pessoas foram investigadas sob


acusação de bruxaria durante a caça protagonizada por Hopkins.
Cerca de 100 delas foram condenadas.

Foi um período curto e trágico na história do país. Nos séculos 16 e 17, muita
gente acreditava na necessidade de caças a bruxas (e bruxos) para proteger
suas comunidades. Essas perseguições, porém, também podem ser vistas
como uma forma de culpar pessoas vulneráveis pelas dificuldades da época.

Hoje vivemos em um mundo muito diferente, mas será que a mentalidade de


caça às bruxas realmente despareceu?
Ainda temos a tendência de aceitar respostas fáceis para problemas
complexos.

As redes sociais alimentam tanto teorias da conspiração quanto a humilhação


pública de pessoas.
Medo e incerteza continuam sendo usados para transformar setores
vulneráveis da sociedade em bodes expiatórios.
Embora o contexto seja diferente, parece que as caças às bruxas seguem
vivas e fortes.

*Gemma Allen é doutora e professora de história moderna da Inglaterra na


Open University (Reino Unido)

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