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A PRUDÊNCIA EM ARISTÓTELES
Tradução de
Marisa Lopes
Jt j
discurso editorial
Copyright© Presses Universitaires de France, 1 %3
Titulo original em francês: La prudem·e ,·hez Arü111te
Copyright© da edição brasileira: Discurso Editorial , 2003
Ficha catalogrãlica:
Ficha catalográlica: Sonia Marisa Lucheui CRB/8-4664
ISBN 85-86590-43-6
CDD 170
185.1
Jr 1
discurso editorial
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SUMÁRIO
BIBLIOGRAFIA 343
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
Pierre Aubenque
Novembro de 2002.
NOTA BIBLIOGRÁFICA
* * *
O P RO B LEMA
1 Met. , M , 4 , 1 0786 1 5 .
2
De C<Elo, I I I , 1 , 2986 2 3 .
3 Fís. , VI I , 3 , 2476 1 1 , 1 8.
22 P I ERRE AU B E N QU E
4 Tóp., VI I I , 1 4 , 1 636 9 .
5 Met. , A, 2, 9826 4 .
6 Ética Nicomaquéia (doravante citada como EN) ,VI , 5 , 1 1 406 1 : u u K àv
El Ti � dipÔVfl<JLS' ETTlCTTTÍ!l fl .
7 'ApETTJ 6tavof1Tl KTÍ : EN , I , 1 3 , 1 1 03a 6. ' ApE TTJ TTJS' 6La vu( as-: EN ,
VI, 2, 1 1 39a 1 (cf. a pE TTJ 6ta vo( a s- : Ret. , I , 9, 1 3666 20) .
P RIM E I R A PART E 23
8
EN , VI , 2 , 1 1 39a 1 2.
9 lbid. , 5 , 1 1 406 26.
10
Ibid., 2, 1 1 39a 1 2.
li
Ibid. , 5 , 1 1 406 26.
12
Jbid., 5 , 1 1 406 2 1 ; 7, 1 1 4 1 6 8.
1 3 Ibid., 7, 1 1 4 1 6 5. C( Magna Mora/ia, l, 34, 1 1 976 8: 'H 6E <!>póvTJCTLS"
TTE fll TÔ uu1 1 <!>É pov à v0pwm.ii .
14
Ou6e 1 u ô s- -yá r Ê<Jn v )'E VÉaEWS" (EN , VI, 1 3 , 1 1 436 20).
24 PIERRE AUBENQUE
1
s EN, VI, 7, 1 1 4 1 a 24.
16 Jbid., 5 , 1 1 406 27; 6, l 1 406 36; 8 , 1 1 4 1 6 1 1 .
1 7 Jbid., 7, l 1 4 1 a 2 5 .
18 C
f Met. , A , 2, 9826 28.
19 EN , VI, 7, 1 1 4 1 a 20.
20
Jbid., 1 1 4 1 a 34. Esses "corpos" são os astros.
P R I M E I RA PART E 25
§ 2. A TESE D E W. JAEG ER
forças para organizar sua vida terrestre; a ação nada mais tem
a esperar da teoria, isto é, da contemplação: ''Aristóteles reti
ra da phronêsis toda significação teórica", 2 5 para ver nela ape
nas uma espécie de senso moral, capaz de orientar a ação
rumo ao que é imediatamente útil e bom para o homem, mas
sem nenhuma referência à norma transcendente.
Com essa reconstituição, W. Jaeger não teve apenas o
mérito de ordenar textos esparsos e aparentemente contradi
tórios, forneceu uma motivação, pode-se dizer, dramática a
uma das teorias na qual a posteridade não viu senão a simples
reação do "bom senso" ou do "empirismo" de Aristóteles con
tra os "excessos" do idealismo platônico. Jaeger poria o pro
blema no único quadro onde pôde desenvolver suas verda
deiras dimensões: o das relações entre a teologia e a moral,
entre a metafísica e a ética. Sugeria que uma ética da prudên
cia deveria ter suas raízes em um afastamento progressivo das
preocupações teológicas - ou, para ser mais exato, na teolo
gia de um Deus longínquo -, em um divórcio entre o conhe
cimento metafísico e as normas imediatas da ação, ou, mais
precisamente, em uma metafísica do divórcio e da cisão.
Infelizmente, Jaeger não se manteve à altura de sua própria
interpretação. Algumas páginas adiante, verá na teoria nico
maquéica da prudência apenas um retorno ao que Platão
denominaria a "virtude popular" (8 T] µoa ( a à p E T � ) . 26 Esque
cendo as motivações trágicas que, segundo sua própria inter
pretação, teriam forçado Aristóteles a esse retorno, não via
mais que uma queda das alcuras em que o discípulo não sou
bera se manter senão no Protrético e na Ética Eudêmia, quan
do ainda prolongava a grande tradição especulativa do plato-
29
"On the Origine . . . " , p. 440.
30 AdAtt. , 1 1 , 1 6, 3 .
31 " O n the Origine . . . " , p. 4 5 1 .
32 Jbid. , p. 4 6 1 .
30 P I E R R E A U B E N QU E
40
Pol. , I I I , 2 .
41
Essa evolução foi apresentada como resul tado de u m a lógica i n terna
por H. Gom perz ( Die Lebensaujfassung der griechischen Philosophie und
das Ideal der inneren Freiheit, Leipzig, 1 904) e, em menor medida, por
Max Pohlenz ( Griechische Freiheit. Wesen tmd Werden eines Lebensideals,
Heidelberg, 1 9 5 5 ; t radução francesa, 1 95 6) . Pe. Festugiere, ao contrá
rio, insiste no papel determi nante desempenhado pelas condições so
ciais e políticas nessa evolução (c( Liberté et civilisation chez les Grecs,
1 946, Cap. 1 ) .
42
Sobre a evol ução d a noção d e autarquia, cf. Festugiere, op. cit. , p. 1 09
e ss. ; Epicure et ses dieux, p. X, e nossas observações em Le probleme de
l 'être. . . , p. 500- 1 e 504 , n. 1 .
34 PI E R R E A U B E N QU E
43
Marx, K. "Différence de la philosophie de la nature chez Démocrite et
chez Epicure". Tradução de Molitor ( CEuvres philosophiques, 1 , p. 3 1 ) .
44 Isnardi , M . "Teoria e prassi nel pensiero dell'Academia antica". ln: La
Parola dei Passato, 1 9 56 , p. 4 0 1 -33 ; cf. a resenha de P.-M Schuhl , Revue
philosophique, 1 9 5 8, p. 373-4 (reproduzido em Études platoniciennes,
p. 1 29-3 1 ) .
45 'O p tUTLK � v Kal llEw pT] TL K� v TWV <ivTWv, fr. 7 Heinze (Aristóteles, Tóp. ,
VI , 6, 1 4 1 a 6) .
46
Fr. 6 H .
PR I M E I RA PARTE 35
5 0 É certo que o autor d o Epínomis nos diz uma vez que aquele que a
possui r será "um sábio e bom ci dadão, que comandará e obedecerá com
sabedoria e medida cm sua cidade" (976d) . Mas esse é um tema platô
n ico tradicional , que o Epínomis repete sem convicção e rapidam ente,
o interesse sendo total mente diverso do "pol ítico" .
36 P I ERRE A U BENQU E
II. As fontes
W. Jaeger desentranhou, como se viu, uma pretensa
evolução da doutrina da phronêsis, cujas etapas seriam: o Pro
trético, a Ética Eudêmia e a Ética Nicomaquéia (com a Magna
Moralia prolongando a mesma curva, mas para além do
ensinamento do próprio Aristóteles) . O Protrético seria, neste
como em outros pontos, o reflexo do platonismo do jovem
Aristóteles. Portanto, é a partir da significação platônica da
palavra, tal como ainda se encontra no Protrético, que W.
Jaeger interpreta as doutrinas da Ética Eudêmia e da Ética Ni
comaquéia, como mais ou menos afastadas do platonismo e,
por isso, como mais ou menos recentes. Esse esquema levan
ta duas séries de problemas: o que vale a reconstituição do
Protrético e o que se pode concluir quanto à evolução das con
cepções éticas de Aristóteles? Convém buscar na noção platô
nica de phronêsis a fonte a partir da qual se teria constituído,
por reação, a doutrina aristotélica da prudência?
As reconstituições do Protrético de Aristóteles, quer se
trate da de Rose, 5 6 de Walzer 57 ou de Ross, 5 8 são quase que
inteiramente fundadas no Protrético do neoplatônico Jâm-
56
Aristotelis . . . fragmenta, 1 870 (Tomo V da edição da Academia de
Berlim); Teubner, 3ª ed. , 1 886.
57 Aristotelis dialogorum fragmenta, Florença, 1 934.
58
Aristotelis fragmenta selecta, Oxford, 1 95 5 (Trad. inglesa em T he U¼lrks
ofAristotle Translated into English, T. XI I , 1 9 5 2 ) .
40 PI ERRE AUBENQUE
� o-unng,
. I . op. at.• , p. 1 7
65 Segundo Düring (p. 29) , o Protrético teria sido escrito em torno de 350,
quando Aristóteles era "um membro at ivo da Academ ia" .
6 6 " Der aristotel ische Protreptikos u n d d i e encwicklu ngsgeschichtl iche
Betrachtung der aristotel ischen Ethik" , Hermes, 1 92 8 , LXI I I , p. 1 5 5 .
7
6 Ibid. , p. 1 4 5 .
42 P I ER R E A U B E N Q U E
°
7 Cf. I Düring, op. cit. , p. 1 9 1 (a propósito da phronêsis) : "Aristotle avoids
strict terminology in the Protrepticus" .
7 1 1: certo que se encontrará na Retórica ( l , 9 , 1 3666 20) e nos Tópicos (V,
6, 1 366 l O ; VI , 6, 1 4 5a 30; cf. a discussão de IV, 2 , 1 2 1 b 3 1 , a defi ni
ção de phronêsiJ como virtude da i n teligência (Àoywn KoÜ à p H rí ) , mas
não (o que seria decisivo) da parte inferior da inteligência (Àoy wn KÓ v ,
q u e s ó tem esse sentido restritivo n a Ética Nicomaquéia) .
72 N ão se vê o que teria podido levar Jaeger a escrever: " Enquanto o Pro
trético concebe a cj>pÓVTJ CTL S cm um sentido i nteiramente platônico,
corno o conhecimento filosófico em geral, a Metafisica não mais co
nhece esse concei to" (Aristoteles, p. 83).
7 3 Além disso, o sentido platônico de cj>povEi v , cj>pÓVTJCTL S , se encontra nas
próprias Éticas quando não é tratado expressamente: cf. EN , I, 4, 1 0966
1 7, 23; VII, 1 2 , 1 1 5 26 1 5- 1 6; 1 3 , 1 1 53a 2 1 ; EE, 1, 4, 1 2 1 56 2 ; 5 ,
1 2 1 6a 1 9 .
44 P I ERRE A U BENQU E
III. A interpretação
O estudo das fontes não dispensa a tarefa essencial que
continua sendo a interpretação. Além disso, é a interpreta-
82 Que abriu cam i n ho com sua d i ssertação sobre Das Verhiiltnis der
eudemischen zur nikomachischen Ethik, Berl i m , 1 9 1 2 (sobre phronêsis,
p. 4 8 - 5 2 ) . L. Ollé-Laprune já notara a diferença de tom en tre as duas
Éticas, a Ética Eudêmia revelando uma inspiração mais "rel igiosa" e mais
"platônica" (Essai sur la mora/e d'Aristote, 1 88 1 , p. 5 e ss . , 20 1 -2) , mas
sem tirar concl usões "genéticas" .
50 P I E R R E AU B E N QU E
83
Noble, H . -D. " I ntroduction à la prudence (Somme Théologiqtte, I I ª 1 1 ., ,
qq . 47-5 6)" , ed. da Revue des Jeuncs, J a cd . , p. 8 (uma 2 ª ed . desse
opúsculo foi edi tada por T. - H . Dcman, 1 94 9 ) .
84
Trata-se d o título d e uma obra d o padre G illct ( Fribourg, 1 90 5 ) .
52 P I E RRE A U B ENQUE
85 É honrar demais esse volumoso panfleto (Die Lehre von der praktischen
Vernunft in der griechischen Philosophie, Jena, 1 874), cujo mau humor
deve ser visto como um episódio da querela entre a escola de Kuno
Fischer (da qual J. Walter foi discípulo) e a de Trendelenburg. Em suma,
J. Walter consagra 573 páginas para demonstrar que a razão prática
de Aristóteles (assimilada à phronêsis) não é uma ciência prática, isto
é, um saber teórico dos princípios da ação, mas uma "faculdade ra
cional deliberativa ou prática" ( ''ein beratschlagendes oder praktisches
Vernunftvermogen ").
P R I M E I RA PART E 53
A IN T ER PR E TA Ç Ã O
CAPÍ TUL O I
O H O M E M DE PRUDÊNCIA
§ 1 . D E F I N I ÇÃ O E EXI S Tt N C I A
ção do epíteto àXT]0tjs- . Apel t chega a corrigi r à XT]0� por àXT]0oüs- (cf. ,
além disso , a definição d e arte em 1 1 40a 2 1 : E Ç L S- n s- 1 1 E Tà ÀÓ-you
àXT]0oüs- TTOL TJTLKtj); mesmo que se admita que a à XT]0� de 1 1 406 5 pode
se dever a uma negli gência do próprio Aristóteles, está claro que só o
ÀÓ-yos- pode, a rigor, ser dito à XT]0tjs- , não a E Ç L S- . C f. , nesse sentido,
Dirlmeier, Tricot ; em sentido contrário, Byw ater, Ross, Gauthier.
4 EN, VI, 5, 1 1 40a 24.
5 lbid., 1 1 40a 3 1 .
6 Cf. a defin ição de virtude (EN , I I , 6, 1 1 066 36) ue ci tamos adiante
q
( p . 69) .
62 P I E R R E AU II E N QU E
8
EN , VI , 4 , 1 1 40a 24 .
9 Com efeito, a teoria das quatro virtudes (sabedoria ou prudência, j usti
ça, coragem, temperança), j á sugerida por Platão (ver nora segui nte) , só
se tornará clássica com os estóicos (ai nda que presente no Protrético, fr.
5 2 , p. 62, 2 e 5 8 , p. 68, 6-9 Rose, e nas partes antigas da Política, VI I ,
I , 1 323a 27 ss. , b 33-36 e 1 5 , 1 334a 22 , é ignorada nas Éticas d e Aris
tóteles) ; ao que Platão chama indi ferentemente aoc!,( a o u , nas Leis,
4>pÓVTJO L S" , e que designa a sabedoria, isto é, o conheci mento do intel igí
vel , os estóicos substituirão por <j>pÓVTJO L S" que, conforme ao sent ido po
pular da palavra, designa uma virtude i ntelectual orientada i mediata
mente para a ação (os estóicos, que econom izam o mundo i nteligível,
ignoram evidentemente o conceito platônico de ao<j>( a ) . É Cícero que,
para traduzi r a <j>pÓVTJO L S" estóica, recorreu à palavra p rudentia (contra
ção de providentia, que evoca a idéia de previdência, de saber eficaz) e
é, final mente, do De officiis de Cícero que Santo Ambrósio (De officiis
ministrorum, 1 , 24 , 1 1 5 ) e, através dele, toda Idade M édia latina, toma
a l ista das quatro virtudes cardiais (que Santo Amb rósio chama virtutes
principales) .
64 P I E R R E A U R E N QU E
des, sobre uma divisão prévia das partes da alma. A alma com
preende três partes: apetitiva (Êm0uµT]TLKÓv), ativa (0uµL KÓv)
e racional (ÀoyL KÓv), correspondendo a cada uma delas três
virtudes, a temperança (crwcppocrvvri), a coragem (àv6pe(a) e
a sabedoria (crocp( a ou cppÓVTJCTL S'), respectivamente, 1 0 sendo
a quarta virtude, a justiça (ôL Kmocrvvri), responsável pela har
monia do conjunto. 1 1 Quanto aos estóicos, ao menos aque
les que não afirmarão, com Ariston, a unidade absoluta da
virtude, reterão a mesma classificação das quatro virtudes fun
damentais - com a diferença que substituirão definitivamen
te crocp(a por cppÓVT]CTLS' - fundando-a, agora, na divisão de
seus objetos: a prudência diz respeito aos atos a serem prati-
10
Rep. , IV, 439d ss. , cf. ibid. , 427e; Banquete, 1 966; Leis, I, 63 1 6 (ape
nas o último texto fala de <j>pÓVTJOL S , enquanto os outros falam de
ao<j> [ a ) . Sobre a origem dessa l ista que remontaria ao século VI (mes
m o que não possamos i n vocar P í nd ar o , Nemeia, 3, 7 2 - 7 5 ), cf.
Schwartz, E. Die Ethik der Griechen. Stuttgart, 1 9 5 1 , p. 5 2-3 .
11
Mais tarde, Platino retomará, sob o nome de "virtudes políticas", a lis
ta das quatro virtudes, fundando-a na divisão platônica das partes da
alma, mas chamará <j>pÓVTJOLS a virtude do Àoyt (ó11E vov, (I . 2, 1 ) . Além
disso, talvez sob a i nfluência de Aristóteles, Platino distingue <j>pÓVTJOLS
e ao<j>( a, a primeira estando subordinada à segunda que, sendo mais
geral, lhe fornece as regras (1, 3, 6 ) . Na tradição lati na, sapientia e
prudentia serão freqüentemente confundidas e empregadas uma em
l ugar da outra na l ista das virtudes (um bom exem plo dessa confusão é
fornecido por Santo Ambrósio, De officiis, 25, além disso fazendo co
incidir a prudentia da tradição estóica com a sapientia das traduções
latinas da Bíblia) . Apenas Cícero se esforça por distinguir prudentia,
quae est rerum expetendarumfugiendarumque scientia, de sapientia, mais
teórica, que é rerum divinarum et humanarum scientia (De officiis, 1 ,
4 3 , 1 53), inspirando-se , sem dúvida, em textos d e Posidônio e de
Panécio (cf. também Pl utarco , Da virtude ética, 443e-444a). Mas o pró
prio Cícero não se atém a esta distinção (cf. ibid., l, 5, 1 5-6) .
S EG U N D A P A R T E • C A P Í T U LO 1 65
16 C f. Jaeger, W " Der Grossgesinnte, Aus der Nikomach ischen Eth i k des
Aristoteles (EN , IV, 7-9) " , Die A ntike, 1 93 1 , V I I , p. 97- 1 0 5 ; Gauthier,
R.-A. Magnanimité. L'idéal de la grandeur dans la philosophie pai'enne et
la théologie chrétienne, p. 55 ss.
17
Burnet e Joachi m , em seus C omentários (ad. loc. ) .
18 Allendy, Aristote ou /e complexe de trahison, p. 36.
19
EN , I V, 1 , 1 1 1 96 22.
S EC U N D A l'ART F. • C A l'ÍT U LO 1 67
25 C f. supra, Parte 1, § 1 .
26 Cf. ibid e cap. seguinte.
27 " Eanv ãpa � ci pE T� EEt<:; trpom pETL Ktj , E V llECTÓTTJTl ovaa TÜ trpoc:;
�µãc:; , wpLaµÉ v,:i ÀÓ-y41 Kai WC:, civ ó q>pÓvL µoc:; ÓplOEL E (EN , II, 6, 1 1 066
36). Lemos wpLaµÉ v,:i e não wpLaµÉvTJ , contrariamente aos manuscri
tos, mas conforme ao comentário de Aspásia.
70 PI ERRE AUBFNQUE
§ 2. A NORMA
33 Dirlmcicr corrige Kai ws- para Kai � e compreende: "num justo meio . .. ,
o qual é determinado pela reta regra, isto é, por esta regra com a ajuda
da qual o homem p rudente o determinaria" (ad loc. ) . Mas tal tradução
suporia o que está precisamente cm questão: a existência de uma regra
transcendente ao homem prudente. O comentário de Dirlmcier não
justifica de modo algum esta correção.
34
N-ao b asta d'1zer, como eiaz S anto --r1omas,
, que a pru dcnc1a •
' • e' a recta ratzo:
pois isso não é a prudência (a qual não sabemos o que é) mas o pruden
te, apresentado, aqui, como a recta ratio.
35 Político, 258b, 292c, 300c; cf. Teeteto, 1 70a.
72 P I ERRE AUBENQUE
36 Cf. Político, 294a: Tà 6' ã p LaTov ou Touc; vóµovc; EUTLV laxúnv, àÀ.Â
ãv6pa TÕV llETà <j>pov�aE wc; �OULÀLKÓV.
37 Fr. 52 R, 5a W Uâmblico, Protrept. , VI, 39, 1 6-20 Pistelli) .
40 EN, I , 7, 1 098a 26. Cf. Jaeger, A ristoteles, p. 87. O Protrético, com efei
to, j á se comparava a norma moral à regra do carpinteiro para enfatizar
a "exatidão" de sua arte (fr. 1 3 W; 5 4 , 24 P), embora a i nspiração dife
risse daquela da Ética. Al iás, o exemplo do carpinteiro devia ser banal
(cf. o texto supra citado: Tóp . , I I I , 1 , 1 1 6a 1 8) .
4 1 EN , 1 , l , 1 0946 1 1 -27; 1 3, l l 02a 23; cf. l I , 7 , 1 1 07a 2 9 .
42 Comparar Platão , Político, 2 9 4 b e E N , V, 1 4 , 1 1 376 2 5 , q u e denun
ciam o caráter absoluto (Ú TTÀoúv, ÚTTÀws) da lei, por oposição à "diver
sidade dos homens e das ações" (Platão) e à infinidade dos casos da
espécie (Aristóteles) . Cf. também Aristótel es, Política, I I I , 1 5 , 1 286a 9 .
4 3 Platão, Político, 294c.
44 !d. ibid , 295c.
46
EN, V, 1 4 , 1 1 376 1 7.
47
Ibid. . 1 1 376 29.
76 PI ERRE AUBENQUE
5 o EN, V, 1 4 , 1 1 376 1 2 .
5 1 A metáfo ra do piloto que guia seu cami nho a partir das real idades i m u
táveis , aparece no Protrético, fr. 1 3 W, 5 5 , 27 P (dada a aproximação
deste com o Político, não vemos a necessidade da conjectura de Vitel l i ,
q u e corrige ÓpµQ em ÓpµEi ) .
52 Pol. , 296e-297a.
S E G U N D A !'A RT E • C A P I T U L O I 77
53 EN, X, 8 , 1 1 78a 1 8 .
54 O i deal do sp oudaios será igualmente interiorizado , mas em sentido
oposto, pela tradição cín ica e estóica, as quais i nsisti rão sobretudo nos
valores do esforço, da tensão, da ascese, do mestre de si; é nesse sentido
"voluntarista" que serão valorizados especial mente os "trabalhos" de
Hércules, símbolo da luta contra os inimigos i nteriores que são as
78 PIERRE AUBENQUE
56 EN, I I I , 6, 1 1 1 3 a 29 ss.
57 É o que Piarão opõe a Protágoras; cf. Teeteto, 1 5 2a, 1 60d; Leis, 7 1 6c.
58 Nietzsche, como um bom conhecedor da Antigüidade, notou bem a
origem "aristocrática" dos conceitos morais entre os gregos, daí a sur
presa em ver subsistir esse traço no "pós-socrático" Aristóteles: "Foram
antes os 'bons', eles próprios, isto é, os nobres, poderosos, mais alta
mente situados e de altos sentimentos, que sentiram e puseram a si
mesmos e a seu próprio fazer como bons, ou seja, de pri meira ordem,
por oposição a tudo que é inferior, de sentimentos inferiores, com um
e plebeu. Desse pathos da distância é que tomaram para si o direito de
criar valores, de cunhar nomes de valores" ( Genéalogie de la mora/e [ no
original francês] tradução de H . Albert, p. 30- 1 ; sobre os gregos, cf.
p. 37). [Aqui, reproduzo a tradução de R. R. Torres Filho: Nietzsche,
Obras Incompletas: A Genealogia da Moral. Col . "Os Pensadores" . S ão
Paulo, Abril, 1 974, p. 307] .
59 EN , I I I , 6, 1 1 1 3a 2 5 .
S E G U N D A P A R T E • C A P Í T U LO 1 81
§ 3. O TIPO
74 EN, VI , 5 , 1 1 406 7 .
75 Protrético, fr . 56 e 1 1 W ; EE, I , 4, 1 2 1 56 6; 5 , 1 2 1 6a 1 1 .
76 As duas personage ns j á são associ adas no Hípias Menor de Platão
(28 1 c) , num contexto onde o senso prático dos sábios já era contestado.
88 P I E RRE A U B E N QU E
Teeteto, 1 74a.
80
81 Ibidem.
S E G U N D A PA R T E • C A P Í T U L O 1 89
82
Górgias, 484c-d, (no origi nal francês) tradução de A. Croiset modifi-
cada.
83 !bid. , 484e.
84 Ibid. , 490 a. Cf. , acima, Parte I , p. 47, n . 80.
85
4866. Isócrates opunha, no mesmo sentido, o bom senso (6óça ) à ciên
cia (c:' m aT]͵T]) , a qual não perm ite nos orientarmos nesta vida ( Contra
os sofistas, 7-8 ; Antídosis, 1 84 , 262; Panath., 9 ) .
86
Pol. , l , 1 1 , 1 2 59a 6-20 .
90 P I E R R E A U B E N QU E
87
Fr. 667 Rose. Sobre essa tradição , cf. Düring, I. Aristotle in the Ancient
Biographical Tradition, p. 34 1 -2.
88
EN, VI, 5, 1 1 406 1 0.
89 Poder-se-ia estudar desse ponto de vista o primeiro discurso de Péricles,
em Tucídides (I, 1 40- 1 44 ) : Péricles , "o primeiro dos atenienses, graças
à sua capacidade eminente tanto para o discurso quanto para a ação"
( 1 3 9 , 4 ) , parece p re o c u p ado ao m es m o t e m p o c o m o d e t a l h e
(Ka !l' i' Kacrrn ) e com o conj unto (To � ú1rna v ) ( 1 4 5 ) ; o conj unto é a
salvaguarda de um estado de direito , "o detalhe" , o reconhecimento da
"ocasião favorável " ( Km p ó c;- ) que, na guerra, não espera ( 1 4 2 , 1 ) .
S E G U N O A P A RT E • C A P I T U L O 1 91
90
Górgias, com parar 5 1 Se e 5 1 66.
91 Jbid. , 5 1 8e.
92 Ib id. , 5 1 7c.
93 Ib íd. , 5 I 6c-d.
91 "Creio ser um dos raros atenienses, para não dizer o único, que cultiva
a verdadeira arte política, e o único em nossos dias que põe em prática
tal arte" (i bid., 52 l c) .
9 5 Fedro, 269c-270a.
* * *
101
Gauthier-Jolif i n Eth. Nic. , p. 463.
1 02 Aristoteles, p. 303.
94 P I E R R E A U II E N Q U E
1 03
EN , VI , 5 , 1 1 40b 8 .
1 01
Jbid. , I 1 40a 3 1 -b 4 .
1 05
/bid. , 1 1 40b 26; cf. VI, 2 , 1 1 39a 1 2 . Platão , no Ménon, j á i nvocava a
reta opinião como guia da ação pol ítica; mas essa opinião deriva m ais
da ad ivi nhação cega que do saber.
S E G U N D A P A R T E • C A P I T U LO 1 95
1 06
EN, V I , 5 , 1 1 40a 26-2 8 . O contrário de KaTu p É poç não está expres
so aqui. Embora esta exp ressão seja co rrentemente oposta a Ó rrÀwç ou
a Ka0ÓÀou (cf. Bonitz, lndex, 4 5 5 6 60 ss . ) .
1 07
lbid. , 1 1 40a 29.
1 08
Para as l i nhas 1 1 406 7- 1 1 , adotamos a interpretação de Greenwood ,
contra a de B u rnet, para quem o chefe d e fa m ília e o d e Estado repre
sentavam exemplos de prudência particular.
1 09
Deixamos de lado a questão de saber em que quadro o indivíduo atin
ge o melhor da vida boa (To Eu (fiv) : em si próprio, na família o u na
cidade. Ao responder que na cidade (Política, l , 2 , 1 2 526 30), Aristó
teles concederá um certo privi légio à pol ítica sobre a ética e à prudên
cia política sobre a prudência privada. Mas este não é o problema aqu i :
tanto a prudência política quanto a prudência econômica são ci tadas
apenas como exemplos da prudência em geral . Um pouco à frente (es
pecialmente 8, 1 1 4 1 b 23) , Aristóteles mostrará que a prudência, em
sua mais al ta realização , coincide com a pol ítica, dada a natureza "po
lítica" do homem.
96 P I ERRE AUB E N QUE
1 1 3 EN , X, 1 0 , 1 1 8 1 a 1 -6 .
1 14 /bid., 1 1 8 06 32-34.
1 1 5 !bid. , 1 1 8 1 a 1 0 .
1 16 Também para Rodier (in Eth. Nic. , X, p. 1 4 5) que não viu que a críti
ca da política "empírica" na passagem precedente era u m lugar comum
que Aristóteles não adotava inteiramente.
1 1 7 Cf. Met. , A, 1 , ondeE' 1rnE L p( a é claramente distinguida de a [ a0rim s .
Graças à memória, o homem (diferente dos animais) ascende à expe
riência e, por ela, à arte e à ciência: à ;ro�a [ VE L 6' t' m aTrí11 TJ Kai TÉXVTJ
6Là T�S' t' µTIE L p (as TOL S' à v0pw;rms (98 1 a 2 ) . Segu ndo Alexandre, a
experi ê n c i a j á é u m "conheci m e nt o gera l " ( y vw m s K a80 X1 K rí ) ,
98 PI ERRE AUBENQUE
ainda que não seja um conhecimento do geral (4, 20 ss.) . Sobre o ca
ráter, de algum modo, "teórico" da empiria aristotélica, cf. Stark, R.
A ristoteles-Studien, p. 4- 1 9 .
1 18 EN , X, 1 0, 1 1 8 1 a 22.
1 19 Jbid. , 1 1 8 1 b 2 ss. , 5 ss.
12 º Jbid. , 1 1 8 1 a 1 8 , b 8 .
121
Jbid. , Vl, 8, 1 1 4 1 b 24 ss.
1 22
Ibid. , X, 1 0, 1 1 8 1 b 1 2 ss.
S E G U N D A PART E • C A P ÍT U LO I 99
1 26
EN, VI, 5 , 1 1 40b 1 1 ; c( Crdtilo, 4 1 l e.
1 27 C ( Magna Mora/ia, I , 34, 1 1 97a 1 7: E TIUL VEToi -yáp dmv ot <J>pó-
VL µOL , O 6' E'ITQL V O S" Ó pETT}S" .
1 28
EN, VI, 1 3, 1 1 44a 23.
1 29 Jbid. ,
1 1 44a 26; c( VII, 1 1 , 1 1 52a 1 1 - 1 4.
1 30
Rep. , VII , 5 1 8c, 533d; Ban quete, 2 1 9a; Teeteto, 1 64a; Sofista, 254a.
A expressão é de origem homérica (B. Snell, Entdeckung des Geistes,
p. 32, n . 1 ) .
131
EN, VI , 1 3, 1 1 44a 30. Sobre a metáfora do "olho da alma" , cf. I I I , 5 ,
1 1 1 4b 7; VI , 1 2, 1 1 43b 1 4 . Observe-se que, e m Aristóteles, " o olho
da alma" designa uma faculdade mais judicativa que contemplativa.
132 EN , VI , 1 3, 1 1 44a 27, 36 (à6úvarnv <J>póvL µov ElVOL µ� Õvrn àya0óv ) .
102 PIERRE AUBENQUE
133 EN, VI, 13, 11446 5 ss. Seria interessante comparar a distinção aris
totélica e a kantiana de habilidade e de prudência (para Kant, c( Fun
damentação da Metafisica dos Costumes, 2 seção, [no original] tradu
ª
COSMOLOGIA DA PRUDÊNCIA
§ 1. A CONTINGÊNCIA
I. Prudência e Contingência
1 EN, IV, 1, 11226 1: 'H ?l;ts rn'is EVEpyE(ms óp((Ernt Kai wv foT[v.
108 PIERRE AUBENQUE
2
EN, II, 2, 11046 26; 6, 1107a 17; 9, 1109a 28, 11096 16; lll, 15,
11196 17.
3 C( Enéadas, I, 2, (Das virtudes}, onde Plotino se esforça em conciliar a
tese platônica, segundo a qual a virtude torna o homem semelhante a
Deus ( Teeteto, 176a} e a de Aristóteles, segundo a qual Deus não é vir
tuoso.
4 EN, X, 8, 11786 9-18.
SEGUNDA !'ARTE • CAPÍTULO li 109
5 A virtude faz parte das coisas dignas de louvor, EiTOLVETÚ (cf. p. 101, n.
127), não dos bens transcedentes, TLµLa. Sobre tal distinção, cf. abaixo,
p. 154, n. 145.
6 EN,VI, 5, 11406 27; 6, 1141a l; cf.8,1141b 9-11.
7
Jbid., 7, 1141a 19.
8
Ibid., 3,1139b 19 ss.
9
Jbid., 7, 1141a 16.
10
Jbid., 13, 1143b 20.
110 PIERRE AURENQUE
ser", mas isso não é senão uma espécie de "o que pode ser
diferente", da mesma forma que a mudança segundo a essên
cia, o nascimento e a destruição {yÉ vrnLc; Kal cp0opá), é ape
nas uma espécie da mudança em geral. 1 4 Quase não é neces
sário enfatizar que para Aristóteles, como para o pensamento
grego em geral, o poder-ser não designa a possibilidade do
surgimento a partir do nada, nem o poder-não-ser a possibi
lidade de um retorno ao nada, a vertibilitas in nihil de que
falarão os cristãos. 1 5 Trata-se somente da possibilidade de uma
matéria indeterminada receber uma forma e vir-a-ser, assim,
uma essência, como da possibilidade dessa essência se dissol
ver nos elementos dos quais provêm. Se a arte é produtora de
seres novos, ela não os tira do nada, mas do indeterminado.
A segunda consideração refere-se ao domínio do con
tingente, mais vasto que o da arte, visto que no interior das
coisas contingentes, Aristóteles parece distinguir aquelas cujo
princípio reside no produtor, os artefacta, e aquelas cujo prin
cípio está na própria coisa produzida, os seres naturais. 1 6 Se
está clara a situação dos objetos da produção, os factibilia, 1 7
onde situar os objetos da ação, os agibilia? Não parece que
seja, propriamente falando, no domínio da natureza, pois se
14
Fis. , I I I , 1 , 2006 32; V, l ; Met. , Z , 7, 1 032a 1 5 ; H , 2 , 1 0426 8 etc.
15
C( Santo Tomás, Summa Theologictt, III, q. 1 3, a. 2 : "omnis creatura
est vertibilis in nihil".
16
C( Fis. , I I , 1 , 1 926 1 3- 1 4 , a definição de ser natu ral : "o que tem em si
mesmo o p ri ncípio de movimento e repouso" ; KLVTJULS' tem aqui o sen
tido amplo de "mudança" .
1 7 C( EN , VI, 4 , 1 1 40a 1 4 : "A arte não concerne às coisas que existem
ou vêm-a-ser necessariamente [entre as coisas que restam , isto é, as co i
sas contingentes] , tampouco aos seres nat urais que têm neles mesmos
os seus pri ncípios" .
1 12 P I E R R E A U R ENQU E
18 É preciso notar que essa expressão pode ter dois sentidos: significa ini
cial mente que uma coisa pode vir-a-ser outra diferente do que é; mas
significa também que uma coisa que é o que ela é poderia ser, atual
mente, diferente do que é. No primeiro sentido, a expressão designa as
coisas em movimento por oposição às im utáveis; no segundo, cor
responde ao nosso conceito de conti ngência oposto ao de necessidade.
Parece-nos que Aristóteles nem sempre os distingue claramente: algu
mas vezes o "contingente" é oposto ao eterno ; em outras, no interior
do mundo do devir, o contingente é oposto ao necessário, sendo então
reconhecido que ele pode ter, no interior deste mundo, movimentos
necessários (cf. Twv EI;. avá-yKTlS' - - - -yLvoµÉ vwv da linha 1 1 40a 1 4) . Mas
esse deslizamento de sentido, da simples mobil idade à contingência no
sentido estrito, não é fortuito: como mostramos em Le probleme de
l'être. . . (p. 4 1 8 ss. , 468 ss. ) , o movimento é o fundamento da contin
gência no sentido estrito, dissociando o ser em potência do ser em ato
e introduzindo, assim, o tempo, ou seja, a possibilidade do obstáculo
entre a causa e o efeito (cf. Seg. Anal , I I , 1 2 , 95a 24-b 1 ) . O movimen
to que é "extático" (Fís. , IV, 1 3 , 2226 1 6; cf. Le probleme de l'être. . . , p.
433) , isto é, que faz sair o ser de si mesmo , é o início da indeterm ina
ção, da aventura. O que Aristóteles chama "movimentos necessários"
designam os movimentos dos astros, e somente deles, ou seja, os movi
mentos que, por sua circularidade, são a imitação da imobil idade. Mas
é possível dizer que, no nível do mundo sublunar, há identidade entre
mobilidade e conti ngência.
S E G U N D A PARTE • C A P IT U LO l i 1 13
1 . Ética Eudêmia
36 EE, VII, 14, 1247b 4-8. Observe-se a analogia da fórmula que aqui
define o acaso com aquelas que citamos anteriormente. Os manuscri
tos apresentam à váÀoyov, que não tem nenhum sentido, por isso cor
rigimos para aÀoyov. Parece, porém, uma falha ler: a6T]Àov (exatamen
te a fórmula que será retida pelos estóicos) .
37 lbid, 1247b 8.
39 EE, VI I, 1 4 , 1 24 8 a 1 8-27.
S E G U N D A PA RT E • C A P I T U L O l i 1 21
deliberar não lhes serve para nada, pois têm neles um princí
pio que é melhor que o intelecto e a deliberação, enquanto
os outros têm apenas o raciocínio; os afortunados não o tem
mas são habitados pelo deus" . 40 Dessa maneira, se é verdade
que em certo sentido tudo é movido pelo acaso, isto é, por
Deus, é preciso corrigir essa primeira afirmação, precisando
que a Divindade inspira diretamente apenas os homens elei
tos por ela: os outros são abandonados às mediações laborio
sas do raciocínio e da deliberação. A boa fortuna (EuTux( a),
o bom nascimento (Euq>uf o , EllyÉvELa) tornam inútil o exer
cício do intelecto (voüs-), e mesmo da virtude, que não é se
não um "instrumento do intelecto" . 4 1 Inversamente, as vir
tude intelectuais e as morais e, em particular, a virtude da
prudência, que resume todas as virtudes, são apenas um subs
tituto, um sucedâneo, que esforça-se para encontrar, por meio
da deliberação, os bens que os homens afortunados recebem
imediatamente dos deuses. 42 Tais homens, "mesmo que pou-
40
EE, VI I , 1 4 , 1 24 8a 29-33.
41 ' H yàp àpET� TOÜ voü Õpyavov (EE, VI I , 1 4 , 1 248a 29) .
42
O caráter de sucedâneo que Aristóteles atribui à prudência e às outras
vi rtudes morais, encontra-se numa fábula que Santo Agostinho toma
do Hortensius de Cícero que, segundo toda verossimilhança, por sua
vez, a teria tomado do Protrético de Aristóteles: suponha-se que seja
mos transportados à Ilha dos Bem-Aventurados; teríamos necessidade
de eloqüência, se ali não há tribunais? De coragem, se não há perigos a
arrostar? De justiça, se não há propriedade? De temperança, se não há
desejos a refrear? De prudência, se não haveria necessidade de escolher
entre os bens e os males? Não restaria senão a contemplação, " única
coisa que torna louvável a vida dos deuses" (resumimos Santo Agosti
nho, De trinitate, XIV, 9, 1 2; Jâmblico, Protret. , IX, 53, 3 ss. P, fr. 1 2
W, também cita essa fábula, embora nos pareça que seu sentido tenha
1 22 PI ERRE AUB ENQUE
sido completamente alterado) . É certo que esse texto insiste nas condi
ções objetivas da virtude, enquanto a Ética Eudêmia insiste nas condi
ções subjetivas; mas, em ambos os casos, trata-se de mostrar que Deus
- ou o homem i nspirado - escapa a essas condições, que são limita
ções, e por isso à obrigação da virtude. A virtude nasce da finitude e
desaparece com ela. O texto sobre a I lha dos Bem-Aventurados eviden
temente se aproxima de Ética Nicomaquéia, X, 8, 1 1 786 9- 1 8 (cf. aci
ma, p. 1 08 ) . Sobre o tema de que Deus é "melhor que a virtude"
(n µLwTEpov àpETT)S, �EÀT[wv TT)S àpETi')s ) , cf. EN, VI I , 1 , 1 1 4 5a 26;
Magna Mora/ia, II, 4 , 1 2006 1 4 .
43 EE, V I I , 1 4 , 1 24 8a 34-b 1 .
44 L. Ollé-Laprune, Essai sur La mora/e d'A ristote, p. 5 , 1 1 ; W Jaeger, On
the Origine and Cyde. . . , p. 443. Ollé-Laprune não tira nenhuma con
seqüência "genética" dessa constatação, mas Jaeger quis ver nisso a mar
ca do caráter ainda platônico da Ética Eudêmia, cuja teoria do acaso
evocaria a "doutrina platônica tardia da fortuna divi na" .
S E G UN D A P A R T E • CAP I TUL O l i 1 23
45
EE, VI I , 14, 1 247a 31 .
46 Jbid. , 12476 1 2- 1 3 .
47 Cf. Jbid. , 1 248a 27-28: ÀÓyou õ' à p x � ou ÀÓyos . à ÀÀá n KpEí: TTov .
48 Sobre essa noção, cf. Schuhl, P.-M. "Adela". ln: Homo, Annales pu
bliées par la Faculté des Lemes de Toulouse, 1 953 , I, p. 85-93.
1 24 P I E R R E A U B E N QU E
2. Física
56 t'a idéia banal de acaso ( Fís. , II, 5, 1 96b 1 3- 1 5 , 1 97a 1 9-20; cf. 1 97a
30, sobre o caráter incerto, à�É�mov, da fortuna) , mas que Aristóteles
endossa na definição científica que lhe dá ( l 97a 32-3 5 ) .
5 7 ' H TÚXTJ rnü àopi arnu EL vm 6oKE. Í: ( Fís. , I I , 5 , 1 97a 9- 1 O) .
TÚXTJ àópLaTOV.
5 9 !bid. , 1 96b 27-29.
1 28 P I E R R E A U B E N QU E
6
° Cf. , como caso mais recente, W. J. Verdenius, "Tradicional and Personal
Elements in Aristotle's Religion" , Phronesis, 1 960, V, p. 60 e n. 8 .
61 EN, X, 9, 1 1 79a 24 ss.
62
Die Philosophie der Griechen, II, 2, 1 92 1 , 4• ed., p. 388-9.
63
Em seu comentári o, ad loc. , p. 5 97.
S E GUN D A PARTE • C APÍTULO l i 1 29
I I, 5, 1 97a 30).
7 5 EN, I, 11, l lOOb 6-7.
S E G U N D A PART E • C A P ÍT U LO l i 131
76 EN , I , 1 1 , 1 1 006 1 2- 1 8.
77 Ibid. , X, 7 , 1 1 776 1 ; e( I , 5 , 1 0976 8 , 1 4; X, 7, 1 1 776 2 1 ; 9, 1 1 79a 3.
7 8 Jbid., 1 , 1 1 , 1 1 0 1 a 2 ss. ; cf. 1 1 006 3 1 .
1 32 P I ERRE AU B E N QUE
79
Bréhier, E. Ch rysippe et i'ancien stoii:isme, 2º ed., p. 2 1 9,n. 1 e p. 2 1 2.
Cf., também, Pohlenz, M . La liberté grecque.
°
8 Cícero, De finibus, I II, 22, adfin.
81
file unus e septem sapientibus non sapienter . . . monuit (id. , ibidem).
82
Sêneca, De providentia, IV, 6. Cf. Goldschm idt, V Le systeme stoii:ien et
l'idée de temps, em especial, p. 1 24.
S E G U N D A PARTE • C A P ÍT U LO l i 1 33
90 EE, VII, 12, 12456 14-19; Cf. Magna Mora/ia, II, 15, 12126 33-
1213a 7.
9 1 Jbid. , 12456 18-19. Sobre este problema, cf., também, EN , IX, 9;
Magna Mora/ia, II, 15 (cf. , abaixo, p. 283-90).
9 2 EN , X, 7, 11776 33.
93 Jbid. , 1 1 77a 21-22.
94 Met. , A , 7, 10726 16, 25; 9, 1075a 8-9.
9 5 EN, X, 4, 1 1 75a 3-4; cf. Met. , 0, 8, 1 0506 22 e a reserva de EN , X, 7,
11776 22.
9 6 Jbid , 7, 11776 4-26. Sobre a axoÀlÍ, da qual são privados os escravos
(Po/., VII, 1 5, 1334a 20-21), cf. Po/. ,VII, 15, 1334a 11-6 5.
S E G U N D A PARTE • C A P I T U LO l i 1 35
1 02
EN, I, 1 0, 1 0996 18-20.
1 03
Cf. a citação de Rodier, p. 1 04, n. 137.
1 38 PI ERRE A U BEN QU E
1 04
EN , I , 1 0 , 1 099b 23.
1 05
A fórmula da linha l 099b 17 sobre a felicidade co mo "recompensa
da virtude" (ci8Ãov . . . TfiS àpnfis) não parece significar outra coisa
senão um ideal de que estamos separados pelos "acasos" deste mundo.
A longa discussão de Ollé-Laprune buscando saber se Aristóteles não
suprime a noção de mérito ao instituir uma relação analítica entre a
virtude e a fel icidade, não é apenas anacrônica, ela também desco
nhece as reservas que tornam essa relação problemática (Essai sur la
mora/e d'Aristote, p. 1 54-70, especial mente, p. 1 65-7) .
1 06
Met. , A , 9, 1 074b 2 7, 32.
S E G U N D A PA RT E • C A P f T U LO 1 1 1 39
1 07
Leis, X, 903 b; Epínomis, 984 d-9 8 5 a. Tais "demônios", e o papel que
lhes é atribuído, parecem tomados de empréstimo da astrologia persa,
que Aristóteles repele, retendo apenas, com Eudoxo, o princípio de
explicação matemática dos movimentos celestes.
1 08
Sobre a crítica dessa teoria no De Philosophia, c( Allan, D . J. The phi
losophy ofA ristotle, p. 23-6, 29.
1 09
De C<rlo, 1 , 4 , 27 1 a 33; 11, 1 1 , 29 1 b 1 4 ; As Partes dos Animais, 1 1 , 1 3 ,
658a 9; I I I , 1 , 66 1 b 24; Política, l, 8, 1 2 566 2 1 , etc.
1 10
Geração dos Animais, I I , 6, 7446 1 6- 1 7; cf. As Partes dos Animais,
IV, 1 0, 687a 1 6 .
111
Política, l, 6, 1 2 5 56 2-3: ' H 6E cj,úms (3oÚÀE Tm µEv TOÜTO TTOLELV,
iroÀÀÚ KLS' µÉ vTOL ou 6úvaTm . Sobre a equivalência, nos textos desse
gênero, das expressões "a natureza" e " Deus" , cf. nosso Probleme de
l'être. . . , p. 349, n . 4 , e Düring, 1 . "Aristotle on Ultimate Princi pies
"'
from 'Nature and Reality . ln: Aristotle and Plato in the Mid-Fourth
Century, principalmente p. 43). Teofrasto se inquietará expressamen
te com aquilo que chamará "a impotência" (cia0ÉvE L a ) do Primeiro
Motor (Met. , 2 , 5b 1 4) .
140 PI E R R E AUB ENQUE
1 12
De C<Elo, l, 12, 2836 13; Met. , Z, 15, 10396 29; 7, 1 032a 22 etc.
1 13
Le p robleme de /'être. . . , p. 429 e ss.
S E G U N DA PARTE • C A P I T U LO l i 141
1 14 Rod ier, G . Études de philosophie grecque, p. 273 , que remete aos Me
teorológicos, l , l (início) e à As Partes dos Animais, I , 1 , 64 1 b 1 8 . Cf. ,
també m , Met. , r, 5 , 1 0 1 0a 3 : ' Ev Tai s a [ a811Toi s TTOÀÀTJ � TOÜ
àop( arnu <j>úm s .
1 15
Cf. os textos citados em nosso Probleme de l 'être. . . , p. 388-9.
1 16
" Ean v 6E Tà µT) õv E)'KE Kpa µÉvov Toi s oua L v (De anima in Suppl.
A ristot. , I I , l , ed. Bruns, 1 7 1 , 27) .
1 17 ' E v TOl S oum v Tà µT) õv traprntra p µ É vov TTWS (ibid. , 1 70, 1 1 ) . De
forma geral , ver as passagens 1 70- 1 7 5 (Bruns) e o comentário dessa
passagem por Schuhl , P.-M. Le dominateur et les possibles, p. 4 5 .
1 18
Aristóteles rejeita as teorias que introduzem o não-ser no ser, sob o
pretexto de explicar o movimento e a predicação . Cf nosso Probleme
de l 'être . . . , p. 1 5 1 e ss.
1 19 Alexandre, De anima in Suppl. Aristot. , 1 7 1 , 1 5 Bruns.
1 42 P I E R R E A U B E N QU E
1 20
Sem dúvida, não é preciso atribuir demasiada importância aos argu
mentos pelos quais os estóicos, pressionados pela necessidade de j us
ti ficar a existência do mal, parecem às vezes limitar o poder da Provi
dência. Assim , Crisipo se perguntava se o universo não se compara a
uma grande casa, na qual nenhuma administração , por mais perfeita
que sej a, pode impedir que o som ou os grãos de trigo se percam
(Plutarco, De Stoic. repugn., 37; SVF, I I , 1 1 78) . Segundo Filodemo
(col. 7, 28 e 8, p. 1 5 6-7 Scott; SVF, I I , 1 1 83) , Crisipo desculpará Deus
pela seguinte razão: "ele não pode saber tudo" (col . 7, 2 8 , 1 56 Scott)
(mas o texto está muito alterado) . Filodemo acrescenta: " Embora con
cedendo a Deus a onipotência, se refugiam, quando pressionados pe
las objeções, na tese segundo a qual a conexão das circunstâncias (Tà
auvmTTÓµEva) faz com que Deus não possa fazer tudo (ou TTÓvTa
ôúvarn L )" . Porém, é preciso observar que os testemunhos provêm de
autores hostis ao estoicismo (a última citação de Filodemo mostra cla
ramente que ele não compreendeu a teoria do mal como trapaKo
ÀoÚ0 Tj µa). É Cícero, sobretudo, apoiando-se em fontes provenientes
do médio estoicismo (onde a doutrina estóica pôde ser infletida por
influências aristotélicas) que atribuirá aos estóicos a tese Magna di
curant, parva negligu nt (De natura deorum, I I , 66; cf. I I I , 3 5 , 86; 38,
90) . Po rém , esta tese co nflita com a i n t u ição fundamental do
estoicismo , segundo a qual o próprio mal faz parte da ordem univer
sal : y( yvnm Kal auT� (= � KaK[a) TTWS' KaTà Tàv <j>ÚaEws- ÀÓyov
(Plutarco, De Stoic. repugn. , 3 5 ; SVF, II, 1 1 8 1 ) .
S EG U N D A PARTE • C A P !T U LO 1 1 1 43
1 23 C ( Met. , e , 9, 1 05 1 a 1 7-2 1 .
1 24 CToÀÀà yàp ,rapà . . . T � V <j>ÚaLv ,rpánouaL füà TÓV ÀÓ-yov (Pol , VII,
1 3, 1 3326 6-7), citado por Rodier, op. cit. , p. 274.
S E G U N D A P A RT E • C A l' f T U L O l i 1 45
1 25
Alexandre, na passagem de seu De anima citada acima, mostra que a
participação de regiões inferiores do ser no não-ser provoca, ao mes
mo tempo, o acaso nas coisas exteriores e, em nós, "o que depende de
nós" : TOÜTo 6i E V µ E v Tai s E KTOS a [ T í o t s -yE vó11E vov T�V TÚXTJV
E lTOÍ TJOE V Kai TO auTÓµaTov, EV 6E Tai s EV � 1ii v TO E <!>' � µi v ( 1 7 1 ,
1 5) . C( 1 70, 8 e o comentário de Schuhl, P.-M. Le dominateur et les
p ossibles, p. 4 5 .
1 26
Cf. Rodier, op . cit. , p. 274: "O determinismo da razão . . . é um remé
dio para a contingência que o determinismo da natureza deixaria sub
sistir" . Para justificar o "determinismo da razão" , Rodier lembra que,
para Aristóteles, como para toda a tradição socrática, o homem quer
o melhor (EN , VI I , 4 ss. , especialmente 1 1 47b 9 ) ; (nós acrescentare
mos: salvo a exceção da bestialidade, 0TJpl ÓTTJS , e mesmo do desregra
mento mórbido, à KoÀaoía, cf. EN, VI I , 1 ; 6, l 1 49a 4-20). No que
concerne à contingência, seremos menos levados que Rodier, que pen
sa sobretudo no desenvolvimento sobre o acaso no livro I I da Física, a
atribuí-la ao simples emrecruzamento das séries causais, o que o auto
riza ainda a falar do "determinismo da natureza" . A intuição da impo
tência da Providência conduz Aristóteles, parece-nos, a admitir uma
indeterminação mais fundamental, que torna tanto mais radical a res
ponsabilidade do homem.
1 46 PIERRE AU BEN QUE
1 27
Bréhier, op. cit. , p. 23 1 .
1 28
Epicteto, Con versações, I I , 1 0, 5 .
1 29
Nos estóicos, a phronêsis não parece mais l igada ao segundo aspecto
da moral do que ao pri meiro. Encontra-se, no entanto, em Estobeu
(Ecl. , I I , 60, 9; I I , 62, 1 0 ss. W; = SVF, I I I , 264) uma definição de
phronêsis como � Tou Ka0tj KoVTOS E ÜpEOl S , "procura do conveniente" .
Tal defi n ição , tão diferente daquelas do antigo estoicismo, que faziam
da phro nêsis uma ciência do bem e do mal (cf. acima p. 60, n. 1 ) , não
remonta aquém de Panécio (cf. Philippson, " Das Sinlichschõne bei
Panaitios" . ln: Philologus, 1 930, p. 365-76; Grilli, A. ll problemo dei/a
vita contemplativa . . . , p. 1 1 6 , n. 1 ; Schuhl, P.-M . Revue philosophique,
1 960, p. 234-5) e poderia relacionar-se a uma influência aristotélica.
S E G U N D A PART E • C A P ÍT U L O I I 1 47
1 30
Assim como a arte humana, a divisão consecutiva do trabalho servil e
da atividade livre se tornariam inúteis no dia em que "os teares teces
sem sozinhos" (Política, l, 4, 1 2 536 33- l 2 54a 1 ). Mas Aristóteles es
creve essa frase como irrt:al.
1 48 P I ERRE AU B E N Q U E
beração revela uma EV6ELa q,povtjcrEwS' (aqui q,póvrio-LS' está sendo em
pregada no sentido platônico de ciência) .
1 34 Túiv yà p wpwµÉvwv Kal TETayµÉ vwv ElTLO"Ttjµri µâÀÀÓV E O"TL V TJ TWV
EvavT(wv (Protrético, fr. 5 2 R, 5 W; 3 8 , 5-6 P).
1 3 5 Da Interpretação, 9, 1 8b 26.
1 36 Ibid. , 1 9a 7 .
1 37 Ibid. , 1 9a 7 ss.
1 38 Segundo a expressão de P.-M. Schuhl em Le dominateur et les possi
bles, p. 1 7. Ver, nesta obra, todo comentário à passagem, p. 1 4-8.
S E G U N D A P A R T E • CAPÍTU LO l i 151
139 OÜTE �ulJÀE ÚE a0m ôt m à v oÜTE 1rpa-yµaTE Úr n8m , onde ÔÉol marca
não apenas uma exigência mas uma necessidade moral e onde
1rpa-y1iaTE Úrn8m designa uma atividade séria e meritória (cf. EN , X,
6, 1 1 76b 29, onde 1rpa-y µaTE Úr n8m se opõe a tra L ( E L v) .
1 40 SVF, I I , 9 5 7 {Orígenes, Contra Celsum, I I , 20) e, sobretudo, Cícero,
De fato, XI I , 2 8 . Não acreditamos, contrariamen te a Gercke ("Chry
sippea" . ln: jahrbücherf Klassische Phi/o/. , Supplementband 1 4 , 1 88 5 ,
p . 73 1 ) , que s e trate de uma invenção megárica: o argumento, como
o próprio nome ressalta, tende principalmente a denu nciar as conse
qüências moralmente desastrosas da tese megárica sobre a necessidade
dos futuros. A denominação do argumento parece ser, de fato, de ori
gem estóica, embora não tenhamos testemunhos precisos disso.
1 4 1 No entanto, Aristóteles jamais fará dela um vício, provavelmente por
que seu contrário não é uma virtude particular, mas a atividade (ep-yov)
em geral (cf. a citação da nota seguinte) , ou ainda porque os Antigos
nunca valorizaram a atividade laboriosa dos homens, considerada, aci
ma de tudo, um meio em vista do ócio (cf. EN , X, 7, 1 1 776 4 :
àaxoÀovµE0a i'. va axoÀá(wµE v ; Po/. VI I , 1 5 , 1 334a 1 5 ) . Além disso,
são mais propensos que nós à indulgência a respeito da preguiça (so
bre as origens modernas da valorização da aplicação ao trabalho,
1 52 P I E R R E A U B E N QU E
144 Magna Mora/ia, l , 34, 1 1 97a 1 6- 1 8 : " Ecrn v 6 ' � q>pÓvT]ULS' àpETtj
ws 6ó/;E L E V ãv, oÚK ETTLaTtjllTJ º E TTa L VE Tol. -yáp daLv ot <!>póvL µOL , ó
6' ETTUL VOS' àpE TiiS' . Esse texto contradiz Magna Mora/ia, 1 , 5 , 1 1 8 5b
1 0 (oÚ6EL S' E TT a L VELTOL . . . õn q>pÓvL µos ) , embora este último tenda a
mostrar que a phronêsis, assim como a sophia, não são louváveis, pois
n ão implicam nenhum mérito daquele que as possui , na medida em
que são q ualidades intelectuais. Tal "contradição" tenderia a confi r
mar que, como escreve Dirlmeier (in: Magna Mora/ia, p. 209 ) , Aris
tóteles nunca chegou a "dominar inteiramente o difícil tema das vir
tudes dianoéticas " . Parece que a palavra àpETtj já devia comportar, em
seu uso corrente, uma referência ao mérito "moral": ora, seria possível
objetar a Aristóteles, que mérito há em ser inteligente (cj>póvL µos) ou
sábio, isto é, sapiente (aocj>ós) ? Sobre o phronimos, Aristóteles se dedi
cará, apoiando-se , aliás, na tradição popular, a mostrar seu valor não
somente intelectual , mas moral. Porém, sobre o sophos, a demonstra
ção será mais difícil: na Magna Mora/ia, a sophia nunca figura entre os
ETTm VETá ; ela é o contrário em EE, I I , 1 , 1 220a 6 e em EN , 1, 1 3 ,
1 1 03a 8 , esta última tendendo a estabelecer que a sophia é uma vir
tude (E rrm vo uµE V 6E , diz o texto , KOL TOV aocj>ov KOTà T�V EÇ L V ' TWV
EÇEwv 6E Tàs E TTm vE Tàs àpETàS' ÀÉ-yo111: v} . Mas Aristóteles percebe
bem que a sabedoria só é meritória na medida em que ela não é uma
ciência; ora, não se vê ao certo o que a distingue da ciência, da qual
ela participa, ao mesmo tempo que participa do vous (Magna Mo
ra/ia, I , 34, 1 1 97a 24-29 ) . A Magna Mora/ia reduz-se a justificar da
seguinte maneira que a sabedoria é uma virtude: se a prudência é uma
virtude e é inferior à sabedoria (já que diz respeito às coisas inferiores,
TT E pi xdpw -yáp f o n v , 1 1 976 7) , então está claro que a sabedoria é
uma virtude, visto que a virtude é o que há de melhor ( 1 1 976 5- 1 0) .
Isso, porém, é esquecer que há "alguma coisa d e melhor que a vir-
1 54 P I E R R E A U B E N QU E
tude" (�E ÀT[ov TiiS' à pETiiS', Magna Mora/ia, I I , 4, 1 200b 1 4 ; cf. EN,
VI I , 1 , 1 1 4 5 a 26) ou, ainda, que acima das ÊTTULVETá (das quais fa
zem parte as virtudes) há as T[ µw (nas quais parece, embora Aristóte
les jamais o diga expressamente, que se deva classificar a rophia, que a
t radição nos ensina pertencer principalmente a Deus, cf. Met. , A , 2,
983a 6) .
1 45 Sobre a distinção entre Tà Ê1TUL VETà e Tà TL µLa , cf. EN, I, 1 2, 1 1 O 1 b
1 1 ss. ; EE, I I , 1 , 1 2 1 9b 8- 1 3; Magna Mora/ia, I, 2, 1 1 83b 20-27.
Segundo Dirlmeier (in Magna Mora/ia, p. 1 87-8) , tratar-se-ia de uma
distinção tradicional , mas à qual Aristóteles dá um sentido preciso : o
louvável (i:1rmvos) exprime um valor relativo (ni> . . . TTpós TL 1rws
E XE L V, l l O l b 1 3), a veneração (nµ�) um valor absoluto (cf. EN , IV,
7, 1 1 23b 1 7-20. Sobre o sentido filosófico dessa disti nção, cf. Ollé
Laprune, Essai. . . , p. 1 30- 1 , 1 56) .
1 46 Cf. Cícero , De republica. , VI , 1 ; De natura deorum, I I , 22, 5 8 ; De di
vinatione, I , 4 9 , 1 1 1 ; De legibus, I , 23, 60.
S E G U N D A P A RT E • C A P IT U L O l i 1 55
147 EN , VI , 7, 1 1 4 1 a 20.
1 48 Sobre esse paradoxo, que explica que a vida vegetativa parece, ao me
nos exteriormente, à vida contemplativa, cf. De c<Elo, l i , 1 2, 292a 1 0-
b 24 . Cf. , também, abaixo, Apêndice, p. 1 87-8 .
1 49 ' H q>pÓVT)OL S à v ELT) EÇLS n s trpoa L pE T L KTJ rni trpa KTLKTJ Twv E q> '
ri µi v ÕvTwv Kal trpâçm Kal. µT] trpãçm (Magna Mora/ia, I , 34, 1 1 97a
1 4) .
1 56 PI ERRE AU B E N Q U E
§ 2. o T E M P O O P O RT U N O (Km p ó s )
l 50
Magna Mora/ia, I, 34, 1197b 8, 1 197a 34-35 .
151 Jbid. ,1197a 38-b 1 .
1 52 C f. Goldschmidt, V. Le systeme stoicien et / 'idée de temps, especialmen
te, p. 205- 1 O.
1 53 Fís. , IV, 1 1 .
S E G U N D A PA RT E • C A P fT U L O l i 1 57
º
1 6 To 6E TÉ ÀOS T�S iTpÓÇEWS KaTà TOV Ka t póv Êanv (III , 1 , 1 1 1 0a 1 4).
1 6 1 Cf. , abaixo, cap. III, § 2.
1 62 Note-se o caráter jurídico das análises de I II, 1 -3, onde se trata de de
terminar cm quais casos o homem tem ou não inteira responsabilida
de por seus atos.
1 60 P I E R R E A U B E N QU E
ne a retórica como "uma prática estranha à arte, mas que exige uma
alma dotada de penet ração e audácia (\JJ ux�s crrnxa cr n K � S Ka t
à v6pE ( a s ) e naturalmente apta ao comércio dos homens" (463a) .
lsócrates não diz outra coisa quando assegura que o difícil n a arte da
oratória não é "adquirir a ciência dos princípios (Twv 11E v i 6e:wv . . . T�v
ETTtcrTÍ\ µ riv), a partir dos quais pronunciamos e compomos nossos dis
cursos", mas "escolher aqueles que convêm a cada tema (i <!>' E KÚCTT4J
Twv 1rpa-yµáTWv as 6Ei 1rpoE ÀÉa8m ) " e "não perder as ocasiões (E n
6E Twv Kmpwv µ� 6w 1rn pTEi v ) ", pois para isto é preciso "uma alma
audaciosa e perspicaz" (\JJux�s àv6pL K�S Kat 6ofocrn K�S E p-yov E:Lvm )
( Contra os sofistas, 1 6- 1 7) . W. Süss aproxima as duas passagens (Ethos,
p. 20) e conclui que a analogia provém de uma origem comum, que
poderia ser uma definição gorgiana de retórica, i nsisti ndo sobre a
flnesse do tato necessária à apreensão dos imponderáveis, por oposi
ção a um saber aprendido de cor. Os argumentos (ÀÓ-ym ) , aos quais
faz alusão o Fedro (260e), que tendem a provar que a retórica não é
uma arte, bem poderiam ser de Górgias. Mas é claro que, para ele, se
ela não é uma arte é porque é mais que uma arte, um tipo de advi
nhação, uma "estocástica" .
1 68 EN, ! , 4, 1 096a 27-2 8 .
1 69 Ibid., 1 096a 24-27; c( EE, l, 8 , 1 2 1 7b 32 ss. ; Tópicos, ! , 1 5 , 1 07a 5- 1 2 .
1 64 P I ERRE AUB E N QU E
17 º EE, 1 , 8, 1 2 1 76 33 .
17 1
Observe-se o paralelismo com a noção médica de divaita, que designa
o gênero de vida, especialmente em função do lugar. Os hipocráticos
não se preocupavam menos com a localidade favorável (cf. o TT E pi
füaLTT)S , I I , 37) do que com o momento favorável. Cf. , também , Dos
ares, das dguas e dos lugares, e Aristóteles, Política, VI I, 7.
1 73
Met. , M , 4 , 1078b 28.
1 74
Ménon, 72a.
1 75
Pol , I, 1 3, 1260a l 5-18 ([na edição francesa] tradução de J. Aubonnet).
1 66 P I E R R E A U B E N QU E
1 76
Met. , A, 1 , 98 1 a 5-7.
1 77
Cf. p. 1 18-25 .
1 78
EE, VII, 14, 1 247b 23-24.
17
9 !bid, 1 248a 3-4.
1 80
!bid., 1 247b 25.
o
1s 1 o u auvE x�s 24 sb 7) .
1 82 !bid, 124 8b 3; cf. 1 247b 22. É a 0üa µoi pa do Ménon (99e).
S E G U N D A PARTE • C A P IT U LO I I 1 67
191
C f. Herácl ito, fr. 5 2 Diels. Um vestígio dessa concepção religiosa de
kairos parece presente num exemplo citado por Aristóteles nos Pri
meiros Analíticos: "a ocasião não é o tempo oportuno (ó Kmpàs ouK
fon xpóvos 6Éwv) , pois a ocasi ão existe também para Deus, mas para
ele o tempo não pode ser oportuno, porque para Deus não há nada
que lhe sej a útil" (Prim. Anal , I, 36, 486 3 5 ) .
1 92
Trata-se, aí, da transposição temporal de um sentido o riginariamente
espacial: em Homero , o kairos designa "as partes do corpo onde uma
ferida é eficaz e paral isa o adversário" (Schuhl , P.-M. " De l'instant
propice" . ln: Rev. Philos. , 1 962, p. 7 1 ) ; a ferida mortal é dita Ka L p L OS
1TÀTJYIÍ ( Ilíada, VI I I , 84, citado por Aristóteles, Geração dos Animais,
V, 5, 785a 1 4- 1 6) .
1 70 P I E R R E A U B E N QU E
AN T ROPOLOG I A D A PRUDÊ N C I A
§ 1. A D E L I B E RA Ç ÃO ( � O Ú À E U <J L S )
7 EN , I I I , 5 , 1 1 1 26 3-6.
8 'Ev ols TÉXVTJ EUTL , TToÀÀ� µÉ vTOL Kal. TÚXTJ EVUTTÓPXE L , olov i:v aTpa
TTJYLQ. Kal. KU�E pVTJTL KÜ (EE, VI I , 1 4 , 1 247a 5-7).
9 EN, I I I , 5 , 1 1 1 26 22-2 5 ; c( VI, 1 0, 1 1 42a 3 1 .
1 0 Pois nunca se delibera sobre o fim: I I I , 5, 1 1 1 26 1 4; cf. Retórica, I, 6,
1 362a 1 8.
1 1 To E UXUTOV EV Tfj à vaÀÚUE L TTpWTOV ELVGL EV Tfj YE VÉaE L { 1 1 1 26 23-
24) . C( 1 1 1 26 1 8-20: . . . EWS àv newaL V E 'TTL TO TTPWTOV OLTLOV, o E V
Tfl E ÚpfoEt foxaTóv f on v .
1 2 "A análise é a via que parte da coisa procurada, considerada como con
cedida, para chegar por meio de conseqüências que dela decorrem a
S E G U N D A PART E • CAP Í T U L O I l i 1 77
1 7 EN, III, 5, 1 1 1 2b l .
18
Ibid. , 1 1 1 2b 4 .
1 9 Esta relação dialética q u e faz nascer a aporia, não d a ausência de vias,
mas de sua pluralidade, é bem observada pelo coro de Antígona (v. 360) ,
para quem o homem é um ;ravToTTÓpos ã1ropos (contrariamente à ed.
Mazon, não separamos por vírgula as duas palavras e lemos: TTUVT0·
TTÓpos (lTTOpos ETT. ou6e v E PXETUL).
°
2 Cf. infra, p. 1 83 .
2 1 Leibniz é o primeiro a encontrar nas matemáticas o modelo que per
mite interpretar a deliberação e a escolha: as matemáticas perm item,
com efeito, determinar, por aproximações, um optimum, ou seja, ob
ter, segundo a "lei de determinação máxima", "o máximo de efeito com
o mínimo de esforço" (cf. De rerum originatione radicali, VI I , 303
Gerhardt; 79 Schrecker) .
1 80 P I ERRE A U B E N QU E
***
26
Ret. , I , 3 , 1 3 5 8a 36-b 8 . Observe-se que a deliberação concerne ao
membro da Assembléia do Povo e não ao Conselho: Aristóteles tem
em conta a evol ução que, na democracia ateniense, viu desl izar o poder
deliberativo da �ouXtj para a E KKÀ.T)cr t a .
27
lbid., 1 3586 1 3-20.
1 82 P I E R R E A U B E N QU E
berações são vãs e que o futuro será o que deve ser mesmo
quando não deliberamos sobre ele. A teoria do discurso
deliberativo implica pois a eficácia da deliberação humana, o
que é uma nova forma de pressupor a contingência dos futu
ros: se o futuro estivesse escrito, o discurso deliberante dos
homens se calaria diante dos decretos do destino, tais como
são expressos pela palavra inspirada dos adivinhos.
Ainda aqui percebemos a ambivalência da experiência
aristotélica do tempo. Se deliberamos sobre o futuro é por
que nos é oculto, e o fato de precisar deliberar é, em sentido
absoluto, uma imperfeição. Mas nossa deliberação não é so
mente a pesquisa laboriosa de um saber que nos escapa; ela
não se limita a calcular um futuro que só aos deuses e aos pro
fetas pertenceria conhecer, como "generais de pijamà' ava
liando as chances de um combate do qual eles não partici
pam. A deliberação consiste em combinar meios eficazes em
vista de fins realizáveis. É assim, pois, que o futuro se abre
para nós. Se o homem pode ter uma atitude não somente teó
rica mas decisória a respeito do futuro, se não é somente um
0EWpOS TOU TTapÓVTOS 28 mas um Kpl T�S' TWV µEÀÀÓVTWV , é
porque ele mesmo é um princípio dos futuros, àpx� Twv
eaoµÉvwv. 29 Assim, a análise de Aristóteles manifesta o vín
culo profundo entre uma filosofia da contingência e a prática
28
1 3 58b 3-4, 6, 1 7- 1 8. No Protrético, Aristóteles ainda privilegiava
Ret. ,
a atitude de espectador. aqueles que vão à Olimpíada não para partici
par dos jogos, mas pelo "espetáculo" (EVE Ka Tfjs 9fos), são os verda
deiros filósofos (fr. 1 2 W, 58 R, p. 53-4 P) . Sobre os avatares da metá
fora do "panegírico" de Pitágoras Qâmblico, Vida de Pitdgoras, 58-9
Deubner; Cícero, Tusculantt, V, 3, 8-9) a Epicteto ( Conversações, II, 1 4,
23 ss.), cf. Joly, R. Le theme philosophique dts genres dt vie, p. 2 1 -52.
29
D a lntt rp retação, 9, 1 9a 7. Cf. , acima, p. 1 50.
S E G U N D A PA RT E • C A P Í T U L O I I I 1 83
30 Platão , Górgias, 4 5 6a-c, 4 5 8 e-45 9c. Para uma defesa de G órgias, cf.
nosso Probleme de l'être . . . , Parte 1 , Cap. I I I .
31 Cf. Nietzsche: "O estoicismo é a transfigu ração moral d o escravo"
(Der Wille zur Macht, ed. Kroner, p. 247) .
32
A boa deliberação (E ú�ou>.f o ) não é ciência (pois não se delibera sobre
o que se sabe) , nem advinhação imediata (E ÚaTOxí a ) (pois a del ibera
ção é calculativa e procede lentamente) : EN , VI, 9, 1 1 4 2a 34-b 6.
1 84 P I E R R E A U B E N QU E
n n
45 . . . ã1ravTES' 6E auvE À9ÓvTES' PEÀTL OUS' ou XEL pouc;- (Pol. , I I I , 1 1 ,
1 282a 1 7) . Cf. 1 2 8 1 a 3 9 -b 1 0 ; 1 282a 34-4 1 . Antes, Aristóteles havia
dado uma razão de pura oportunidade: exclui r o povo do gorvemo é
povoar o Estado de i n imigos; por isso, é preferível deixar o povo parti
cipar nas del iberações (Àt L TTE T a L 6 � ToÜ PouÀE Úr n6m ,m i KP L VE L V
11ETÉXEL V a uTOÚS' , 1 28 1 6 30-3 1 ) , como fez Sólon. Mais abaixo, en
fim, apresenta um argumento mais essencial : uma obra deve ser julgada
antes por quem a utiliza do que por seu autor. Assim, o morador julga
melhor que o arquiteto a casa e o convidado j ulga melhor o prato que
o cozinheiro. Contrariamente a Platão, que util iza um argumento aná
logo para subordi nar as técnicas de fabricação às técnicas de uso e, fi
nalmente, à ciência do Bem (cf. , p. ex. , Eutidemo, 29 0c) , o argumento
de Aristóteles parece impl icar que o uso não é uma questão "técnica"
mas de opi nião: Tàp-ya -yL-y vwaKoU<JL Kai. ol 11� EXOVTE S' T�v TÉ X VT)V
( 1 2 8 2a 1 9 ) . M a i s nada se di sse , após a A n t i gu i dade , con t r a a
"tecnocracia" e cm favor dos "usuários" . A tendência "surpreendente
mente anti-socrática" (diremos, antes, anti-platônica) e "francamente
democrática" dessa passagem fo i enfatizada por Gigon , O . Aristoteles.
Politik u. Staat der A thener, Zurich, 1 9 5 5 , " I ntrodução" , p. 34. Sobre a
organização do poder "deliberat ivo", cf. Pol. , IV, 1 4 .
46 Cf. , ainda, Pol. , I I I , 1 5 , 1 286a 20, 26.
1 88 P I E R R E A U B E N QU E
** *
47 Vimos, acima, que Deus não delibera, tampouco o animal : a única ex
ceção é o homem (História dos Animais, I, l , 4 8 86 24) .
48 n poKELTOL T4) O"Ull�OUÀEÚOVTL O"KOlTOS' TO cru11cj>É pov, �OUÀE ÚOVTOL yà p
ou TTE pi TOU TÉÀOUS' , àUà TTEpi TWV TTpos- TO TÉ ÀOS- (Ret. , I , 6 , 1 362a
1 7- 1 9) .
49 EN , VI , 1 0, 1 1 426 1 8 -20.
50 !bid. , VI , l O.
S E G U N D A PART E • C A P I T U L O I l i 1 89
57 ' Op0ÓTTJS' � KaTà TO wcf>ÉÀL µov, Kai oú 6E °i Kai WS' Kai ÕTE ( I 1 426
27-28).
58 ' H op0ÓTTJS' TTÀEOvaxws- ( I 1 426 1 7) .
1 90 P I ERRE A U B ENQU E
59 Epínomis, 976bc.
60 Sabe-se que a palavra oo<j>ós- significava inicialmente a habilidade téc
nica (tal como o lembra Aristóteles em EN, VI, 7, 1 1 4 l a 9 ss.). É nes
se sentido que Píndaro, por exemplo, fala de um TTOL TJT�S" oo<j>ós- .
6 1 MVT)llTJ, EÚµá8ELa, ayx(vma. A última "virtude" é rapidamente estu
dada por Aristóteles em EN, VI, 1 0, 1 1 426 5, e principalmente no
quadro "lógico" dos Segundos Analíticos, I, 34.
6 2 Cf. os textos citados por Gauthier, p. 508.
63 Cf. , supra, p. 1 0 1 -2.
64 Cf. Snell, B. Die Entdeckung des Geistes, p. 223-5, 236-7.
6 5 Cf. , mpra, p. 1 53, n. 1 44.
66 Um texto dos Tópicos (IV, 2, 1 2 1 b 3 1 ss.) parece atestar que a questão
ETTLOTT)µTJ � <j>pÓVTJOL S" � à pETÍ) devia ser clássica nos círculos da Aca
demia. Xenócrares parece ter sustentado o primeiro ponto de vista
S E G U N D A PART E • CAPÍT U LO 1 1 1 191
73 C( EE, I , 2, 1 2 1 46 7- 1 1 .
74
lbid. , l i , 1 1 , 1 228a 2-4 . Cf. 1 228a 1 : " É a virtude que faz com que o
fi m da proairesis sej a reto" .
7s Jbid. , 1 228a 1 2- 1 5 .
S E G U N D A PAR T I' • CAP Í T U LO I l i 1 95
76 EE, I I , 1 1 , 1 228a 1 0- 1 2 .
77 Jbid. , 1 228a 8 .
78
EN , VI I , 8 , 1 1 5 1 a 7 . Cf. o comentário d e Robin, A ristote, p. 2 6 5 e,
sobre a acrasia, o escudo de Robinson, R. 'Tacrasie sclon Ariscoce". ln:
Revue philosophique, 1 9 5 5 , 80, p. 26 1 -80.
79
Met. , r, 2 , 1 004b 24-25. Sobre TTpoa ( prnL� no sentido de intenção,
cf. , também , as 21 pági nas reunidas por Ross (A ristotle, p. 200, n. 3;
tradução francesa, p . 280, n. 3; p. 206, n . 39, crad . port.}. Ross, ao
contrário, não encontra fora do l ivro I I I da EN (seria preciso acres
centar, e do livro II da Ética Eudêmia) senão 4 passagens onde a pa
lavra cem o segundo sentido que vamos expl icitar. É característico de
uma certa falca de coordenação entre as anál ises, no entanto comple
mentares, de Aristóteles que o l ivro VI da Ética Nicomaquéia só co
nheça a p roairesis- inte nção (2, 1 1 39a 33 -b 5 ; 1 3 , 1 1 4 4a 20 e também ,
a despe ito de Ross , 1 1 4 5 a 4 ) ; o sentido de "esco lha" seguramente
1 96 P I E R R E A U B E N QU E
85
I I I , 5 , 1 1 1 3a 1 1 . Cf. EE, I I , 1 0 , 1 2266 1 7 . Observe-se que essa defini
ção é mais elaborada do que a que se encontrará em VI, 2, 1 1 3 96 4-5:
àpE KTL KOS' VOÚS' � OpE e L S' füaVOTJTL K� .
86 EN , I I I , 2 , 1 1 1 l b 27-28 .
87
C f. EE, I I , 1 0 , 1 227a 9- 1 0; 1 1 , 1 2276 29-30.
88
Robi n , Aristote, p. 265; Ross, Aristotle, 1 949, 5" ed . , p. 200 (trad. fr. ,
p. 280; trad . port . , 206) , e a nota de Rackham i n Ethics Nic. , I I I , 4 ,
1 1 1 1 6 5.
198 PI ERRE AUBE N Q U E
89 Assim Ross, que parece dizer que Aristóteles pretende explicar no livro
Ili da Ética Nicomaquéia o conceito de TTpoa [ pE<JLS, "já o encontra (no
livro II) na definição de virtude" (p. 1 98 ; trad. fr. , p. 278; trad. port.,
p. 204). Sem cair nos excessos da Schichtenanalyse, é preciso, no entan
to, reconhecer que a dissertação do livro I I I sobre a escolha é totalmen
te independente daquela do livro I I sobre a virtude, mesmo se os zelo
sos edito res, ou mesmo o p róprio Aristóteles, acreditassem dever
acrescentar {principalmente no in ício do I I I , 1 e Ili, 4) transições, de
resto, pouco convincentes.
90 Essa "evolução" do conceito de TTpoa[ pEOLS da Ética Eudêmia à Ética
Nicomaquéia foi estudada por Walzer, R. Magna Mora/ia und aristote
lische Ethik, p. 1 3 1-54, mas de um ponto de vista que não nos interessa
diretamente aqui: o das relações entre TTpoa[pEOLS e 6óç a .
91 EE, I I, 1 0, 1 226a 8 : Ou0ELS y à p TÉ ÀOS ou0E v npompEL Ta l , àÀÀà Tà
npos TO TÉÀos. A principal diferença em relação à Ética Nicomaquéia é
que a proairesis é oposta, sob este prisma, não somente à �oÚÀ.T]OLS (cf.
à frente), mas também à 6óça, que diz respeito ao fim ( 1 226a 1 7).
92 Jbid. , 1 226a 9- 1 1 .
S E G U N D A PART E • C A P I T U L O I l i 1 99
1 05
O capítulo 4 parte do princípio que a escolha faz parte dos atos vo
l untários (� TTpoa( pEULS' 6� É KoÚaLov µEv <j>a(vna L , EN, I I I , 4 , 1 1 1 1
b 6), mas que o voluntário tem mais extensão que a escolha (pois há
atos voluntários sem prévia deliberação , É�aÍ <j)VT]S' , 1 1 1 l b 9): o obje
to da escolha (TTpom puóv) é o voluntário (ÉKoÚaLOv} predel iberado
(TTpO�E �ouÀE uµÉvov) ( 1 1 1 2a 1 4 - 1 5). Dito isso, nos capítulos 4-6 Aris
tóteles se mostrará mais preocupado em extrair a diferença específica
da escolha (sua estrutura del iberativa} do que sua pertinência ao gêne
ro do vol untário.
1 06 At 6E Twv àpETwv É vÉ p-yELaL TTE pl rn vTa (EN, I I I , 7, 1 1 1 3b 5), isto
é, Tà iTpos- TO TÉÀOS' (b 4) . Nada se pode concluir a partir do fato de o
sujeito da premissa menor desse s i logismo ser a t T<Íi v à pE Tw v
É vÉ p-yE L a L , pois o sujeito d a conclusão é precisamente � àpu� .
1 07
EN , III, 7, 1 1 1 3b 6 .
202 PIERRE AUBENQUE
108
EE, III, 11, 1228a l; EN, V I, 13, 1144a 20-22. A contradição entre
os textos foi notada por Gauthier (ad loc., p. 212-3). No entanto, ele
não tira esta conseqüência, pois se esforça em dar, um pouco antes
(p. 195-6, ad 1111b 29-30), uma interpretação unitária da proai
resis como "decisão eficaz". Permanece, entretanto, manifesto que não
é enquanto eficácia que ela decorre do julgamento moral, e que ao
insistir sobre tal eficácia se está condenado a perder de vista a
problemática moral, como ocorre com Aristóteles nos capítulos 3-5
do livro III da Ética Nicomaquéia. A estes textos é preciso acrescentar
EN, III, 7, 1114b 23-24: "é nossa qualidade que nos faz pôr tal ou
qual fim" (Tlj, ,rmo( nves elvm TO TÉÀos Totóv6e n8ɵe8a).
109
Como o fazem Kullmann, E. Beitriige zum aristotelischen Begrijf der
Prohairesis, Diss. Bâle, 1943, ainda que se defenda (p. l); Robin, L.
Aristote, p. 265, se apóia na noção de "escolha preferencial" para ava
liar o direito que "os partidários da liberdade moral" têm de reclamar
de Aristóteles; Ross, D. Aristotle, "Voluntary Action and Choice",
p. 187-201. É igualmente do ponto de vista da Willensfreiheit que
R. Walzer estuda a evolução da noção de proairesis (Magna Mora/ia... ,
p. 139-54). Cf., também, Kuhn, H. "Der Begriff der Prohairesis in
der Nikomachischen Ethik". ln: Festschrift H G. Gadamer, p. 123.
SEGUNDA PARTE • CAPÍTULO III 203
* * *
114
Cf., por ex., os textos de Tucídides e Platão, citados na nota preceden
te, e Isócrates, Antídosis, 117-118 (numa guerra é preciso saber esco
lher seus aliados e seus inimigos; cf. EE, II, 1O, 1227a 13). O subs
tantivo TipoaÍpEGL<, é empregado, por Platão, apenas uma vez neste
sentido (Parmênides, 143c). A este sentido pode-se vincular o sen-
206 PIERRE AUBENQUE
1 24
Rep. ,X, 6 1 7e.
1 25 Tal é o sentido de ai'.prnLs na Apologia de Sócrates , 39a, Críton, 52c, e
de TTpom pEí:a0m nas Memordveis de Xenofonte, p. ex., IV, 5, 1 1 (rní:s
E)'KpaTÉGL µóvms EErnn ... Tà µEv à-ya0à ;rpom pEí:a0m , Twv ÓE
KaKwv à;rÉxrnem ); III, 9, 5; IV, 2 , 8; IV, 5 , 7.
1 26 Cf. Zenão, SVF, I, 2 1 6 (por definição, o sábio atinge o que depende
de sua vontade, Twv KaTà TTpoaí prnL v ÕvTwv avT<i>) ; II, 966 (o que é
KaTà ;rpoaí prntv é oposto ao que decorre da necessidade, do destino
ou do acaso) .
1 27 Cf. a definição de ;rpoT])' µÉvov em Zenão: ô àfüá<)>opov <Õv> E KÀE ·
-yóµE0a (SVF, I , 1 92). Em Platão, o verbo E KÀÉ-yrn0m já servia para
explicitar a noção de a í'. prnts ( Górgias , 499e-5OOa) . Lembremos
S E G U N D A P A R T E • C A P ÍT U L O 1 1 1 209
1 30 EN, I I, 1 .
1 3 1 Cf. I I I , 7, onde Aristóteles defende a tese de que "o homem é princí
pio e gerador de suas ações, como o é de seus filhos" ( 1 1 1 3b 1 7- 1 8).
Se se objetar que alguns homens são subm issos à tirania de suas pai
xões, Aristóteles responderá que eles são responsáveis por seu laxismo:
"no início, lhes era possível não se tornarem cal, e é isto o que faz com
que o sejam vol untariamente; e agora que se tornaram, não lhes é mais
possível não sê-lo" ( 1 1 1 4a 1 9-22 e toda a passagem precedente a par
tir de 1 1 1 4a 2). Cf., também, 1 1 1 46 3 1 - 1 1 1 S a 3. Está claro, porém,
que não se pode fixar o momento exato a partir do qual um hábito
vicioso torna-se i rreversível.
1 3 2 O homem virtuoso é aquele que encontra seu razer nos atos virtuo
p
sos: EN, I I, 2, l 1 04a 33- l 1 04b 1 3 ; cf. X, 1, 1 1 72a 1 9-26; 1 0, 1 1 79b
24-26. A conseqüência é que a educação moral deve ser i nicialmente
uma educação da afetividade (cf. Platão, leis, I I, 653ac).
1 33 A virtude é o que há de mais estável no homem mas, evidentemente,
tanto quanto isto seja possível nos assuntos huma nos (EN, I, 1 1 ,
1 1 006 1 2 ss . ) .
S E G U N D A P A R T E • C A P IT U L O I l i 21 1
* * *
13 4 • H8os-
àv8púÍmJJ 6a ( µwv (fr. 1 1 9 Diels) .
1 35 EN, II, 1, 1 103a 17. Cf. EE, II, 2, 1 220a 39; Magna Mora/ia, I, 6,
11856 38.
36
1 A dicotomia entre a1rou6afos- e c)>aíiXos- é uma constante do pensa
mento grego e, como vimos, u ma das tentações de Aristóteles (cf. aci
ma, cap. 1, § 2) . Ela se tornará um dogma para os estóicos (cf. SVF, I,
216, 227) . Somente o médio estoicismo introduzirá a noção do que
Sêneca chama proficientes (De tranquillitate animi, I; cf. De vita beata,
XXIV). Já tivemos ocasião de enfatizar outros traços comuns ao mé
dio estoicismo e Aristóteles.
212 PI E R R E AU BENQUE
141 EE, II, 10, 1 225b 33-35; EN, III, 4, 111 1 b 20.
1 42 Nas Leis, no entanto, Platão convida o legislador a "limitar-se ao possí
vel" e rejeitar os projetos irrealizáveis (µa rn[as- �ouÀ�aELS') (V, 742e).
1 43 EE, II, 10, 1225b 34.
1 44 Assim, é possível desejar (�oÚÀrn0m ) que tal atleta vença, mas isso não
é matéria de escolha, pois o resultado não depende de nós (EN, III, 4,
11 1 1 b 23-26; cf. EE, II, 1O, 1 225b 36-38).
S EG U N DA PART E • CAP I TULO I I I 215
145
EE, II, 10, 1226a 7-17; EN, III, 4, 111 l b 26-27. Não pensamos que
seja preciso atribuir muita importância, como o faz Gauthier (p. 19 5),
ao fato de Aristóteles apresentar uma ligeira restrição a essa dicotomia:
a vontade diz respeito, sobretudo (µáXL CJTU, 1226a 14, 16) aos fins,
antes (µâX\ov, 1111b 26) ao fim do que aos meios. Em primeiro lu
gar porque Aristóteles considera que essa terminologia ainda não é fa
miliar a seus ouvintes. Em segundo, e principalmente, os conceitos
de meio e fim são essencialmente relativos: não se pode querer o fim
sem que se queira mais ou menos ativamente os meios; não se pode
escolher os meios sem que se queira o fim, do qual eles são meios.
Assim, a vontade é posição do fim e a escolha posição dos meios, mes
mo se, obliquamente, a fonte dos meios permaneça no horizonte da
vontade, tal como o fim permanece no horizonte da escolha.
216 P I ERRE AU B E NQU E
148
EN, 1 , 1 , 1 094a 6-b 7 .
1 49
KEv�v K a i 110Ta (av ( 1 094a 2 1 ) .
1 50
As Partes dos Animais, IV, 1 O, 687a 8- 1 8 .
151
Jbid. , 687a 1 2- 1 4 .
1 52 Cf. Lachiczc-Rcy, P. Les idées morales, sociaks et politiques de Platon.
1 53
Leis, X I I , 962bc.
218 P I E R R E A U B E N QU E
1 5 4 Política, VI I , 1 3 , 1 33 1 b 26-3 8 .
I S S Ou l l � V Eáv '/ E � oÚ>.. fl Ta L , Cl Ô L KOS" wv TT a Ú a E Tm KUL EaTa L f ü K a t OS"
( EN , I l i , 5 , 1 1 1 4 a 1 3 - 1 4) .
S E G U N D A P A RT E • C A P IT U LO I l i 219
1 56 Ou yà p XOÀETTÓV ECTTL Tà TOL Ol/TO vo�aa L , a,\,\à lTOL �am \lÔ ÀÀOV (Pol. ,
VI I , 1 2, 1 33 1 b 1 9- 2 1 ) ; e acrescenta esta sentença em forma de pro
vérbio: "a palavra é da ordem do que nos ap raz, o acontecimento é da
o rdem do acaso {Tà µ E' v yà p ÀÉyE L v E UX�S' E pyov E aT Í v , TO 6E'
av11��vm nÍXTJS' ) " . Mas sabemos que o acaso pode ser corrigido pela
arte e pela prudência, que se exercem no mesmo domínio do acaso .
Sobre a i m portância e a dificuldade da execução, cf., também, EN , I I ,
9 , 1 1 09a 24 (Ka i E pyov E UTL a1rou6ai ov E t vm , " é sempre trabalhoso
ser virtuoso" , [no original francês] trad . Tricoe); EN , X, 1 0, 1 1 79a
3 5 -b 4.
1 57 EE, II, 1 1 , 1 2276 20.
220 PI E R R E A U B E N QU E
1 58
Na tábua das virtudes e vícios correspondentes que encontramos na
Ética Eudêmia, classificados segundo o excesso e a fal ta, lemos in fine
que a prudência é um meio entre a velhacaria (travoupy(a) e a parvoí
ce (e u�0ELa) (II, 3, 1 22 1a 1 2). Tal anotação é, por certo, apócrifa,
obra de um redator ou copista zeloso, que teria esquecido que a teoria
do justo meio vale apenas para as virtudes morais (cf. 12206 34) e
não se aplica, pois, à prudência. À parte isso, a adjunção é engenhosa
e exprime bem o sentido da doutrina aristotélica da prudência.
1 59 Sobre essa tese socrática, cf. EE, II, 1 O, 1227a 1 8-32; EN, II I, 6,
1 1 13a 15 e ss.
S E G U N DA PA RT F. • CAP{ TUL O 1 1 1 221
1 60
' H �oÚÀT'\<JLS q,úan µE v ToÜ à-ya0oü f o n v , napà q,úm v 6i Kai ToÜ
KU KOÜ (EE, I I , 1 0, 1 227a 29-30) . Conferir a tese exposta por Aristó
teles (sem dela se apropriar) cm EN, I I I , 7 : "persegui r um fi m não é
objeto de escolha pessoal (ouK a u0a ( pETOS ), mas exige que se tenha
nascido , por assim dizer, com um certo olho que nos permita julgar
sadiamente e escolher o bem verdadei ro" ( 1 1 1 46 5-8). Aristóteles con
testa menos esta tese do que sua conseqüência (a i rresponsabilidade
de todos), com um argumento que exam inaremos a seguir (p. 222, n .
1 62). Em I , 1 0, 1 0996 1 9, ele atenua o alcance desta tese, reservando
a perversidade a uma minoria de monstros (nE nripwµÉvm s ) . Mas cm
I I I, 6, 1 1 1 3a 24, atribui somente ao anou6aí: os a vontade do bem
real. Concluiríamos que todo mundo é anou6aí: os, salvo os monstros?
Seria uma democratização bem radical (ainda que comporte uma ex
ceção inquietante) da doutri na aristocrática do anou8aí: os . Em todo
caso , se vê por essas variações que Aristóteles nunca elucidou perfeita
mente o i rritante problema da E uq,ui a .
222 P I ERRE AU BEN Q U E
* * *
E uq>ufo, que "o fim é dado pela natureza (To llE V TÉ ÀOS' q>UUL KÓv), mas
que, o valoroso (mrou6ai:ov) fazendo voluntariamente todo o resto (Tà
ÀOLTTá ) , a virtude não é menos voluntária" . Ora, o que resta além do
fi m , senão os meios? Ass i m , o otimismo socrático do "ninguém é mau
voluntariamente" , conclui ele, desculpando a vontade, faz recair so
bre os meios todo o peso do mal , que não se deixa tão facilmente re
duzir. Todos os homens querem o bem mas, porque o bem não é i me
diato, eles o querem por meios que não são n ecessariamente o seu
reflexo e cuja própria diversidade é um princípio do mal. O mal não
está no fi m , que é u niversalmente bom, mas na i m potência dos meios
que os condena à multipl icidade e torna possível sua desordem . A úl
tima palavra dessa filosofia do mal , que ao mesmo tempo em que res
taura o trágico das coisas também absolve os homens, será dita por
Plotino: não é embora queiram o bem , mas porque o querem, os ho
mens fazem o mal e, ames, fazem mal uns aos outros (Enéadas, I I I , 2 ,
4 , 1 . 20-23 Bréhier) .
1 63 C f. Gauthier, R.-A. La morale d 'Aristote , p. 3 1 -7 , 79.
224 P I E R R E AU B ENQU E
§ 3. P R U D � N C I A E J U Í Z O (y vw µ T] )
1 78
A sabedoria do Protrético é uma Ê m T O K T L K � <!> p ó v ll a L c, (fr. 4 W;
37, 2 1 P). O caráter prdtico da sabedoria do Protrético foi fortemen
te enfatizada - por uma reação talvez excessiva contra as posições de
W. Jaeger - pelos intérpretes recen tes desses textos ( Mansion, S.
"Contemplation and Action in Aristotle's Protrepticus" . ln: Aristotle
and Plato in the Mid-Fourth Century, p. 56 ss. ; Monan, J.D. "La con
naissance morale dans le Protreptique d'Aristote" . ln: Revue Philos.
Louvain, 1960, p. 1 85 ss.).
1 79
Na Ética Eudêmia não é mais o divino que comanda, ele é tão somen
te aquilo em vista do que a prudência governa (ou yàp Ê m T a K n Kwc,
ãpxwv ó 8EÓ', , à n' oú E VE KO � <J>pÓVTlCTL', E TT L TÚTTE L ) (VI I, 15, 1249
b 13-15).
S E G U N D A !'A R T E • C A l' fT U LO I l i 23 1
º
1 8 EN, 1 1 1, 5 , 1 1 1 3a 1 1 ; VI, 2, 1 1 39a 23.
1 8 1 Jbid. , V I , 2 , 1 1 396 4 - 5 .
182 Vimos que no livro VI a rrpoa ( p E OL S' conservava o sentido acadêmico
de "disposição moral " , aqui, porém, vemos nascer o sentido p ropria
mente aristotélico de "escolha deliberada" .
1 83 Jbid., 1 1 39a 33. O livro I I I , mais preocupado com a análise técnica
da deliberação do que com a coloração moral da escolha, diz simples
mente que a escolha se acompanha de raciocínio e pensamento, µ E Tà
>..óyou Kai füavo(as- ( I I I, 4 , 1 1 1 2a 1 6).
1 84 Sobre o caráter arquitetônico da sabedoria, cf. Platão , República, IV,
44 1 e passim ; cf. Górgias, 507e- 508a; Timeu, 47bc. Por certo, no Polí
tico (259e-260b) , Platão distinguia duas espécies de conheci mento:
judicativo (Kp L T L KÓv, p . ex., o arit mético) e imperativo (i m rn KTL KÓV,
p. ex. , a arquitetura) . No entanto, essas duas características parecem
reunidas na filosofia (cf. Eutidemo, 290bc, o papel retor da dialética) .
232 P I ER R E AUB E N Q U E
possa ser intelectual, apenas não quer dizer que por isso ela
deva ser uma ciência.
Qual é, então, esse "outro gênero" de conhecimento ao
qual Aristóteles assimila a prudência? Se nos ativéssemos ao
texto, a bem da verdade muito alusivo, da Ética Eudêmia, a
prudência deveria ser por si mesma um saber moral, diferen
temente da ciência ou da arte que são moralmente neutras,
isto é, haveria algum mérito em possuí-lo, saber que compor
taria, de algum modo, uma deontologia de seu próprio uso.
Mas Aristóteles em nenhum momento desenvolve explicita
mente tal idéia, a qual, no entanto, lhe era sugerida pelo uso
popular de phronêsis. A Ética Nicomaq uéia se contenta em
assimilar o saber prudencial àquele que é requerido para ex
plorar o domínio da ação em geral, quer esta ação seja moral
ou somente técnica. Na crítica do intelectualismo, que desta
vez visará sobretudo Platão, mais do que Sócrates, a ênfase
não será posta na neutralidade moral da ciência, mas em sua
inaptidão para conhecer o particular e o contingente, os quais
são, no entanto, o domínio próprio da ação. Ainda aqui, Aris
tóteles será tentado a calcar a análise da ação prudentemente
conduzida sobre a da ação tecnicamente bem sucedida, se
contentando em acrescentar, infine, que a prudência não exis
te sem virtude moral, razão pela qual se distingue da habili
dade, sendo, porém, incapaz de apresentar a relação da pru
dência com a moralidade senão como um vínculo extrínseco
e acidental.
Semelhante doutrina é conhecida e não há necessida
de de insistir sobre ela. Consiste em apresentar a prudência
como a virtude (àpET� ) , 1 87 não da alma racional, mas de uma
191 EN , VI , 2, 1 1 39a 1 2, 1 4 .
1 92
Platão, Rep., IV, 439d e os textos citados por Joachim in Eth. Nic.,
VI, 2; Aristóteles, Tóp., IV, 5, 1 26a 8, 1 3 ; V, l , 1 29a 1 1 ss. ; 5, 1 34a
4; 6, 1 366 1 1 ; 8, 1 38a 34, b 2, 1 3; VI, 9, 1 476 32; EE, VI I , 1 3,
1 2466 1 9-23; Magna Mora/ia, I I , l O, 1 208a l O. C f. Arnim, H . von
Eudemische Ethik und Metaphysik, 1 928, p. 1 2 .
1 93
J\o-y[(r n0m , lembra Aristóteles, é sinônimo de �ouÀE Úrn0m ; ora, não
se delibera sobre o necessário , o qual é objeto de demonstração
(à,ro6Ei 6 s ) : EN , VI , 2, 1 1 39a 1 2- 1 4 .
1 94
EN , VI , 5 , 1 1 406 26.
1 95
Magna Mora/ia, I, 35, 1 1 966 1 6, 27; cf. EE, II, 1 0, 1 2266 25; De
anima, I I I , 1 0, 4336 3 .
1 96
Magna Mora/ia, I , 3 5 , 1 1 966 27, 33.
236 P I ERRE AUBENQU E
200 As decisões bruscas (Tà Eça(<1>v11s-) são voluntárias (É 1r núcn a), mas não
resultam de escolha deliberada (KaTà ;rpoa[ prnL v 6' oü) (III, 4, 1 1 1 1b
9- 1 0).
20 1 EN, I II, 5, 1 1 13a 2 (condenação da �oÚÀE UGLS' E L S' ÕTIEL pov) . C f.
Dirlmeier, p. 327-8.
202 Cf. o provérbio: "é preciso executar rápido o que foi deliberado, mas
deliberar lentamente" (EN, VI, 1 0, l 1 426 4) .
2 03 EN, VI , 6, 1 1406 34 ss..
204 !bid, 12, l 143a 25-b 6. Resumimos, aqui, a última passagem.
20 5 !bid., 1 143a 28.
238 PI ERRE A U B ENQUE
** *
206 Cf. EN, VI, 6, 1 141a 1-3: "A sabedoria não diz respeito aos princí
pios, pois é próprio do sábio ter uma demonstração sobre certas coisas".
207 Jbid., 1 2, 1 1 43a 35-b 2: "A intuição diz respeito aos extremos nos dois
sentidos: pois os termos primeiros tanto quanto os últimos são do do
mínio da intuição e não do raciocínio (ÀÓ-yos)"; cf. 1 1 436 9- 1 0: füô
Kai àpx� Kai TÉÀos voiis . Esta desvalorização do logos em proveito do
nous, que designa a apreensão imediata tanto do singular quanto do
universal, não é isolada em Aristóteles. Cf. EE, VII, 1 4, 1 248a 27:
ÀÓ-you 6' àpx� ou ÀÓ-yos , àÀÀá n KpEL TTov, e o sentido geralmente
pejorativo da palavra ÀoyL KÓS.
SEG U NDA PART E • CAP ITULO I I I 239
208
EN, V I , 12, 11436 6 ss.: 6Lô Kai q>umKà 6oKE'i EL VaL Ta\JTa , enquan
to ninguém é sábio por natureza (<j>ÚcrE L cro<J>os µ E v ou6EÍ S ) .
209
Segundo a expressão de J . Tricor (in V I , 1O e 11, p . 298, 302}.
240 P I E RR E AU B ENQUE
214
Filebo, 196. No Crátilo, auvL Évm é assimilado a i1r( arna8m (4 12ab).
215
Rep. , V, 476d. C( Crátilo, 41 l ad.
216
EN, VI , 1 1 , 1 143a 2-4.
217
Ibid. , 1143a 4-6 . Por Twv Yl yvoµÉ vwv é preciso entender as realida
des físicas, as quais, enquanto fisicas, não são objeto de aÚvE a t $ .
218
Ibid. , 1 143a 8- 1 O . Sobre a oposição de origem platônica, cf. p . 23 1 ,
n. 184.
242 P I E R R E A U B E N QU E
224 B. Snell (Die Ausdrücke for den Begrijfdes Wissens . . . , cf. p. 155, n. 1)
A F O N T E T RÁ G I CA
Mtj , cp(Àa lj>vxá , �(ov àeávaTOV OTTEU6E ,
Tàv 6' E µTTpaKTov ãvTÀE L µaxaváv
(Píndaro, III ª Pítica, v. 1 09- 1 O)
7 Loew, E. " Das Lehrgedicht des Parmênides". ln: Rhein. Museum, 1 929,
78, p. 1 63, n. l; Berliner philolog. Wochenschrift, 1 929, 49, p. 426-9.
8
É tão mais notável que voc::"iv designe originalmente um tipo de faro
sensível. Sobre a evolução dos sentidos de voc::"iv, cf. Fritz, K. von "Nóos
and voc::"iv in the Homeric Poems". ln: Classica/ Philology, 1 943, 38,
p. 79- 1 25 ; "Noüs , voe"iv and their Derivatives in Presocratic Philoso
phy. . . from the Beginnings to Parmênides". ln: Classical Philology, 1 94 5 ,
4 0 , p . 223-42.
9 Met. , r, 5 , 1 009b l 2 ss. , De anima, III, 3, 427a 2 1 -29; Teofrasto, De
sensu, § lO (a propósito de Empédocles) .
10
Na seqüência de Met. , l 009b 1 2, Aristóteles faz inúmeras citações para
justificar seu propósito. Um certo número delas não comporta nem
lj>povE"i v, nem <j>pÓVTJULS', o que mostra que o interesse de Aristóteles é
totalmente distinto do interesse terminológico. Porém, muitas compor
tam o emprego de <j> p ove 't v em um con texto onde essa fu nção
T E R C E I RA PARTE 25 1
27
Fr. 4 2 Dicls.
T E R C E I R A PARTE 257
28
Sobre füat Ta em Aristóteles, c( acima, p. 1 63-4 .
29 Cf. , no domínio pol ítico, o " Estado inchado de humores" , oposto ao
estado saudável cm Platão (Rep., I I , 372e) e, de forma geral , a teoria
aristotélica dos "monstros" , explicados por uma prol i feração não con
trolada pela "forma".
30 <l>pÓVTJO L S" l), uxfis- Kai à<t>poaÚVTJ (De victu, início do cap. 3 5 ) .
258 P I ER R E A U B E N QU E
36
Antígona, 725.
37
lbid., 7 1 9-723.
260 P I ER R E AU B E N Q U E
3 8 Antígona, 1 334-3 5 .
39 lbid. , 1 347- 5 3 .
T E RC E I R A P A RT E 26 1
45 Antígona, l 049.
46 Estobeu, III, 1 , 1 72 e ss. Hens; Diels, Vorsokratiker, l O, fr. 3 (Cleóbulo,
l , l O e 1 3; Sólon, l ; Quílon, l ; Pítaco, l ; Bias, 7) . O preceito sobre a
phronêsis encontra-se em Pítaco, 1 3 (0E pÚiTEUE E uaÉj)E La v, iTat6E iav,
awq>poaúvnv, <j>póvnm v etc. ) e, segundo outra fonte, em Sólon (fr. 4, 6
Diels) . Wilamowitz opunha os conselhos jônicos da prudência (Svn
Tà q>pOVELV, yvw0L aauTÓV, Kat pov opa etc.) ao ideal dórico do herói,
simbolizado por Hércules (Euripides' Herakles, Einleitung, 2 ª cd. , 1 909,
p. 42).
264 P I ERRE A U B E N Q U E
SI
Cármides, 1 64de: <l>11µl d va t aw<!>poaúv11v TO )' L )' Vw<JKE l V fo uTÓV . . .
To )' à p rvwSt <J O U T O V K O L T O rw<t>póvn E <J T L ll E V T a U T O V w <; Tà
)'pa µ 110Tá <l>ll<J L V Kal E )' W . Mas Platão co ndena a aproximação da fór
mula délfica com o M116i: v Õ)'av, que seria rebaixada ao n ível de um
"co nselho" vulgar.
52 Reagindo contra a valorização t radicio nal de a l 6wç, Diógenes, o Cí
nico, será o primeiro a declarar a à v a r nn a . Cf. Pohlenz, La liberté
grecq ue, p. 99 .
53 Talvez sej a uma fórmula estóica que aparece no "Sonho de Cipião" :
Deum te agitur scito esse (Cícero , De republica, VI , 24). Para Epicteto,
con hecer a si mesmo n ão é mais conhecer seus limites, m as conhecer
sua invencibilidade (cf. Conversações, 1, 1 8 , 27). É o cristianismo que
encontrará, embora em ou tro sentido, a tonal idade restritiva da fór
mula. Cf. Pascal, fr. 72, p. 353 BR.: "conheçamos nosso alcance". Kant,
na Crítica da Razão Prática ([no origi nal francês] trad. Picavet, p. 90-
1 ), elogiará o cristianismo por ter "posto os lim ites da humildade (ou
seja, do conhecimento de st) à presunção e ao amor de si, os q uais desco
nhecem ordinariamente seus l i m i tes" (itálico nosso) . É verdade que a
prudência grega, a qual protege o homem contra si m esmo em seu in
teresse, está m uito distante do esquecimento e dom de si dos cristãos.
266 PI ERRE AUBENQUE
***
quais falo" nu nca será senão opinião (6ÓKOS- ) (fr. 34 D iels) , ou o médi
co-filósofo Alcmeão de Crotona, para quem o saber humano é apenas
"conjectura" (TE K IWÍ pr n0m ) (fr. 1 Diels) . Se essa "prudência" será mais
tarde reivi ndicada pelo agnosticismo dos cét icos, ela está também na
origem do método experimental . Cf. Schuhl, P. - M . Essai mr la forma
tion de la pensée grecque, 2 ª ed . , especial mente p. 274 . As primeiras eta
pas da filosofia biológica, Re vue d 'Histoire des sciences, 1 9 5 2 , p. 2 1 3-4;
Ade/a (ver p. 1 23 , n . 48), p . 87-8 .
68 Apologia, 2Od.
69 Jbid., 226 ss.
70 lon , passim .
7 1 Teeteto, 1 76c. Para a posteridade dessa passagem, cf. Plotino, 1 , 2 (As
virtudes); Allan, Philosophy ofAristotle, p. 1 22-3.
2
7 Há, certamente, graus de servidão e Aristóteles dirá, na Política, que os
bárbaros são de natureza mais escrava (6ouÀL KúÍTE pOL . . . <j>úaE L ) que os
gregos (Pol . , I I I, 1 4, 1 2 8 5 a 20) . Mas tal comparação deixa supor um
fundo com u m de servidão, porque "metafísico" .
272 PI E R R E AU B E N Q U E
73 "Av6pa 6' OUK ãçtov 11� ou (17TEÍ: V T�v Ka 0' a ÚTàv E TT t aTtj1117v. Alexan
dre compreende isso de outro modo: "é i ndigno do homem não buscar
a ciência de que ele é capaz" , ou seja, a filosofia. Comp reende-se que
esse contra-senso tenha seduzido Hegel (Vorlesungen iiber Geschichte der
Philosophie, t. XIV, Berl i m , 1 8 3 3 , p. 3 1 6-7) , que esposa tal idéia:
"o homem, visto que é Espírito, tem o direito e o dever de se considerar
co mo digno das coisas m ais superiores" (ibid. , Einleitung, t. X I I I ,
p . 6). Mas Aristóteles não diz isso (sobre o sentido restritivo de KaTá ,
cf. KPE L TTWV � KaT' ã v0pwTTov , citado acima, EN , X, 7, 1 1 776 26) .
74 Met. , A, 2, 9 8 26 2 8 - 9 8 3 a 1 ( [ no original francês] trad. J . Tricoe
modificada).
7 5 983a 2. A idéia de que Deus não é ciumento encontra-se em Platão
(Fedro, 247a; Timeu, 29e) e será retomada por Platino (cf. V, 4, 1 ) .
Platão j ustifica a partir dela, n o Time u, a constituição d o mundo pelo
Demiúrgo, e Plati no, a absoluta generosidade do Um , que se comuni
ca e se difunde sem se perder. Essa idéia de "difusão" é evidentemente
estranha ao Deus de Aristóteles, a despeito de Hegel (op. cit. , p. 3 1 7),
que, aq ui, comenta Aristóteles at ravés de Platino.
76 Met . , A, 2 , 983a 3- 1 O.
T E R C E I R A !'A RT E 273
79
q uanto p ossível (ws E v6ÉXETm ) " . Mas os limites da filosofia
não são senão limites do homem e, antes de tudo, do mundo
no qual vivemos: a filosofia é apenas uma das aproximações
humanas e, mais geralmente, sublunares da imortalidade, da
mesma forma que, em um nível mais baixo, a sucessão das
gerações permite aos seres vivos "participar do eterno e do
divino" , mas somente "tanto quanto podem" fi 6úvavTa L . 80
Do mesmo modo, os homens podem se aproximar da felici
dade, inteiramente presente em Deus, mas somente "na me
dida em que uma certa semelhança com o ato de Deus está
presente neles (Ecp ' Õaov óµo(wµá n TÍlS TOLaÚTTJS E VE p
yE (as ÚTTÚPXE L ) " . 8 1 O homem encontra seu prazer n o aro que
é sempre, em seu próprio nível, uma "imitação" do aro divi
no mas, enquanto o ato de Deus é em si mesmo seu próprio
fim, o aro humano não atinge seu fim senão na medida do
possível (To �6Éws EVE pyEL V . . . Ecp' õaov TOV TÉÀous E q)ÚTTTE
TaL) . 82 Em rodos esses casos , a restrição da "prudência" está
bem longe de ser apenas uma forma tradicional de falar: sem
dúvida, Aristóteles não desejava dissuadir a suscetibilidade de
Nêmesis e devia apenas temer uma acusação de impiedade,
* * *
86
Le probleme de l 'être. . . , passim, esp. p. 6-8, 78-9, 93, 1 85-8, 506-7.
T E R C E I R A P A RT E 279
87 A i déia de limite não nos parece ter sido até o momento inferida da
moral de Aristóteles - e, somente a propósito da teoria da felicidade -
senão por L. Ollé-Laprune, em seu Essai sur la mora/e d'A ristote ( 1 8 8 l ) .
Ele deplora, aliás, o que considera uma limi tação : "quanto mais exam i
no a concepção de Aristóteles sobre a fel icidade, mais me convenço que
seu defeito, de qualquer forma, o ún ico dessa admi rável concepção, é o
de ser restrita aos l i m ites da existência atual" (p. 272) ou, como ele o
diz mais uma vez, de procurar a fel ici dade "nos limites da existência
presente" (p. 1 84) . N ão obstante, ele parece mais sensível à signi fica
ção positiva dessa idéia, quando resume assim o pensamento de Aristó
teles: "sequer se que o homem seja quase um deus sem j amais esquecer
que ele não é senão homem , reduzi ndo-o por todos os l ados aos l imites
da existência presente . Pretende-se que ele encontre aí o seu céu " (p. 205);
"a sabedo ria divi niza o homem , mas aqui mesmo" (p. 28 1 ) (itálico nos
so) . Ollé-Laprune explicita, assim, sua interpretação: "as condições i m
postas ao homem, sendo o que são , a felicidade em sua plenitude é um
ideal; tende-se para ela sem cessar, mas quase não se pode pretendê-la .
Encontramo-la às vezes, mas as circunstâncias são como podem ser, e
com matérias que não se do m i na, faz-se o melhor" (p. 1 70) . Adiante,
porém, ele acrescenta: "a vida contemplativa é rara, m as tender na sua
di reção já é co meçar a possu í-la" (p. 1 73 ) . A noção de ideal o conduz a
u m a apro x i m ação e n t re o EL 6os de Aristóteles e a Idéia kantiana
(p . 2 1 7-8) : "para ambos [Aristóteles e Kant] , o soberano bem, na con-
280 PI ERR E AU B E N QUE
1
Sa lvo i n dicação contrária, as referências remetem à Ética Nicomaquéia.
A l' l! N D I C E 1 287
5 Magna Mora/ia, 1 2 1 2b 3 9 .
6 Jbid., 1 2 1 3a 5 . A passagem da Magna Mora/ia (1 1, 1 5, 1 2 1 2b 33 - 1 2 1 3a
7) suscitou numerosos comentários. Viu-se nela, com efeito , uma crí
tica à teoria do Pensamento que pensa a si mesmo ou, ao menos, a alu
são à tal crítica, que permaneceria, aqui, sem resposta. W Jaeger extrai
dessa passagem , co n t ra H. von Arn i m , mais um argumento contra a
autenticidade da Magna Mora/ia: essa passagem trairia a i ncapacidade
de seu autor em defender Aristóteles contra uma censura que lhe teria
sido endereçada no i n terior da escola ( On the Origine and Cycle . . . ,
p. 448, n . 1 , 4 5 0-2) . F. D irlmeier que atualmente defende a autenticida
de e mesmo a antigü idade da obra, vê nela, ao contrário, a crítica avant
la lettre de uma doutrina em germe nos círculos da Academia, a qual
Aristóteles apenas adotaria mais tarde (in Magna Mora/ia, p. 467-70) .
Mas se nossa in terpretação é exata (confirmada, além do m ais, pelo tex
to da EE que citamos acima}, não há nenhuma cont radição entre Mag
na Mora/ia, I I, 1 5 e a doutrina bem conhecida de Met., A, 9 . O que o
argumento reportado (com alguma complacência, parece-me) pela Mag
na Mora/ia "ridiculariza" (segundo a expressão de Ph. Merlan, Studies
in Epicurus and Aristotle, Wiesbaden, 1 960, p. 87) evidentemente não é
a doutrina do Pensamento que pensa a si mesmo, mas o modo do pen-
290 PIERRE AUBENQUE
8
EE, VI I , 1 2, 1 24 5 6 1 4- 1 9 .
9
Magna Mora/ia, 1 2006 1 4 , cf. EN, V I I , 1 , 1 1 4 5 a 26.
292 PI ERRE AuB ENQUE
A P H R O NÊ S I S N O S E S T Ó I C o s *
• " La phronésis chez les Sto'iciens" . ln: Actes du Vil' Congres (Aix-en-Pro
vence, 1 963) de l'Association Gui!laume Budé. Paris, Les Belles Lettres,
1 964 , p. 29 1 -2.
1 Cf. Bréhier, Chrysippe, 2 ª ed . , p. 236.
2
SVF, I I I , 262.
294 P I E R R E A U ll E N QU E
A P RU D ÊN C IA E M KAN T*
* * *
13
P. 178 da edição Wcischedel (I. Kant, Werke in sechs Biinden, vol. V,
Wiesbaden, 1957).
14
Fundamentação... , trad. Delbos modif., p. 129.
308 P I E R R E A U B E N QU E
1 5 Nos permitimos substituir o termo latino "moralisch " por seu equiva
lente grego, confome ao exemplo de Kant, que emprega a expressão
"Ethikotheologie ", para "teologia moral" ( Crítica do Juízo, § 86).
16 Crítica do Juízo, p. XI I I e XVI-XVII. Encontramos a distinção entre
princípios "técnico-práticos" e "ético-práticos" no opúsculo Sobre o lu
gar comum . . . ( 1 79 3 ) , últ ima nota da P seção.
APÊN DICE l l l 309
* * *
17
Cf. també m , Réflexions sur l 'éducation (curso de Pedagogia, de Kan t,
professado entre 1 776 e 1 787): "propriamente falando, a prudência é
o que o ho mem adquire por último; entretanto, do ponto de vista do
valor, ela ocupa o segundo lugar" (entre a habilidade, que ela "pressu
põe", e a moralidade) (trad. A. Philolenko, p. 1 3 2; cf., também, p. 90).
18
1 ª versão : "as prescrições pragmáticas, ou regras da prudência, . . . estão
também subsumidas às regras técnicas" (p. 1 78 W, nota}; 2 ª versão:
"todas as regras técnico-práticas (ou seja, aquelas da arte e da habilida
de em geral, ou mesmo, da prudência... ). . . " (p. X I I I ) .
19
Este ponto é fortemen te lembrado na l ª versão (p. 1 78 W, nota), mas
ignorado na 2ª .
310 P I E R R E AU B E N Q U E
20
De officiis, 1 , 43, 1 53 . Cf. von Arnim, Stoicorum veterum fragmenta,
l l l , 262- 83.
APÊN DICE I l i 31 1
27
EN , VI , 1 3 , 1 1 44a 2 3 .
28
Jbid. , 1 1 4 4a 26; cf VII, 1 1 , 1 1 5 2a 1 1 - 1 4 .
29
lbid , 5 , 1 1 4 0a 26-28.
314 PIERRE AUBENQUE
30
EN , VI , 1 3, 1 1 44a 27-36.
31 C( acima, p. 1 0 1 -3 , 2 1 2-23, 278.
A l' Í'. N D I C E I l i 315
* * *
* * *
52 Wolff, Chr. Verniinfiige Gedanken von der Menschen Tun und Lassen
( 1720) , 1 . Teil, l . Kapitcl.
53 É a definição que oferece Tomás de Aquino da p rudência (Su mma
Theologitt, I I ª , II", q. 47, a. 2, sed contra).
324 P I E R R E A U B ENQU E
51 Crítica da Razão Pura, A 800, B 828. Mais tarde, Kant recusará o títu
lo de "leis" ao que chama aqui "leis pragmáticas"; na Crítica da Razão
Prdtica, as chamará "prescrições" ( Vorschriften) ou "regras": cf. 1 ª Par
te, 1. 1, Cap. 1, § 1 , p. 37; Crítica do juízo, Introdução, p. XI I I e ss.
A P f: N LJ I C F. I l i 325
60
A cultura "prag mática" da prudência é uma das três tarefas da "educa
ção prática" (por oposição à educação física} , a qual deve desenvolver
no home m a habilidade , a pr udência, a m oralidade (Réflexions sur
l 'éducation, p. 89 e 1 09).
61 A ntropologia, [no ori inal francês] tradução Foucault modificada, p. 1 1 .
g
328 PI ERRE AU B E N QU E
***
85
A Paz Perpétua, p. 1 60- 1 (fim da alínea) , Vorlander.
86
Jbid. , p. 1 59 . Vorlandcr.
A l ' l, N D I C I=. I I I 339
87
EN, V, 1 4, 1 1 376 2 9 . Trata-se do capítulo onde Aristóteles mostra a
necessidade da eqüidade para "corrigir" a rigidez da j11Stiça, pois "do
que é indetermi nado , a regra também é indeterminada" .
88 C f. , especialmente, a propósito da passagem de Aristóteles eirada na
nota precedente, Gadamer, H . G . Wahrheit und Methode, Tübi ngen,
1 962, § 30 1 -2 .
89
Cf. principalmente Metafisica dos Costumes, I I• Parte, I n trodução,
§ XV I I e " Primeira divisão da Ética" , fi m da I ntrodução .
9
° Crítica da RazÃo Prática, p. 1 1 9. Cf. Marty, F. " La typ ique du j uge
ment pratique pur" . l n : Archives de Philosophie, 1 9 5 5 , 1 9 , p. 56-87.
340 P I E R R E AU B E N QU E
TEXTOS
Obras completas:
Aristotelis Opera, edição da Academia de Berlim, 5 vols. ,
1 8 3 1- 1 870; em curso de reedição por O. Gigon. Berlim,
De Gruyter, 1 960 ss.
The Works ofAristotle translated into English, sob a direção de
J . A. Smith e W. D. Ross. Oxford, University Press,
1 908- 1 952, 12 vols. (o vol. IX compreende a Ética Ni
comaquéia, por W. D. Ross, a Magna Mora/ia, por G.
Stock, a Ética Eudêmia e o De virtutibus et vitiis por J .
Solomon) .
Aristoteles' Wérke in deutscher Übersetzung, sob a direção de E.
Grumach. Berlim, Akademie-Verlag, 1 9 5 6 ss. (aparece
ram, notadamente, o vol. VI, Ética Nicomaquéia, por F.
Dirlmeier, 1 95 6, 2ª ed. 1960; e o vol. VIII , Magna Mo
ra/ia, por F. Dirlmeier, 1958).
Commentaria in A ristotelem gn.eca, edição da Academia de
Berlim; 23 vols. , 1 882- 1 909 (encontram-se os comentá
rios sobre a Ética Nicomaquéia nos vols. XIX-XX, a com
pletar pelo vol. XXII . Para o livro VI só há o comentário
de Eustrato, XX, 1 , e a paráfrase atribuída a Heliodoro,
XIX, 2).
344 P I E R R E A U B E N QU F.
Éticas:
Ética Nicomaquéia: Susemihl, Leipzig (Teubner) , 1 8 80; 3 ª ed.
por O. Apelt, 1 9 1 2 ; Bywater, Oxford Class ical Texts,
1 894 , reimpr. 1 957; J. Burnec, Londres, 1 900. Citamos
a partir da edição de Bywater.
Ética Eudêmia: Susemihl, Teubner, 1 8 84; Rackham, col .
Loeb, 1 93 5 .
Magn.a Mora/ia: Susemihl, Teubner, 1 88 3 ; Armstrong, col .
Loeb, 1 93 5 .
Pseudo-Aristóteles, De virtutibus et vitiis, na seqüência das
edições da Ética Eudêmia de Susemihl e de Rackham.
Edições parciais: Ética Nicomaquéia, livro VI , por L. H. G .
Greenwood, Cambridge, 1 909; livro VIII por L. Ollé
Laprune, Paris, 1 8 82; livro X por G. Rodier, Paris, 1 897.
Traduções francesas:
Éthique à Nicomaque, por R-A. Gauthier e J .-Y. Jolif. Paris
Louvain, Nauwelaem, 1 9 5 8 ; por J. Tricot, Paris, Vrin,
1 9 59.
Da Éthique à Eudeme e da Grande Mora/e só existe a tradu
ção muito insuficiente de Barthélemy Saim-Hilaire. Pa
ris, 1 8 56 (La mo rale d'Aristote, t. III) .
Comentários:
Comentdrios gregos: ver acima "Obras completas".
Santo Tomás de Aquino. ln decem libros Ethicorum Aristotelis
ad Nicomachum expositio. Ed. R. M . Sp iazzi. Torino
Roma, Marietti, 1 949.
B I II L I O G R A í- l A 3 45
Comentários modernos:
Ética Nicomaquéia: Além das edições e traduções já citadas
de Burnet ( 1 900), Dirlmeier ( 1 9 5 6), Gauthier-Jolif, 3
vols., 1 958- 1 9 59, acresceme-se: Joachim, editado por D .
A. Rees. Oxford, 1 9 5 1 , 2 ª edição 1 9 5 5 (reprodução de
um curso de 1 902- 1 907) . Comentários parciais: dos li
vros I e II por J . Souilhé e G . Cruchon in Archives de
philosophie, 1 9 30, VII; do l ivro VI por Greenwood,
Cambridge, 1 909; e do livro X por Rodier, Paris, 1 897.
Magna Mora/ia, por F. D irlmeier, 1 9 5 8 .
EsTUDOS