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Deepak Chopra

A ALMA
DO LÍDER
Seja a mudança.
Desenvolva uma liderança extraordinária.

Tradução de Ângelo dos Santos Pereira

k
Introdução

Ser um líder é a opção mais importante que alguém pode


tomar – é decidir sair das trevas e dirigir-se para a luz.

N unca precisamos tanto de uma liderança esclarecida como nos


dias que correm. Esta afirmação foi seguramente repetida inú-
meras vezes no passado, mas a verdade é que, na segunda década do
século XXI, a Humanidade encontra-se perante uma ameaça terrível à
sua existência, uma vez que continuamos a rasgar o tecido vital do nosso
ambiente. Para descobrirmos as respostas aos grandes problemas da
nossa época já não podemos virar-nos para o Governo, por mais bem-
-intencionado que este seja, nem para nenhuma outra pessoa que não nós
próprios. E mesmo assim precisamos de ultrapassar o clamor constante
do ego, da lógica e da razão para conseguirmos alcançar o lugar calmo e
pacífico que temos dentro de nós: o reino da alma.
Aí podemos começar a fazer as perguntas básicas que dão sentido às
nossas vidas: Quem sou eu? Porque estou aqui? Como posso entrar em
sintonia com as exortações silenciosas da alma a fim de cumprir o pro-
pósito da minha vida e de fazer a diferença? Para respondermos a estas
perguntas o melhor possível, devemos vestir a pele de líderes, assumindo,
num primeiro momento, a responsabilidade pelo rumo das nossas vidas
e, depois, pela interação com os demais – no trabalho, em casa e em
qualquer outro sítio. Se recorrermos à alma em busca de orientação,
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verificaremos que os outros procurarão em nós uma direção, atraídos


pela nossa capacidade de os tratarmos com dignidade e de responder-
mos às suas necessidades a partir de uma perspetiva superior.
O meu objetivo neste livro é transmitir a qualquer pessoa as compe-
tências e os conhecimentos necessários para ser um líder – não um líder
qualquer, mas um líder inspirado. Um líder é essencialmente a alma sim-
bólica do grupo. A sua função é atender às necessidades dos outros e,
depois de ter ido ao encontro de cada uma delas, levar o grupo a satisfa-
zer necessidades cada vez mais nobres, elevando o seu potencial em cada
etapa. A base de poder do líder inspirado não provém dos outros, mas de
si mesmo, e o caminho por ele percorrido é guiado pela própria alma. As
suas principais características são a criatividade, a inteligência, a organi-
zação e o amor.
Quem quer que possua uma alma – o que segundo a minha defini-
ção nos inclui a todos – tem potencial para ser um líder inspirado. Se
mudarmos interiormente de modo a absorvermos a sabedoria ilimitada
da alma, tornar-nos-emos líderes sem precisarmos de procurar seguido-
res, pois ao materializarmos a nossa visão de um mundo melhor seremos
encontrados por eles. Espero sinceramente que depois de ler estas páginas,
você descubra a sua grandeza e aja de acordo com ela. Desses líderes,
muitos poderão tornar-se figuras públicas e um número ainda maior
aplicará essa liderança no trabalho, em casa e na comunidade. Indepen-
dentemente do local onde a liderança seja desempenhada, deve sê-lo por
intermédio da alma.
Conforme se verá nas páginas que se seguem, a liderança a que me
refiro neste livro não é a liderança tal como tradicionalmente a entende-
mos. Segundo essa velha definição, a liderança é coisa de poucos. Num
determinado grupo, a pessoa escolhida para liderar pode destacar-se por
ser a mais popular, a mais confiante ou a mais impiedosa e, de acordo
com essas características, nem todos podem fazê-lo. Quando o forte e o
implacável emergem na cena mundial, damos por nós a ser governados
por reis e generais, por autocratas e ditadores, por primeiros-ministros e
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presidentes sedentos de poder. A história é pródiga na criação de mitos,


que se baseiam no carisma pessoal, e na utilização de subterfúgios para
evocar uma aura de destino. Mas essas características para a liderança
são imperfeitas. Nenhuma das qualidades aqui mencionadas indicam
que o líder irá realmente melhorar a vida dos que o seguem. É até prová-
vel que a sua liderança traga conflitos, sofrimento e opressão. As velhas
definições da liderança exaltam o poder e o uso do poder esteve sempre
diretamente ligado a uma má utilização do mesmo.
O facto de os líderes serem completamente imprevisíveis e de terem
emergido tão poucos com qualidades notáveis das fileiras dos que toma-
ram o poder leva-nos a acreditar que talvez haja uma qualquer mão invi-
sível que escolhe o líder que se vai distinguir. Mas isso não passa de uma
ideia falsa. Os critérios para a liderança inspirada não têm de estar envol-
tos em mistério. Na verdade, até são bastante simples: os grandes líderes
são aqueles que, a partir da perspetiva superior do espírito, conseguem
responder às suas próprias necessidades e às necessidades dos outros
com perspicácia, criatividade e sentido de unidade.
Você pode ser um desses líderes. O caminho está aberto para si. A
única coisa de que precisa é ouvir o seu guia interior. Assim que o percor-
rer, estará em condições de se converter naquilo a que chamo um visioná-
rio de sucesso. Um visionário de sucesso expõe a sua visão ao mundo. As
sementes invisíveis plantadas no silêncio da sua consciência mais profunda
tornar-se-ão tangíveis, realidades visíveis. À medida que forem desabro-
chando, o leitor irá gerir o seu crescimento com paixão e energia. O seu
propósito será claro para todos. Os resultados que alcançar beneficiarão
toda a gente – beneficiá-lo-ão a si, ao grupo que lidera e ao mundo em
geral. Num planeta posto em causa pela deterioração ecológica, tudo aquilo
que conseguir terá de ser sustentável, isto é, apoiado pela consciência. Essa
é uma parte essencial de qualquer visão de futuro baseada na alma.
Quando falo sobre a alma não me refiro à alma tal como esta é definida
por uma qualquer religião em concreto, embora todas as grandes tradições
espirituais reconheçam a sua existência. Para mim, a alma é um campo
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universal oculto da consciência. A nossa consciência particular, ou alma,


é como uma onda nesse mar imenso, única durante um breve espaço de
tempo antes de regressar à entidade maior da qual emergiu. No nível da
alma estamos perfeitamente conectados com todo o universo, com o
domínio silencioso do qual brota a totalidade da matéria e da energia.
Neste contexto, não surpreende que a alma possua qualidades que
são essenciais à criação: criatividade, inteligência, organização e amor. Se
achar esta noção difícil de aceitar, talvez concorde que o modo como
vivemos neste planeta está a atingir o seu limite e que chegou a hora de
tentarmos um novo. Se descobrir que, ao recorrer à alma para liderar da
forma descrita neste livro, consegue aumentar a criatividade, a inteligên-
cia, a organização e o amor na sua vida e no mundo que o rodeia, poderá
optar ou não por dar crédito à sua alma. A ela tanto lhe dá. As pessoas
que partilham o mundo consigo sentir-se-ão gratas independentemente
dos termos que utilizar para descrever a sua nova maneira de ser.

UM MAPA PARA O QUE SE SEGUE


A liderança é um processo evolutivo. As suas voltas e reviravoltas são
imprevisíveis. Mas podemos recorrer à ajuda de um mapa. O texto
abaixo divide o mapa em três partes.
Em primeiro lugar, utilizei um acrónimo, L-E-A-D-E-R-S1, como
guia do que significa liderar com a alma. Cada letra remete para um
aspeto fundamental que deve ser desenvolvido.

L = Look and listen (ver e ouvir). Faça-o com os sentidos, como um


observador imparcial que não julga nada antecipadamente. Faça-o com o
coração, obedecendo aos seus sentimentos mais verdadeiros. Por último,
faça-o com a alma, respondendo à visão e ao propósito profundo que
esta proporciona.
1
Líderes em inglês. (N. do T.)
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E = Emotional bonding (vínculos emocionais). A liderança da alma


significa ir para lá do melodrama de viver em crise. Requer capacidade
para reconhecer e afastar as emoções tóxicas para que consiga compre-
ender claramente as suas necessidades específicas e as dos outros.

A = Awareness (consciência). Significa estar consciente das questões


inerentes a cada desafio: Quem sou eu? O que quero? O que é que esta
situação exige? Um líder deve colocar a si mesmo continuamente estas
perguntas e motivar a sua equipa para que também o faça.

D = Doing (fazer). Um líder deve estar orientado para a ação. Tem


de servir de modelo no que quer que faça, responsabilizando-se pelas
promessas efetuadas. Isto requer persistência e tenacidade, mas também
a capacidade de visualizar qualquer situação com flexibilidade e humor.

E = Empowerment. O poder da alma vem da tomada de consciência


dos feedbacks, mas não depende da opinião positiva ou negativa dos
demais. Delegar poderes é um sinal de altruísmo. Aumenta o status do
líder e da equipa.

R = Responsibility (responsabilidade). A liderança responsável


requer prudência na escolha dos riscos a assumir, coerência, integridade
e uma vida em conformidade com os valores pessoais. Do ponto de vista
da alma, a maior responsabilidade de um líder é a de guiar o grupo para
uma consciência superior.

S = Synchronicity (sincronismo). Trata-se de um elemento miste-


rioso do subconsciente que todos os grandes líderes exploram. O sincro-
nismo é a capacidade de gerar sorte e de encontrar o suporte invisível
que nos leva para lá dos resultados previsíveis, isto é, para um plano
superior. Em termos espirituais, o sincronismo é a capacidade de dar
uma resposta da alma a toda e qualquer necessidade.
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O mapa da liderança torna-se mais específico na segunda parte deste


livro, através do recurso a histórias de pessoas comuns que se transfor-
maram em visionários de sucesso. Seguiremos duas dessas pessoas –
Jeremy Moon e Renata M. Black –, que começaram as suas vidas
profissionais sem meios materiais e que passaram a liderar empresas
multimilionárias que fazem a diferença no mundo. Em ambos os casos, a
visão que deu início aos seus percursos estava repleta de paixão e propó-
sito. Não é raro isso acontecer nas histórias de sucesso, mas também
encontraremos aqui valores mais profundos, provenientes do reino da
alma.
Como veremos, os trajetos de Jeremy e Renata acompanharam as
etapas descritas no acrónimo L-E-A-D-E-R-S; todas elas tiveram um
papel crucial, desde o ver e o ouvir até ao sincronismo. Para além de ins-
piradora, essa parte do livro levá-lo-á a perceber ainda melhor que a
liderança da alma é uma opção viável na turbulência do mundo real.
Com efeito, ao escolherem uma liderança visionária como caminho para
o êxito, esses dois líderes converteram o mundo real num lugar miracu-
loso, num lugar onde o sucesso material é menos relevante do que a des-
coberta pessoal.
A terceira parte do livro é um breve resumo do que o leitor terá
aprendido. Espero que esteja explícita o suficiente para que reconheça
facilmente os pontos-chave da liderança da alma.

PORQUÊ A ALMA?
Como é que os líderes emergem na vida quotidiana? Cada grupo dá
naturalmente origem a líderes que o conduzem para um objetivo
comum. No entanto, alguns fracassam, ao passo que outros são bem-
-sucedidos. Alguns são destruídos por uma estratégia errada ou pelo
stress opressivo da sua função. E quando a crise surge, existe sempre a
possibilidade de essa figura não aparecer, gerando-se um «vazio de lide-
rança» que se tornou um problema crónico na sociedade moderna.
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Na realidade mais profunda da alma, uma família imersa no caos,


uma empresa sem visão ou um país a lutar por alcançar um novo nível
de liberdade precisam de dar resposta a novas necessidades espirituais.
Assim que isso seja compreendido, os líderes poderão ser figuras capazes
de alcançar grandes níveis de grandeza. A liderança inspirada está estru-
turada no ser, onde não é necessário adotar nenhuma estratégia para se
subir até ao topo. À medida que vamos desabrochando o nosso potencial
para a grandeza, fazemos com que ele tabém desabroche nos outros.
Estes recorrerão instintivamente a nós em busca de orientação e lide-
rança e, um dia, serão eles próprios capazes de oferecer uma liderança
esclarecida aos demais.
As nossas almas fornecem-nos a mais alta inspiração em todos os
momentos. Vemos o caos, mas a alma sabe da existência de uma ordem
subjacente e procura encontrá-la. Enquanto não nos voltarmos para a
sabedoria serena da alma, continuaremos a lançar mão de velhos hábitos
e soluções obsoletas para responder aos novos desafios. Ficaremos agar-
rados a lutas e inquietações vãs. Mas se compreendermos os métodos da
alma e a eles recorrermos, veremos alguém surgir para abrir caminho
por entre a bruma. Mahatma Gandhi, Madre Teresa e Nelson Mandela
empreenderam um percurso baseado na consciência da alma (por mais
que lhes queiramos atribuir um estatuto mítico). Usaram essa consciên-
cia para acederem a uma fonte de sabedoria que se mantém constante ao
longo dos tempos e que está ao dispor de todos.
Os membros de um grupo exprimem-se com base em duas questões
vitais: necessidade e reação. Se fizermos uma análise atenta, aperceber-
-nos-emos de que:
• precisamos diariamente de coisas básicas como comida e segu-
rança e de coisas mais elevadas como autoestima, amor e sentido
espiritual;
• há sempre uma qualquer reação/resposta que nos ajuda a satisfazer
essas necessidades, desde as disputas e a competição até à desco-
berta criativa e à inspiração divina.
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Essas duas questões dominam a nossa vida interior e exterior.


Sobrepõem-se a todas as outras forças e, à semelhança das funções da
alma, não são aleatórias. As necessidades e as reações podem ser organi-
zadas segundo uma ordem natural. As necessidades e as reações inferio-
res são seguidas pelas superiores. (Como o escritor alemão Bertolt
Brecht declarou: «primeiro vem o estômago, depois a alma».) Essa escala
crescente é conhecida como a hierarquia das necessidades. Se, enquanto
líder, estiver ciente da hierarquia das necessidades e das suas respostas,
será capaz de continuar a responder com eficácia à medida que as neces-
sidades do grupo forem passando do básico para o espiritual. Esta é a
coisa mais poderosa que um líder pode fazer.
Por exemplo, os movimentos extremistas (fascismo, fundamenta-
lismo religioso, nacionalismo étnico, etc.) assentam no medo, que é a
reação mais primitiva de um grupo à sua necessidade mais primitiva: a
sobrevivência. As pressões externas tais como a depressão económica, a
migração social e as forças competitivas também costumam desencadear
essa necessidade. Vaclav Havel foi um poeta checo que se tornou presi-
dente da nova república depois da queda do comunismo porque era
capaz de satisfazer a necessidade básica de segurança dos seus conterrâ-
neos; só depois foi incumbido de satisfazer necessidades mais elevadas
como a unidade e autoestima, que o comunismo havia suprimido
durante décadas. O Dr. Martin Luther King, Jr. ofereceu a uma minoria
oprimida a oportunidade de ir além da necessidade de sobrevivência de
forma a satisfazerem as necessidades superiores de dignidade e propósito
espiritual. Ofereceu transformação. Buda e Cristo ofereceram aos seus
seguidores o nível mais elevado de inspiração para que estes pudessem
satisfazer a necessidade universal de unidade com Deus.
Através do exemplo desses grandes líderes vemos que liderar com a
alma não é algo envolto em mistério ou abstração. A liderança inspirada
oferece as respostas certas para as necessidades do grupo. Trata-se de
uma capacidade que pode ser apreendida. O leitor pode fazê-lo, assim
como eu. Podemos atender a qualquer necessidade da vida interna e
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externa de um grupo aplicando o mesmo conhecimento no âmbito fami-


liar, comunitário ou empresarial. Na realidade mais profunda da alma, os
líderes e os seguidores criam-se uns aos outros. Formam um vínculo
espiritual invisível. Os líderes existem para personificar os valores pelos
quais os seguidores anseiam e os seguidores existem para alimentar a
visão do líder que têm dentro de si.

OS PRINCÍPIOS BÁSICOS
O percurso efetuado por um líder está diretamente relacionado com a
expansão da sua consciência. A alma tem uma consciência absoluta e
apreende os mais ínfimos aspetos de qualquer situação. A sua perspetiva
encontra-se ao nosso dispor, mas normalmente não conseguimos aceder
a ela devido aos nossos obstáculos internos. Vemos o que queremos ver
– ou o que os nossos preconceitos e limitações nos encorajam a ver.
Durante o percurso que o conduzirá a uma liderança inspirada, o leitor
aprenderá a remover esses obstáculos. Quando o fizer, e dado que a alma
lhe abrirá o caminho, o que antes lhe era difícil passará a ser fácil. A sua
visão tornar-se-á mais clara, assim como o caminho que tem pela frente,
e será invadido pela sensação de que o universo conspira para lhe forne-
cer a inteligência, a criatividade, a organização e o amor que residem no
coração da liderança visionária.

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